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1. Conceitos introdutórios
Em contraste, entre os antigos hebreus havia uma teocracia, termo este cunhado por
Flávio Josefo (c.37-c.100 AD). A fé mosaica não era simplesmente a religião do estado:
ela era, pelo menos até o início da monarquia, o próprio estado. A religião monoteísta
de Iavé, com as suas numerosas leis e instituições, regulava todos os aspectos da vida
dos israelitas, individuais e coletivos. Durante a monarquia, muitas vezes houve
conflitos entre os reis e a religião, especialmente no reino do norte. As políticas
religiosas de Jeroboão ilustram claramente a inevitável corrupção da religião quando
esta se torna um instrumento de promoção dos propósitos do estado (1 Reis 12:26-
33). Em linhas gerais, a teocracia hebraica foi mais pura antes da monarquia e
novamente na Diáspora, após o exílio babilônico.
Na Grécia antiga, como em outros lugares, não havia distinção entre o religioso e o
secular. A unidade entre religião e estado que caracterizava as cidades-repúblicas
Acesso ao T.I.A gregas era aquela de um estado dominante e uma religião subserviente. O cidadão
ateniense, enquanto livre para cultuar os seus deuses particulares, tinha o dever de
Selecione a unidade:
participar do culto a Zeus e Apolo do modo prescrito pela lei.
São Paulo
São Paulo Na Roma imperial, o imperador era também o Pontifex Maximus ou sumo sacerdote da
Matrícula: religião do estado. Por interesses políticos, César Augusto (27 AC-14 AD) ordenou a
restauração dos templos e do antigo culto aos deuses. Ele também iniciou a verdadeira
religião da Roma pré-cristã: o culto ao imperador. Mais tarde, quando esse culto
tornou-se plenamente institucionalizado, a recusa em adorar a César passou a ser vista
Senha:
como um ato de deslealdade, atraindo a ira do estado. Somente os judeus conseguiram
escapar. Seu monoteísmo radical, que proibia qualquer forma de idolatria, tornava-lhes
impossível participar do culto ao imperador. Eventualmente, eles foram dispensados de
orar ao imperador. Deviam apenas orar por ele, e contribuir, como todos os outros
cidadãos, para a manutenção dos templos públicos. (Ver Leo Pfeffer, Church, state, and
freedom, p. 3-11)
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perseguem os cristãos, é por instigação dos judeus (13:50; 14:5; 17:5-9); os cristãos
são pacíficos e cumpridores da lei: eles são perseguidos injustamente (16:19-22, 35-
39; 18:12-16); em várias ocasiões, as autoridades os defendem (19:35-40; 21:31-36;
22:25-29; 23:21-24); Paulo reconhece a autoridade de César para julgá-lo (25:10-12).
A primeira perseguição do governo romano contra os cristãos foi promovida por Nero
(54-68 AD), em conexão com o incêndio de Roma no ano 64. Sob suspeita de ter
ordenado o incêndio, Nero pôs a culpa nos cristãos, até então pouco conhecidos e mal
compreendidos pela população em geral (ver os relatos de Tácito e Suetônio). Essa foi
a possível ocasião do martírio de Pedro e Paulo (ver I Clemente). O próximo
perseguidor dos cristãos, ainda no primeiro século, foi Domiciano (81-96 AD). Esta
perseguição (c.95) também foi dirigida contra os judeus e parece ter se limitado a
Roma e à Ásia Menor. Nesta última, a repressão imperial deu ocasião ao livro do
Apocalipse, que revela uma atitude muito mais negativa para com Roma que o restante
do Novo Testamento (ver Ap 17:1,6; cf. Ayer, 11). A identificação dos cristãos com os
judeus provavelmente explica as palavras de Suetônio ao descrever a expulsão dos
judeus de Roma durante o reinado de Cláudio, c.51-52 AD (cf. Bettenson, 27, e Atos
18:2).
No segundo século, surgiu uma política “oficial” do império em relação aos cristãos,
como mostra a correspondência entre Plínio, o Moço, governador da Bitínia, e o
imperador Trajano (c.112). Os cristãos, pelo simples fato de serem tais, não cometiam
crime contra a sociedade e o estado. Assim, os recursos do estado não deviam ser
gastos em ir ao seu encalço. Porém, uma vez acusados e levados diante das
autoridades, eles precisavam adorar os deuses do império ou sofrer punições. Ver
Bettenson, 28-30, 33.
Entre os mártires ilustres desse período estão Inácio, bispo de Antioquia (c.110, cartas
a Magnésia, Trales, Éfeso, Roma, Filadélfia, Esmirna e a Policarpo); Policarpo, bispo de
Esmirna (155); Justino Mártir (165); e os cristãos de Lião e Viena (Gália, 177). Em
conseqüência disso, surgiu uma ideologia do martírio: ver Inácio aos Romanos 1.2-2.1;
4.2. Esse é também o contexto da obra dos apologistas: ver Apologias de Justino,
Tertuliano; Epístola a Diogneto (Bettenson, 33-34; Barry, 31-37, 39). Acusações
contra os cristãos: ateísmo, incesto, canibalismo; eram vistos como subversivos,
desleais a Roma: sua recusa em participar do culto imperial podia ofender os deuses e
atrair males sobre o império. Tertuliano: “o sangue dos mártires é semente”.
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“César” do ocidente, com autoridade sob a Britânia, Gália e Espanha. Em 312 ele
derrotou o seu rival Maxêncio (senhor da Itália e norte da África), tornando-se o único
imperador da parte ocidental do Império Romano. Na véspera da famosa batalha da
Ponte Mílvia, perto de Roma, Constantino teve um sonho em que viu as primeiras letras
do nome de Cristo e as palavras “Com este sinal, vencerás”. Disposto a confiar a sua
causa ao Deus dos cristãos, ele fez com que o monograma Chi-Rho fosse pintado nos
escudos dos soldados. Quando ele entrou em Roma em triunfo, os costumeiros tributos
de agradecimento aos deuses de Roma foram omitidos. O imperador havia lançado a
sua sorte com a causa minoritária dos cristãos e desde então considerou o Deus cristão
como o protetor do império e o patrocinador da sua própria missão de reforma e
reconstrução. (Ver Walker, 125.)
Em 380, Teodósio e seu colega Graciano promulgaram um edito decretando que “todos
os povos” do império deviam “praticar... a religião que é seguida pelo pontífice Dâmaso
[de Roma] e por Pedro, bispo de Alexandria” – a saber, o cristianismo ortodoxo que
confessava “a única Divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (cf. Bettenson, 51;
Ayer, 367). Este decreto, que marcou o triunfo do partido niceno sobre o arianismo,
também marcou um novo momento na história da relação das igrejas com o estado
romano. Claramente o cristianismo era agora a religião oficial do império e todas as
outras foram proibidas, inclusive as formas variantes do próprio cristianismo. Seguindo
os seus predecessores, Teodósio convocou em 381 um sínodo de bispos orientais que
ficou conhecido como o Concílio de Constantinopla, e que teve como tarefa primária a
afirmação da plena divindade do Espírito Santo.
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Foi nesse contexto que o papa Gelásio I afirmou pela primeira vez a doutrina das duas
espadas (494), escrevendo ao imperador bizantino Anastácio I: “Existem dois poderes
pelos quais este mundo é principalmente governado: a autoridade sagrada dos papas e
o poder real. Destes, o poder sacerdotal é muito mais importante, porque tem de
prestar contas acerca dos próprios reis humanos diante do tribunal divino... Tu sabes
que a ti compete, em matérias concernentes à recepção e reverente administração dos
sacramentos, ser obediente à autoridade eclesiástica, ao invés de controlá-la” (ver
Barry I, 147). Em outras palavras, existem duas esferas separadas, a igreja e o estado,
nenhuma exercendo os direitos da outra. Todavia, a esfera espiritual é superior à
temporal, e nos conflitos o papa e o bispo prevalecem sobre o imperador porque são
responsáveis pela salvação deste. Essa teoria foi utilizada insistentemente pelos papas
medievais.
Foi isto o que veio a ser chamado de corpus christianum: a idéia de que a igreja e o
estado, conquanto em princípio sociedades distintas, estavam unidas em uma só
comunidade. A distinção entre elas consistia principalmente em suas hierarquias
separadas (papa e imperador, etc.), com suas diferentes funções, e nos sistemas legais
que administravam. O ideal de muitos, seguindo a visão de Agostinho em A Cidade de
Deus, era a existência de uma comunidade cristã universal chefiada pelo papa.
No início da Idade Média, a igreja lutou para libertar-se da intrusão dos governantes
seculares. Após o século VI, emancipados do controle direto desde Bizâncio, os papas
cresceram em prestígio e poder, tanto na área espiritual como na temporal. Os papas
passaram a interagir com os fortes reinos cristãos da Europa central, fundados pelos
antigos povos bárbaros que destruíram o Império Romano ocidental. Foi o caso dos
francos, a primeira nação bárbara a abraçar o cristianismo católico (ou seja, não
ariano), quando o rei Clóvis e os seus súditos foram batizados em 396. Alguns séculos
mais tarde, a dinastia dos carolíngios prestou grandes serviços à igreja e aos papas,
mas também sentiu-se à vontade para interferir em assuntos eclesiásticos.
Um evento importante nas relações entre a igreja e o estado ocorreu no ano 800,
quando o papa Leão III coroou o filho de Pepino, Carlos Magno (768-814), como
imperador. Carlos Magno foi o maior monarca da primeira metade da Idade Média:
tentou restaurar o império do ocidente, promoveu a cultura (o “renascimento
carolíngio”), protegeu e controlou a igreja e ajudou os papas. Com idéias próximas do
cesaropapismo, ele desejou limitar a função do papa a questões puramente espirituais,
mas não teve herdeiros hábeis que dessem continuidade às suas políticas. Com o
declínio do império carolíngio, o principal centro do poder na Europa passou para os
vizinhos dos francos ao leste, surgindo o Sacro Império Romano Germânico, o principal
poder político da Idade Média, que perdurou até 1806! Oto I, o Grande (936-73)
inspirou-se em Carlos Magno e também foi coroado imperador pelo papa, em Roma
(962).
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Eleito papa em 1073 e tendo como lema Jeremias 48:10, Hildebrando entregou-se com
determinação e zelo à causa da reforma da igreja e do fortalecimento do papado. Com
ele teve início a idade de ouro dos papas medievais, em que os papas fizeram as
reivindicações mais ousadas e exerceram maior poder político e religioso que em
qualquer outro período da história da igreja. Decidido a por um fim às investiduras
leigas, Hildebrando (Gregório VII) entrou em confronto direto com Henrique IV, o
imperador germânico (1056-1106), quando este insistiu em indicar o arcebispo de
Milão. Diante da obstinação do imperador, Hildebrando o excomungou, proibiu-o de
exercer a sua autoridade real e isentou os seus súditos de seus votos de lealdade a ele.
Ameaçado de deposição pelos nobres, Henrique foi ao encontro do papa, que achava-se
hospedado em Canossa, nos Alpes, e por três dias apresentou-se descalço e
penintente, suplicando perdão (1077). O papa anulou a excomunhão, Henrique
fortaleceu-se, e alguns anos depois invadiu a Itália e obrigou o papa a ir para o exílio,
onde veio a falecer.
Embora as questões do direito dos papas em depor reis e o papel dos governantes
seculares em escolher os ocupantes dos altos cargos eclesiásticos tenham levado
décadas para serem resolvidas, o papado eventualmente tornou-se dominante. No séc.
XII, o papa Alexandre III (1159-81) forçou o rei Henrique II da Inglaterra a fazer uma
penitência pública pelo assassinato de Thomas Becket, o arcebispo de Cantuária (1070).
Todavia, o maior dos papas medievais, e possivelmente o mais poderoso dos pontífices
de todos os tempos, foi Inocêncio III (1198-1216), aquele que, mais do que qualquer
outro, conseguiu realizar o ideal do corpus christianum, a sociedade cristã unificada sob
a liderança do bispo de Roma. O primeiro papa a adotar o título “vigário de Cristo,”
Inocêncio reorganizou a igreja através do IV Concílio Lateranense (1215) e enfrentou
com êxito o rei francês Filipe Augusto e o inglês João Sem Terra, que promulgou a
famosa Magna Carta.
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Durante a Idade Média, muitas pessoas sentiram-se descontentes com essa associação
duvidosa entre a igreja e o estado. Diferentes grupos de cristãos alegaram que, desde
a época de Constantino, a igreja tinha sucumbido diante do mundo ou a ele se
conformado, comprometendo o seu testemunho, que devia ter se inspirado no sermão
da montanha e nos padrões da igreja primitiva. Surgiram diversos movimentos não
conformistas (cátaros, valdenses, lolardos, hussitas, etc.) que foram considerados
heréticos e sofreram perseguições por parte da igreja e do seu braço secular, o poder
estatal.
Uma das principais ferramentas usadas na supressão das heresias foi a sinistra
Inquisição ou Santo Ofício, instituída no séc. XIII pelos papas Inocêncio III e Gregório
IX e entregue a uma ordem criada recentemente com outros objetivos, os dominicanos.
Utilizando sistematicamente a delação e a tortura e negando aos acusados os mais
elementares direitos de defesa, os precessos freqüentemente resultavam na execução
dos réus impenitentes, entregues ao poder civil para serem queimados vivos. Uma das
características mais odiosas da Inquisição era o confisco dos bens do herege confesso.
Como esses bens eram divididos entre as autoridades leigas e eclesiásticas, isto por
certo contribuiu para manter aceso o fogo das perseguições. Na Espanha, a Inquisição
haveria de tornar-se uma instituição nacional, quando o papa Sixto IV a estabeleceu
sob o controle direto dos reis católicos Fernando e Isabel (1478). Por vários séculos a
famigerada instituição perseguiu judeus, muçulmanos e protestantes dos dois lados do
Atlântico.
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cristão”) governar a igreja. Todavia, a idéia aceita era que em cada país a igreja e o
estado formavam uma comunidade: na Inglaterra, Richard Hooker foi o expoente
clássico dessa idéia em sua grande obra As Leis da Política Eclesiástica (1594): “Não há
nenhum membro da Comunidade que também não o seja da Igreja da Inglaterra”
(citado em McManners, 277). A unidade religiosa era considerada necessária para a
coerência e estabilidade política de uma nação.
João Calvino (†1564) procurou fazer uma clara distinção entre as esferas de ação da
igreja e do estado, crendo que era dever do segundo manter a paz, proteger a igreja e
seguir normas bíblicas nas questões civis. Em geral, Genebra e as igrejas reformadas
da Europa tentaram seguir as suas idéias e evitar a dominação civil. O modelo político-
eclesiástico vigente em Genebra na época de Calvino tem sido erroneamente
denominado de teocrático. Sobre as idéias de Calvino quanto a igreja e estado, ver
González, Thought III, 172-74.
Mais do que quaisquer outros grupos religiosos dos sécs. XVII e XVIII, os de convicção
batista patrocinaram o conceito de que a conseqüência lógica da doutrina da liberdade
religiosa era o princípio da separação entre a igreja e o estado. Com base em
passagens como Mt 22:15-22 e Rm 13:1-7 eles argumentaram que esse era o único
meio de salvaguardar a liberdade religiosa e o sacerdócio dos crentes. Com isso eles
queriam dizer que o estado não tinha o direito de interferir nas crenças e práticas
religiosas dos indivíduos e das igrejas, e que a igreja, por sua vez, não tinha o direito
de receber qualquer sustento financeiro do estado. Receber verbas públicas era abrir as
portas para o controle governamental e a perda da identidade religiosa.
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A interferência do poder civil nos rumos da igreja foi especialmente intensa e decisiva
na Inglaterra. Nesse país, a implantação da Reforma resultou diretamente da ação dos
soberanos. Respaldado pelo antigo sentimento nacionalista e anti-clerical dos ingleses,
Henrique VIII (1509-47) transformou a igreja inglesa em uma igreja nacional, separada
de Roma, através do Ato de Supremacia (1534), em que o rei foi declarado o “protetor
e único chefe supremo da Igreja da Inglaterra”. Graças aos tutores do seu filho Eduardo
VI (1547-53), a igreja inglesa tornou-se protestante, sendo aprovados o Livro de
Oração Comum (1549-52) e os Quarenta e Dois Artigos (1553). Após uma breve e
sangrenta tentativa de retorno ao catolicismo sob Maria Tudor (1553-58), sua enérgica
irmã Elizabete I (1558-1603), outra filha de Henrique VIII, tornou a Inglaterra
definitivamente protestante.
Nos Países Baixos, calvinistas, luteranos e anabatistas sofreram forte repressão por
parte de Carlos V, Filipe II (1555-98) e o famigerado Duque de Alba (1567). O
protestantismo difundiu-se no contexto da luta contra a tirania espanhola, luta essa
liderada pelo príncipe alemão Guilherme de Orange (†1584), um grande defensor da
plena liberdade religiosa. Eventualmente os Países Baixos dividiram-se em Holanda
(protestante) e Bélgica e Luxemburgo (católicos). O período da Reforma terminou no
continente europeu com a Paz de Westfália (1648), que pôs fim à Guerra dos Trinta
Anos.
No séc. XVIII, teóricos iluministas dos direitos naturais como John Locke e Hugo Grócio
popularizaram a noção de que o governo civil estava baseado em um contrato social e
não na ordenança de Deus. Armados com esse conceito, os estados nacionais
emergentes tenderam a tornar a igreja subserviente ao bem-comum da sociedade e
passaram a esperar que a religião institucional se mantivesse distante das questões
políticas. Todavia, o desenvolvimento desse conceito na Europa e no restante do mundo
foi desigual, e ressurgiram tentativas de controle da igreja pelo estado. Somente nos
recém-criados Estados Unidos da América o governo concordou explicitamente com um
novo sistema que buscou garantir a liberdade religiosa através da separação entre a
igreja e o estado.
A Revolução Francesa (1789-95) constituiu-se num rude golpe contra a igreja, por
causa do seu intenso anti-clericalismo. Muitos revolucionários radicais quiseram destruir
o cristianismo, visando substituí-lo pelo “Culto da Razão” ou o “Culto do Ser Supremo”.
No período do terror, milhares de sacerdotes e leigos foram executados. Em 1798 os
franceses invadiram os territórios papais e capturaram o papa Pio VI, que foi levado
para a França como prisioneiro. Na chamada “era napoleônica” (1799-1815), a igreja
voltou a ser por algum tempo a religião oficial, porém sujeita ao estado. Em 1808
Napoleão entrou em Roma e anexou os estados papais, sendo o papa Pio VII
igualmente aprisionado.
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A reação da igreja foi igualmente intensa. Os jesuítas, que haviam sido suprimidos em
1773, foram restabelecidos em 1814. O papado fortaleceu-se, especialmente no
pontificado de Pio IX (1846-1878), o mais longo da história. Pio IX publicou a encíclica
Quanta cura e o Sílabo de Erros, expressando a rejeição católica dos ideais
democráticos e republicanos (separação entre igreja e estado, liberdade de consciência
e de religião, educação leiga, etc.). Com a unificação da Itália em 1861, os estados
papais e Roma foram anexados à nova nação (1870).
Assim, o pontificado de Pio IX marcou o fim do poder político-territorial dos papas, que
alcançara o seu ápice no séc. XIII sob Inocêncio III. Ao mesmo tempo que perdeu o
seu poder político, Pio IX esforçou-se por afirmar a sua autoridade em questões
religiosas. Sob sua direção, o Concílio Vaticano I (1869-70) proclamou o dogma da
infalibilidade papal. Em 1929, Pio XI finalmente reconheceu a perda definitiva dos
territórios pontifícios, assinando com o ditador Benito Mussolini uma concordata
mediante a qual foi criado o Estado do Vaticano. Foi somente no pontificado de João
XXIII (1958-63) que a Igreja Católica finalmente abandonou a sua antiga atitude
reacionária. No Concílio Vaticano II (1962-65), João XXIII convocou os participantes a
“construírem uma ponte entre a Igreja e o mundo moderno” (González, History II,
352).
A Constituição Americana (1787) proibiu testes religiosos como qualificação para ocupar
cargos públicos (final do art. 6º) e a sua Primeira Emenda dispos que “o Congresso não
aprovará qualquer lei referente ao estabelecimento da religião ou proibindo o livre
exercício da mesma”. Havia sido inaugurado um novo experimento nas relações entre a
igreja e o estado, com o forte apoio dos batistas, menonitas, quakers, e a maior parte
dos metodistas e presbiterianos – todos os quais queriam proteger a liberdade das
igrejas e a consciência individual da interferência do estado – e também o apoio dos
pais fundadores, a maior parte dos quais eram deístas que queriam proteger o estado
do controle clerical.
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separação” entre a igreja e o estado, que devia ser mantida a todo custo, para o bem
da república e a prosperidade da verdadeira religião. Todavia, esses grupos não
tentaram segregar a religião da vida nacional. Referências gerais à religião da maioria
eram aceitáveis no que era então um país essencialmente homogêneo. A crescente
diversidade religiosa do séc. XIX e a controvérsia modernista-fundamentalista do início
do séc. XX haveriam de alterar profundamente esse quadro.
Desde o início da colonização, a coroa portuguesa foi lenta em seu apoio à igreja: a
primeira diocese foi fundada em 1551, a segunda somente em 1676 e em 1750 havia
apenas oito dioceses no vasto território. Nenhum seminário para o clero secular foi
criado até 1739. Todavia, a coroa nunca deixou de recolher os dízimos, que vieram a
ser o principal tributo colonial. Com a expulsão dos jesuítas, que eram em grande parte
independentes das autoridades civis, a igreja tornou-se ainda mais fraca.
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brasileira de Roma.
D. Pedro II (1841-89) utilizou plenamente seus direitos legais de padroado, bem como
os poderes adicionais do recurso (em casos de disciplina eclesiástica) e do “placet”
(censura de todos os documentos eclesiásticos antes de sua publicação no Brasil), em
virtude da sua preocupação com o ultramontanismo. Um autor comenta que, durante o
longo reinado de Pedro II, a igreja não passou de um departamento regular do
governo.
O séc. XIX testemunhou um longo esforço dos protestantes para obter completa
legalidade e liberdade no Brasil, 80 anos de avanço lento, porém contínuo, em direção à
plena tolerância (1810-90). Um passo importante na conquista da liberdade de
expressão e de propaganda ocorreu quando o Rev. Roberto R. Kalley, pressionado pelas
autoridades, consultou alguns juristas destacados e obteve opiniões favoráveis quanto
às suas atividades religiosas. (Ver Reily, 104). Finalmente, em 1890, um decreto do
governo republicano consagrou a separação entre a igreja e o estado, assegurando aos
protestantes pleno reconhecimento e proteção legal. (Ver Reily, 224).
A partir de então, a igreja teve duas grandes preocupações: obter o apoio do estado e
aumentar a sua influência na sociedade. Um dos primeiros passos foi fortalecer a
estrutura interna da igreja: criaram-se novas estruturas eclesiásticas (dioceses,
arquidioceses, etc.) e fundaram-se novos seminários. Foi incentivada a vinda de muitos
religiosos estrangeiros para o Brasil (capuchinhos, beneditinos, carmelitas,
franciscanos). A igreja também manteve sua firme oposição contra a modernidade, o
protestantismo, a maçonaria e outros movimentos.
Dois grandes líderes foram especialmente influentes nesse esforço renovador: primeiro,
o padre Júlio Maria, que, de 1890 até a sua morte em 1916, foi muito ativo como
pregador e escritor, visando mobilizar a igreja e tornar o Brasil verdadeiramente
católico. Mais notável foi D. Sebastião Leme da Silveira Cintra (1882-1942), o líder
responsável pela orientação e mobilização da Igreja Católica brasileira na primeira
metade do séc. XX, como arcebispo de Olinda e Recife (1916-21), coadjutor no Rio de
Janeiro (1921-30) e cardeal arcebispo do Rio até a sua morte. (Ver Matos, 56-58).
3. Informações bibliográficas
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séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
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Bertrand Editora, 1995.
DOWLEY, Tim (ed.). Atlas Vida Nova da Bíblia e da história do cristianismo. São Paulo:
Vida Nova, 1997.
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IRWIN, Dale T.; SUNQUIST, Scott W. História do movimento cristão mundial. Vol. I: Do
cristianismo primitivo a 1453. São Paulo: Paulus, 2004.
MATOS, Alderi Souza de. A caminhada cristã na história: a Bíblia, a igreja e a sociedade
ontem e hoje. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2005.
NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. 11ª ed. São Paulo: Cultura Cristã,
2000.
OLSON, Robert. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São
Paulo: Vida, 2001.
Tópicos:
Cairns: Cristo ou César: perseguições (p. 70), a igreja enfrenta o império e os
bárbaros, 313-590 (99), o renascimento do imperialismo no ocidente, 590-800 (146), a
formação do Sacro Império Romano, 800-1054 (154), o apogeu do poder papal, 1054-
1305 (169), o papado enfrenta oposição externa, 1305-1517 (211), a reforma e o
puritanismo na Inglaterra, 1517-1648 (266), as vitórias e as vicissitudes do catolicismo
romano, 1789-1914 (333), a igreja e a ordem social, 1914- (409)
González, Pensamento II: poder civil e autoridade eclesiástica, séc. XI (176), Inocêncio
III e a autoridade papal (212-216); Pensamento III: Lutero (68-69), Zuínglio (80-82),
anabatistas (91-92), Calvino (175-177), Richard Hooker (197), Erasto (282), Knox
(295), puritanos (296), galicanismo (396-406), Pio IX e o sílabo (412s), Leão VIII
(418), o fim da “cristandade” (438)
CULLMAN, Oscar. Cristo e política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968. Original em
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BETTENSON, Henry (Ed.). Documentos da igreja cristã. 3a ed. São Paulo: ASTE e
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Documentos relevantes
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Portal Mackenzie: Elementos da Teologia Patrística
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