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PARTE 1
A cultura evangélica brasileira pode ser considerada uma cultura dispensacionalista, arminiana
e pentecostal. O movimento pentecostal iniciado no século XX e trazido para o Brasil em 1910
teve grande influência nas missões brasileiras, principalmente nos interiores dos estados
brasileiros. Como o movimento era muito agressivo na evangelização e nas missões, muito
cedo conseguiram influenciar grande parte da cultura brasileira. Nas cidades do interior, até os
dias de hoje, a cultura pentecostal ainda permanece como uma suposta referência de
verdadeira igreja para os desavisados. O movimento pentecostal carece muito de uma base
sólida de exegese bíblica. Além do movimento pentecostal não possuir uma cultura teológica,
eles também condenam o uso da letra.
É muito comum, desde o início do movimento, usar-se o chavão “a letra mata”, para
menosprezar o estudo teológico das Escrituras; por conta dessa visão para com o estudo das
Escrituras, os trabalhos teológicos pentecostais para defender uma base bíblica do movimento
têm se mostrado fracos na sua argumentação. Resistiria o movimento a uma análise séria das
Escrituras? Alguém que defenda ou pratique o pentecostalismo o faz por que foi convencido
pelas Escrituras? Normalmente, os defensores eruditos do movimento foram instruídos a
partir da experiência individual, só depois é que se aventuraram em buscar base bíblica; essa é
a razão pela qual o movimento pentecostal não possui cultura teológica, e boa parte do
movimento ainda conta com o chavão “a letra mata”.
O movimento pentecostal é corretamente referido neste trabalho como “a tradição
pentecostal.” A aplicação desse termo ao movimento é devido à sua origem fora das
Escrituras. Se a teologia pentecostal ainda carece de fundamentos bíblicos, ela permanece
como uma tradição, e não como verdade escriturística. Os pentecostais fizeram opção pelas
crenças pentecostais depois uma séria análise das Escrituras? Ou eles seguem uma tradição
passada à quase um século, carecendo profundamente de respaldo escriturístico? Seria
legítimo um conjunto de verdades que nasce a partir de uma fenomenologia humana, levando-
se em conta a vunerabilidade e perversão dessa natureza? Seria suficiente afirmar que o que
aconteceu no livro de Atos ainda repete-se hoje no movimento pentecostal moderno?
Responder esta última pergunta é o propósito desse trabalho.
A referência bíblica mais usada para fundamentar o movimento pentecostal moderno é, sem
dúvida, o texto histórico de Atos 2, sobre o dia de pentecostes. É muito comum em nossas
conversas com pentecostais ouvir deles que o modelo de Atos 2 se repete hoje em dia nos
movimentos pentecostais. Muitas pessoas têm me perguntado se o pentecostes dessas igrejas
de hoje corresponde exatamente ao pentecostes de Atos. A minha resposta é um categórico
“não”. Se houver conflito entre o modelo pentecostal moderno e o modelo de Atos, eu prefiro
considerar que o movimento moderno é falso, e o pentecostes de Atos verdadeiro. A pergunta
que deve ser feita agora é se há de fato conflito entre o pentecostes moderno e o modelo
apostólico. Para responder a esta pergunta precisamos analisar o modelo apostólico, compará-
lo com o moderno e no final da análise conclusões serão feitas em cima de todos os dados. As
principais características do pentecostes apostólico eram as seguintes: a) Era geograficamente
histórico O pentecostes estava geográficamente prometido para acontecer em Jerusalém, e
em nenhum outro lugar; mesmo que os eventos entre os samaritanos, na casa de Cornélio, e
em Éfeso sejam citados como exemplo de continuidade do pentecostes, “a promessa” só foi
prometida para Jerusalém, (Lc 24:49). Foi ordenado aos discípulos que “não se ausentassem de
Jerusalém”. Nenhum dos apóstolos reconheceu ou denominou tais eventos posteriores como
um segundo ou terceiro pentecostes. Isso porque a natureza teológica de cada evento similar
ao pentecostes jerosolimitano (de jerusalém) era, em muitos aspectos, diferente. Jerusalém
seria o local do último evento da história da redenção antes da volta de Cristo. Na promessa do
Pentecostes, Lucas não enfatizava apenas o esperar, mas esperar em Jerusalém. Observe-se
que os verbos perimenein (esperar, At 1:4) em Atos e kathisate (sentar-se, Lc 24:49), em Lucas,
são as únicas condições relatadas na Escritura para o pentecostes; uma condição tão sem
esforço e tão não-subjetiva quanto parece possível. A promessa de Cristo aos seus apóstolos
não é “se permanecerdes em Jerusalém recebereis o Espírito”; ao contrário, em ordenando os
discípulos permanecerem em Jerusalém, simplesmente promete o Espírito. A discriminação do
local do acontecimento desprovida de qualquer condição espiritual dos discípulos é prova
categórica que o pentecostes bíblico não estava disponível para qualquer pessoa em qualquer
lugar; nem tampouco havia qualquer tipo de condição espiritual previamente estabelecida
para acontecer.
Ao compararmos com o pentecostes moderno percebemos que já a primeira diferença está no
fato do pentecostalismo moderno não ser histórico, podendo seu pentecostes ocorrer em
qualquer época e em qualquer lugar; bem como ser necessário preencher várias condições
para acontecer (jejuns, vigílias, orações, abstinências, etc.). Não há qualquer visão histórica do
evento, tornando-o manipulável e tão corriqueiro como fazer qualquer refeição diária. O
penúltimo evento mais importante da história da redenção, segundo os pentecostais, acontece
todos os dias entre eles, não importa quão diferente seja do pentecostes original. Isso é forte
evidência que o pentecostalismo defende um pentecostes de natureza diferente do bíblico; a
base do movimento pentecostal moderno não é bíblica. b) Tinha natureza de promessa Os
eventos da descida do Espírito Santo em Atos 2, e seus pares em Atos 8, 10, e 19 são
denominado de “dom”. A idéia de dom pode facilmente ser entendida pelo fato do Espírito
Santo nunca ser pedido ou buscado pelos que o recebe; em todas as ocasiões em que as
pessoas recebem no livro de Atos, ou foi promessa assegurada por Cristo (Atos 2), ou foi
concedido pelos apóstolos. (Atos 8,10,19).
O Espírito Santo em Atos sempre é referido com promessa ou dom; nunca é galgado ou obtido,
sempre é uma dádiva. Logo no início do livro de Atos, Lucas refere-se ao Espírito Santo pelo
nome que deverá ser entendido por todo o restante do livro de Atos, a promessa do Pai. É
interessante notar também que os apóstolos não pedem ou buscam; o único episódio em que
eles “oram” pelo batismo é o caso dos samaritanos. Ainda assim isso acontece em dois
momentos separados, pois na hora dos samaritanos receberem o Espírito Santo, os apóstolos
apenas impõem as mãos; nenhuma oração é feita pedindo. É possível que essa oração seja
uma oração revelacional para saber se Deus faria um típico pentecostes samaritano entre eles.
A palavra epanggelia, (promessa, Lc 24:49; Atos 1:4, 2:33), usada no contexto de pentecostes,
é a palavra sinônima de “graça” que está em forte contraste com trabalho pou esforço em Rm
4:13, 14, 20; Gl 3:14. Epanggelia tem sua co-irmã a palavra dorea, (dom gratutito, At 2:38,39),
usada por Pedro para descrever o Pentecostes. O emprego que Cristo e os apóstolos fizeram
dessas palavras da graça tinha como objetivo repudiar toda mentalidade clássica farisaica de
obter benefícios divinos por intermédio da lei. A exigência de esforços espirituais para ganhar
dons era formalmente a religião judaica dos tempos apostólicos. A maior implicação teológica
da lexicografia das palavras empregadas para a descrição de Pentecostes em Lucas e Atos é
que a promessa do Pentecostes é um presente da parte de um Pai gracioso, com significado de
presente gratuito, sem preço, custo ou condição.
A promessa do Pai não tinha apenas um local certo para se cumprir, mas um tempo certo
também. As palavras “não muito depois destes dias” significavam “muito em breve.” É notável
quão grande é o erro daqueles que querem comparar o movimento moderno com o
Pentecostes primitivo. A promessa de Atos deixava certo o local e a data do acontecimento.
Pentecostes não datado, adiado ou antecipado por causa de orações dos recipientes. Já ouvi
argumentos de que possivelmente os crentes de Atos estavam orando no dia de Pentecostes,
mas isso é conjectura. O pentecostes tinha data certa, e todo mundo sabia que não era para
pedir aquilo que já estava prometido. Diferentemente do Pentecostes primitivo, quem
determina a data de seus pentecostes são eles mesmos. Grandes concentrações são marcadas,
e é prometido cumprir-se ali o mesmo de Atos 2; no entanto ninguém tem certeza se as coisas
vão acontecer, pois a eles não foi dado data nenhuma. Tudo não passa de presunção de seus
líderes místicos, que em nome de Deus, pretenciosamente afirmam receber revelações, as
quais só estão sujeitas ao julgamento deles mesmos. O pentecostes moderno tem data
marcada pelo próprio recebedor; o Pentecostes de Atos era um ato gracioso da soberania de
Deus, no qual só ele mesmo tinha participação ativa. f) Indicativamente certo É fundamental
perceber que a promessa do batismo com o Espírito Santo não se encontra no modo verbal
subjuntivo, “podereis ser batizados com o Espírito Santo”, e sim no indicativo,
(baptisthesesthe), “sereis batizados com o Espírito Santo”. O modo indicativo não impõe ou
estabelece quaisquer obrigações ou exigências sobre os apóstolos, nem sugere incerteza sobre
o recebimento da promessa. Se o subjuntivo tivesse sido usado, ninguém teria certeza se
receberia ou não o batismo com o Espírito Santo até que cumprissem cabalmente as condições
prévias para receberem a bênção. Com o uso do indicativo é certo que a promessa não
dependeria das condições dos discípulos.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que a doutrina do batismo com o Espírito Santo dos pentecostais modernos
nada tem a ver com o ensino de Jesus e de seus apóstolos. Os pentecostais não possuem a
promessa como Cristo deu aos seus primeiros discípulos. Assim sendo, a história do
movimento pentecostal segue caminho diferente do caminho apostólico. Se durante quase um
século Deus não visitou os pentecostais como visitou seus discípulos em Jerusalém,
consequentemente os recipientes modernos entraram por outro caminho em busca daquela
bênção primitiva. Enquanto o batismo com o Espírito Santo foi uma promessa com hora e local
determinados por Deus, incondicional, passiva, certa, inclusiva, e divina para os cristãos
primitivos, para os pentecostais é uma conquista incerta, condicionada aos privilégios de
alguns, galardoadora aos ativos, incertos para todos e exclusivo para alguns poucos que
conseguem preencher requisitos que eles mesmos traçam, e tendo sua origem nas obras
humanas. Considerando tudo isso, podemos afirmar que o movimento pentecostal moderno
não tem sua origem e sua natureza em Deus, mas no próprio homem.