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FACSAD Curso de Licenciatura em Nutrição

Faculdade de Ciências 3.º Ano, Semestre VI - 2022


da Saúde e Desporto Dietoterapia I

4. Tratamento dietoterápico de doentes


segundo doenças específicas:
doenças infecciosas (tuberculose)

1
Sumário
Tuberculose
i. Definição
ii. Epidemiologia
iii. Transmissão
iv. Diagnóstico
v. Classificação
vi. Tratamento
vii. Interacção fármaco-nutriente
viii. Tratamento nutricional

5. Doenças infecciosas 2
i. Definição

A tuberculose (TB) é uma das mais antigas doenças da humanidade e


constitui um sério problema de saúde pública a nível mundial.

Tuberculose: infecção bacteriana causada por uma micobactéria, mais


especificamente o Mycobacterium tuberculosis, o M. bovis ou o M.
africanum; transmitida pela inalação de organismos dispersos nas gotículas
da secreção respiratória de indivíduos infectados (as gotículas carregadas
de bactérias podem flutuar no ar por várias horas).

Indivíduos de alto risco: profissionais de saúde, residentes em lares, casas


de repouso ou hospitais; indivíduos imunocomprometidos por cancro,
insuficiência renal crónica ou HIV.

5. Doenças infecciosas 3
i. Definição

Apesar da Tuberculose ser uma doença registada há 6 mil anos, somente


nos últimos 50 anos a ciência pôde ajudar os doentes no que concerne ao
tratamento.

6 décadas depois de encontrada a cura para a doença, a tuberculose ainda


mata anualmente milhões de pessoas.

Os agentes patogénicos tendem a desenvolver resistência aos


medicamentos usados para os tratar e a tuberculose não é uma excepção.

A emergência da resistência aos medicamentos contra a tuberculose e em


particular a tuberculose multidroga-resistente tornou-se num dos maiores
problemas de saúde pública em vários países, incluindo Moçambique.

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i. Definição

Essa resistência é também um grande obstáculo para o controlo efectivo da


tuberculose, principalmente em países com elevada prevalência do HIV.

A resistência aos medicamentos é um problema criado pelo Homem.

O controlo da TB, em Moçambique, é uma prioridade para o Ministério de


Saúde com grandes desafios principalmente ao estar associado à
Tuberculose Multi-droga Resistente e Tuberculose Extremamente
Resistente (TB-M(X)DR) e ao HIV.

5. Doenças infecciosas 5
i. Definição

Factores que contribuem para a emergência de resistências:


- a utilização de regimes de tratamento inadequados,
- a má adesão ao tratamento e
- a toma de medicamentos de má qualidade e com fornecimento
inadequado pela farmácia

5. Doenças infecciosas 6
ii. Epidemiologia

A tuberculose é uma doença contagiosa relacionados com a pobreza, a


desnutrição e função imunológica inadequada.

A morbidade e mortalidade da TB são mais altas nos países de baixa e


média renda.

Em 2012, cerca de 8,6 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose e


1,3 milhões morreram da doença (incluindo 320 000 mortes de indivíduos
HIV-positivos).

O número de mortes por TB é inaceitavelmente grande dado que a maioria


são evitáveis.

5. Doenças infecciosas 7
ii. Epidemiologia

Estima-se que 1,1 milhão (13%) dos 8,6 milhões de pessoas que
desenvolveram TB em 2012 eram HIV-positivos. Cerca de 75% desses
casos foram na Região Africana.

Globalmente, cerca de 450.000 pessoas desenvolveram Tuberculose Multi-


Droga Resistente (TB-MDR) e ocorreu cerca de 170.000 mortes por TB-
MDR.

A maioria dos casos de TB e das mortes ocorrem entre os homens, mas a


tuberculose permanece entre as três principais causas de morte de
mulheres no mundo.

A maioria dos casos em todo o mundo pertencem às seguintes regiões:


- Sudeste da Ásia (29%), África (27%) e Pacífico Ocidental (19%).
5. Doenças infecciosas 8
ii. Epidemiologia

Somente a Índia e China foram responsáveis por 26% e 12% dos casos,
respectivamente.

A taxa de incidência de TB para Moçambique, em 2012, foi de 552 por


100.000 habitantes.

Moçambique faz parte do grupo dos 22 Países com o maior peso de TB.

Os outros são: India, China, Indonésia, Bangladesh, Nigéria, Paquistão,


África do Sul, Filipinas, Federação da Rússia, Etiópia, Quénia, RD Congo,
Vietname, Tanzânia, Brasil, Tailândia, Zimbabwe, Camboja, Myanmar,
Uganda e Afeganistão.
Estes países contribuem com 80% dos casos novos de TB (todas as
formas), estimados em todo o mundo anualmente.
5. Doenças infecciosas 9
iii. Transmissão

A principal via de transmissão da tuberculose é a via aérea.

Cada episódio de tosse, num doente com tuberculose pulmonar ou laríngea


com baciloscopia positiva, origina cerca de 3.500 gotículas de aerossóis,
que são invisíveis a olho nu, contendo bacilos da TB (bacilos de Koch ou
BK).

As gotículas de maiores dimensões caem no solo ou, se inaladas, ficam


depositadas nas vias aéreas superiores, enquanto as mais leves ficam
suspensas no ar durante várias horas e são inaladas por outras pessoas.

São estas as responsáveis pela transmissão da infecção tuberculosa,


sobretudo nas salas ou ambientes com pouca ou nenhuma ventilação.

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iii. Transmissão

Cada doente com TB pulmonar/laríngea BK+ transmite a infecção a 10-12


pessoas / ano.

Destas 10% (HIV-) e 50% (HIV+) desenvolvem a TB doença.

Doentes com TB pulmonar com BK negativo transmitem também a TB mas


apenas a 1-2 pessoas / ano.

A nível mundial 2 biliões de pessoas (cerca de 1/3) estão infectadas com o


BK.

O sol, através dos raios ultravioletas, mata o BK em 5 minutos.

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iii. Transmissão

Assim, manter as casas bem ventiladas e deixar entrar os raios solares,


constituem medidas acessíveis e eficazes contra a transmissão da TB.

Para quebrarmos a cadeia de transmissão, a medida mais importante é a


de diagnosticar e tratar precocemente os casos de TB sobretudo os que
têm BK+.

A nível das unidades sanitárias teremos que ter em consideração alguns


aspectos práticos para evitar a transmissão nosocomial (intra-hospitalar).

As salas de espera devem ser bem arejadas e ensolaradas (o ideal são as


varandas cobertas). Dar prioridade nas triagens e consultas aos doentes
com tosse, para diminuir o tempo de permanência.

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iii. Transmissão

Nunca colocar no mesmo quarto doentes com TB e BK+ junto de outros


doentes que não estejam em tratamento de TB, sobretudo se são casos de
HIV/SIDA, diabetes, malnutrição, alcoolismo, silicose, neoplasias,
insuficiência renal, e outras causas que deprimem o sistema imunológico.

Outra forma de transmissão da TB (M. bovis) e que pode provocar TB


sobretudo na laringe, gânglios ou intestinos é a ingestão de leite não
fervido ou pasteurizado e carne mal cozida sobretudo nas zonas rurais.

É muito importante alertar as populações para este problema e aconselhar


a fervura do leite e carne bem cozinhada e a manterem os animais longe
das habitações.

5. Doenças infecciosas 13
iv. Diagnóstico

A suspeita de casos de tuberculose pulmonar pode ser feita com base em


critérios clínicos, laboratoriais e radiológicos.

A confirmação de um caso de TB pulmonar é feita pelo exame


bacteriológico da expectoração (exame directo ou cultura).

Diagnóstico clínico
Os sintomas respiratórios suspeitos de TB pulmonar (TBP) são: tosse com
duração de 2 ou mais semanas, expectoração, hemoptises (expulsão
sanguínea através da tosse), dor toráxica e dispneia.

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iv. Diagnóstico

Os sintomas constitucionais (não são específicos e indicam que a pessoa


está doente) mais frequentes são: febre de qualquer tipo de predomínio
vespertino (no período da tarde), anorexia, emagrecimento, suores
nocturnos e astenia (fraqueza orgânica, porém sem perda real da
capacidade muscular).

 Estas não são manifestações específicas da TB.

Muitas patologias respiratórias, e não só, apresentam uma sintomatologia


semelhante e portanto não se devem diagnosticar casos de TBP com
base apenas em sintomas clínicos.

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iv. Diagnóstico

Diagnóstico laboratorial
- Exame directo (baciloscopia)
Perante um doente com estas manifestações é obrigatória a realização de
2 baciloscopias da expectoração realizadas em 2 dias:
- a primeira amostra colhida no momento da 1ª consulta (amostra imediata)
- a segunda na manhã seguinte, em casa ao acordar (amostra matinal).

A sensibilidade do exame directo da expectoração é apenas de 50-60%


pois é necessário que hajam 10 mil bacilos/mL de expectoração para que o
resultado seja positivo.

Os casos paucibacilares (com poucos bacilos) com baciloscopia negativa,


estão mais associados aos doentes co-infectados com o HIV, crianças e
idosos.
5. Doenças infecciosas 16
iv. Diagnóstico

Os resultados são entregues no mesmo dia ou o mais tardar 24 horas


depois.

Em caso de urgência os resultados podem ser entregues 2 a 3 horas


depois de entrarem no laboratório.

- Cultura
A cultura da expectoração dá-nos o diagnóstico de certeza de um caso de
TB.

A sensibilidade é de 80-85% pois requer apenas 10 bacilos/mL de


expectoração.

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iv. Diagnóstico

Contudo, exige uma técnica muito mais complicada e dispendiosa que o


exame directo.

Outra desvantagem é a de os resultados só estarem disponíveis após 3 a


12 semanas.

Cerca de 30% de casos de TB pulmonar com baciloscopia (-) serão


positivos (+) à cultura.

Casos com BK negativo em pelo menos 2 amostras mas com suspeita


clínica/radiológica de TB pulmonar activa têm indicação para cultura.

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iv. Diagnóstico

Diagnóstico radiológico
Infelizmente, não há nenhuma imagem radiológica característica da TB
pulmonar.
A história clínica cuidada e em especial o exame bacteriológico da
expectoração são as bases para um diagnóstico correcto.

- A TB é a grande imitadora e a grande imitada. As pneumonias, abcessos,


tumores, bronquiectasias, doenças ocupacionais, doenças do difusas do
parênquima, Sarcoma de Kaposi pulmonar,…, podem dar imagens
radiológicas semelhantes às da TB e vice versa.

- Nenhuma imagem radiológica é diagnóstica de TB activa, apenas


sugestiva.

5. Doenças infecciosas 19
iv. Diagnóstico

- Sobrediagnósticos - significa dar tratamento sem necessidade e expor os


doentes a efeitos secundários indesejáveis com gastos desnecessários dos
recursos disponíveis.

- Subdiagnósticos: casos de TB com radiografia do tórax (RXT) normal (TB


endobrônquica, miliar) ou apresentações “mascaradas” na TB/HIV.

- Nos casos que tenham feito um tratamento anterior, não é possível pelo
RXT diferenciar as recaídas das sequelas.

- Factor económico: o preço de uma radiografia é equivalente aos gastos


com o tratamento de 3 doentes com TB.
- Radiações desnecessárias.
- Desaconselhado pela OMS como técnica de despiste em massa.
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iv. Diagnóstico

O RX do tórax no doente TB/HIV reflecte o grau de imunidade.

Na fase inicial é na maioria das vezes a clássica.

Na fase mais avançada a apresentação é frequentemente não clássica.

Padrão clássico (imunidade mantida): cavitação; infiltrados nos lobos


superiores; infiltrados bilaterais; fibrose pulmonar.

Padrão não clássico (imunidade alterada): infiltrados intersticiais basais;


ausência de cavitação; adenopatias intratoráxicas; derrames pleurais;
padrão miliar.

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iv. Diagnóstico

Ponto Prático:

A grande maioria dos doentes (> 90%) com uma TB cavitária tem BK+.

Um doente com cavidades ao Rx do tórax e com baciloscopias negativas


tem provavelmente uma outra doença pulmonar (pneumonia por
estafilococos, nocardia, klebsiella, proteus, pseudomonas, aspergilose,
abcesso pulmonar, Sarcoma de Kaposi pulmonar, tumor do pulmão, …).

5. Doenças infecciosas 22
v. Classificação

Antes de se iniciar o tratamento ao doente é necessária a realização de


uma história clínica detalhada com o objectivo de se obter uma correcta
classificação do doente.

O regime de tratamento depende da classificação que cada doente recebe.

5. Doenças infecciosas 23
v. Classificação

Determinantes
Localização da doença
- TB Pulmonar (TBP)
- Extrapulmonar (TBE) (referir sempre o local)
- Disseminada em 2 ou mais localizações (excluindo a TB pulmonar +
pleural)

Nota: se o doente tem TB P e TBE será notificado como TB pulmonar e nas


observações coloca-se a localização extrapulmonar.

Bacteriologia
- Exame directo da expectoração (BK+ ou BK-)
- Cultura da expectoração (C+ ou C-)

5. Doenças infecciosas 24
v. Classificação

Tuberculose pulmonar com baciloscopia positiva (BK+):


- Uma amostra de expectoração positiva para bacilos ácido-alcoól
resistentes (BAAR) e
- Confirmação laboratorial de infecção com o HIV ou
- Forte evidência clínica de infecção com o HIV.

(dependendo da avaliação clínica e das políticas nacionais e/ou locais, uma


pessoa em que não se sabe o estado relativo ao HIV pode ser classificada
como HIV positiva com o objectivo de diagnóstico e manejo)

5. Doenças infecciosas 25
v. Classificação

Tuberculose pulmonar com baciloscopia negativa (BK-):


- Pelo menos duas amostras de expectoração negativas para BAAR e
- Alterações radiológicas consistentes com tuberculose activa e
- Confirmação laboratorial de infecção com o HIV ou
- Forte evidência clínica de infecção com o HIV e
- Decisão por um clínico de tratar com um curso completo de tratamento
antituberculose

OU Um doente com expectoração com baciloscopia negativa para BAAR


que é cultura-positiva para Mycobacterium tuberculosis.

5. Doenças infecciosas 26
v. Classificação

Tuberculose Extrapulmonar:
- Uma amostra, de uma localização extrapulmonar, (+) à cultura para
Mycobacterium tuberculose ou com baciloscopia positiva para BAAR OU
- Histologia / forte evidência clínica consistente com tuberculose
extrapulmonar activa e
- Confirmação laboratorial de infecção com o HIV OU
- Forte evidência clínica de infecção com o HIV e
- Decisão de um clínico de iniciar tratamento completo antituberculose.

5. Doenças infecciosas 27
v. Classificação

História de tratamento anterior


- Recaída
- Falência
- Tratamento após abandono
- TB recorrente
- Crónico
- TB – MDR/XDR

5. Doenças infecciosas 28
v. Classificação

Gravidade da doença
Os doentes devem ser divididos em 2 grandes grupos: doentes graves e
em ambulatório.

Critérios para considerar o doente grave:


- Incapaz de andar sem ajuda
- Frequência respiratória > 30/minuto
- Febre > 39ºC
- Pulso > 120/minuto
- TB miliar (ou TB cutânea aguda disseminada) / meníngea / pericárdica /
coluna / génito-urinária / peritoneal / intestinal / pleural bilateral

5. Doenças infecciosas 29
v. Classificação

Caso novo: doente que nunca fez tratamento a TB ou que fez tratamento < 1 mês
Recaída: doente que fez tratamento anterior completo e volta a ter baciloscopia/cultura
positiva
Falência: doente caso novo com baciloscopia positiva ao 5º ou 6º meses de tratamento
anti-tuberculose
Retratamento após abandono: doente que interrompeu o tratamento por 2 meses e inicia
regime de retratamento
Recorrente: tratamento anterior completo; BK e C negativas mas quadro clínico muito
sugestivo de TB activa (mais frequente nas PVHS).
Crónico: doente com baciloscopia positiva no final do regime de retratamento.
Transferido: doente transferido de um distrito (onde foi notificado) para outro para continuar
o tratamento.
TB Multidrogas-resistente (MDR): doente com bacilos resistentes a pelo menos H
(isoniazida) e R (rifampicina)
TB Extremamente resistente (XDR): doente com bacilos resistentes a H+R+ 1 Injectável
(Km/Cm/Am) (ex: estreptomicina) + 1 fluoroquinolona

5. Doenças infecciosas 30
vi. Tratamento

Objectivos
- Curar o doente com TB.
- Prevenir a morte por TB activa ou suas sequelas.
- Prevenir as recaídas/falências/recorrências.
- Diminuir a transmissão da doença na comunidade.
- Evitar a progressão da infecção com o HIV.
- Prevenir o desenvolvimento da resistência adquirida aos medicamentos
- Prevenir as sequelas de TB.

5. Doenças infecciosas 31
vi. Tratamento

Actividade metabólica e medicamentos mais eficazes


- Bacilos de multiplicação rápida nas paredes das cavidades: H
(isoniazida) e S (estreptomicina)
- Bacilos de multiplicação lenta nos focos caseosos: R (rifampicina)
- Bacilos no interior dos macrófagos: Z (pirazinamida)
- Bacilos persistentes (com ocasional actividade metabólica): R
(rifampicina)

5. Doenças infecciosas 32
vii. Interacção fármaco-nutriente

Tratamento da TB inclui uma combinação de medicamentos que podem


incluir: Etambutol, Isoniazida, Pirazinamida e Rimfapicina.

Devem ser tomados de manhã cedo e com o estômago vazio.


Isto significa tomar a medicação depois de acordar e antes de comer
qualquer coisa.

Evitar álcool.
- a absorção da isoniazida é reduzida pela presença de alimentos  deve
ser administrado 1h antes ou 2h após as refeições.
- a isoniazida diminui a quantidade de piridoxina (vitamina B6) e interfere no
metabolismo da vitamina D, o qual, por sua vez, pode diminuir a absorção
de cálcio e fósforo  os doentes necessitam de maior ingestão de
vitamina B6 e D e de minerais, a partir de alimentos ou de suplementos.
5. Doenças infecciosas 33
vii. Interacção fármaco-nutriente

Reações indesejáveis aos tuberculostáticos

Isoniazida (H): neuropatia periférica, náuseas, vómitos e icterícia


Rifampicina (R): náuseas, vómitos, icterícia, asma, urticária e hemorragia
Pirazinamida (Z): astralgia (sintomatologia dolorosa associada a uma ou
mais articulações do corpo), náuseas, vómitos e icterícia
Estreptomicina (S): perda do equilíbrio e hipoacusia (deficiência auditiva)
Etambutol (E): náuseas, vómitos e alterações visuais (perda da visão
periférica, perturbação das cores, perda da acuidade visual)
Etionamida (Et): náuseas, vómitos, diarreia e icterícia

5. Doenças infecciosas 34
viii. Tratamento nutricional

Nutrição e prevenção

Melhorar a nutrição ajuda a prevenir a TB (OMS, 2013)


- A desnutrição aumenta o risco de TB.
- Estima-se que a desnutrição provoca cerca de 1/4 dos novos casos de
TB no mundo.
- Melhoria da segurança alimentar mundial iria melhorar muito a
prevenção da TB.
- O suporte nutricional para pessoas desnutridas com infecção latente da
tuberculose pode reduzir o risco de progressão para doença activa. No
entanto, são necessários estudos para confirmar esse facto.

5. Doenças infecciosas 35
viii. Tratamento nutricional

Reabilitação nutricional

Reabilitação nutricional é importante para pessoas com TB (OMS, 2013)


- TB provoca perda de peso e deficiências de macro e micronutrientes.
- A associação bidirecional entre desnutrição e tuberculose leva a uma
alta prevalência de desnutrição entre as pessoas com TB.
- O tratamento adequado da TB ajuda a restaurar o peso normal e o
estado nutricional.
- No entanto, o tempo para a recuperação nutricional completo pode ser
longo e muitos pacientes com TB ainda estão desnutridos após concluído o
tratamento da tuberculose.

5. Doenças infecciosas 36
viii. Tratamento nutricional

Reabilitação nutricional

Reabilitação nutricional é importante para pessoas com TB (OMS, 2013)


- O atendimento nutricional adequado, melhora a recuperação nutricional
para pessoas que estão desnutridas e, portanto, ajuda a reduzir os futuros
riscos para a saúde.
- No entanto, não há evidências suficientes de que o cuidado nutricional
melhora os resultados do tratamento específico da tuberculose, quando o
tratamento adequado com medicamentos anti-TB é fornecido.

5. Doenças infecciosas 37
viii. Tratamento nutricional

Impacto das doenças pulmonares no estado nutricional

Gasto energético aumentado:


- trabalho respiratório aumentado;
- infecção crónica;
- tratamentos clínicos (broncodilatadores, fisioterapia respiratória).

Ingestão reduzida:
- restrição hídrica
- dispneia (dificuldade na respiração)
- redução da saturação de oxigénio durante a alimentação
- anorexia resultante de doença crónica
- distúrbios gastrointestinais e vómitos

5. Doenças infecciosas 38
viii. Tratamento nutricional

Impacto das doenças pulmonares no estado nutricional

Limitações adicionais:
- dificuldade em preparar alimentos devido à fadiga
- falta de recursos financeiros
- prejuízo na capacidade de se alimentar (para crianças e lactentes)
- metabolismo alterado

5. Doenças infecciosas 39
viii. Tratamento nutricional

Terapia nutricional

Existe uma associação entre a tuberculose e a desnutrição.


TB agrava a desnutrição e a desnutrição enfraquece a imunidade,
aumentando assim a probabilidade de que a tuberculose latente evolua
para doença activa.

A maioria dos indivíduos com tuberculose activa estão num estado


catabólico e de perda de peso e alguns mostram sinais de deficiências de
vitaminas e minerais no momento do diagnóstico.

5. Doenças infecciosas 40
viii. Tratamento nutricional

A perda de peso entre as pessoas com TB pode ser causada por vários
factores, incluindo:
- redução da ingestão de alimentos devido à perda de apetite, náuseas e
dor abdominal;
- perdas de nutrientes por vómitos e diarreia e
- alterações metabólicas causadas pela doença.

O baixo IMC (< 18,5 kg/m2) e falta de aumento de peso com o tratamento
adequado da tuberculose estão associados com um risco aumentado de
morte e recidiva da tuberculose e pode ser uma indicação de gravidade da
tuberculose, má resposta ao tratamento e/ou a presença de outras
comorbidades.

5. Doenças infecciosas 41
viii. Tratamento nutricional
Sinais e sintomas com relevância nutricional:
desnutrição, perda de peso, sudorese nocturna, fadiga, dispneia e
hemoptise (expectoração com sangue pela tosse).
Terapia nutricional:
- as avaliações e intervenções nutricionais são focadas mas alterações
causadas pela doença de base ou pela condição social.
- indivíduos com infecções crónicas e aqueles que realizam trabalho
manual com elevado esforço físico podem necessitar de maior ingestão
energética.
- geralmente o doentes com tuberculose requerem uma ingestão
aumentada de energia e líquidos, excepto se contraindicado.
- promover o acesso a alimentos e também a suplementos orais com
elevado teor de energia e de proteína é uma opção clínica menos
dispendiosa e mais praticável.
5. Doenças infecciosas 42
viii. Tratamento nutricional

Recomendações OMS, 2013


Guideline: Nutritional care and support for patients with Tuberculosis.
Geneva, World Health Organization, 2013

Avaliação e aconselhamento
- Todos os indivíduos com tuberculose activa devem receber
a) uma avaliação do seu estado nutricional e
b) aconselhamento apropriado com base no seu estado nutricional, no
momento do diagnóstico e durante o tratamento.

5. Doenças infecciosas 43
viii. Tratamento nutricional

Tratamento de desnutrição aguda grave


- crianças em idade escolar e adolescentes (5 a 19 anos) e adultos,
incluindo mulheres grávidas e lactantes, com TB activa e com desnutrição
aguda grave, deve ser tratados de acordo com as recomendações da OMS
para o tratamento da desnutrição aguda grave.
- crianças menores de 5 anos de idade com tuberculose activa e
desnutrição aguda grave devem ser tratados de acordo com as
recomendações da OMS para o tratamento da desnutrição aguda grave em
crianças menores de cinco anos.

5. Doenças infecciosas 44
viii. Tratamento nutricional

Tratamento da desnutrição moderada


- crianças em idade escolar e adolescentes (5 a 19 anos) e adultos,
incluindo mulheres lactantes, com TB activa e desnutrição moderada que
não conseguem recuperar o IMC normal, após dois meses de tratamento
da tuberculose, bem como aqueles que estão a perder peso durante o
tratamento da TB devem ser avaliados quanto à adesão e às condições de
co-morbilidade.
- estes também devem receber avaliação nutricional e aconselhamento, e
se indicado, ser fornecido alimentos disponíveis localmente, ricos em
nutrientes ou suplementos alimentares enriquecidos, necessários para
restaurar o estado nutricional normal.
- as crianças menores de cinco anos de idade com tuberculose activa e
desnutrição moderada deve ser tratada como quaisquer outras crianças
com desnutrição moderada.
5. Doenças infecciosas 45
viii. Tratamento nutricional

Tratamento da desnutrição moderada


- isso inclui a entrega de alimentos disponíveis localmente, ricos em
nutrientes ou suplementos alimentares enriquecidos, a fim de restaurar o
peso-para-altura apropriado.
- as mulheres grávidas com TB activa e desnutrição moderada ou com
ganho de peso inadequado devem receber alimentos disponíveis
localmente, ricos em nutrientes ou suplementos alimentares enriquecidos,
necessários para alcançar um ganho de peso médio semanal mínimo, de
cerca de 300 g por semana, no segundo e terceiro trimestres.
- os doentes com TB multirresistente activa e desnutrição moderada
devem ter acesso a alimentos disponíveis localmente, ricos em nutrientes
ou suplementos alimentares enriquecidos, necessárias para restaurar o
estado nutricional normal.

5. Doenças infecciosas 46
viii. Tratamento nutricional

Suplementação de micronutrientes
- um suplemento diário de múltiplos micronutrientes deve ser fornecido
em situações em que os alimentos fortificados ou complementares que
devem ser fornecidos de acordo com o padrão de tratamento de
desnutrição moderada não estão disponíveis.
- todas as mulheres grávidas com tuberculose activa devem receber
vários suplementos de micronutrientes que contenham ferro e ácido fólico e
outras vitaminas e minerais de acordo com a preparação de múltiplos
micronutrientes das Nações Unidas para complementar as necessidades
de micronutrientes maternos.

5. Doenças infecciosas 47
viii. Tratamento nutricional

Suplementação de micronutrientes
- para as mulheres grávidas com TB activa em locais onde a ingestão de
cálcio é baixa, a suplementação de cálcio como parte dos cuidados pré-
natais é recomendado para a prevenção de pré-eclâmpsia, principalmente
entre as mulheres grávidas que correm maior risco de desenvolver
hipertensão, de acordo com as recomendações da OMS.
- a todas as mulheres lactantes com tuberculose activa deve ser fornecido
suplemento com ferro e ácido fólico e outras vitaminas e minerais de
acordo com a preparação de múltiplos micronutrientes das Nações Unidas,
para complementar as necessidades de micronutrientes maternos.

5. Doenças infecciosas 48
viii. Tratamento nutricional

Necessidades de macronutrientes na TB activa (OMS, 2013)


A tuberculose activa, como outras doenças infecciosas, é susceptível de
aumentar as exigência de energia.

Pode ser usado como guia, o aumento no consumo de energia causadas


pela infecção pelo HIV.

Estudos mostram que os indivíduos que receberam suplementos


alimentares durante o tratamento da tuberculose tendem a ganhar mais
peso em comparação com aqueles que não recebem suplementos
alimentares.
 no entanto o aumento no ganho de peso não foi associado à melhoria
dos resultados do tratamento da tuberculose.

5. Doenças infecciosas 49
viii. Tratamento nutricional

Necessidades de macronutrientes na TB activa (OMS, 2013)


Não há actualmente nenhuma evidência para sugerir que a proporção de
macronutrientes na energia da dieta, também conhecida como distribuição
de macronutrientes, é diferente para as pessoas com TB activa do que para
aqueles sem TB.

Geralmente é recomendado, para um adulto, o consumo de cerca de 15-


35% de energia proveniente de proteínas, 20-35% de lípidos e 45-65% em
glícidos (DRIs).

5. Doenças infecciosas 50
viii. Tratamento nutricional

Necessidades de micronutrientes em TB activa (OMS, 2013)


Baixas concentrações circulantes de micronutrientes, como vitaminas A, E
e D e minerais, ferro, zinco e selénio têm sido relatados a partir de coortes
de pacientes que começam o tratamento para tuberculose activa.
 estes geralmente retornam ao normal após 2 meses de tratamento da
TB apropriado.

- Desconhece-se se o retorno observado para concentrações normais é


dependente da qualidade de ingestão.
- Os estudos não têm sido feitos sobre a ingestão dietética perto do
momento do diagnóstico.
- Não está claro se as baixas concentrações estão relacionados com a
baixa ingestão dietética, com processos metabólicos ou com a própria
doença.
5. Doenças infecciosas 51
viii. Tratamento nutricional

Orientação disponível para o tratamento da desnutrição (OMS, 2013)

O IMC é o indicador mais utilizado para medir o grau de desnutrição e


obesidade em adultos com mais de 18 anos de idade, enquanto que o Z-
score IMC-para-idade e sexo é utilizado em crianças e adolescentes com
idades compreendidas entre 5-19 anos.

Z-score peso-para-estatura é o indicador recomendado para crianças com


menos de 5 anos de idade, juntamente com o perímetro braquial.

5. Doenças infecciosas 52
viii. Tratamento nutricional

University of Stellenbosch. Nutrition Information Centre. Tuberculosis


and Nutrition.
Necessidade energéticas
- aporte energético aumentado por causa da própria doença
- baseado nas necessidades para estado hipercatabólico e para
desnutridos.
- aproximadamente 35-40 kcal/kg de peso ideal
Proteína
- composição proteica normal ou ligeiramente aumentada
- importante para evitar o desperdício de reservas corporais
(ex: tecidos musculares)
- 1,2-1,5 g/kg de peso corporal ideal ou
- 15 % do total energético diário
(cerca de 75-100 g por dia será suficiente).
5. Doenças infecciosas 53
Agradeço a vossa atenção!

5. Doenças infecciosas 54

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