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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 18ª REGIÃO
6ª VARA DO TRABALHO DE GOIÂNIA
CumSen 0010828-45.2022.5.18.0006
EXEQUENTE: JULIO CESAR MOURA
EXECUTADO: FURNAS-CENTRAIS ELETRICAS S.A.

SENTENÇA DE EXTINÇÃO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA


 

1. RELATÓRIO

JULIO CESAR MOURA propôs esta ação de cumprimento de


sentença visando a liquidação da decisão proferida em ação civil coletiva proposta pelo
SINDICATO DOS ELETRICITARIOS DE FURNAS E DME em face de FURNAS-CENTRAIS
ELETRICAS S.A., processo ACC 0010384-27.2013.5.18.0006 que tramita nesta 6ª Vara do
Trabalho de Goiânia - GO.

A executada não se manifestou.

A contadoria se manifestou em fl. 86.

O autor manifestou em fl.88/90.

É o relatório.

Decido.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Trata-se de ação de cumprimento de sentença, em que o


exequente, JULIO CESAR MOURA, busca o pagamento de valores deferidos na sentença
genérica proferida na ação civil coletiva proposta pelo SINDICATO DOS ELETRICITARIOS
DE FURNAS E DME em face de FURNAS-CENTRAIS ELETRICAS S.A.

Ocorre que a sentença genérica, embora certa quanto ao direito,


é ilíquida (artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor) e para que este título judicial
possua eficácia executiva, mister que se promova, previamente à execução, à sua
liquidação, estabelecendo o cui debeatur (a condição de beneficiário da sentença
coletiva) e o quantum debeatur (valor do dano individualmente sofrido).

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O cumprimento definitivo de sentença condenatória, em autos
de Cumprimento de Sentença funda-se em título executivo certo e exigível em relação
ao credor, não cabendo indagações quanto à certeza a quem se deve e de quanto se
deve.

Há que se ressaltar que o título executivo que proveio da ação


coletiva ACC 0010384-27.2013.5.18.0006, adveio de sentença genérica, sem indicação
de valores e beneficiários desses direitos, obrigando a reclamada a se abster de
modificar a base de cálculo do adicional de periculosidade dos trabalhadores
contratados entre 11/12 /2012 e 01/04/2013, e foi deferido as diferenças de adicional
de periculosidade referentes a abril/2013, com os reflexos em 13º salário, férias
acrescidas de adicional convencional (cláusula 24ª do ACT 2012/2013 – Id. 384987 - Pág.
9), FGTS e adicional de transferência.

Na tentativa de liquidação dos valores individualmente devidos,


nos autos da ação coletiva, foi constatado que o exequente não consta no rol de
substituídos da ação coletiva, conforme manifestação da contadoria em  fl. 86.

Por outro lado, para que esse juízo pudesse concluir que o
exequente é beneficiário da ação coletiva, há a necessidade de verificar dentre outros
fatores, os seguintes: que o exequente estava vinculado ao mesmo Sindicato, ora autor
da ação coletiva; a vigência do contrato do exequente encontra-se no mesmo período
deferido; a atividade do exequente era de eletricitário no período deferido na ação
coletiva, dentre outros.

Diante disso, identifico a existência de diversos parâmetros


individuais que afetam a liquidação, inclusive causa modificativa/extintiva da obrigação
de pagar, a ser comprovado em relação a esse exequente, inviabilizando a liquidação e
execução desse cumprimento de sentença.

Além do mais, é imprescindível a liquidação por artigos, fundada


em plena atividade probatória, observando-se o contraditório, em busca de
complementar o comando condenatório, individualizando-o.

Sobre esse assunto, Adriano Andrade, Cleber Masson e Landolfo


Andrade explicam que:

(…) a sentença condenatória nas ações


coletivas em prol de interesses individuais homogêneos tem seu
âmbito cognitivo restrito ao “núcleo de homogeneidade desses
direitos”. 

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Em outras palavras, ela somente define a
situação fático-jurídica que e comum a todos os lesados, o
“denominador comum” a todas as vítimas, a saber: a existência do
evento lesivo, o responsável por tal evento e a obrigação de ele
indenizar as vítimas do evento. Sem embargo, a sentença não
adentra nas situações individuais dos lesados: não os identifica,
tampouco quantifica o prejuízo sofrido por cada um. Por tal razão,
trata-se de uma sentença condenatória genérica, cujo conteúdo
precisa ser complementado via liquidação, antes de ser executado.
( Interesses difusos in e coletivos, 6ª edição, pag. 268).

E ainda complementam:

Mas atenção: nas sentenças condenatórias


genéricas do processo tradicional, cumpre ao interessado, na fase
de liquidação, demonstrar simplesmente o quantum debeatur, ou
seja, qual o valor a ser posteriormente executado (liquidez do
título). O dever de o réu ressarcir especificamente aquele
interessado já estava definido na sentença condenatória (certeza
do título). 

Por sua vez, na liquidação de sentenças


coletivas (ou mesmo das sentenças penais condenatórias de
crimes contra coletividades abstratas) que geram a obrigação de
indenizar os titulares de direitos individuais homogêneos, os
interessados (vítimas ou sucessores) não precisam comprovar
apenas o quantum debeatur, mas a própria condição de vítima do
evento reconhecido na sentença (ou de sucessor de uma vítima),
uma vez que a sentença condenatória não identifica cada uma das
vítimas do evento. Em razão disso, a liquidação dessas sentenças
coletivas é denominada por Dinamarco como liquidação imprópria.

Pode afirmar, ainda, que o título precisa ser


completado até mesmo quanto à certeza (não da existência da
obrigação genérica de indenizar as vítimas, mas de determinada
pessoa integrar o universo daquelas vítimas), em razão de ser
subjetivamente ilíquido.

No Código de Defesa do Consumidor, art. 103, § 3º, de aplicação


subsidiária ao processo do trabalho, prolatada a sentença na ação coletiva

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reconhecendo o dano, podem as vítimas ingressar diretamente com sua liquidação
individual, havendo verdadeira ampliação dos limites subjetivos e objetivos da coisa
julgada.

Segundo o art. 879, da CLT, sendo ilíquida a sentença


exequenda (individual ou coletiva), ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que
pode ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos, sem, no entanto, disciplinar
o seu procedimento.

Nessa situação, há a necessidade de se socorrer-se do Código


de Processo Civil, o art. 509, II, que disciplina:

Quando a sentença condenar ao


pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a
requerimento do credor ou do devedor. 

II - pelo procedimento comum, quando


houver necessidade de alegar e provar fato novo.

Mauro Schiavi, no Manual de Direito Processual do Trabalho


defende que:

“O rito da liquidação por artigos é o mesmo


da fase de conhecimento. Assim, se o processo for pelo rito
ordinário, a liquidação tem que seguir o mesmo rito, se
sumaríssimo ou sumário, deve seguir o mesmo rito”.

A liquidação, neste caso, não é mera fase


processual, ampliando-se o objeto de liquidação para a definição
não só do valor devido, mas, principalmente, quantum debeatur
para a demonstração do dano, da prova do nexo causal e da
pertinência subjetiva do credor (cui debeatur). Não é, portanto,
uma fase de individualização da obrigação, mas uma demanda
autônoma de perfil cognitivo, cujo resultado pode até ser zero,
bastando que o interessado não consiga demonstrar os fatos
constitutivos de seu direito.
 

No caso dos autos, a decisão da sentença coletiva é genérica e a


execução depende da implementação de todas as condições nela estabelecidas, o que
demonstra que a execução direta seria nula, pois o título executivo ainda não é líquido,
certo e exigível e a ação foi instaurada antes de se verificarem as condições impostas
na sentença coletiva genérica (art. 803, I e II, do CPC/15) se subsumem ao possível
substituído em questão.
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Além disso, não cabe na ação de cumprimento de sentença a
aplicação da revelia, sanção imposta somente na fase de conhecimento, e desde que
respeitado o contraditório e a ampla defesa. Até mesmo porque, no cumprimento de
sentença não se discute o mérito deferido na sentença transitada em julgado, mas sim
a impugnação fica restrita aos cálculos, o que não é o caso dos presentes autos.

Dessa forma, há necessidade de alegar e provar fatos novos


antes de adentrar na efetiva liquidação, o que demonstra que a execução deve se fazer
pelo procedimento comum, conforme art. 509, II, do CPC/2015, de aplicação subsidiária
ao processo do trabalho, não sendo sequer o caso de emenda à inicial.

Destaca-se que a liquidação prévia pelo rito ordinário não


implica em ofensa à coisa julgada, haja vista que na liquidação (o art. 789, § 1º, da CLT),
não se poderá modificar ou inovar, a sentença liquidanda coletiva, nem discutir matéria
pertinente à causa principal, ficando a prova limitada à implementação das condições
estabelecidas na sentença genérica coletiva.

Concluo assim que a ação para liquidação por artigos da


sentença coletiva enquadra-se como uma ação individual de conhecimento, e não de
execução ou de cumprimento de sentença, como ocorreu nos presentes autos,
revelando-se a ausência de interesse processual por inadequação da ação de
cumprimento proposta.

Nestes termos, extingo o feito, sem resolução do mérito, nos


termos do art. 485, inciso VI, do CPC.

Por conseguinte, reputo prejudicados as demais matérias


suscitadas e incidentes opostos pelo exequente.

JUSTIÇA GRATUITA

Defiro o benefício da Justiça Gratuita ao exequente.

3. DISPOSITIVO

Isso posto, extingo a execução proposta por JULIO CESAR


MOURA, em face de FURNAS-CENTRAIS ELETRICAS S.A, nos termos do art. 485, inciso IV,
do CPC, conforme fundamentação supra, que a fundamentação faz parte integrante.

Intimação as partes no prazo de 8 dias úteis.

Custas processuais pelo autor no importe de R$ 50,00,


calculadas sobre o valor da causa (R$ 2.500,00), dispensado do recolhimento, porque
beneficiário da justiça gratuita.
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Decorrido o prazo recursal, arquivem-se os autos.

GOIANIA/GO, 23 de fevereiro de 2023.

ISRAEL BRASIL ADOURIAN


Juiz Titular de Vara do Trabalho

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Número do processo: 0010828-45.2022.5.18.0006
Número do documento: 23022313273337000000054910250

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