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156
Tuberculose
Tales Coelho Sampaio
Tãnia de A. Barboza
Aspectos-chave
► A tuberculose (TB) é um problema de saúde pública no Brasil.
► A persistência da pobreza associada ao crescimento da discrepância
entre ricos e pobres é um fator relacionado com o aumento da
prevalência de TB.
► A identificação precoce de pessoas com TB é imprescindível para a
quebra da cadeia de transmissão da doença.
► O diagnóstico da TB na criança é mais difícil do que no adulto.
► O esquema básico para tratamento da TB (idade ≥ 10 anos) é com
quatro medicamentos nos dois primeiros meses e com dois
medicamentos nos 4 meses subsequentes (2RHEZ/4RH).
► O programa “Estratégia Fim da TB” tem o intuito de acabar com a
pandemia de TB até 2035.
Caso clínico
Pedro, 39 anos, procedente do interior do Estado, mora na periferia
da capital há 12 anos. É zelador de um edifício no centro da cidade
e mora com a mulher e quatro filhos menores em uma casa mal
ventilada, de três cômodos e um banheiro. Há cerca de 3 meses,
apresentou um quadro gripal, tendo feito automedicação com
“antigripais” e chás caseiros. Nas primeiras semanas, a esposa
achou que o marido estava melhorando, mas com o passar do
tempo, notou que ele estava sem apetite, perdendo peso (3 kg em 1
mês) e com tosse seca, sem muco. A agente comunitária de saúde
(ACS), durante uma visita domiciliar, foi informada de que Pedro
estava doente, com uma tosse persistente há quase 1 mês. Na
mesma semana, foi agendada consulta com o médico de família e
comunidade. Durante a consulta, Pedro informou que se acha
saudável. Ele é fumante, usando 10 cigarros por dia desde os 16
anos, e bebe cachaça regularmente. Referiu que ficou preocupado
depois que tossiu tanto que escarrou sangue. Além disso, expressa
também adinamia, febre baixa, vespertina, e sudorese noturna. Na
ausculta pulmonar, registrava uma diminuição do murmúrio
vesicular. Ele informou ao médico que nunca teve “doença do
pulmão”, que seus pais faleceram de “velhice” e que ele nunca teve
contato com uma pessoa com TB. Pedro foi informado da suspeição
de TB e da necessidade de realizar exames laboratoriais. A equipe
da Estratégia Saúde da Família (ESF) o acolheu utilizando uma
abordagem humanizada, tranquilizando-o por meio de uma
orientação clara, no sentido de que, quando tratamento adequado é
realizado, a TB é uma doença curável.
Do que se trata
A TB é uma doença infectocontagiosa, universal, crônica, endêmica, cujo agente
etiológico é uma micobactéria, o Mycobacterium tuberculosis (Mtb), mais
conhecida como bacilo de Koch (BK). Apesar de ser uma enfermidade milenar,
mantém-se como importante e grave problema de saúde pública mundial.1–3
Estima-se que um terço da população mundial seja portadora da infecção
latente pelo BK no mundo.4–7 O Brasil figurava entre os 22 países responsáveis
por 80% da carga mundial de TB até o final de 2015. Porém, a nova proposta
para o controle da TB, outra classificação para países prioritários, usando
características epidemiológicas (carga de TB; TB multidroga-resistente
[TBMDR] e coinfecção TB/HIV) foi definida para o período de 2016 a 2020.
Cada lista é composta por 30 países. O Brasil está em duas dessas listas,
ocupando a 20a posição quanto à carga da doença e a 19a no que se refere à
coinfecção TB-HIV. Os países que compõem essas listas representam 87% do
número de tuberculose no mundo.5,6,8 O Quadro 156.1 resume as principais
características do M. tuberculosis.
Estrutura bacilar
Bacilos retos ou ligeiramente curvos, imóveis, não esporulados, não
capsulados. Devido à sua parede celular, são considerados gram-positivos,
porém dificilmente são corados pelo método do Gram. Esses bacilos podem
agrupar-se, formando ramos alongados e tortuosos, conhecidos como cordas
Álcool-ácido-resistentes
Quando corado a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio com auramina,
retém os corantes após lavagem com solução de álcool e ácido (coloração de
Ziehl-Neelsen)
Alto conteúdo lipídico em sua parede celular
Induz a formação de granuloma
Aeróbio estrito
Necessita de oxigênio para crescer e se multiplicar
Parasito intracelular facultativo
Sobrevive e se multiplica no interior de células fagocitárias
Pode ficar em estado de latência por longos períodos
Sobrevive sem dividir-se, permitindo que as bactérias permaneçam em
pequenos grupos populacionais, dificultando a erradicação da doença. A TB,
frequentemente, representa a reativação de uma infecção antiga, subclínica,
ocorrida há anos
Tempo de geração longo
14 a 20 horas
Sensível à ação de agentes físicos
Calor e radiação ultravioleta – sensível à luz solar
Resistente a agentes químicos, à dessecação e ao ambiente escuro
Ácidos micólicos formam uma barreira hidrofóbica que garante resistência à
dessecação, à descoloração por álcool e ácido e a diversos agentes químicos e
antibióticos. Pode sobreviver por anos no ambiente externo.
Fonte: Brasil,5,9,10 e Sampaio e colaboradores.11
A primoinfecção tuberculosa
O processo de infecção começa com a inalação do BK, após ele ultrapassar a
resistência inespecífica das barreiras físicas do organismo contra sua instalação:
os pelos nasais, a angulação das vias aéreas, o turbilhonamento do ar, a secreção
traqueobrônquica e o cleareance mucociliar. Inicia-se uma rápida resposta
inflamatória, envolvendo macrófagos pulmonares residentes e neutrófilos,
levando a uma rápida limpeza dos bacilos, sem lesão visível na radiografia
torácica.
Caso haja falha no mecanismo de depuração, há avanço da inflamação e uma
broncopneumonia inespecífica. O bacilo se divide e se multiplica no foco de
inoculação, levando a uma disseminação linfática e hematogênica.
O foco pulmonar (foco de Ghon), geralmente único e periférico, se
desenvolve em 3 a 4 semanas. Com o desenvolvimento da imunidade celular, há
o surgimento do tubérculo (viragem do teste tuberculínico) e a finalização do
período pré-alérgico (entrada do bacilo no organismo até a viragem do teste
tuberculínico). Do foco pulmonar, ocorre uma disseminação linfática até o
gânglio satélite (foco ganglionar), de onde haverá uma disseminação
hematogênica para todo o organismo. A ocorrência do foco pulmonar, da
linfangite e do foco ganglionar denomina-se complexo primário ou complexo de
Ranke. Durante a disseminação hematogênica, a imunidade adquirida
desenvolvida impede o estabelecimento da TB em 95% dos casos, pondo fim à
primoinfecção. Essas lesões pulmonares iniciais (focos de Ghon) evoluem para
fibrose e/ou calcificação e podem ser vistas nas imagens radiográficas.
O granuloma ocorre pelo encapsulamento do bacilo, tendo na necrose caseosa
uma de suas características principais. Ele não é exclusivo da TB, mas suas
características colaboram para o diagnóstico histológico.
Tuberculose primária
A TB primária resulta do desenvolvimento progressivo do complexo pulmonar
primário. Quando a primoinfecção não é contida (5% dos casos), em razão da
carga bacilar elevada, virulência da cepa ou falha na imunidade celular, há
liquefação do cáseo e o desenvolvimento da doença. A TB primária pode ser
encontrada nas formas pneumônicas, broncopneumônicas, cavitárias,
atelectásicas ou miliares. Em geral, a clínica da TB se mostra insidiosa e lenta,
raramente de forma aguda e grave.
A insidiosa, comum em crianças, leva a quadro de febre baixa, sudorese
noturna, irritabilidade, inapetência e exame físico inexpressivo. Em outros casos,
especialmente em lactentes, pode ocorrer estreitamento de um brônquio regional
por aumento dos linfonodos e progressão para necrose caseosa, levando à
obstrução e a enfisema. Caso os linfonodos perfurem o brônquio adjacente,
levarão a uma disseminação broncogênica e/ou pneumonia focal.
As manifestações de hipersensibilidade extrapulmonar, apesar de não serem
comuns, quando aparecem, conduzem a um quadro característico de TB
primária, com eritema nodoso, conjuntivite flictenular e artralgia de Poncet. As
imagens radiológicas variam de acordo com a drenagem do bacilo. Em crianças
com TB pulmonar primária, é mais comum haver linfadenomegalia, doença
parenquimatosa, atelectasia, derrame pleural e doença miliar.
Tuberculose pós-primária
Geralmente, a TB pós-primária ocorre anos após a lesão primária em pessoas
que desenvolveram alguma imunidade para os antígenos do BK. Essa é a
modalidade mais comum de adoecimento entre adultos e adolescentes, com 85%
dos casos tendo apresentação pulmonar. Em pacientes portadores de
imunodeficiências, como na coinfecção TB/HIV, a preferência pela forma
pulmonar se mantém em 60 a 70% dos casos. Como o BK é aeróbio estrito, a TB
pós-primária afeta principalmente as regiões apicais do pulmão, locais onde há
maior ventilação. A origem da infecção pode ser endógena ou exógena: a
primeira ocorre via reativação de um foco quiescente, e a segunda, por
reinfecção exógena, com origem em nova contaminação, em geral, por cepas
mais virulentas. Em virtude da memória imunológica, a lesão é expressa
geralmente circunscrita e com uma evolução arrastada, com reação inflamatória
tipo hipersensibilidade, caracterizada por cavitação e fibrose. Quando há
reativação do foco e formação do granuloma, este evolui para necrose de
caseificação, progredindo para a doença. O cáseo é drenado para o brônquio,
dando lugar a uma cavidade pulmonar (caverna), podendo evoluir para cura ou
complicações. O diagnóstico precoce e uma boa adesão ao tratamento evitam o
desenvolvimento das sequelas graves.
Quando pensar
A identificação de um paciente bacilífero no início de sua sintomatologia é
fundamental para intervir na cadeia de transmissão da TB. A existência de
profissionais de saúde em serviço, treinados para o reconhecimento de tais
pacientes, é imprescindível, e a ação de busca pelos sintomáticos respiratórios
(pessoas com tosse e expectoração por períodos de 3 semanas ou mais) é uma
prática que deve estar incorporada na atividade do dia a dia da unidade, em
particular na dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
O diagnóstico clínico-epidemiológico é possível quando não se comprovar a
suspeita por meio de exames laboratoriais, bacteriológicos e/ou biomoleculares.
Outros exames complementares, no entanto, devem ser associados (imagem,
histológicos, entre outros).9 A TB, nas suas formas iniciais, mostra-se, com
frequência, assintomática. Dependendo da resposta imunológica do hospedeiro,
a gravidade dos sintomas pode ser tênue ou exuberante. De acordo com a
extensão do acometimento sistêmico, podem ser encontrados: tosse,
expectoração, escarros sanguíneos, febre, dor torácica, suores noturnos, astenia e
emagrecimento (Quadro 156.6). As recidivas são mais comuns naqueles
pacientes que usaram irregularmente o esquema terapêutico ou com
imunossupressão, principalmente por HIV/Aids.26
Nos pacientes infectados pelo HIV, mesmo naqueles com nível sérico de CD4
maior do que 200/mm3, a TB é frequente. A coinfecção TB ativa em Pessoas que
Vivem com HIV/Aids (PVHA) influi fortemente na mortalidade por Aids e por
TB. Portanto, havendo febre, tosse, sudorese noturna ou emagrecimento, a TB
deve ser investigada em todas as consultas de PVHA, já que qualquer um dos
sintomas indica a chance de TB ativa.9,27,28 Na ausência de sintomas, preconiza-
se investigar infecção latente de TB anualmente por meio da prova
tuberculínica.9
A TB é uma doença que pode atingir qualquer órgão ou sistema, e suas
manifestações clínicas dependem do órgão acometido, o que guiará nossa
investigação diagnóstica. Noventa por cento dos pacientes com TB, no entanto,
desenvolvem a forma pulmonar. A suspeição clínica é o primeiro passo para
diagnosticar um caso novo de TB.9 O diagnóstico da TB, mediante a hipótese
clínica, baseia-se principalmente na pesquisa bacteriológica.10,11
O que fazer
Baciloscopia
O exame baciloscópico é o método prioritário do diagnóstico e do controle
durante o tratamento de TB. Quando realizado adequadamente, permite detectar
até 80% dos casos de TB pulmonar em uma comunidade.11 Ver sobre a
baciloscopia no Quadro 156.7.
▲ Figura 156.1
Pote descartável para coleta de material.
Fonte: Brasil.31
Cultura
Nesse exame laboratorial, é possível multiplicar e isolar BAAR com origem na
semeadura da amostra clínica. Na cultura realizada em meios sólidos à base de
ovo, é mais comum utilizar Löwestein-Jensen e Ogawa-Kudoh. Apesar de ter
menor custo e menor contaminação, no entanto, com esse meio, leva mais tempo
para o crescimento bacteriano, de 14 a 30 dias, podendo, ainda, estender-se até 8
semanas. No meio líquido, a cultura, utilizando-se de sistemas automatizados,
leva menor tempo de crescimento bacteriano, de 5 a 12 dias, podendo alongar-se
até 42 dias. Para a detecção de bacilos na cultura, há um limite de 100 bacilos
por mililitro de escarro. Se realizada, porém, com alta qualidade técnica, pode
detectar de 10 a 100 bacilos cultiváveis por mililitro de escarro.31 A espécie é
identificada por métodos bioquímicos e fenotípicos ou pode ser analisada por
meio de técnicas moleculares. Essa é a principal vantagem da cultura, da
identificação e da tipificação do bacilo, além da realização de testes de
sensibilidade aos tuberculostáticos.30,31
A cultura para micobactéria com identificação de espécie possui elevada
especificidade e sensibilidade no diagnóstico da TB. Ela é considerada padrão-
ouro como método de referência para avaliar um novo método diagnóstico.
Havendo TB pulmonar com baciloscopia negativa, a realização da cultura pode
elevar de 20 a 30% o diagnóstico bacteriológico da doença.30,31
x X Paciente com
TB: iniciar
esquema
básico. Solicitar
cultura e TS
x x Paciente com
TB: referenciar
à referência
terciária,
realizar cultura
e TSa já
solicitados
x X Paciente com
TB: iniciar
esquema
básico e
aguardar os
resultados da
cultura e TS já
solicitados
x x Paciente com
TB: referenciar
à referência
terciária* e
aguardar os
resultados da
cultura e TS,
repetir o TRM-
TB
*O referenciamento para a referência terciária deve ser imediato. Nesse serviço, a avaliação médica e a
conduta adequada deverão ser tomadas em até 7 dias.
**População em situação de rua, população privada de liberdade, povos indígenas, profissionais de
saúde, pessoas vivendo com HIV/Aids e contatos de TB multidroga-resistente.
TB, tuberculose; TS, teste de sensibilidade; TRM-TB, teste rápido molecular para TB.
Fonte: Brasil.9
x x TB provável:
iniciar esquema
básico e
aguardar os
resultados da
cultura e TS já
solicitados
x X x Paciente com
TB: iniciar
esquema
básico e
aguardar os
resultados da
cultura e TS já
solicitados.
Rever
tratamento
após os
resultados
x x x Paciente com
TB: referenciar
à referência
terciária* e
aguardar os
resultados da
cultura e TS já
solicitados,
repetir TRM-TB
x X x Continuar a
investigação:
referenciar à
referência
secundária para
elucidação
diagnóstica e
aguardar os
resultados da
cultura e TS já
solicitados
x X x Continuar a
investigação:
referenciar à
referência
secundária para
elucidação
diagnóstica e
aguardar os
resultados da
cultura e TS já
solicitados,
repetir TRM-TB
*O referenciamento para a referência terciária deve ser imediato. Nesse serviço, a avaliação médica e a conduta
adequada deverão ser realizadas em até 7 dias.
TRM-TB, teste rápido molecular para tuberculose; TS, teste de sensibilidade; TB, tuberculose.
Fonte: Brasil.19
Radiologia
A suspeita de TB pode vir de alterações em exames de imagem do tórax,
concebidas desde a radiografia torácica convencional até a tomografia
computadorizada (TC), a ressonância magnética (RM) ou a TC por emissão de
pósitrons (PET-TC). Esses exames localizam a doença, avaliam a extensão e o
grau de acometimento dos órgãos, além de avaliar a resposta ao tratamento.29,33
A radiografia convencional torácica é o método de escolha e deve ser
solicitada para todos os pacientes com suspeita clínica de TB pulmonar. Em caso
de pacientes com baciloscopia negativa, possibilita uma avaliação mais
profunda. Por outro lado, nos pacientes com BAAR positivo, tem por finalidade,
entre outras, oferecer diagnóstico diferencial entre TB e outras doenças, ou
mesmo sua concomitância; além de permitir avaliar a evolução radiológica no
acompanhamento do tratamento, sobretudo naqueles que não responderam à
quimioterapia. A radiografia torácica pode apresentar-se sem alterações em
pacientes com TB ativa, incluindo os com a coinfecção TB/HIV.
Lesões sugestivas de TB em radiografia torácica:
Tuberculose pleural
É a maneira mais comum de TB extrapulmonar em pessoas HIV soronegativas.
Ocorre mais em jovens e, em geral, cursa com dor torácica pleurítica. Em cerca
de 70% dos doentes, ocorre, a tríade astenia, emagrecimento e anorexia, ao passo
que febre com tosse seca afeta 60% dos pacientes. Em alguns casos, ela pode
simular uma pneumonia bacteriana aguda. Nos casos de maior tempo de
evolução dos sintomas, pode exibir dispneia. Os métodos de cultura associados
ao exame histopatológico do fragmento pleural possibilitam o diagnóstico em
90% dos casos. Exames como baciloscopia e cultura do líquido pleural rendem,
respectivamente, menos de 5 e 40%. Quando há ruptura de uma cavidade
tuberculosa para o espaço pleural, forma-se o empiema pleural tuberculoso.
Nessa situação, além de líquido de espaço pleural, pode ocorrer pneumotórax
secundário à fístula broncopleural. Pela clínica, entretanto, não é possível
diferenciar de um empiema pleural por bactéria comum.30 O diagnóstico precoce
de TB pleural pode ser auxiliado pelo ADA, especialmente no que se refere ao
seu valor preditivo negativo (VPN) (em torno de 0,98), quase que afastando a
possibilidade de TB pleural. Em caso de exame positivo, deve continuar a
investigação para confirmar o diagnóstico. Deve-se tentar isolar o bacilo pela
cultura, pois, apesar da baixa positividade, é o modo de confirmar o diagnóstico
e realizar o TS, importante diante do aumento da resistência bacteriana.35
Tuberculose ganglionar
É a mais frequente TB extrapulmonar em pacientes HIV-positivos e crianças,
sendo mais comum abaixo dos 40 anos. Atinge mais comumente a cadeia
ganglionar cervical anterior e posterior, além da supraclavicular, apresentando-se
aumentada, indolor e quase sempre assimétrica. Pode ser bilateral, e até
comprometer o estado geral em pacientes HIV soropositivos.35 Os gânglios
podem mostrar-se endurecidos ou amolecidos, são aderentes entre si e aos planos
profundos, têm evolução subaguda e podem evoluir para flutuação e/ou
fistulizar, levando à inflamação da pele adjacente, além de poderem gerar
material para a realização de exame baciloscópico, que pode ser positivo.
Punção aspirativa por agulha e/ou biópsia ganglionar são utilizadas na obtenção
de diagnóstico.
Tuberculose pericárdica
Em geral, não se associa à TB pulmonar, no entanto, pode ocorrer
simultaneamente à TB pleural. Seus principais sintomas são dor torácica, tosse
seca e dispneia. Febre pode existir, ou emagrecimento, astenia, edema de
membros inferiores, dor no hipocôndrio direito e aumento do volume
abdominal.30,35
Tuberculose óssea
É mais frequente em crianças (10-20% das lesões extrapulmonares na infância) e
em adultos na faixa de 30 a 40 anos. Acomete, preferencialmente, a coluna
vertebral torácica baixa e lombar (50% dos casos), podendo levar à deformidade
torácica por acometer múltiplos corpos vertebrais (mal de Pott). É responsável
por cerca de 1% de todos os casos de TB e por até metade de todos os casos de
TB óssea. O quadro clínico é a tríade dor lombar, dor à palpação e sudorese
noturna. Afeta mais comumente a coluna torácica baixa e a lombar.30,35 As
articulações coxofemoral e do joelho também são acometidas com frequência,
podendo atingir outros locais. O diagnóstico clínico é pouco específico. Quando
expressa alterações neurológicas, aumenta o grau de suspeita clínica. O
diagnóstico é feito pela biópsia, que pode ser guiada pela TC. A certeza do
diagnóstico vem do crescimento do Mtb em cultura.
Tuberculose urinária
O trato geniturinário, quando acometido pela TB, pode afetar, principalmente, o
rim, seguido dos ureteres. Na clínica, pode mostrar-se assintomática ou apontar
sintomas, como disúria, hematúria e mal-estar, insidiosamente. Essa
sintomatologia inespecífica pode atrasar o diagnóstico, apontando a gravidade do
problema, já que, pelo seu potencial destrutivo, pode levar à uropatia obstrutiva,
à infertilidade, à insuficiência renal (IR) e à hipertensão refratária. O diagnóstico
é feito havendo sintomas e achados na urinálise (leucocitúria asséptica). O
diagnóstico ocorre em razão do BK na cultura da urina (padrão-ouro), pesquisa
direta de BK ou pesquisa de Mtb por PCR. A urografia excretora pode mostrar
pequenas corrosões calicinais e até mesmo fenômenos obstrutivos com
hidronefrose, e a cistoscopia com biópsia é utilizada para o diagnóstico da cistite
tuberculosa.37,38
Diagnóstico na infância
Embora os programas para controle da TB priorizem os adultos, objetivando a
captação dos infectantes, não se pode esquecer de que as crianças também estão
sujeitas ao adoecimento e representam parcela significativa da carga de casos.
No Brasil, 15% das notificações de TB ocorrem em crianças menores de 15
anos. O número de casos de TB na criança tem relação direta com a prevalência
da doença no adulto, refletindo a continuidade da transmissão na comunidade.
Nas de tenra idade, a fonte transmissora geralmente é intradomiciliar. Portanto,
crianças com TB devem ser vistas como evento-sentinela de saúde pública, pois
representa infecção recente com adulto BAAR positivo.39,40
O diagnóstico da TB na criança se torna mais difícil do que no adulto, pois a
clínica não é característica, podendo expressar febre moderada, geralmente
vespertina, e que se prolonga por 15 dias ou mais. Além disso, são comuns:
irritabilidade, tosse, perda de peso e sudorese noturna. Não é incomum a suspeita
de TB partir de crianças com diagnóstico de pneumonia sem melhora com o uso
de antimicrobianos para germes comuns. O predomínio é da localização
pulmonar.30 Em crianças coinfectadas pelo HIV, o diagnóstico torna-se ainda
mais difícil, em virtude de maior inespecificidade dos achados radiológicos e da
coexistência de outras doenças.
O maior problema no diagnóstico é a confirmação bacteriológica, uma vez
que a obtenção de amostras de escarro é mais difícil em crianças, e as formas
clínicas são geralmente paucibacilares. Uma das possibilidades é a utilização do
lavado gástrico, a fim de coletar material para o exame bacteriológico. Sua
sensibilidade, entretanto, é baixa, variando de 30 a 40%, e o resultado da cultura
é demorado. Ele não deve ser empregado como rotina e só está indicado se a
pontuação do sistema de escore para diagnóstico de TB na infância (Quadro
156.10) for negativa para TB (inferior a 30 pontos) e houver a possibilidade de
realizar cultura para Mtb, já que a baciloscopia direta está sujeita a resultados
falso-positivos devido ao de outras micobactérias no suco gástrico. A
baciloscopia/cultura/exame de escarro, em geral, só é possível desde os 5 ou 6
anos de idade.
O exame radiológico do tórax, embora pouco específico, é relevante para o
diagnóstico, o acompanhamento da evolução das lesões e a avaliação da resposta
terapêutica.
São sugestivos de TB em crianças: adenomegalias hilares e/ou paratraqueais
(gânglios mediastínicos aumentados de volume); pneumonias com qualquer
aspecto radiológico, de evolução lenta, às vezes associadas a adenomegalias
mediastínicas, ou que cavitam durante a evolução; infiltrado nodular difuso
(padrão miliar).30 Caso a radiografia não se mostre eficaz, a TC pode ser de
grande auxílio na elucidação da imagem.
Na prática, o diagnóstico de TB pulmonar está utilizando um sistema de
escore validado em nosso meio (Quadro 156.10). Esse sistema demonstra alta
especificidade/sensibilidade, mostrando-se útil inclusive na coinfecção pelo
HIV.41
Contato de
adulto com Prova Estado
Quadro clínico-radiológico tuberculose tuberculínica* nutricional
Infecção Radiografia
respiratória com normal
melhora após
– 5 pontos
uso de
antibióticos
para germes
comuns ou sem
antibióticos
– 10 pontos
Interpretação:
► ≥ 40 pontos (diagnóstico muito provável): recomenda-se iniciar o
tratamento da TB.
► 30-35 pontos (diagnóstico possível): indicativo de TB; orienta-se iniciar o
tratamento, a critério médico.
► < 30 pontos (diagnóstico pouco provável): deve-se prosseguir com a
investigação na criança. Deverá ser feito diagnóstico diferencial com outras
doenças pulmonares e podem ser empregados métodos complementares de
diagnóstico, como baciloscopia e cultura de escarro induzido ou de lavado
gástrico, broncoscopia, biópsia e histopatológico de lesões suspeitas e
outros exames de métodos rápidos.
*Esta interpretação não se aplica a revacinados com BCG.
Fonte: Brasil.19
Diagnóstico no idoso
Os idosos são mais propensos ao desenvolvimento da TB, seja pela reativação
endógena de focos bacilares residuais quiescentes, mais frequentes, quanto pelo
novo contágio, ou reinfecção exógena. A TB senil exprime manifestações
clínicas inespecíficas, com mínimos sintomas respiratórios. Podem, todavia,
expressar dificuldade nas atividades da vida diária (AVDs), fadiga crônica,
anorexia progressiva, prejuízo cognitivo, tosse seca, dispneia e febre baixa sem
explicação. Se esse quadro persistir por semanas ou meses, a possibilidade de
TB no idoso deve ser sempre lembrada. O diagnóstico de TB extrapulmonar (TB
miliar; meningite tuberculosa, tuberculosa geniturinária e esquelética) nos idosos
é mais frequente e realizado com origem em biópsias teciduais.
Nos longevos, é comum a coexistência de várias doenças que podem levar ao
retardo no diagnóstico da TB, até mesmo acarretando agravamento de sua
condição geral. A radiografia torácica pode auxiliar no diagnóstico, no entanto, a
confirmação diagnóstica se faz pela baciloscopia de escarro. Em caso de BAAR
negativo, métodos invasivos não devem ser descartados. A reatividade da prova
tuberculínica tende a diminuir em decorrência da senescência do sistema
imunocelular.42
Teste tuberculínico
O teste tuberculínico (TT), analisado pela reação de Mantoux, baseia-se na
reação celular desenvolvida após a inoculação intradérmica de um derivado
proteico do Mtb (derivado de proteína purificada [PPD, do inglês purified
protein derivative]). É importante na avaliação de contatos assintomáticos de
pessoas com TB, adultos ou crianças, no diagnóstico de infecção latente pelo M.
tuberculosis (ILTB). Além disso, na infância, é um método coadjuvante para o
diagnóstico da TB doença. No Brasil, aplica-se por via intradérmica, no terço
médio da face anterior do antebraço esquerdo o PPD-RT 23, na dose de 0,1mL
(2UT), sendo a leitura realizada de 48 a 72 horas após a aplicação. Na leitura, o
maior diâmetro transverso da área do endurado palpável deve ser medido com
régua milimetrada transparente, e a leitura, registrada em mm.
Reações falso-positivas podem ocorrer em infecções por outras micobactérias
ou em vacinados pelo BCG, principalmente se vacinados depois do primeiro ano
de vida. A interpretação e a conduta perante o resultado do TT dependerão da
probabilidade de ILTB pelo Mtb (critério epidemiológico), do risco de
adoecimento por TB, do tamanho do endurado e da idade do paciente. Sua
correta interpretação é fundamental para a tomada de decisões a respeito das
indicações do tratamento da ILTB.9,30
Tuberculose e tabagismo
Segundo a OMS,43 a inalação da fumaça do tabaco é um fator de risco para a
TB: “[...] a exposição passiva ou ativa a fumaça do tabaco está significantemente
associada com a recidiva da TB e sua mortalidade. Esses efeitos parecem
independentes dos efeitos causados pelo uso do álcool, status socioeconômico e
um grande número de outros fatores potencialmente associados”. Além disso, há
um sinergismo negativo entre essas doenças, ou seja, o uso do fumo, por alterar
os mecanismos de defesa da árvore respiratória e a concentração de oxigênio no
sangue, contribui para gravidade das lesões necrosantes e prejudica a
cicatrização, levando, algumas vezes, a sequelas mais extensas. Sendo assim, o
tabagismo vem sendo reconhecido como um fator determinante da TB.30
O combate ao tabagismo deve fazer parte do controle da TB para que se
alcancem as metas epidemiológicas globais de longo prazo para o controle da
doença. O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (MS/INCA) é um
exemplo para o mundo do compromisso brasileiro contra a epidemia do tabaco.
Com o desenvolvimento desse trabalho, o Brasil pode ser pioneiro nas atividades
conjuntas de controle da TB e do tabaco.
Conduta proposta
Os objetivos de se iniciar o tratamento da TB o mais precocemente possível são
a cura com restauração da qualidade de vida e a prevenção de mortes por TB
ativa e suas complicações, bem como a quebra da cadeia de transmissão da
doença, com atenção especial para o abandono do tratamento, evitando-se o
desenvolvimento de resistência aos fármacos utilizados. A TB é uma doença
curável em quase todos os casos novos, sensíveis aos medicamentos
antituberculose, com uso adequado da terapia e correta operacionalização do
tratamento.
Como o tratamento da TB tem duração mínima de 6 meses, é essencial que o
profissional de saúde/ESF acolha o indivíduo desde o diagnóstico até sua alta.
Uma abordagem humanizada, centrada na pessoa, e o estabelecimento de um
intenso vínculo auxiliam no diagnóstico e na adesão ao tratamento. Os serviços
de saúde devem assegurar que toda pessoa com diagnóstico de TB receba o
tratamento adequado, sem atraso e com qualidade.
O Brasil adotou a estratégia DOTS (Directly Observed Treatment Schort
Course) e preconiza o TDO como plano principal na diminuição das taxas de
abandono, proporcionando não só a observação da tomada do medicamento, mas
também o fortalecimento do vínculo entre paciente e profissional/unidade de
saúde e a detecção e solução de barreiras que possam impedir a adesão ao
tratamento.9,30,44
Recomenda-se que todos os casos de TB recebam o TDO. Nesse tratamento,
observa-se diariamente a ingestão dos medicamentos antituberculose por um
profissional capacitado da equipe de saúde, por, no mínimo, três observações
semanais, do início ao fim. É importante sempre reforçar a manutenção da
medicação, mesmo nos dias em que as tomadas não forem observadas. Se tais
modos de observação não forem possíveis, pode-se capacitar um membro da
família ou da comunidade para que faça a observação, desde que haja supervisão
por um profissional de saúde. Nesse caso, há necessidade de visitas semanais ao
paciente e seu responsável, com a finalidade de monitorar o tratamento. As
necessidades do usuário devem orientar o local e o horário da administração do
medicamento. Os medicamentos deverão ser administrados apenas uma vez ao
dia e, apesar da melhor absorção ser obtida com ingestão em jejum, podem ser
administrados em qualquer horário, mesmo durante as refeições.9,30 Para fins
operacionais, define-se que o tratamento foi observado se o paciente teve no
mínimo 24 tomadas observadas na fase de ataque e 48 tomadas observadas na
fase de manutenção.
Geralmente, os esquemas de tratamento são de fármacos combinados, com o
objetivo de prevenir a resistência bacteriana, possuir uma atividade bactericida
precoce e atividade esterilizante, além de melhorar a adesão. Os fármacos de
primeira escolha do tratamento da TB detêm essas propriedades para assegurar
um bom esquema terapêutico. A isoniazida (H) e a rifampicina (R) possuem
grande poder bactericida, agindo em todas as populações bacilares sensíveis. A
rifampicina tem ainda grande poder esterilizante, e a pirazinamida (Z) e a
estreptomicina (S) também são bactericidas contra algumas populações de
bacilos, sendo a pirazinamida ativa apenas em meio ácido (intracelular ou no
interior dos granulomas), e a estreptomicina contra bacilos de multiplicação
rápida, como os residentes nas cavitações pulmonares. O etambutol (E) é
bacteriostático e tem a função de prevenir o surgimento de bacilos resistentes.30
O tratamento é realizado no plano ambulatorial, com recomendação de ser
TDO. Em casos especiais, a hospitalização está indicada:
● Meningoencefalite tuberculosa.
● Intolerância medicamentosa que não foi controlada no contexto
ambulatorial.
● Estado geral precário.
● Intercorrências clínicas ou cirúrgicas relacionadas ou não à TB que
necessitem tratamento e/ou procedimento hospitalar.
● Casos em situação de vulnerabilidade social, como ausência de residência
fixa ou grupos com maior possibilidade de abandono, sobretudo se for um
caso de retratamento, falência ou multirresistência.
Esquema básico
Faixa
de
Regime Fármacos peso Unidades/dose Meses
> 50 kg 4 comprimidos
> 50 kg 4 comprimidos
É recomendada a solicitação de cultura, identificação e TS para todos os casos com baciloscopia
positiva ao final do segundo mês de tratamento.
*RHZE: combinação de rifampicina (R), isoniazida (H); pirazinamida (Z) e etambutol (E).
**RH: combinação de rifampicina (R), isoniazida (H).
Fonte: Brasil.9
O esquema básico com RHZE pode ser administrado em gestantes nas doses
habituais, mas, nesses casos, está recomendado o uso concomitante de piridoxina
50 mg/dia pelo risco de toxicidade no RN (pela isoniazida).
Atenção especial deve ser concedida ao tratamento dos grupos considerados
de alto risco para toxicidade, constituído por pessoas de mais de 60 anos, em
mau estado geral, alcoolistas, infectados por HIV, em uso concomitante de
medicamentos anticonvulsivantes e pessoas que manifestem alterações
hepáticas. A rifampicina interfere na ação dos contraceptivos orais, e as
mulheres em uso desses medicamentos devem receber orientação para utilizar
outros métodos anticoncepcionais.6
> 50 4
kg comprimidos
7RH** RH 20-35 2 10
Fase de 150/75 mg kg comprimidos
manutenção comprimidos em dose fixa 36-50 3
combinada kg comprimidos
> 50 4
kg comprimidos
*RHZE: combinação de rifampicina (R), isoniazida (H); pirazinamida (Z) e etambutol (E).
**RH: combinação de rifampicina (R), isoniazida (H).
Fonte: Brasil.9
Provável
(eis)
fármaco (s)
Efeito responsável
adverso (eis) Conduta
Provável (eis)
fármaco (s)
responsável
Efeito adverso (eis) Conduta
Quando referenciar
Os casos que necessitem de esquemas especiais por efeitos adversos maiores ou
comorbidades ou de esquemas para contatos de TB multidroga-resistente
(TBMDR), além dos casos que evoluem para falência terapêutica, devem ser
referenciados para serviços de referência secundária ou terciária, para avaliação
e definição de conduta.
Isoniazida, 5-10 mg/kg/dia, 270 doses que deverão ser tomadas em 9-12
dose máxima de 300 mg/dia meses
Fonte: Brasil.9
PPD ≥10 mm DM
Risco leve (tratamento indicado em menores de 50 anos)
Controle do tratamento
Permite o acompanhamento da evolução da doença, garantindo a utilização
correta dos medicamentos e o sucesso terapêutico.
► TB ativa, tratar TB
► Excluída TB ativa, prosseguir investigação
TT, teste tuberculínico; ILTB, infecção latente pelo M. tuberculosis; TB, tuberculose.
Fonte: Brasil.9
► TB ativa, tratar TB
Encerramento oportuno
● Casos de TB em tratamento com o esquema básico (de duração de 6
meses) sejam encerrados em até 9 meses.
● Casos de TB meningoencefálica (de duração de 12 meses) sejam
encerrados no sistema em até 15 meses.
Óbito por outras causas Morte do paciente por qualquer causa básica
que não seja TB, mesmo que a TB esteja
constando como causa associada no SIM. A
causa do óbito deve estar de acordo com as
informações contidas no SIM
População indígena
A população indígena corresponde a 0,4% da população brasileira.48 No ano de
2012, foram diagnosticados 782 casos novos de TB entre a população indígena
do Brasil, sendo que cerca de 90% são casos de TB pulmonar, e quase 60%,
vivendo em área rural.49
A vigilância e o controle da TB nas áreas indígenas são realizadas pelas
Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), utilizando estratégias
adequadas e adaptadas à realidade local, desde geográficas a aspectos culturais
de cada grupo étnico.
Na busca ativa de sintomáticos respiratórios, é recomendado que todas as
pessoas com tosse, independentemente do tempo, sejam avaliadas. O diagnóstico
laboratorial é realizado pela solicitação da baciloscopia (1a e 2a amostras) e da
cultura, com a identificação de espécie e TS para todo indígena maior de 10 anos
com suspeita clínica de TB pulmonar. Nos casos de crianças indígenas menores
de 10 anos, o sistema de escore deve auxiliar o diagnóstico. Todo indígena com
suspeita clínica de TB pulmonar deve realizar radiografia torácica.9
A notificação de TB em indígena deve ser registrada no Sinan e no Sistema de
Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI).
Vigilância dos contatos.9
Enfermeiro
Identificar os sintomáticos respiratórios; orientar quanto à coleta de escarro;
administrar a vacina BCG; realizar consulta de enfermagem, conforme
protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal,
observadas as disposições legais da profissão; solicitar exames (BAAR,
radiografia torácica, cultura, identificação e TS para BK, TT), além do teste HIV
sob autorização e aconselhamento, iniciar tratamento e prescrever medicações
(esquema básico de TB), observadas as disposições legais da profissão e
conforme os protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo
Ministério da Saúde; convocar os contatos para investigação; orientar pacientes e
familiares quanto ao uso da medicação; convocar o doente faltoso à consulta e o
que abandonar o tratamento; acompanhar a ficha de supervisão da tomada de
medicação preenchida pelo ACS; realizar assistência domiciliar, quando
necessária; planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos
ACS, técnicos e auxiliares e orientar o acompanhamento dos casos em
tratamento e/ou TDO; notificar os casos confirmados de TB.10,44
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Global tuberculosis report 2016. Geneva: WHO; 2016.
2. World Health Organization. Ethics guidance for the implementation of the end TB Strategy. Geneva:
WHO; 2017.
3. Azedo RCM, Bezerra, SS, Fonte, CFV, Soares Sobrinho, JLS. Avaliação comparativa do perfil e
tratamento de pacientes nos Programas de Tuberculose do Estado de Pernambuco e do Hospital
Universitário Oswaldo Cruz. Bol Inform Geum. 2014;4(1):71-78.
4. World Health Organization. Guía I Organización Mundial de la Salud: directrices sobre la atención de la
infección tuberculosa latente. Geneva: OMS; 2015.
5. Brasil. Brasil livre da tuberculose I: plano Nacional pelo fim da tuberculose. Brasília: MS; 2017.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Brasil livre da tuberculose II: plano nacional pelo fim da tuberculose como
problema de saúde pública. Brasília: MS; 2017.
7. Rein MGJ, Houben PJD. The global burden of latent tuberculosis infection: a re-estimation using
mathematical modelling PLOS Med. 2016;13(10):e1002152.
8. Brasil. Tuberculose. Brasília: MS; 2017.
9. Brasil. Ministério da Saúde. Guia de vigilância em saúde [Internet]. Brasília: MS; 2016 [capturado em 15
jan. 2018]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_1ed_at
ual.pdf.
10. Brasil. Vigilância em saúde: dengue, esquistossomose, hanseníase, malária, tracoma e tuberculose.
Brasília: MS; 2007.