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DEFINIÇÕES GERAIS

A Ciência Motivacional requer provas objetivas e empíricas, baseadas em resultados de investigação orientadas para uma questão-
chave: O que causa o comportamento? A resposta exige que se especifique a pergunta: Porque é que o comportamento começa?
Uma vez iniciado, porque é que o comportamento se mantém ao longo do tempo? Porque é que o comportamento é dirigido para
alguns objetivos e se afasta de outros? Porque é que o comportamento muda de direção? Porque é que o comportamento pára?
Ao explorar melhor esta pergunta concluímos que a motivação não só influencia o comportamento, mas também a persistência, a
mudança de direção dos objetivos e eventual extinção. Porque é que o comportamento varia a sua intensidade? A intensidade de
um comportamento varia tanto no mesmo indivíduo como entre diferentes indivíduos. Uma pessoa pode ser empenhada num certo
momento, mas essa mesma pessoa pode se tornar indiferente num outro momento, assim como, numa certa situação uma pessoa
pode estar empenhada e noutras ser indiferente. Na mesma pessoa, a motivação vai variando. Tendo isso em conta, somos
encaminhados para dois problemas motivacionais que compreendem porque é que o comportamento de uma pessoa varia na sua
intensidade e como é que reconhecemos o que diferencia os indivíduos no que os motiva.
A teoria da motivação é a explicação do que dá ao comportamento a sua energia e a sua direção. A energia implica que o
comportamento tenha força, intensidade e persistência. A direção implica que o comportamento tenha como objetivo a realização
de algum resultado específico. Os processos que energizam e dirigem o comportamento provêm das forças no indivíduo
(necessidades, cognições e emoções) e no ambiente (eventos externos: ofertas ambientais, sociais e culturais).

Motivos Internos: São processos internos que energizam e dirigem o comportamento. As necessidades, cognições e emoções são
três tipos específicos de motivos. Relativamente às necessidades, existem três tipos: as necessidades fisiológicas como por exemplo
comer e beber, necessárias para a sobrevivência e o crescimento; as necessidades psicológicas como por exemplo a competência e
pertença, que surgem da exigência de domínio ambiental e de relações calorosas; por último, as necessidades sociais pela
necessidade de estabelecer relações interpessoais.
As fontes cognitivas de motivação giram em torno dos modos de pensar da pessoa (acreditar/desacreditar nas capacidades). As
emoções são fenómenos subjetivos-fisiológicos-funcionais-expressivos de curta duração que dirigem a forma como reagimos aos
acontecimentos da vida. Estas controlam quatro aspetos inter-relacionais da experiência: Sentimentos - subjetivos, descrições
verbais da experiência emocional; Preparação fisiológica - como o nosso corpo se mobiliza fisicamente para encontrar exigências
situacionais; Função - o que especificamente pretendemos realizar nesse momento; Expressão - como comunicamos a nossa
experiência emocional publicamente aos outros. Depois de controladas num padrão coerente, as emoções permitem-nos antecipar e
reagir de forma adaptável aos acontecimentos importantes da nossa vida.

Motivos Externos: Os eventos externos são fontes de motivação ambiental, social e cultural que têm a capacidade de energizar e
dirigir o comportamento. Existem fontes ambientais de motivação como estímulos específicos (dinheiro) ou eventos. As fontes
ambientais de motivação também existem como situações gerais e climas circundantes (por exemplo, climas de sala de aula, estilos
parentais), ou como a cultura em que se vive. O incentivo ambiental de oferecer dinheiro atua frequentemente como um incentivo
ao
comportamento de abordagem energizada, enquanto o evento ambiental de um odor pouco atrativo atua frequentemente como
um incentivo ao comportamento de evitamento energizado. Os motivos externos (dinheiro, odor) ganham a capacidade de energizar
e
dirigir o comportamento na medida em que indicam que um determinado comportamento irá provavelmente produzir
consequências gratificantes ou punitivas.

Expressões da Motivação: Como se pode saber quando alguém está motivado? Ou não está motivado? Ou está apenas um pouco
motivado? Ou está motivado para uma coisa em vez de outra? Como se pode dizer a qualidade (ou tipo) e a quantidade (ou
quantidade) da motivação de outra pessoa? Como é que sabe que uma pessoa está mais motivada do que a outra? A motivação é
uma experiência privada e aparentemente misteriosa. Não se pode olhar para as pessoas e ver a sua sede, objetivos, ou extensão da
motivação de realização. Em vez disso, podemos observar o que é público e observável e monitorizar esta informação para inferir
tais motivações. Existem duas formas de inferir a motivação noutra pessoa. A primeira forma é observar as manifestações
comportamentais da motivação. Para inferir a fome, por exemplo, observamos para ver se uma pessoa come mais depressa do que o
habitual, mastiga vigorosamente, fala sobre comer durante a conversa, e renuncia a modos sociais pela oportunidade de comer.
Comportar-se com rapidez, vigor e rigor implica que alguma força deve estar a energizar e a dirigir o seu comportamento. A segunda
forma de inferir a motivação é prestar muita atenção aos antecedentes conhecidos que dão origem a estados motivacionais. Após 72
horas de privação alimentar, uma pessoa estará com fome. Depois de se sentir ameaçada, a pessoa sentirá medo. Depois de ganhar
um concurso, uma pessoa sentir-se-á competente. A privação de alimentos leva de forma fiável à fome, uma avaliação da ameaça
leva de forma fiável ao medo, e mensagens objetivas de efeito levam de forma fiável a sentir-se competente. Quando conhecemos
os antecedentes da motivação de uma pessoa, podemos prever antecipadamente os estados motivacionais das pessoas, e podemos
fazê-lo com bastante confiança. Mas estes antecedentes nem sempre são conhecíveis. Na maioria das vezes, a motivação deve ser
inferida a partir das suas expressões através do comportamento, envolvimento, fisiologia, e autorrelato da pessoa.

Comportamento: Oito aspetos do comportamento expressam a presença, intensidade, e qualidade da motivação (Atkinson & Birch,
1970, 1978; Bolles, 1975; Ekman & Friesen, 1975): atenção, esforço, latência, persistência, escolha, probabilidade de resposta,
expressões faciais, e gestos corporais. Estes ofornecem ao observador dados para inferir a presença e intensidade da motivação de
outra pessoa.
- Envolvimento: O envolvimento refere-se à intensidade comportamental, qualidade emocional, e investimento pessoal no
envolvimento de uma pessoa durante uma atividade (Fredricks, Blumenfeld, & Paris, 2004; Halusic, Tseng, & Reeve, 2008; Wellborn,
1991). Para monitorizar o envolvimento de outra pessoa, é necessário acompanhar o comportamento, a emoção, a cognição e a voz
dessa pessoa, no seu conjunto.
- Ativações Cerebrais e Fisiologia: À medida que pessoas e animais se preparam para se envolverem em várias atividades, as
localizações cerebrais são ativadas e os sistemas nervoso e endócrino fabricam e liberam várias substâncias químicas (por exemplo,
neurotransmissores, hormonas) que fornecem os fundamentos biológicos dos estados motivacionais e emocionais (Andreassi, 1986;
Coles, Ponchin, & Porges, 1986). Para medir tais alterações neurais e hormonais, os investigadores usam testes sanguíneos, testes de
saliva, equipamento psicofisiológico, e máquinas que observam a atividade neural no cérebro (por exemplo, tomografia por emissão
de pósitrons, ou PET scan). Ao utilizar estas medidas, os investigadores monitorizam a atividade cerebral de uma pessoa, atividade
hormonal, frequência cardíaca, tensão arterial, frequência respiratória, diâmetro da pupila, condutância cutânea, atividade muscular
esquelética, e outros índices de funcionamento fisiológico para inferir a presença e intensidade dos estados motivacionais e
emocionais subjacentes.
- Autorrelato: Uma quarta forma de recolher dados para inferir a presença, intensidade, e qualidade da motivação é simplesmente
perguntar. As pessoas podem tipicamente relatar a sua motivação, como numa entrevista ou num questionário.

Benefícios adaptativos da motivação: Desde sempre nos vimos expostos a diversas mudanças a todos os níveis, fossem elas
oportunidades, exigências ou apoios. Desta forma, vamos ser obrigados a adotar medidas corretivas para o bem-estar de cada um,
recorrendo então a motivações e a emoções que permitem às pessoas adaptarem-se a estas mudanças ambientais. “Para cada ação
há uma reação”. Isto vai traduzir-se em mudanças comportamentais que vão ter como base o tipo de motivação, seja ela alta ou
baixa, e vai ser assim que as atitudes se vão desenrolar mostrando a complexidade motivacional e emocional de cada um.

Motivos dirigem a atenção e preparam a ação: O ambiente a que estamos expostos exige constantemente a nossa atenção a
diversos
aspetos, como por exemplo a conduzir, que temos de prestar atenção a tudo e mais alguma coisa que se passa ao nosso redor. Toda
a nossa capacidade atencional vai depender dos nossos estados motivacionais.

Tipos de motivações existentes: A motivação é vista por muitos como um conceito unitário podendo ser caracterizada por
inexistente, baixa, moderada, alta ou muito elevada. Praticantes como professores, gestores e treinadores concentram-se no
objetivo de fomentar mais motivação nos seus alunos, nos trabalhadores e atletas. No entanto, os teóricos da motivação consideram
que há vários tipos de motivação. Temos por exemplo, a motivação intrínseca que surge por via de interesses e curiosidades e a
motivação extrínseca que surge por meio de prazos, autocolantes. Todos os tipos de motivação variam por sua vez em intensidade e
tipo estando dependentes da emoção que estamos a sentir. Colocamo-nos então a pergunta “Quanta motivação? Que tipo de
motivação?”. A Motivação inclui tendências de abordagem e tendências de evitamento. Como me posso motivar e como posso
motivar alguém são as perguntas mais colocadas em termos de motivação pois este é um estado que as pessoas esperam ter para si
mesmas e para os outros. Os estados motivacionais como a alegria, a euforia e a esperança são muito mais aceites e vistos de
maneira favorável, ao contrário dos estados de tristeza, fúria e raiva pois estes colocam-nos em estado de ansiedade, ameaça e
aversivo. Estamos então programados para nos afastarmos de ambientes que nos tragam objetivos indesejados. Porém, é
importante ter em conta que o sistema motivacional humano é composto pelas duas vertentes sendo elas positivas e negativas
sendo necessário analisar as duas.
O que é que o estudo da motivação revela? O estudo da motivação procura compreender aquilo que o indivíduo quer e espera
alcançar. O tema principal da motivação diz respeito ao que nós, como indivíduos, queremos, desejamos, esperamos; as nossas
vontades e medos, aquilo que nos emociona de certa forma. Analisa a bondade e a maldade do ser humano, dando mais ênfase em
procurar saber se as pessoas abrigam em si a capacidade de se auto-instruir e crescer. As teorias que procuram explicar a motivação
trazem consigo a revelação do que é comum nos esforços de todos os seres humanos, identificando aspetos similares entre
diferentes culturas, idades, classes sociais, géneros, concluindo que o ser humano na sua complexidade em geral partilha
necessidades fisiológicas idênticas aos seus demais. Há, portanto, uma partilha destas emoções consideradas básicas, onde todos
nós quando inseridos em condições adversas semelhantes, sentimos as mesmas emoções. Tal como o medo quando ameaçados ou
até a angústia pela perda de alguém querido. As teorias da motivação revelam que as motivações são aprendidas através das
experiências e do meio em que estamos inseridos
Necessidade de condições de apoio na Motivação: A motivação pode ser considerada como uma flor de um jardim. É necessário
que haja condições favoráveis para o seu crescimento e florescimento; mas quando deparamos com situações e ambientes adversos
a sua auto-atualização não se torna tão favorável. A motivação depende maioritariamente do contexto social em que estamos
inseridos, ou seja, uma criança na sua idade mais tenra irá ser influenciada direta ou indiretamente pelo contexto fornecido pelos
seus pais ou um aluno influenciado pelo contexto fornecido em ambiente escolar, diferenciando assim os ambientes em que nos
inserimos como, nutridores ou negligenciadores. Segundo estudos realizados, está concluído que os indivíduos que se encontram
introduzidos em ambientes nutritivos obtêm um maior esforço e vitalidade, ao contrário daqueles rodeados de negligência social e
frustração. Os contextos sociais têm um papel fundamental no desempenho da motivação, reconhecendo este papel, os
investigadores da motivação enumeraram quatro contextos em que a motivação desempenha um papel fundamental para as
pessoas no seu dia-a-dia: a educação, o trabalho, o desporto e exercício e a terapia.

Compreender o Estudo das Motivações: Para compreender o estudo da motivação é importante que haja uma formação de
teorias que permita fornecer ao investigador um quadro concetual para a leitura e entendimento dos comportamentos observados.
As teorias são essenciais a uma análise motivacional da adaptação ao meio do ser humano. As teorias tornam-se assim uma
ferramenta prática e maleável para a resolução e compreensão de um “quebra-cabeças motivacional” e funcionam como
ferramentas conceptuais para ligar questões e problemas motivacionais.

Estado Motivacional: As condições ascendentes afetam a base de uma pessoa que vai ser construída ao longo da sua trajetória de
vida, a ascensão e queda da motivação do indivíduo vai criar desta forma um sentido de “querer” ou não, a vontade de se aproximar
versus evitar, que é demonstrada a partir de um padrão de comportamentos orientados por objetivos. O estudo da motivação é
ilustrado através das necessidades, cognições e emoções dos indivíduos, as mudanças na motivação são expressadas sempre de uma
maneira aberta, baseadas no comportamento, envolvimento, ativações cerebrais e fisiológicas e autorrelato. Por fim, todos estes
processos funcionam em conjunto para explicar a motivação específica.

Síntese: Para compreendermos a motivação e a emoção como tema de estudo, começamos por fazer a eterna pergunta “O que
causa o comportamento humano?”. Esta pergunta desencadeia um vasto número de perguntas específicas que orientam o estudo
da motivação humana, e que diz respeito ao estudo dos processos do comportamento, a sua energia e direção, enumerando quatro
processos essenciais para dar força motivacional ao indivíduo, sendo as necessidades básicas, as cognições e os eventos externos.
Dando uma especial atenção às necessidades, que nos demonstram ser o maior combustível para a essência da motivação dirigida
para a sobrevivência e o desenvolvimento e bem-estar pessoal, serão também abordadas as cognições como processos mentais
fundamentais, tais como as crenças e expetativas que representam a forma de pensar, e as emoções como fenómenos subjetivos-
fisiológicos-funcionais-expressivos que organizam os nossos sentimentos e que são respostas a situações, abordando ainda os
eventos externos que funcionam como incentivos ambientais que dão energia e conduzem o comportamento em relação direta com
os acontecimentos que assinalam consequências positivas. A motivação pode ser expressa de quatro maneiras: comportamento,
participação, ativações cerebrais e fisiológicas, e o autorrelato. O envolvimento não passa apenas pelo comportamento em si, avalia-
se também a partir dos aspectos emocionais, cognitivos e da verbalização face ao envolvimento em certa atividade.
Um trabalho desafiante, mas revelador, procurando sempre explorar o essencial sobre a temática, abrindo novas perspetivas e
levando a uma introspeção pessoal sobre o que nos motiva como pessoa singular e independente para uma atualização cognitiva e o
que esse crescimento faz connosco, como iniciantes na prática e análise de psicologia.

TEORIAS EXPLICATIVAS DA MOTIVAÇÃO


Resumo: Neste trabalho iremos abordar a origem das grandes teorias da motivação e como estas, com a evolução do conhecimento
e do ser humano, foram complementadas pelas mini teorias. As mini teorias tiveram na sua base as grandes teorias, no entanto a sua
intenção era de abordar determinados temas mais concretamente.

ORIGENS DOS CONCEITOS MOTIVACIONAIS

Para Platão, a alma poderia ser considerada como tripartida, sendo que no nível mais primitivo, a parte apetitiva da alma contribuía
com os apetites e desejos corporais, como a fome e o sexo. A parte competitiva contribuía com os padrões socialmente
referenciados, como sentir-se honrado ou envergonhado. E, por fim, no nível superior, a parte calculista contribuiria com
capacidades, tais como, a tomada de decisão, a razão e a escolha. Para Platão, estes três níveis da alma motivaram e explicaram
diferentes esferas do comportamento.
Na visão de Aristóteles, a alma também seria considerada tripartida, no entanto, no nível mais primitivo, estaria o aspeto nutritivo
da alma que representaria a parte impulsiva, irracional e animalesca. Estes impulsos seriam necessários para a manutenção da vida.
No nível seguinte estaria o aspeto sensível que regulava o prazer e a dor. E, por fim, no último nível, encontrava-se a parte racional
da alma, esta era exclusiva aos seres humanos e era responsável pelas ideias, a intelectualidade e pela vontade. A vontade operava
como o nível mais alto, visto que utilizava a intenção, a escolha e o que é divino e imortal.

Após centenas de anos, foi proposta a ideia de que a alma não seria tripartida, mas seria dualista, constituída pelas paixões do corpo
e a razão da mente. O primeiro autor a propor esta nova forma de pensamento foi Tomás de Aquino, o qual sugeriu que o corpo
fornecia impulsos motivacionais irracionais baseados no prazer, enquanto a mente fornecia motivações racionais baseadas na
vontade. Posteriormente, Descartes acrescentou a distinção entre os aspetos passivos e ativos da motivação. Aqui o corpo era um
agente mecânico e passivo da motivação e a vontade seria um agente imaterial e ativo da motivação. Para o autor, o corpo possuía
necessidades nutritivas e respondia ao ambiente de forma mecanicista por meio dos sentidos, reflexos e fisiologia. Já a mente era
uma entidade espiritual e podia controlar o corpo e controlar os seus desejos. Para Descartes, a força motivacional última era a
vontade, pois esta, uma vez entendida, tornaria possível compreender a motivação. Forneceu assim à motivação a sua primeira
grande teoria – a vontade.

GRANDES TEORIAS DA MOTIVAÇÃO: São teorias abrangentes que procuram explicar toda a gama de ações motivadas: porque nos
apaixonamos, comemos, bebemos, trabalhamos, brincamos, competimos, tememos certas coisas, lemos, etc. O estudo histórico da
motivação – desde suas raízes filosóficas até à década de 1960 – mostra que os primeiros estudos sobre motivação abraçaram três
grandes teorias de motivação – vontade, instinto e impulso.

Vontade: Para Descartes, uma vez que se entendesse a vontade, isso inevitavelmente levaria à compreensão da motivação. A
compreensão da motivação foi reduzida e tornou-se sinónimo de compreensão da vontade. Houve algum progresso quando se
identificaram os atos da vontade: escolher (ou seja, decidir se agir ou não agir) (Rand, 1964); esforçar-se (ou seja, criar impulsos para
agir) (Ruckmick, 1936); resistir (ou seja, abnegação ou resistência à tentação). Mas a vontade acabou por ser uma faculdade mal
compreendida da mente que surgiu, de alguma forma, como um amontoado de capacidades inatas, sensações ambientais,
experiências de vida. Os filósofos acharam a vontade muito misteriosa e muito difícil de explicar e não descobriram nem a natureza
da vontade nem as leis pelas quais ela operava.

Instinto: Charles Darwin (1859). A nova ciência da psicologia, surgida na década de 1870 (Schultz, 1987), levou ao estudo de um
princípio motivacional menos misterioso do que a vontade – o Instinto. Isto representa a mudança do estudo da motivação, do
âmbito da filosofia para a fisiologia e para as ciências. O determinismo biológico de Charles Darwin teve dois efeitos importantes no
pensamento científico. Primeiro, forneceu à biologia uma das suas noções mais importantes - evolução. Ao fazê-lo, o determinismo
biológico desviou o olhar dos cientistas dos conceitos motivacionais mentais (por exemplo, vontade) para os mecanicistas e
genéticos. Em segundo lugar, acabou com o dualismo homem-animal que permeava os primeiros estudos sobre a motivação.
Introduziu questões como como os animais terem a capacidade de usar os seus recursos (ou seja, motivação) para se adaptar às
exigências predominantes de um ambiente. Para explicar esse comportamento adaptativo aparentemente pré-programado, Darwin
propôs o conceito de instinto que permitiu perceber a origem da força motivacional (Beach, 1955): os instintos que surgiram de uma
substância física, de uma base genética e que, portanto, eram fisicamente reais. Essa substância herdada e material (genes) leva o
animal a agir de uma forma específica. Na presença do estímulo apropriado, os instintos se expressavam por meio de reflexos
corporais herdados - o pássaro construía um ninho, a galinha chocava e o cão caçava, tudo porque cada um tinha um impulso
geneticamente dotado e biologicamente ativo para o fazer. William James (1890) foi o primeiro psicólogo a popularizar uma teoria
instintiva da motivação. James considerava os seres humanos dotados de um número generoso de instintos: Instintos físicos, Sucção,
Locomoção, etc e Instintos mentais, Imitação, Brincadeira, Sociabilidade, etc. Tudo o que era necessário para traduzir um instinto em
comportamento direcionado a um objetivo (ou seja, motivado), era a presença de um estímulo apropriado. William McDougall
(1908, 1926) propôs uma teoria do instinto que apresentava instintos para explorar, lutar, gerar filhos (entre outros). Uma vez
adotado o instinto como uma grande teoria da motivação, a próxima tarefa foi identificar quantos instintos os seres humanos
possuíam. As coisas rapidamente saíram do controle. A doutrina do instinto tornou-se irremediavelmente especulativa à medida que
diferentes listas de instintos cresceram, incluindo mais de 6.000 (Bernard, 1924; Dunlap, 1919). Assim como a psicologia
anteriormente abandonou a vontade, ela acabou por abandonar também a noção de instinto.

Impulso: Woodworth (1918) – Introduziu o conceito motivacional de Drive/Impulso para substituir o instinto. O impulso surgiu de
uma biologia funcional, que entendia que a função do comportamento era atender às necessidades corporais. À medida que os
desequilíbrios biológicos ocorrem (por exemplo, falta de comida, água, sono), os animais experimentam psicologicamente esses
déficits corporais como “impulso”. O impulso motiva qualquer comportamento que fosse instrumental para atender às necessidades
do corpo (por exemplo, comer, beber, aproximar-se). Mas as duas teorias do impulso mais amplamente adotadas vieram de Sigmund
Freud (1915) e Clark Hull (1943). Sigmund Freud (1915) – Teoria da Pulsão. Freud, fisiologista de formação, acreditava que todo o
comportamento era motivado e que o propósito do comportamento era servir a satisfação de necessidades. A sua visão do sistema
nervoso era que os impulsos biológicos (por exemplo, fome) eram condições constantes e recorrentes que produziam
inevitavelmente acúmulos de energia dentro do sistema nervoso (Freud, 1915). A acumulação de energia perturbava a estabilidade
do sistema nervoso e produzia desconforto psicológico (isto é, ansiedade). Se a acumulação de energia aumentasse sem controle,
poderia ameaçar a saúde física e psicológica. O Impulso surgiu como uma espécie de sistema de alerta de emergência face às ações
que precisavam de ser tomadas. Uma vez iniciado, esse comportamento motivado continuava até que o impulso fosse satisfeito. A
teoria pulsional de Freud sofreu críticas: (1) uma superestimação da contribuição das forças biológicas para a motivação; (2) uma
confiança excessiva em dados obtidos de estudos de caso de indivíduos perturbados; (3) uma dificuldade de testar cientificamente as
suas proposições. Hull (1943, 1952) – Teoria da Unidade. Para Hull, como para Freud, a motivação tinha uma natureza puramente
fisiológica (o impulso) entendendo a necessidade corporal como a fonte última de motivação. Considerava que a pulsão era uma
fonte de energia combinada composta por todos os déficits/distúrbios corporais atuais (necessidades particulares de comida, água,
sexo, sono) que, somados, constituem uma necessidade corporal total. A teoria dos impulsos de Hull permitia pela primeira vez
prever a motivação antes desta ocorrer.

MINI TEORIAS:
Ao contrário das grandes teorias para explicar toda a gama de motivação, as mini teorias limitam a sua atenção a fenómenos
motivacionais específicos. Procuram compreender ou investigar em particular: um fenómeno motivacional (por exemplo, a
experiência de flow); as circunstâncias particulares que afetam a motivação (por exemplo, feedback de falha); determinados grupos
ou variáveis (por exemplo, extrovertidos, crianças, trabalhadores); uma questão teórica (por exemplo, qual é a relação entre
cognição e emoção?). As principais mini-teorias (com uma referência seminal) que surgiram nas décadas de 1960 e 1970 são: Teoria
da motivação para a realização (Atkinson, 1964); Teoria das atribuições causais para a realização (Weiner, 1972); Teoria da
dissonância cognitiva (Festinger, 1957).

Teoria da motivação para a realização (Atkinson, 1964): concebe dois grandes motivos como centrais na motivação: a motivação
para lutar pelo sucesso (tendência do sujeito para lutar pelo sucesso, em função da satisfação que este lhe proporciona, e que
existiria em maior ou menor grau nos sujeitos, constituindo uma característica relativamente estável da sua personalidade,
considerando Atkinson que há sujeitos mais dispostos do que outros a sentir satisfação face ao sucesso: os sujeitos diferenciam-se
quanto ao grau de afeto positivo (orgulho) que experienciam face ao sucesso) e a Motivação para evitar o insucesso (concebido de
forma análoga à motivação para o sucesso e traduz a quantidade de afeto negativo (vergonha) que o sujeito experiência face ao
insucesso). São dois os motivos básicos da ação em contextos de realização: experienciar o orgulho ligado à obtenção de sucesso e
evitar a vergonha ligada ao insucesso. Neste contexto, é proposta a fórmula: Expectativa X Valor. A expectativa é a probabilidade de
que a realização da ação tenha uma determinada consequência, constitui uma previsão dos resultados que permitirá ao sujeito
antecipar as consequências emocionais do seu envolvimento na tarefa, determinando o seu envolvimento (tendência para a ação). O
Valor ou incentivo é a quantidade de recompensa ou satisfação potencial oferecida se a consequência esperada ocorrer.
Relativamente à tendência para realizar a atividade, a teoria de Atkinson hipotetiza que a tendência para o sucesso e a tendência
para evitar o insucesso serão máximas nas tarefas de dificuldade intermédia. A tendência para o sucesso em tarefas de dificuldade
intermédia será tanto maior quanto mais elevado o nível de motivação para o sucesso. A tendência para evitar o insucesso em
tarefas de dificuldade intermédia será tanto maior quanto mais elevado o nível de motivação para evitar o insucesso. Os sujeitos
com alta motivação para o sucesso tenderão a escolher tarefas de nível de dificuldade intermédia e os sujeitos com alta motivação
para evitar o insucesso evitarão as tarefas de dificuldade intermédia e preferirão as tarefas muito fáceis ou muito difíceis. Para os
primeiros, as tarefas de nível de dificuldade intermédia são as que satisfarão melhor a necessidade de sucesso: o sucesso em tarefas
fáceis é pouco valorizado e as tarefas muito difíceis oferecem poucas probabilidades de sucesso. Para os segundos, as tarefas muito
fáceis ou muito difíceis permitirão evitar as consequências negativas do insucesso: nas tarefas muito fáceis o sucesso é praticamente
garantido e nas tarefas muito difíceis o insucesso não é tão repulsivo.

Teoria das atribuições causais para a realização (Weiner, 1972): afirma que as atribuições causais de realização de um indivíduo
afetam comportamentos e motivações subsequentes. Assim, a interpretação que o individuo faz sobre o desempenho é mais
importante do que o resultado real e do que as disposições motivacionais porque vai determinar um maior empenho em esforços
futuros. Um dos principais pressupostos da teoria da atribuição é que as pessoas interpretarão seu ambiente e os eventos de forma a
manter uma autoimagem positiva. Dimensões Causais: De acordo com a teoria da atribuição, as pessoas tendem a explicar o sucesso
ou o fracasso em termos de três tipos de características: i) Locus de causalidade - atribuição das causas dos acontecimentos a fatores
internos ao indivíduo ou, pelo contrário, a fatores externos ao indivíduo; ii) Estabilidade - causas percebidas como estáveis no tempo
ou como instáveis e variando com o tempo; iii) Controlabilidade - atribuições percecionadas como dependendo da vontade do
próprio ou independentes da vontade pessoal e como tal percecionadas como incontroláveis. As dimensões causais estão
relacionadas às atribuições pessoais. Na vida afetiva, os pensamentos dão origem aos sentimentos, a atribuição e suas propriedades
guiam esses sentimentos e as emoções, que por sua vez, são os motivadores imediatos da ação. As emoções guiam o processo de
atribuição e, portanto, têm um significado motivacional indireto. Situação (algo acontece) - Pensamento (a situação é interpretada) -
Emoção (um sentimento ocorre como resultado do pensamento) - Comportamento (uma ação ocorre em resposta à emoção).

Teoria da dissonância cognitiva (Festinger, 1957): Dissonância Cognitiva é uma tensão entre o que uma pessoa pensa ou acredita e
aquilo que faz. A existência de dissonância, sendo psicologicamente desconfortável, vai motivar a pessoa a tentar reduzir a
dissonância e alcançar consonância (crenças e comportamentos consistentes). As pessoas têm uma necessidade interior de garantir
que as suas crenças e comportamentos são consistentes. Crenças inconsistentes ou conflituantes levam a desarmonia, que as
pessoas se esforçam para evitar. Quanto maior for a força da dissonância, mais pressão existe para aliviar as sensações de
desconforto. Quando a dissonância está presente, além de tentar reduzi-la, a pessoa vai evitar ativamente situações e informações
que provavelmente aumentariam a dissonância. A dissonância cognitiva pode muitas vezes ter uma forte influência sobre os nossos
comportamentos e ações. A Dissonância cognitiva desempenha um papel em muitos julgamentos de valor, decisões e avaliações.
Tornar-se consciente de como as crenças conflituantes têm impacto sobre o processo de tomada de decisão é uma ótima maneira de
melhorar a sua capacidade de fazer escolhas mais rápidas e precisas. Após a resolução da dissonância cognitiva o indivíduo fica
comprometido e motivado em cumprir com as novas decisões que tomou.

O CÉREBRO MOTIVADO E EMOCIONADO


Resumo: Ao pensar no cérebro, a maioria das pessoas concentra a sua atenção nas suas funções cognitivas e intelectuais, incluindo o
pensamento, a aprendizagem, e a tomada de decisões. Mas o cérebro não é apenas um agente do pensamento, é também um
agente da motivação e da emoção. É o cérebro que gera desejos, apetites, necessidades, prazeres, e toda a gama das emoções. Para
ilustrar como o cérebro cria, mantém e regula estados motivacionais e emocionais, considere os seguintes três princípios que
organizam a forma como os investigadores motivacionais estudam o cérebro. Primeiro, estruturas cerebrais específicas (por
exemplo, hipotálamo, amígdala) geram estados motivacionais específicos. Segundo, os agentes bioquímicos (por exemplo,
neurotransmissores, hormonas) estimulam estas estruturas cerebrais. Terceiro, eventos do dia-a-dia (por exemplo, uma carta de um
amigo, tráfico denso) são os eventos nas nossas vidas que estimulam a bioquímica estimulante do cérebro agentes em ação. Olhar o
interior do cérebro com técnicas como cirurgia e fMRI (ressonância magnética funcional) produz um mapa da localização anatómica
de várias estruturas cerebrais chaves relacionadas à motivação e à emoção. As estruturas cerebrais associadas a sentimentos
positivos e motivação de abordagem incluem o hipotálamo, o feixe prosencefálico medial forebrain, a área septal, o córtex
orbitofrontal, o núcleo acumbente, o córtex pré-frontal medial, e o córtex pré-frontal esquerdo. As estruturas cerebrais associadas
com sentimentos negativos e motivação para evitar incluem a amígdala, hipocampo, e córtex pré-frontal direito.
Os neurotransmissores atuam como mensageiros químicos dentro do cérebro, e uma "via de neurotransmissor" refere-se a um
grupo de neurónios que comunicam entre si utilizando um neurotransmissor em particular. As quatro vias de neurotransmissores
relevantes são a dopamina, a serotonina, a norepinefrina, e a endorfina. Ao encontrar eventos motivacionais significativos, o cérebro
deteta alguns eventos como "biologicamente significativos" e liberta dopamina que gera bons sentimentos e estimula o
comportamento de abordagem orientada por objetivos. Além disso, a experiência agradável da dopamina permite à pessoa
aprender que eventos ambientais estão associados ao prazer e à abordagem e que outros eventos ambientais estão associados ao
stress e à retirada. A libertação de dopamina é, portanto, um mecanismo neural por que a motivação é traduzida em ação.

INTRODUÇÃO
Porque sentimos fome? Quanto mais fazemos dieta, mais fome temos e isto deve-se à hormona “grelina” (fabricada no estômago,
que circula no sangue e é detetada e monitorizada no cérebro). Quando alguém faz dieta, o estômago e os intestinos detetam a falta
de nutrientes e começam a fabricar e libertar grelina na corrente sanguínea. O hipotálamo monitoriza constantemente a quantidade
de grelina no sangue e, quando os níveis de grelina aumentam, o hipotálamo deteta a mensagem recebida do estômago e dos
intestinos. Esta mensagem estimula o hipotálamo a criar a experiência psicológica da fome.
Ou seja, a privação de alimentos induzida pela dieta, leva o corpo a gerar uma potente força contra mais dietas e privação de
alimentos (ou seja, o pico de grelina). O corpo também possui hormonas supressoras da fome. Assim como o estômago e os
intestinos segregam grelina na corrente sanguínea para estimular a atividade cerebral subjacente ao apetite (sentir fome), o tecido
adiposo (gordura) cria e liberta leptina no sangue para estimular a atividade cerebral subjacente à saciedade (sentir-se cheio). Ao
fabricar, segregar e monitorizar essas duas hormonas, os nossos corpos regulam os estados motivacionais (fome, saciedade) diante
da escassez de alimentos e da perda de peso (grelina aumenta, leptina diminui) e comida abundante e ganho de peso (grelina cai,
leptina aumenta).
Porque é que o cérebro é importante? A maioria das pessoas, diria que o cérebro é importante porque desempenha funções
cognitivas e intelectuais, incluindo pensar, aprender, lembrar, tomar decisões e resolver problemas. Esses são processos cerebrais
muito importantes, de facto, mas o cérebro faz mais. O cérebro é o centro da motivação e da emoção. Gera necessidades, desejos,
prazer e toda a gama de emoções. Ou seja, à medida que o cérebro desempenha as suas funções, não se preocupa apenas com a
tarefa que está a realizar (usando as suas funções cognitivo-intelectuais), mas também se nós queremos fazê-lo (cérebro motivado) e
qual o é o seu humor ao fazê-lo (cérebro emocional). Todos os estados motivacionais e emocionais envolvem a participação do
cérebro. Quando se trata de entender a motivação e a emoção, o cérebro é o protagonista da ação. O cérebro, no entanto, conta
com a ajuda de alguns órgãos (por exemplo, fígado, estômago) e todos os agentes bioquímicos em todo o corpo (por exemplo,
hormonas) e sistema nervoso central (por exemplo, neurotransmissores).

Três princípios: Para entender os processos motivacionais baseados no cérebro, os pesquisadores motivacionais gastam muito
tempo (1) a mapear quais as estruturas cerebrais que estão associadas a determinados estados motivacionais específicos, (2) a
investigar como as estruturas cerebrais associadas a estados motivacionais são ativadas e (3) a compreender como os
acontecimentos do dia-a-dia na vida das pessoas criam esse processo de ativação. Essas três áreas de atividade levam aos três
princípios gerais a seguir que orientam a pesquisa sobre o cérebro motivado e emocional:
1. Estruturas cerebrais específicas geram motivações específicas. Diferentes estruturas cerebrais, quando estimuladas, dão origem a
estados motivacionais específicos. Estimular uma parte do hipotálamo, por exemplo, aumenta a fome, enquanto estimular uma
parte diferente do hipotálamo aumenta a saciedade. Além disso, lesões de uma estrutura cerebral específica tiram a capacidade da
pessoa de experimentar estados motivacionais específicos. Da mesma forma, uma lesão num circuito neural integrado ou de uma via
de neurotransmissor pode aumentar e diminuir estados motivacionais específicos.
2. Agentes bioquímicos estimulam estruturas cerebrais específicas. Se estruturas cerebrais específicas dão origem a estados
motivacionais específicos, como é que essas estruturas cerebrais são estimuladas em primeiro lugar? As estruturas cerebrais têm
recetores que lhes conferem o potencial de serem estimuladas. Os agentes bioquímicos que estimulam esses recetores são
neurotransmissores e hormonas. Os neurotransmissores são os mensageiros de comunicação do sistema nervoso, enquanto as
hormonas são os mensageiros de comunicação do sistema endócrino. Assim, para entender a ascensão e queda dos estados
motivacionais, precisamos de observar como é que os neurotransmissores e as hormonas estimulam e suprimem locais específicos
do cérebro.
3. Eventos do dia-a-dia colocam agentes bioquímicos em ação. Cirurgiões e investigadores de motivação estimulam artificialmente
as estruturas cerebrais e libertam artificialmente agentes bioquímicos na corrente sanguínea e no sistema nervoso. Ao fazer isso,
eles podem isolar a função de estruturas cerebrais específicas. Mas é nos eventos do dia-a-dia que o cérebro motivado e emocional é
estimulado a agir. No exemplo da fome, foi o ato de fazer dieta (privação de comida) que colocou a hormona grelina em ação.

Observação do cérebro: Os investigadores têm várias maneiras de observar o cérebro para ver o que está a acontecer durante os
estados motivacionais e emocionais. A 1ª maneira é a maneira antiquada, a visão de um cirurgião. A 2ª forma que é puramente de
alta tecnologia, é a ressonância magnética funcional (RMF). Em relação à maneira antiquada, a visão de um cirurgião, imagine sofrer
dor crónica, e por isso vai ao médico e é informado que para aliviar essa dor, é necessária uma cirurgia. Durante a cirurgia, parte do
seu córtex cerebral será exposta e terá de ser realizada enquanto está acordado. Isso ocorre porque o cirurgião precisa de coordenar
os estímulos do local com as suas perceções e respostas específicas.
A RMF tira um instantâneo detalhado – uma fotografia eletrónica – da estrutura do cérebro. À medida que a pessoa se deita e
experimenta algum estado motivacional e emocional, a máquina deteta alterações na oxigenação do sangue causadas pela atividade
cerebral. Com o tempo, a RMF produz uma versão em vídeo da atividade cerebral momento a momento durante um episódio
motivacional ou emocional. À medida que a motivação e a emoção do indivíduo mudava e também mudava a atividade do cérebro.
A RMF consegue captar estes estados, confirmando assim o que o cérebro faz durante a fome, o medo... O próprio pensamento
pode ser uma coisa inerente, motivadora e geradora de emoções. Por exemplo, quando fazemos um plano ou estabelecemos um
objetivo se tentarmos visualizar o que vamos sentir, ver e ouvir quando atingirmos esse objetivo, pode ser inerentemente motivador
e gerador de emoções.

Hipotálamo: É uma pequena estrutura cerebral que compreende menos de 1% do cérebro, mas apesar da sua pequena dimensão, é
um gigante motivador. Através da estimulação dos seus 20 núcleos, regula uma série de funções biológicas importantes, incluindo
comer, beber e acasalar (através das motivações da fome, saciedade, sede e sexo).
Regula tanto o sistema endócrino como o sistema nervoso autónomo, ao regular estes dois sistemas regula o ambiente interno do
corpo (por exemplo, o ritmo cardíaco, secreção hormonal) de modo a adaptar-se de forma ótima ao ambiente (por exemplo, lidar
com stress, ameaças, exercício físico). Quando experienciamos uma mudança no ambiente (por exemplo, ameaça), o hipotálamo
tem dois meios principais para regular a reação do corpo e assim lidar eficazmente com a mudança ambiental. Por um lado, o
hipotálamo pode gerar excitação (ativação simpática) ou relaxamento (ativação parassimpática). Por outro lado, o hipotálamo pode
estimular o sistema endócrino, estimulando a glândula pituitária para libertar hormonas para a corrente sanguínea.

Feixe prosencefálico medial: É um conjunto relativamente grande de fibras que está tão intimamente ligado ao hipotálamo que
muitos argumentam que são praticamente a mesma coisa. Em termos de motivação é um “Centro de prazer”. Os investigadores
colocaram uma mochila eletrónica num animal e utilizaram um computador portátil para estimular o feixe do animal, e concluíram
que a estimulação do feixe prosencefálico medial do forebrain criou prazer e levou os animais a agirem como se tivessem acabado
de receber um reforço positivo real, por exemplo a sua comida preferida. Ao estimular o feixe prosencefálico medial no cérebro no
momento certo, os investigadores podem, por exemplo, motivar/reforçar um animal a aprender a andar num labirinto. No ser
humano, estimular o feixe medial do prosencéfalo não produz prazer de uma forma muito intensa, contudo, produz sentimentos
geralmente positivos.

Córtex orbitofrontal: À medida que avançamos no dia e comparamos o valor do incentivo dos objetos e eventos que podem guiar o
nosso comportamento e ações, alguns objetos e alguns eventos atraem a nossa atenção e servem como incentivos atrativos para as
nossas ações. O córtex orbitofrontal é a estrutura do cérebro que processa tal informação relacionada com incentivos que ajuda as
pessoas a fazer escolhas entre opções, tais como qual o produto entre muitos a comprar ou beber sumo de laranja ou água. Ou seja,
córtex orbitofrontal é ativo quando as pessoas consideram as suas opções recordam o que no menu é bom e o que não é, e fazem a
sua seleção entre os diferentes incentivos (itens do menu) a prosseguir.

Amígdala: Deteta e responde a eventos ameaçadores e emocionalmente significativos, embora cada um dos seus diferentes núcleos
tenha uma função diferente. O estímulo de uma parte da amígdala gera raiva emocional, enquanto a estimulação de outra parte
gera medo emocional e comportamento defensivo. Portanto, regula as emoções envolvidas na auto preservação, tais como medo,
raiva e ansiedade. A deterioração produzirá falta de resposta emocional, neutralidade efetiva, preferência pelo isolamento social... A
amígdala também está envolvida na perceção das emoções de outras pessoas, expressões faciais, e no nosso próprio estado de
espírito, especialmente na emoção negativa. A amígdala também desempenha um papel fundamental na aprendizagem de novas
associações emocionais. Por exemplo, a amígdala permite-nos aprender a temer os perigos ambientais. À medida que a pessoa
conecta objetos potencialmente temerosos no ambiente, a estimulação da amígdala ocorre e ativa as estruturas cerebrais vizinhas
(por exemplo hipotálamo, área tegmental ventral) que liberta neurotransmissores (dopamina, serotonina, noradrenalina,
acetilcolina) para regular a resposta coordenada ao medo, incluindo a respiração rápida, aceleração do ritmo cardíaco e tensão
arterial elevada, bem como descarga hormonal e expressões faciais emocionais.

Circuito Septo-Hipocampal: O circuito septo-hipocampal envolve a ação integrada de várias estruturas límbicas, incluindo a área
septal, núcleo accumbens, hipocampo, fórnix, tálamo, hipotálamo, e corpos mamilares. Embora seja um circuito límbico, o circuito
septo-hipocampal também inclui interconexões do córtex cerebral. Assim, uma boa parte da atividade cognitiva da memória e da
imaginação é introduzida no circuito. Prevê, portanto, a emoção associada aos próximos acontecimentos, tanto em termos de prazer
como de ansiedade antecipada. O hipocampo funciona como um "comparador" que compara constantemente a informação
sensorial recebida com eventos esperados (de memória).
Se uma pessoa realiza a sua atividade diária e encontra eventos e circunstâncias que coincidem com os que poderiam ser esperados
de memória, então o hipocampo funciona em modo de verificação "ok". Por exemplo, se chegar a casa e esperar encontrar a sua
porta da frente trancada e o cão a cumprimentá-lo do outro lado da porta, e se isso de facto acontecer como era de esperar, então,
neste cenário de expectativas confirmadas, o septo-hipocampo não envia um estado de ansiedade motivacional (porque os
acontecimentos estão a desenrolar-se conforme o esperado).

Córtex Cingulado Anterior: O córtex cingulado anterior está envolvido no controlo do humor do dia a dia e de fazer escolhas. A
diminuição da atividade no córtex cingulado anterior está associada à tristeza e depressão sentida.
Formação reticular: A formação reticular é um conjunto de neurónios, que estão situados dentro do tronco cerebral, que
desempenha um papel fundamental na excitação e no processo de despertar, as preocupações motivacionais e emocionais do
cérebro. Consiste em duas partes: O sistema de ativação reticular ascendente e a formação reticular descendente. O sistema de
ativação reticular ascendente, como o próprio nome indica, projeta os seus nervos para cima no cérebro para alertar e despertar o
córtex, enquanto a formação reticular descendente projeta os seus nervos para baixo para regular o tónus muscular. No anexo 7 está
represento um gato que responde a um ruído (estímulo) para ilustrar que é o sistema de ativação reticular ascendente que alerta e
desperta o córtex para que possa processar a informação recebida. Uma vez processada, (por exemplo, toma uma decisão sobre o
que fazer) pouco tempo depois, responde adequadamente ao estímulo.
Córtex pré-frontal: O sistema límbico recebe estímulos sensoriais (visões, cheiros, sabores) que ativam reações emocionais bastante
automáticas. Os lobos pré-frontais do córtex cerebral encontram-se imediatamente atrás da testa. Um lobo está localizado no lado
direito do cérebro, enquanto, o outro está no lado esquerdo. A distinção direita - esquerda é importante porque a sua ativação gera
tons emocionais qualitativamente diferentes.
Para além desta distinção, existe também um córtex pré-frontal medial. Desempenha um papel central na aprendizagem da
resposta. A aprendizagem de contingências de resposta, tais como "Quando estudo, tiro boas notas", contribui de uma forma
importante para uma ação orientada para a obtenção de objetivos e de resultados. O córtex pré-frontal aloja os objetivos
conscientes de uma pessoa. Estes objetivos competem uns com os outros (objetivo de comer vs. objetivo de perder peso). Os
pensamentos que estimulam o córtex pré-frontal direito geram sentimentos orientados para evitar, enquanto os pensamentos que
estimulam o córtex pré-frontal esquerdo geram sentimentos positivos e orientados para a aproximação. Além disso, existem
diferenças básicas de personalidade entre as pessoas, já que algumas têm lobos pré-frontais direitos especialmente sensíveis que as
deixam vulneráveis à emoção negativa, enquanto outras têm lobos pré-frontais esquerdos especialmente sensíveis que as deixam
vulneráveis à emoção positiva.

Neurotransmissores: Como já sabemos, os neurónios comunicam uns com os outros através de neurotransmissores. Os
neurotransmissores atuam como mensageiros químicos dentro do sistema nervoso central do cérebro. As quatro vias de
neurotransmissores mais relevantes são: Dopamina, gera bons sentimentos associados à recompensa; Serotonina, influência o
humor e emoção; Norepinefrina, regula a excitação e o alerta; Endorfina, inibe a dor, a ansiedade e o medo. O percurso da dopamina
é particularmente importante para compreender a motivação e a emoção.

Dopamina: A libertação de dopamina gera bons sentimentos. Essa libertação desencadeia uma positividade emocional, e o resultado
positivo produz um melhor funcionamento, como a criatividade e a resolução perspicaz de problemas. A descoberta de que a
libertação da dopamina gera bons sentimentos positivos é uma descoberta significativa, visto que, à medida que as pessoas passam
o seu dia, têm diversas escolhas sobre o que fazer e não fazer. Parte da "vontade" de seguir um curso de ação (porque eu escolhi isto
em vez daquilo) sobre outra é regulada pela informação fornecida pela saída de dopamina da área ventral tegmental (VTA). A VTA,
liberta dopamina noutros locais do cérebro, como por exemplo no córtex pré-frontal, e o padrão de libertação é previsível na
proporção em que a pessoa espera e recebe efetivamente a recompensa de um determinado curso de ação. Quando os
acontecimentos ocorrem melhor do que se estava à espera, existe um aumento da libertação de dopamina no cérebro que serve
como informação de que o curso de ação está a produzir mais recompensa do que aquela que se previa obter. Por outro lado,
quando os acontecimentos ocorrem pior do que se estava a espera, existe uma diminuição da libertação de dopamina que serve
como informação de que o curso de ação está a produzir menos recompensa do que era esperado obter.

Libertação de dopamina e incentivos: Incentivos – estímulos que prenunciam a iminente entrega de recompensa, ou seja, a
libertação de dopamina no cérebro. O prazer é o resultado de uma corrida à dopamina no sistema de recompensa. Por exemplo:
Quando se sente o cheiro de alguém a fazer bolachas de chocolate no forno, ocorre a libertação da dopamina. Não é ingestão das
bolachas que faz com que o cérebro liberta dopamina, mas sim a antecipação de uma refeição gratificante que desencadeia essa
libertação. Como a libertação da dopamina ocorre com a antecipação da recompensa, participa, portanto, nas fases preparatórias do
comportamento motivado. Por esta razão temos frequentemente mais prazer em pensar em comer as bolachas do que
propriamente ingeri-las. No entanto, se as coisas correrem melhor do que o esperado durante a refeição, então a libertação de
dopamina continua, e assim a pessoa continua a sentir-se bem.

Libertação de dopamina e recompensas: A libertação de dopamina não só sinaliza a perspetiva de uma próxima recompensa, como
também nos ensina quais os eventos no ambiente que são gratificantes. A libertação de dopamina é maior quando eventos
gratificantes ocorrem de formas imprevisíveis. Assim, não é tanto a ocorrência de um acontecimento gratificante que gera bons
sentimentos, mas sim a ocorrência de uma recompensa imprevista ou inesperada.

Dopamina e ação motivada: A libertação de dopamina está associada a dois eventos cerebrais. Primeiro, a libertação de dopamina
gera sentimentos positivos, como discutido acima. No entanto, a essa libertação também ativa respostas voluntárias de abordagem
orientada por objetivos. O caminho da dopamina inclui uma interface com o sistema muscular/motor do corpo, através dos núcleos
de acumbens, que é a estrutura cerebral envolvida na libertação da locomoção envolvida na direção dos objetivos do
comportamento. Assim, a estimulação do caminho da dopamina aumenta a probabilidade do comportamento de aproximação. Para
continuar o exemplo das bolachas, a libertação de dopamina gera não só os sentimentos positivos, mas também o comportamento
de busca motivado que é necessário para encontrar e consumir os alimentos desejados. Globalmente, à medida que os eventos vão
e vêm durante o dia, o cérebro deteta alguns eventos como “biologicamente significativo” e liberta dopamina que gera bons
sentimentos e comportamento de abordagem orientada por objetivos. Além disso, a experiência agradável da dopamina permite à
pessoa aprender que eventos ambientais estão associados ao prazer e que outros eventos ambientais estão associados ao stress e à
retirada. A libertação de dopamina é, portanto, um mecanismo neural através do qual a motivação é traduzida em ação.

Adições: As drogas são reforçadoras especialmente potentes. O uso repetido produz hipersensibilidade à estimulação
dopaminérgica. Por hipersensibilidade, ela significa que as drogas sensibilizam as estruturas cerebrais. Muitas drogas, tais como a
cocaína, a heroína, anfetamina, álcool, e nicotina, causam hipersensibilização neural induzida por dopamina, e uma vez que isto
ocorre, pode durar anos.

Gostar e Querer: Desejar é um estado motivacional que ocorre antes de receber uma recompensa, enquanto gostar é um estado
motivacional que ocorre após receber a recompensa. Querer e gostar normalmente andam de mãos dadas, mas as duas experiências
motivacionais têm de facto diferentes mecanismos cerebrais. Gostar motiva o comportamento ao agir. Querer pode ocorrer sem o
gostar, como por vezes as pessoas podem querer aquilo de que não gostam necessariamente. Querer sem gostar é apenas uma
recompensa parcial que ocorre sem prazer sensorial (por exemplo, vício de nicotina). Para a experiência completa da recompensa, a
necessidade de querer e gostar de ocorrer em conjunto.

NECESSIDADES BÁSICAS
Resumo: Sede, fome e sexo são necessidades fisiológicas. A âncora para este trabalho foi a teoria do impulso de base biológica de
Hull. É então delineado o processo regulador da sede, da fome e do sexo, e apresentados sete processos fundamentais: necessidade
fisiológica, impulso psicológico, homeostase, feedback negativo, múltiplos outputs e inputs, influências intraorganísmicas e
influências extraorganísmicas. A sede é o estado motivacional conscientemente experimentado que prepara a pessoa para realizar
os comportamentos necessários para repor um déficit de água. É distinguida em dois tipos principais, sede intracelular e sede
extracelular. A reposição hídrica sacia a sede, principalmente quando a água injetada hidrata as células. O comportamento de beber
(que não está necessariamente relacionado à sede) é influenciado ainda mais por variáveis extraorganísticas, como disponibilidade
de água, sabor doce, vícios em álcool e cafeína e prescrições culturais como “beber oito copos de água por dia”. A fome e a
alimentação envolvem um sistema regulatório complexo de regulação de curto prazo (hipótese glicostática) e de longo prazo
(hipótese lipostática). De acordo com a hipótese glicostática, a deficiência de glicose estimula a alimentação ativando o hipotálamo
lateral, enquanto o excesso de glicose inibe a alimentação ativando o hipotálamo ventromedial. De acordo com a hipótese
lipostática, as células de gordura encolhidas iniciam a fome, enquanto as células de gordura normais ou maiores a inibem. O
comportamento alimentar (que não está necessariamente relacionado à fome) é influenciado ainda mais por incentivos ambientais,
como a visão, o cheiro e o sabor dos alimentos, a presença de outras pessoas e por pressões situacionais, como uma norma de
grupo. Esses fatores ambientais às vezes interferem e competem contrafatores fisiológicos. A dieta, por exemplo, representa a
tentativa de uma pessoa de suplantar os controles fisiológicos involuntários para comer com controles cognitivos voluntários. Esse
estilo de alimentação regulado cognitivamente tem implicações associadas à compulsão, liberação de restrição, ganho de peso e
obesidade.
Já a motivação sexual aumenta e diminui em resposta a uma série de fatores, incluindo hormonas, estimulação externa, pistas
externas (métricas faciais), scripts cognitivos, esquemas sexuais e evolução evolutiva. Apesar desses muitos fatores, a motivação
sexual no homem humano é relativamente direta, pois o desejo reflete forças fisiológicas, como um ciclo de resposta sexual trifásico
linear (desejo-excitação-orgasmo), uma estreita correlação entre a resposta erétil e o desejo, psicológico. A motivação sexual nas
mulheres é mais complexa, pois o ciclo de resposta sexual das mulheres muitas vezes não é linear, gira em torno das necessidades de
intimidade emocional, a correlação entre a resposta genital e o desejo psicológico é baixa e os roteiros e esquemas sexuais são
heterogéneos. Pesquisas sobre os determinantes da orientação sexual apontam para a importância da genética e das influências do
desenvolvimento pré-natal. Tentar exercer controlo mental consciente sobre as nossas necessidades fisiológicas geralmente causa
mais mal do que bem. As pessoas falham em autorregular seus apetites corporais por três razões principais: (1) subestimam quão
poderosa a força motivacional/os impulsos biológicos podem ser quando não estão a senti-los no momento, (2) carecem de padrões
ou têm padrões inconsistentes e irreais, (3) falham em monitorizar o que estão a fazer, pois distraem-se da sua regulação cognitiva e
reprimem necessidades fisiológicas.

Introdução: Este trabalho consiste numa exposição e explicação acerca dos diferentes pressupostos que constituem as necessidades
básicas. E, numa fase posterior do mesmo, iremos abordar de forma mais detalhada cada um deles: a Sede, a Fome e o Sexo.

Necessidades - O que é uma necessidade? Uma necessidade é qualquer condição interna ao indivíduo que é essencial e necessária
para a vida, crescimento e bem-estar. Quando as necessidades são nutridas e satisfeitas, o bem-estar é mantido e melhorado. Se
negligenciadas ou frustradas, a frustração da necessidade produzirá danos que impedem o bem-estar biológico ou psicológico. Os
estados motivacionais, portanto, fornecem o ímpeto para agir antes que ocorram danos ao nível do bem-estar psicológico e
corporal. Estes danos podem ser ao nível do corpo, com motivações que surgem de necessidades fisiológicas (por exemplo, sede,
fome e sexo) para evitar danos e para manter os recursos corporais. Os danos podem ser ao nível do self, de modo que as
motivações surgem das necessidades psicológicas (por exemplo, autonomia, competência e relacionamento) para orientar o
desenvolvimento, crescimento e adaptação. Os danos também podem ocorrer ao nível da relação com o mundo social, de modo que
as motivações surgem das necessidades sociais (por exemplo, realização, afiliação, intimidade e poder) para preservar a nossa
identidade, crenças, valores e relacionamentos interpessoais. Juntos, as necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais fornecem
uma série de motivações que servem à sobrevivência, ao crescimento e ao bem-estar do indivíduo.

Estrutura das necessidades: Existem três tipos de necessidades que podem ser organizados numa estrutura de necessidades
específica. As necessidades fisiológicas (sede, fome, sexo) são inerentes ao funcionamento dos sistemas biológicos. As necessidades
psicológicas (autonomia, competência e relacionamento) são inerentes à natureza humana e ao desenvolvimento saudável e são,
portanto, universais. Já as necessidades sociais (realização, intimidade, poder) são internalizadas ou aprendidas através das nossas
histórias emocionais e de socialização e dependem do tipo de ambiente social em que fomos criados, vivemos atualmente e
tentamos criar para o nosso futuro. Quando não são atendidas por um longo período, as necessidades fisiológicas constituem
emergências com risco de vida e, portanto, geram estados motivacionais que podem dominar a consciência. Quando gratificados, a
sua proeminência desaparece e essas necessidades são esquecidas, pelo menos por um tempo. Em vez de se enquadrarem num ciclo
repetitivo (aumento, diminuição e novo aumento) como as necessidades fisiológicas, as necessidades psicológicas e sociais estão
sempre presentes na consciência, pelo menos até certo ponto. Elas ganham destaque na consciência principalmente na presença das
condições ambientais que o indivíduo acredita serem capazes de envolver e satisfazer essas necessidades. Por exemplo, sair com os
amigos torna saliente a necessidade de afiliação, enquanto ser mandado frustra a necessidade de autonomia de uma pessoa. Todas
as necessidades geram energia, mas diferenciam-se quanto aos seus efeitos direcionais sobre o comportamento (Murray, 1937). Por
exemplo, uma necessidade de fome é diferente de uma necessidade de sede, não na quantidade de energia que gera, mas na sua
capacidade de direcionar atenção e ação para buscar comida ao invés de água. Outra forma de diferenciar as necessidades é pelo
grau de motivação gerado pois algumas geram maior motivação do que outras. Quando geram menor motivação, a pessoa sente-se
bem até que surja algum estado de privação (por ex., se passarem dez horas desde a sua última refeição) que ativa assim a
necessidade de o indivíduo interagir com o ambiente de forma a reduzir o déficit (ou seja, consumir alimentos). Quando geram maior
motivação, os estados motivacionais energizam e direcionam o indivíduo a ter comportamentos para avançar no seu
desenvolvimento (procurar desafios, melhorar as relações interpessoais).
Um aspecto diferenciador de uma necessidade associada a uma menor motivação de uma necessidade associada a uma maior
motivação é pelas emoções que cada uma gera. As necessidades associadas a uma menor motivação geralmente geram tensão,
emoções carregadas de urgência, como ansiedade, frustração, dor, estresse e alívio. Já as necessidades baseadas em maior
motivação geralmente geram emoções positivas, como interesse, prazer e vitalidade.

Flutuações no peso corporal ao longo do tempo – Estudo padrão: Num estudo foi realizado com animais, os animais alimentados à
força ganharam muito peso enquanto os que se encontravam em dieta restrita perderam muito peso, como seria de esperar. No
entanto, com o retorno da dieta normal, os animais expostos a uma alimentação forçada mostravam pouca fome e comiam com
moderação, enquanto os animais que foram expostos a uma alimentação restrita mostravam-se famintos e comiam vorazmente.
Passados 75 dias, os três grupos de animais pesavam aproximadamente o mesmo. Isto é, independentemente de terem sido
alimentados à força ou de forma restrita, os animais adaptaram-se motivacionalmente à sua condição, e esses estados motivacionais
permitiram eventualmente retornar ao seu peso corporal normal.

Fundamentos da regulação: Clark Hull (1943) criou uma teoria da motivação baseada na biologia conhecida como a teoria do
impulso. De acordo com a teoria do impulso, privações e déficits (por exemplo, falta de água, comida e sono) criam necessidades
biológicas. Se a necessidade continua insatisfeita, a privação biológica torna-se suficientemente potente para ocupar a atenção e
gerar impulso psicológico. “Drive” ou impulso é um termo teórico usado para retratar o desconforto psicológico (sentido de tensão e
inquietação) decorrente do déficit biológico subjacente e persistente. O impulso energiza o organismo em ação e direciona essa
atividade para os comportamentos específicos que são capazes de garantir a satisfação das necessidades corporais.
A necessidade fisiológica – impulso psicológico – comportamento processo de ação é ilustrado através de um modelo de sequência
de condução de necessidade-comportamento. Depois de beber um copo de água ou tomar pequeno-almoço, um indivíduo
experimenta uma condição biológica de saciação na qual não sente nem sede nem fome como motivação. Com o passar do tempo, o
indivíduo evapora a água e gasta calorias. Com esta perda natural de água e nutrientes, desequilíbrios ou déficits fisiológicos
começam a acumular-se. Se os desequilíbrios fisiológicos persistem e se intensificam, então a privação contínua produz uma
necessidade corporal de água ou calorias. Com o passar do tempo, a necessidade fisiológica intensifica-se o suficiente para produzir
tensão e inquietação sentidas, que é o impulso psicológico. Uma vez motivado pelo impulso, o indivíduo envolve-se em ações
direcionadas a objetivos. Quando o indivíduo com sede encontra e bebe água, ou quando indivíduo com fome localiza e consome
alimento, o comportamento consumatório ocorre. A ingestão de água e alimentos satisfaz e remove a necessidade corporal
subjacente, que acalma o impulso psicológico, por meio de um processo chamado redução do impulso. Após a sua redução, o
indivíduo retorna a um estado saciado (ou seja, desmotivado) e todo o processo cíclico começa a reproduzir-se novamente. O padrão
cíclico que descreve o aumento e a redução do impulso psicológico envolve sete processos centrais: necessidade fisiológica, impulso
psicológico, homeostase, feedback negativo, múltiplos Inputs/múltiplos Outputs, mecanismos intraorganísmicos e mecanismos
extraorganísmicos.

Necessidades Fisiológicas: As necessidades fisiológicas descrevem uma condição biológica deficitária. As necessidades fisiológicas
ocorrem com déficits nos tecidos e na corrente sanguínea, como perda de água ou privação de nutrientes. Se negligenciadas, segue-
se dano corporal ou patologia. Assim, as necessidades fisiológicas, quando não atendidas e intensas, representam emergências com
risco de vida.

Impulso Psicológico: “Drive” ou Impulso Psicológico é um termo psicológico, não biológico. É a manifestação consciente de uma
necessidade biológica inconsciente subjacente. O impulso, e não as necessidades fisiológicas subjacentes em si, tem propriedades
motivacionais. Por exemplo, é o apetite (impulso psicológico), e não o baixo nível de açúcar no sangue ou células de gordura
encolhidas (necessidade fisiológica), que energiza e direciona o comportamento. Quando saliente o suficiente para atrair a atenção
do indivíduo, o impulso motivacional prepara o indivíduo a se envolver em comportamentos direcionados a objetivos capazes de
produzir redução de impulso.

Homeostase: Os sistemas corporais mostram uma notável capacidade de manter um estado estável de equilíbrio. Isso é verdade
mesmo quando esses sistemas executam as suas funções e são expostos a condições ambientais variáveis e extremas. O termo que
descreve a tendência do corpo para manter um estado interno estável é a homeostase. A corrente sanguínea, por exemplo, mostra
uma constância notável no seu nível de água, sal, açúcar, cálcio, oxigênio, temperatura, acidez, proteínas e gorduras (Cannon, 1932;
Dempsey, 1951). No entanto, as pessoas enfrentam constantemente mudanças de ambiente externo e interno, e a mera passagem
do tempo pode trazer condições de privação, bem como as pessoas podem comer, beber e dormir em excesso. Assim, os sistemas
corporais são inevitavelmente e continuamente afastados da homeostase, seja por mudanças nas condições ambientais ou pelos
próprios comportamentos consumatórios. A homeostase é essencialmente a capacidade do corpo de retornar um sistema (por ex., a
corrente sanguínea) ao seu estado basal. Para fazê-lo, os sistemas corporais geram estados motivacionais. Assim, o corpo tem
tendência para manter um estado estável, bem como os meios para gerar a motivação necessária para energizar e direcionar os
comportamentos de restauração da homeostase.

Feedback negativo: O feedback negativo refere-se ao sistema de estagnação fisiológica da homeostase (Mook, 1988). Pessoas
comem e dormem, mas apenas até que não estejam mais com fome ou sono. O Drive ativa o comportamento e o feedback negativo
interrompe-o. Sem feedback e sem uma maneira de inibir o comportamento motivado pelo impulso uma vez que a necessidade
subjacente seja saciada, os seres humanos seriam como o lendário aprendiz de feiticeiro de Walt Disney. Reza a história que o
aprendiz, imitando o feiticeiro, aprendeu a comandar uma vassoura para trazer um balde de água.
A vassoura obedeceu e trouxe ao aprendiz um balde de água. Depois de alguns baldes, o aprendiz já tinha água suficiente, mas a
vassoura continuou a trazer balde após balde, pois o aprendiz esqueceu-se de aprender a mandar a vassoura parar de trazer água. Se
o organismo fosse incapaz de inibir um impulso, resultaria num desastre corporal. Se os indivíduos não conseguissem saciar a fome,
eles poderiam literalmente comer até a morte.
Os sistemas de feedback negativo na verdade sinalizam a saciedade bem antes da necessidade fisiológica ser totalmente
restabelecida (Adolph, 1980). No início, as pessoas comem e bebem rapidamente, mas a necessidade diminui rapidamente ao longo
de uma refeição (Spitzer & Rodin, 1981). À medida que as pessoas ingerem comida e água, o corpo exibe uma incrível aptidão para
estimar a quantidade necessária para satisfazer a necessidade fisiológica subjacente. Durante a bebida, por exemplo, o corpo
continuamente monitoriza o volume de líquido ingerido em cada deglutição e usa essa informação para prever quanta água acabará
por entrar na corrente sanguínea e nas células do corpo.

Múltiplos Inputs/ Múltiplos Outputs: O drive possui múltiplas entradas ou meios de ativação. Pode-se sentir sede, por exemplo,
após suar, ingestão de alimentos salgados ou doação de sangue, em resposta à estimulação elétrica de uma estrutura cerebral
específica, ou a uma determinada hora do dia. Da mesma forma, também possui múltiplas saídas, ou respostas comportamentais,
que satisfazem o impulso. Quando está frio, um indivíduo pode vestir um casaco, praticar exercícios vigorosos ou tremer. Cada um
desses comportamentos atingem o mesmo resultado - uma temperatura corporal elevada. A ideia básica é que o impulso surge de
várias fontes diferentes (inputs) e motiva um número de diferentes comportamentos direcionados a objetivos (outputs). Em teoria, o
impulso é uma variável interveniente, que integra as relações entre diversas variáveis de entrada e saída (Miller, 1971). O Impulso é
inobservável, é um conceito motivacional que “intervém” entre as causas observáveis e os comportamentos observáveis. A dor,
como variável interveniente, por exemplo, ajuda a explicar o que acontece com os processos motivacionais que ocorrem
imediatamente após, por exemplo, um martelo bater na mão (Antecedente 1), uma mão tocar num fogão quente (Antecedente 2),
ou um pé descalço arranhar uma unha (Antecedente 3) até o momento em que o indivíduo agita a mão freneticamente
(Consequência 1), despeja água fria sobre a mão (Consequência 2), ou pula num pé enquanto segura o pé lesionado (Consequência
3). O Impulso, portanto, intervém entre estados de privação (estímulos de entrada) e ações direcionadas a objetivos (respostas de
saída), existindo uma vantagem teórica de usar o impulso como uma variável interveniente para conectar múltiplas entradas com
múltiplas saídas.

Mecanismos Intraorganísticos: Os mecanismos intraorganísticos incluem todos os sistemas reguladores biológicos dentro do
organismo que agem em conjunto para ativar, manter e interromper as necessidades fisiológicas subjacentes ao impulso. As
estruturas cerebrais, o sistema endócrino e os órgãos corporais constituem três categorias principais de mecanismos
intraorganísticos. Para a fome, os principais mecanismos intraorgânicos incluem o hipotálamo (estrutura cerebral), as hormonas
glicose e insulina (sistema endócrino) e o estômago e o fígado (órgãos do corpo). Juntos, esses mecanismos corporais afetam-se uns
aos outros de forma a explicar os eventos fisiológicos que criam, mantêm e terminam a experiência psicológica do impulso.

Mecanismos Extraorganísticos: Os mecanismos extraorganísticos incluem todas as influências ambientais que desempenham um
papel na ativação, manutenção e término do impulso psicológico. As principais categorias de mecanismos extraorganísticos são as
influências cognitivas, ambientais, sociais e culturais. Por exemplo para a fome, as influências extraorganísticas incluem crenças
sobre calorias e metas para perder peso (influências cognitivas), o cheiro dos alimentos e a hora do dia (influências ambientais), a
presença de outros e a pressão dos pares para comer ou não comer (influências sociais), e papéis sexuais e ideais culturais sobre
formas corporais desejáveis e indesejáveis (influências culturais).

O Mecanismo Homeostático: Quer o estado homeostático no nível de água do corpo, do nível de glicose ou do nível de
armazenamento de nutrientes, os mecanismos intraorganísticos estão envolvidos num processo contínuo de deteção de erros no
qual as condições internas crescentes produzem feedback negativo e impulsionam a saciedade ou as condições internas produzem
necessidade fisiológica, impulso ativado e a ativação comportamental (múltiplas saídas) necessárias para restaurar o nível
homeostático desse estado interno. A Fig em anexo disponibiloza tanto uma visão geral do mecanismo homeostático quanto uma
ilustração das inter-relações entre os sete processos centrais que constituem os fundamentos da regulação – necessidade fisiológica,
impulso psicológico, homeostase, feedback negativo, múltiplas inputs/múltiplas outputs, mecanismos intraorganísticos e
mecanismos extraorganisticos.

Sede: A sede é o estado motivacional conscientemente experimentado que prepara o corpo para realizar comportamentos
necessários para repor um défice de água. É a perda de água, abaixo de um nível homeostático ideal, que cria a necessidade
fisiológica subjacente à sede. A sede surge como uma necessidade fisiológica, visto que os nossos corpos perdem continuamente
água através da transpiração, micção, respiração e até mesmo através de sangramento, vómito e espirros.

Regulação fisiológica: A água dentro do corpo humano encontra-se nos fluidos intracelular e extracelular. O fluido intracelular
consiste em toda a água dentro das células. O líquido extracelular consiste em toda a água fora das células no plasma sanguíneo e no
líquido intersticial. Foram identificados dois tipos de sede. A sede osmométrica, quando o fluido intracelular precisa de reposição e a
sede volumétrica, quando o líquido extracelular precisa ser reabastecido (por exemplo, após sangramento ou vómito).

Ativação da sede: Para estudar a sede, foi realizado um estudo experimental (Rolls, Wood e Rolls, 1980), no qual animais de
laboratório foram privados de água, mas não de comida por cerca de 24 horas. Depois de privar os animais de água, os
pesquisadores substituíram seletivamente a água intracelular ou extracelular (usando técnicas especiais de infusão).
O procedimento produz três condições: (1) privação de água por 24 horas seguidas de reposição intracelular; (2) privação hídrica de
24 horas seguida de reposição extracelular; e (3) privação de água por 24 horas sem reposição (grupo controle). Os ratos que
receberam reposição total de seus fluidos extracelulares beberam um pouco menos do que os ratos que não receberam reposição
alguma, ou seja, bebiam como se ainda estivessem com muita sede. Ratos que receberam reposição de seu fluido intracelular quase
não beberam água, ou seja, bebiam como se estivessem quase hidratados. Estes resultados sugerem que a sede osmométrica é a
principal causa da ativação da sede. A sede vem principalmente de células desidratadas.

Saciedade da sede: Quando as pessoas bebem, elas não bebem para sempre. Algo alerta o corpo para parar de beber. O sistema de
feedback negativo é importante porque o corpo não deve apenas repor os seus déficits de água, mas também deve evitar beber
tanta água que a disfunção celular ocorra e ameace a morte. Durante a ingestão, a água passa da boca e do esófago para o estômago
e intestinos e é então absorvida pela corrente sanguínea. Através do processo de osmose, a água eventualmente passa dos fluidos
extracelulares para os fluidos intracelulares para hidratar as células. O mecanismo de feedback negativo para essa sociedade deve,
portanto, estar em um (ou mais) desses locais do corpo: boca, estômago, intestinos, corrente sanguínea e células.
Foi realizado um estudo com o objetivo de identificar quais desses locais do corpo são responsáveis por provocar a saciedade da
sede e quais destes locais é que possuem o/s mecanismo/s de feedback negativo. Para localizar o/s mecanismo/s de feedback
negativo da sede, os fisiologistas realizaram várias experiências: Numa primeira fase, os animais beberam água, mas os
experimentadores fizeram com que a água passasse pela boca, mas não chegasse ao estômago, intestinos, corrente sanguínea ou
células (Blass & Hall, 1976). Os animais, em média, bebiam quatro vezes a quantidade normal de água. Assim, a água que passa pela
boca fornece um meio de inibição da sede, embora fraco. Pesquisas posteriores identificaram que o sistema de feedback negativo da
boca estava relacionado com o número de deglutições durante a ingestão (Mook & Wagner,1989). Depois de muitos goles (mas não
necessariamente depois de beber um grande volume de água), dá-se a saciedade.
Estudos subsequentes providenciaram para que os animais bebessem de modo que a água passasse da boca para o estômago, mas
não para os intestinos, corrente sanguínea ou células (Hall, 1973). Os animais que receberam água na boca e no estômago beberam
o dobro do normal. Assim, o estômago, como a boca, também possui um mecanismo inibitório da sede, embora fraco. Outros
estudos permitiram que os animais bebessem água passando pela boca, estômago e intestinos, e nos fluidos extracelulares (Mook &
Kozub, 1968). A água que os ratos bebiam, no entanto, era uma solução salina. Beber a solução salina permitiu que muita água
entrasse nos fluidos extracelulares, mas pouca nos fluidos intracelulares (segundo o princípio da osmose, a água salgada não se
difunde nas áreas intracelulares). Estes animais bebiam mais do que o normal. Portanto, as próprias células também devem abrigar
um mecanismo de feedback negativo. Assim, o consumo de água não alivia totalmente a sede e deixa de beber, a menos que
eventualmente hidrate as células do corpo (Mook, 1996).

Hipotálamo e rins: A boca, o estômago e as células coordenam a ativação da sede e da saciedade, mas os rins, o hipotálamo e as
hormonas específicas também. O cérebro (através do hipotálamo) monitoriza o encolhimento intracelular (causado por baixos níveis
de água) e libera uma hormona no plasma sanguíneo que envia uma mensagem aos rins para conservar as suas reservas de água
(produzindo urina concentrada, em vez de diluída). Enquanto o hipotálamo controla o comportamento involuntário dos rins, em
simultâneo também cria o estado psicológico consciente de sentir sede que direciona a atenção e o comportamento para cursos de
ação de reabastecimento de água. É no hipotálamo que se origina a experiência psicológica da sede.

Influências ambientais: A influência ambiental mais importante para beber é o sabor (Pfaffmann, 1960, 1961, 1982). A água pura é
insípida e, portanto, não oferece nenhum valor de incentivo acima e além do reabastecimento de água. Quando a água é saboreada,
no entanto, o comportamento de beber muda de acordo com o valor de incentivo do fluido.
Usando água insípida (pura) como base (sem prazer), qualquer sabor é levemente agradável. Para bebidas à base de água que
contêm álcool ou cafeína, podem surgir complicações por vícios. Tanto o álcool quanto a cafeína, portanto, introduzem uma série de
processos fisiológicos adicionais que motivam as pessoas a beber em excesso. Além disso, uma série de influências sociais e culturais
associadas ao consumo de bebidas alcoólicas e cafeinadas tornam o comportamento de beber mais complexo do que o consumo de
água regulado pela sede. Assim, o beber ocorre por três motivos: (1) reposição hídrica, que satisfaz a necessidade fisiológica; (2)
sabor doce, que é uma resposta ao atrativo valor de incentivo da água aromatizada; e (3) uma atração, ou mesmo um vício por uma
substância na água (e não a própria água).

FOME: A fome é uma sensação fisiológica que envolve a perda sequencial da reposição de alimentos, fazendo com que o nosso
corpo crie um sistema de proteção (esgotamento- reposição - ex: fazemos 3 refeições por dia para evitar a privação de alimentos).
Esta reposição de alimentos envolve processos de curto prazo (Hipótese Gicostática) e a longo prazo (Hipótese Lipostática). A
hipótese gicostática consiste no início e no fim da fome e é responsável pela monitorização da quantidade de glicose existente nas
nossas células. O órgão que monitoriza o nível da glicose no nosso sangue é o fígado que envia um neurotransmissor excitatório para
o hipotálamo lateral (LH) libertando uma hormona chamada de grelina que estimula o apetite, além de estimular a libertação da
hormona do crescimento (GH) e de controlar o balanço energético. A hipótese lipostática é responsável pela monitorização da
quantidade de energia / gordura (lípidos) no nosso sangue. Neste modelo é no Hipotálamo ventromedial (VMH) que acontece a
estimulação e a libertação de leptina (hormona responsável pela saciação do nosso organismo diminuindo o apetite, aumentando o
gasto energético): quando este se encontra num nível elevado, a ingestão alimentar diminui, quando estes níveis de energia no
nosso sangue se encontram baixos induzem ao consumo excessivo de alimentos.

Modelo abrangente da regulação da fome: O processo da regulação do apetite é explicado essencialmente através de uma relação
entre mecanismos homeostáticos e as duas hipóteses referidas em cima.
Influências Ambientais: As influências ambientais que afetam o comportamento alimentar do indivíduo incluem o cheiro, a visão, o
stress, o sabor dos alimentos, a quantidade, e o contexto social. O apetite aumenta quando existe uma variedade de alimentos à
nossa disposição, mesmo quando só há apenas um alimento (por exemplo um gelado) existem vários sabores de gelados que nos
motivam a comer mais, outro exemplo evidente é nas festas de aniversários, Natal, ou em casamento, são alturas que porventura se
costuma comer-se mais. Por isso podemos dizer que comer é muitas vezes uma ocasião social. Comemos mais quando estamos ao
pé de pessoas que estejam a fazer o mesmo, embora nem sempre isso seja o melhor.
Situações de Restrição-Liberação: Da mesma forma que os contextos sociais acabam por interferir no nosso comportamento
alimentar, as restrições mais concretamente as dietas, e o jejum também o fazem. As dietas mal programadas fazem com que o
comportamento alimentar se baseie no domínio cognitivo em vez do fisiológico, por exemplo “vou comer muito neste momento” em
vez de “vou comer só quando tiver fome” esta privação de alimentos mal gerida faz com que haja uma sobrecarga levando a uma
fragilização do mesmo, como é exemplo pessoas depressivas ou ansiosas, estressadas acabam por quebrar a dieta mais facilmente.
Como ter uma dieta eficaz e bem-sucedida? Como ilustrado pelas hipóteses glicostática e lipostática, o corpo defende o seu peso. Às
vezes, no entanto, as pessoas chegam à conclusão de que o peso corporal não se adequa bem às suas aspirações pessoais ou
culturais. Uma dieta bem-sucedida (em termos de perda de peso) requer que o indivíduo conheça as suas capacidades de resposta às
sugestões internas (exemplo sentir fome ou saciedade). Em segundo lugar, subsistir os controles cognitivos conscientes pelos
controles inconscientes, fisiológicos.

Ganho de peso e obesidade: A obesidade é um termo médico que descreve um estado de aumento do peso corporal (adipose tis
sue) que é de magnitude suficiente para produzir consequências adversas para a saúde, incluindo aumento de doenças cardíacas.
Além da cirurgia, as únicas maneiras pelas quais as pessoas podem prevenir a obesidade são mediante o diminuir a alimentação
através de estratégias de autorregulação (por exemplo, metas, monitorização do comportamento) tomar conhecimento e
monitorizar as influências do ambiente que afetam a alimentação e aumentar a atividade física para gastar calorias. Os
comportamentos voluntários, como autorregulação, atenção plena e exercício não são tão difíceis para ganhar controle consciente.
Então, a motivação para regular o peso corporal pode ser eficaz na medida em que a pessoa concentra sua motivação e energia para
direcionar comportamentos voluntários, como autorregulação, mindfulness e exercícios.

Sexo: Em animais inferiores, a motivação e o comportamento sexual ocorrem apenas durante o período de ovulação da fêmea.
Assim, nos animais inferiores, o sexo está de acordo com a necessidade fisiológica cíclica → processo de impulso psicológico.

Regulação fisiológica: O comportamento sexual humano é influenciado, mas não determinado, por hormonas. As hormonas sexuais
são os andrógenos (por exemplo, testosterona) e estrogénios, e a sua libertação na corrente sanguínea (da glândula adrenal) é
controlada pelo hipotálamo. Essas hormonas aumentam às vezes como o período de ovulação de uma mulher e diminuem à medida
que a pessoa envelhece, desde a idade adulta jovem até a idade adulta e a velhice. Homens e mulheres experimentam e reagem ao
desejo sexual de forma muito diferente. Nos homens, a correlação entre excitação fisiológica e desejo psicológico é alta. Por
exemplo, a correlação entre a resposta erétil dos homens e sua o desejo auto-relatado é muito alto. Assim, o desejo sexual dos
homens pode ser previsto e explicado no contexto de sua excitação sexual. Na presença de um gatilho de excitação sexual (por
exemplo, estimulação de um parceiro sexual), os homens apresentam um ciclo de resposta sexual trifásico: desejo, excitação,
orgasmo. O desejo sexual surge de forma bastante espontânea de um gatilho de excitação. Nas mulheres, a correlação entre
excitação fisiológica e desejo psicológico é baixa. Por exemplo, a correlação entre a lubrificação vaginal das mulheres e o seu desejo
auto-relatado é baixo ou inexistente. Assim, o desejo sexual das mulheres não pode ser previsto e explicado no contexto das suas
necessidades fisiológicas. Em vez disso, o desejo sexual das mulheres é altamente responsivo a fatores de relacionamento, como
intimidade emocional. No modelo de desejo sexual baseado na intimidade que descreve a motivação sexual das mulheres, a alta
intimidade emocional antecipa o desejo sexual. É a intimidade emocional (não o ingurgitamento genital) que leva as mulheres de um
estado de neutralidade sexual a um estado de abertura e responsivo aos estímulos sexuais.

Métricas faciais: Muitos estímulos surgem de um parceiro sexual – químico (olfato), tátil (toque), auditivo (voz) e visual (visão,
aparência). A atratividade física de um parceiro em potencial é talvez o estímulo externo mais potente que afeta a motivação sexual.
As culturas ocidentais geralmente classificam um corpo esbelto para as mulheres como atraente.
Mas esses padrões variam de cultura para cultura, principalmente porque esses padrões são adquiridos por meio da experiência,
socialização e consenso cultural. Dito isto, algumas características físicas são vistas como universalmente atraentes, incluindo saúde,
juventude e capacidade reprodutiva. Tanto os homens quanto as mulheres classificam as mulheres magras como atraentes. As
perceções das mulheres sobre a atratividade masculina, no entanto, têm pouco consenso sobre quais formas do corpo ou partes do
corpo são vistas como atraentes. O principal preditor da avaliação feminina dos corpos dos homens é a relação cintura-quadril. As
mulheres classificam as RCQs moderadamente magras nos homens como mais atraentes. O estudo dos julgamentos das pessoas
sobre a atratividade das características faciais é chamado de métricas faciais. As perguntas que ligam as métricas faciais ao estudo da
motivação sexual são: “Em quais dimensões os rostos variam entre si e quais dessas dimensões determinam quais são os rostos
atraentes?” Curiosamente, diferentes culturas mostram uma convergência impressionante em termos de quais características faciais
são consideradas atraentes e quais não são. Os rostos variam consideravelmente (por exemplo, tamanho dos olhos, largura da boca,
proeminência das maçãs do rosto). Três categorias explicam que rostos são considerados atraentes: características neonatais,
características de maturidade sexual e características expressivas. As características neonatais correspondem àquelas associadas ao
recém-nascido, como olhos grandes e nariz pequeno, e estão associadas a mensagens não-verbais atraentes de juventude e
amabilidade. As características de maturidade sexual correspondem àquelas associadas ao status pós-púbere, como maçãs do rosto
proeminentes e, para os homens, pêlos faciais e sobrancelhas grossos, e estão associadas a mensagens não verbais atraentes de
força, status e competência. Características expressivas como um sorriso/boca largo e sobrancelhas mais altas são meios para
expressar emoções positivas, como felicidade e abertura. É com base nessas perceções são baseadas em classificações de métricas
faciais implícitas, que uma pessoa faz um julgamento de quão atraente é o rosto dessa pessoa. Essa conclusão levanta um ponto de
vista interessante sobre a questão de saber se a beleza está ou não nos olhos de quem vê. Em certo sentido, não é, porque as
classificações métricas faciais são características objetivas de rostos que produzem resultados panculturais ou consenso sobre quais
são os rostos bonitos. Num outro sentido, no entanto, um rosto é bonito na medida em que o observador vê (e valoriza
subjetivamente) juventude, status ou abertura para a felicidade. É a juventude, o status e a abertura para a felicidade que são
bonitos, e os rostos são apenas um canal para comunicar essas informações sobre a pessoa. Para os rostos das mulheres, as métricas
faciais mais associadas à atratividade física são as características neonatais (olhos grandes, nariz pequeno, queixo pequeno). A
maturidade sexual (proeminência e magreza das maçãs do rosto) e características expressivas (altura das sobrancelhas e altura e
largura do sorriso) também contribuem positivamente para as classificações de atratividade dos rostos das mulheres. Para os rostos
dos homens, as métricas faciais mais associadas à atratividade física são as características de maturidade sexual (sobrancelhas
grossas e comprimento do queixo proeminente). Recursos expressivos (altura e largura do sorriso) também aumentam as
classificações de atratividade dos rostos dos homens.

Scripts Sexuais: Um roteiro sexual é a representação mental da sequência passo a passo de eventos que ocorrem durante um
episódio sexual típico. Um roteiro sexual, não muito diferente de um roteiro de filme, inclui atores, motivos e sentimentos desses
atores, e um conjunto de comportamentos verbais e não verbais apropriados que devem concluir com sucesso o comportamento
sexual. Na sua essência, o roteiro sexual é o enredo do indivíduo sobre o que um encontro sexual típico envolve. Para as mulheres, o
conteúdo dos roteiros sexuais emergentes contém pouco material sexual (do ponto de vista masculino). É mais provável que o
conteúdo sexual da mulher inclua eventos como se apaixonar (em vez de participar do sexo).

Orientação sexual: Um componente-chave dos roteiros sexuais pós-púberes é o estabelecimento da orientação sexual, ou a
preferência por parceiros sexuais do mesmo ou de outro sexo. A orientação sexual existe num continuum, já que cerca de um terço
de todos os adolescentes participaram de pelo menos um ato homossexual (com mais meninos do que meninas tendo feito isso;
Money, 1988). O continuum da orientação sexual, portanto, estende-se desde a orientação exclusivamente heterossexual até a
orientação bissexual e continua até uma orientação exclusivamente homossexual.
Embora não seja conclusiva, a pesquisa sugere que a orientação sexual não é uma escolha; é algo que acontece com o adolescente
ao invés de algo que é mais deliberado ou resultado de um exame de consciência. Parte da explicação de por que as pessoas
desenvolvem uma orientação homossexual ou heterossexual é genética e parte da explicação é ambiental.
Em estudos com casais heterossexuais e e congruente com hipóteses evolutivas, observou-se que os homens valorizam a
atratividade física e as mulheres valorizam o estatuto e os recursos. Ao considerarem possíveis parceiras, os homens procuram uma
mulher pelo menos mediana em atração física e as mulheres um homem mediano em status social. Ambos os sexos também
classificam a inteligência e a bondade como necessidades em seus possíveis parceiros. Se o parceiro em potencial passar no
chamado teste no nível das necessidades, homens e mulheres começam a considerar luxos como sentido de humor, vivacidade,
criatividade e uma personalidade excitante.

Falhas na Autorregulação das Necessidades Fisiológicas: Tentar exercer controlo mental consciente sobre nossas necessidades
fisiológicas muitas vezes faz mais mal do que bem. Ainda assim, tentamos. As pessoas tentam controlar seus apetites — fome, peso,
consumo de álcool e café, impulsos sexuais, dores crónicas nas costas e coisas do género. Esses apetites às vezes podem
sobrecarregar-nos e, nessa experiência de estar sobrecarregados, procuramos maneiras de superar as nossas necessidades
fisiológicas em favor do controle mental. Quando os estados mentais regulam as necessidades fisiológicas, ocorre a autorregulação.
Mas quando os impulsos biológicos sobrecarregam o controlo mental, ocorre uma falha na autorregulação. As pessoas falham na
autorregulação por três razões principais. Primeiro, as pessoas normalmente subestimam o quão poderosa uma força motivacional
os impulsos biológicos podem ser quando não estão a experimentá-los no momento. Ou seja, quando não estamos com fome,
tendemos a esquecer o quanto podemos estar motivados para comer quando estamos com fome. Em segundo lugar, as pessoas
podem não ter padrões ou têm padrões inconsistentes, conflituantes, irreais ou inadequados (Karoly, 1993). Por exemplo, muitas
pessoas têm padrões extremos (irrealistas) de magreza ou padrões conflituantes com o tipo de corpo que nasceram versus o tipo de
corpo que gostariam de ter. As pessoas também têm padrões conflituantes - por exemplo, prazer de comer versus controle de peso,
de modo que a relevância de um objetivo incompatível (desfrutar de comer) pode sobrecarregar o padrão de controle de peso.
Finalmente, as pessoas falham na autorregulação porque não conseguem monitorizar o que estão a fazer à medida que ficam
distraídas, preocupadas, sobrecarregadas ou intoxicadas. O álcool, por exemplo, reduz a autoconsciência e a automonitorização, e as
pessoas intoxicadas tornam-se mais propensas a fazer coisas fora de seu controlo mental normal. O que todos esses percalços têm
em comum são duas coisas: (1) subestimar o quão potentes e motivadores podem ser de base fisiológica e biológica e (2) perder o
controlo sobre a atenção e os padrões. Um controlo mental que se concentra em padrões realistas, metas de longo prazo e
monitorização do comportamento geralmente levam ao sucesso da autorregulação.

Conclusão: As emoções e os estados motivacionais andam de mãos dadas quando se fala sobre as necessidades básicas/fisiológicas.
A sede, a fome e o sexo são exemplos disso.
A sede é um estado motivacional consciente que prepara o indivíduo para realizar comportamentos necessários para repor um
déficit hídrico. A sua ativação e saciedade é bastante simples. A fome e a alimentação envolvem um sistema regulatório complexo de
regulação a curto prazo (hipótese glicostática) e a longo prazo (hipótese lipostática, incluindo teoria da regulação da fome, as
influências ambientais, o sistema de restrição-libertação e a obesidade). Também a motivação sexual aumenta e diminui em
resposta a uma série de fatores, incluindo hormonas, estimulação externa, sinais externos (métricas faciais), scripts cognitivos e
esquemas sexuais.

NECESSIDADES PSICOLÓGICAS
Resumo: O capítulo das Necessidades Psicológicas é marcado por uma breve definição de Necessidades Psicológicas, caracterizando
as três necessidades psicológicas básicas: a Autonomia, a Competência e a Relação. Além das três necessidades psicológicas, o
capítulo dá um importante enfoque à abordagem organísmica da motivação. A imagem que emerge desta abordagem é que os seres
humanos possuem uma motivação natural para aprender, crescer e se desenvolverem de forma saudável e madura, só o
conseguindo fazer quando os ambientes envolvem e apoiam as suas Necessidades Psicológicas. Em suma, quando as pessoas
experimentam a satisfação das necessidades psicológicas, alcançam os nutrientes psicológicos necessários para um envolvimento
ativo, para terem um “bom dia” e experiências subjetivas de vitalidade e bem-estar. Momentos e ambientes que apoiam e nutrem as
Necessidades Psicológicas, originam nas pessoas emoções positivas, experiências ótimas e desenvolvimento saudável.

NECESSIDADES PSICOLÓGICAS
As necessidades psicológicas promovem a procura de ambientes em que esperamos ser capazes de nutrir as nossas próprias
necessidades psicológicas. Isto é, quando uma atividade envolve as nossas necessidades psicológicas, sentimos interesse. Por sua
vez, quando uma atividade satisfaz as nossas necessidades psicológicas, sentimos prazer. Assim, sentimos e estamos cientes do
nosso interesse e prazer. Ora, as necessidades fisiológicas, como água e alimento, por exemplo, provêm de défices biológicos. Este
tipo de comportamento motivado pela necessidade é essencialmente reativo, no sentido em que o objetivo é reagir e aliviar uma
condição biológica deficitária. Pelo contrário, as necessidades psicológicas são de natureza qualitativamente diferente. A energia
gerada pelas necessidades psicológicas é proativa uma vez que estas motivam a exploração e a busca de desafios que sejamos
capazes de cumprir. Por exemplo, desafiarmo-nos a montar um puzzle de 1000 peças, é um desafio interessante, que, quando bem
sucedido, satisfaz as nossas necessidades psicológicas. Em suma, as necessidades psicológicas são entendidas como necessidades de
crescimento e não deficitárias.

Abordagem Organísmica da Motivação: As teorias organísmicas da motivação reconhecem que os ambientes mudam
constantemente e, portanto, os organismos precisam de flexibilidade para se ajustarem e se adaptarem a essas mudanças. Todo o
foco diz respeito a como os organismos iniciam interações com o ambiente e como os organismos se adaptam, mudam e crescem
em função das transações ambientais. O oposto de uma abordagem organísmica é uma abordagem mecanicista. Nas teorias
mecanicistas, o ambiente age sobre a pessoa e a pessoa reage. Por exemplo, os ambientes produzem calor e a pessoa responde de
maneira previsível e automática – suando (ou seja, mecanicamente). A pessoa e o ambiente relacionam-se, de modo que o ambiente
age e a pessoa reage.

Dialética Pessoa-Ambiente: As teorias organísmicas rejeitam representações unidirecionais ambiente-pessoa e, em vez disso,
enfatizam a dialética pessoa-ambiente. Na dialética, a relação entre pessoa e ambiente é recíproca (duas vias), ou seja, o ambiente
age sobre a pessoa e a pessoa age sobre o ambiente. Ora, tanto a pessoa quanto o ambiente mudam constantemente. A pessoa age
sobre o ambiente por curiosidade, interesse e uma intrínseca motivação para procurar e realizar mudanças nele. O ambiente, por
sua vez, oferece oportunidades, impõe estruturas, fornece feedbacks, oferece satisfação de necessidades e um contexto comunitário
e cultural à medida que as pessoas se esforçam para se ajustarem e se adaptarem a ele. Em suma, a interação da dialética pessoa-
ambiente é dinâmica, uma vez que as pessoas procuram no ambiente novas formas de motivação para se sentirem satisfeitas.

Necessidades Psicológicas Organísmicas: O capítulo das necessidades psicológicas procura o significado motivacional de três
necessidades psicológicas: autonomia, competência e relação. Ora, por exemplo, as crianças pequenas circulam infinitamente de um
lugar para outro sem qualquer motivação aparente, além de apenas quererem fazer algo melhor do que fizeram antes (necessidade
de competência). Além disso, as crianças desejam experimentar o mundo pelos seus próprios termos, pois querem decidir por si
mesmas o que fazer, como fazê-lo, quando fazê-lo e se devem fazê-lo (necessidade de autonomia). As atividades, habilidades e
valores que as crianças consideram importantes dependem das atitudes, valores e climas emocionais oferecidos a elas pelas pessoas
importantes nas suas vidas, por exemplo, pais (necessidade de relacionamento). Coletivamente, as necessidades psicológicas
organísmicas de autonomia, competência e relação fornecem às pessoas uma motivação natural para aprender, crescer e se
desenvolver.

Autonomia: Autonomia é a necessidade psicológica de experimentar autodireção e apoio pessoal na iniciação e regulação do próprio
comportamento. Isto é, ao decidir o que fazer, desejamos flexibilidade de escolha e tomada de decisão. Queremos a liberdade de
construir os nossos próprios objetivos, decidir o que é importante e o que vale ou não vale o nosso tempo. Por outras palavras,
temos uma necessidade de autonomia. Três qualidades trabalham juntas para definir a experiência subjetiva de autonomia – locus
interno percebido de causalidade, volição e escolha percebida. O locus de causalidade percebido (PLOC) refere-se à compreensão de
um indivíduo sobre a fonte causal das suas ações motivadas. O PLOC varia de interno a externo, de um comportamento que é
iniciado por uma fonte pessoal (PLOC interno) ou ambiental (PLOC externo). Por exemplo, a leitura de um livro. Se a razão pela qual
se lê um livro é algum agente motivacional pessoal (interesse), então estamos perante um PLOC interno. No entanto, se a razão pela
qual se lê um livro é algum agente motivacional no ambiente (próximo teste), então estamos perante um PLOC externo. A volição é
uma vontade não pressionada de uma pessoa se envolver em alguma atividade. Centra-se em como as pessoas se sentem livres
versus coagidas enquanto fazem o que querem fazer (por exemplo, brincar, estudar, conversar), e, também, como se sentem livres
versus coagidas enquanto evitam o que não querem fazer (por exemplo, não fumar).
A volição é alta quando uma pessoa se envolve em alguma atividade e se sente livre, sendo que as suas ações são totalmente
endossadas pelo eu. O oposto de volição é sentir-se pressionado e coagido a agir. A escolha percebida refere-se ao sentimento de
escolha que experimentamos quando nos encontramos em ambientes que nos proporcionam flexibilidade de tomada de decisão
entre muitas oportunidades. O oposto da escolha percebida reflete-se num sentimento de obrigação que experimentamos quando
nos encontramos em ambientes que inflexivelmente nos “empurram” em direção a ações prescritas.

O enigma da escolha: Proporcionar uma escolha a uma pessoa pode ser a forma mais óbvia e amplamente utilizada para apoiar a
necessidade de autonomia de uma pessoa. No entanto, há uma diferença entre o evento ambiental de ser oferecida uma escolha e a
experiência pessoal da verdadeira escolha. Uma escolha entre as opções oferecidas por outros não explora nem envolve a
necessidade de autonomia. Por exemplo, oferecer às pessoas uma escolha entre trabalhar em palavras cruzadas ou trabalhar em
alguma atividade de redação não resulta num aumento de autonomia ou desempenho. Nessas ofertas de escolha “ou-ou”, a pessoa
é instruída a fazer uma escolha e é até mesmo forçada ou pressionada a fazer uma escolha. Em contraste, é apenas quando as
pessoas têm uma escolha verdadeira sobre as suas ações (por exemplo, questionar as pessoas se querem trabalhar em palavras
cruzadas) e quando são oferecidas escolhas que são significativas para as suas vidas, que experimentam uma sensação de
autonomia.

Apoio à Autonomia: Tudo o que nos rodeia, por exemplo, eventos externos, ambiente, contexto social e até mesmo
relacionamentos, pode ou não suportar a nossa autonomia. Alguns ambientes envolvem e nutrem a nossa necessidade de
autonomia, enquanto outros negligenciam e frustram essa necessidade. Quando um treinador manda nos seus atletas, a autonomia
deles pode ser prejudicada, por outro lado, quando um professor ouve atentamente os seus alunos e dá-lhes a oportunidade de
trabalharem ao ritmo deles, a autonomia dos alunos está a ser apoiada. Ambientes, relacionamentos, contextos sociais e culturais
que envolvem e satisfazem a necessidade de autonomia são chamados de apoio à autonomia. Os que negligenciam, frustram e
interferem nessa necessidade são referidos como controladores.

Controlar o estilo de motivação: O que torna qualquer abordagem numa abordagem de apoio à autonomia é a disposição de uma
pessoa assumir a perspetiva da outra e valorizar as oportunidades de crescimento pessoal. Assim a primeira pessoa torna-se mais
disposta a criar condições ambientais nas quais a motivação autónoma da outra pessoa pode potencialmente iniciar e regular a sua
atividade. As pessoas com um estilo de motivação de apoio à autonomia motivam os outros, promovendo recursos motivacionais
internos, identificando e alimentando os seus interesses, preferências e necessidades psicológicas, enquanto as pessoas com um
estilo controlador motivam os outros usando recursos motivacionais externos. Quando uma pessoa apoia a autonomia, procura
encorajar a iniciativa no outro, identificando e alimentando os seus interesses, preferências e necessidades psicológicas.

Promover os recursos motivacionais internos: Pessoas com um estilo de motivação de apoio à autonomia tratam a indiferença, o
mau desempenho e o comportamento inadequado como problemas motivacionais a serem resolvidos e não como alvos de críticas.

Depende da linguagem informativa: Para suportar a autonomia do outro é importante utilizar linguagem flexível, não controladora
e informativa que ajuda a outra pessoa a diagnosticar e resolver o problema motivacional. Por exemplo, um treinador pode dizer ao
seu atleta: “Percebi que a tua média de pontuação diminuiu ultimamente, porque achas que isso aconteceu?” Em contraste, a
pessoas com um estilo controlador que usam um estilo de comunicação pressionador, rígido e indutor de culpa.

Fornece justificações explicativas: Para motivar os outros em tarefas desinteressantes, as pessoas com um estilo de apoio à
autonomia comunicam o valor, significado, utilidade ou importância de adotar esse tipo de comportamentos. Promover a
valorização significa explicar porque a atividade desinteressante vale o tempo e o esforço do outro. Pessoas com estilos
controladores, no entanto, não se dão ao trabalho de explicar o uso ou a importância de se envolver nesse tipo de atividade, dizendo
coisas como “Faça isso” ou “Faça porque eu mandei”.

Reconhece e aceita o efeito negativo: A pessoa que o ouve é mais propensa a internalizar e aceitar voluntariamente as regras,
restrições ou limites impostos externamente. Uma vez internalizado, as pessoas esforçam-se voluntariamente nas atividades
desinteressantes (mas importantes) (Reeve et al., 2002). As pessoas com um estilo de apoio à autonomia ouvem atentamente essas
expressões de afeto negativo e resistência e aceitam-nas como reações válidas. Essencialmente, os indivíduos que apoiam a
autonomia dizem “ok” e depois trabalham em colaboração com a outra pessoa para resolver a causa subjacente do afeto negativo e
da resistência. Pessoas com estilos controladores deixam claro que tais expressões de afeto negativo e resistência são inaceitáveis.

Suporte de autonomia momento a momento: Quando tomados como um todo, os comportamentos listados acima revelam um
estilo motivador associado à promoção de alta autonomia nos outros: ouvir com atenção, compartilhar materiais de aprendizagem,
criar oportunidades para os outros falarem e trabalharem à sua maneira, comunicar a razão de empreendimentos desinteressantes,
perguntar aos outros o que eles querem fazer, responder a perguntas, oferecer dicas quando o outro estiver travado, incentivar o
esforço, elogiar o progresso e a melhoria, e reconhecer a perspetiva da outra pessoa.

Benefícios do suporte de autonomia: O apoio à autonomia nutre não apenas a necessidade psicológica de autonomia (Reeve & Jang,
2006), mas as necessidades de competência (Ryan & Grolnick, 1986) e relacionamento (Baard, Deci, & Ryan, 2004), bem como
motivações adicionais, como motivação intrínseca (Reeve et al., 2003) e motivação de domínio (Deci, Schwartz, et al., 1981). O
suporte à autonomia também aprimora vários aspetos de compromisso, como maior esforço (Reeve et al., 2004) e mais emoção
positiva (Patrick, Skinner, & Connell, 1993). Além disso, o apoio à autonomia fortalece aspetos importantes do desenvolvimento (por
exemplo, maior autoestima, Ryan & Grolnick, 1986), aprendizagem (por exemplo, compreensão conceitual, Vansteenkiste, Simons,
Lens, Soenens, & Matos, 2005; mais processamento ativo de informações, Grolnick & Ryan, 1987), desempenho (por exemplo, notas
mais altas, deCharms, 1976) e bem-estar psicológico (por exemplo, maior vitalidade, Nix, Ryan, Manly, & Deci, 1999; bem-estar
psicológico, Deci et al., 2001).

Duas Ilustrações: No primeiro estudo, cujo objetivo era prever quais alunos do ensino secundário não abandonariam a escola
(Vallerand, Fortier, & Guay, 1997), os alunos relataram até que ponto sentiram apoio de autonomia versus controle dos seus pais,
professores e administradores escolares. Os resultados mostraram que quanto mais autónomo (e competente) o aluno se sentia em
relação à escola, maior a qualidade da sua motivação académica (autónoma versus controlada), que predizia se cada aluno
realmente desistiu ou não. No segundo estudo, os pesquisadores pediram que crianças em idade escolar pintassem enquanto o
professor agia de uma maneira de apoio à autonomia ou de controle. Em ambas as condições, os professores impuseram uma lista
de restrições (regras) que as crianças precisavam de seguir durante a pintura, incluindo instruções para não misturar as tintas, limpar
os pincéis antes de mudar para uma nova cor de tinta e pintar apenas numa determinada cor (Koestner et al., 1984). Algumas
crianças pintaram nessas condições impostas por um professor controlador. Esse professor usava uma linguagem controladora e de
pressão que dizia às crianças para seguirem as regras. Outras crianças pintaram em condições de apoio à autonomia. Essa professora
usou uma linguagem informativa que comunicava a lógica de cada regra para que as crianças pudessem entender por que as
restrições eram importantes e dignas de serem seguidas. Depois de todas as crianças pintarem, os pesquisadores mediram a
qualidade da motivação e pontuaram o trabalho de arte em várias dimensões. Os resultados mostraram que as crianças que
pintavam em condições de apoio à autonomia gostavam mais da pintura, eram intrinsecamente mais motivadas para pintar e
produziam obras de arte criativas, tecnicamente boas e de alta qualidade.
COMPETÊNCIA
Todos têm necessidade de competência. Todos desejam ser competentes nos diferentes aspetos da vida (trabalho, relações),
interagir de forma eficaz com o seu ambiente e desenvolver capacidades, pois o mesmo traz satisfação. A competência é a
necessidade psicológica de ser eficaz nas interações com o ambiente e reflete o desejo de exercer as próprias capacidades e procurar
dominar os melhores desafios. Quando nos envolvemos numa tarefa com complexidade dentro das nossas competências atuais,
sentimos interesse; quando desenvolvemos essas competências sentimos uma forte satisfação das necessidades.

Envolvendo Competência: As situações onde nos encontramos podem satisfazer a necessidade de competência ou negligenciá-la. As
principais condições ambientais que envolvem a necessidade de competência são o desafio, a estrutura e a tolerância ao fracasso
por parte dos outros. A condição ambiental chave que satisfaz a necessidade é o feedback positivo.

Desafio e Fluxo Ideal: Para determinar as condições que criam prazer, Mihaly Csikszentmihalyi entrevistou centenas de pessoas que
para ele saberiam como se divertir (alpinistas, dançarinos, campeões de xadrez, jogadores de basquete, entre outros). Mais tarde,
estudou amostras mais representativas, incluindo trabalhadores profissionais, estudantes, trabalhadores de linhas de montagem,
grupos de idosos e pessoas que geralmente viam televisão em casa. Assim, Csikzentmihalyi descobriu que a essência do prazer pode
ser atribuída à "experiência de fluxo”. O fluxo trata-se de um estado de concentração que envolve uma absorção holística e um
profundo envolvimento numa atividade. Este ocorre sempre que uma pessoa usa as suas próprias aptidões para superar um desafio.
É uma experiência tão agradável, que as pessoas muitas vezes repetem-na para que consigam experimentar novamente esse prazer,
isto é, fluxo. A relação entre desafio da tarefa e habilidade pessoal identifica as consequências emocionais que surgem ao juntar os
diferentes desafios e habilidades: Quando o desafio supera a habilidade, preocupa aos executores que as exigências do desafio
sobrecarreguem as suas habilidades; Ser desafiado em excesso ameaça a competência, manifestando-se emocionalmente através de
preocupações ou ansiedade; Quando o desafio se equipara com a habilidade, a concentração, o envolvimento e o prazer aumentam;
Quando o desafio e a habilidade se combinam na perfeição, a experiência é de fluxo; Se a habilidade supera o desafio, o
envolvimento na tarefa é caracterizado por uma concentração reduzida, mínimo envolvimento e tédio emocional; Ser demasiado
desafiado ou qualificado desencadeia problemas emocionais e experiência abaixo do expectável; Quando ambos estão em baixo,
todas as medidas de emoção, motivação e cognição estão no nível mais baixo, ou seja, a pessoa simplesmente não está interessada
na tarefa. Com isto, pode-se concluir que o fluxo é um pouco mais complicado do que apenas o equilíbrio entre o desafio e a
habilidade, uma vez que o equilíbrio entre baixa habilidade e baixo desafio provoca apatia (indiferença).
Uma forma mais precisa de descrever como o desafio se relaciona com a habilidade é que o fluxo emerge nas situações em que
tanto o desafio como a habilidade se encontram moderadamente altos ou mesmo altos. Com esta qualificação em mente, existe
outra maneira de interpretar a figura demonstrada, dividindo-a em quatro quadrantes: Canto superior esquerdo representa as
condições para preocupação e ansiedade; Canto inferior esquerdo representa condições para apatia; Canto inferior direito
representa condições para o tédio; Canto superior direito representa as condições de fluxo.
A implicação prática mais importante da teoria do fluxo é a seguinte: Feito o desafio ideal, qualquer atividade pode ser apreciada.
Com base nesta ideia de que o desafio ideal dá origem ao fluxo, Csikszentmihalyi descobriu que, de um modo geral, as pessoas
procuram que os desafios ideais envolvam a necessidade de competência e estabeleçam as condições para o fluxo.

Interdependência entre Desafio e Feedback: Todos os dias somos desafiados em situações que preparam o terreno para o desafio,
mas não criam a experiência psicológica de ser desafiado. Confrontar um teste ou projeto convida ao desafio, mas o mesmo não é
experienciado até se receber o primeiro feedback de desempenho, sendo, então, necessário este ponto para as pessoas relatarem a
experiência psicológica de serem desafiadas.

Estrutura: A Estrutura é a quantidade e clareza de informação sobre o que o ambiente espera a pessoa fazer para alcançar os
resultados desejados. Um ambiente estruturado alimenta a necessidade de competência quando oferece objetivos e orientação
clara de como as pessoas devem exercer as suas competências e fazer progressos.

Tolerância e Falhas: Motivacionalmente falando, o problema de desafios ideais estruturados está inerente no facto das pessoas
serem tão suscetíveis de experimentar o fracasso e a frustração como o sucesso e o prazer. O pavor do fracasso pode esmagar a
necessidade de competência, e caso intenso, pode motivar o evitamento do desafio. No contexto social deve existir, antes das
pessoas se envolverem em desafios, uma tolerância à falha e ao erro, uma vez que o desafio ideal implica a ocorrência de erros que
são considerados essenciais para otimizar a motivação. Isto ajuda a explicar porque é que as pessoas preferem procurar desafios
exigentes em vez de sucessos fáceis, pois sentem uma maior competência e autonomia.
Apoio de Competência: A competência de apoio consiste na função de oferecer feedback informativo quando alguém faz um
progresso de forma a desfrutar do prazer do desafio ideal.

Feedback Positivo: Os individuos considerarem que o seu desempenho é competente ou incompetente é frequentemente uma
tarefa ambígua. Para fazer uma avaliação, um indivíduo precisa de feedback. O feedback vem de uma (ou mais) das quatro fontes
seguintes: Tarefa em si; Comparações do desempenho atual com os desempenhos do próprio passado; Comparações do
desempenho atual de um com o desempenho de outros; Avaliações de outros. Em algumas tarefas, o feedback de competência é
inerente ao desempenho da própria tarefa, como entrar com sucesso num computador (ou não), por exemplo. Na maioria das
tarefas, no entanto, a avaliação do desempenho é mais ambígua do que o resultado de um desempenho. No desempenho de
competências sociais, sejam elas talentos artísticos ou outras tarefas do género, os nossos próprios desempenhos passados,
desempenho de pares, e os desempenhos de outras pessoas (e não a tarefa em si), fornecem a informação necessária para fazer
uma inferência de competência versus incompetência.
- Quanto aos nossos próprios desempenhos passados, a perceção do progresso é um importante sinal de competência, tal como a
perceção de uma falta de progresso demonstra incompetência.
- Quanto ao desempenho dos nossos pares, fazer melhor do que outros demonstra competência, enquanto fazer pior do que outros
sinaliza incompetência.
- Quanto à avaliação de outras pessoas, os elogios e feedbacks positivos reforçam as perceções de competência, enquanto as críticas
e os feedbacks negativos as desvalorizam.
Em resumo, o feedback de desempenho, nas suas várias formas, fornece a informação que os indivíduos precisam para formular
uma avaliação cognitiva do seu nível de competência. Quando estas fontes de informação convergem para uma interpretação de um
trabalho bem feito, experimentamos um feedback positivo que é capaz de satisfazer a necessidade psicológica de competência.
- Prazer do desafio ideal e Feedback Positivo As crianças são colocadas à prova, sendo-lhes dado vários problemas com diferentes
níveis de dificuldade e conclui-se que quanto mais difícil o exercício, mais felizes elas ficam com a sua resolução.

RELAÇÃO
Toda a gente se quer relacionar com outras pessoas, criar ligações calorosas, próximas e afetuosas. Queremos que os nossos
relacionamentos sejam recíprocos, pois queremos formar não apenas relacionamentos próximos, responsivos e atenciosos, mas
também queremos que a outra pessoa queira formar esses mesmos tipos de relação connosco. Noutras palavras, temos uma
necessidade de relação. Este é um importante construto motivacional porque as pessoas demonstram-se menos stressadas se
contarem com o apoio das suas relações interpessoais.

Envolvimento em Relações: Interação com outros. As pessoas procuram interações emocionalmente positivas e, ao fazê-lo, ganham
a oportunidade de satisfazer a Necessidade Psicológica.

Relações de Apoio: Perceção de um Vínculo Social. A satisfação da necessidade de relação requer a criação de um vínculo social
entre o “eu” e o “outro”. Este vínculo é caracterizado pela preocupação com o meu bem-estar e pelo amor sentido por mim. Nem
todas as relações próximas são emocionalmente satisfatórias e os casamentos são um bom exemplo. Poderá existir interação social
entre as duas pessoas, mas se estão rodeados de conflitos, stress e críticas constantes, os dias tornam-se mais difíceis, ao contrário
daqueles casamentos envolvidos de carinho e afeto mútuo.

Relações Comunitárias e de Troca: Relações de troca são aquelas entre conhecidos ou que têm algum tipo de negócio juntos.
Relações comunitárias são aquelas em que existe preocupação e amor entre as pessoas.
Internalização: Processo pelo qual um indivíduo transforma um valor anteriormente prescrito num valor estabelecido internamente.
Um exemplo prático é escovar os dentes - é internalizada a utilidade de lavar os dentes e, com esse processo, cria-se a tendência
voluntária de adotar esse valor.

NECESSIDADES SOCIAIS
Introdução: O objectivo é explorar os diversos tipos de necessidades sociais: a conquista, a afiliação, a intimidade e o poder. Uma
necessidade é qualquer condição dentro da pessoa que é essencial e necessária para a vida, o crescimento e o bem-estar. Quando as
necessidades são alimentadas e satisfeitas, vivemos, crescemos e prosperamos; quando as necessidades são negligenciadas e
frustradas, somos prejudicados, regredimos e sofremos. As necessidades psicológicas adquiridas podem distinguir-se em duas
categorias – as necessidades sociais e as quase necessidades. Os seres humanos têm uma infinidade de necessidades (fisiológicas,
psicológicas e sociais) e quase necessidades. O que une estas duas categorias é o facto de ambas terem origens sociais e não serem
inatas. As necessidades sociais originam-se através de preferências pessoais que vamos
adquirindo através da experiência, da socialização e do desenvolvimento. Essas necessidades passam a existir como diferenças
individuais, caracterizando a individualidade de cada pessoa como seres únicos com necessidades específicas diferentes das demais,
acabando estas por ser parte integrante da personalidade.
Já as quase-necessidades são mais superficiais, são desejos induzidos pela situação a que
estamos expostos, mas que não são necessidades completas no mesmo sentido que as
necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais. Ou seja, são denominadas de quase-necessidades porque se assemelham a
necessidades verdadeiras em alguns aspetos. Estas quase-necessidades acabam por afetar como pensamos, sentimos e agimos, isto
é, tem impacto nas componentes cognitivas, afetivas e comportamentais. Um exemplo deste tipo de necessidades é a necessidade
de dinheiro, de um emprego seguro e de um plano de carreira. As circunstâncias do dia-a-dia lembram-nos das nossas necessidades
de dinheiro, emprego e aprovação. Sempre que um de nós satisfaz um problema ou pressão situacional, a quase necessidade
desaparece, mostrando que, de facto, não é uma necessidade completa uma vez que desaparece. Não é uma condição essencial e
necessária para a vida, crescimento e bem-estar (a definição de uma necessidade), mas sim algo que está mais associado a pressões
ambientais do que às necessidades do indivíduo. A prova dessa distinção é que qualquer mudança no ambiente leva a uma mudança
correspondente na nossa quase-necessidade. Assim as quase-necessidades originam-se em eventos situacionais que promovem uma
sensação psicológica de tensão, pressão e urgência dentro de nós.
As necessidades sociais, uma vez adquiridas, passam a ser vivenciadas como
potenciais emocionais e comportamentais que são ativados por incentivos situacionais particulares (Atkinson, 1982; McClelland,
1985). Ou seja, quando um incentivo associado a uma necessidade específica está presente, a pessoa com alto nível dessa
necessidade social particular experimenta uma ativação emocional e comportamental. A experiência ensina-nos a esperar reações
emocionais positivas em resposta a alguns incentivos em vez de outros (McClelland, 1985). Existem assim quatro necessidades
sociais que são parte da nossa personalidade, sendo elas: a conquista, a afiliação, a intimidade e o poder.
A conquista está relacionada ao fazer algo bem feito para mostrarmos competência pessoal, a afiliação é decorrente da
oportunidade de agradarmos aos outros e obtermos a sua aprovação, a intimidade trata-se de um tipo de relacionamento visto
como caloroso e seguro e o poder está relacionado com o facto de termos impacto nos outros.

Motivação do comportamento através de necessidades sociais: As necessidades sociais surgem e ativam o potencial emocional e
comportamental quando surgem incentivos de satisfação de necessidades (uma frequência pode ser um desafio positivo para
determinada pessoa como pode ser encarado como uma experiência negativa para outra). Reagimos a eventos (como a frequência)
de acordo com o valor de incentivo aprendido e carregado de emoção (positivo ou negativo) dos objetos ao nosso redor. Quando
esses objetos aparecem, ativam padrões de emoção e comportamento associados às suas necessidades sociais correspondentes. As
necessidades sociais são assim de natureza principalmente reativa. Elas permanecem adormecidas dentro de nós até encontrarmos
um incentivo potencialmente satisfatório para a necessidade que traz a necessidade social ao nosso foco de atenção em termos do
nosso pensamento, sentimento e comportamento. Assim, as pessoas aprendem rapidamente que determinadas actividades e
eventos são as principais oportunidades para se sair bem e demonstrar competência pessoal, para agradar aos outros e obter a sua
aprovação ou para causar impacto na vida dos outros.

CONQUISTA
Origens da necessidade de conquista: A necessidade de conquista é o desejo de fazermos algo bem em relação a um padrão de
excelência. Isso motiva-nos a procurar o “sucesso na competição com um padrão de excelência” (McClelland, Atkinson, Clark e
Lowell, 1953).
O que todos os tipos de situações de conquista têm em comum é que a pessoa encontrou
um padrão de excelência e foi energizada por ele, em grande parte porque sabe que o próximo desempenho produzirá uma
avaliação emocionalmente significativa da competência pessoal. Os padrões de excelência oferecem-nos padrões de excitação, e
reagimos com emoção e comportamentos de abordagem. Porém, também nos podem trazer ansiedade, fazendo com que evitemos
e hesitemos em determinadas tarefas e comportamentos. Indivíduos com alta necessidade de realização geralmente respondem
com emoções orientadas para a abordagem, como esperança, orgulho e gratificação e indivíduos com baixa necessidade de
realização geralmente respondem com emoções orientadas para o evitamento, como ansiedade, defesa e medo do fracasso.
Influências da Socialização: Os esforços de realização fortes e resilientes surgem, em parte, das influências da socialização
(Heckhausen, 1967; McClelland & Pilon, 1983). As crianças desenvolvem esforços de realização relativamente fortes quando os seus
pais fornecem oportunidades de promoção da autonomia - “Esta tarefa será fácil para ti”, com uma valorização positiva de
atividades relacionadas com a realização (Eccles-Parsons, Adler e Kaczala, 1982), padrões explícitos de excelência (Trudewind, 1982),
e um ambiente rico em potencial de estimulação.
Influências cognitivas: Algumas formas de pensar estão mais relacionadas com a realização do que outras (Ames & Ames, 1984),
incluindo as seguintes: a perceções de alta capacidade, que facilitam tanto a persistência quanto o desempenho; a orientação de
domínio que leva as pessoas a escolher tarefas moderadamente difíceis e a responder à dificuldade aumentando em vez de diminuir
seu esforço; as altas expectativas de sucesso que geram comportamentos orientados para a abordagem, como a procura de desafios
e a ter um bom desempenho; a forte valorização da realização que prevê a persistência nesse domínio; e o estilo de atribuição
otimista que promove emoções positivas como esperança e orgulho após sucessos e mantém emoções negativas como medo e
ansiedade sob controle.

Modelos para a Compreensão da Motivação: Há duas abordagens teóricas que dominam a compreensão da motivação para a
realização: a clássica, referente ao modelo de comportamento de realização de Atkinson, que inclui o modelo de dinâmica de ação, e
a contemporânea, que é uma abordagem cognitiva que se concentra nos objetivos que as pessoas adotam em situações de
realização. O que há comum entre as duas abordagens é que partilham o mesmo retrato da motivação para a conquista como uma
luta inerente de abordagem versus evitação. Todos nós vivenciamos os padrões de excelência, por um lado, sentimos entusiasmo e
esperança e antecipamos o orgulho de um trabalho bem feito, por outro lado, sentimos ansiedade e medo e antecipamos a
vergonha de uma possível humilhação. John Atkinson (1957- 1964) argumentou que a necessidade de realização prediz apenas
parcialmente o comportamento de conquista. O comportamento depende não apenas da necessidade disposicional de realização do
indivíduo, mas também da sua probabilidade específica de sucesso em uma tarefa e do incentivo para ter sucesso nessa tarefa. Para
Atkinson, algumas tarefas tinham altas probabilidades de sucesso, enquanto outras tinham baixas probabilidades de sucesso. Além
disso, algumas tarefas ofereciam maior incentivo para o sucesso do que outras. A teoria de Atkinson apresenta quatro variáveis: o
comportamento de realização (Ts); a necessidade de realização (EM); a probabilidade de sucesso (Ps); e o incentivo para o sucesso
(E). O comportamento de realização é definido como a tendência de se aproximar do sucesso, abreviado como Ts, tendo como três
fatores determinantes a força da necessidade de realização de uma pessoa, a probabilidade percebida de sucesso e o valor de
incentivo do sucesso. Assim, o
modelo de Atkinson é expresso na seguinte fórmula: Ts=EM×Ps×E. A primeira variável da equação, EM, corresponde à necessidade
de realização da pessoa. A variável Ps é estimada a partir da dificuldade percebida da tarefa e da capacidade percebida da pessoa
nessa tarefa. A variável E é igual a 1 -Ps. Portanto, se a probabilidade de sucesso for 0,25, o incentivo para o sucesso nessa tarefa
seria 0,75 (1,00 − 0,25). Ou seja, o valor de incentivo para o sucesso durante as tarefas difíceis é alto, enquanto é baixo durante as
tarefas fáceis. Assim como as pessoas têm necessidade de realização (EM), eles também têm um motivo para evitar o fracasso (Maf)
(Atkinson, 1957, 1964). A tendência a evitar o fracasso motiva o indivíduo a defender-se contra a perda da autoestima, a perda do
respeito social e o medo do constrangimento (Birney, Burdick, & Teevan, 1969). A tendência a evitar o fracasso, abreviada Taf, é
calculado com uma fórmula paralela à deTs: Taf=Maf×Pf×Se. A variável Maf representa o motivo para evitar o fracasso, Pf representa
a probabilidade de falha (que, por definição, é 1 -Ps), e se representa o valor de incentivo negativo para o fracasso.
Atkinson conceptualizou EM como uma força motivacional para buscar situações de realização e Maf como uma força motivacional
para escapar de (ou ficar ansioso face a) situações de realização. Assim, envolver-se em qualquer tarefa de realização é entrar em um
dilema de risco no qual a pessoa luta para encontrar um equilíbrio entre a atração do orgulho, esperança e respeito social, por um
lado, versus a repulsa da vergonha, medo e humilhação social, por outro lado. Quando Ts é melhor que Taf, a pessoa aborda a
oportunidade de testar a competência pessoal em relação ao padrão de excelência, mas quando Taf é melhor que Ts, a pessoa hesita
ou evita completamente a oportunidade. A fórmula completa de Atkinson para prever a tendência de alcançar (Ta) e, portanto, para
exibir comportamentos relacionados a conquistas (ou seja, escolha, latência, esforço, persistência) é a seguinte:
Ta=Ts−Taf=(EM×Ps×É)−(Maf×Pf×Se ).

Conquistas para o futuro: Nem todas as situações de conquistas são iguais, umas implicam esforços para futuras conquistas
enquanto outras apenas tem implicações no presente.
A "orientação para conquistas futuras" refere-se à distância psicológica que estamos de
atingir uma meta/objetivo a longo prazo. Acabamos por abordar mais rapidamente e colocar mais peso em metas que possamos
alcançar de imediato, de que em metas futuras. Sendo assim, quanto mais distantes estivermos de alcançar um determinado
objetivo, menor peso de abordagem lhe vamos dar. No entanto, o facto de nos esforçarmos para algo que queremos conquistar no
futuro, pode fazer com que a nossa motivação para conquistar metas no presente aumente, pois estaremos a adicionar motivação
futura à motivação atual. Assim, o comportamento que vamos adotar para alcançarmos as nossas conquistas vai variar em função
das 3 componentes anteriores (motivo de abordagem, motivo de evitamento e probabilidade de sucesso), mas também aliado ao
facto da probabilidade das nossas conquistas no presente nos levarem a alcançar conquistas futuras.

Modelo de dinâmica da ação: Neste modelo, o comportamento de realização/conquista depende de um fluxo contínuo de 3 forças:
a instigação a inibição e a consumação.
A instigação provoca um aumento na tendência de abordagem e ocorre ao confrontar estímulos ambientais associados a
recompensas passadas (cultiva uma esperança crescente de sucessos); a inibição provoca um aumento nas tendências de evitamento
e ocorre ao confrontar estímulos ambientais associados a punições passadas (cultiva um medo crescente do fracasso); e a
consumação refere-se ao facto de que a realização de uma atividade causa a sua cessação (término). A adição destas forças
consumíveis permite que o comportamento seja visto como dinâmico e não episódico ou estático.

Condições que envolvem e satisfazem a necessidade de conquista: Há 3 situações notáveis pela sua capacidade de envolver e
satisfazer a necessidade de conquista: tarefas moderadamente difíceis, competição e empreendedorismo (McClelland, 1985).
Pessoas com alta necessidade de conquista tendem a superar os de baixa necessidade em
tarefas moderadamente difíceis, pois incentivos emocionais e cognitivos são ativados em pessoas de alta necessidade de conquista.
Estas tarefas fornecem assim uma mistura de orgulho de alcançar sucesso e permite aceder a informação a cerca das suas
habilidades.
Relativamente à concorrência, nomeadamente a competição interpessoal, faz-nos assumir riscos. Assim a competição promove
emoções positivas, comportamento de aproximação e melhor desempenho em pessoas com alta necessidade de conquista, pois
estes procuram informações sobre as suas habilidades e procuram oportunidades para testá-las. Já para pessoas com baixa
necessidade de conquista, a concorrência provoca emoções negativas, comportamentos de evitamento e desempenho debilitado.
Para eles as pressões avaliativas da competição provocam ansiedade e evitamento. Já o empreendedorismo atrai estas pessoas pois
fornece feedback acerca do desempenho e faz com que assumam responsabilidade pelos seus sucessos e fracassos. Pessoas de alta
necessidade de conquista, preferem ocupações que ofereçam desafio, trabalho independente, responsabilidade pessoal e feedback
rápido acerca do seu desempenho.

Objetivos /metas de conquista: O Modelo Atkinson trata o comportamento para essas metas como uma escolha, sendo que nos
aproximamos do padrão de excelência ou evitamo-lo. O modelo procura entender se abordamos o sucesso e evitamos o fracasso e
com que intensidade, latência e persistência. No entanto, pesquisadores contemporâneos estão interessados no porquê de
mostrarmos comportamentos de conquista. Assim foram definidas duas principais metas de conquista: as metas de domínio em que
procuramos desenvolver maior competência, progredir, melhorar o self e superar desafios através de esforço e persistência e as
metas de desempenho em que procuramos demonstrar ou provar competência, exibir alta habilidade, superar os outros e ter
sucesso com pouco esforço aparente. A adoção de metas de domínio em contextos de conquista (como na escola, trabalho,
desporto) é associada a uma forma positiva e produtiva de pensar, sentir e se comportar.

Integração da abordagem clássica e contemporânea: A abordagem clássica (Teoria de Atkinson) e a contemporânea


(Metas/objetivos de conquista) podem ser combinadas e integradas num único modelo. No modelo integrado passam a existir metas
de domínio e dois tipos diferentes de metas de desempenho: a abordagem de desempenho e o evitamento do desempenho. A
sobreposição destas abordagens ocorre na relação entre: Motivos de evitamento, Motivos de abordagem, probabilidade de sucesso
e os tipos de objetivos/metas que a pessoa adota. Assim pessoas com alta necessidade de conquistas adotam metas abordagem
desempenho, pessoas com alto medo de fracassos adotam metas de evitamento de desempenho e pessoas com altas expectativas
de competência adotam metas de domínio.

Motivação para o evitamento e bem-estar: Até agora centramo-nos mais no lado da "abordagem", mas por vezes o medo do
fracasso leva-nos a regularmos o nosso comportamento de uma maneira não tão positiva. Pode-nos levar a adotar metas de
evitamento do desempenho, como: tentar não cometer um erro, ter um mau desempenho e sentirmo-nos envergonhados. Isso faz
com que tenhamos um desempenho inferior, desistirmos rapidamente e perdermos o interesse no que estamos a fazer. Isso tráz
grandes implicações no ajuste pessoal e na saúde mental. Vamos tentar tanto evitar o mau desempenho que acabamos por regular o
nosso comportamento diário para o evitamento, acabando por produzir insatisfação, emoções negativas e pouco prazer.

Teorias Implícitas: De maneira geral, a forma como pensamos acerca das nossas qualidades pessoais (como a inteligência ou a
personalidade) pode ser caracterizada de duas maneiras. (Dweck, 1999,2006). A primeira teoria implícita aplica-se aos "teóricos da
entidade" que acreditam que somos dotados de qualidades fixas e duradouras, isto é, "ou se tem, ou não se tem". Ou seja, as
características existem como entidades que habitam na pessoa. A segunda teoria implícita aplica-se aos "teóricos incrementais" que
acreditam que somos dotados de qualidades maleáveis e mutáveis. Para eles, qualidades pessoais podem ser cultivadas através de
esforço e aprendizagem. Estas teorias são importantes pois vão orientar para o tipo de objetivos/metas que vamos perseguir. Em
situações de conquista os teóricos da entidade geralmente adotam metas de desempenho. As pessoas que adotam metas de
desempenho preocupam-se em parecer inteligentes e em não parecer incapazes. Ou seja, eles estão preocupados em ter um bom
desempenho, especialmente enquanto os outros estão a assistir. O objetivo é, portanto, usar o desempenho como meio de provar
que uma pessoa possui uma característica desejável (neste caso, inteligência).
Já os teóricos incrementais geralmente adotam metas de maestria em situações de realização. As pessoas que adotam metas de
domínio, estão preocupadas em dominar algo novo ou diferente e em aprender ou entender algo novo. Ou seja, eles estão
preocupados em aprender e melhorar o máximo que puderem. O objetivo é, portanto, o envolvimento em tarefas para melhorar –
para ficar mais inteligente aprendendo algo novo ou importante. Ambos os tipos de objetivos – desempenho e domínio – são
comuns na nossa cultura e ambos encorajam a realização, mas, normalmente, esses dois objetivos são colocados “um contra o
outro” e em ambientes como trabalho, equipas de desporto, escolas, etc, é pedido que trabalhadores, atletas, etc, escolham um dos
lados: parecer inteligente e competente, mas com o sacrifício de aprender algo novo ou aprender algo novo, útil ou importante, mas
com o sacrifício de parecer inteligente ou competente.

Esforço: Para um teórico da entidade, o significado de esforço é “quanto mais tentas, mais incapaz serás”, pois, alto esforço significa
baixa habilidade. Para um teórico incremental, o significado do esforço é que ele é uma ferramenta, o meio pelo qual as pessoas
ligam e tiram vantagem das suas habilidades. O que se precisa ao enfrentar uma tarefa difícil é um alto esforço. Mas ordenar um alto
esforço possui um dilema motivacional para o teórico da entidade. Alto esforço é necessário, mas alto esforço é precisamente o que
sinaliza baixa habilidade, que é precisamente o tipo de coisa que um teórico de entidade mais deseja evitar. O feedback negativo
funciona da mesma maneira que uma tarefa difícil em termos de seu efeito na entidade e no pensamento incremental. Com um
feedback negativo os pensadores da entidade atribuem o seu mau desempenho à baixa capacidade e suspendem o seu esforço e os
pensadores incrementais atribuem o seu mau desempenho a não se esforçar o suficiente e aumentam seu esforço tomando as
medidas corretivas necessárias para se adaptar e reverter o fracasso e o feedback negativo.

AFILIAÇÃO E INTIMIDADE
A afiliação trata-se de estabelecer, manter ou restaurar um relacionamento afetivo
positivo com outra pessoa ou pessoas. De acordo com esta definição, a necessidade de afiliação não é o mesmo conceito que
extroversão, amizade ou sociabilidade. Em vez de estar enraizada na extroversão e na popularidade, a necessidade de afiliação está
enraizada no medo da rejeição interpessoal. Pessoas com alta necessidade de afiliação interagem com outras para evitar emoções
negativas (medo de desaprovação e solidão) e experienciam muita ansiedade no relacionamento com outros indivíduos. A
necessidade de afiliação, então, pode ser pensada como a necessidade de aprovação, aceitação e segurança nas relações
interpessoais. A visão mais contemporânea dos esforços de afiliação reconhece as suas duas facetas: a necessidade de aprovação e a
necessidade de intimidade. A intimidade está relacionada a com a vontade de “experimentar uma troca calorosa, próxima e
comunicativa com outra pessoa”.

Condições que envolvem as necessidades de afiliação e intimidade: A principal condição que envolve a necessidade de afiliação é a
privação da interação social. Por outras palavras, a necessidade de afiliação expressa-se como um motivo ligado à falta de interação
social. Condições como solidão, rejeição e separação aumentam o desejo das pessoas, ou a necessidade social, de estar com os
outros. Em contraste, o desejo ou necessidade social de intimidade surge do cuidado e preocupação interpessoal, calor e
compromisso, conexão emocional, diálogo recíproco, simpatia e amor.

Medo e Ansiedade: O isolamento social e as condições que despertam o medo são duas situações que aumentam o desejo de uma
pessoa de se afiliar a outras. Em condições de isolamento e medo, as pessoas relatam estar nervosas e tensas, e de certa forma, a
sentir um tipo de dor. Para reduzir essa sensação, quando estão com medo, as pessoas desejam afiliar-se para obter apoio emocional
e ver como os outros lidam com as emoções que sentem do objeto do medo. Pessoas que passam pelo processo de reabilitação, têm
tendência a procurar outras pessoas quando estão com medo de falharem.

Estabelecimento e mantimento de redes interpessoais: Para iniciar novas amizades, as pessoas com alta necessidade de intimidade
normalmente juntam-se a grupos sociais, passam tempo interagindo com outras pessoas e, quando as amizades são iniciadas,
formam relacionamentos estáveis e duradouros, em comparação com pessoas com
baixa necessidade de intimidade. Uma vez que um relacionamento tenha sido estabelecido, indivíduos com alta necessidade de
afiliação esforçam-se para manter esses relacionamentos fazendo mais ligações telefónicas, escrevendo mais cartas e visitando mais
seus amigos do que aqueles com baixa necessidade de afiliação. Durante as interações face a face, as pessoas com alta necessidade
de intimidade riem, sorriem e fazem contacto visual com mais frequência do que as pessoas com baixa necessidade de intimidade.
Ao estabelecer boas relações de proximidade e intimidade, a ansiedade e medo provenientes de uma possível rejeição deixam de ser
tão visíveis e surgem sentimentos e sensações de alívio e alegria.

PODER
A essência da necessidade de poder é o desejo de fazer com que o mundo físico e social se
adapte à imagem pessoal ou ao plano de cada um. Pessoas com alta necessidade de poder
desejam ter “impacto, controlo ou influência sobre outra pessoa, grupo ou o mundo em geral”. Indivíduos com alta necessidade de
poder procuram tornar-se (e permanecer) líderes e interagem com os outros com um estilo vigoroso de assumir o controlo. Após
várias experiências, foi descoberto que a oportunidade de desenvolver os próprios esforços de poder faz com que o indivíduo
considere que precisa de poder com um vigor que pode
ser medido por meio de humor e/ ou ativação psicofisiológica, por exemplo.

Condições que envolvem e satisfazem a necessidade de poder: Quatro condições se destacam pela sua capacidade de envolver e
satisfazer a necessidade de poder: liderança, agressividade, ocupações influentes e posses de prestígio. 1. Liderança e
Relacionamentos: pessoas com alta necessidade de poder buscam reconhecimento em grupos e encontram maneiras de se
tornarem visíveis para os outros, aparentemente num esforço para estabelecer influência. 2. Agressividade: a agressividade define-
se como um meio de envolver e satisfazer a necessidade de poder que caracteriza o ser humano. Assim, a agressividade satisfaz o
poder. De acordo com Mcclelland (1975) e Winter (1973), tal é possível de ser verificável em indivíduos com cargos de alto poder,
que por isso se revelam bastante competitivos. No entanto, esta relação que existe entre o poder e a agressão não é muitas vezes
percecionada, devido ao facto de existirem regras sociais que inibem esta mesma agressividade. Já quando estas inibições sociais são
removidas e dão espaço para o indivíduo que busca o poder expressar a sua agressividade, este revela-se muito mais agressivo que
um indivíduo com baixa necessidade de expressão de poder. Segundo Manson e Blankenship (1987), a expressão da agressividade
por parte destes indivíduos, pode estar muitas vezes associada ao recurso da liderança, do prestígio e da reputação, como também
ao recurso de bebidas alcoólicas, uso de drogas ou linguagem abusiva. Isto porque, quando a vida do quotidiano se torna frustrante
e stressante, os indivíduos com alta necessidade de afirmação e exibição de poder, podem recorrer ao álcool como um meio de inibir
o seu controlo perante o que fazem e dizem e, assim, se sentirem mais livres. 3. Ocupações Influentes: indivíduos com alta
necessidade de poder irão optar por ocupações, ou seja, profissões que mais facilmente lhes permitirão exercer esse mesmo poder
sobre outros indivíduos e serem, no fundo, dominadores. As profissões que estão incluídas neste meio são, por exemplo, os
executivos de negócios, políticos, psicólogos, jornalistas ou diplomatas…etc. Estes indivíduos procuram dominar as outras pessoas,
sendo que irão conseguir influenciar, dizer-lhes como agir e como se devem comportar. Estas pessoas possuem todo um leque de
informação privilegiada, o que lhes concede um determinado estatuto profissional. Além do que foi referido, possuem ainda o poder
de punir perante uma desobediência ou recompensar perante uma obediência. É possível inferir, que as pessoas conseguem
satisfazer a sua necessidade de poder através da profissão que escolhem e do cargo que ocupam. 4. Posses de Prestígio: de acordo
com Winter (1973), a forma de afirmação do poder de indivíduos com alta necessidade de poder poderá ser através de posses que
lhes atribua prestígio. Como por exemplo, símbolos de poder, um bom carro, uma boa televisão, tapetes caros ou bijuteria, por aí em
diante.

Poder e Busca de Objetivos: Segundo Guinote (2007), os indivíduos adquirem mais facilmente o sucesso nos objetivos que
ambicionavam, exatamente devido à sua alta necessidade de afirmação de poder, comparativamente aos indivíduos com baixa
necessidade de afirmação de poder. Isto verifica-se porque o poder e a ação andam de mãos dadas de acordo com Galinsky,
Gruenfeld e Magee (2003), e os indivíduos com elevada expressão de poder, são mais propensos a corresponder às suas vontades.
Padrão de motivação de liderança: O padrão de motivação de liderança constitui uma variante da necessidade de poder do ser
humano. Este padrão divide-se num padrão triplo de necessidades: 1) Alta necessidade de poder; 2) Baixa necessidade de poder; 3)
Alta inibição (McClelland, 1982). Posto isto, os indivíduos com necessidade de poder caracterizam-se por não estar preocupados se
são amados por outros e por ser autorregulado e autodisciplinado. Ou seja, são uma combinação de alto poder, baixa afiliação e
autocontrolo. Exemplo disso, é um líder de uma empresa ou um gerente, que são, geralmente bem-sucedidos e produtivos no seu
trabalho. Segundo McClellkand e Burnham (1976), os gerentes que apresentam um alto poder, uma baixa afiliação, mas uma baixa
inibição, isto é, não têm disciplina nem autocontrolo, são, muitas vezes, malsucedidos e mal avaliados pelos restantes trabalhadores.

MOTIVAÇÕES INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS


Introdução: Como é que eventos externos e internos geram estados motivacionais? O enquadramento teórico inicial permite
clarificar em que consiste motivação e como esta se subdivide em motivação intrínseca e extrínseca, para depois percebermos como
podemos proceder à regulação externa e interna da motivação, de forma a construir interesse e envolvimento numa tarefa ou
comportamento.

Definição de Motivação: O que podemos dizer à cerca do que é a motivação? A palavra motivação provém dos termos “latins
motus”, que significa “movido” e de “motio” que significa “movimento”. Podemos então dizer que a motivação é uma vontade que
nos impulsiona a realizar determinadas ações, persistir na realização das mesmas, até atingir os objetivos desejados. A motivação
pode surgir não só de uma vontade interior ou um interesse, como também pode surgir de um incentivo ou recompensa associada a
realização de determinado comportamento, ação, tarefa entre outros. Porém, temos conhecimento que, existem comportamento
desejáveis e comportamento indesejáveis e, portanto, existem ambientes que nos recompensam por realizar comportamento
considerados desejáveis, e por outro lado, ambientes que nos punem por realizarmos comportamentos considerados indesejáveis.
Como por exemplo, se colocarmos lixo num local adequado como um contentor do lixo, podemos ser elogiados pela nossa grande
ação de estar a preservar o ambiente, como também interiormente nos sentimos bem por estarmos a ser bons cidadãos. Porém, se
colocarmos o lixo no chão, podemos ser multados pelas autoridades e ser alvo de maus olhares e críticas por não estarmos a
preservar o nosso planeta. Tendo em conta este saber universal, os seres humanos seguem tendências hedonistas, aproximando-se
do prazer, e evitando a dor, como resultado, evitaremos comportamentos que nos trarão punições e procuramos comportamentos
que nos trarão recompensas. Com base na nossa experiência de vida, começamos a reconhecer de forma quase que instintiva, quais
são os comportamentos que nos trazem punições e quais nos recompensam. A motivação tem origem em fontes internas, desde
necessidades fisiológicas, necessidades psicológicas e necessidades sociais. Ao falarmos em necessidades fisiológicas referimos
aquelas que o ser humano necessita para se manter vivo, respirar, comer, beber entre outras, por outro lado ao falarmos de
necessidades psicológicas são, portanto, necessidades que se afiguram como essenciais ao bem-estar psicológico do indivíduo, desde
desafios até relacionamentos íntimos, entre outros. E por fim, necessidades sociais tais como amizades, sentimento de pertença,
respeito entre outros. Sabemos que o ser humano é um ser social e uma vida sem qualquer tipo de interação social iria resultar no
mal-estar psicológico do indivíduo. Mas podemos dizer que a motivação provém unicamente de fontes internas? A resposta é não.
Se nos recordarmos daquelas vezes que nos tempos de escola, apenas realizamos um trabalho de casa porque a nossa mãe nos disse
que podíamos comer um gelado depois do mesmo estar concluído, estamos mais perto de entender o porquê da motivação não ter
origem só em fontes internas, ou seja, com este exemplo, podemos perceber que uma pessoa também pode realizar determinada
ação, ou ter determinado comportamento por fontes externas, por razões extrínsecas, como o gelado referido, mas também outros
exemplos como dinheiro, um privilégio especial ou até mesmo aprovação dos outros. Como conclusão, as recompensas e os
incentivos promovem em nós o sentimento de “querer”, gerando assim motivação para realizar determinada ação e/ou
comportamento.

Motivações Intrínsecas e Extrínsecas: Com base na observação causal do comportamento quotidiano, por vezes, as pessoas nem
sempre tem a tendência de gerar a sua própria motivação através de meios intrínsecos, o que nos sugere por vezes as nossas
necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais são mudas ou não se encontram em primeiro plano da nossa consciência, o que leva
as pessoas a se tornarem passivas em certas situações e ficarem dependentes do ambiente fornecer algo que crie motivação nas
mesmas. Como exemplo, por vezes em contexto escolar os alunos têm certas disciplinas que não criam tanto interesse, tornando-se
assim apáticos e com problemas para se aplicarem e, portanto, os seus professores a observar esse comportamento, tentam cativar
a atenção desses alunos ao criarem medidas inovadoras, recorrendo a elogios, privilégios para saírem mais cedo para o recreio entre
outras, para estimularem os alunos e criarem motivação nos mesmos, tanto em termos de interesse como em termos de empenho.
Estes elogios e privilégios são eventos externos que são incentivos que geram motivação extrínseca. Porém, nem sempre é
necessário incentivos e recompensas para que tenhamos motivação, ou seja, para nós termos interesse e desfrutarmos de uma
atividade não é preciso necessariamente um incentivo ou recompensa. Assim, podemos concluir que existem duas maneiras para
termos interesse e desfrutarmos de uma atividade seja intrinsecamente ou extrinsecamente. Para entendermos melhor o que foi
dito anteriormente temos o seguinte exemplo, atividades como jogar futebol ou praticar outro desporto, são oportunidades para
nós satisfazermos as nossas necessidades intrínsecas, psicológicas e desenvolvermos uma competência, com o objetivo de nos
divertirmos e sermos melhores a realizar aquelas atividades, porém por outro lado, o mesmo comportamento, “jogar futebol” pode
ser apreciado na medida em que pode tornar-se uma oportunidade de ganhar dinheiro e não apenas uma atividade que fazemos por
diversão. Como conclusão, o futebolista pode ver a atividade “jogar futebol” como uma diversão e algo que satisfaz as suas
necessidades psicológicas ou pode vê-lo como uma maneira de ganhar dinheiro ou fama, assim podemos observar que a mesma
atividade pode gerar tipos de motivação diferentes, no primeiro caso, pode gerar motivação intrínseca e no segundo motivação
extrínseca.

Motivação Intrínseca: Como referido, a motivação intrínseca está relacionada com os nossos interesses, o que consideramos
diversão, desenvolvimento de competência, exercitar as nossas próprias capacidades de maneira a satisfazermos as nossas
necessidades psicológicas e, portanto, esta motivação acaba por surgir de uma maneira espontânea, não só pelas nossas
necessidades, como também de esforços inatos de crescimento. Usando o exemplo anterior do futebolista, quando este está
intrinsecamente motivado vai agir por interesse, uma vez que, se trata de uma atividade que o diverte e também pela sensação de
desafio que essa atividade lhe proporciona, na medida que, quer ser cada vez melhor, aumentando as suas competências. Assim,
surge de uma maneira espontânea, pelo seguinte motivo, o futebolista não precisa de motivos extrínsecos, como por exemplo,
receber um prémio, para se sentir motivado ao realizar o comportamento jogar futebol. As pessoas têm necessidades psicológicas
que precisam de ser satisfeitas. Assim, quando estas necessidades psicológicas são nutridas e apoiadas pelo ambiente assim como
pelas suas relações interpessoais vão dar origem a motivação intrínseca, ou seja, vão conseguir satisfazer as suas necessidades
psicológicas ao se envolver nas atividades consideradas interessantes. Como por exemplo, uma pessoa quando está a realizar o jogo
“sodoku”, considera uma atividade interessante e desafiadora e, portanto, é capaz de prestar a sua atenção e empenho na realização
do mesmo por longos períodos. A motivação intrínseca surge das experiências espontâneas de uma pessoa se sentir autónoma,
competente e relacionável. Portanto ao realizar uma atividade, se esta permitir que a pessoa se sinta autónoma, na medida que é
capaz de realizar a atividade sem ajudas, se sinta eficaz relacionada com o sentimento de competência e por fim que se sinta
emocionalmente próxima, falamos de motivação intrínseca. Pessoas intrinsecamente motivadas, podem recorrer ao uso de
expressões que mostram a sua motivação intrínseca, como “isto é interessante”, “isto é divertido”, “gosto imenso de fazer isto”,
entre outras. Mas porque é que a motivação intrínseca é tão importante? A motivação intrínseca é algo que surge de maneira
natural e espontânea, uma vez que não precisa de motivos ou eventos extrínsecos para se gerar motivação, mas sim, das
necessidades psicológicas das pessoas, do sentimento de autonomia, de competência e de relação. Portanto é muito enriquecedor
quando nós nutrimos e apoiamos estas necessidades psicológicas, uma vez que, trazem inúmeros benefícios para o indivíduo,
benefícios como a persistência, a criatividade, a compreensão conceitual e o bem-estar subjetivo. Ao falarmos em persistência
podemos retomar o exemplo do indivíduo que considera interessante e desafiador jogar o jogo denominado “sodoku” e
consequentemente consegue focar a sua atenção na realização do jogo por longos períodos. Perante o exemplo apresentado,
podemos perceber que está presente a persistência na medida em que o sujeito consegue focar a sua atenção por longos períodos
na realização da tarefa sem que perca o interesse ou considere que a atividade ficou desinteressante. Esta persistência só é possível
porque o indivíduo encontra-se intrinsecamente motivado. Já em relação à criatividade o que pode ser dito? Quando estamos
intrinsecamente motivados, a criatividade é algo que fica potencializado, as pessoas ao sentirem-se motivadas são mais criativas e
inovadoras. Como podemos verificar pela citação feita por Teresa Amabile (1983) que propôs o princípio da criatividade, “As pessoas
serão mais criativas quando se sentirem motivadas principalmente pelo interesse, prazer, satisfação e desafio do próprio trabalho e
não por pressões externas”. Com esta citação também podemos perceber, que a criatividade pode ser afetada quando estamos
perante observação e controlo de outras pessoas, ao sermos avaliados ou recompensados. Também quando falamos na
compreensão conceptual percebemos que a motivação intrínseca tem um papel fundamental, na medida que, esta aumenta a
compreensão conceptual face a algo que estamos a tentar aprender. Resumidamente, quando a motivação intrínseca é elevada, vai
promover a flexibilidade do pensamento, de maneira que podemos processar ativamente as informações e iremos deter uma
aprendizagem mais conceptual e menos mecanizada, onde a memorização e tentar alcançar unicamente uma resposta certa não são
os objetivos principais, mas sim compreender e alcançar uma aprendizagem eficaz. Por último, ao falarmos em funcionamento e
bem-estar subjetivo como o próprio nome indica, referimo-nos ao nosso bem-estar psicológico e este é subjetivo na medida que
muda de pessoa para pessoa, o que me traz bem-estar pode não ser o mesmo que traz a outra pessoa. Assim, quando aplicamos isto
ao tema da motivação intrínseca, percebemos que perseguirmos os nossos objetivos interiores e realizarmos atividades que nos são
interessantes, nos trazem crescimento, aumento de competência, prazer entre outros, isto leva a melhorias do nosso funcionamento
e bem-estar psicológico, o que já não é observado quando estamos em busca de objetivos extrínsecos. Em suma, perseguirmos
objetivos com um teor intrínseco tem como benefícios uma maior autorrealização, maior vitalidade subjetiva, maior autoestima,
relacionamento interpessoais de maior qualidade e duração e menos ansiedade, depressão, vícios e outros aspetos negativos.

Motivação Extrínseca: Como já foi anteriormente dito ao referimo-nos às motivações extrínsecas, ficou claro perceber que estas
surgem quando incentivos e recompensas são postas em causa pelo ambiente. Incentivos e recompensas que podem ser desde
dinheiro, elogios, reconhecimento, privilégios, entre outros. Uma pessoa extrinsecamente motivada não irá realizar determinado
comportamento, atividade ou tarefa pelo prazer ou até mesmo interesse na atividade em si, mas sim pela recompensa e incentivo
que esta lhe será apresentada quando estiver concluída, ou seja, na presença destes incentivos e recompensas, irá ser criada em nós
uma sensação de nos querermos empenhar naqueles comportamentos que nos trarão as consequências desejadas. Portanto,
quando estamos extrinsecamente motivados, seguimos uma linha de raciocínio de “Ao fazermos isto nós vamos conseguir aquilo”,
ou seja, ao realizar algo, “isto”, nós vamos ser recompensados com consequências desejadas, “aquilo”. Em suma, para iniciarmos e
realizarmos uma atividade, comportamento ou ação com persistência, e quando esta não é intrinsecamente motivada, estaremos
sempre à espera de uma oferta tentadora e desejada. Mas será que é fácil percecionar em alguém quando este está intrinsecamente
ou extrinsecamente motivado? Não, na verdade é uma tarefa deveras complicada, uma vez que a diferença entre estas duas
motivações se encontra na fonte que energiza e direciona o comportamento, ou seja, quando estamos intrinsecamente motivados,
esta motivação provém da satisfação das necessidades psicológicas de forma espontânea que a atividade proporciona, e quando
estamos extrinsecamente motivados, esta motivação já provém de outras razões, tais como incentivos e recompensas, como forma
de receber consequências desejadas o que irá condicionar a realização da atividade em questão.

Regulamento externo da Motivação: Incentivos, Consequências e Recompensas: O estudo da regulação extrínseca da motivação
relaciona-se com a perspetiva do Condicionamento Operante. Esta perspetiva remete para uma aprendizagem relacionada com a
aquisição de comportamentos cujas consequências são avaliadas como vantajosas e atraentes. Consequentemente, haverá um
afastamento de comportamentos cujas consequências provoquem desconforto no individuo. Para Baldwin e Baldwin (1986) a ação
motivada segue a seguinte equação: S : R -> C, onde S, R e C representam incentivo, resposta/ comportamento e consequência,
respetivamente. Já os 2 pontos indicam a relação entre incentivo e resposta criando uma situação para acontecer um
comportamento, mas não para o causar de forma direta. Por sua vez, a seta entre R e C indica que que uma resposta ou
comportamento desencadeia uma consequência.

Incentivo: Um incentivo pode ser caraterizado como um evento ambiental que atrai ou repele um individuo de realizar uma
determinada ação. Os incentivos antecipam sempre o comportamento, criando no individuo uma expectativa perante as
consequências resultantes desse comportamento. Os incentivos podem ser divididos em negativos e positivos e estes valores são-
lhes atribuídos através da experiência. Logo, é este o processo de aprendizagem que condiciona a exibição de um dado
comportamento: os incentivos positivos promovem comportamentos de aproximação, já os incentivos negativos, por sua vez,
promovem comportamentos de evitação. Tantos os incentivos como as consequências são estímulos ambientais extrínsecos que
orientam o comportamento. No entanto, estes dois distinguem-se quanto ao seu timing, bem como, relativamente à forma como
estimulam a ação.

Reforço: De uma forma simplista, um reforço pode ser classificado como qualquer evento externo ao indíviduo que aumenta a
probabilidade de um comportamento ocorrer (e.g., frequência, duração ou intensidade). Pode ser experienciado como satisfatório
ou agradável. No entanto, um reforço deve ser classificado independentemente das consequências sobre o comportamento. De
facto, de um ponto de vista mais prático, a única forma de classificar corretamente algo como um reforço será apresentá-lo e
esperar pelas consequências, isto é, pela exibição do comportamento. Deste modo, é de facto desafiante saber antecipadamente o
que funcionará como um reforço ou não. Por esta razão, no estudo da motivação, foram estabelecidos alguns critérios, pelos
investigadores, ao longo dos anos, com o intuito de explicar o porquê dos reforços contribuírem para a exibição de um
comportamento. Em primeiro lugar, Skinner (1938) aponta para o facto de o reforço ser algo atraente para a pessoa. Para Hull (1943)
o reforço diminui o impulso, por exemplo, a comida reforça o comportamento por diminuir a sensação de fome. Já Berlyne (1947)
defende que o reforço diminui a excitação. Paralelamente, Premack (1959), considera que um reforço oferece a oportunidade de
realizar um comportamento de alta frequência. Olds (1969), preconiza que ocorre uma estimulação cerebral prazerosa, mais
concretamente do feixe prosoencefálico medial. Por fim, Zuckerman (1979) aponta que um reforço também contribui para a
excitação. Em suma, estes critérios permitem ao investigador perceber, antecipadamente, se um estímulo funcionará como reforço
ou não.

Oferecer reforços com a intenção de gerir o comportamento: De forma a melhor perceber alguns dos critérios acima mencionados,
um estudo realizado por Hall e colaboradores (1972), utilizou diversos reforços para que uma criança de 8 anos utilizasse um
aparelho ortodôntico. Os pais da criança aperceberam-se, desde cedo, da falta de motivação extrínseca da criança para utilizar o
aparelho. Nesse sentido, procuraram formar de a incentivar a usar o mesmo (motivação extrínseca). Sem aplicação do reforço
positivo, a criança utilizou o aparelho 25% das vezes, na primeira semana. Os pais decidiram, então, começar a elogiar sempre que a
criança usava o aparelho. A aplicação deste tipo de reforço positivo fez com que a criança usasse o aparelho 36% do seu tempo,
verificando-se um aumento. Durante um período de 2 semanas, os pais foram aplicando outros incentivos como uma promessa de
compensação monetária, prometendo oferecer 25 cêntimos no final do mês. Este reforço fez com que o uso do aparelho
aumentasse para os 60%. Nos 5 dias seguintes, os pais optaram por oferecer a compensação monetária de forma imediata, isto é,
sempre que viam a criança a usar o aparelho. Este reforço, verificou-se bastante eficaz, pois a criança aumentou o tempo de uso do
aparelho para os 97%. Passados mais 5 dias, os pais deixaram de aplicar reforços, fazendo com que o uso do aparelho caísse para os
64%. Por fim, ao longo de duas semanas, os pais reintroduziram a compensação monetária imediata e o uso do aparelho disparou
para os 100%. Este tudo permite fazer inferências acerca da natureza dos reforços. Primeiramente, estes variam na sua qualidade:
para esta criança o dinheiro revelou-se um reforço mais eficaz quando comparado aos elogios dos seus pais. Em segundo lugar,
verificou-se maior eficácia quando o reforço era apresentado de forma imediata, quando comparado, com a promessa do mesmo.
Algumas características, além do imediatismo e da qualidade do reforço, determinam o que constituiu ou não um reforço. Este pode
ser eficaz para uma pessoa, mas não para outra, portanto, o reforço deve ser sempre ajustado à pessoa à qual este será aplicado.
Além disso, o mesmo reforço poder ser eficaz quando aplicado num momento “x”, mas altamente ineficaz quando aplicado num
momento “y”. De igual forma, os reforços variam na sua intensidade, como é o caso do dinheiro. Este será eficaz supondo que
excede um certo limite, ou seja, receber 10€ será muito eficaz do que receber apenas 1€, por exemplo. Por fim, as pessoas que
aplicam os reforços (e.g., pais, professores, chefes, treinadores,) consideram que estão a aplicar bons reforços quando na realidade
não estão (Green et al., 1988; Pace, Ivancis, Edwards, Iwata, & Page, 1985; Smith, Iwata, & Shore, 1995). Em síntese, o que determina
a eficácia de um reforço é são os seguintes fatores: qualidade, imediatismo, adaptação, necessidade, intensidade e valor.

Reforços negativos: À semelhança dos reforços positivos, os reforços negativos podem ser classificados como qualquer estímulo
externo ao indivíduo que aumente a probabilidade de um comportamento ocorrer, no entanto, isso acontece devido à retirada de
algo sendo incentivados os comportamentos de fuga - retirando o indívido da presença do estímulo aversivo - e evitação –
impossibilitando a ocorrência do estímulo aversivo. Como resultado, é possível afirmar que os comportamentos de fuga são
comportamentos reativos, e que os de evitação são proativos, pois o individuo, intencionalmente evita-os, de forma, a resguardar-se
das consequências negativas.

Punições: Classifica-se como punição aquilo que constitui um estímulo ambiental que diminui a probabilidade de ocorrência de um
dado comportamento, quando apresentado. Um tipo de punição muito utilizado é a de custo de resposta, cuja intenção é diminuir
um comportamento, ou até mesmo eliminá-lo, ao ditar que algo atraente será perdido caso ocorra um comportamento indesejado.
Verifica-se alguma dificuldade em diferenciar punições de reforços negativos, visto que ambos empregam estímulos aversivos. A
diferença está relacionada com a intenção de um comportamento se manifestar ou não: a punição pretende que o comportamento
indesejado diminua ou cesse de vez. O oposto acontece quando é aplicado um reforço negativo, pois este visa o aumento de um
comportamento. Considere uma criança que não arruma o seu quarto. Uma forma de punição será gritar com a criança ou até
mesmo ameaçar com a possibilidade de um castigo físico (estímulo aversivo) para que esta deixe de exibir o comportamento
indesejado (não arrumar o seu quarto). Esta situação irá gerar na criança emoções negativas como o medo, e será isso a movê-la em
direção ao comportamento desejado (arrumar o quarto). Por outro lado, considere que a mesma criança exibe o mesmo
comportamento, no entanto, sempre que não arrumar o seu quarto é-lhe deduzido um valor na sua mesada (estímulo aversivo).
Naturalmente, se a criança não quiser que esse estímulo aversivo ocorra, terá de deixar de exibir o comportamento indesejado de
não arrumar o seu quarto. Deste modo, a mudança de comportamento ocorre devido à evitação das consequências consideradas
negativas pela criança, motivando-a exibir um comportamento que vá de encontro a consequências mais favoráveis para si.

Recompensas: Uma recompensa pode ser caracterizada como algo extrínseco que é oferecido a alguém em troca dos seus serviços
ou conquistas (Craighead, Kazdin, & Mahoney, 1981). Muitas vezes a definição de recompensa extrínseca é confundida com a de
reforço positivo. De facto, é possível afirmar que todos os reforços positivos funcionam como recompensas, no entanto, nem todas
as recompensas podem ser consideradas reforços positivos. O reforço positivo está diretamente relacionado com o comportamento
e os seus efeitos sobre o mesmo, sendo usado de forma deliberada com vista a resultados específicos. Já as recompensas são usadas
de forma mais liberal, sendo vistas como potenciais motivadores de comportamento: estas são aplicadas independentemente do
efeito sobre o comportamento. Consequentemente, nem todas as recompensas vão reforçar de forma positiva, isto é, aumentar a
ocorrência de um dado comportamento. Em síntese, as recompensas são consideradas potenciais motivadores.

Eficácia das recompensas: Os seres humanos são inerentemente sensíveis ao estímulo de ganho/perda. Isto acontece porque, a
nível fisiológico, a dopamina desempenha um papel bastante importante na ativação comportamental e na procura de incentivos
(Carter & Porges, 2010). O sistema BAS (behavioural activation system) é responsável por gerar sentimentos positivos como o de
interesse e esperança, pois este sistema é ativado pela oferta de recompensas extrínsecas desencadeando comportamentos de
aproximação. Por outras palavras, a oferta de uma recompensa extrínseca indica que está em vista a possibilidade de ganho pessoal.
Quando isto acontece, significa que uma situação tomou um rumo inesperado para melhor. De facto, eventos quotidianos deixam o
BAS inalterado, pois são eventos expectáveis. Mas quando algo imprevisível acontece e é percebido como uma oportunidade de
ganho pessoal, por parte de um individuo, ocorre, então, a libertação de dopamina, ativando o BAS.

Eficácia das punições: As punições são amplamente utilizadas. Não obstante, a literatura demonstra a ineficácia das mesmas no que
diz respeito a gerar motivação nos indivíduos (Baldwin & Balwdwin, 1986). Na prática, a punição origina “efeitos colaterais” como
emoções negativas (e.g. medo, raiva, tristeza,) que prejudicarão a relação entre aquele que aplica a punição e quem a recebe.
Segundo Gershoff (2002) a aplicação do castigo corporal é uma das mais comuns e controversas punições. Esta punição é utilizada
maioritariamente com a intenção de colocar um ponto final a um comportamento indesejado de forma imediata, sendo, portanto,
uma ação deliberada. Mas, existe o reverso da medalha e com a intencionalidade de parar um comportamento, vem com ela todas
as consequências que, de facto, são tudo menos desejadas ou intencionais. Na realidade, a prática deste tipo de punição produz
efeitos nefastos a longo prazo. Para Reeve (2009) as crianças que sofrem punições corporais, são mais propensas a exibir, em idade
adulta, comportamentos antissociais, de agressividade, criminosos, bem como, uma saúde mental e interiorização moral precárias e
comprometimento na relação progenitor-filho. Efetivamente, a existência de uma relação positiva, de qualidade e saudável entre
pais e filhos revela-se muito mais eficaz, para motivar na de interiorização de valores, ordens e negações.

Custos escondidos da recompensa: Será que ao apresentar uma recompensa externa a uma pessoa, que está envolvida numa
atividade que lhe suscita interesse intrínseco, poderá causar alterações na sua motivação intrínseca? Tendencialmente considera-se
que uma pessoa que realize uma atividade que lhe dê prazer, como praticar exercício físico e que, adicionalmente receba uma
recompensa extrínseca, como dinheiro, por exemplo, terá uma dupla motivação, pois dispõem de algo que a motive tanto intrínseca
como extrinsecamente. Contudo, a literatura mostra exatamente o contrário, revelando que existe um efeito adverso denominado
de “custo escondido da recompensa”. Isto é, verificam-se efeitos colaterais tais como a diminuição da motivação intrínseca,
interferência com a qualidade do processo de aprendizagem e interferência na capacidade de autorregulação.
Recompensas esperadas e tangíveis: Por norma, os indivíduos envolvem-se em comportamentos com o intuito de receber uma
recompensa. Assim, os indivíduos esperam receber uma recompensa para de envolverem num comportamento em particular,
iniciando assim uma lógica cíclica. De forma melhor entender os custos de resposta e as recompensas esperadas e tangíveis,
considere a experiência conduzida por Mark Lepper e colaboradores em crianças de idade pré-escolar, que demonstravam um alto
interesse (motivação intrínseca) em desenhar. Estas crianças foram divididas em 3 grupos e cada um dos grupos estava perante uma
condição experimental diferente: um grupo sabia que teria uma recompensa, outro que não obtinha qualquer recompensa e outro
receberia uma recompensa inesperada. Esta experiência foi repetida na semana seguinte, onde o primeiro grupo indicava que só se
envolvia na tarefa proposta para receber a recompensa, passando menos tempo envolvido na mesma, quando comparado aos
outros 2 grupos, que não demonstraram qualquer sinal de perda de interesse na tarefa. Efetivamente, esta manutenção de interesse
por parte do grupo que recebe uma recompensa inesperada, é um dado extramente importante, pois entende-se que a motivação
extrínseca (i.e., a recompensa prometida) não só não favorece a manutenção da motivação intrínseca, como também a diminui.
Estes dados, foram mais tarde, replicados em diferentes condições experimentais, onde a tarefa, a recompensa e a amostra eram
distintas. Em virtude destes dados, torna-se possível concluir que as recompensas tangíveis ou palpáveis como, por exemplo,
comida, prémios, medalhas, dinheiro, etc., tendem a diminuir a motivação intrínseca. Contrariamente, as recompensas inatingíveis,
isto é, recompensas abstratas e simbólicas, como os elogios, tendem a manter ou aumentar a motivação intrínseca.

Implicações dos custos de resposta: Como foi mencionado anteriormente, recompensas tangíveis pões em risco muito mais do que a
motivação intrínseca. Verificam-se, interferências com o processo de aprendizagem, bem como, com a qualidade da mesma. Isto
verifica-se, pois, estas recompensas acabam por ser distratores, movendo a atenção do aprendiz da aprendizagem para a
recompensa esperada. Consequentemente, os aprendizes tornam-se passivos no seu processo de aprendizagem, sendo a sua
capacidade de pensar menos flexível e menos criativa, dificultando a resolução de problemas. Adicionalmente, estes aprendizes
estão mais sujeitos a emoções negativas como a frustração. Por conseguinte, aprender a depender de recompensas conduz a
alterações no desenvolvimento da autorregulação autónoma. Como foi possível verificar na experiência com as crianças em idade
pré-escolar, aquelas que não recebiam recompensa mantinham o seu foco e total interesse na atividade proposta durante o decorrer
da mesma. O oposto acontece com aquelas que têm em vista a recompensa: estas apenas fazem o necessário para receber a
recompensa, e assim que a recebem, dão por concluída a tarefa, não demonstrando desejo que voltar a realizar a mesma, pois
aquilo que os move são fatores extrínsecos e não o seu próprio interesse. Em última análise, se o ambiente não proporcionar
incentivos e recompensas aliciantes, as pessoas com pouca autorregulação autónoma terão dificuldades em desenvolver motivação
nelas próprias.
Benefícios dos incentivos, consequências e recompensas: Ao reconhecer tudo o que foi mencionado até ao momento, os
investigadores conseguiram encontrar formas de minimizar alguns dos aspetos negativos da aplicação das recompensas extrínsecas,
verificando que não é algo necessariamente contraproducente. Na prática, deve-se recorrer a recompensas que são inesperadas
(e.g. verbais, simbólicas ou abstratas), evitando o uso daquelas que são expectáveis e tangíveis. As recompensas são boas se se
considerar que estas ajudam a transformar uma tarefa desinteressante em algo em que vale a pena perseguir, desde que seja
interessante o suficiente. Por exemplo, um adolescente participará nas tarefas domésticas se isso significar um aumento de mesada.
Isto acontece porque as tarefas domésticas não são particularmente interessantes para a grande maioria da população. Por outras
palavras, se um sujeito, não apresenta motivação intrínseca relativamente a uma tarefa, que possa prejudicar a execução da mesma,
então não haverá um grande risco em aplicar um reforço extrínseco, visto que não há uma motivação interna para afetar. Assim,
será que podemos afirmar que não há qualquer problema em aplicar um reforço ou recompensa extrínseca quando não existe uma
motivação intrínseca devido à natureza aborrecida da tarefa? Não necessariamente. Mas, estas conclusões, parecem ser o início da
história sobre as motivações extrínsecas, como explicado na próxima seção sobre a teoria da avaliação cognitiva.

Teoria da avaliação cognitiva: Através desta teoria vamos conseguir prever o efeito que qualquer evento externo, como incentivos e
consequências, terá nas motivações extrínsecas e desta forma controlar o comportamento de outra pessoa, isto é, aumentar algum
comportamento desejável ou diminuir um comportamento indesejável. Contudo, incentivos e recompensas, podem ter um segundo
propósito, que não o de controlar o comportamento, que é o de informar a pessoa acerca da sua competência na realização da ação
em causa. Recompensas como dinheiro, prémios, boas notas, bolsas académicas e elogios verbais, constituem incentivos para
aumentar o comportamento, isto é, controlar, como também constituem uma forma de comunicar uma mensagem de aprovação de
um trabalho bem feito, isto é, informar acerca da competência da pessoa na matéria ou ação em causa. A teoria de avaliação
cognitiva diz-nos que todos os eventos externos, apresentam quer um carater controlador quer um carater informativo e parte do
pressuposto de que todos os indivíduos têm necessidades psicológicas de autonomia e de competência. O caráter controlador de um
evento externo afeta a necessidade de autonomia. O caráter informativo de um evento externo afeta a necessidade de
competência. A TAC consiste num conjunto de três preposições, conforme descritas abaixo:
Preposição 1: Os eventos externos afetam a motivação intrínseca de uma pessoa quando influenciam o locus de causalidade
percebido (PLOC) para esse comportamento (por exemplo, escolha), porque envolvem a necessidade de autonomia. Eventos que
promovem um PLOC mais externo diminuem a motivação intrínseca e aumentam a motivação extrínseca (recompensa), porque
negligenciam a necessidade de autonomia e estabelecem uma relação entre um comportamento e uma consequência futura,
enquanto eventos que promovem um PLOC mais interno aumentam a motivação intrínseca e diminuem a motivação extrínseca. Para
entender melhor, podemos colocar a questão: O objetivo do evento externo é controlar o comportamento da outra pessoa? Sim,
então, a autonomia e a motivação intrínseca serão afetadas; Não, então, a autonomia e a motivação intrínseca serão preservadas.
Preposição 2: Os eventos externos afetam a motivação intrínseca de uma pessoa para uma atividade desafiadora quando
influenciam a competência percebida da pessoa. Eventos que promovem maior competência percebida aumentarão a motivação
intrínseca (por exemplo, elogios), enquanto aqueles que diminuem a competência percebida (por exemplo, críticas) diminuirão a
motivação intrínseca. Podemos colocar a questão: O objetivo do evento externo é informar o senso de competência da outra
pessoa? Sim, então, a competência percebida e a motivação intrínseca serão afetadas; Não, então, a autonomia e a motivação
intrínseca serão mantidas.
Preposição 3: Esta preposição une as duas primeiras numa declaração teórica completa. O fato de um evento ser maioritariamente
controlador ou informativo, determina os efeitos na motivação intrínseca e extrínseca da seguinte forma (ver Fig). Através desta
proposição percebe-se a utilidade da teoria da avaliação cognitiva, pois é possível prever o efeito que qualquer evento externo pode
ter nas motivações intrínsecas e extrínsecas, conforme vamos ver mais detalhadamente:
Como é que um evento externo qualquer afeta a motivação?
Destina-se a controlar o comportamento? Sim, a autonomia e a motivação intrínseca diminuem; a motivação extrínseca aumenta
Destina-se a informar a competência? Se a informação é positiva, a competência e a motivação intrínseca aumentam / Se a
informação é negativa, a competência e a motivação intrínseca diminuem
Tabela 1. Afetação da motivação devido a eventos externos
Como é que um evento externo qualquer afeta a motivação?

Destina-se a controlar o comportamento? Destina-se a informar a competência?

SIM NÃO SIM NAO


a autonomia e a motivação A autonomia e a motivação Se a informação é positiva, Se a informação é negativa,
intrínseca diminuem; intrínseca mantêm-se altas a competência e a a competência e a
a motivações extrínseca A motivação extrínseca motivação intrínseca motivação intrínseca
aumenta; mantém-se inalterada aumentam diminuem
exemplos: adesivos, bónus,
dinheiro

Exemplo: Um evento externo pode funcionar como um evento controlador ou um evento informativo, seja ele um elogio, dinheiro,
notas, bolsas de estudo, prazos ou competição interpessoal por exemplo.

Elogio: O elogio pode funcionar como evento externo controlador ou informativo, consoante a forma como é aplicado. Vamos ver os
exemplos seguintes: Como evento controlador: “excelente trabalho, você fez exatamente o que deveria”; como evento informativo:
“excelente trabalho, a tua produtividade aumentou 10%”. A utilização de palavras como “deveria” ou “deve”, transmite uma certa
pressão na mensagem. Em oposição, se a mensagem fosse “excelente trabalho, notei que cumprimentou o cliente de forma
calorosa” é transmitida uma informação clara e especifica em relação ao desempenho e competência do funcionário, o que não
aconteceria se a mensagem fosse apenas “trabalho excelente”. Conclusão: O efeito motivacional não está no elogio em si, mas na
forma como é formulado.
Exemplo da Competição: Como evento controlador: Quando há muita pressão por parte do meio para a vitoria, o atleta geralmente
compete com sob uma enorme pressão e com a sensação de que está a fazer o trabalho dos outros. Nestes casos, a competição
diminui a motivação intrínseca porque os atletas preocupam-se mais com a recompensa de vencer, deixando de ser o objetivo o jogo
só por si. Como evento informativo: Quando o contexto social não dá enfase à vitória (por exemplo, quando se trata de uma
competição recreativa ou quando não há publico), os aspetos informativos da competição, tais como vencer, melhorar os resultados
e progredir, tornam-se mais relevantes, porque ganhar ou progredir promove a competência percebida e, portanto, aumenta a
motivação intrínseca. Por outro lado, a perda e a falta, de progresso prejudicam a competência percebida e, portanto, diminuem a
motivação intrínseca. Conclusão: Para que a motivação intrínseca aumente, tanto o sentido de competência como o de autonomia
devem ser altos e quer a competência, quer a autonomia sejam altas, um evento externo precisa ser apresentado de forma não
controladora e sim informativa.
Reflexão Crítica: A partir do momento que percebemos a forma como um evento externo vai influenciar a motivação de uma pessoa
e quando esse evento externo é administrado de forma internacional, poderíamos fazer a seguinte questão: Porque uma pessoa
administraria esse evento a outra pessoa?

Tipos de motivação extrínseca: De acordo com a teoria da autodeterminação, os diferentes tipos de motivação podem ser
organizados ao longo de um continuum de autodeterminação ou locus percebido de causalidade.

Figura 7. Esquema resumo sobre os tipos de motivação extrínseca

A motivação: sem motivação, a pessoa não está intrinsecamente nem extrinsecamente motivada. Por exemplo, um aluno que
abandonou o curso, um atleta desiludido ou um parceiro de casamento apático

Motivação extrínseca - 4 tipos baseados no grau de autonomia: nada autonomo


> regulação externa; um pouco autonomo > regulação introjetada; principalmente autónomo > regulação identificada; totalmente
autónomo > regulação integrada
Motivação intrinseca: reflete o pleno endosso da autonomia do individuo. Por exemplo, as situações em que uma ação gera
satisfação espontânea ao satisfazer as necessidades psicológicas das pessoas.
Desmotivação > Conformidade passiva
Compromisso pessoal ativo > Interesse / prazer

Porque é que é importante identificar os tipos de motivação? Porque a quantidade de autonomia, em qualquer estado motivacional,
tem um efeito considerável sobre o que as pessoas sentem, pensam e fazem. Quanto mais autónoma for a motivação de uma
pessoa, mais esforço ela vai fazer para conseguir o objetivo e mais ela vai conseguir atingir. Quanto mais apoiada autonomamente a
motivação for, mais positivos são os resultados obtidos pela pessoa.
Os quatro tipos de motivação extrínseca:
Regulação Externa: Uma pessoa que se encontra no estado de regulação externa tem dificuldade em iniciar uma tarefa sem que haja
um estímulo externo para o fazer. Por exemplo, o aluno que só começa a estudar apenas quando um teste se aproxima.
- Comportamento regulado externamente;
- O comportamento visa obter uma recompensa externa;
- A presença ou ausência de motivadores extrínsecos regula o aumento ou diminuição da motivação.
Regulação Introjetada: Neste estado de regulação motivacional, a pessoa comporta-se, pensa e sente, de acordo com as convicções
de outra pessoa, isto é, essas convicções não estão ainda completamente internalizadas de forma autêntica e intencional.
- A motivação é orientada pela culpa e tirania do dever;
- A pessoa recompensa-se emocionalmente por realizar um comportamento definido por outros;
- A pessoa pune-se emocionalmente por realizar um mau comportamento definido por outros;
- A internalização ocorreu de forma parcial, isto é, não foi integrada no “eu” de maneira autêntica e intencional. O comportamento é
motivado pelas prescrições de outras pessoas ou da sociedade;
- Implica mudanças de estruturas internas porque o comportamento é regulado por representações internalizadas a partir das
prescrições de outrem, por exemplo, a voz dos pais ou as espectativas culturais.
Regulação Identificada: Neste estado de regulação motivacional, o comportamento assenta em convicções pessoalmente aceites e
consideradas importantes de forma consciente, sendo, portanto, um tipo de motivação mais autónoma. Por exemplo, quando um
aluno passa a acreditar que um investimento extra no estudo da matemática lhe pode trazer benefícios numa carreira nas ciências, a
motivação para estudar é extrínseca, mas é uma escolha livre.
- Representa a motivação extrínseca internalizada
- A pessoa internaliza a forma de pensar e de se comportar, porque são formas que se valoriza e se considera importante, tornando-
se autodeterminada
Regulação Integrada: A regulação integrada é um processo pelo qual os indivíduos transformam completamente os seus valores e
comportamentos identificados no self.
- Tipo de motivação extrínseca mais apoiada pela autonomia;
- Processo de desenvolvimento envolvendo o autoexame necessário para trazer novas maneiras de pensar, sentir e se comportar;
- A integração ocorre num processo de identificação isolada de forma diferenciada em sintonia com a identidade da pessoa;
- Quanto mais a pessoa integra formas de internalizadas de pensar e se comportar, mas o seu comportamento, resultante de
motivações extrínsecas, se torna autodeterminado;
- Este tipo de regulação está associado a resultados mais positivos, como desenvolvimento pró-social e bem-estar psicológico
Em última análise, segundo a teoria da autodeterminação, quanto mais autodeterminada é a motivação extrínseca de uma pessoa,
melhor é o seu funcionamento, tais como o desempenho escolar e um maior bem-estar psicológico.
Exemplo comparativo dos quatro tipos de motivação extrínseca, analisando as diferentes razões de “porque é que eu faço
reciclagem?”
Tipo de ME Contingência externa A razão de eu reciclar Citação ilustrativa
em jogo
Regulação Externa Incentivos, Para obter uma Eu faço reciclagem para
consequências consequência obter 5 cêntimos por lata.
Regulação Introjetada Evitar a culpa, aumentar Porque devo Eu reciclo porque devo e
a autoestima vou sentir-me bem comigo
próprio.
Regulação identificada Valorização, senso de Porque é importante Eu reciclo porque é
importância importante para um
ambiente mais limpo.
Regulação integrada Congruência de valor Porque reflete os meus Eu reciclo porque reflete e
valores expressa quem sou e no
que acredito.

Este exemplo ilustra bem que a regulação é externa quando o comportamento é motivado por compulsões externas e para obter
um incentivo, recompensa, isto é, baseia-se na consequência, logo sem senso de autonomia. Quando a motivação é de regulação
introjetada, as pessoas comportam-se para evitar emoções de controlo interno, como a culpa e vergonha, logo com muito pouca
autonomia. Por outro lado, quando a motivação é de regulação identificada e integrada, as pessoas envolvem-se nas ações porque
querem e escolhem e porque essa atividade é importante ou útil para si próprio, ou seja, agem de forma autónoma.

Como motivar os outros para participarem em atividades desinteressantes? Enfrentamos uma tarefa algo complicada quando
tentamos motivar terceiros a participarem em atividades que não lhes despertam interesse, mas que sabemos que o esforço será
recompensador, a longo prazo. Uma solução para resolver este problema pode passar por utilizar incentivos, consequências e
recompensas de modo a encorajar, no outro, a sensação de “vale a pena fazer”. Adicionalmente, oferecer uma explicação que
aponte para as vantagens de dita atividade, parece ser uma forma de promover a participação do outro na tarefa e de aumentar a
sua motivação para a realização da mesma (Deci, Eghrari, Patrick & Leone, 1994). Tanto Deci e colaboradores (1994) como Reeve e
colaboradores (2002) concluem que os indivíduos que ouvem uma explicação convincente relevam aplicar um maior esforço na
atividade quando comparados com indivíduos que não ouviram tal explicação. Isto acontece, pois, a explicação pode desencadear
valorização, internalização, bem como, regulação. Por conseguinte, o indivíduo começa a encarar a atividade como algo importante,
motivando o esforço que é necessário para a realização da mesma. Verifica-se, desta forma, uma mudança de valores relativamente
à atividade em questão. É possível apontar vários fatores para explicar como a motivação e interesse crescer. Para Berlyne (1966) a
novidade da atividade é um fator a considerar. Por outro lado, a adequação da atividade às necessidades individuais de um sujeito,
tem um igual contributo para o aumento da motivação e do interesse (Danner & Lonky, 1981; Deci, 1992b; Gibson, 1988; Malone,
1981). Além disso, o conhecimento prévio releva-se um grande contributo, visto que, quando mais se conhece sobre um tema, mas
interessante este se torna. Paralelamente, quanto maior o interesse, maior a motivação para continuar a relacionar-se com
atividade.
Desenvolvimento de Interesse: Para melhor compreendemos o conceito de interesse, é fundamental perceber que este é
exclusivamente derivado de um estado motivacional condicionado pela atração a uma dada área ou atividade, influenciando
variantes comportamentais como o esforço, atenção e consequentemente, a capacidade de aprendizagem sobre estas.
Aprofundando o tema tratado nesta secção, considera-se que o interesse se apresenta sobre duas formas distintas, sendo estas o
“Interesse Situacional” e o “Interesse individual”. O Interesse Situacional surge de um estimulante externo para o individuo e tem
um tempo de vida curto. Exemplificando, um sujeito ao entrar num espaço pode reparar num objeto ou atividade, quer por este ser
uma novidade ou simplesmente algo que satisfaça as suas necessidades ou objetivos. Assim sendo, com base no interesse
situacional, algo que esteja presente no ambiente onde o sujeito está inserido desperta o seu interesse e consequentemente este
interesse de curta duração promove a interação com o objeto ou atividade em questão naquele momento. Em comparação com
Interesse Situacional, o Interesse Individual é mais estável e orientado para uma área ou atividade em particular. Este desenvolve-se
ao longo do tempo com base no histórico de evolução comportamental do indivíduo o que acaba por criar uma preferência clara
para que atividades ou áreas este se deve focar. Por exemplo, o gosto musical por um género de música de um dado sujeito fará com
que este se mantenha mais atualizado com esse estilo musical em comparação a outro. Diversos fatores podem explicar como é que
o interesse se desenvolve em cada individuo. Usualmente, este começa por despertar com uma atividade que satisfaça as nossas
necessidades ou que nos seja inovadora. Por outro lado, o próprio conhecimento ou experiência que temos sobre um dado tema
pode gerar interesse de forma cíclica, ou seja, quanto mais aprendemos sobre algo, mais queremos saber sobre esse mesmo tema
ou objeto, e assim sucessivamente. Em suma, independentemente do tipo de interesse que é gerado, um indivíduo é propício a
interagir com o objeto ou tema adquirindo novos conhecimentos e aumentando o seu reportório de experiências, afetando o seu
desenvolvimento.

Conclusão: Com este trabalho conseguimos entender que a motivação extrínseca surge de uma razão criada pelo ambiente para
iniciar uma ação, e que, por sua vez, a motivação intrínseca surge de razões internas (e.g. interesse, necessidades, desejos, etc.) para
iniciar uma ação. Adicionalmente, compreendemos como o estudo da motivação extrínseca gira em torno do condicionamento
operante e dos seus conceitos centrais de incentivos, consequências e recompensas. A aplicação de incentivos, consequências e
recompensas apresentam vantagens e desvantagens, sendo uma destas desvantagens os custos escondidos da recompensa. Com a
teoria da avaliação cognitiva foi possível entender como podemos aplicar na prática eventos externos para estimular a motivação
intrínseca. Além disso, exploramos ainda como se pode estimular o interesse de alguém numa atividade desinteressantes e construir
interesse para a mesma.

FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS E ORIENTAÇÃO PARA A AÇÃO


Resumo: A perspetiva cognitiva da motivação foca os processos mentais, incluindo constructos como crenças, expectativas,
objetivos, planos, julgamentos, valores e o autoconceito, como determinantes causais para a ação. Deste modo, o estudo cognitivo
da motivação preocupa-se com a sequência cognição-ação, abordando o significado motivacional dos quatro elementos na
sequência cognição-ação: 1. Planos (Miller et al., 1960); 2. Objetivos (Locke & Latham, 2002); 3. Intenções de implementação
(Gollwitzer, 1999); 4. Simulações mentais (Taylor, Pham, Rivkin e Armor, 1998).
Os planos e objetivos dependem da discrepância como força motivacional para a ação. As discrepâncias cognitivas explicam a
motivação destacando como as incompatibilidades entre o estado atual da pessoa e o estado ideal energizam e direcionam a ação.
Existem dois tipos de processos associados às discrepâncias: redução de discrepâncias e criação de discrepâncias. A redução de
discrepâncias corresponde à motivação corretiva baseada em planos, enquanto a criação de discrepância corresponde à motivação
de estabelecimento de objetivos. Pressupôe que as pessoas estão conscientes do estado atual do seu comportamento, ambiente e
dos eventos presentes nas suas vidas, imaginando estados ideais para os mesmos. Quando existe uma incompatibilidade entre o
estado atual e o estado ideal, a incongruência produz uma motivação corretiva geral que dá origem ao comportamento direcionado
ao plano capaz de reduzir, ou remover totalmente, a discrepância.
As metas são os objetivos que as pessoas se esforçam para alcançar. Objetivos difíceis e específicos geralmente melhoram o
desempenho, produzindo efeitos motivacionais. Os objetivos difíceis mobilizam esforços e aumentam a persistência, enquanto os
objetivos específicos direcionam a atenção e promovem o planeamento estratégico. Para que os objetivos melhorem o desempenho,
há duas condições necessárias, nomeadamente, o feedback e a aceitação. Com o feedback, um indivíduo pode avaliar o seu
desempenho como estando no nível, acima ou abaixo do padrão do objetivo. O desempenho abaixo do nível do objetivo gera
insatisfação que fundamenta o desejo de melhorar, o desempenho acima do nível do objetivo gera satisfação que fundamenta a
vontade de estabelecer objetivos mais difíceis no futuro. A aceitação do objetivo refere-se ao processo no qual o indivíduo aceita o
objetivo atribuído de outra pessoa como seu. Uma vez que o objetivo foi definido, ele não se traduz automaticamente e
inevitavelmente num desempenho eficaz. Isto ocorre devido às pessoas terem dificuldade para começar a realizar o objetivo e
também para persistir e terminar quando deparadas com distrações e interrupções inevitáveis. No esforço de transformar os seus
objetivos em ações, os indivíduos beneficiam da formulação de intenções de implementação que especificam um plano de quando,
onde e por quanto tempo se deve agir, ajudando o indivíduo a superar os problemas associados com o início, a persistência em face
das dificuldades e a retomada da ação na direção do objetivo quando interrompida. Assim, indivíduos que definem intenções de
implementação antes da ação direcionada a metas têm mais probabilidade de atingir e completar as suas metas do que indivíduos
que não definem intenções de implementação.

PLANOS
George Miller, Eugene Galanter e Karl Pribram foram pioneiros no estudo cognitivo contemporâneo da motivação no qual
investigaram como os planos motivam o comportamento. Estes autores defendiam que as pessoas possuem representações mentais
dos estados ideais e atuais dos seus comportamentos, objetos ambientais e eventos, sendo que qualquer incongruência sentida
entre ambos provoca desconforto suficiente para formularem e agirem num plano de ação para a remover a incongruência,
tornando o estado atual no estado ideal. Deste modo, a incongruência fornece a energia (motivação) e o plano organiza o nosso
comportamento fornecendo a direção para o estado ideal. Como por exemplo, as pessoas têm em mente como seria um passe de
ténis ideal (comportamento ideal), o que seria um presente de aniversário ideal (objeto ambiental ideal) e o que constitui uma noite
ideal na cidade (evento ideal), tendo conhecimento do seu passe de ténis atual (comportamento atual), presente (objeto). Esta
perspetiva é explicada pelo Modelo Teste-Operação-Teste-Saída (TOTE), em que o Teste consiste em comparar o estado atual com o
ideal, uma incompatibilidade entre estes (incongruência) leva o indivíduo à ação, ou seja, motiva o indivíduo a operar no ambiente
por meio de uma sequência planeada de ação. Após um período de ação, o indivíduo testa novamente o estado atual contra o ideal.
Se o feedback revela que a incongruência continua a persistir, então o indivíduo continua a operar no ambiente (TOTOTO, e assim
por diante). Se e sempre que o estado atual corresponder ao ideal, isto é, não houver incongruência a pessoa sai do plano (saída).
Como exemplo, quando vamos ao espelho para verificar se o nosso cabelo está bem, nós “testamos” ou comparamos a maneira
como o cabelo está no espelho com a maneira que queremos que o cabelo fique. Se o cabelo estiver bem, paramos de o pentear e
afastamo-nos do espelho. Mas se houver incompatibilidade entre o nosso cabelo atual e nosso cabelo ideal, então “operamos” por
meio de um plano de ação – pentear o cabelo, tomar banho, usar spray de cabelo, etc.

Motivação corretiva: Dada a incongruência entre o estado presente e o estado ideal, os planos alteram e sofrem modificações assim
como o comportamento do indivíduo. Deste modo, os planos são descritos como ajustáveis e sujeitos a revisão, permitindo aos seres
humanos optar entre agir (“operar”) para alcançar o estado ideal ou alterar e rever o plano ineficaz num determinado conjunto de
circunstâncias, sendo estes tomadores de decisões ativos. Deste ponto de vista, a incongruência origina uma “motivação corretiva”,
sendo esta um processo dinâmico e flexível que energiza o indivíduo a seguir o curso mais adaptativo (agir para alcançar o estado
ideal, mas também estar pronto para alterar um plano ineficaz). A motivação corretiva envolve emoção que é gerada através do
processo de remoção de incongruências, isto é, quando um indivíduo progride em direção ao seu estado ideal a níveis iguais às suas
expectativas, este sentirá pouca emoção. Contrariamente, num indivíduo que progride a um ritmo mais lento do que o esperado, a
discrepância persistente produzirá emoções negativas como ansiedade e frustração; e num individuo que progride a níveis mais
rápidos do que o esperado, a redução da discrepância produzirá emoções positivas como esperança e alegria.

Discrepância: Quando o estado atual fica aquém do estado ideal esperado, uma discrepância (incongruência) é exposta. Esta tem
propriedades motivacionais, uma vez que cria o sentido de querer mudar o estado presente de maneira que este se aproxime do
estado ideal. Existem dois tipos de discrepância: a redução de discrepâncias e a criação de discrepâncias. A redução de discrepância
baseia-se no feedback, que o ambiente fornece, acerca do quão bem ou mal o nível de desempenho atual do sujeito corresponde ao
nível de desempenho ideal, por exemplo em contexto laboral, o supervisor pode dizer ao vendedor que 10 vendas não são
suficientes e 15 vendas são necessárias. Posteriormente, a criação de discrepância é baseada num sistema de “feed-forward” no qual
o sujeito olha para a frente e define deliberadamente um objetivo futuro mais elevado e não requer feedback para impô-lo, por
exemplo, o vendedor pode decidir tentar 15 vendas numa semana em vez das 10 habituais. Estas apresentam duas distinções
importantes: (1) A redução de discrepâncias corresponde à motivação corretiva baseada em planos, enquanto a criação de
discrepâncias corresponde à motivação de estabelecimento de metas; (2) a redução de discrepâncias é reativa, consiste na
superação de dificuldades e foca-se num sistema de feedback, enquanto a criação de discrepâncias é proactiva, busca o crescimento
e centra-se num sistema de “feed-forward”.

OBJECTIVOS
Definição de meta: Um objetivo é tudo o que o indivíduo se esforça para realizar, por exemplo, quando um sujeito se esforça para
vender 100 caixas de biscoitos, este envolve-se num comportamento direcionado a determinado objetivo. Deste modo, as metas
geram motivação ao focar a atenção das pessoas na discrepância entre o seu estado atual ao nível da realização (nenhuma caixa de
biscoitos vendida) e o estado ideal (100 caixas vendidas até ao fim do mês). Esta discrepância denomina-se de “discrepância meta-
desempenho”.
Discrepância entre meta e desempenho: As pessoas que criam metas para si mesmas e as que aceitam as metas que os outros
estabelecem para elas têm um desempenho melhor do que aquelas que não criam ou aceitam tais metas. Por exemplo, num estudo
em que alunos do ensino fundamental realizaram abdominais por 2 minutos, alguns estabeleceram uma meta para si mesmos de
quantos abdominais eles realizariam durante os 2 minutos (grupo de definição de metas), enquanto outros simplesmente
completavam abdominais sem um objetivo predefinido (grupo sem objetivo). Com efeito, os alunos que estabeleceram metas
completaram significativamente mais abdominais do que os alunos sem metas, ou seja, a presença de um objetivo energizava e
direcionava seu desempenho de uma forma que a ausência de um objetivo não fazia. A definição de metas melhora o desempenho,
mas o tipo de meta que se define é uma determinante chave para que uma meta se traduza em ganhos de desempenho, pois as
metas variam em quão difíceis são e em quão específicas são.

Dificuldade da meta: A dificuldade do objetivo refere-se ao quão difícil é atingir um objetivo. Quanto mais difícil o objetivo, mais
energiza o executante. Ou seja, metas fáceis estimulam pouco esforço, metas médias estimulam esforço moderado e metas difíceis
estimulam alto esforço. O esforço corresponde à magnitude da dificuldade da meta, em termos da discrepância entre meta e
desempenho.

Especificidade da meta: A especificidade do objetivo refere-se à clareza com que um objetivo informa o executor precisamente do
que ele deve fazer. Por exemplo, dizer a um escritor para “fazer o seu melhor” é apenas uma declaração ambígua que não deixa
claro exatamente o que a pessoa deve fazer, enquanto dizer a um escritor para ter um primeiro rascunho em 1 semana, um
rascunho revisto em 2 semanas e um manuscrito final em 3 semanas especifica com mais precisão o que o escritor deve fazer e
quando deve fazê-lo. Assim, a especificidade da meta é importante pois objetivos específicos chamam a atenção para o que se
precisa de fazer e reduz a ambiguidade no pensamento e a variabilidade no desempenho. Quanto ao pensamento ambíguo, um
objetivo vago como “estudar muito” pode ser interpretado como “ler um capítulo” por um aluno e pode ser entendido como “ler um
capítulo, fazer anotações, revê-lo e formar um grupo de estudo para discuti-lo” por outro aluno. Quanto ao desempenho variável,
um objetivo vago (por exemplo, “trabalhar rapidamente” ou “ler muito”) produz uma gama relativamente ampla de desempenhos
em comparação com dar a um grupo de executores um objetivo específico (por exemplo, “completar a tarefa nos próximos 3
minutos” ou “leia 100 páginas”), que produz uma gama relativamente estreita de performances que giram em torno do nível da
meta.

Objetivos difíceis e específicos melhoram o desempenho: As metas nem sempre melhoram o desempenho. Somente os objetivos
que são difíceis e específicos o fazem. A razão pela qual os objetivos difíceis e específicos aumentam o desempenho, enquanto
objetivos fáceis e vagos não, é uma razão motivacional. Os objetivos difíceis energizam o indivíduo, e objetivos específicos
direcionam-no para um determinado curso de ação. Assim, as metas precisam de ser difíceis para criar energia e para direcionar o
foco. Quanto mais difícil for o objetivo, maior vai ser o esforço e a persistência despendida pelo executor para realizá-la. As pessoas
elevam o seu nível de desempenho até os níveis de metas desejadas, pois metas difíceis energizam o esforço e a persistência,
enquanto metas específicas direcionam a atenção para a tarefa e o planeamento estratégico. Os objetivos geram motivação, mas a
motivação é apenas uma das causas subjacentes ao desempenho. O desempenho também está associado a fatores que não são
motivacionais, como a habilidade, a orientação, o treinamento. Como esses fatores também contribuem para a qualidade do
desempenho, não existe correspondência direta entre metas e desempenho. Deste modo, se duas pessoas têm habilidade,
orientação, treino e recursos comparáveis, então as pessoas com objetivos difíceis e específicos irão provavelmente superar as que
não têm esses objetivos.
Feedback: Uma variável adicional que é crucial para tornar o estabelecimento de metas eficaz é o feedback. O feedback, ou
conhecimento dos resultados, permite que as pessoas acompanhem qualquer progresso em direção ao seu objetivo, ou seja, uma
pessoa precisa tanto de um objetivo quanto de feedback para maximizar o desempenho. Sem feedback, o desempenho pode ser
emocionalmente sem importância e sem envolvimento. A combinação de metas com feedback produz uma mistura emocionalmente
significativa: quando concluímos uma determinada meta, essa gera satisfação emocional, por oposição o fracasso de realização de
uma meta gera insatisfação emocional. Tanto a satisfação quanto a insatisfação têm propriedades motivacionais. A satisfação
sentida contribui favoravelmente para o processo de criação de discrepâncias. Quando o feedback mostra ao indivíduo que ele está a
conseguir alcançar a meta que definiu, o indivíduo sente-se satisfeito e competente o suficiente para criar uma meta mais alta e mais
difícil, ou seja, pessoas com metas trabalham mais, de forma mais inteligente, com mais foco, maior esforço, persistência,
planeamento estratégico e atenção. Contrariamente, a insatisfação contribui favoravelmente para o processo de redução de
discrepâncias. Quando o feedback que é dado mostra ao indivíduo que ele está a ter um desempenho abaixo da meta estabelecida,
o indivíduo sente-se insatisfeito e torna-se profundamente consciente da discrepância, o suficiente para ordenar um esforço maior e
eliminar a incongruência (meta desempenho - processo de redução de discrepâncias). O feedback, portanto, fornece o impulso
emocional que continuamente envolve o processo de definição de metas em experiências emocionais de satisfação e insatisfação
sentidas.
Aceitação de meta: Uma terceira condição que é necessária antes que as metas se traduzam em ganhos de desempenho é a
aceitação de metas. A aceitação de metas é uma variável crítica quando o estabelecimento de metas ocorre no contexto de um
relacionamento interpessoal em que uma pessoa tenta fornecer uma meta a outra. A aceitação da meta envolve a decisão da pessoa
de aceitar ou rejeitar a meta. Apenas metas aceites melhoram o desempenho, pois geram comprometimento com as mesmas. Se a
pessoa aceitar totalmente a meta imposta externamente por outra pessoa, o processo de definição de metas prossegue, se a meta
for rejeitada não prossegue. Existem quatro fatores que determinam se uma meta estabelecida externamente será aceite ou
rejeitada: (1) dificuldade percebida da meta imposta; (2) participação no processo de definição de metas; (3) credibilidade da pessoa
que contribui a meta; (4) incentivos extrínsecos. Quanto à dificuldade percebida da meta imposta, a aceitação da meta está
relacionada com a sua dificuldade. À medida que a pessoa contempla se deve ou não aceitar a meta imposta, ela primeiro avalia a
sua dificuldade. Metas fáceis de alcançar geralmente geram aceitação, enquanto metas difíceis geram rejeição. O segundo fator que
afeta a aceitação de metas é a participação no processo de definição de metas. Se o ator define o objetivo por si mesmo, ele é
imediatamente aceite. Com um objetivo imposto externamente, as pessoas aceitam os objetivos atribuídos quando os outros ouvem
atentamente o seu ponto de vista e também fornecem uma razão clara do porquê de acharem que o objetivo é bom. A credibilidade
da pessoa que atribui a meta refere-se ao quão confiável, solidário, conhecedor e simpático o executor percebe que essa pessoa é.
Quando incentivos extrínsecos são contingentes ao alcance da meta, a aceitação da meta por parte de um profissional aumenta
proporcionalmente aos benefícios percebidos de atingir a meta (Ex: dinheiro, reconhecimento público, bolsas de estudo). No geral, a
aceitação de metas é mais alta quando as metas são percebidas como fáceis ou apenas moderadamente difíceis, são atribuídas por
outros credíveis e confiáveis e prometem benefícios pessoais futuros.

Críticas ao estabelecimento de metas: O estabelecimento de metas tem as suas vantagens, mas também tem os seus cuidados e
armadilhas. O primeiro cuidado associado é que o seu objetivo é melhorar o desempenho, não necessariamente a motivação. O
segundo cuidado é que a definição de metas funciona melhor quando as tarefas são relativamente desinteressantes e requerem
apenas um procedimento direto (digitar, somar números, fazer abdominais). O terceiro cuidado a ter é que as metas, por vezes, são
administradas de maneira controladora, indutora de pressão e intrusiva e, portanto, pode interferir com a criatividade, motivação,
autonomia, flexibilidade cognitiva e paixão pessoal pelo trabalho. A definição de metas ajuda no desempenho de tarefas simples e
desinteressantes, gerando motivação que a tarefa em si não pode gerar. Em tarefas que são inerentemente interessantes e
requerem criatividade ou resolução de problemas, o estabelecimento de metas não melhora o desempenho.

Definição de metas de longo prazo: Em relação à proximidade do objetivo, podemos definir 3 tipos: os objetivos de curto prazo, a
longo prazo, e ainda uma combinação de objetivos de curto e longo prazo, sendo que não existe diferenças no desempenho entre os
indivíduos quanto a estes objetivos, no entanto todos superam o desempenho de indivíduos sem objetivos definidos. Em vez de
afetar o desempenho em si, a proximidade do objetivo afeta a persistência e a motivação. Quanto à persistência muitos indivíduos
acabam por perder os seus objetivos de longo prazo devido à falta de reforços positivos ao longo do caminho. Nestes casos, como os
indivíduos recebem oportunidades insuficientes de feedback de desempenho e reforço positivo, a sua persistência beneficia do
estabelecimento de um conjunto de objetivos de curto prazo que se encadeiam para terminar no objetivo de longo prazo. Os
objetivos de curto prazo fornecem repetidas oportunidades de reforço de compromisso após a realização de tarefas que os objetivos
de longo prazo não fornecem. Estes também fornecem oportunidades repetidas de feedback que permitem ao executor avaliar o
desempenho como estando dentro, acima ou abaixo do objetivo.
A definição de objetivos tem um impacto significativo na motivação intrínseca. Em tarefas desinteressantes, objetivos de curto prazo
criam oportunidades para feedback positivo, a experiência de progredir e um meio de nutrir um sentimento de competência, o que
aumenta a motivação. Todavia, em tarefas interessantes apenas objetivos de longo prazo facilitam a motivação, pois, para o
executor, os objetivos de curto prazo são vistos como supérfluos (desnecessário), intrusivos e controladores. As pessoas preferem
perseguir objetivos de longo prazo à sua maneira, e esse sentimento de autonomia explica por que os objetivos de longo prazo
podem aumentar a motivação intrínseca. Os objetivos de longo prazo por norma existem como estruturas cognitivas complexas. Já
os objetivos de curto prazo podem ser considerados como alvos comportamentais específicos, como, por exemplo, encontrar um
emprego ou começar a ir ao ginásio. Para exemplificar melhor os objetivos de longo prazo como estruturas de rede cognitiva,
podemos analisar a situação de um aspirante a pianista. No topo da estrutura da rede de objetivos situam-se os objetivos mais
abstratos (e de longo prazo) do pianista, e na parte inferior estão os objetivos mais concretos (e de curto prazo). Cada aspiração está
interconectada entre si no sentido de que cada uma compartilha o objetivo geral de longo prazo do músico de se tornar um pianista
de concerto. Além disso, cada aspiração está conectada em um fluxo causal em que a realização de um objetivo de curto prazo
aumenta a probabilidade de atingir o próximo objetivo de curto prazo, enquanto o fracasso em atingir um objetivo diminui a
probabilidade de atingir outro.
Obtenção de meta: A definição de objetivos é uma boa estratégia de intervenção motivacional para ajudar as pessoas a realizar as
coisas que desejam. O estabelecimento eficaz de objetivos envolve seguir e implementar esses procedimentos sequenciais: (1)
identificar o objetivo a ser alcançado; (2) definir a dificuldade do objetivo; (3) esclarecer a especificidade do objetivo; (4) especificar
como e quando o desempenho será medido. Dado o processo de definição de objetivos e o planeamento para formular as intenções
de implementações, passa-se a ter um objetivo e um plano de ação para quando, onde e como o comportamento direcionado a
objetivos se desenvolverá.

SIMULAÇÕES MENTAIS: ORIENTAÇÃO PARA AÇÃO


Foram realizados uma série de estudos projetados para testar o conselho de “visualizar o sucesso”. Nestes estudos, os participantes
(1) focavam no objetivo que desejavam atingir, (2) focavam em como o atingir, ou (3) não focavam em nada em particular (grupo de
controle), e assim, concluiu-se que concentrar-se no objetivo de facto interfere na obtenção do objetivo. Quando os participantes
focavam a atenção no objetivo em si efetivamente falhavam como estratégia motivacional. No entanto, quando se focavam em
como atingir o objetivo, isso facilitou o seu alcance. As simulações mentais não são fantasias de sucesso ou episódios de ilusões.
Extrair a diferença entre o conteúdo de um objetivo e o processo para o atingir é uma distinção importante, pois a visualização de
fantasias de sucesso (pensamento positivo) não produz comportamentos produtivos. Em vez de focar nos resultados as simulações
mentais focam se no planeamento e na resolução de problemas para atingir os objetivos (no processo). Este é o tipo de esforço
mental que produz uma ação produtiva dirigida a objetivos. Para ilustrar melhor esta perspetiva, podemos apresentar duas
instruções que foram dadas a alunos: Simulação de resultados (foco no objetivo) - “Visualize-se a obter uma nota alta a psicologia ...
imagine como se sentiria”; Simulação de processo (foco nas intenções de implementação) - “Visualize-se a estudar para um teste de
tal forma que o leva a obter uma nota alta. A partir de hoje e nos dias restantes antes do teste, imagine como estudaria para obter
uma nota alta a psicologia.” Resumindo, a primeira instrução basicamente pedia aos alunos para que ensaiassem experimentando a
alegria do sucesso, enquanto a segunda instrução pedia que se envolvessem no planeamento e na resolução de problemas. Concluiu
se então que, os alunos na condição de simulação de resultados estudaram menos e, consequentemente, obtiveram pontuações
mais baixas no teste. Contrariamente, os alunos na condição de simulação de processo estudaram mais e obtiveram melhores notas
nos testes. Isto leva-nos a acreditar que concentrar no sucesso pode desenvolver esperança, mas não promove um comportamento
produtivo de busca de resultados- objetivos. Para facilitar a ação, as pessoas precisam de simular mentalmente um processo de
alcance de objetivos – o meio pelo qual elas alcançarão o fim que aspiram.

INTENÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO DE OBJETIVOS:


Quando as pessoas não conseguem realizar os objetivos que estabeleceram para si mesmas, o problema pode estar repartido em
duas situações. A primeira é a forma de como as pessoas estabelecem os seus objetivos (por exemplo, se o objetivo é difícil ou
específico), a outra é simplesmente as pessoas não agirem de acordo com os objetivos que estabeleceram para si mesmas. Como diz
o velho ditado: “Um objetivo sem um plano é apenas um sonho”. Uma intenção de implementação é um plano para levar a cabo o
comportamento dirigido a um objetivo, decidindo antecipadamente o objetivo e, posteriormente, o esforço subjacente à ação
direcionada ao mesmo. O planeamento do processo de busca de objetivos, de como se atingirá um objetivo, acaba por ser uma parte
integrante da relação objetivo-desempenho. Uma das principais razões pelas quais as pessoas falham em atingir os seus objetivos é
que muitas vezes não conseguem desenvolver planos de ação específicos sobre como atingirão os seus objetivos, isto é, não
especificam como vão iniciar a sua ação direcionada a objetivos nem como irão garantir a sua persistência diante de distrações e
interrupções. Em contraste, quando as pessoas com objetivos também especificam as intenções de implementação, elas aumentam
fortemente as suas chances de atingir um objetivo final. Planear como realizar um objetivo permite que o indivíduo supere os
inevitáveis problemas associados ao comportamento direcionado a objetivos. Quando um objetivo é definido e comprometido, os
seguintes problemas podem surgir: começar, apesar das distrações diárias; persistir, apesar das dificuldades e contratempos;
retomar, quando ocorre uma interrupção. Posto isto, as intenções de implementação são uma parte importante da compreensão da
motivação, dado que, uma coisa é definir um objetivo, outra é alcançá-lo. Para definir e atingir um objetivo, é preciso soluções para
os tipos de problemas acima referidos. Todos os objetivos levam tempo, mas o tempo tem a tendência para criar distrações,
dificuldades e interrupções. Com efeito, as intenções de implementação protegem os indivíduos contra serem vítimas destes
problemas.
Na primeira experiência sobre intenções de implementação, os investigadores perguntaram a estudantes universitários que iriam
para casa nas férias de Natal como planeavam gastar o seu tempo e o que pretendiam fazer (por exemplo, ler um livro). Os
investigadores pediram a metade dos alunos para formar intenções explícitas de implementação para o seu objetivo, pedindo-lhes
para escolher um horário específico e um local específico para realizar a ação direcionada ao objetivo. A outra metade dos alunos
não foi solicitada a especificar um horário e um local para seu comportamento direcionado a objetivos, em vez disso, foram
simplesmente incentivados a fazer o melhor para atingir o seu objetivo. Quando os alunos regressaram, a maioria dos alunos do
grupo de intenções de implementação de facto atingiu o seu objetivo, enquanto apenas uma minoria de alunos do grupo de controle
atingiu o seu objetivo. Além disso, quanto mais difícil o objetivo era atingir, mais importante era a formação de intenções de
implementação para essas taxas de conclusão. O efeito motivacional de uma intenção de implementação é vincular o
comportamento direcionado ao objetivo a uma sugestão situacional (por exemplo, a um tempo e lugar) para que o comportamento
direcionado ao objetivo seja realizado automaticamente, sem deliberação consciente ou tomada de decisão. Com uma intenção de
implementação em mente (por exemplo, dia 20 de novembro às 09:00 da manhã vou fazer exercício físico), a presença da sugestão
facilita a implementação da ação de forma rápida e sem esforço. Ou seja, uma vez formada uma intenção a mera presença da
sugestão situacional antecipada inicia automaticamente a ação direcionada ao objetivo. Quando tal intenção não é formada, estes
objetivos podem sofrer o mesmo destino que uma resolução típica de Ano Novo. As intenções de implementação facilitam o
comportamento direcionado a objetivos de duas maneiras: começar e terminar. Começar com o comportamento direcionado a
objetivos é um problema quando as pessoas deixam passar boas oportunidades de perseguir os seus objetivos, como, por exemplo
“Eu tive o dia todo para ler o capítulo, mas nunca me sentei para lê-lo”. E terminar é um problema quando as pessoas são
interrompidas ou distraídas e enfrentam dificuldades, como, por exemplo “Comecei a ler o capítulo, mas o telefone tocou e nunca
mais voltei ao livro”.

Perseguição de objetivos – Iniciar: As intenções de implementação criam hábitos. Decidir com antecedência quando e onde uma
pessoa irá adotar o seu comportamento direcionado a objetivos facilita o início. Como, por exemplo, as mulheres que escrevem
quando e onde irão realizar o autoexame das mamas fizeram-no 100% das vezes durante o mês seguinte, enquanto as mulheres que
simplesmente têm o objetivo de realizar um autoexame das mamas fizeram-no apenas 53% das vezes. Assim, apesar de os dois
grupos de mulheres terem o mesmo objetivo, estes obtiveram resultados diferentes. Estes estudos deixam claro que atingir
objetivos requer não só o estabelecimento efetivo de objetivos, mas também um período de pré ação em que se decide quando,
onde e como esse objetivo será implementado.

Perseguição de objetivos - Persistência e Finalização: Uma vez iniciada a perseguição de um objetivo, as pessoas muitas vezes
enfrentam circunstâncias mais difíceis do que esperavam. Encontram distrações e interrupções e enfrentam a perspetiva de começar
tudo de novo. Porém, as intenções de implementação facilitam a persistência, ajudando as pessoas a antecipar uma dificuldade
futura e, portanto, formar uma intenção do que farão, uma vez que a dificuldade vem a caminho. As intenções de implementação
criam um tipo de foco que restringe o campo de atenção de uma pessoa para incluir ações direcionadas a objetivos, mas para excluir
distrações. Exemplificando, um grupo de alunos foram colocados perante um ecrã de computador e foram solicitados a resolver um
conjunto de problemas matemáticos que exigiam atenção, enquanto eram distraídos por videoclipes de comerciais exibidos em
momentos aleatórios em um monitor de televisão montado logo acima da tela do computador. Alguns dos alunos foram solicitados a
formar uma intenção de implementação (não se deixarem distrair pelos videoclipes que passam no monitor), enquanto outros não.
Os alunos que formaram a intenção de implementação antes de resolver os problemas matemáticos resolveram mais problemas do
que os alunos que não formaram a intenção de inibição de distração. Sem uma intenção de implementação, os alunos estavam
vulneráveis à distração. As intenções de implementação não só ajudam as pessoas a não se distraírem no decorrer do objetivo, mas
também ajudam as pessoas a concluir objetivos. Não importa se o problema está a começar ou a terminar, dedicar o tempo
necessário para planear como, quando, onde e por quanto tempo o comportamento direcionado a um objetivo, aumenta a chance
de o indivíduo realizar o objetivo presente. É claro que definir o objetivo é uma parte crucial da relação objetivo-desempenho, mas a
adição de intenções de implementação ajuda a fechar a lacuna que geralmente existe entre estabelecer um objetivo e realmente
executá-lo.

Conclusão: Atender à “motivação como cognição”, remete mais especificamente para as noções de planos, objetivos, intenções de
implementação e simulações mentais, sendo estas suportadas pelo conceito de discrepância entre o estado atual e o estado ideal.
Os planos são uma sequência de ações concebidas de modo a alcançarmos um certo objetivo. Estes dependem da motivação
corretiva, que é um processo dinâmico e flexível que nos motiva a atingir a meta pretendida, e dos dois tipos de discrepância
(redução de discrepâncias e criação de discrepâncias). Os objetivos são metas que as pessoas se esforçam para alcançar, quanto mais
difíceis e específicos (dificuldade e especificidade da meta), maior será a atenção e o planeamento estratégico orientados ao
objetivo, o que, consequentemente, leva a um maior esforço e melhor desempenho. Para isto, é também necessário o feedback
proposto por terceiros e a aceitação de metas que nos são impostas ou que definimos nós próprios.
As intenções de implementação remetem para um plano de ação que nos permite especificar quando, onde e por quanto tempo se
deve agir, ajudando a superar qualquer tipo de problema que surja ao longo de todo este processo para alcançar o objetivo quer seja
a começar, a persistir e a terminar. As simulações mentais baseiam-se na simulação mental de um processo de objetivos, focando-se
no planeamento e na resolução de problemas, que irá produzir uma ação produtiva dirigida a objetivos. Estes conceitos e processos
estão constantemente presentes no nosso dia-a-dia e são muito importantes para alcançar os nossos sonhos e objetivos.

CRENÇAS E CONTROLO PESSOAL


Resumo: A motivação para o controlo pessoal sobre os próprios resultados na vida, provém das expectativas que as pessoas nutrem
sobre quanta influência elas têm na produção de eventos desejados e na prevenção de eventos indesejados. As expectativas vêm em
dois tipos: eficácia e resultado. A autoeficácia é a crença do indivíduo de que ele “tem o que é preciso” para reunir os recursos
necessários, para lidar efetivamente com as exigências de uma situação. A autoeficácia surge do histórico de comportamento
pessoal, da persuasão verbal, da observação dos outros e de estados fisiológicos. Uma vez formada, a autoeficácia afeta a escolha do
individuo sobre as atividades e a seleção de ambientes (abordagem vs. evitação); sobre o esforço, persistência e resiliência; sobre
qualidade do pensamento e da tomada de decisão; e sobre as reações emocionais. Como as crenças de autoeficácia podem ser
adquiridas e porque as crenças de autoeficácia permitem formas produtivas de pensar, sentir e comportar, a autoeficácia serve
como modelo para o empoderamento pessoal. Os ganhos em autoeficácia contrariam experiências de ansiedade, dúvida e
evitamento.

MOTIVAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CONTROLO PESSOAL


As pessoas são capazes de exercer controlo sobre aspetos que são previsíveis, desta forma, ao preverem o que irá acontecer e ao
tentar influenciar o que irá acontecer, o individuo tenta fazer com que os resultados desejáveis sejam mais prováveis, ou seja mais
frequente, e os resultados que são considerados indesejados sejam menos prováveis. Assim, ao exercer este controlo pessoal, o
individuo tenta que a sua vida e a vida dos outros seja melhor.
Em quê que se baseia o desejo de exercer controlo? Este desejo baseia-se sobretudo na crença que a pessoa tem de que tem o
poder de produzir resultados favoráveis. Quando as pessoas acreditam que têm o que é necessário para influenciar o ambiente e
que o ambiente responderá as suas influências, então os indivíduos irão tentar mudar a vida para melhor. A força com a qual as
pessoas tentam exercer o controlo pessoal tem muito a ver com as expectativas que temos de que o podermos concretizar. Deste
modo, levantamos então a questão: o que é uma expectativa?
Uma expectativa é uma previsão subjetiva de quão provável é a ocorrência de um evento acontecimento. O evento que está
associado à expectativa pode ser um resultado como por exemplo perder 10 quilos ou então pode ser um curso de ação que irá fazer
o resultado acontecer, como por exemplo correr 20 minutos numa passadeira para perder “x” calorias. Assim, os indivíduos
antecipam eventos e resultados tendo por base as experiências passadas e os recursos pessoais para fazerem previsões sobre o que
irá acontecer no futuro e como irão lidar com o que está por vir. Por exemplo: quando os políticos entram numa eleição ou os atletas
entram numa competição, eles avaliam a probabilidade de vencer, ou então, um indivíduo antes de pular de uma margem a outra do
rio, avalia a probabilidade de pousar em terra firme.

Tipos de expectativa: Existem dois tipos de expectativas: As expectativas de eficácia que são um julgamento da capacidade de
alguém para executar um determinado ato ou curso de ação, em resposta à questão “posso fazer isso?” e as expectativas de
resultados que são um julgamento de que uma determinada ação, uma vez executada, causará um resultado específico, aqui
podemos perguntar-nos “será que o que faço funcionará?”. Enquanto as primeiras (expectativas de eficácia) estimam a
probabilidade de um individuo se comportar de determinada forma, as segundas (expectativas de resultado) estimam a
probabilidade de certas consequências acontecerem, uma vez que o comportamento seja realizado. Para simplificarmos estes dois
tipos de expectativas vamos dar um exemplo, de modo a tornar isto mais claro: Vamos imaginar um candidato político que quer
ganhar as eleições e acredita que fazendo um discurso no parlamento pode ganhar. Neste caso em particular, as expectativas de
eficácia dizem respeito à confiança de que pode fazer o que for preciso para fazer um discurso competente. Por outro lado, as
expectativas de resultado dizem respeito às crenças de que, uma vez que faça o seu discurso competente, as pessoas irão ouvi-lo,
serão persuadidas pela sua oratória e consequentemente irão votar nele. Deste modo, as expectativas quer de resultado quer de
eficácia são determinantes para a iniciação e regulação do comportamento (Bandura, 1991). Tanto as expectativas de eficácia
quanto as de resultado devem ser razoavelmente altas para que o comportamento se torne enérgico e direcionado a objetivos.
Assim, uma análise da eficácia e expectativas de resultados permite-nos entender a oposição das pessoas em envolver-se em
atividades como falar em público, namorar, atletismo e entrevistas de emprego.

CONTROLO PERCEBIDO
As inter-relações entre Pessoa, Comportamento e Resultado estão no centro da expectativa motivacional. Alguns autores preferem
usar uma terminologia alternativa de Self, Ação e Controlo para comunicar essa mesma ideia (Skinner, 1996). A ação definidora no
estudo do controlo percebido é a do Self (Agente) e Controlo (Fim). As pessoas expressam a relação do self com o controlo através
de perguntas cotidianas como: “Posso melhorar minha saúde?” ou “Posso melhorar o meu casamento?” Por outras palavras, o
controlo percebido gira em torno de como o Eu (Agente) pode exercer Controlo (Fim).

AUTOEFICÁCIA
As expectativas de eficácia e as expectativas de autoeficácia não são a mesma coisa. A autoeficácia é uma dimensão mais generativa
que remete para a percepção do indivíduo sobre a sua capacidade de organizar e adaptar as suas habilidades para lidar com as
questões e circunstâncias que enfrenta. Erelaciona-se com a capacidade percebida de usar bem os recursos pessoais sob
circunstâncias adversas. Formalmente, a autoeficácia é definida como o julgamento de quão bem, ou mal, se irá lidar com uma
situação, dadas as habilidades que possui e as circunstâncias que enfrenta (Bandura, 1986, 1993, 1997). No entanto não nos
deixemos confundir, a autoeficácia não é o mesmo que a “capacidade”. O funcionamento competente requer não apenas possuir
habilidades, mas também a capacidade de traduzir essas habilidades em desempenho eficaz, especialmente sob circunstâncias
difíceis. Em síntese, a autoeficácia é aquela percepção de capacidade geradora na qual o sujeito é capaz de adoptar estratégias para
melhor traduzir habilidades pessoais em desempenho efetivo. A autoeficácia é um determinante tão importante do funcionamento
competente quanto a capacidade, porque as situações de desempenho geralmente são stressantes, ambíguas e imprevisíveis e, à
medida que se desempenha uma tarefa, as circunstâncias por norma, também mudam (Bandura, 1997).
Consideremos então que a maioria de nós pode conduzir um carro muito bem na autoestrada, já que a maioria de nós tem muito
boas habilidades de como conduzir, travar, gerir o trânsito, ter em conta o código e encontrar os nossos destinos. Mas a autoeficácia
torna-se importante quando as circunstâncias que testam as nossas habilidades aumentam o seu nível de exigência, como por
exemplo nos casos que temos de conduzir em autoestradas que desconhecemos e mal sinalizadas, durante uma tempestade,
enquanto camiões atiram lama para o nosso para-brisas, etc. Sob circunstâncias difíceis, o motorista deve ser capaz de confiar na sua
competência para poder pensar claramente ao decidir entre as opções, evitar perigos e talvez solicitar a assistência do passageiro. A
autoeficácia proporciona um equilíbrio motivacional entre querer tentar, por um lado, e a ansiedade, dúvida e evitação, por outro.

Fontes de autoeficácia: As crenças de autoeficácia não surgem do nada, elas têm causas e resultam da história pessoal, da
observação de outros, da persuasão verbal e de estados fisiológicos.
• Histórico de comportamento pessoal: As pessoas adquirem a sua autoeficácia atual a partir das suas interpretações e memórias de
tentativas passadas de executar o mesmo comportamento. Memórias de experiências bem-sucedidas de realização do
comportamento julgado como competente aumentam a autoeficácia, enquanto experiências julgadas como mal sucedidas e
incompetentes diminuem a autoeficácia. Por exemplo, quando uma criança se prepara para andar de bicicleta, a sua história pessoal
de ser capaz de realizar o comportamento de andar de bicicleta em ocasiões passadas funciona como informação em primeira mão
sobre a sua autoeficácia.
• Experiência vicária: A experiência vicária envolve a observaçaão de um modelo a realizar o curso de ação que o sujeito está prestes
a encenar como por exemplo: “tu vais primeiro, eu vejo”. Ver os outros a fazer com audácia determinada tarefa aumenta o
sentimento de eficácia do observador (Bandura, Adams, Hardy e Howells, 1980; Kazdin, 1979). Isto acontece porque ver os outros
indivíduos a executar o mesmo comportamento inicia um processo de comparação social que nos leva a pensar “se eles conseguem
fazer aquilo, eu também consigo”. No entanto, a experiência vicária também funciona de outra forma, uma vez que observar alguém
a executar o mesmo comportamento desajeitadamente diminui o nosso próprio sentimento de eficácia, por exemplo, “Se eles não
podem fazer isso, o que me faz pensar que eu posso?”. O facto de um modelo afetar a nossa própria eficácia depende de dois
fatores: i) Quanto maior a similaridade entre o modelo e o observador, maior impacto terá o comportamento na previsão de eficácia
do observador; ii) Quanto menos experiente for o observador, maior será o impacto da experiência vicária (Schunk,1989). Desta
forma, a experiência vicária é uma potente fonte de autoeficácia para observadores relativamente inexperientes que assistem a
outros semelhantes.
• Estado fisiológico: Um estado fisiológico anormal é uma mensagem privada, mas que contribui para a sensação de ineficácia. A
ausência de tensão, medo e stresse, por outro lado, aumenta o sentimento de eficácia ao fornecer feedback corporal em primeira
mão de que se pode de facto lidar adequadamente com as exigências da tarefa (Bandura & Adams, 1977). A direção causal entre
eficácia e atividade fisiológica é bidirecional: a ineficácia aumenta a excitação e a excitação aumentada alimenta a ineficácia
percebida (Bandura et al., 1988). Informações fisiológicas comunicam informações de eficácia em particular quando a eficácia inicial
é incerta, como quando alguém está a realizar uma tarefa pela primeira vez. Quando a eficácia é relativamente assegurada, as
pessoas às vezes desconsideram, ou reinterpretam, as suas sugestões fisiológicas como uma fonte positiva de eficácia, como quando
dizemos: “estou animado para isso” (Carver & Blaney, 1977). À medida que as pessoas enfrentam circunstâncias desafiadoras e
difíceis e se preparam para realizar um curso de ação, essas são as quatro fontes de informação nas quais confiam para prever o seu
sentimento de eficácia durante o desempenho.
Imaginemos uma criança na piscina municipal que está à espera da sua vez na fila para saltar da prancha. Quão ansiosa (motivada)
estará para o fazer irá depender de quão bem ela foi capaz de executar o salto no passado, quão bem os mergulhadores na linha
antes dela são capazes de mergulhar, a conversa de encorajamento versus de dúvida que ela ouve da amiga que está com ela na fila,
e a mensagem de pânico versus “calma e controlo” que o seu corpo envia enquanto ela fica 3 metros acima da água a olhar para
baixo. Por si só, nenhuma destas informações determina a eficácia ou as previsões relativas ao mergulho. Em vez disso, por meio do
pensamento reflexivo, pesa a importância de cada uma e, eventualmente, integra as múltiplas fontes de informação num julgamento
geral de autoeficácia (Bandura, 1997). As duas primeiras fontes de informação de eficácia – histórico de comportamento pessoal e
experiência vicária – são geralmente as fontes mais fortes de crenças de eficácia (Schunk, 1989). A importância relativa das
diferentes fontes de informação para o sentimento de eficácia é importante por causa das suas implicações para estratégias
terapêuticas e para planear intervenções motivacionais para pessoas com baixas crenças de autoeficácia. A história do
comportamento pessoal e a experiência vicária são possibilidades terapêuticas promissoras, enquanto a persuasão verbal e os
estados fisiológicos reguladores servem como oportunidades suplementares para alterar as crenças pessimistas de autoeficácia.

Efeitos das crenças de autoeficácia no comportamento: Uma vez formadas, as crenças de autoeficácia contribuem para a qualidade
do funcionamento humano de múltiplas maneiras (Bandura, 1986, 1997). De um modo geral, quanto mais as pessoas esperam que
possam realizar uma ação adequadamente, mais dispostas estão a se esforçar e persistir em enfrentar dificuldades quando as
atividades exigem tal ação. Em contraste, quando as pessoas esperam que não possam realizar adequadamente a tarefa exigida, elas
não estão dispostas a envolver-se em atividades que exigem tal comportamento. Em vez disso, reduzem os seus esforços,
conformam-se prematuramente com resultados medíocres e desistem diante de obstáculos. De uma forma mais específica,
podemos dizer que as crenças de autoeficácia afetam: a escolha de atividades e a seleção de ambientes, a extensão do esforço e
persistência, a qualidade do pensamento e da tomada de decisão e as respostas emocionais, sobretudo as que estão relacionadas
com o stress e a ansiedade.

Escolha: Seleção de Atividades e Ambientes - Durante a sua vida, cada pessoa vai decidindo e fazendo escolhas entre fazer
determinadas atividades ou não, e os locais e ambientes em que passam o seu tempo. Quando falamos de autoeficácia, uma pessoa
poderá evitar determinadas tarefas e ambientes, resultando isto como uma autoproteção para não ser sobrecarregada com certas
exigências. Por exemplo, se uma pessoa espera que andar de avião lhe trará uma sensação esmagadora, de perigo, medo e
ansiedade; a dúvida supera a eficácia e produz uma decisão de evitamento, como levar a desistir de andar de avião. Estas escolhas
de evitamento provocadas pela dúvida, estendem-se para evitar estar com pessoas, namorar, participar num certo evento, aderir a
um desporto. Quando uma pessoa adopta um comportamento generalizado de evitamento, isso pode provocar um efeito a longo
prazo bastante prejudicial no seu desenvolvimento, levando a que as pessoas evitem certas atividades e bloqueando os seus
próprios potenciais de desenvolvimento. Quando as pessoas evitam determinada atividade devido às dúvidas nas suas próprias
competências, estão a condicionar e a limitar o seu próprio desenvolvimento. Se hoje eu evito ir a uma aula porque acho que não
vou obter bons resultados, no futuro a probabilidade de evitar ambientes semelhantes irá ser muito maior. Cria-se um padrão de
evitamento que torna a vida da pessoa cada vez mais limitada.

Esforço e Persistência: As crenças de autoeficácia influenciam o esforço que cada pessoa exerce em determinada tarefa ou
ambiente, assim como o tempo que coloca nesse esforço. Quando existem crenças fortes de autoeficácia, isso produz um esforço
maior e maior persistência face à tarefa, dificuldade ou contratempo a superar. Já a dúvida faz com que as pessoas sabotem os seus
esforços, desistindo quando encontram dificuldades. Quando a pessoa se encontra perante uma atividade mais exigente, terá
inevitavelmente bastantes dificuldades a ultrapassar, sendo que isso levará a momentos de frustração, contratempos, entre outros.
A autoeficácia tem aqui um papel único e fundamental, não porque faz com que as dificuldades e as dúvidas deixem de existir, mas
porque faz com que haja uma rápida recuperação da autoconfiança após todos os contratempos com que se depara.

Pensamento e tomada de decisão: As pessoas que acreditam no seu próprio potencial e na sua eficácia para resolver problemas e as
adversidades que vão surgindo, durante períodos mais críticos, terão pensamentoss mais analíticos, enquanto as pessoas que
duvidam do seu próprio potencial e na sua eficácia perante diversos problemas, pensam de forma errática. Para uma obtenção de
melhor desempenho, as pessoas devem usar as próprias memórias de situações que aconteceram anteriormente para prever um
seguimento da ação mais eficaz. Previamente a uma apresentação, as pessoas por norma costumam usar algum do seu tempo para
pensar em como se vão apresentar. As pessoas com uma forte crença de autoeficácia, imaginam cenários competentes e otimistas,
enquanto as pessoas com uma fraca crença de eficácia, apenas imaginam cenários com muitos obstáculos e são pessimistas em
relação à própria prestação pessoal. Quando o desempenho começa, se as coisas começarem a correr mal, fortes crenças de
autoeficácia fazem com que a ansiedade se mantenha sob controle, já as pessoas com fracas crenças de autoeficácia que duvidam
das próprias capacidades, são rapidamente desmotivadas. No nosso quotidiano vão surgindo tarefas e ambientes que nos fazem
sentir de certo modo perante uma ameaça, como por exemplo apresentações públicas ou exames. A autoeficácia percebida tem
então um papel fundamental na determinação de quanta pressão, ansiedade ou stress cada uma dessas situações traz para cada
pessoa. Assim sendo, quanto mais a autoeficácia aumenta, mais o medo e a ansiedade desaparecem.

Autoeficácia ou necessidade psicológica de competência: Existem dois pontos práticos bastante importantes sobre a autoeficácia: 1.
As crenças de autoeficácia vêm da história do comportamento pessoal, das experiências vicárias, da persuasão verbal e dos estados
fisiológicos. Isto significa que as crenças de alta autoeficácia podem ser adquiridas e alteradas. 2. O nível de autoeficácia profetiza
formas de enfrentamento a que podemos chamar de “funcionamento competente’’ ou “empoderamento pessoal’ que permitem
persistir apesar das dificuldades ou superar o medo e o evitamento. Para haver empoderamento é necessário termos também o
conhecimento, as habilidades e as crenças que possibilitem então que as pessoas tenham controlo sobre as suas próprias vidas. Por
exemplo, quando uma pessoa é ameaçada, por norma isso faz com que se sinta ansiosa, stressada, vulnerável, com medo e em
perigo. Assim sendo, as pessoas precisam de crenças de autoeficácia para que possam: 1. fazer com que os seus conhecimentos e
habilidades produzam um desempenho eficaz quando ameaçadas; 2. ter controlo sobre os pensamentos negativos intrusivos.
Para simplificar, recorramos a um exemplo: imaginemos um estudo, em que um grupo de mulheres foi treinado durante 5 semanas
em habilidades de autodefesa e gestão de emoções. As mulheres sentiam muito medo pela sua segurança ao sair à noite porque
temiam ser dominadas pelas ameaças e perigos da vida noturna. Os investigadores primeiro pediram às mulheres que assistissem a
modelos especialistas para se defenderem contra agressores (usando a experiência vicária) e, em seguida, pediram às mulheres que
dominassem o comportamento modelado enquanto ouviam apoio e encorajamento de colegas (usando a persuasão verbal) durante
os ataques simulados. As mulheres então encenaram os comportamentos que viram ser modelados e receberam orientação e
feedback corretivo conforme necessário (histórico de comportamento pessoal). A cada semana sucessiva, a autoeficácia das
mulheres para controlar ameaças interpessoais e regular o pensamento intrusivo disparou. Uma vez empoderadas, as mulheres
sentiram-se menos vulneráveis e começaram a envolver-se em atividades que antes eram consideradas como muito arriscadas (por
exemplo, viajar para diferentes partes da cidade, distração noturna, exercícios ao ar livre). Ou seja, o empoderamento ocorreu à
medida que a eficácia substituiu a dúvida e o evitamento. Uma das mulheres expressou o seu empoderamento dizendo: “Sinto-me
mais livre e mais capaz do que nunca. Agora faço escolhas sobre o que vou ou não fazer com base no que quero ou não, e não com
base no facto de ser ou não assustador para mim”. Compreensivelmente, o leitor pode perguntar-se se o aumento da confiança das
mulheres as levou a se comportarem de forma imprudente e se isso as colocou em perigo, no entanto, isso não aconteceu. Em vez
disso, o evitamento generalizado das mulheres foi substituído por um comportamento flexível, adaptativo e confiante.

Capacitando pessoas: programa de modelagem de mestria: O programa de modelagem de mestria permite capacitar as pessoas de
forma a treinarem a sua autoeficácia, recorrendo a um especialista para trabalhar com um grupo para lhes mostrar como lidar com
determinada situação. No exemplo em cima, os profissionais capacitaram as mulheres com habilidades de autodefesa. Na escola por
exemplo, os professores podem capacitar os seus alunos durante a leitura, o uso de computadores, ou falar em público, usando um
programa de modelagem de domínio. Na área do desporto, os treinadores podem habilitar os seus atletas com habilidades
defensivas e de confiança para conseguirem lidar com qualquer ataque que o grupo contrário possa tentar fazer. Nos hospitais e nos
locais de trabalho, os médicos, terapeutas e gerentes podem capacitar os seus clientes solitários e vendedores ansiosos com
habilidades sociais e confiança ao interagir com os diferentes tipos de pessoas, quer sejam elas conhecidas, desconhecidas, clientes
ou colegas. Assim sendo, num programa de modelagem de mestria temos as seguintes etapas a seguir: 1. O especialista identifica as
habilidades componentes envolvidas no enfrentamento eficaz e mede a expectativa de eficácia das pessoas em cada habilidade
componente; 2. O especialista modela cada habilidade, enfatizando as áreas de habilidade mais preocupantes das pessoas; 3. As
pessoas imitam cada habilidade modelada. O especialista fornece feedback corretivo, conforme necessário; 4. As pessoas integram
as habilidades de componentes separados em um desempenho geral simulado. O especialista introduz apenas obstáculos leves e
ajuda as pessoas a integrar os diferentes componentes de habilidade em um desempenho geral coerente; 5. As pessoas participam
em grupos de aprendizagem cooperativa. Uma pessoa faz uma apresentação simulada enquanto os colegas assistem. Enquanto
assistem, os colegas fornecem incentivo e dicas, repetindo e rodando várias vezes; 6. As pessoas atuam individualmente numa
situação quase naturalista que apresenta inúmeras dificuldades, obstáculos e contratempos realistas, enquanto o especialista
fornece modelagem e feedback corretivo; 7. Modelos especialistas demonstram um comportamento confiante e técnicas de
regulação da excitação. O programa de modelagem de maestria é um procedimento formal para utilizar as quatro fontes de
autoeficácia como meio de avançar de pessoas ansiosas a mestres confiantes do ofício. Ao fazer com que as pessoas executem cada
habilidade e recebam feedback corretivo do especialista, a pessoa cria eficácia por meio de um histórico de comportamento pessoal.
Observando o desempenho do especialista (etapa 2) e observando o desempenho de colegas semelhantes (etapa 5), a pessoa cria
eficácia por meio da experiência vicária. Ao ouvir o encorajamento e as dicas dos colegas (passo 5), a pessoa constrói a eficácia por
meio da persuasão verbal. Observando e imitando as formas do especialista lidar com a excitação que debilita o desempenho (passo
7), a pessoa constrói a eficácia por meio da calma fisiológica.

Crenças de Maestria: As crenças de mestria fazem com que haja uma perceção do controlo percebido em relação à obtenção de
resultados positivos e que se desejam, e a prevenção de resultados negativos e a evitar. Ou seja, quando estas crença de mestria e
controlo pessoal são fortes, a pessoa sente e percebe que existe uma forte ligação causal entre as suas ações e os seus resultados;
em contrapartida, quando as crenças do controlo pessoal são fracas, a pessoa compreende que as suas ações pessoais fazem com
que haja pouco efeito sobre o que acontece.

Estratégias de Coping (enfrentamento): A maestria que se tem sobre os resultados depende em certa medida da maneira como a
pessoa escolhe lidar com certa situação. As pessoas podem lidar recorrendo a ações proativas ou reativas, abordando o problema e
agindo ou evitando-o e afastando-se, isoladamente ou no contexto de um grupo ou organização, concentrando-se no problema a ser
resolvido ou concentrando-se na regulação das suas emoções para lidar melhor com o que está a acontecer com eles, e optando por
adotar formas adicionais de enfrentamento também.

Mestria versus Desamparo: Cada pessoa lida com o fracasso de maneira diferente. Tendo uma orientação motivacional de mestria, a
pessoa consegue responder ao fracasso e às dificuldades de forma a continuar focada na execução da sua tarefa e tentar obter a
mestria apesar dessas dificuldades. Em contrapartida, numa orientação motivacional de desamparo e impotencia, a pessoa responde
ao fracasso e às dificuldades desistindo e perdendo o controlo, sentindo que não consegue contornar a situação de maneira
nenhuma e mesmo que tentasse. Na maioria dos casos, as pessoas conseguem ter um bom desempenho e manter o foco em
determinada tarefa quando estão a trabalhar em algo fácil, onde não encontram muitas ou nenhumas adversidades e problemas a
surgir. No entanto quando as tarefas se intensificam e se tornam mais complicadas e desafiadoras, e os resultados tendem a ser mais
difíceis de atingir, as pessoas orientadas para a mestria conseguem agarrar nos desafios que vão surgindo e superar os
contratempos, enquanto as pessoas orientadas para o desamparo, evitam os desafios e começam a questionar-se e duvidar de tudo,
levando ao fracasso. As diferentes reações que as pessoas têm ao feedback do fracasso, derivam do próprio significado que as
pessoas orientadas para a mestria e as orientadas para o fracasso atribuem a esse fracasso. Ou seja, as pessoas orientadas para a
mestria não veêm o fracasso como um problema de si mesmo, sendo o feedback de falha apenas uma informação útil e construtiva
para que haja mais esforço e sejam aplicadas novas estratégias. Por outro lado, as pessoas desamparadas veêm o fracasso de uma
maneira completamente oposta, sentindo que a falha vem de si próprias e que nunca vão conseguir chegar ao resultado pretendido
porque não há outra forma de o fazer senão aquela que tentaram. Esta auto depreciação, este pessimismo e o recurso a estratégias
imaturas, mas mais concretamente a forma como rapidamente a pessoa desiste perante a dificuldade, sinalizam a presença de
desamparo.

Incapacidade aprendida: Assim como as expectativas de eficácia são a base da construção da autoeficácia, as expectativas de
resultados são a base de construção do desânimo ou desamparo aprendido. Durante uma dada atividade, os indivíduos fazem uma
previsão subjetiva de quão controlável versus incontrolável é esse resultado. Para resultados controláveis, existe uma relação de um
para um entre o comportamento (o que um indivíduo faz) e os resultados (o que acontece a esse indivíduo). Para resultados
incontroláveis, existe uma relação aleatória entre comportamento e resultados.”. Por outras palavras, o desânimo aprendido pode
ser entendido pela força da relação percebida entre o comportamento do individuo com o resultado subsequente. A relação entre o
comportamento e os resultados de um indivíduo pode ser muito forte, representada por uma ligação sólida entre o que ela faz e
quais os resultados que obtém, correspondendo a uma orientação de mestria. Por outro lado, a relação entre o comportamento de
uma pessoa e os seus resultados pode ser inexistente, o que representa uma orientação de desamparo aprendido. Com o desamparo
aprendido, o comportamento do indivíduo exerce pouca ou nenhuma influência sobre os resultados do mesmo. Em vez disso, outros
fatores que estão fora do controlo do indivíduo determinam os resultados. Por exemplo, um candidato a um emprego
experimentando desamparo aprendido pode perceber que mesmo tendo comportamentos eficazes durante a entrevista de emprego
(agir profissionalmente, demonstrar habilidades, responder bem a perguntas) estes, não têm nada a ver com o fato de ele ser ou não
contratado pela empresa. Ele pode perceber que fatores fora de seu controle (por exemplo, economia danificada, “quem ele
conhece”, cor da pele) determinam principalmente ou até mesmo totalmente se ele é ou não contratado. Como os seus
comportamentos não controlam o resultado e como as influências externas e incontroláveis controlam o resultado, o candidato a
emprego presume que não pode influenciar a decisão da contratação. Neste sentido, após várias situações em que os seus esforços
foram infrutíferos, o mais provável é passar a evitar estas situações e mesmo que as oportunidades surjam, já nem sequer tenta
candidatar-se pois não acredita que isso possa levar a algum resultado positivo, independentemente do que possa fazer (exemplo de
desamparo aprendido).

Desamparo aprendido: Considere-se a seguinte experiência clássica com três grupos de cães que receberam: 1. choque inevitável, 2.
choque evitável, 3. nenhum choque (grupo de controlo) (Seligman & Maier, 1967). Os cães dos dois primeiros grupos foram
colocados num suporte e receberam choques elétricos leves de 5 segundos uma vez por dia, durante 64 dias consecutivos. No grupo
1, os choques ocorreram aleatoriamente sendo que nenhuma resposta poderia suspender o choque. Se o cão latisse, uivasse ou
demonstrasse agitação, o choque continuava durante 5 segundos. Por outras palavras, o choque era inevitável. O resultado (choque)
foi incontrolável. No grupo 2, os cães conseguiam interromper o choque se carregassem no botão que estava na parede. Ou seja, os
cães tinham a possibilidade de escapar ao choque — apertando o botão. O resultado (choque) foi controlável. No grupo de controle,
os cães foram colocados nas mesmas condições dos cães, no entanto não recebiam choques. Após esta primeira fase da experiência
— a fase de aprendizagem, numa segunda fase, os cães de cada grupo foram todos tratados da mesma forma. Cada cão foi colocado
numa caixa que tinha dois compartimentos, separados por uma divisória à altura do cotovelo. Os dois compartimentos eram do
mesmo tamanho e semelhantes em muitos aspetos, exceto que o primeiro compartimento tinha um piso de grade através do qual
choques elétricos leves poderiam ser aplicados, enquanto o segundo compartimento estava protegido contra choques. Na segunda
fase, os cães eram colocados no compartimento do piso da grade e um choque leve era aplicado. O início desse choque era sempre
antecedido por um sinal (o escurecimento da luz na parede). Após isto, o choque elétrico ocorria dez segundos depois. Se o cão
saltasse sobre a divisória, conseguia fugir do choque. Assim, para todos os cães, o choque foi previsível e evitável (isto é, controlável)
durante a segunda fase do estudo. No entanto, se o cão não conseguisse saltar a divisória em dez segundos, o choque elétrico
começava e continuava durante um minuto. O cão dos grupos choque evitável e sem choque aprenderam rapidamente a escapar do
choque da caixa (dos dois tipos de piso). Os cães quando apanhavam um choque, corriam freneticamente no início e,
acidentalmente, ultrapassavam a barreira. Ou seja, por tentativa e erro, os cães aprenderam que, se ultrapassassem a barreira,
poderiam escapar do choque. Após alguns testes, esses cães pulavam a barreira para conseguirem ficar em segurança assim que a
luz de aviso diminuísse a intensidade. Esses cães aprenderam a prevenir (“controlar”) o choque. Já os cães do grupo de choque
inevitável comportaram-se de maneira muito diferente. Quando apanhavam um choque, inicialmente comportavam-se como os
outros cães, correndo freneticamente e uivando, contudo, ao contrário dos cães dos outros dois grupos, eventualmente paravam de
correr e choravam até o choque terminar. Após algumas tentativas, esses cães desistiam de tentar escapar ao choque e aceitavam
passivamente o mesmo. Em testes subsequentes, os cães não conseguiram fazer nenhum movimento de fuga. O que esses cães
aprenderam no suporte inicial foi que tanto o início, como a duração, a intensidade e o término do choque (primeira fase) estavam
fora do seu controlo, o que teve um efeito de transferência na caixa seguinte – estes perceberam que a fuga estava além do seu
controlo. Aprenderam o desamparo diante de condições stressantes. A generalização surpreendente que emergiu deste estudo é
que sempre que os animais são colocados numa situação em que percebem que têm pouco ou nenhum controlo, desenvolvem a
expectativa de que suas ações futuras terão pouco ou nenhum efeito sobre o que acontece com eles. Essa expectativa aprendida (de
que o comportamento voluntário não afetará os resultados desejados) é o cerne do desamparo aprendido.
Aplicação em Humanos: Autores como Diener & Dweck, em 1978 e 1980, Dweck, em 1975, Hiroto, em 1974, Hiroto & Seligman, em
1975, Mikulincer, em 1994, Peterson et al., em 1993, investigaram o desanimo aprendido em humanos. Na experiência de Donald
Hiroto (1974), o ruído irritante constituiu o evento de estímulo aversivo. Os resultados com humanos foram comparados com os
resultados com cães. Os participantes do grupo do ruído inescapável sentavam-se passivamente e não tentavam escapar ao ruído,
enquanto os participantes dos grupos evitável e sem ruído aprenderam rapidamente a escapar do ruído (através duma alavanca).
Para demonstrar como o desamparo aprendido funciona, tente-se resolver problemas que variam na controlabilidade: Pode-se
resolver problemas académicos? Problemas de relacionamento? Problemas financeiros? Problemas de saúde? Se o carro avariasse
na estrada, tentar-se-ia resolver o problema ou ficar-se-ia passivo? Noutro estudo, uma série de 10 cartas aparecem em ordem
sequencial e a tarefa do participante é identificar qual é o recurso que está a ser observado. No primeiro cartão, simplesmente
adivinha-se “esquerda” ou “direita”, e o investigador responde “correto” ou “incorreto”. O mesmo procedimento ocorre para as
nove cartas seguintes. Imagine-se uma condição, onde o investigador (ou um programa do computador) fornece um feedback
autêntico, de modo que o participante pudesse, com concentração e esforço, usar o feedback fornecido para descobrir a resposta
para o problema. Doutro modo, o problema é controlável, pelo menos com concentração e esforço. Porém, numa segunda condição
o feedback foi aleatório e falso. Nesta, o participante poderia tentar todas as hipóteses do mundo e apenas obter uma sensação de
confusão e frustração pelo esforço. Após vários desses problemas, a segunda fase do estudo começa quando todos os participantes
(em ambas as condições) são solicitados a resolver alguns problemas moderadamente difíceis, por exemplo: problemas de
multiplicação, anagramas de seis letras, etc. A descoberta foi a seguinte: indivíduos expostos a problemas solucionáveis na primeira
fase do estudo resolvem significativamente mais problemas na segunda fase do que as pessoas expostas a problemas insolúveis na
primeira fase (Diener & Dweck, 1978). Não é tanto uma questão de inteligência, mas sim de responsividade e controlabilidade
relativamente ao ambiente enquanto se tenta resolver problemas.
A teoria do desamparo aprendido apresenta três componentes: contingência, cognição e comportamento (Peterson et al., 1993).
Estes três componentes explicam a dinâmica motivacional que se desenvolve à medida que a experiência ensina às pessoas a esperar
que os eventos nas suas vidas estejam além do seu controlo pessoal. A contingência refere-se à relação objetiva entre o
comportamento de uma pessoa e os resultados do ambiente. Existe num continuum que varia de resultados que ocorrem de forma
aleatória e não contingente (resultados incontroláveis) a resultados que ocorrem em perfeita sincronização com o comportamento
voluntário de uma pessoa (resultados controláveis). Ou seja, quão contingente é qualquer ambiente pode ser pontuado num
continuum que varia de 0 (resultados incontroláveis) a 1 (resultados controláveis). Muita interpretação cognitiva ocorre entre as
contingências ambientais reais e objetivas que existem no mundo e a compreensão subjetiva de um indivíduo sobre o controlo
pessoal nesses ambientes. Três elementos cognitivos são particularmente importantes: viés, atribuições, e expectativas, que são
crenças subjetivas de controlo pessoal que carregamos das experiências passadas para nossa situação atual. Crenças sobre os
resultados dos indivíduos decorrem não apenas das informações objetivas sobre o mundo, mas também das tendências, atribuições
e expectativas únicas de cada indivíduo. Posto isto, para entender o desamparo aprendido, é necessário prestar-se atenção às
contingências ambientais objetivas e também às crenças subjetivas de controlo pessoal. Assim, como a contingência existe num
continuum, o comportamento de confrontação para atingir ou evitar certos resultados também existe num continuum. Durante um
evento traumático, por exemplo, o comportamento de confronto voluntário das pessoas varia de muito passivo a muito ativo. As
respostas de confronto podem ser indiferentes e passivas, ou ser ativas e assertivas. Indiferença, passividade e desistência tipificam
um esforço apático e desmoralizado que caracteriza o comportamento dum indivíduo indefeso. Prontidão, atividade e assertividade
caracterizam pessoas que não são desamparadas (têm alguma expectativa de controlo).

Efeitos do desamparo: O desamparo aprendido ocorre quando as pessoas esperam que o seu comportamento voluntário produza
pouco ou nenhum efeito sobre os resultados que se esforçam para alcançar ou evitar. Uma vez que ocorre, deixa três déficits:
motivacional, de aprendizado e emocional (Alloy & Seligman, 1979). 1. Déficits motivacionais: consistem numa diminuição da
vontade de tentar. Estes verificam-se quando a disposição dum indivíduo para responder voluntariamente diminui ou desaparece
completamente. Normalmente, quando os indivíduos se preocupam com um resultado e quando o ambiente é pelo menos um
pouco responsivo na entrega desses resultados, os mesmos agem com entusiasmo e assertividade na obtenção desses resultados.
Na experiência de desamparo aprendido descrito anteriormente, os investigadores perguntaram aos participantes porque é que eles
não tentaram interromper o ruído desagradável na segunda fase do estudo. Aproximadamente 60% dos participantes (do grupo do
ruído inescapável) relataram que sentiram pouco controlo sobre o ruído, então não viam sentido em tentar acabar com o ele,
acrescentando "Porquê tentar?" Assim, "Porquê tentar?" caracteriza o deficit motivacional no desamparo aprendido. 2. Déficits de
aprendizagem: consistem num conjunto pessimista adquirido que interfere na capacidade de aprender novas contingências
resposta-resultado. Com o tempo, a exposição a ambientes incontroláveis cultiva uma expectativa na qual os indivíduos acreditam
que os resultados são geralmente independentes das suas ações. Uma vez que as expectativas assumem um tom pessimista, o
indivíduo tem dificuldade em reaprender que uma nova resposta pode afetar os resultados. Esse conjunto pessimista interfere
essencialmente ou retarda a aprendizagem de contingências futuras de resposta-resultado (Alloy & Seligman, 1979). 3. Déficits
emocionais: Os deficits emocionais consistem em ruturas afetivas nas quais ocorrem reações emocionais indiferentes e depressivas
em situações que exigem emoção ativa e assertiva. Diante do trauma, a resposta humana natural e típica é uma emoção altamente
mobilizada (por exemplo, medo, raiva, assertividade, frustração). Quando estão com medo, os indivíduos lutam vigorosamente para
superar, escapar, neutralizar ou fazer o que for necessário para lidar com eficácia. Não obstante, com o tempo, um ataque
implacável de falta de resposta ambiental leva os indivíduos a ver a confrontação como inútil. Em consequência disso a emotividade
mobilizada pelo medo é considerada improdutiva, acabando por ser substituída por emotividade depressiva. Por causa disso o
indivíduo convence-se de que não há nada que possa ser feito para escapar ao trauma.

Desamparo e Depressão: Alguns autores veem o desamparo aprendido como um modelo de depressão unipolar (Rosenhan &
Seligman, 1984; Seligman, 1975) pelas suas semelhanças, pois partilham o mesmo tipo de expectativas em que o indivíduo espera
que eventos negativos ocorram e que não há nada que possa ser feito para evitar a sua ocorrência (Rosenhan & Seligman, 1984). O
desamparo aprendido e a depressão também compartilham sintomas comuns (passividade, baixa autoestima, perda de apetite). O
uso do modelo de desamparo aprendido para entender a etiologia da depressão unipolar desencadeou uma grande quantidade de
pesquisas que trouxeram fortes críticas (Costello, 1978; Depue & Monroe, 1978) e forte apoio (Seligman, 1975). Uma das
descobertas mais entusiasmantes que surgiram foi que os indivíduos deprimidos às vezes não veêm os eventos de forma tão
controlável como os indivíduos que não estão deprimidos, veêm estes cenários de forma mais incontrolável. Isto levou os
investigadores a questionarem se a tendência depressiva dos indivíduos de verem as suas realidades como incontroláveis pode ser a
causa central da depressão unipolar. Talvez a raiz da depressão esteja na incapacidade de o indivíduo deprimido reconhecer quanto
controlo ele pode ter nos resultados decorrentes da sua vida. Estudantes universitários deprimidos e não deprimidos (avaliados por
um questionário) realizaram uma tarefa em que carregavam num botão em algumas tentativas e não o carregavam noutras (Alloy &
Abramson, 1979). Carregando no botão, às vezes acendia-se uma luz verde. O objetivo do estudo era que o participante estimasse a
proporção de tempo em que a luz verde acendia. Os investigadores controlaram o resultado — se a luz acendia ou não e quando
acendia. Para um grupo, a luz verde acendeu 75% do tempo e somente quando o botão foi pressionado. Este foi o grupo de alto
controlo. Para um segundo grupo, a luz verde acendeu quando o botão foi pressionado 75% das vezes, mas a luz também acendeu
50% das vezes quando botão não foi pressionado. Este foi o grupo de baixo controlo. Num último grupo, a luz verde acendeu quando
o botão foi pressionado 75% das vezes, mas também acendeu 75% das vezes quando os participantes não pressionavam botão. Este
foi o grupo sem controlo. Os resultados foram surpreendentes. Os indivíduos deprimidos julgaram com precisão que não tinham
controlo nessa condição. A luz acendia-se de forma aleatória, e eles sabiam disso. Os indivíduos não deprimidos foram os que não
perceberam quanto controlo tinham – superestimaram seu controle percebido. A conclusão mais interessante a tirar da pesquisa de
Lauren Alloy e Lyn Abramson (1979, 1982) é que indivíduos com depressão são mais propensos a déficits de desamparo aprendido.
Em vez disso, são os indivíduos que não estão deprimidos que às vezes acreditam ter mais controlo do que realmente têm (Taylor &
Brown, 1988, 1994). Embora a conclusão possa parecer surpreendente, as memórias das pessoas deprimidas para os eventos
positivos e negativos nas suas vidas são equilibradas, enquanto as memórias das pessoas não deprimidas tendencialmente recordam
mais os eventos positivos (Sanz, 1996).

ESTILO EXPLICATIVO
O estilo explicativo é uma variável de personalidade relativamente estável, de base cognitiva, que reflete a maneira como as pessoas
explicam as razões pelas quais os eventos acontecem com elas (Peterson &Barrett, 1987; Peterson &Park, 1998; Peterson
&Seligman, 1984). Todos nós passamos por momentos positivos e negativos, no entanto a forma como cada um explica esses
eventos varia no seu locus, estabilidade e controlabilidade. Aqueles que se caracterizam por um estilo explicativo optimista tendem a
explicar os eventos negativos como instáveis e controláveis (por exemplo, “perdi o concurso por causa de uma estratégia péssima”).
Por outro lado, aqueles que se caracterizam por um estilo explicativo pessimista tendem a explicar os eventos negativos como
estáveis e incontroláveis (por exemplo, “perdi o concurso porque sou muito pequeno para competir”).
Estilo explicativo pessimista: Fracassos académicos, saúde física precária e desempenho no trabalho abaixo da média são comuns.
Eles acontecem com todos nós. Nestas situações, indivíduos com este estilo explicativo tendem a desistir face ao insucesso. Exemplo:
quando um aluno com estilo pessimista enfrenta frustrações e fracassos académicos (notas, por exemplo) tenderá a responder
passivamente e de forma fatalista, o que levará à diminuição do esforço e piores notas (Peterson & Barrett, 1987). Ou seja, um estilo
explicativo pessimista está associado ao fracasso académico, ao sofrimento social, doença física, desempenho no trabalho
prejudicado, etc.

Estilo explicativo otimista: A ilusão de controlo é um fenómeno de atribuição que, ao longo do tempo, fomenta um estilo explicativo
otimista. Pessoas com um estilo explicativo otimista tendem a receber crédito substancial pelos seus sucessos, mas aceitam pouca
ou nenhuma culpa pelos seus fracassos (por exemplo, “Não tenho culpa de estar desempregado, divorciado, falido e ter sofrido um
acidente de carro no mês passado, no entanto, sou responsável pela minha equipa vencer o jogo de futebol na noite passada.”).
Podemos, então, assumir que indivíduos deprimidos raramente têm este estilo explicativo e não são vulneráveis à ilusão de controlo.
Indivíduos com o estilo otimista têm habitualmente ilusão de controlo, estas prontamente ignoram informações negativas
relacionadas a si mesmas, impõem filtros distorcidos nas informações recebidas e interpretam resultados positivos e negativos de
forma autoprotetora.

Críticas e explicações alternativas: O modelo de desamparo aprendido não está isento de críticas. No modelo de desamparo
aprendido, o desamparo decorre de um evento cognitivo, ou seja, a expectativa de uma resposta. Pesquisadores descobriram que
era de fato a expectativa aprendida enão o trauma em si que produz o desamparo. Outros pesquisadores argumentam que a
expectativa de fracasso, em vez da expectativa de incontrolabilidade por si, induz ao desamparo. Quando as rejeições, perdas,
fracassos e contratempos da vida são percebidos como incontroláveis e imprevisíveis, os indivíduos são vulneráveis ao desamparo
aprendido. Uma explicação alternativa das razões por que as pessoas se tornam passivas e desistem diante de resultados
incontroláveis é que as pessoas estão realmente motivadas a permanecer passivas. Por exemplo: um individuo socialmente ansioso
não se envolve voluntariamente na interação social por causa da crença de que ela só piorará as coisas iniciando conversas. Talvez
esse individuo esteja correto, pois ao não iniciar interações intencionalmente, a pessoa ansiosa pode muito bem evitar piorar as
circunstâncias (escondendo a sua falta de habilidade social). Se for o caso, a passividade é na verdade uma resposta estratégica
esclarecida de confrontação que minimiza o trauma. Uma segunda interpretação do desamparo argumenta que o desamparo pode
ser fundamentalmente um fenómeno fisiológico e não cognitivo. Quando os animais vivenciam um choque inevitável, experimentam
um declínio significativo no neurotransmissor noradrenalina (Weiss, 1972; Weisset al., 1976; Weiss, Stone e Harrell, 1970). A redução
de noradrenalina cerebral tem sido repetidamente associada a respostas de desamparo e desistência.

Teoria da Reatância: A Teoria da Reatância aborda questões como: Porque é que as pessoas às vezes fazem exatamente o oposto do
que lhes dizem para fazer? Porque é que as pessoas às vezes resistem ao favor bem-intencionado de outra pessoa? Entre outras.
Qualquer instrução, qualquer favor, qualquer conselho, não importa quão bem-intencionado, tem o potencial de interferir com as
liberdades esperadas dos indivíduos em tomar as suas próprias decisões. Cada um executa uma reacção destinada a restabelecer
uma sensação de liberdade anteriormente ameaçada. O termo reatância refere-se à tentativa psicológica e comportamental de
restabelecer ("reagir" contra) uma liberdade eliminada ou ameaçada.

Reatância e desamparo: A teoria da reatância prevê que os indivíduos experienciam a reatância apenas se esperam ter algum
controle sobre o que acontece com elas. Tanto a reatância quanto as teorias do desamparo aprendido, concentram-se em como as
pessoas reagem a resultados incontroláveis. Reconhecendo essa discrepância, Camille Wortman e Jack Brehm propuseram um
modelo integrativo de reatância e desamparo aprendido. Se uma pessoa espera ser capaz de controlar resultados importantes, a
exposição a resultados incontroláveis desperta reatância. Quando um individuo se convence de que os comportamentos de
reatância exercem pouca ou nenhuma influência sobre a situação incontrolável, o mesmo mostra a passividade no desamparo. A
diferença que prevê se um indivíduo mostrará reatância ou desamparo é o status percebido do resultado incontrolável. Enquanto o
individuo perceber que o comportamento de confrontação pode afetar os resultados, os comportamentos de reatância persistem. É
somente depois do indivíduo perceber uma independência de resposta-resultado é que ele cai no desamparo. A reatância e as
respostas de desamparo são exageradas nos resultados com os quais o indivíduo mais se preocupa e valoriza, enquanto a reatância e
o desamparo são silenciados nos resultados de baixa importância. Para uma ilustração das respostas de reatância e desamparo,
consideremos a experiência de Mario Mikulicer, que argumentou que a exposição a um problema insolúvel produziria reatância e
realmente melhoraria o desempenho, enquanto a exposição repetida a problemas insolúveis produziria desamparo e prejudicaria o
desempenho.

Juntando tudo: Esperança: A Esperança emerge de um sistema motivacional cognitivo integrado de duas partes. Quando os
indivíduos têm a motivação para trabalhar em direção aos seus objetivos e quando conhecem maneiras de alcançá-los, eles
experienciam esperança. A primeira parte da esperança envolve a auto agência, ou a crença de «poder fazer», relacionada à
confiança ou eficácia do indivíduo na sua capacidade de atingir as metas que estabeleceu para si mesmo. A segunda parte da
esperança envolve caminhos claros, ou a crença de que se tem caminhos múltiplos e controláveis para esses objetivos. Assim, a
eficácia e os resultados funcionam juntos e, quando ambos são positivos, a experiência emocional geral é de esperança. O atleta que
se prepara para uma partida ou o vendedor que tenta alcançar um objetivo de vendas sente esperança somente quando consegue
gerar pelo menos uma, e muitas vezes mais que uma, rotas viáveis para o objetivo desejado. Alcançar um caminho para um objetivo
não diminui a esperança se o individuo tiver vários caminhos alternativos para o objetivo. O pensamento de esperança surge
aquando ambas, o pensamento do individuo e os caminhos. Na faculdade, os caloiros com elevado grau de esperança alcançam
médias gerais mais altas e são mais propensos formarem-se na faculdade 5 anos depois do que os caloiros de baixa esperança
(Snyder, Shorey, et al., 2002). Durante o desempenho atlético, os atletas de corrida com grandes graus de esperança superam os
atletas com graus de esperança mais reduzidos durante as competições (mesmo depois de controlar a habilidade; Curry, Snyder
Cook, Ruby e Rehm, 1997). Porque é que os indivíduos com elevado grau de esperança superam os indivíduos de graus de esperança
reduzidos? (Snyder, 1994; Snyderet al., 1998; Snyder, Rand e Sigmond, 2002): 1. Estabelecem metas específicas e de curto prazo, em
vez de longo prazo. 2. Definem um domínio (aprendizagem), em vez de desempenho, metas de realização. 3. Confiam em metas
internas autodefinidas, em vez de metas externas estabelecidas por outros. 4. Envolvem metas com motivação intrínseca, em vez de
extrínseca. 5. Não são distraídos tão facilmente por obstáculos externos ou por pensamentos e sentimentos negativos irrelevantes
para a tarefa (distração). 6. Geram vários caminhos e procuram outros caminhos quando estiver difícil de superar os atuais, em vez
de ficar insistirem numa abordagem. 7. Têm reservatórios de determinação que se geram internamente (“Vou fazer isto”;
“Continua!”). 8. Vêem mais significado nas suas vidas à medida que refletem sobre o seu progresso ao longo da mesma, na
construção e alcance de objetivos valiosos.

Conclusão: De forma a concluir, e através da adoção de uma perspetiva holística, bem como uma reflexão geral do trabalho
desenvolvido por nós, enquanto grupo de trabalho, conseguimos de facto perceber que a compreensão das motivações e das
emoções tanto como a compreensão de todos os aspetos presentes à volta destes são importantes para a compreensão do ser
humano e também para a exerção do futuro psicólogo.
Deste modo, conseguimos agora identificar alguns dos principais conceitos e construtos motivacionais com clareza e rigor; passamos
a conhecer algumas das correntes teóricas importantes no estudo das motivações e das emoções; percebemos que fatores
biológicos, ambientais, fisiológicos e psicológicos são igualmente importantes no desencadeamento dos processos motivacionais;
identificamos fatores cognitivo-emocionais que estão envolvidos na iniciação, direção e regulação do comportamento; e,
desenvolvemos competências a nível de pesquisa e escrita na elaboração deste trabalho.
Assim, consideramos que o trabalho que nos foi proposto irá ter peso sobre o nosso futuro enquanto psicólogos uma vez que as
temáticas abordadas irão fazer parte do nosso quotidiano enquanto futuros profissionais.

O SELF, AUTOCONCEITO E A IDENTIDADE


Resumo: Neste trabalho começou por ser abordado o self que, como agente ativo, instiga a autorregulação. Tendo sido,
posteriormente, abordado o processo de auto verificação, essencial à interligação com os auto esquemas e com a dissonância
cognitiva. Abordando conceitos como a teoria da perceção do self foram introduzidas ideias como a de identidade, interligando-a á
noção dos papeis do indivíduo e do seu set de identidades. Foram, de igual forma, mencionados comportamentos confirmadores e
restauradores dessa mesma identidade. Posteriormente foi incorporada a noção de agência, constituindo um processo de extrema
importância, derivam dele aspetos como a diferenciação e a integração, que guiam a motivação e o desenvolvimento. O modelo da
auto concordância permitiu compreender que o indivíduo pode perseguir metas que são concordantes e congruentes com o eu ou
não concordantes, podendo advir de interesses pessoais ou pressões sociais. Dependendo das metas definidas estas podem causar
experiências satisfatórias em diferentes graus e fornecer ao self nutrientes psicológicos e motivação. Ao tentar atingir as metas que
definiram os indivíduos retrocedem mentalmente para autorregular e monitorizar o seu desempenho.
Introdução: Com este trabalho conseguimos perceber que o Self apresenta vários conceitos que o definem e o descrevem e estão
interligados entre si. Deste modo, a motivação compreende-se como uma parte fundamental do Self e está inteiramente ligado com
este e com os conceitos que o fundamentam. Um desses conceitos é a auto concordância que nos ajuda a compreender que, as
metas definidas pela pessoa ou meio social estão diretamente influenciadas pela motivação e provocam bem-estar subjetivo e
crescimento pessoal. O objetivo foi compreender o self como um individuo ativo nos seus processos de autorregulação,
monitorização de escolhas, na construção dos diferentes papeis que pode assumir e na sua identidade podendo assumir
comportamentos confirmadores e restauradores da mesma. Estes conceitos estão inteiramente ligados com a agência sendo que
esta, também engloba processos como a diferenciação e a integração.

Definição de bem-estar psicológico: Existem 6 parâmetros que temos de observar para avaliar o bem-estar psicológico: Autoestima
positiva, relações positivas, autonomia, mestria, propósito e trajetória de crescimento.

Regulação do Self: Ao regularmos o Self podemos refletir sobre as nossas capacidades e verificamos ou monitorizarmos os nossos
objetivos para que, depois se necessário ajustarmo-nos para um melhor funcionamento.

Autorregulação: A autorregulação permite que existam funções competentes, ou seja, o Self em vez de agir impulsivamente avalia
os recursos, monitoriza os seus objetivos, avalia o progresso das metas, fazer ajustes necessários para permitir um funcionamento
mais competente.

Autoestima: Antes de observarmos o autoconceito, autorregulação, identidade e agência temos de avaliar a autoestima. Os
investigadores afirmam que, a melhor maneira de aumentar a motivação de outra pessoa é aumentar a autoestima pois pessoas com
baixa autoestima tendem a sofrer níveis de ansiedade e/ou depressão mais elevados. No entanto, pessoas com autoestima em
excesso tendem a ser mais vulneráveis.

Self consistente: O individuo quando estabelece um auto esquema bem articulado num certo domino, age de modo a preservar a
sua autoavaliação contra a informação contraditória. As pessoas preservam essa informação de forma consciente de modo a ignorar
todas as que contradizem a sua auto visão. Quando há inconsistência e contradição nos esquemas dá-se um desconforto negativo a
nível emocional que automaticamente produz motivação para uma nova auto confirmação capaz de evitar auto desconfirmação e
feedback contraditório. Para que as pessoas vejam aquilo que vemos em nós adotamos símbolos de autorrepresentação como
roupa, peso, cirurgia estética e pertences. As pessoas procuram desenvolver um ambiente social que alimente a sua informação auto
confirmatória e manter a distância daqueles que não a confirmam para preservação do seu auto esquema. A interação seletiva
explica a razão de escolhermos certos amigos, colegas de quarto, professores, etc. porque utilizamos as interações sociais para
manter e confirmar o autoconceito. A primeira linha de defesa do autoconceito quando recebe uma informação contraditória é
questionar se essa informação é valida, de confiança ou relevante. Um estudante que se acha inteligente e que reprovou num curso
pode desacreditar o feedback ou argumentar contra a sua validade. Podem contrariar o feedback com a auto inflação
compensatória, auto confirmação e uma barragem de novos comportamentos para provar a sua autoavaliação, ou seja, usar
contraexemplos e contraexplicações para preservar a sua autoavaliação e desacreditar a outra. Quando o auto esquema é estável
raramente é destabilizado por feedback diferente.

Descrição do esquema: O individuo começa com uma representação e uma preferência pela auto confirmação e pelo feedback que
alimenta a sua auto confirmação. A situação complica quando obtem o feedback auto discrepante. A auto confirmação ou a auto
discrepância não potente são produzidas no dia a dia quando as pessoas não dão valor ao feedback contraditório e se auto afirmam
de forma positiva. No entanto quando esse feedback é forte e se o auto esquema não for suficientemente forte pode haver mudança
do autoconceito.

Porque as pessoas se auto verificam? As pessoas preferem o feedback de auto verificação por razões cognitivas, epistémicas e
pragmáticas. A nível cognitivo- as pessoas auto verificam-se para se conhecerem a si próprias. Questões epistémicas – as pessoas
auto verificam-se porque a mesma reforça a ideia de que o mundo é previsível e coerente . Pragmático- as pessoas auto verificam-se
para evitar interações mal-entendidas e expectativas irrealistas.

Possíveis “Selfs”: Os auto esquemas podem mudar em resposta ao feedback social de forma pró-ativa e intencional. Essa ação pode
decorrer através de um esforço deliberado para fazer o eu presente avançar para um possível eu do futuro. Estes possíveis «Selfs»
representam a ideia do que os indivíduos desejam ser ou não. Os «eu» desejados são modelados de outros indivíduos (origem
social). Existem diferentes selfs: «Self atual» - estado atual do individuo; «Self ideal» - é aquele desejado no futuro; «Self temido» -
estado indesejado pelo individuo no futuro. «Selfs» possíveis são essencialmente representações mentais de atributos,
características-
estéticas, e capacidades que o Self ainda não possui.
Quando o “Self” não tem as provas ou feedback para confirmar o possível Self emergente, segue-se um de dois resultados: ausência
de provas de apoio (ou a presença de feedback desconfirmante) levará o eu a rejeitar e abandonar o possível "Self". Por outro lado, o
possível Self pode dirigir a ação de modo que os atributos, características e capacidades do Self comecem realmente a materializar-
se. O papel motivacional do Self é ligar o eu atual com formas de se tornar o Self possível (ideal). A noção de " Self " possível retrata o
Self como uma entidade dinâmica com passado, presente e futuro. O indivíduo sem um possível Self num determinado domínio
carece de uma base cognitiva importante para desenvolver capacidades nesse domínio. Um indivíduo que pode prever um possível
Self no domínio gera sentimentos de competência e atua para alcançar essa visão futura. A maioria das pessoas consideram-se
competentes, morais e razoáveis. Tal visão de si próprio é representada cognitivamente como um conjunto de crenças sobre si. No
entanto, por vezes, as pessoas têm um comportamento que as deixa sentir-se estúpidas, imorais e irracionais.

Dissonância cognitiva: Quando as crenças sobre quem é o Self e o que o Self faz são inconsistentes (isto é, acreditar numa coisa, mas
de facto comportar-se de forma oposta), as pessoas experimentam um estado psicologicamente desconfortável - "dissonância
cognitiva. O grau de desconforto psicológico da dissonância cognitiva depende da sua magnitude. Quando suficientemente intensa e
desconfortável, a dissonância assume propriedades motivacionais e a pessoa começa a procurar formas de eliminar, ou pelo menos
reduzir, a dissonância. O individuo é capaz de acreditar numa coisa, mas fazer outra. Isto é um ar de hipocrisia, e é esta experiência
de hipocrisia entre o eu e a ação que causa dissonância. A experiência da dissonância é psicologicamente aversiva e as pessoas
procuram reduzi-la.

Remover a crença dissonante: Reduzir a importância da crença dissonante; acrescentar uma nova crença consonante; aumentar a
importância da crença consonante. A resistência à mudança destas crenças depende de quão próximas da realidade elas estão, logo
a realidade, a importância e os custos pessoais funcionam para apoiar as crenças atuais, enquanto a dissonância estimula um sistema
de crenças que coloca pressão sobre formas hipócritas de pensar e de se comportar. É uma competição psicológica – realidade
versus dissonância - com implicações motivacionais. Os seres humanos deparam-se frequentemente com informação ou têm um
comportamento dissonante com as suas crenças e valores. Quando os factos ou comportamentos estão em oposição às suas crenças
e valores, as pessoas encontrarão ou inventarão uma forma de os reconciliar.

Situações que causam dissonância: Quando o comportamento é dissonante com as crenças as pessoas arranjam formas de
reconciliar. As circunstâncias que provocam dissonância podem ser a escolha, a justificação insuficiente, o esforço de justificação e a
escolha. 1. Escolha: Em alguns casos a escolha entre alternativas é fácil, noutros casos a escolha é difícil porque as duas alternativas
oferecem um número de vantagens e desvantagens, assim que a escolha difícil é feita as pessoas apresentam dissonância ou
arrependimento pós – decisão que é resolvida apreciando a opção escolhida e depreciando a opção que não foi escolhida. 2.
Justificação Insuficiente: Como as pessoas justificam as ações para que não têm estimulação externa ou esta é muito pequena; 3.
Esforço De Justificação: Pode ser feito muito esforço e podem ser realizados comportamentos extremos que devem ser justificados
mais tarde. A Atratividade de uma tarefa aumenta a magnitude do esforço despendido para a completar; 4. Nova Informação: A
pessoa acaba por ser exposta a oportunidade de contradizer crenças. A desconfirmação pode ser um teste de comprometimento á
causa, sendo que os indivíduos normalmente respondem com forte persistência às tentativas de mudança de opinião. Pelo
proselitismo tentam resolver a dissonância adicionando crenças consonantes.

Processos motivacionais implicados na dissonância cognitiva: As pessoas realizam todo o tipo de comportamentos que implicam
que eles são incompetentes, imorais e irracionais. A inconsistência entre ações e crenças cria inconsistência cognitiva, dissonância,
esta motiva mudanças nas crenças e nos comportamentos. A desconfiabilidade psicológica leva á implementação de estratégias de
diminuição de dissonância. As mudanças acontecem para eliminar a experiência aversiva, persistente e desconfortável. A dissonância
pode ser usada para atingir objetivos sociais produtivos mudando atitudes e crenças, usando uma estrutura de dissonância pode
mudar-se atitudes e crenças e comportamentos pró – sociais, conservar os recursos naturais e diminuir o preconceito. Crenças
seguem e justificam o que se diz e faz, um exemplo é o facto de se adicionarem novas crenças consonantes para justificar o esforço.

Teoria da perceção do self: Interpretação Alternativa - As pessoas criam e desenvolvem comportamentos baseados na auto-
observação do seu comportamento. A diferença entre as teorias é que na teoria da dissonância cognitiva as crenças mudam devido a
efeitos negativos da inconsistência cognitiva, as crenças são inicialmente claras, salientes e fortes, as pessoas têm imagens de si
próprias já formadas que produzem emoções negativas seguidas de um comportamento anti-atitudinal. Na teoria de auto-perceção
passamos a acreditar no que façamos e dissermos. As crenças das pessoas são inicialmente vagas, ambiciosas e fracas e os indivíduos
tiram inferências sobre si próprios do seu comportamento.

IDENTIDADE
Aspeto do self e meio pelo qual a pessoa se identifica com a sociedade que captura a essência de uma pessoa dentro do contexto
cultural. A cultura e o grupo social oferecem identidade aos membros individuais e estes têm um papel definido por essa cultura ou
sociedade. Assumido o papel, a identidade direciona para alguns comportamentos e o evitamento de outros.

Papéis: Expectativas culturais para um comportamento de pessoas que têm uma determinada posição social. Os papeis dependem
da situação e da pessoa com quem interagimos. As pessoas mudam quando mudam os papeis quer seja em relação ao tópico de
conversa, vocabulário ou tom de voz, esta mudança é tão notória que podemos falar de um set de identidades, um indivíduo tem
diferentes identidades e apresenta aos outros a identidade mais apropriada à situação ajustando o comportamento e a forma de
integração. O processo de descobrir o papel do indivíduo é chamado de definição da situação. Quando as pessoas participam
socialmente a sua primeira tarefa é a de definir os papeis próprios e dos outros, as duas pessoas que interagem concordam com as
suas identidades e a definição da situação.

Comportamentos confirmadores de identidade: O ser humano possui uma grande quantidade de comportamentos potenciais dos
quais são escolhidos os apropriados e esperados num determinado ambiente, estes são determinados pela identidade da pessoa.
Assim que a identidade situacional e cultural apropriada é estabelecida o comportamento pode ser antecipado e percebido. As
identidades direcionam o comportamento, uma pessoa com identidade simpática tende a adotar comportamentos simpáticos,
identidades poderosas adotam comportamentos poderosos e identidades passivas adotam comportamentos passivos, desta forma
os comportamentos mantêm e confirmam a identidade.

Comportamentos Restauradores da identidade: Se uma pessoa se comporta de forma inconsistente com a identidade pode
restaurar a identidade original por comportamentos restaurativos ou demonstrações emocionais restaurativas. Demonstrações
públicas de emoção e comportamentos fornecem informação relevante para a identidade, são pistas públicas. O comportamento é
conhecido e a emoção é pública e como a identidade é desconhecida estes parâmetros são utilizados para a restaurar.

AGÊNCIA
O self tem uma motivação intrínseca que lhe dá a qualidade da agência, há uma visão deste como ação e desenvolvimento interior,
processos inatos e motivação. O self não entra no mundo como uma tábua rasa, esperam-no experiências que o dotam de
autoconceito e identidade cultural, o recém-nascido recorre às capacidades inatas, há um começo de um processo de descoberta,
desenvolvimento e realização do seu potencial avançando em direção à autonomia.

O self como ação e desenvolvimento desde o interior: A necessidade psicológica do organismo de autonomia, competência e
afinidade assegura a motivação natural que fomenta a agência. A motivação intrínseca é coordenada com a natureza ativa do ser em
desenvolvimento e é uma fonte de motivação que implica agência pois energiza espontaneamente no seguimento de interesses,
desafios ambientais, exercício das suas habilitações e desenvolvimento dos seus talentos.

Diferenciação e integração: São processos inerentes na agência, guiando a motivação e o desenvolvimento; a diferenciação expande
e elabora o self na sua complexidade, já a integração sintetiza a complexidade num todo coerente, preservando o sentido do self
coeso e individual. A diferenciação ocorre quanto são exercitados os interesses existentes, preferências e capacidades. A
diferenciação mínima manifesta-se na simplicidade em que a pessoa tem uma compreensão unidirecional de um domínio do
conhecimento em particular. Por sua vez, a diferenciação rica manifesta-se em perceber a discriminação fina e os aspetos únicos de
um determinado domínio de vida. A motivação intrínseca e os interesses preferenciais motivam o self a interagir com o mundo e
prepara para a diferenciação numa crescente complexidade. Há uma tendência sistemática para integrar a complexidade emergente
do self num único sentido de self, numa unidade coerente. A integração consiste num processo organizacional que junta,
interrelaciona e organiza, as partes diferenciadas do self. As noções de agência, diferenciação e integração defendem que o self
possui aspetos inatos. Necessidades psicológicas e processos de desenvolvimento fornecem um ponto de partida para o
desenvolvimento do self, os indivíduos maturam e ganham mais contacto com o contexto social e alguns aspetos do social são
assimilados e integrados no sistema do self, contrariando a ideia de que o self é meramente um recipiente passivo do feedback
social, mas que este existe dentro do contexto das relações sociais e também se desenvolve por via da agência hereditária. O
desenvolvimento da agência própria começa quando é adotado um quadro de referência do indivíduo autónomo (ainda que
interdependente) face à sociedade.

Internalização e integração do self: Com as necessidades inerentes e interesses emergentes, potenciais e capacidades o self está
posicionado para crescer, desenvolver e diferenciar. A necessidade de se relacionar coloca o indivíduo próximo da sociedade, dos
seus problemas e regras por isso o self desenvolve autonomia e internalização dos valores e problemas da sociedade motivada pela
familiaridade, comportamentos, emoções e formas de pensar originam no self, na sociedade e no contexto social. Atos intencionais
surgem do self, mas também da recomendação dos outros. A internalização consiste no processo pelo qual os indivíduos aceitam
formas extremas de sentir, comportar e pensar, processo pelo qual o indivíduo transforma uma forma anteriormente externa de se
comportar ou valorizar um comportamento. A internalização ocorre por diversas razões como o desejo individual de alcançar
relações significativas, logo, a internalização motivada pela necessidade de identificação com o outro também ocorre a partir do
desejo individual de interagir com o mundo social. Há uma contribuição da agência para a representação do self como ação e
desenvolvimento “interior”. Nem todas as autoestruturas são igualmente idênticas, algumas refletem o “core self “outras refletem e
reproduzem a sociedade. A auto - valorização permite ser aberto á experiência e valorizar o self pelo que é, pois quando os
indivíduos estão abertos á experiência são mais responsáveis pelo seu comportamento. Mas as pessoas nem sempre se comportam
de forma a expressar o seu “core self “pois as condições ambientais por vezes não facilitam a integração, existe pressão externa para
que se comportem de forma consistente com as demandas sociais, o que pode levar a ignorar as necessidades inerentes e
preferências desenvolvendo uma estrutura centrada na validação externa. As pessoas organizam o comportamento e valor próprio á
volta das necessidades do “core self” em ambientes que promovem a autonomia e a agência pessoal e organizam o comportamento
e valor próprio á volta da valorização externa quando o ambiente não valoriza a autonomia ou agência pessoal e promove, por sua
vez, as aspirações externas.

Auto concordância: Quando as pessoas decidem perseguir objetivos que são congruentes ou “concordantes” com o seu eu central,
perseguem objetivos “auto concordantes”. O modelo da auto concordância começa quando a pessoa estabelece uma meta pela
qual lutar (ex: parar de fumar; terminar a faculdade). Algumas metas refletem e emanam das necessidades, interesses e preferências
do eu central (objetivos auto concordantes), enquanto outras não. Temos então 4 tipos de metas:
1. As metas intrínsecas (metas estabelecidas a partir de um forte interesse) e
2. as metas identificadas (metas estabelecidas a partir de uma convicção ou valor pessoal) que representam metas auto
concordantes, as metas auto concordantes refletem e expressam o eu integrado e agente.
3. Metas introjetadas (metas estabelecidas a partir de um senso de obrigação social) e metas extrínsecas (metas estabelecidas a
partir de um desejo de ser elogiado ou recompensado) representam metas auto discordantes.
4. Metas auto discordantes refletem e expressam ações não integradas que advêm do controle de pressões internas e externas.

Metas auto concordantes geram e sustentam maior esforço do que metas auto discordantes. A realização de metas promove
experiências satisfatórias, mas o grau de satisfação da realização de qualquer meta em particular, depende se esta é ou não auto
concordante. Atingir metas auto concordantes produz experiências satisfatórias em maior grau do que atingir metas auto
discordantes. É essa experiência que aumenta o bem-estar. Ou seja, atingir metas auto concordantes fornece ao self nutrientes
psicológicos que sustentam o bem-estar e a motivação da agência. Existe um autoteste útil para determinar se uma meta pessoal é
auto concordante ou auto discordante. Metas auto concordantes (metas intrínsecas, metas identificadas) emanam de um
sentimento de autenticidade e propriedade pessoal – a pessoa está plenamente consciente de que o esforço é baseado num
interesse, necessidade ou valor pessoal. Assim, o desejo de perseguir metas auto concordante está inserido num contexto de afeto
positivo e de “querer”. Por outro lado, metas auto discordantes (metas extrínsecas, metas introjetadas) emanam de uma sensação
de pressão - o esforço pessoal é baseado numa obrigação em relação aos outros ou em relação a pressões sociais. Assim, o desejo de
perseguir objetivos auto discordantes está inserido num contexto de ansiedade, pressão e “ter que fazer”.
Essa distinção foi chamada de “locus de causalidade percebida”, já que metas auto concordantes surgem de um locus de causalidade
percebida interna, enquanto metas auto discordantes surgem de um locus de causalidade percebida externa. Assim, a auto
concordância refere-se ao sentimento de propriedade que as pessoas têm (ou não têm) em relação as suas metas.
O ato de adquirir um sentido de propriedade nos seus objetivos pessoais é uma tarefa crucial de desenvolvimento do eu, e a
necessidade de experiências satisfatórias contribuem para o desenvolvimento do eu, aumentando a auto concordância futura. Ou
seja, a satisfação das necessidades psicológicas (sentir-se mais autónomo, competente e relacionado) estimula maior autoconfiança
e maior conhecimento do eu integrado, sentindo maior autoconsciência e maior autoconhecimento, as pessoas estão cada vez mais
propensas a estabelecer e perseguir metas auto concordantes no futuro. Ao fazer isso, eles entram numa “espiral ascendente” na
qual os ganhos de auto concordância contribuem para ganhos subsequentes (posteriores) em bem-estar, crescimento pessoal e
felicidade.

Esforços Pessoais: Os esforços pessoais representam o que o indivíduo está a procurar realizar no seu comportamento diário e ao
longo da sua vida. Os esforços pessoais não são metas em si, em vez disso, são aspetos superordenados do eu que organizam e
integram as diferentes metas que uma pessoa procura. É um objetivo que o individuo está normalmente a tentar realizar ou a
alcançar, estes podem ser positivos ou negativos. Por outras palavras, um esforço pessoal pode ser um objetivo que normalmente
abordemos e nos esforcemos para alcançar, ou pode ser um objetivo que normalmente nos esforcemos para evitar.
Crescimento Pessoal e Bem-Estar Subjetivo: Nem todos os esforços pessoais são iguais quando se trata das suas implicações para o
bem-estar da pessoa. Em vez de lutar pelo que lhes interessa e pelo que valorizam, as pessoas muitas vezes lutam por razões
extrínsecas e não auto concordantes, por pressão social ou por uma expectativa do que os outros pensam. Esses esforços pessoais
que não são endossados pelo self tendem a gerar conflito e pressão na pessoa enquanto os esforços pessoais que cultivam objetivos
auto concordantes, crescimento pessoal e bem-estar subjetivo, são aqueles que buscam maior autonomia, competência ou
relacionamento na vida da pessoa. Esforços pessoais que buscam trazer maior autonomia, competência e relacionamento para a
vida de uma pessoa são aqueles que buscam satisfazer as suas necessidades psicológicas inatas. Além disso, o bem-estar não decorre
nem depende de realmente atingir as metas ou esforços pessoais. Ou seja, as pessoas que atingem altos níveis de popularidade,
dinheiro e prêmios não estão mais psicologicamente bem do que aquelas que não atingem esses níveis. Quando as pessoas lutam
por autonomia e competência elas são capazes de criar um significado nas suas vidas que promove afeto positivo e bem-estar
subjetivo. Quando as pessoas lutam por popularidade, dinheiro, prêmios, as pessoas separam os seus esforços do significado pessoal
de tal forma que leva a afeto negativo, alienação e angústia subjetiva. O bem-estar subjetivo tem mais a ver com o que se busca do
que com o que realmente se alcança.

Autorregulação: À medida que as pessoas tentam atingir as metas que têm para si mesmas, elas retrocedem mentalmente para
monitorar e avaliar como as coisas estão a ir. A autorregulação é o monitoramento e avaliação metacognitiva do esforço contínuo de
alguém para atingir as metas que busca.

Autorregulação: Previsão através da Reflexão a autorregulação é um processo contínuo e cíclico. Envolve antecipação, ação e
reflexão. A antecipação envolve o estabelecimento de metas e planeamento estratégico. Seguindo essa antecipação do pré-
desempenho, o indivíduo envolve-se na tarefa e começa a realizar e receber feedback. É durante este período que a pessoa
experimenta discrepâncias de feedback entre metas e desempenho e fica ciente de vários obstáculos, dificuldades, distrações e
interrupções. Com essas informações em mãos, reflete sobre como está o seu desempenho em termos de auto monitoramento e
autoavaliação. O auto monitoramento é um processo de auto-observação no qual a pessoa acompanha a qualidade do seu
desempenho contínuo; autoavaliação é um julgamento no qual a pessoa compara o seu desempenho atual com o esperado. A
autorreflexão que está enraizada no auto monitoramento e na autoavaliação leva a uma antecipação mais informada antes da
próxima oportunidade de desempenho. A natureza contínua e cíclica da autorregulação é aparente quando a autorreflexão sobre o
desempenho de alguém leva a uma nova e aprimorada antecipação.

Desenvolvendo uma autorregulação mais competente Toda a gente se envolve na autorregulação, mas algumas pessoas fazem isso
melhor do que outras. Processos autorregulatórios precisam de ser adquiridos, especialmente quando o individuo persegue uma
meta numa área desconhecida. Ganhos em competência autorreguladora geralmente ocorrem dentro de um processo de
aprendizagem social e num nível observacional em que um relativamente novo no domínio observa o comportamento e
verbalizações de um especialista. O novato começa então a imitar o modelo do especialista e, ao fazê-lo, recebe orientação social e
feedback quanto à eficácia dos seus comportamentos. Seguindo um histórico de orientação social e feedback, o novato começa a
internalizar os padrões de excelência transmitidos pelo modelo. A pessoa torna-se autorreguladora no domínio quando não precisa
mais do especialista e pode-se autorregular em termos de auto monitoramento e autoavaliação. A autorregulação envolve a
capacidade de realizar todo o processo de definição de metas por conta própria. Primeiro, a pessoa é incapaz de regular o seu
comportamento e incapaz de realizar o processo de estabelecimento de metas por conta própria. Ganhos de autorregulação nesse
nível ocorrem a partir da observação de um especialista. Em segundo lugar, a observação leva à imitação, pois a pessoa participa
num processo de aprendizagem social assumindo as habilidades de autorregulação de um modelo especialista. A observação leva à
imitação, e a imitação, por sua vez, leva à internalização da autorregulação efetiva. Terceiro, a pessoa é capaz de regular
competentemente o seu comportamento e realizar o processo de estabelecimento de metas e monitoramento de desempenho por
conta própria. A autorregulação efetiva progride através das quatro fases de desenvolvimento a seguir: observação, imitação,
autocontrole e autorregulação. Desenvolver uma autorregulação mais competente leva muito tempo, e isso é verdade por várias
razões (por exemplo, estratégias antigas são mais facilmente acessíveis e vêm mais facilmente à mente do que novas estratégias).
Além disso, de certa maneira, a autorregulação é apenas o começo da especialização. A construção de conhecimentos é um processo
muito demorado que requer não apenas a orientação intensiva descrita acima, mas também inúmeras horas de prática por conta
própria.
A prática independente é muito importante, mas a tese na literatura de autorregulação é que as pessoas podem adquirir,
desenvolver e dominar habilidades complexas mais rapidamente e com mais habilidade se têm o benefício de um tutor que modela
como estabelecer metas, desenvolver estratégias, formular intenções de implementação, monitorar o desempenho e avaliar (por
conta própria) o processo de feedback da meta-desempenho em andamento.
Conclusão: Após a realização deste trabalho conseguimos compreender o conceito de motivação de outra forma, ou seja, a
motivação não engloba apenas ativações cerebrais, mas também comportamentos que o Self realiza ao longo do seu dia a dia que
lhe são fundamentais para manter a sua motivação. Esta permite-lhe alcançar as metas que deseja e pode facilmente ser verificado
pelo Self para que este compreenda se está a ter um bom desempenho ou não. Deste modo, o Self apresenta um papel muito
importante na manutenção da sua motivação.

MOTIVAÇOES INCONSCIENTES
Resumo: A psicanálise aborda de forma profunda temas como memórias traumáticas, vícios inexplicáveis, ansiedades sobre o futuro,
sonhos, memórias inacessíveis e reprimidas, fantasias, repressão, comportamentos autodestrutivos, pensamentos suicidas, impulsos
de vingança, e todas as forças que nos moldam, nomeadamente, as nossas necessidades, sentimentos, formas de pensar e
comportar. Quanto à teoria psicodinâmica contemporânea, esta é definida por 4 princípios: o inconsciente; a psicodinâmica; o
desenvolvimento do Ego e a Teoria da Relação entre Objetos. O inconsciente é visto como a essência da vida mental. Caracteriza-se
como o armazém mental de impulsos instintivos inacessíveis, experiências reprimidas, memórias de infância e desejos fortes. O
segundo princípio é a perspetiva psicodinâmica da motivação e das emoções que defende que os processos mentais funcionam em
simultâneo uns com os outros, de forma que, normalmente, atuam de forma contraditória: as pessoas querem e temem uma mesma
coisa ao mesmo tempo.
O desenvolvimento do Ego é o terceiro princípio. Para desenvolver e dominar a vulnerabilidade do ego, deve ganhar recursos,
incluindo mecanismos de defesa para enfrentar com sucesso as ansiedades inevitáveis da vida (por exemplo, a defesa do ego) e um
sentido de competência que proporcione uma capacidade generativa para mudar o ambiente para melhor (por exemplo, a eficácia
do ego). O quarto e último princípio é a Teoria das Relações entre Objetos.

Introdução: Em contraste com o humanismo, a abordagem psicodinâmica apresenta uma imagem determinista e pessimista da
natureza humana. A psicanálise é então determinista na medida em que defende que a maior causa da motivação e do
comportamento deriva de forma biológica de impulsos que são socialmente adquiridos e são eles que determinam os nossos
desejos, pensamentos, sentimentos e comportamentos, quer queiramos quer não. A psicanálise especialmente determinista na
medida em que considera que a personalidade muda pouco depois da puberdade. Assim, muitos dos impulsos motivacionais de um
adulto podem ser ligados a eventos que ocorreram na infância. A motivação surge como algo que nos acontece, e não como algo que
é escolhido ou criado. A psicanálise é também relativamente pessimista, uma vez que, o seu foco consiste na análise sexual de
impulsos agressivos, conflitos, ansiedade, repressão, mecanismos de defesa, ansiedade e uma série de cargas emocionais como
vulnerabilidades e deficiências da natureza humana. Esta vê a ansiedade e o colapso da personalidade como inevitável e não como
uma exceção que acontece apenas a alguns de nós. A culpa e a ansiedade são a nossa companhia constante, sendo que, o narcisismo
é também muito comum na nossa vivência. “Não é um quadro bonito” disse Freud, mas é a realidade, nada mais.
Atualmente, o termo psicanalítico refere-se aos praticantes que permanecem comprometidos com a maioria dos tradicionais
princípios freudianos, enquanto o termo “psicodinâmico” se refere ao estudo da dinâmica dos processos mentais inconscientes. Por
outras palavras, pode-se estudar os processos mentais inconscientes (por exemplo, preconceitos, depressão, supressão de
pensamentos, mecanismos de defesa) de acordo ou não com a tradição freudiana. Há muito investigadores que estudam processos
psicodinâmicos sem adotarem a abordagem psicanalítica.

Teoria Dual-Instintiva: O corpo humano foi visto como um sistema energético complexo organizado com o objetivo de aumentar e
diminuir as suas energias através do comportamento. Alguns comportamentos aumentam a energia corporal (comer, respirar) e
alguns comportamentos diminuem a energia (trabalhar, brincar). Alguma energia corporal exige energia mental e para isso, a mente
precisa de energia para desempenhar as suas funções (por exemplo, pensar, recordar). A mente recebe esta energia psíquica da
energia física do corpo. A fonte de toda a energia física é um impulso biológico (ou instinto), como uma força biologicamente
enraizada "emanando dentro do organismo e penetrando na mente" (Freud, 1915). Daí, as motivações corporais instintivas
explicaram a fonte de toda a motivação. Para Freud, existiam tantas motivações biológicas como diferentes motivações corporais e
exigências (por exemplo, comida, água, sono). Mas Freud reconheceu que existiam demasiadas necessidades corporais diferentes
para listar. Em vez de tentar nomeá-las, Freud enfatizou duas categorias gerais: instintos de vida e instintos de morte (Freud, 1920,
1927). A primeira classe de instintos foi denominada como Eros, os instintos de vida. Os instintos “Eros” mantêm a vida e garantem
a vida individual e coletiva, a nossa sobrevivência. Assim, os instintos de alimentação (água, ar, sono e afins) contribuem para a vida
e sobrevivência do indivíduo. Estes são instintos de autopreservação. Instintos associados ao sexo, nutrição e filiação contribuem
para a vida e sobrevivência de uma espécie reprodutiva; ideia de que Freud havia tomado como emprestada de Darwin (Ritvo, 1990).
A segunda classe de instintos foi denominada de Thanatos, os instintos da morte. Estes empurram o indivíduo para o repouso, a
inatividade e a conservação de energia. Uma ausência de qualquer perturbação corporal, que só poderia ser alcançada através do
repouso total, ou seja, a morte. Ao discutir os instintos da morte, Freud deu ênfase à agressão. Quando se concentra no self, a
agressão manifesta-se em autocrítica, sadismo, depressão, suicídio, masoquismo, alcoolismo, toxicodependência e a tomada de
riscos desnecessários como o jogo. Quando concentrada nos outros, a agressão manifesta-se em raiva, ódio, preconceito, insulto
verbal, crueldade, rivalidade, vingança, assassinato e guerra. Estes impulsos instintivos de base corporal em direção à vida e à morte
- sexo e agressão - fornecem a energia necessária para motivar o comportamento. Mas as pessoas não agem apenas impulsivamente
de acordo com as suas energias sexuais inatas e agressivas. Em vez disso, o indivíduo aprende com a experiência, a orientar o seu
comportamento para objetivos que satisfaçam as suas necessidades. O indivíduo aprende reações defensivas para gerir as suas
energias sexuais e agressivas. Assim, os impulsos instintivos fornecem a energia para o comportamento, enquanto o ego fornece a
sua direção.

Motivação ou Desejo: O modelo de desejos reformulado é essencialmente uma teoria de discrepância da motivação e propõe o
seguinte: Em qualquer momento, as pessoas estão conscientes do seu estado atual e, ao encontrarem uma dada situação, percebem
um estado potencialmente desejável. Por exemplo, um homem trata dos seus assuntos diários sem qualquer impulso agressivo, mas,
ao ser insultado, humilhado, dissimulado ou ridicularizado, percebe um estatuto social potencialmente mais favorável do que o seu
humilde presente. Consequentemente, ocorre um desfasamento entre "estado presente" e "estado ideal", e o desejo agressivo
surge como motivação para aproximar o estado atual do estado ideal. Os psicanalistas contemporâneos propõem agora que os
desejos psicológicos, e não os impulsos instintivos, regulem e dirijam comportamento humano pois as pessoas desejam
constantemente estados ideais nos domínios sexual e agressivo, mas isso ultrapassa a ideia de que o sexo e a agressão funcionam
como impulsos fisiológicos.

Teoria Psicodinâmica Contemporânea: Atualmente, quatro princípios definem a teoria psicodinâmica. O primeiro postulado enfatiza
o inconsciente. Argumenta enfaticamente que os pensamentos, sentimentos e desejos existem a nível inconsciente. Assim, uma vez
que, a inconsciência mental afeta a vida e o comportamento, as pessoas podem comportar-se de formas inexplicáveis, mesmo para
si próprias. 2. O segundo postulado enfatiza a psicodinâmica e argumenta que a motivação e processos emocionais funcionam
frequentemente em paralelo entre si - as pessoas normalmente querem e temem algo ao mesmo tempo. É a regra, e não a exceção,
que as pessoas têm sentimentos contraditórios que os motivam de formas opostas. Assim, as pessoas normalmente abrigam-se nas
diferenças entre o que é consciente e o que não é (Fazio, Jackson, Hunton, Williams, 1995) e atitudes de género (Banaji & Hardin,
1996) que produzem em simultâneo uma abordagem e comportamento evasivo. 3. O terceiro postulado enfatiza o desenvolvimento
do ego. Embora reconhecendo o significado motivacional das energias sexuais e agressivas, os psicólogos do ego concentram-se em
como nós crescemos, desenvolvemos e deixamos para trás o nosso relativamente imaturo, frágil, egocêntrico e narcisista início de
vida para nos tornarmos relativamente maduros, resilientes, empáticos e sociais, seres responsáveis. 4. O quarto postulado destaca a
teoria das relações entre objetos. Argumenta que padrões estáveis de personalidade começam a formar-se na infância à medida que
as pessoas constroem representações mentais do self e dos outros. Uma vez formadas, estas crenças sobre o “eu” e os outros,
moldam padrões duradouros de motivação (relação, ansiedade) que orientam a qualidade do adulto ia nível interpessoal das
relações.

O Inconsciente: A Psicologia tem tido dificuldades na exploração empírica do inconsciente que está, de certa forma, inacessível ao
observador. No entanto, este processo mental não é impossível de ser medido e estudado cientificamente. Desta forma, Freud
utilizava métodos como a hipnose, e os psicólogos modernos utilizam métodos como priming, atenção seletiva, aprendizagem
inconsciente, e memória implícita para estudar vários aspetos do inconsciente.

O Inconsciente Freudiano: A premissa fundamental da psicanálise é a divisão do consciente do que é inconsciente. Freud rejeitou a
consciência como essência da vida mental, e dividiu a mente em 3 componentes: consciente, pré-consciente e inconsciente. No
consciente todos os pensamentos, sentimentos, sensações, memórias e experiências de que uma pessoa está ciente. No pré-
consciente armazena-se os pensamentos, sentimentos e memórias que estão ausentes da memória imediata, mas que podem ser
recuperados na consciência. No inconsciente armazena-se impulsos instintivos inacessíveis, experiências reprimidas, memórias de
infância e desejos fortes. Para Freud, o inconsciente é a maior e mais importante componente da vida mental e expressa os seus
impulsos através do latente e simbólico, em vez do óbvio e manifesto, porque a expressão explícita de desejos inconscientes
provocaria ansiedade e ameaça para o ego.

Inconsciência Adaptativa: A inconsciência adaptativa é um conjunto de processos mentais inconscientes que vão influenciar o
julgamento e a tomada de decisões. Ao contrário do processamento consciente, este é mais rápido, mais focado no presente, no
entanto, menos flexível. O início do estudo empírico da inconsciência não freudiana começou com um estudo de caso, um paciente
com epilepsia, que devido às suas convulsões teve o seu hipocampo removido. Como resultado, teve amnésia. Foi levado para um
laboratório durante vários dias para praticar uma habilidade motora. A cada dia, ao chegar ao laboratório, ele não tinha nenhuma
memória de lá ter estado antes, das pessoas que lá trabalhavam nem da habilidade motora que tinha praticado. Ainda assim,
mostrou um claro melhoramento da habilidade motora que tinha praticado. Esta experiência marcou, claramente, a existência de
uma inconsciência adaptativa. Timothy Wilson (2002) descreveu a inconsciência adaptativa através da analogia de um avião. Na
maior parte do tempo, o piloto coloca o avião em piloto automático. O avião faz um bom trabalho em atender ao seu ambiente e
manter um olho mecânico nos possíveis sinais de perigo. De vez em quando, o piloto intervém para fazer uma mudança intencional
ou um ajustamento. A inconsciência adaptativa funciona como o piloto automático na medida em que realiza inúmeros cálculos e
ajustes durante outras ações tais como amarrar os sapatos, conduzir um carro, tocar piano, etc (Greenwald, 1992).

Motivação Implícita: A motivação implícita refere-se a todos os motivos, emoções, atitudes e julgamentos que operam fora da
consciência de uma pessoa. Estão relacionados com experiências emocionais. Mindfulness é uma atenção recetiva e sensibilização
dos eventos e experiências do presente. Assim, o mindfulness explica quando os motivos implícitos afetam o comportamento. Com a
ativação emocional da motivação implícita e com a abertura de uma grande mindfulness, as pessoas são capazes de regular o seu
comportamento de forma implícita e produtiva.

Motivação Subliminar: Segundo a noção de motivação subliminar, se uma mensagem fosse projetada a uma velocidade maior a que
o olho seria capaz de captar, ou de forma oculta, não seria vista de forma consciente, mas sim de forma inconsciente, podendo
influenciar as pessoas. Um exemplo deste tipo de motivação foi um caso popular, decorrido na década de 1960, onde um
comerciante sobrepôs as mensagens “Eat popcorn" e "Drink Coke” sobre um filme apresentado num teatro local. Como
consequência, as vendas de pipocas dispararam. Assim, este tipo de motivação tem sido utilizado pela área de Marketing para
conseguir chegar às massas de forma inconsciente.

Psicodinâmica: Para Freud, a psicodinâmica dizia respeito ao conflito entre as estruturas de personalidade do id e do ego. O id
refere-se ao eu, este encontra-se localizado no nível inconsciente do cérebro e é aqui onde ficam armazenadas as nossas motivações
inconscientes, involuntárias e impulsivas/instintivas. Desta forma, o id é um elemento psicológico que tem apenas como interesse
obter prazer e evitar a dor, portanto, não há certo nem há errado. Aqui não se reconhece o que é ou não socialmente aceitável, não
há preocupação com as consequências. Quanto ao ego, Freud afirma que este possui tanto motivações conscientes como
inconscientes, mas que funciona principalmente a nível consciente, na medida em que o ego obedece ao princípio da realidade, ou
seja, este procura satisfazer as necessidades de uma forma socialmente aceitável. Freud observou que muitas vezes as pessoas se
envolviam em comportamentos que claramente não desejavam fazer, e por isso, ele afirmou que a motivação seria mais complexa
do que apenas uma vontade intencional. Quando a vontade consciente (do ego) e a vontade contrária, ou seja, inconsciente (do id)
têm intensidades semelhantes, dá-se uma espécie de conflito interno, no qual nenhuma das duas é completamente satisfeita. A
representação de Freud da mente humana foi uma representação de vontade versus contra-vontade, desejo versus repressão,
excitação versus inibição, sendo que, este conflito de ideias/forças é o que se entende pelo termo psicodinâmica. Hoje em dia, os
psicanalistas salientam que desejos, medos, valores, objectivos, emoções, pensamentos e motivos nunca estão em harmonia, e o
conflito mental é uma constante inevitável. Por exemplo, Drew Westen (1998) assinala que os sentimentos das crianças em relação
aos seus pais quase têm de ser eliminados em conflitos, uma vez que os pais não só proporcionam segurança, conforto e amor, mas
também frustração, angústia e desilusão.

Repressão: A repressão é o processo de esquecer a informação ou uma experiência por meios inconscientes, não intencionais e
automáticos. É uma força oposta psicodinâmica do ego aos desejos, ideias ou memórias do id. Quando impulsos inconscientes
tentam emergir, a ansiedade surge como um sinal de perigo. É esta ansiedade que move a mente inconsciente para a repressão
(Freud, 1959; Holmes, 1974, 1990). Como muitas motivações residem no inconsciente, as pessoas permanecem inconscientes das
suas próprias motivações. As pessoas por norma, fazem os possíveis para permanecerem inconscientes destas motivações, uma vez
que, não suportam saber coisas sobre si próprias que vão contra os seus valores, crenças e opiniões. Desta forma, a consciência das
suas verdadeiras motivações geraria um conflito com o eu ideal ou com o que a sociedade considera ser uma pessoa respeitável. A
repressão é tremendamente difícil de estudar empiricamente porque é preciso perguntar às pessoas sobre coisas de que elas não
têm consciência.

Supressão: A supressão é o processo de remover um pensamento por formas conscientes, intencionais e deliberadas (Wegner,
1992). A capacidade de parar um pensamento está para além da mente humana. Ninguém pode parar um pensamento. Em vez
disso, as pessoas tentam suprimir o pensamento, uma vez que este já tenha ocorrido. Quando nós tentamos não pensar em algo,
automaticamente já estamos a pensar nesse algo, quer queiramos ou não. Por exemplo, se dermos a auto-instrução de "não pensar
naquele doce", inevitavelmente já pensamos nesse doce. Podemos suprimir esse pensamento por alguns segundos ou talvez mesmo
por alguns minutos, mas há uma tendência curiosa para que esse pensamento volte a aparecer (Wegner, 1989; Wegner, Schneider,
Carter, & White, 1987). A supressão do pensamento consciente ativa um processo terciário inconsciente que se explica basicamente
desta forma: enquanto a mente consciente está ocupada a suprimir o pensamento indesejado, a mente inconsciente está
igualmente ocupada a procurar e a detetar a presença do pensamento a ser suprimido. As pessoas dependem da supressão do
pensamento para controlar os seus pensamentos e ações em praticamente todas as áreas da vida. Elas dependem da supressão do
pensamento para o autocontrolo comportamental, como no esforço de se absterem de comer certos alimentos ou de consumir
substâncias viciantes; manter um segredo; o autocontrolo sobre a dor e o medo; evitar tornar público o funcionamento interno da
sua mente e os seus desejos e intenções socialmente ofensivos.

O ID e o Ego Existem Mesmo? Tem-se vindo a questionar se realmente existem estruturas especificas do cérebro que correspondam
ao id e ao ego, e de facto o neocórtex qualifica-se como a estrutura cerebral que corresponde ao ego, pois desempenha todas as
funções que refletem aprendizagem, memória, tomada de decisões e resolução de problemas, sendo que as estruturas límbicas do
cérebro, ou seja, o hipotálamo, tálamo, amígdala, feixe medial, etc são caracterizadas como centros cerebrais de pleasure-
unpleasure. Sendo assim, as vias e estruturas neurais do neocórtex e do sistema límbico estão intrinsecamente inter-relacionadas.
Ou seja, há um conjunto de forças e contra-forças, de excitações e inibições, de ativação do sistema límbico e de inibição neocortical.
Os neurocientistas contemporâneos confirmam ainda que a amígdala geradora de emoções está presente no nascimento enquanto,
o hipocampo gerador de memória amadurece mais tarde. Assim, as experiências da primeira infância podem deixar uma impressão
de memória emocional (aprendizagem implícita) sem uma memória episódica (consciente) correspondente.

Psicologia do Ego: Freud postulou que toda a energia psíquica teve origem no id. Ao nascer, a criança apenas possuía o id, enquanto,
que o ego se encontrava no início dos processos de formação. O id é então a força; e o ego a personalidade - desenvolvido para
cumprir o papel adaptativo. Os Neo-Freudianos viam o funcionamento do ego como algo que era para além da nossa compreensão.
Heinz Hartmann, o "pai da psicologia do ego", viu o ego envolvido num processo de amadurecimento que o tornou cada vez mais
independente das suas origens de id. Para Hartmann, o ego, ao contrário do id, era desenvolvido através da aprendizagem e da
experiência. A aprendizagem ocorre porque a criança se envolveu numa tremenda quantidade de atividades manipuladoras,
exploratórias e experimentais (tais como agarrar, andar e pensar), tudo isto, fornecendo ao ego informações sobre o seu ambiente.
Com o feedback, da sua atividade manipulativa, exploratória e experimental, o ego começa assim a adquirir propriedades -
linguagem, memória, intenções, ideias complexas e assim facilitando a nossa capacidade de adaptação: às realidades, exigências e
constrangimentos do mundo. Hartmann conceptualizou que, devido à capacidade de aprender, de adaptar-se e de crescer, o ego
maduro era maioritariamente autónomo em relação ao id.

Desenvolvimento do Ego: Definir o ego é difícil porque não é um processo de desenvolvimento. O desenvolvimento do ego vai
definir qual é a nossa direção relativamente ao que é possível, em termos de crescimento psicológico, maturidade, ajustamento e
funcionamento autónomo (Hartmann, 1958; Loevinger, 1976). A partir das suas origens infantis, o ego desdobra-se ao longo da
seguinte trajetória de desenvolvimento (Loevinger, 1976): simbiótica; impulsivo; autoproteção; conformista; consciencioso;
autónomo.

Simbiose: O ego é extremamente imaturo e constantemente esmagado por impulsos. O ego é simbiótico no sentido de que o seu
bem-estar está totalmente dependente de nós.

Impulsivo: Somos controlados por forças externas (restrições parentais, regras), isto é, o ego por si só, não controla os impulsos e
desejos da criança. O autocontrolo surge quando a criança antecipa as consequências das suas ações e compreende que existem
regras. O ego assim, interioriza então, as consequências e regras na orientação das suas capacidades de autoproteção defensiva.

Conformista: O ego interioriza as regras aceites pelo grupo. A ansiedade e a desaprovação do grupo tornam-se um fator
extremamente forte contra os impulsos. O ego tem uma consciência, um conjunto internalizado de regras, e um sentido pró-social
de responsabilidade a outros. A consciência funciona como um conjunto de normas internas para incentivar e contrariar impulsos. O
ego autónomo é aquele em que os pensamentos, planos, objetivos e comportamentos provêm do interior do ego e dos seus
recursos e não de impulsos de id ou de outras exigências e pressões das pessoas (incluindo da sociedade). O ego autónomo é auto-
motivante e autorregulador.

Autoproteção: O desenvolvimento do ego é importante para o estudo da motivação, de duas maneiras: ego desenvolve-se para se
defender contra a ansiedade. Se o ego é incapaz de cumprir a sua tarefa de mediação de exigências do id, superego e ambiente
então, irá sofrer de altos níveis de ansiedade. A ansiedade é a reação emocional em que o ego é "obrigado a admitir a sua fraqueza".
O ego desenvolve-se, portanto, cria defesas fortes contra a ansiedade; o ego desenvolve-se para capacitar a pessoa a interagir de
forma mais eficaz e mais proactiva com o seu meio. Aumentando o seu sentido de competência, o ego ganha uma capacidade
crescente para lidar de forma eficaz com desafios ambientais e também para gerar a sua própria motivação interior e tornar-se auto-
motivante.

Defesa do Ego: A existência quotidiana do ego é algo que nos torna vulneráveis. A pessoa que entra numa sala cheia de pessoas
encontra-se num estado de vulnerabilidade. A pessoa que sai num encontro está num estado de vulnerabilidade. A pessoa que tenta
aprender algo novo está num estado de vulnerabilidade. O ego está sempre num estado de vulnerabilidade. Através dos seus
mecanismos de defesa, o ego protege a consciência contras “perigos” potencialmente avassaladores de ansiedade originados de
conflitos criados por: impulsos de id (ansiedade neurótica), exigências do superego (ansiedade moral), perigos ambientais (ansiedade
realista). É o papel dos mecanismos de defesa desempenhar essa função defensiva e protetora. Os mecanismos de defesa existem
numa ordem hierárquica desde os menos maduros até aos mais maduros, do menos adaptativo para o mais adaptativo. Ao nível
mais imaturo, os mecanismos de defesa negam a realidade ou inventam uma realidade imaginária. Mecanismos de defesa como a
negação e a fantasia são os mais imaturos porque o indivíduo falha na tarefa de reconhecer a realidade. No segundo nível estão as
defesas como a projeção em a qual a pessoa reconhece a realidade, mas projeta essa realidade em si mesmo. No terceiro nível de
maturidade estão as defesas mais comuns, incluindo a racionalização e a formação de reações. Estas defesas lidam de forma eficaz
com a ansiedade, mas apenas a curto prazo, não conseguem realizar qualquer ganho de ajustamento a longo prazo (porque a
realidade é reprimida em vez de acomodada). Racionalização, por exemplo, desculpas temporárias. Mas não fornece os meios para
lidar com o problema que produziu a ansiedade, em primeiro lugar. As defesas de nível quatro são as mais adaptativas e maduras e
incluem mecanismos como a sublimação e o humor. A sublimação aceita impulsos inconscientes, mas canaliza eficazmente esses
impulsos para algo socialmente benéfico, tais como, a energia criativa que produz um quadro ou um poema (tornando os impulsos
inconscientes socialmente aceitáveis como pessoalmente produtivos). O humor permite que a pessoa olhe diretamente para o que é
doloroso, stressante e lide com esses provocadores de ansiedade de forma socialmente aceitável. Ainda assim, como todas as
defesas, o humor não transforma a realidade, mas transforma apenas a perceção dela (para aliviar o sofrimento subjetivo).

Eficácia do Ego: A eficácia do ego diz respeito à competência do indivíduo em lidar com desafios, exigências e oportunidades
ambientais. A motivação começa na infância como uma fonte indiferenciada de energia do ego. Para propriedades como por
exemplo: agarrar, rastejar, andar e também para competências adquiridas como a língua, a caligrafia e as habilidades sociais. O ego
tenta lidar satisfatoriamente com as circunstâncias e fatores de tensão que vêm na sua direção. No processo de adaptação e
desenvolvimento, a energia indiferenciada do ego começa a ir em direção a motivos específicos, tais como as necessidades de
realização, filiação, intimidade e poder. Assim começa o desenvolvimento de uma variedade de motivações separadas do ego. A
motivação central do ego permanece na eficácia. O ego evolui para nada mais do que uma mera resposta defensiva e reativa às
exigências da vida. À medida que a criança vai ganhando competências, começa a aprender a produzir mudanças bem-sucedidas no
ambiente. A criança aprende a usar lápis de cera, a trepar árvores, atravessar ruas, alimentar-se a si próprio, escrever cartas, fazer
novos amigos, andar de bicicleta e uma centena de outras tarefas.

Teoria da Relação dos Objetos: A teoria da Relação de Objetos estuda a forma como as pessoas se relacionam com objetos (os
outros) para satisfazer a sua necessidade emocional e psicológica de relacionamento. Esta teoria centra-se no desenvolvimento das
representações mentais da infância, associadas aos processos afetivos (desejos,medos), que cada pessoa tem, e tal irá persistir na
idade adulta. As relações entre objetos sublinham frequentemente o impacto que o abuso ou negligência parental tem sobre as
representações emergentes da criança de si mesma e dos outros (Blatt, 1994; Luborsky & Crits-Christoph, 1990; Strauman, 1992;
Urist, 1980). Quando o cuidador primário é caloroso, carinhoso, recetivo, disponível e digno de confiança, o objeto parental satisfaz a
necessidade de relacionamento da criança, comunica uma mensagem de aprovação, e de forma não-verbal envia uma mensagem
sobre relacionamentos que encoraja relações seguras e afetuosas. Quando o cuidador primário é frio, abusivo, insensível, negligente
e imprevisível, o objeto parental frustra a necessidade de relação da criança, comunica uma mensagem de desaprovação, e de forma
não-verbal envia uma mensagem sobre relações que encoraja relações inseguras e ansiosas (Ainsworth, Blehar, Waters, & Wall,
1978; Sullivan, 1953).

Críticas: Existem duas críticas principais às perspetivas psicanalíticas e psicodinâmicas. A primeira é que muitos dos conceitos de
Freud não são cientificamente testados, o que os tornam compreendidos apenas de forma metafórica e com algum ceticismo. A
segunda é que, embora a teoria psicodinâmica seja boa a interpretar acontecimentos passados, não é uma boa preditora do futuro.
Uma teoria científica deve ser capaz de prever acontecimentos futuros. Para isso, deve permitir-nos antecipar quando uma pessoa
terá ou não um determinado tipo de sonho (ou alcançar um determinado nível de desenvolvimento do ego, ou cometer suicídio,
etc.).

AUTO ATUALIZAÇÃO, MOTIVAÇÃO PARA O CRESCIMENTO E PSICOLOGIA POSITIVA


Introdução: Cada um de nós nasce com um temperamento disposicional, sendo este biologicamente herdado. O nosso
temperamento predispõe-nos a agir de forma inibitória e introvertida ou de forma impulsiva e extrovertida. Algumas pessoas são
naturalmente introvertidas enquanto outras são naturalmente extrovertidas. Algumas culturas desvalorizam certos comportamentos
sociais, e têm preferências em relação a como cada um se deve comportar socialmente, pondo, por isso, uma certa pressão social
em pessoas introvertidas, fazendo com que as mesmas tentem agir de forma extrovertida, para se ajustarem à cultura. Porém, a
psicologia humanista defende que rejeitar a sua própria natureza face a prioridades sociais põe o crescimento pessoal e psicológico
em risco. Estudos sobre pessoas que foram pressionadas a agir de forma contraditória ao seu temperamento biológico, mostraram
que estas encontram problemas como frustração e sentimentos de negação. Estas descobertas introduzem o tema do capítulo: ‘Se o
núcleo essencial (natureza interior) da pessoa é negado e suprimido, o resultado será a doença’ (Maslow, 1968). A esta frase, pode-
se acrescentar o seu complemento óbvio: se o núcleo essencial da pessoa é apreciado e suportado, os resultados serão saudáveis. A
escolha entre seguir a nossa própria natureza ou seguir as prioridades da cultura, não é uma escolha neutra. As preferências e
prioridades sociais são comunicadas e fortemente forçadas como comportamentos desejados, podendo ser transmitidos através de
recompensas, normas, expectativas... É recorrente mostrarem-nos ‘como devemos ser e agir’. Pode ser fácil ouvir as prioridades das
culturas, porém, pode não ser psicologicamente saudável segui-las por completo. Para provar isto, estudos mostram que dedicam a
sua vida à procura de dinheiro, fama e popularidade sofrem mais problemas psicológicos, como ansiedade, depressão ou narcisismo.
A função da Psicologia Humanista na vertente da motivação, é a de encorajar a utilização dos nossos guias internos (interesses,
preferências, valores) e considerar os potenciais benefícios de as coordenar com o dia-a-dia. Estudos mostram que guias internos
como significado, autenticidade, paixão de aprender fazem com que haja um aumento no bem-estar da pessoa e no seu
desenvolvimento pessoal, ao invés do esforço de realizar preferências culturais.

Psicologia Positiva: é uma vertente da psicologia que pretende articular a visão positiva da vida (psicologicamente falando) e utilizar
métodos empíricos de psicologia para perceber o que faz a vida valer a pena. O objetivo é perceber quais são as ações que levam a
experiências positivas (por exemplo, bem-estar, coragem, esperança...). O que distingue a Positive Psychology da Psicologia
Humanista é a confiança nos testes de hipótese e estudos de dados empíricos. A Positive Psychology procura fortalecer as pessoas e
torná-las mais produtivas, procurando atualizar o potencial humano de todos nós. Neste contexto, a auto atualização é um esforço
desenvolvimental próprio. É um processo de deixar para trás a timidez e a dependência nos outros com o objetivo de chegar à auto-
regulação autónoma.

Hierarquia das Necessidades Humanas: Maslow defende que no fundo da hierarquia dominam como os motivos mais fortes
(necessidades fisiológicas) enquanto os do topo (Necessidades de Auto-atualização) os mais fracos. Ou seja, para se poder satisfazer
as necessidades de cima, as de baixo têm de estar suficientemente realizadas. Por exemplo, para se satisfazer as necessidades de
auto-estima, é necessário primeiro satisfazer as necessidades de amor e pertença. Esta hierarquia foi amplamente utilizada na
Educação, Trabalho, Psicoterapia e ainda na Medicina, apesar da validade desta hierarquia, empiricamente falando, se ter mostrado
duvidável. Foi então criada uma hierarquia (Sheldon et. Al.), desta vez com 2 níveis em vez de 5, categorizando aqueles 5 tópicos
apenas em Necessidades Deficitárias e Necessidades de Crescimento/Desenvolvimento.

Incentivo ao crescimento: Maslow acreditava que apenas 1% das pessoas conseguia alcançar o nível da auto-atualização. Ele achava
que as pessoas falhavam devido aos problemas internos (ex: dor crónica das costas) ou externos (pobreza), ou em outros casos, por
culpa própria (ex: medo do seu próprio potencial). Seis comportamentos que promovem auto-atualização: 1- Fazer escolhas para o
nosso próprio Crescimento; 2-Ser Honesto; 3-Posicionar-se para ter novas experiências; 4- Lutar contra as ações defensivas internas;
5- Deixar emergir o ‘eu’; 6- Abrir-se às experiências.

Tendência de atualização: Carl Rogers (1951): “O organismo tem uma tendência e esforço básico – atualizar, manter e aprimorar o
“eu” que experimenta”. A satisfação das necessidades fisiológicas mantém e melhora o organismo, assim como a satisfação das
necessidades de pertença e estatuto social. Além disso, motivos como a curiosidade potencializam e atualizam a pessoa na medida
em que promovem uma maior aprendizagem e desenvolvimento de novos interesses. Rogers, como Maslow, acreditava que a
tendência de atualização era inata, uma presença contínua que guia silenciosamente o indivíduo em direção a potenciais
geneticamente determinados. Esse padrão de desenvolvimento progressivo foi caracterizado por “luta e dor”. O bebé de 9 meses
tem o potencial genético para andar, mas deve lutar para avançar do gatinhar para o andar. A luta para dar esses primeiros passos
inclui, inevitavelmente episódios de queda e sentimentos de frustração, mágoa e desapontamento. Apesar da luta e da dor, a criança
persiste em caminhar e não gatinhar. A dor e a deceção desanimam e desencorajam a motivação da criança para andar, mas a
tendência de atualização, “o impulso da vida para a frente”, apoia a criança sempre para a frente. A tendência de atualização é a
fonte dessa energia que motiva o desenvolvimento “para a autonomia e para longe da heteronomia” (Rogers, 1959). Todas as
experiências de luta e de dor submetidas na realização do próprio potencial são avaliadas de acordo com um “processo de avaliação
organísmica”, uma capacidade inata de julgar se uma experiência específica promove ou reverte o crescimento. As experiências
percebidas como mantendo ou aprimorando a própria pessoa são valorizadas positivamente. Tais experiências promotoras de
crescimento recebem a luz verde metafórica pelo processo de valorização organísmica. As experiências percebidas como regressivas
são valorizadas negativamente. Tais experiências de bloqueio do crescimento recebem a luz metafórica amarela ou vermelha pelo
processo de avaliação organísmica e, portanto, são posteriormente evitadas. Com um sistema de feedback, a informação segue o
comportamento para influenciar a motivação contínua e a persistência subsequente; com um sistema feed- forward, a informação
precede o comportamento para comunicar uma proverbial luz verde, amarela ou vermelha quanto à intenção de agir.
Surgimento do Eu: Com o surgimento do self, uma pessoa cresce em complexidade e o processo de avaliação organísmica começa a
ser aplicado não apenas ao organismo como um todo, mas também ao self em particular. A implicação motivacional mais importante
do surgimento do self é que a tendência de atualização começa a ser expressa em direção àquela porção do organismo entendida
como self. Isso significa que o indivíduo ganha uma segunda grande força motivacional além da tendência de atualização, a
tendência de auto-realização.

Condições de valor: Logo após o nascimento, as crianças começam a aprender as “condições de valor” nas quais o comportamento e
características pessoais são julgados como positivos e dignos de aceitação ou negativos e dignos de rejeição. Ao longo do
desenvolvimento, a estrutura do self expande-se além das condições parentais de valor para incluir também as condições sociais de
valor. Na idade adulta, o indivíduo aprende com os pais, amigos, professores, cônjuges, treinadores, entre outros, quais
comportamentos e quais características são boas e más, certas e erradas, bonitas e feias, desejáveis e indesejáveis. De acordo com
Rogers (1959), todos nós vivemos em dois mundos – o mundo interior da valorização organísmica e o mundo exterior das condições
de valor. Quando governados por condições de valor, os indivíduos divorciam-se dos seus meios inerentes de coordenar a
experiência com a tendência de atualização. A experiência não é mais julgada de acordo com o processo inato de avaliação
organísmica. Em vez disso, a experiência é julgada de acordo com as condições de valor. Rogers via o movimento da criança em
direção a condições de valor e de afastamento da avaliação organísmica como antitético ao desenvolvimento da tendência de
atualização. Quando o indivíduo em desenvolvimento adere às condições de valor, ele se afasta cada vez mais da capacidade
inerente de fazer as escolhas comportamentais necessárias para realizar o self.

Consideração Condicional como Estratégia de Socialização: Como estratégia para socializar crianças e adolescentes, os adultos (pais,
professores) muitas vezes esforçam-se criando “compulsões internas” para que estas façam o que o adulto quer que eles façam e
acreditem no que o adulto quer que eles acreditem (Assor, Kaplan, Kanat-Mayman, & Roth, 2005; Assor et al., 2004). A consideração
condicional, sinónimo de condições de valor, vem de duas formas — positiva e negativa. A consideração condicional positiva é prover
amor e afeição pela obediência e realização; a consideração condicional negativa é retirar esse mesmo amor e a afeição como
resposta a desobediência e fracasso.

Congruência: Congruência e incongruência descrevem até que ponto o indivíduo nega e rejeita (incongruência) ou aceita
(congruência) toda a gama de suas características pessoais, habilidades, desejos e crenças. O indivíduo pode perceber um conjunto
de características e sentimentos, mas expressar publicamente um conjunto diferente de características e de sentimentos. O conflito
entre experiência-expressão revela incongruência; harmonia entre experiência-expressão revela congruência. Uma fachada é
essencialmente a máscara social que uma pessoa usa, e relaciona-se com os modos de comportamento que têm pouco a ver com
guias internos e que estão relacionados a uma fachada social atrás da qual se esconde (Rogers, 1961).

Indivíduo totalmente funcional: Segundo Rogers, quando em pleno funcionamento, o indivíduo vive em estreita e confiante relação
com o processo de avaliação, confiando nessa direção interior, a congruência é uma companhia constante. Além disso, o indivíduo
em pleno funcionamento comunica espontaneamente os impulsos internos quer verbalmente quer não verbalmente. Ele ou ela está
aberto à experiência, aceita as experiências como elas são e expressa essas experiências de uma maneira autêntica e inédita.

Orientações casuais: As pessoas variam das forças que causam o seu comportamento. Algumas pessoas adotam uma orientação
geral de que os seus guias internos e forças autodeterminadas iniciam e regulam principalmente o seu comportamento; outros
adotam uma orientação geral de que os guias sociais externos e os incentivos do meio iniciam e regulam principalmente o seu
comportamento. Na medida em que os indivíduos habitualmente confiam nos guias internos (por exemplo, necessidades,
interesses), os indivíduos têm orientações casuais autónomas. Na medida em que esses indivíduos habitualmente confiam em guias
externos (por exemplo, pistas sociais), eles têm uma orientação casual de controlo. A orientação para a autonomia envolve um alto
grau de escolha experiente em relação à iniciação e regulação do comportamento. Quando orientado para a autonomia, o
comportamento das pessoas prossegue com um sentido pleno poder de escolha e um locus interno de causalidade. Necessidades,
interesses e objetivos pessoalmente valorizados iniciam o comportamento da pessoa, e necessidades, interesses e objetivos regulam
sua decisão de persistir ou desistir. Como por exemplo: Ao fazer uma escolha de cursos universitários ou carreiras, fatores externos
como salário e status não são influências irrelevantes, mas indivíduos orientados para a autonomia prestam mais atenção às suas
necessidades e sentimentos do que às contingências e pressões ambientais. A orientação ao controle envolve uma relativa
insensibilidade aos guias internos, pois os indivíduos orientados ao controle preferem prestar mais atenção aos incentivos
comportamentais e às expectativas sociais, quando estas orientadas para o controle, as pessoas tomam decisões em resposta à
presença e qualidade de incentivos, recompensas, expectativas sociais e preocupações sociais (por exemplo, agradar os outros). Um
ingrediente central na determinação dos modos de pensar, sentir e se comportar das pessoas orientadas para o controle é um
sentimento de pressão para cumprir o que é exigido ou o que deve ser feito. As orientações de causalidade refletem a
autodeterminação na personalidade. Assim, a teoria da autodeterminação explica as origens e a dinâmica das orientações de
causalidade.

A procura de crescimento versus a procura de validação: Quando as pessoas se identificam e interiorizam as condições sociais,
fazem mais do que apenas adotar fachadas socialmente desejáveis. Aparecem as quase-necessidades. As quase-necessidades
surgem na medida em que o indivíduo precisa de aprovação social — direta ou simbolicamente- durante a interação social, isto é,
valorizar-se a si mesmo de acordo com as condições sociais de valor leva as pessoas a processos de procura de validação. Para a
pessoa que precisa da aprovação dos outros para se sentir bem consigo mesma, preencher as condições de valor dos outros leva à
sua validação, enquanto deixar de viver de acordo com as condições de valor dos outros leva a uma perceção de falta de valor
pessoal, competência e empatia.
Durante a interação social, as pessoas que procuram validação externa geralmente usam situações interpessoais para testar ou
medir o seu valor pessoal, competência ou empatia. Isto é, as outras pessoas como por exemplo os seus pares, os seus
empregadores, professores, ou companheiros românticos são vistos como fontes de validação externa e como parâmetros sociais no
qual medem o seu valor pessoal. Resultados positivos geralmente deixam o sentimento de procura de validação como aceite e
validado. Os problemas de ajuste surgem após resultados negativos porque esses problemas implicam falta de valor pessoal,
competência ou empatia. Em contraste com os indivíduos que procuram a validação, os indivíduos que procuram crescimento
concentram seus esforços pessoais em aprender, melhorar e alcançar o potencial pessoal. Procuram o crescimento que leva a pessoa
a adotar um padrão de pensamento no qual as situações e relacionamentos e estes são vistos como oportunidades de crescimento
pessoal, aprendizagem ou autoaperfeiçoamento. Tal como acontece com os indivíduos que procuram a validação, os resultados
positivos da interação interpessoal (por exemplo, inclusão social, aceitação interpessoal, sucessos atléticos ou académicos)
geralmente deixam um sentimento de crescimento validado, porque a procura pelo crescimento individual proporciona uma
sensação de progresso, contrariamente aos indivíduos que procuram validação apesar de os resultados interpessoais negativos (por
exemplo, exclusão, rejeição, fracasso) falharem nos problemas de ajuste porque os resultados negativos simplesmente identificam e
comunicam informações sobre áreas da vida que precisam ser melhoradas. A distinção entre a procura do esforço pela validação vs
pelo crescimento é importante porque prevê vulnerabilidade nas dificuldades na saúde mental, por exemplo quanto mais pessoas se
esforçarem pela validação mais provável que elas sofram de ansiedade durante a interação social, medo de falhar, baixa autoestima,
pouca persistência na execução de tarefas e depressão num grau elevado. Contrariamente, as pessoas que se esforçam pelo
crescimento, mais provável que estas experienciam menos ansiedade na interação social, menos medo de falhar, maior autoestima e
persistência nas tarefas e menos depressão. Em termos de Auto atualização os indivíduos que procuram o crescimento são mais de
viver o presente e comportarem-se de acordo com os seus princípios. Outro nome para a procura pela validação é a procura
intencional, deliberada, indefesa de obter uma autoestima elevada, a procura desta está repleta de custos importantes e a longo
prazo, incluindo: autonomia pessoal, sacrifícios para aprender. Como os relacionamentos com os outros apoiam a tendência
atualizadora, a extensão em que os indivíduos se desenvolvem em direção à congruência e ao ajuste depende muito da qualidade de
seus relacionamentos interpessoais. Em um extremo, os relacionamentos assumem um tom controlador à medida que os outros
forçam as suas agendas sobre outras pessoas, empurrando-as para a heteronomia e o compromisso com condições de valor. No
outro extremo, os relacionamentos assumem um tom de apoio à medida que promovem a autonomia, proporcionando às pessoas a
oportunidade e o apoio necessários para passar da heteronomia à autonomia. Tais relacionamentos nutrem a tendência de
atualização. Na terapia humanísta, por exemplo, um cliente move-se em direção à saúde e à congruência psicológica quando o seu
terapeuta traz as seguintes características para o relacionamento: cordialidade, autenticidade, empatia, aceitação interpessoal e
confirmação da capacidade de autodeterminação da outra pessoa.

Ajudar os outros: Os relacionamentos interpessoais tornam-se relacionamentos construtivos e úteis quando funcionam como uma
arena que permite que as pessoas se tornem mais maduras, mais bem integradas e mais abertas à experiência. Ajudar, na tradição
humanista, não envolve um especialista para resolver o problema, aconselhar ou moldar e manipular. Em vez disso, ajudar envolve
deixar a outra pessoa descobrir e ser ela mesma. Este último insight comunica a antítese das condições de valor.

Relacionamento com os outros: Um índice de desenvolvimento psicossocial saudável é a medida em que o indivíduo aceita as
convenções sociais, acomoda-se à sociedade, internaliza valores culturais, coopera com os outros, mostra respeito pelos outros e
assim por diante. Em vez de serem independentes, egoístas e socialmente distantes, os auto-realizadores são na verdade bons
cidadãos. O que motiva a disposição de acomodar o eu aos outros é a necessidade de relacionamento. As condições de valor, por
exemplo, significam essencialmente que o amor, a aprovação, o cuidado e a conexão emocional da outra pessoa (ou da sociedade)
dependem do cumprimento dos padrões e normas de socialização. Mas há outro tipo de relacionamento entre as pessoas além de
uma consideração positiva condicional que exige conformidade- a aceitação e apoio incondicionais entre as pessoas. Considere o
parentesco tanto na infância quanto no desenvolvimento adulto. A qualidade do relacionamento nos primeiros apegos (bebé e
cuidador) depende de quão sensíveis e responsivos os cuidadores são às necessidades e iniciativas do bebé. Chegou-se então a uma
conclusão paradoxal, os bebés que receberam das mães cuidados calorosos, sensíveis, receptivos e sensíveis não se tornaram
dependentes ou carentes; em vez disso, o cuidado permitiu e até liberou a autonomia da criança. Em contraste, quando os
cuidadores fornecem condições contingentes de valor, as pessoas muitas vezes abrem mão da autonomia para preservar o
parentesco. No desenvolvimento expectável, nem a autonomia nem a relação são perdidas.

Liberdade para aprender: Rogers lamentou profundamente as práticas educacionais contemporâneas. Ele não gostava da ideia de
um “professor” porque sentia que a única aprendizagem que realmente importava era a aprendizagem auto-iniciada. Como
professor, olhando para os resultados de seus próprios esforços, Rogers sentiu que era responsável por mais danos do que
benefícios. Em vez de “professor”, Rogers preferiu “facilitador”, um termo que descreve o líder da sala de aula como aquele que cria
e apoia uma atmosfera propícia à aprendizagem. A auto-descoberta e a auto-avaliação são de extrema importância, enquanto as
críticas e avaliações por parte dos professores são inconsequentes ou prejudiciais. Assim, a educação não é algo que um professor
pode dar (ou forçar). Em vez disso, a educação deve ser adquirida pelo aluno através de um investimento das suas energias e
interesses. Na prática, a educação humanística normalmente manifesta-se em três temas: O facilitador funciona como um agente
estruturante numa sala de aula aberta; Os alunos assumem a responsabilidade de iniciar a sua própria aprendizagem; Os alunos
aprendem cooperativamente e num contexto de grupo de pares. Um facilitador depende da criação de centros ou estações de
aprendizagem na sala de aula para incentivar as escolhas e iniciativas dos alunos, concentra a maior parte de sua atenção na
identificação e apoio às necessidades, desejos, interesses e preferências dos alunos. A responsabilidade pessoal pela aprendizagem
move os alunos para fora do papel de recetores passivos e move para o papel de aprendizes ativos que constroem seus próprios
conhecimentos. A aprendizagem cooperativa baseada em pares facilita a aprendizagem individual, permitindo que os alunos
comuniquem as suas ideias, bem como aprendam com o feedback, modelagem e perceção de seus pares. Quando as salas de aula
apoiam as iniciativas dos alunos (em vez de lhes ensinar o que aprender), os alunos ganham confiança académica, mostram maior
motivação e participam mais ativamente durante as atividades. Para ser justo, a pesquisa contemporânea em psicologia educacional
mostra muitos benefícios do ensino tradicional. Assim sendo, a contribuição de Rogers para a prática educacional foi mais para
adicionar uma abordagem centrada no aluno, e não de substituir a instrução centrada no professor.

Auto-definição e Definição Social: A auto-definição e a definição social são processos de personalidade relacionados com a forma
como os indivíduos conceptualizam quem são. Indivíduos socialmente definidos aceitam definições externas de quem eles são.
Indivíduos auto-definidos resistem a essas definições externas e, em vez disso, favorecem definições internas do eu. Os processos de
auto-definição e definição social são particularmente instrutivos no desenvolvimento da identidade das mulheres. Em comparação
com partes socialmente definidas, as mulheres auto-definidas são mais autónomas e independentes, dependem menos dos outros e
estão menos associadas aos chamados papéis tradicionais, como esposa e mãe. Em contraste, as mulheres socialmente definidas
preferem trabalhar, depender de outras pessoas e preferem papéis femininos tradicionais, tanto em casa quanto no trabalho.

Problema do mal: O mal é a imposição deliberada, voluntária e intencional de sofrimento doloroso a outra pessoa sem respeito pela
sua humanidade ou personalidade. Rogers acreditava que o mal não era inerente à natureza humana. Argumentou que se os
cuidadores fornecessem carinho e aceitação suficientes e estabelecessem uma conexão genuína com aqueles de quem cuidavam,
então as pessoas inevitavelmente escolheriam o bem ao invés do mal. Assim, os seres humanos comportam-se de forma malévola
apenas quando foram feridos ou prejudicados pela sua experiência. Uma pessoa precisa de um sistema de valores (certo e errado).
Se os cuidadores não fornecerem à criança um sistema de valores benevolente, então essa criança vai adquirir um sistema de valores
onde quer que esteja disponível. Se uma sociedade não pode fornecer um sistema de valores benevolente para todos os seus
membros, então deve construir salvaguardas e estruturas nos seus sistemas sociais para renunciar à crueldade e combater os
impulsos.
Quando as pessoas têm o desejo para agir de forma a promover o mal, eles possuem uma personalidade malévola. Segundo Staub
(1999), o mal desenvolve-se da seguinte forma: 1)Os adultos envergonham e desprezam a criança de tal forma que ela chega à
conclusão de que é falho e incompetente como ser humano; 2)a criança incuba uma auto- visão negativa e passa a preferir mentiras
e auto-engano ao auto- exame crítico; 3)ocorre uma transição de vítima para perpetrador insensível; 4)a pessoa inicia a malevolência
experimental; 5)a personalidade malévola é forjada por meio de uma recusa rígida em se engajar em um auto-exame crítico. Essa
visão argumenta que o mal surge da grandiosidade de uma pessoa e do conceito danificado de si mesma para explicar atos
hediondos. A causa parece ter origem na inculturação, e não na natureza humana, no entanto é difícil determinar se o mal é ou não
inerente à natureza humana. Tendo em conta que os crimes, as guerras e o preconceito continuam inabaláveis ao longo da história,
o culpado pode não ser o mal na natureza humana, mas, alternativamente, na cultura doentia em que vivemos.

Psicologia positiva e crescimento: A psicologia positiva procura construir os pontos fortes e as competências das pessoas. Esta
defende que os pontos fortes são tão importantes quanto as fraquezas, a resiliência é tão importante quanto a vulnerabilidade, e a
tarefa ao longo da vida de cultivar o bem-estar é tão importante quanto a tentativa de intervenção para curar a patologia. A
afirmação fundamental sobre o que se baseia a psicologia positiva é que uma boa saúde mental requer mais do que a ausência de
doença mental. Muitas pessoas simplesmente sentem-se vazias, mas não estão doentes. A psicologia positiva tenta encorajar o bem-
estar emocional, psicológico e social que advém do auto-crescimento contínuo, relacionamentos próximos e de uma vida com
propósito e significado.

Otimismo: A maioria das pessoas não são realistas nem precisas em como pensam. A maioria de nós pensa que somos melhores que
a média, e a maioria de nós pensa que somos melhores que a média em todos os tipos de domínios (por exemplo, dirigir, ensinar, ser
honesto, você escolhe). Muitos de nós abrigamos dentro de nós um viés de positividade. Essa tendência generalizada de nos vermos
de uma forma positiva está associada ao bem-estar e ao desempenho aprimorado (Taylor, 1989; Taylor & Brown, 1988). O otimismo
nasce dessa positividade e pode ser entendido como uma atitude positiva ou um bom humor que está associado ao que se espera
que aconteça em seu futuro imediato e, principalmente, de longo prazo (Peterson, 2000). O pensamento desejoso pode ser
prejudicial (Oettingen, 1996), e muitas vezes é ilusório (Freud, 1927). Ainda assim, a evidência empírica suporta a conclusão de que
as pessoas que são otimistas vivem vidas mais dignas do que as pessoas que não o são. Os otimistas experimentam melhor saúde
psicológica e física (Scheier & Carver, 1992), adotam mais comportamentos de promoção da saúde (Peterson, Seligman, Yurko,
Martin e Friedman, 1998), mostram maior persistência e resolução de problemas mais eficaz e são mais socialmente populares
(Peterson, 2000). A razão disso é porque o otimismo dá às pessoas uma sensação de esperança e motivação de que seu futuro pode
de fato ser melhorado, como em casos como aumentar o desempenho escolar, melhorar a saúde pessoal e crescer no
relacionamento interpessoal (Seligman, 1991). O otimismo pode ser ensinado e aprendido otimismo e é geralmente ensinado por
meio da execução do pensamento positivo e das estratégias cognitivas que são o estilo explicativo otimista.

Significado: O existencialismo é o estudo do isolamento e falta de sentido do indivíduo em um universo indiferente. O


existencialismo tem sido estudado de duas maneiras: o pessimismo sombrio e desolador de Sartre ou o otimismo e o sentido de
propósito de Victor Frankl. Embora Frankl seja anterior à psicologia positiva, sua logoterapia (logo = significado) popularizou a
afirmação de que, embora não houvesse sentido para a vida em geral, havia um grande significado na vida de cada indivíduo. O
significado era uma necessidade de descoberta e realização pela qual cada indivíduo precisava lutar, e era uma necessidade humana
tão fundamental quanto a fome.
Do ponto de vista motivacional, o sentido da vida nasce de três necessidades (Baumeister & Vohs, 2002). A primeira necessidade é o
propósito. Para dar à atividade e à luta de hoje um senso de propósito, ajuda se a pessoa gerar metas orientadas para o futuro, como
tentar terminar o ensino médio, se apaixonar durante as férias de verão ou ir para o céu na vida após a morte. Conectar a atividade
do dia com um objetivo futuro efetivamente dota a atividade do dia-a-dia com um senso de propósito que de outra forma não teria.
A segunda necessidade é de valores. Os valores definem o que é bom e o que é certo, e quando internalizamos ou agimos de acordo
com um valor, afirmamos um senso de bondade em nós. A terceira necessidade é a eficácia.

Bem-estar Eudaimônico: Ao diferenciar os dois tipos de felicidade – hedónica e eudaimónica – o bem-estar hedónico é a experiência
do prazer, a ausência de problemas e a vivência de uma vida relaxada e boa, enquanto o bem-estar eudaimónico é a experiência de
buscar desafios, exercendo esforço, estando totalmente engajado e experimentando o fluxo no que está fazendo, agindo de acordo
com seus verdadeiros valores e sentindo-se totalmente vivo e autêntico (Ryan & Deci, 2001). Em sua essência, o bem-estar
eudaimónico é auto-realização. No estudo dos antecedentes do bem-estar eudaimónico, a pesquisa enfatiza três: riqueza e
materialismo, apego e relacionamentos e busca de objetivos pessoais.

Terapia de Psicologia Positiva: Em comparação com outros programas de terapia (por exemplo, terapia cognitivo-comportamental),
a psicologia positiva ainda não possui uma série de técnicas de intervenção validadas. Para estabelecer as bases sobre as quais
construir tais técnicas, um grupo de autores criou e recomendou os seguintes quatro “exercícios de felicidade” (Seligman, Steen,
Park, & Peterson, 2005): 1. Gratidão visita.: Escreva e entregue (pessoalmente) uma carta de gratidão a alguém que foi
especialmente gentil com você, mas nunca realmente agradeceu. 2. Três coisas boas da vida. A cada dia, anote três coisas que
correram bem e identifique a causa de cada uma. 3. Você no seu melhor.: Escreva sobre um momento em que você funcionou no
seu melhor. Reflita sobre os recursos pessoais que possibilitaram esse funcionamento. 4. Identifique os pontos fortes da assinatura:
Identifique até cinco pontos fortes de assinatura pessoal (de uma lista como a da Tabela 15.3) e encontre uma maneira de usar cada
uma de uma nova maneira.
Críticas: Se a natureza humana é algo a ser nutrido em vez de constrangido, então nos perguntamos por que o ódio, o preconceito, o
crime, a exploração e a guerra persistem ao longo da história humana sem interrupção (Geller, 1982). Talvez as pessoas não sejam
tão intrinsecamente honradas e confiáveis. Talvez as pessoas tenham dentro de si não apenas potencialidades humanas positivas,
mas também o potencial de destruir a si mesmas e aos outros (Baumeister & Campbell, 1999; May, 1982; Staub, 1999). Uma
segunda crítica é que os teóricos humanistas usam uma série de construções vagas e mal definidas. É difícil identificar com precisão o
que é um “processo de avaliação organísmica” e um “indivíduo em pleno funcionamento”, por exemplo. Qualquer construção
teórica que fuja de uma definição operacional precisa deve permanecer cientificamente duvidosa. Por esta razão, visões humanistas
sobre motivação têm sido duramente criticadas (Daniels, 1988; Neher, 1991). Os críticos essencialmente recomendam que
abandonemos esses conceitos quase científicos. Mas há um meio-termo que reconhece a relativa infância ou novidade do estudo
humanístico e da psicologia positiva (O'Hara, 1989). Uma terceira crítica questiona como saber o que é realmente desejado ou o que
é realmente necessário para a tendência atualizante (Geller, 1982). Como uma tendência de atualização inerente, o aprendizado
precoce, a socialização e as internalizações também podem produzir a convicção pessoal de que uma maneira de pensar ou se
comportar é certa e natural. Por exemplo, se uma pessoa está 100% confiante de que o aborto é ruim, errado e algo a ser recusado,
então como essa pessoa pode ter certeza de que tal preferência é um produto do processo de avaliação organísmica e não uma
internalização da sociedade? condições de valor? O conhecimento do certo e do errado pode ser difícil de rastrear até as origens de
sua verdadeira fonte (embora a “mindfulness” aprimorada possa ajudar muito nesse sentido).

Conclusão: De forma a concluir, através de uma reflexão do grupo em relação ao trabalho, conseguimos perceber que a auto
atualização, motivação para o crescimento e a psicologia positiva são de grande importância para a compreensão dos
comportamentos e atitudes. Sendo assim, este trabalho foi muito importante na medida em que teve um grande contributo para a
compreensão de situações que ocorrem no nosso dia a dia e que requerem maior atenção para as nossas ações.

NATUREZA DAS EMOÇÕES


Resumo Com este trabalho pretendemos clarificar e aprofundar o tema proposto, “A Natureza das Emoções”. Desta forma,
desenvolvemos o conceito de emoção, bem como a relação que a mesma estabelece com a motivação. Ademais, procurou-se
identificar os motivos que causam este fenómeno através de duas perspetivas: a perspetiva biológica e a perspetiva cognitiva. Além
disso, a quantidade de emoções existentes é alvo de debate à luz de várias e teorias com pontos de vista divergentes. No entanto, o
medo, a raiva, a tristeza, a alegria e o interesse traduzem-se nas emoções básicas. O humor também se insere nesta temática, sendo
distinto da emoção e um verdadeiro potenciador da cognição, que por sua vez conduz pensamentos individuais. A posterior análise
destes subtemas, proporcionou um conhecimento mais abrangente sobre a natureza das emoções, permitindo compreender a sua
importância na vida de qualquer ser humano.

Introdução: No âmbito da unidade curricular Psicologia da Motivação e das Emoções, foi-nos proposto a abordagem do tema
“Natureza das emoções” em torno das 5 questões eternas “Natureza das Emoções”: “O que é uma emoção?”, “O que causa uma
emoção?”, “Quantas emoções existem?”, “Para que servem as emoções?”, e “Qual é a diferença entre emoção e motivação?”.
Quando nos questionam o que é a emoção, de um modo geral, apresentamos dificuldade em definir este mesmo conceito, e por isso
recorremos á literatura para percebermos melhor em que consiste a emoção, bem como o destaque que assume na vida de um
individuo. Portanto, ao longo da leitura desta exposição será percetível que a emoção se relaciona com outros fenómenos
significativos para o nosso desenvolvimento pessoal e autoconhecimento, auxiliando na expressão de sentimentos e pensamentos
que, consequentemente, guiam a nossa conduta.

O que é a emoção? As emoções são fenómenos sentimentais, biológicos, com um propósito, e expressivos, que permitem um
individuo adaptar-se a determinado acontecimento. Estas manifestam-se tipicamente como reações a acontecimentos de vida
importantes, podendo ser positivas ou negativas e, consequentemente geram estados motivacionais e expressões faciais. Após a sua
ativação originam sentimentos e impulsionam o corpo para a ação. Além disso as emoções assumem um papel multidimensional,
podendo ser subjetivas, na medida em que definem de que forma nos sentimos; biológicas associando-se a reações biológicas, isto é,
respostas que preparam o nosso corpo para se adaptar a determinada situação; e fenómenos sociais, que se traduzem através das
nossas expressões faciais, postura e sinais vocais. A emoção é constituída por quatro componentes: os sentimentos que englobam a
experiência subjetiva, a consciência fenomenológica e a cognição; a excitação corporal que se refere á ativação fisiológica,
preparando o corpo para a ação, dando respostas motoras; o sentido de propósito, que por sua vez, relaciona-se com o estado
emocional direcionado para metas, assumindo-se como um aspeto funcional; e a expressão social que alude a nossa comunicação
social, expressões faciais e vocais.

Relação entre emoção e motivação: As emoções podem relacionar-se com a motivação de duas maneiras: as emoções energizam e
direcionam o nosso comportamento, para atingir um propósito específico, ou seja, as emoções assumem um papel importante no
processo de motivação; e também as emoções servem como um sistema contínuo de “leitura”, na medida em que nos permite
perceber os estados motivacionais e a qualidade de adaptação das pessoas. A maioria dos pesquisadores de emoções concorda que
as emoções funcionam como um tipo de motivo. Outros investigadores, argumentaram que as emoções constituem o sistema
motivacional primário (Izard, 1991; Tomkins, 1962, 1963, 1984). Por outro lado, investigadores consideram que impulsos fisiológicos
(como a sede, fome, sono e dor) são motivadores primários. As emoções leem os estados motivacionais que são alvos de constante
mudança e o estado de adaptação pessoal (Buck, 1988). Emoções positivas sinalizam que está tudo bem, refletindo o envolvimento e
a satisfação dos nossos estados emocionais, e evidenciam a adaptação bem-sucedida ao que acontece ao nosso redor. No que diz
respeito às emoções negativas, estas agem como um sinal de alerta de que nem tudo está bem, refletindo a negligência e a
frustração dos nossos estados motivacionais, e evidenciam a nossa adaptação malsucedida em relação ao que acontece ao nosso
redor (Frijda, 1986; Oatley & Jenkins, 1992).

O que causa uma emoção? Quando nos deparamos com um acontecimento de vida marcante, uma emoção é ativada, e também são
ativados processos cognitivos e biológicos que, coletivamente, ativam componentes críticos da emoção, incluindo: os sentimentos; a
excitação corporal; propósito direcionado a um objetivo; e a expressão social. Os fatores biológicos e cognitivos assumem
centralidade na análise desta causalidade. Juntos fornecem um quadro relativamente abrangente do processo emocional. Os autores
que defendem a primazia da biologia acreditam que as reações emocionais não requerem necessariamente avaliações cognitivas, e
que a atividade neural subcortical ou expressões faciais espontâneas ativam emoções. Já os autores que sustentam a cognição como
antecedente emocional, abraçam a ideia de que um individuo só consegue responder emocionalmente com uma avaliação
previamente cognitiva de um significado pessoal estabelecido perante determinado evento.

PERSPETIVA BIOLÓGICA
Izard (1984) descobriu que os bebés respondem emocionalmente a certos eventos, apesar dos seus défices cognitivos, como o
vocabulário e a capacidade de memória limitados. Quando a criança adquire a linguagem e começa a usar capacidades, como a
memória de longo prazo, passa a envolver uma grande quantidade de processamento cognitivo. Izard (1989) insiste que a maioria do
processamento emocional é automático, inconsciente e mediado por estruturas subcorticais. Os bebés, por serem biologicamente
desenvolvidos, mas cognitivamente limitados, são os que melhor demonstram a precedência da biologia na emoção.
Ekman (1992) aponta que a emoção tem um início muito rápido, e consequentemente durações breves que podem ocorrer de forma
automática/involuntária. Além disso, defende que as emoções são biológicas visto que evoluem pelo meio do seu valor adaptativo
ao lidar com tarefas cruciais na nossa vivência. Ekman, tal como Izard, reconhece as contribuições cognitivas, sociais e culturais para
a experiência emocional, mas conclui que a biologia – mais do que a aprendizagem, a interação social ou a história da socialização –
está no núcleo causal da emoção.
Para Panksepp (1982, 1994), as emoções surgem de circuitos neuronais geneticamente dotados que regulam a atividade cerebral. O
mesmo autor afirma que os circuitos cerebrais fornecem a base biológica essencial para a experiência emocional (exemplo: nós e
outros animais herdamos um circuito cerebral de raiva, um circuito cerebral de medo, um circuito cerebral de tristeza, entre outros).
Esta perspetiva apoia-se em três descobertas significativas: a origem de estados emocionais poderá ser não cognitiva devido à
dificuldade em verbalizar os mesmos; a experiência emocional pode ser movida por estimulações elétricas do cérebro ou pela
atividade da musculatura facial; e as emoções ocorrem em bebés e animais irracionais.

PERSPETIVA COGNITIVA
Lazarus, Scherer e Weiner. Para os teóricos Richard Lazarus (1984, 1991a, 1991b), Klaus Scherer (1994a, 1994b, 1997) e Bernard
Weiner (1986), a atividade cognitiva é um pré-requisito necessário para a emoção, na ausência desta atividade a emoção
desaparece.
Para Lazarus (1991a, 1991b), a avaliação cognitiva individual do significado de um evento prepara o terreno para a experiência
emocional. Sendo que o processo de geração de emoção é iniciado com uma avaliação cognitiva de determinado evento.
Scherer (1994a, 1997) concorda com Lazarus na medida em que algumas experiências de vida produzem emoções, enquanto outras
não. Este teórico identifica várias avaliações cognitivas específicas que geram experiências emocionais, incluindo questões, tais
como: “A situação é boa ou má?”; “Consigo lidar bem com esta situação?”; e “Esta situação é moralmente correta?”. As respostas
que damos a estas perguntas geram um processamento cognitivo que dá origem às emoções.
Weiner (1986) concentra-se no processamento de informações que ocorre após resultados de acontecimentos de vida, ou seja, foca-
se no pensamento e na reflexão pessoal após os sucessos e fracassos de vida. Após um sucesso, acreditar que o mesmo foi causado
pelo próprio indivíduo gera uma emoção (orgulho), enquanto acreditar que o mesmo sucesso foi causado por um amigo proporciona
uma emoção diferente (gratidão). Assim podemos perceber que tanto os resultados como eventos pessoais podem ser iguais, mas
se a atribuição for diferente, a experiência emocional também será.
Visão de dois sistemas: Segundo Buck (1984), os seres humanos possuem dois sistemas sincronizados que ativam e regulam a
emoção.
Por um lado, o sistema fisiológico que se caracteriza por ser inato, espontâneo, e também por reagir involuntariamente a estímulos
emocionais, correspondendo ao sistema límbico. Por outro lado, o sistema cognitivo que por sua vez se apoia na interpretação da
experiência social e corresponde ao neocórtex. Posteriormente, as junções destes sistemas fornecem ao ser humano um mecanismo
emocional.
Robert Levenson (1994a) formula a hipótese de como os sistemas de emoção biológicos e cognitivos interagem, ou seja, em vez de
existirem como sistemas paralelos, os dois sistemas influenciam-se.
Panksepp (1994) acrescenta que algumas emoções surgem principalmente do sistema biológico, enquanto outras emoções surgem
essencialmente do sistema cognitivo. Emoções como medo e raiva surgem principalmente de circuitos neuronais subcorticais. Outras
emoções, como gratidão e esperança não podem ser bem explicadas por circuitos neuronais subcorticais. Assim, estas emoções,
surgem principalmente da experiência pessoal, modelagem social e contextos culturais.
Quantas emoções existem? A quantidade de emoções vai depender da perspetiva em causa, mais especificamente da perspetiva
biológica e da perspetiva cognitiva.

Perspetiva Biológica: A perspetiva biológica enfatiza as emoções primarias, existindo várias teorias em torno desta perspetiva.
Jeff Frey Gray (1994) propõe três emoções básicas enraizadas em circuitos cerebrais separados: a alegria que se insere no sistema de
abordagem comportamental; a raiva/ medo no sistema de luta ou fuga e a ansiedade no sistema de inibição comportamental.
Jaak Panksepp (1982) propõe quatro emoções sendo estas o medo, a raiva, o pânico e a expectativa. Este teórico propões estas
emoções com base na sua descoberta de quatro sistemas neuroanatómicos separados geradores de emoções dentro do sistema
límbico.
Nancy Stein e Tom Trabasso (1992) enfatizam quatro emoções, entre as quais a felicidade, a tristeza, a raiva e o medo. Estas
emoções refletem reações às buscas essenciais da vida: realização (felicidade), perda (tristeza), obstrução (raiva) e incerteza (medo).
Silvan Tomkins (1970) distingue seis emoções, tais como, o interesse, o medo, a surpresa, a raiva, a angústia e a alegria, isto porque
este autor descobriu seis padrões distintos de disparo neural, que por sua vez, produzem estas diferentes emoções (por exemplo,
uma taxa de disparo neural mais elevada desencadeia surpresa).
Paul Ekman (1992, 1994a), tal como Tomkins, propõe seis emoções distintas, como o medo, a raiva, a tristeza, o nojo, a alegria e o
desprezo, devendo-se esta distinção à associação que o autor faz das emoções e das expressões faciais universais correspondentes.
Já Robert Plutchik (1980) enumera oito emoções: a raiva, o nojo, a tristeza, a surpresa, o medo, a aceitação, a alegria e a
antecipação. Cada uma das emoções mencionadas corresponde a um comportamento comum a todos os organismos vivos, por
exemplo, o medo corresponde à proteção.
Carroll Izard (1991) nomeia 10 emoções com base na sua teoria das emoções diferenciais, entre as quais, a raiva, o medo, a angústia,
a alegria, o nojo, a surpresa, a vergonha, a culpa, o interesse e o desprezo.

Perspetiva Cognitiva: Os teóricos apontam que várias emoções diferentes podem surgir da mesma reação biológica. Para os teóricos
cognitivos, os seres humanos experimentam uma rica diversidade de emoções, devido á interpretação das situações (Shaver,
Schwartz, Kirson e O'Connor, 1987) e porque a emoção surge de uma mistura de avaliação cognitiva (Lazarus, 1991a), linguagem
(Storm & Storm, 1987), conhecimento pessoal (Linville, 1982), história de socialização (Kemper, 1987) e expectativas culturais
(Leavitt & Power, 1989).

Emoções Básicas: As emoções são parte do desenvolvimento natural de cada ser humano, independentemente do contexto em que
esteja. Em geral, estão relacionadas à evolução e à adaptação. Segundo Ekman & Davidson (1994), as emoções são inatas e não
adquiridas ou aprendidas por meio da experiência ou socialização; surgem das mesmas circunstâncias para todas as pessoas; são
expressas de forma única e distinta; e evocam uma resposta fisiológica padronizada distinta e altamente previsível.

Medo: O medo é uma reação emocional que surge da interpretação feita por determinada pessoa da situação que a mesma
enfrenta, caracterizando-a como perigosa e ameaçadora ao seu bem-estar. Os perigos e ameaças percebidos podem ser psicológicos
ou físicos. A perceção de que se pode fazer pouco para lidar com uma ameaça ou perigo ambiental é pelo menos uma fonte de medo
tão importante quanto qualquer característica real da própria ameaça/ perigo (Bandura, 1983). Desta forma, o medo trata-se de
uma vulnerabilidade percebida de ser dominado por uma ameaça ou perigo.

Raiva: A raiva provém da restrição, da interpretação de que os planos, objetivos ou bem-estar de uma pessoa sofreram interferência
de alguma força externa (obstáculos, etc). Esta emoção também surge de outras formas, como através duma traição de confiança,
rejeição, receção de críticas injustificadas, falta de consideração por parte dos outros, e pequenos acontecimentos acumulados
(Fehr, Baldwin, Collins, Petterson e Benditt, 1999). Desta forma é percetível que a essência da raiva é a crença de que uma situação
não é o que deveria ser.

Nojo: O nojo surge dos nossos encontros com qualquer objeto que consideramos estar contaminado de alguma forma, incluindo as
contaminações corporais (má higiene, sangue coagulado, morte), as contaminações interpessoais (contato físico com pessoas
indesejáveis) e as contaminações morais (abuso infantil, incesto, infidelidade). A função do nojo é a rejeição, isto, porque através do
desgosto, o indivíduo rejeita ativamente algum aspeto físico ou psicológico do ambiente. Assim o nojo desempenha um papel
motivacional positivo nas nossas vidas, visto que sentindo nojo, desejamos evitar objetos contaminados e aprendemos os
comportamentos de enfrentamento necessários para evitar encontrar (ou criar) condições que produzam nojo. Portanto, como as
pessoas evitam colocar-se em situações repugnantes, consequentemente mudam hábitos e atributos pessoais, higienizam o seu
ambiente e reavaliam os seus pensamentos e valores.

A tristeza surge principalmente através de experiências de separação (a perda de um ente querido, separação de um lugar (cidade
natal) e de um emprego, por exemplo) ou fracasso (como reprovar num exame, perder uma competição ou ser rejeitado como
membro de um grupo, por exemplo). No entanto, a tristeza motiva o indivíduo a iniciar qualquer comportamento necessário para
aliviar as circunstâncias que provocam angústia antes que as mesmas ocorram novamente.

Ameaça e Dano Os temas que organizam as diversas emoções de medo, tristeza, raiva e nojo são a ameaça e o dano. Quando
eventos ameaçadores ou nocivos são previstos ou antecipados, sentimos medo, e durante a tentativa de lutar ou rejeitar a ameaça
ou dano, sentimos raiva e repulsa, depois de dada a ocorrência de ameaça ou dano sentimos tristeza. À vista disto, como forma de
resposta à ameaça e ao dano o medo motiva o comportamento de evitação, isto é, fugir da ameaça; a raiva motiva a luta e uma
contra defesa vigorosa; e o nojo motiva a rejeição do evento ou objeto aversivo. A tristeza leva à inatividade e ao retraimento e é
eficaz quando leva o sujeito a desistir dos esforços de enfrentamento em situações das quais não pode fugir, rejeitar ou lutar contra.
Portanto, o medo, a raiva, o nojo e a tristeza trabalham coletivamente para dotar o indivíduo de um sistema emocional para lidar
efetivamente com todos os aspetos de ameaça e dano.
Alegria é a evidência emocional de que as coisas estão bem. Os eventos que trazem alegria incluem resultados desejáveis como o
sucesso na realização de uma tarefa, a realização pessoal, o progresso em direção a um objetivo, conseguir o que queremos, ganhar
respeito, receber amor ou afeto, receber uma surpresa agradável ou experimentar sensações satisfatórias (Ekman & Friesen, 1975).;
Izard, 1991; Shaver et al., 1987). As causas da alegria são resultadas desejáveis relacionados ao sucesso pessoal e ao relacionamento
interpessoal, que são essencialmente o oposto das causas da tristeza. A função da alegria é dupla. Primeiro, a alegria facilita a nossa
vontade de nos envolvermos em atividades sociais. Em segundo lugar, a alegria tem uma “função calmante” (Levenson, 1999). Logo,
a alegria é o sentimento positivo que torna a vida agradável e equilibra experiências de vida.

O interesse é a emoção mais predominante no funcionamento do dia-a-dia (Izard, 1991). Algum nível de interesse está sempre
presente, e o mesmo cria o desejo de explorar, investigar, buscar, manipular e extrair informações dos objetos que nos cercam. O
interesse de uma pessoa numa atividade determina quanta atenção é direcionada à mesma e quão bem essa pessoa processa,
compreende e se lembra de informações relevantes (Hidi, 1990; Renninger et al., 1992; Renninger & Wozniak, 1985; Schiefele, 1991;
Shirey & Reynolds, 1988).

Emoções Básicas Positivas


Envolvimento Motivacional e Satisfação: O envolvimento motivacional e satisfação são temas que unem as emoções positivas: o
interesse e a alegria. Quando um evento benéfico relacionado com as nossas necessidades e bem-estar é antecipado, sentimos
interesse. E quando o evento se materializar na satisfação, sentiremos alegria. O interesse motiva a abordagem e o comportamento
exploratório necessários para promover o contato com o evento potencialmente satisfatório. O interesse também prolonga o nosso
envolvimento na tarefa, de modo a podermos experimentar a satisfação. A alegria aumenta e, de alguma forma, substitui o interesse
uma vez que a satisfação do motivo ocorre (Izard, 1991), por isso a alegria promove a persistência contínua da tarefa. A junção do
interesse e da alegria fornecem o suporte emocional para se envolver total e voluntariamente numa atividade.

Para que servem as emoções? O trabalho sobre a utilidade ou função das emoções começou com o The Expression of Emotions in
Man and Animals (1872), de Charles Darwin. No seu trabalho, Darwin argumentou que as emoções ajudam os animais a adaptarem-
se ao ambiente. As demonstrações de emoções ajudam na adaptação da mesma forma que as demonstrações de características
físicas (e.g. altura) - por exemplo, um cão a mostrar os dentes em defesa do seu território ajuda-o a proteger-se de adversários. Esta
expressividade é funcional e deste modo as emoções são candidatas à seleção natural.
Estratégias de coping: Segundo Plutchik (1970, 1980), as emoções servem para pelo menos 8 propósitos distintos: a proteção, a
destruição, a reprodução, a reunião, a afiliação, a rejeição, a exploração e a orientação. Não existe uma emoção “má”. A alegria não
é necessariamente uma emoção positiva, e a raiva e o medo não são necessariamente emoções negativas (Izard, 1982). Todas as
emoções são benéficas porque direcionam a atenção e canalizam o comportamento para onde é necessário, dadas as circunstâncias
que enfrentamos.

Funções sociais: As emoções servem para funções sociais, tais como, (Izard, 1989; Keltner & Haidt, 1999; Manstead, 1991)
comunicar os nossos sentimentos aos outros; influenciar como os outros interagem connosco; convidar e facilitar para a interação
social; e para de certa forma criar, manter e dissolver relacionamentos. O sorriso é uma forma amigável de interação social, que
pode transmitir alegria ou de convite para facilitar a interação. Existem 2 tipos de sorriso: o sorriso social (para suavizar as interações
sociais) e o sorriso emocional (em resposta a resultados positivos).
Porque temos emoções? A vida é cheia de desafios, tensões e problemas a serem resolvidos. As emoções existem como soluções
para esses desafios, tensões e problemas (Ekman, 1992; Frijda, 1986, 1988; Lazarus, 1991a; Scherer, 1994b). Alguns argumentam que
as emoções não servem para nenhum propósito útil, justificando que as emoções interrompem a atividade contínua, desorganizam o
comportamento e roubam-nos a nossa racionalidade e lógica (Hebb, 1949; Mandler, 1984). As ameaças de hoje existem em menor
escala e, portanto, não requerem o mesmo tipo de mobilização dos nossos sistemas emocionais. No fim, se as emoções nos servem
bem depende de quão capazes somos de autorregular os nossos sistemas emocionais, de modo que experimentamos a regulação da
emoção em vez da regulação pela emoção (Gross, 1999).

Qual é a diferença entre a emoção e o humor? As emoções emergem de situações significativas da vida e de avaliações da sua
importância para o nosso bem-estar. Elas influenciam principalmente o comportamento e direcionam cursos de ação específicos.
Quanto ao curso de tempo diferente, as emoções emanam de eventos de curta duração que duram segundos ou talvez minutos. O
humor, por outro lado, emerge de processos mal definidos e muitas vezes desconhecidos (Goldsmith, 1994). No entanto, influencia
principalmente a cognição e direciona o que a pessoa pensa (Davidson, 1994). O humor provém de eventos mentais que duram
horas ou talvez dias. Portanto, o humor é mais duradouro do que as emoções (Ekman, 1994a).
Humor Quotidiano: Uma pessoa geralmente experiência um fluxo sempre presente de humor. Embora as emoções sejam
relativamente raras na experiência diária, as pessoas estão sempre a sentir algo. O que normalmente sentem é um estado de
espírito, uma forma de sentir que muitas vezes existe como efeito colateral de um episódio emocional vivenciado anteriormente
(Davidson, 1994). O humor existe como um estado de afeto positivo ou como um estado de afeto negativo (ou seja, bom humor,
mau humor – Watson, Clark e Tellegen, 1988; Watson e Tellegen, 1985). O afeto positivo reflete um envolvimento satisfatório,
enquanto o afeto negativo reflete um envolvimento desagradável.

O afeto positivo refere-se ao estado geral e quotidiano de se sentir bem (Isen, 1987) e é o brilho caloroso que muitas vezes
acompanha as experiências agradáveis do dia a dia, como caminhar no parque num dia ensolarado, receber um presente inesperado
ou uma boa notícia, ouvir música ou progredir em uma tarefa. Embora nos concentremos no cenário do parque, nas boas notícias, na
música agradável ou no feedback positivo, o leve sentimento bom surge subconscientemente. O propósito de uma emoção é captar
a atenção e direcionar o comportamento de confronto (para que a pessoa possa se adaptar às demandas situacionais de forma
eficaz). Este não afeta nem a atenção nem o comportamento, em vez disso, o afeto positivo influencia sutilmente o fluxo de
processamento de informações - o que pensamos, as decisões que tomamos, criatividade, julgamentos e assim por diante (Isen,
1897, 2002).

Benefícios de nos sentirmos bem: Em comparação com as pessoas de humor neutro, as pessoas expostas a condições que lhes
permitem sentir-se bem são mais propensas: a ajudar os outros (Isen & Levin, 1972), a agir socialmente (ou seja, iniciar conversas,
Batson, Coke, Chard, Smith, & Taliaferro , 1979), a expressar maior afeição pelos outros (Veitch & Griffitt, 1976), a ser mais generoso
com os outros (Isen, 1970) e consigo mesmo (Mischel, Coates, & Raskoff, 1968), a assumir riscos (Isen & Patrick, 1983), a agir de
forma mais cooperativa e menos agressiva (Carnevale & Isen, 1986), a resolver problemas de forma criativa (Isen et al., 1987), a
persistir diante do feedback de falha (Chen & Isen, 1992), a tomar decisões de forma mais eficiente (Isen & Means, 1983), e a
mostram maior motivação intrínseca em atividades interessantes (Isen & Reeve, 2005).

Conclusão: Com a elaboração deste trabalho, foi possível perceber a importância de todas as emoções para o ser humano, sejam
elas de cariz negativo ou positivo. As emoções podem ser um grande fator de influência na atividade motivacional, e por sua vez,
permitir uma avaliação dos estados motivacionais e a qualidade de adaptação de um individuo em determinada situação. Além disso
é percetível que a junção de fatores biológicos e cognitivos viabiliza o acesso a um quadro relativamente abrangente do processo
emocional. No fundo, as emoções são guias emocionais orientadoras da nossa conduta, que proporcionam a divulgação de
sentimentos aos que nos rodeiam, influenciando a forma como os mesmos interagem connosco, facilitando a criação e riqueza de
interações sociais. Assim, além de beneficiarem as relações sociais também permitem um melhor autoconhecimento pessoal.

AS EMOÇÕES: ASPETOS BIOLÓGICOS E COGNITIVOS


Resumo. Existem três aspetos centrais da emoção: biológico, cognitivo e sociocultural. O capítulo começa por abordar a análise
biológica da emoção porque as emoções são, em parte, reações biológicas a eventos importantes da vida. Estes eventos servem a
funções de enfrentamento que permitem que o indivíduo se prepare para se adaptar efetivamente a importantes circunstâncias da
vida. As emoções energizam e direcionam as ações corporais (por exemplo, correr, lutar) afetando (1) o sistema nervoso autónomo e
sua regulação do coração, pulmões e músculos; (2) o sistema endócrino e sua regulação de glândulas, hormônios e órgãos; (3) os
circuitos cerebrais neurais, como os do sistema límbico; (4) a taxa de disparo neural e, portanto, o ritmo de processamento da
informação; e (5) feedback facial e padrões discretos da musculatura facial. Pesquisas sobre os fundamentos biológicos da emoção
identificam que a ativação e a manutenção geram cerca de 10 emoções diferentes que podem ser compreendidas a partir de uma
perspetiva biológica, estas são: interesse, alegria, medo, raiva, desgosto, angústia, desprezo, vergonha, culpa e surpresa. Quatro
emoções mostram um padrão único de especificidade fisiológica do sistema nervoso autónomo e do sistema endócrino. Outras
quatro emoções possuem circuitos neurais anatômicos únicos no cérebro. A teoria das emoções diferenciais mostra que 10 emoções
têm expressões faciais únicas e transculturais. E seis emoções estão associadas a uma taxa única de disparo neural no córtex. A
hipótese do feedback facial afirma que o aspeto subjetivo da emoção é, na verdade, a consciência do feedback propriocetivo da ação
facial. A hipótese do feedback facial aparece em duas formas: fraca e forte. De acordo com sua versão forte, expressões faciais
moderadas ativam emoções específicas, de modo que sorrir ativa alegria. De acordo com a sua versão fraca, expressões faciais
exageradas e suprimidas aumentam e atenuam a emoção natural. Embora a pesquisa seja mista na versão forte, as evidências
confirmam a validade da versão mais fraca. A articulação facial modera a experiência emocional, pois as pessoas podem intensificar
ou reduzir a sua experiência emocional naturalmente, exagerando ou suprimindo as suas ações faciais. O construto central da
compreensão cognitiva da emoção é a avaliação. Existem dois tipos de avaliação - primária e secundária, estas regulam o processo
emocional. A avaliação primária avalia se algo importante está ou não em jogo numa situação- bem-estar físico, autoestima, um
objetivo, situação financeira, respeito ou o bem-estar de um ente querido. A avaliação secundária ocorre após alguma reflexão e gira
em torno de uma avaliação de como lidar com um potencial benefício, dano ou ameaça. Os teóricos da avaliação perseguem o
objetivo de construir uma árvore de decisão na qual conhecer todas as diferentes avaliações que a pessoa faz durante um episódio
emocional produzirá uma previsão de qual emoção a pessoa inevitavelmente experimentará (por exemplo, algo está em jogo, foi
perdido e foi perdido por causa de uma força externa e ilegítima, gera raiva). A emoção também está incorporada na cognição por
meio do conhecimento e atribuições da emoção. O conhecimento das emoções envolve aprender distinções subtis entre emoções
básicas e aprender quais situações causam quais emoções. O conhecimento sofisticado da emoção permite que o indivíduo avalie
uma situação com alta discriminação e, portanto, responda com emoções altamente apropriadas. Uma análise de atribuição
concentra-se nas atribuições pós-resultado para explicar quando e por que as pessoas sentem orgulho, gratidão ou esperança após
resultados positivo; e culpa, vergonha, raiva e pena após resultados negativos. Numa análise social e cultural da emoção, outras
pessoas são as nossas fontes mais ricas de experiências emocionais. Durante a interação social, muitas vezes “usamos” as emoções
de outras pessoas por meio de um processo de contágio emocional que envolve mímica, feedback e, eventualmente, contágio.
Também compartilhamos e revivemos as nossas experiências emocionais recentes durante conversas com outras pessoas, um
processo conhecido como compartilhamento social de emoções. E a cultura socializa seus membros para experimentar e expressar
emoções de maneiras particulares. Outras pessoas e culturas em geral nos instruem sobre as causas de nossas emoções
(conhecimento emocional), como devemos expressar nossas emoções (gestão de expressões) e quando controlar nossas emoções
(gestão de emoções).

Aspetos Biológicos da Emoção: Á medida que eventos importantes da vida surgem no nosso caminho, ativam reações biológicas e
cognitivas em nós. Os processos biológicos e cognitivos resultantes geram emoção, e a emoção prepara-nos para lidar de forma
adaptativa com eventos importantes da nossa vida. Assim, as emoções são, em parte reações biológicas a eventos importantes da
vida.

Teoria de James- Lange: A experiência pessoal sugere que experimentemos uma emoção, e que a emoção sentida é rapidamente
seguida por mudanças corporais. Assim que vemos luzes vermelhas a piscar e ouvimos a sirene de um carro da polícia, o medo surge
e a sensação de medo posteriormente faz o nosso coração disparar e as nossas palmas suarem. A sequência de eventos parece ser:
estímulo, emoção, reação corporal. William James argumentou contra essa visão comum. sugerindo que as nossas mudanças
corporais não seguem a experiência emocional, em vez disso a experiência emocional é que segue e depende das nossas respostas
corporais às luzes que piscam e aos sons das sirenes. Assim, as mudanças corporais causam experiência emocional: estímulo, reação
corporal, emoção. A teoria de James baseava-se em 2 suposições: 1ª o corpo reage de forma única (discriminatória) a diferentes
eventos que provocam emoções e 2 o corpo não reage a eventos que não provocam emoções. O corpo reage e as reações
emocionais que se seguem estão sobre nós antes que estejamos cientes daquilo que está a acontecer. James argumentou que essas
reações corporais instantâneas ocorrem em padrões discerníveis, e a experiência emocional é a maneira de uma pessoa dar sentido
a cada padrão diferente de reações corporais. A teoria das emoções de James Lange tornou-se popular, mas também recebeu
críticas. Os críticos argumentavam que o tipo de reação corporal a que James se referia era na verdade parte da resposta geral de
luta ou fuga do corpo. Esses críticos afirmavam que o papel da excitação fisiológica era aumentar em vez de causar a emoção.

Perspetiva contemporânea: Diante as críticas, as ideias de James perderam a popularidade, e teorias rivais da emoção surgiram e
tornaram-se populares. Paul Ekman, Robert Levenson e Wallace Friesen (1983) estudaram se cada uma das várias emoções tem ou
não um padrão único de mudanças corporais. Esses investigadores recrutaram pessoas que podiam experimentar emoções sob
comando (atores profissionais) e pediram a cada pessoa para reviver cinco emoções diferentes- raiva, medo, tristeza, alegria e nojo-
enquanto os investigadores mediam padrões específicos de atividade fisiológica de emoção. Diferenças distintas na frequência
cardíaca (FC) e temperatura da pele (ST) surgiram. Com raiva, FC e ST aumentaram. Com medo, a FC aumentou enquanto o ST
diminuiu. Com tristeza, a FC aumentou enquanto o ST estava estável. Com alegria, a FC ficou estável enquanto a ST aumentou. E com
desgosto, tanto FC quanto ST diminuíram. Assim como James suspeitava, emoções diferentes de facto produziam padrões distintos
de atividade corporal. Existem evidências persuasivas para a atividade distinta do sistema nervoso autónomo (SNA) associada à raiva,
medo, nojo e tristeza. Esses padrões de atividade do SNA supostamente surgiram porque foram capazes de recrutar modos de
comportamento que se mostraram adaptativos. Por exemplo, numa discussão que desperta raiva, o aumento da frequência cardíaca
e da temperatura da pele facilitam um comportamento forte e assertivo. No entanto, apenas algumas emoções têm padrões
distintos de SNA. Se nenhum padrão específico de comportamento tem valor de sobrevivência para uma emoção, há pouca razão
para o desenvolvimento de um padrão específico de atividade do SNA (Ekman, 1992, 1994). Por exemplo, qual é o padrão
comportamental mais adaptativo ao ciúme, alegria e esperança? Para essas emoções, nenhuma atividade adaptativa parece
universalmente mais apropriada, pois o enfrentamento adaptativo depende mais das especificidades da situação do que da emoção
em si. Portanto, há poucas razões para esperar que um único padrão de atividade do SNA evolua. Ao discutir a teoria da emoção de
James-Lange, a questão fundamental é se a excitação fisiológica causa, ou apenas segue, a ativação da emoção. Esta questão é
importante porque se a excitação causa emoção, então o estudo da excitação fisiológica torna-se a pedra angular para qualquer
compreensão da emoção. A excitação fisiológica acompanha, regula e prepara o cenário para a emoção, mas não a causa
diretamente. A perspetiva moderna é que as emoções recrutam suporte biológico e fisiológico para permitir comportamentos
adaptativos como lutar, fugir e cuidar (Levenson, 1994b).

Circuitos Neurais Específicos: Os primeiros investigadores procuraram padrões específicos de emoção de atividade fisiológica,
enquanto investigadores contemporâneos procuram padrões específicos de emoção na atividade cerebral. Por exemplo, as
descobertas neuroanatómicas de Jeffrey Gray (1994) com mamíferos não humanos documentam a existência de três circuitos
neurais distintos no cérebro: um sistema de abordagem comportamental que prepara o animal para procurar e interagir com
oportunidades ambientais atraentes, um sistema de luta ou fuga que prepara o animal para fugir de alguns eventos aversivos, mas
para se defender agressivamente contra outros eventos, e um sistema de inibição comportamental que prepara o animal para
congelar diante de eventos aversivos. Esses três circuitos neurais estão subjacentes às quatro emoções de alegria, medo, raiva e
ansiedade.

Ativação neural: Diferentes emoções são ativadas por diferentes taxas de disparo neural cortical. O disparo neural refere-se ao
padrão de atividade eletrocortical (no cérebro) num determinado momento. De acordo com Silvan Tomkins, existem três padrões
básicos de disparo neural: a atividade aumenta, a atividade diminui ou a atividade permanece constante. Se a taxa de disparo neural
está a aumentar, diminuir ou constante depende principalmente de eventos ambientais. Por exemplo, se estivermos a dormir (baixa
taxa de disparo neural) e um gato saltar para o nosso rosto (evento estimulante), a taxa de disparo neural aumentará. Se estivermos
num concerto de rock (evento estimulante) e sairmos para um lugar silencioso, a taxa de disparo neural diminuirá. Outras vezes, a
atividade neural é constante. Com estes três padrões básicos de disparo neural, a pessoa está equipada para praticamente todos os
eventos importantes da vida. Se o disparo neural aumenta repentinamente, a pessoa experimenta emoções como - surpresa, medo
ou interesse. Se o disparo neural atinge e mantém um nível alto, então o disparo neural constante (e alto) ativa angústia ou raiva.
Finalmente, se o disparo neural diminui, a alegria é ativada, pois o indivíduo ri e sorri com alívio.

Teoria das Emoções Diferenciais: A teoria das emoções diferenciais leva o nome de sua ênfase nas emoções básicas servindo a
emoções únicas, diferentes propósitos motivacionais (Izard, 1991, 1992, 1993; Izard & Malatesta, 1987). Essa teoria segue os
seguintes pressupostos: 1.Dez emoções constituem o principal sistema de motivação para os seres humanos. 2.Sentimento único:
Cada emoção tem sua própria qualidade subjetiva e fenomenológica única. 3.Expressão única: Cada emoção tem seu próprio padrão
expressivo facial. 4.Atividade neural única: cada emoção tem sua própria taxa específica de disparo neural que a ativa.
5.Propósito/motivação único: Cada emoção gera propriedades motivacionais distintas e serve a funções adaptativas.
Ao ver a lista de emoções provavelmente irá suscitar a seguinte pergunta: Onde estão emoções como ciúme, esperança, amor, ódio,
presunção e preocupação? Teorias biologicamente orientadas não contam com experiências como essas entre as emoções básicas.
Paul Ekman (1992) oferece sete razões para explicar o porquê: 1.As famílias de emoções existem de tal forma que muitas emoções
não básicas são derivadas baseadas na experiência de uma única emoção básica (por exemplo, a ansiedade é derivada do medo).
2.Muitos termos de emoção na verdade descrevem melhor os humores (por exemplo, irritação). 3.Muitos termos de emoção na
verdade descrevem melhor as atitudes (por exemplo, ódio). 4.Muitos termos emocionais realmente descrevem melhor os traços de
personalidade (por exemplo, ser desagradável com alguém). 5.Muitos termos emocionais realmente descrevem melhor os
transtornos (por exemplo, depressão). 6.Algumas emoções não básicas são combinações de emoções básicas (por exemplo, o amor
romântico combina interesse, alegria e desejo sexual). 7.Muitas palavras de emoção referem-se a aspetos específicos de uma
emoção básica (por exemplo, o que provoca a emoção (ter saudades de casa) ou como uma pessoa se comporta (ser agressivo).
Hipótese de Feedback Facial: De acordo com a hipótese do feedback facial, o aspeto subjetivo da emoção decorre de sentimentos
derivados por: movimentos da musculatura facial, mudanças na temperatura facial e mudanças na atividade glandular na pele facial.
Portanto, as emoções são “conjuntos de respostas musculares e glandulares localizadas na face” (Tomkins, 1962). A exposição a um
ambiente externo (ruído alto) ou interno (memória de estar prejudicado) aumenta a taxa de disparo neural com rapidez suficiente
para ativar um programa de emoção subcortical, como o medo. O cérebro subcortical (sistema límbico) possui programas inatos,
geneticamente programados e específicos para emoções. Quando são ativados, esses programas enviam impulsos para os gânglios
da base e nervo facial para gerar expressões faciais discretas. Dentro de microssegundos da expressão facial de medo exibida, o
cérebro interpreta a estimulação propriocetiva (quais músculos estão contraídos, quais músculos estão relaxados, mudanças no fluxo
sanguíneo, mudanças na temperatura da pele, secreções glandulares). Esse padrão particular de feedback facial é integrado
corticalmente para dar origem ao sentimento subjetivo de medo. Só então o lobo frontal do córtex se torna consciente do estado
emocional de um nível consciente. Rapidamente depois disso, todo o corpo se une ao feedback facial para se envolver na emoção do
medo, à medida que os sistemas glandular-hormonal, cardiovascular e respiratório são despertados amplificam e sustentam a
experiência de medo ativada. A ação facial também altera a temperatura do cérebro, de modo que os movimentos faciais associados
à emoção negativa (tristeza) restringem a respiração, aumentam a temperatura do cérebro e produzem sentimentos negativos,
enquanto os movimentos faciais associados à emoção positiva (felicidade) aumentam a respiração, resfriam a temperatura do
cérebro e produzem sentimentos positivos. (McIntosh, Zajonc, Vig, & Emerick, 1997; Zajonc, Murphy, & Inglehart, 1989).

Teste da hipótese do Feedback Facial: A pesquisa tanto apoiou, quanto refutou a versão forte do FFH (Feedback facial). Uma área de
consenso é que uma musculatura facial posicionada produz mudanças confiáveis nas reações fisiológicas, como mudanças nas
frequências cardiovascular e respiratória. Ainda é debatido se a musculatura facial posada produz experiência emocional, mas a
maioria dos estudos sugere que ela produz pelo menos um pequeno efeito. Na sua versão mais fraca, o FFH propõe que o feedback
facial modifique a intensidade (em vez de causar) a emoção. Assim, administrar a musculatura facial de uma pessoa em uma exibição
emocional específica aumentará (exagerará), mas não necessariamente ativará (causará) a experiência emocional. Exagerar as
expressões faciais que ocorrem naturalmente aumentou a experiência emocional e fisiológica, assim como suprimir as expressões
faciais que ocorrem naturalmente suavizou a experiência emocional e fisiológica. As emoções ativam as expressões faciais e as
expressões faciais, por sua vez, retroalimentam para exagerar e suprimir as emoções que sentimos.

As expressões faciais de emoção são universais em todas as culturas? A hipótese de feedback facial assume que as expressões
faciais são inatas. Mas muito do comportamento facial é certamente aprendido. É raro o indivíduo que não aprendeu a expressar o
sorriso educado e a inibir o rosto zangado ao conversar com o chefe, mas o fato que algum comportamento facial é aprendido não
exclui a possibilidade de que o comportamento facial também tenha um componente genético, inato, como proposto pelos
proponentes da FFH. Foi feita uma investigação na qual os participantes através dessas fotografias escolhiam, por meio de um
formato de múltipla escolha, a fotografia que acharam que melhor expressava uma determinada emoção. Por exemplo, foram
mostradas aos participantes fotografias de três rostos, um expressando raiva, um expressando alegria e um expressando medo. A
questão de pesquisa é se pessoas de diferentes culturas concordariam sobre quais expressões faciais correspondem a quais
experiências emocionais e concluiu-se que pessoas de diferentes culturas combinam as mesmas expressões faciais com as mesmas
emoções é evidência de que o comportamento facial é transculturalmente universal.

Podemos voluntariamente controlar nossas emoções? A dificuldade em fornecer uma resposta definitiva surge quando nos
lembramos que as emoções têm quatro aspectos: sentimentos, excitação, propósito e expressão. Algumas emoções claramente
acontecem connosco e, portanto, não podemos ser responsabilizados pelos sentimentos, fisiologia, desejos e comportamentos
involuntários que se seguem, por outro lado, todos nós temos dificuldade em evocar algumas emoções à vontade — coragem, amor,
otimismo, interesse e assim por diante. É muito difícil dizer apenas: “Ok, agora vou sentir alegria”. Em vez disso, nos precisamos de
uma exposição a um evento gerador dessa emoção capaz de evocar esse estado emocional específico. As emoções são em grande
parte reações, e é preciso algum evento para reagir antes de evocar uma emoção.

Aspetos cognitivos da Emoção: Para aqueles que estudam a emoção do ponto de vista cognitivo, social ou cultural, os eventos
biológicos não são necessariamente os aspectos mais importantes da emoção. As emoções emergem de processos biológicos. Mas
também emergem do processamento de informações,

Avaliação: O construto central em uma compreensão cognitiva da emoção é a avaliação. Uma avaliação é uma estimativa do
significado pessoal de um evento. Todos os teóricos da emoção cognitiva apoiam as duas seguintes crenças inter-relacionadas:
avaliação cognitiva antecedente do evento, as emoções não ocorrem e a avaliação. Considere uma criança que vê um homem se
aproximando. Imediatamente e automaticamente, a criança avalia o significado da abordagem do homem como provavelmente
“boa” ou “má”. Se ela vir o homem que se aproxima sorrindo e acenando e se ela se lembrar do homem como sendo seu amigo, ela
provavelmente avaliará o evento como bom. Se ela vir o homem que se aproxima reclamando e delirando e se ela se lembrar do
homem como sendo o valente da vizinhança, ela provavelmente avaliará o evento como mau. Essas avaliações fazem com que ela
experimente emoções. As avaliações precedem e provocam emoções. Situações e resultados não causam emoções da mesma forma
que as avaliações da pessoa dessas situações e os seus resultados. Para reforçar essa ideia, considere a descoberta contra-intuitiva
de que os medalhistas olímpicos de bronze experimentam mais felicidade pós-competição do que os medalhistas olímpicos de prata.
Para que isso seja verdade, a avaliação do atleta sobre o que poderia ter sido é pelo menos tão importante quanto a situação que
realmente aconteceu. As emoções seguem as avaliações. Mude a avaliação e assim muda a emoção. Uma das primeiras teóricas
cognitivas foi Magda Arnold, a mesma especificou como as avaliações, a neurofisiologia e a excitação trabalham juntas para produzir
a experiência e a expressão da emoção, concentrando-se em três questões: Como a perceção de um objeto ou evento produz uma
avaliação boa ou ruim; como a avaliação gera emoção; Como a emoção sentida se expressa na ação.
Da Perceção à Avaliação: De acordo com Arnold, as pessoas avaliam categoricamente os eventos e objetos de estímulo como
positivos ou negativos. Para fundamentar suas ideias, Arnold prestou atenção especial às vias neurológicas do cérebro. Em todos os
encontros com o ambiente, as estruturas cerebrais do sistema límbico avaliam automaticamente o tom hedónico da informação
sensorial. Por exemplo, um som áspero instantaneamente é avaliado como intrinsecamente desagradável, enquanto o cheiro de
uma rosa é avaliado como intrinsecamente agradável.

Da avaliação à emoção: Uma vez que um objeto tenha sido avaliado como bom ou ruim, uma experiência de gostar ou não gostar se
segue imediata e automaticamente. Para Arnold, gostar ou não gostar é a emoção sentida.

Da emoção sentida à ação: Gostar e não gostar geram uma tendência motivacional para se aproximar ou afastar de um objeto
gerador dessas emoção. Durante a avaliação, o indivíduo confia na memória e na imaginação para gerar uma série de possíveis
cursos de ação ao lidar com o objeto de que gosta ou não. Pesquisas contemporâneas acrescentam que o sistema límbico também
tem acesso direto aos músculos que controlam as expressões faciais, reações do sistema autónomo e endócrino e sistemas de
excitação geral. Através de seus efeitos sobre esses sistemas biológicos, as emoções produzem ação.

Avaliação Complexa: Como Arnold, Richard Lazarus enfatizou os processos cognitivos que intervêm entre eventos importantes da
vida (condições ambientais) e reatividade fisiológica e comportamental. Enquanto seguia as ideias de Arnold como um roteiro, ele
expandiu sua avaliação geral boa/ ruim em um contexto mais complexo do processo de avaliação. Conforme é mostrado abaixo, as
avaliações “boas” foram conceituadas em vários tipos de benefícios, enquanto as avaliações “ruins” foram diferenciadas em vários
tipos de dano e em vários tipos de ameaça. O processo de avaliação não termina com uma avaliação de relevância pessoal,
congruência de objetivos e envolvimento do ego. As habilidades de enfrentamento percebidas continuam a alterar a forma como as
pessoas avaliam as situações que enfrentam. Uma avaliação alterada leva a uma emoção alterada. No geral, então, as pessoas
primeiro avaliam a sua relação com o evento de vida (“avaliação primária”) e, em seguida, avaliam seu potencial de enfrentamento
dentro desse evento (“avaliação secundária”).

Avaliação primária: As avaliações primárias perguntam se o bem-estar físico ou psicológico de uma pessoa, objetivos e situação
financeira, ou relacionamentos interpessoais estão em jogo durante um encontro particular. O que está potencialmente em jogo na
avaliação primária: saúde, autoestima, uma meta, situação financeira, respeito e o bem-estar de um ente querido, quando, um
desses seis resultados está em jogo, um “evento de vida comum” torna-se um “evento de vida significativo” gerador de emoções.
Por exemplo, ao dirigir um carro e ele derrapar no gelo, o sistema cognitivo imediatamente gera a avaliação primária de que muita
coisa está em jogo.

Avaliação Secundária: A avaliação secundária, ocorre após alguma reflexão, envolve a avaliação da pessoa para lidar com o possível
benefício, dano ou ameaça. O enfrentamento envolve os esforços cognitivos, emocionais e comportamentais da pessoa para
gerenciar o benefício, o dano ou a ameaça. Por exemplo, imagine as opções de enfrentamento para um músico programado para se
apresentar para uma plateia. O músico pode solicitar conselhos de um mentor, praticar durante a noite, encontrar um meio de fuga,
etc…. A experiência emocional do músico dependerá não apenas de sua avaliação inicial do potencial benefício, dano ou ameaça na
apresentação da noite.

Modelo de avaliação da Emoção: De acordo com o modelo de emoção de Lazarus, o indivíduo primeiramente faz uma avaliação
primária referente á relevância e significado pessoal do evento, se esse mesmo evento não for percebido como um benefício para o
indivíduo, o mesmo é considerado como irrelevante para o bem-estar.
Motivação: O retrato da emoção de Lazarus é motivacional. O indivíduo leva motivos pessoais (objetivos, bem-estar, …) para uma
situação, logo quando os motivos pessoais estão em jogo as emoções seguem. Contudo as emoções mudam á medida que as
avaliações primárias e secundárias mudam. Todo o processo da emoção é caracterizado pela mudança contínua no estado dos seus
motivos pessoais.

Processo de Avaliação: Seguindo o trabalho de Arnold e Lazarus, os teóricos da cognição continuaram a desenvolver uma
compreensão cada vez mais sofisticada do processo de avaliação começando assim pela avaliação primária em que o indivíduo tenta
perceber se o evento trás algum benefício, dano ou ameaça para ele, se trouxer alguma dessas consequências, a hiperatividade do
Sistema Nervoso Autónomo (SNA) ocorre para gerar um impulso à ação (abordagem do benefício potencial ou evitar danos
potencias, ameaças), desta forma dá-se a avaliação secundária em que o indivíduo tenta perceber se consegue lidar com as
consequências desse evento, se realmente enfrentar o evento e for bem-sucedido a hiperatividade do SNA diminui finalizando assim
o episódio emocional, caso não seja bem-sucedido a hiperatividade do SNA aumenta, causando assim stress e ansiedade. Arnorld e
Lazarus acreditam que cada emoção pode ser descrita por um padrão único de avaliações compostas (consistem em interpretar
múltiplos significados dentro de um evento ambiental, de modo que um evento possa ser agradável e causado pelo indivíduo). Para
explicar toda a complexidade das emoções, os teóricos têm defendido a importância das avaliações compostas e dimensões
adicionais de avaliação. As dimensões da avaliação começam com a avaliação agradável-desagradável de Arnold (“o evento é bom ou
mau?”) e apresentam também o significado pessoal e o potencial de enfrentamento de Lazarus, as avaliações primárias e
secundárias (“o evento é relevante ou não para o meu bem-estar?”).
Diferenciação Emocional: O ponto forte de uma teoria de avaliação da emoção é sua capacidade de explicar os processos de
diferenciação emocional (por exemplo, como as pessoas experimentam emoções diferentes para o mesmo evento). Nesta árvore de
decisão é possível mostrar como as dimensões de avaliação podem diferenciar entre as emoções, embora não seja possível prever as
emoções que se seguem na maior parte das vezes. Segundo Reisenzein &Hofman os teóricos da avaliação concordam que conhecer
a avaliação da pessoa de forma particular lhes permite obter uma certa taxa de precisão a nível das suas emoções.
Contudo, existem 5 motivos que explicam o porquê de a teoria da motivação não conseguir explicar reações: Outros processos para
além da avaliação contribuem para a emoção; As avaliações muitas vezes funcionam para intensificar a emoção em vez de causar
emoção; Embora cada emoção específica tenha um padrão único de avaliação associado a ela, os padrões de avaliação para muitas
emoções sobrepõem-se e criam alguma confusão; Existem diferenças de desenvolvimento entre as pessoas, de modo que as crianças
geralmente experienciam emoções básicas (alegria), enquanto os adultos geralmente experienciam uma variedade mais rica de
emoções específicas de avaliação (orgulho, alívio); O conhecimento e as atribuições da emoção representam fatores cognitivos
adicionais além da avaliação que afetam a emoção.

Conhecimento da Emoção: Os bebés e crianças pequenas entendem e distinguem apenas algumas emoções básicas (raiva medo,
tristeza, alegria e amor). À medida que as pessoas ganham experiência com diferentes situações, elas aprendem a discriminar as
nuances dentro de uma única emoção; essas distinções são armazenadas cognitivamente, dessa forma as emoções experienciadas
ao longo da vida constitui o conhecimento emocional da pessoa, contruindo uma representação mental das diferentes emoções e
como elas se relacionam com as situações que provocam essas mesmas emoções. Assim, quanto mais sofisticado for o
conhecimento emocional de uma pessoa, maior será sua capacidade de responder a cada acontecimento da vida com uma reação
emocional moderada e apropriada.

Atribuições: Uma atribuição é a explicação causal que a pessoa usa para explicar um resultado que ocorreu na sua vida. Por isso é
que as atribuições são importantes, porque a explicação que usamos para justificar determinado resultado acaba por gerar reações
emocionais, quando o resultado é positivo a pessoa fica feliz, caso contrário a pessoa fica triste, frustrada,

Aspetos sociais e culturais da emoção: Tal como a avaliação contribui para uma compreensão cognitiva da emoção, a interação
social contribui para uma compreensão social da emoção. Além disso, o contexto sociocultural em que se vive contribui para uma
compreensão cultural da emoção. Psicólogos sociais, sociólogos, antropólogos e outros defendem que a emoção não é
necessariamente um fenómeno privado, biológico e intrapsíquico. Mas sim, afirmam que muitas emoções se originam tanto na
interação social quanto no contexto cultural (Averill, 1980, 1983; Kemper, 1987; Manstead, 1991). Aquelas que estudam a
construção cultural da emoção apontam que se um indivíduo mudasse a cultura em que vivia, o seu reportório emocional também
mudaria (Mascolo, Fischer & Li, 2003). Os autores que estudam a construção social da emoção afirmam que se um indivíduo
mudasse a situação em que se encontra, as suas emoções também mudariam. As situações definem que emoções são apropriadas e
esperadas, e, como através dai as pessoas sabem quais são as emoções que provavelmente irão ocorrer em determinada
configuração. A partir dai, as pessoas podem selecionar uma configuração e, portanto, “construir” uma experiência emocional
específica para si mesmas. Por exemplo, se eu quiser construir alegria vou a uma festa. Assim, ao selecionar estrategicamente em
que situações estar e ao selecionar estrategicamente com que pessoas interagir e lidar, cada um de nós acaba por ter os meios para
construir socialmente as emoções que provavelmente experimentará.

Interação social: As outras pessoas são tipicamente a nossa fonte mais frequente de emoção do dia a dia (Oatley & Duncan, 1994).
Ou seja, experimentamos um número maior de emoções quando interagimos com os outros do que quando estamos sozinhos. Desta
forma, as emoções são intrínsecas às relações interpessoais, ou seja, se o indivíduo acompanhasse os eventos e experiências que
causaram as suas reações emocionais, a ação de outra pessoa ou uma ação sua, provavelmente descobriria que as interações com os
outros desencadeiam a maioria das suas emoções (Oatley & Duncan, 1994). As emoções podem separarar-nos e aproximar-nos, uma
vez que, desempenham um papel central na criação, manutenção e dissolução de relacionamentos interpessoais. Outras pessoas
não provocam apenas emoções em nós, mas também nos afe tam indiretamente, através do Contágio Emocional. O contágio
emocional é “a tendência de imitar e sincronizar automaticamente expressões, vocalizações, posturas e movimentos com os de
outra pessoa e, consequentemente, convergir emocionalmente” (Hatfield, Cacioppo & Rapson, 1993). Há três proposições que
explicam como, durante a interação social, as emoções dos outros criam emoções em nós: O mimetismo que afirma que na
conversa, as pessoas automaticamente imitam e sincronizam os seus movimentos com as expressões faciais, vozes, posturas,
movimentos e comportamentos instrumentais de outras pessoas. O feedback/comentários onde a experiência emocional é afetada,
momento a momento, pela ativação e feedback da mímica facial, vocal, postural e de movimento. E, por fim, o contágio onde as
pessoas tendem a “usar” as emoções de outras pessoas. À medida que somos expostos às expressões emocionais dos outros,
tendemos a imitar as suas expressões faciais, estilo de fala e postura. Uma vez que, a mímica ocorre, a hipótese do feedback facial
ilustra como a mímica pode afetar a experiência emocional do observador e, portanto, levar a um efeito de contágio.
Compartilhamento social de emoção: Durante a interação social, o indivíduo não é exposto apenas a efeitos de contágio emocional.
O indivíduo é colocado também num contexto conversacional que oferece uma oportunidade de reviver experiências emocionais
passadas. A este processo dá-se a designação de “compartilhamento social de emoção”. O compartilhamento social de conversas
emocionais geralmente ocorre no final do dia e na companhia de pessoas próximas. Quando as pessoas partilham as suas emoções,
normalmente fazem-no contando o relato completo do que aconteceu durante o episódio emocional, o que isso significou para o
indivíduo e como ele se sentiu durante todo o processo (Rimé et al., 1991). Durante este compartilhamento social de emoção, a
pessoa que está a ouvir o relato pode oferecer apoio, ajudar a dar sentido à experiência emocional, fortalecer as respostas de
enfrentamento e reconfirmar o autoconceito. É nestes momentos de partilhar as emoções que construímos e mantemos os
relacionamentos que são centrais nas nossas vidas (Edwards, Manstead, & MacDonald, 1984).

Socialização emocional: A socialização emocional ocorre quando os adultos dizem às crianças o que elas devem saber sobre emoção.
Os adultos contam às crianças sobre as situações que causam emoções, sobre como a emoção se expressa e sobre palavras ou
rótulos de emoção para os seus sentimentos e comportamentos. Desta forma, as crianças aprendem que uma emoção básica pode
ser diferenciada em emoções específicas (conhecimento da emoção; Shaver et al., 1987), que certas exibições expressivas devem ser
controladas (gestão da expressão; Saarni, 1979) e que as emoções negativas podem ser manipuladas. Quando as crianças aprendem
com os adultos sobre emoções, a maior parte do que aprendem enquadra-se nas rúbricas de conhecimento emocional, no gerir de
expressão e no controlo das emoções. Por exemplo: Vamos considerar a socialização que ocorre nas escolas primárias e nos
infantários. Durante o episódio emocional de uma criança, a professora pode explicar os sentimentos da criança, apontar as causas
de uma emoção e instruí-la sobre as exibições expressivas que são mais apropriadas e bem-vindas e as que não. Sociedades
diferentes socializam as emoções das crianças de maneiras diferentes. Ou seja, num país como por exemplo os Estados Unidos os
pais tendem a elogiar as realizações dos filhos e incentivam-nos. Já na China, por exemplo, os pais tendem a anular as crianças,
fazendo comentários mais depreciativos e sem dar grande importância. Posteriormente, os resultados são visíveis. Crianças
americanas tendem a ter orgulho nas suas realizações e crianças chinesas tendem a harmonizar o seu eu com os outros através da
auto-anulação (Chen, 1993; Stipek, 1999).

Gerenciador de emoções: A forma como as pessoas aprendem a administrar e lidar com as suas emoções pode ser visto através de
profissionais que lidam e interagem frequentemente com o público. As pressões de socialização para gerenciar as próprias emoções
giram principalmente em torno de um tema de lidar com sentimentos aversivos de maneiras que são socialmente desejáveis e
pessoalmente adaptáveis (Saarni, 1997). Ou seja, por exemplo, um médico não deve sentir nem atração nem repugnância por um
paciente. Portanto, durante a sua formação na faculdade, deve aprender a neutralidade afetiva e uma preocupação desapegada com
os seus pacientes. O médico tem de aprender a ter essa neutralidade afetiva profissional, porque vai lidar constantemente com
situações que geram emoções. Assim, a forma como os médicos aprendem essa neutralidade afetiva fornece uma visão de como o
resto dos indivíduos também aprende a administrar as suas emoções.

Concluindo: Existem três aspetos centrais da emoção: os aspetos biológicos, cognitivos e socioculturais. As emoções são, em parte,
reações biológicas a eventos importantes da vida e permitem que o indivíduo se prepare para se adaptar a importantes
circunstâncias da vida. As emoções também estão incorporadas na cognição por meio do conhecimento e atribuições da emoção. O
conhecimento das emoções envolve aprender distinções entre emoções básicas e aprender que situações causam determinadas
emoções. Por fim, os aspetos socioculturais são também aspetos centrais da emoção, uma vez que, outras pessoas são as nossas
fontes mais ricas de experiências emocionais. Através da interação social, muitas vezes adquirimos emoções de outras pessoas
através de um processo de contágio emocional. Outras pessoas e culturas em geral instruem os indivíduos sobre as causas das
nossas emoções, como devemos expressá-las e quando as devemos controlar.

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