Você está na página 1de 10

Abordagens metodológicas do

ensino da Educação Física


escolar
   
*Licenciado em Educação Física - ESEF-México;
Mestre e Doutor em Educação: Currículo pela PUC-São Paulo.
Gabriel Humberto Muñoz Palafox*  
  **Licenciado em Educação Física - FAEFI-UFU; gabmpalafox@ufu.br  
Especialista em Educação Infantil - FCU. Juliano Nazari**
(Brasil) nazari_juliano@yahoo.com.br  
   
 
Resumo
     O objetivo deste trabalho é descrever e analisar as recentes abordagens de
ensino da Educação Física Escolar, buscando compreender, em parte, a sua
trajetória histórica, suas possibilidades e limites, bem como descrever parte da
sistemática de Planejamento Coletivo do Trabalho Pedagógico - PCTP desenvolvida
  pelo Núcleo de Estudos em Planejamento e Metodologias do Ensino da Cultura  
Corporal, da Universidade Federal de Uberlândia - NEPECC/UFU num processo
dialógico de formação continuada de professores das redes públicas de ensino.
    Unitermos: Planejamento educacional. Educação Física escolar. Metodologia do
ensino.
 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007

1/1

Introdução

    A finalidade deste artigo é contribuir na aproximação do sentido/significado que poderia ter a
análise histórico-crítica1 das mais recentes abordagens pedagógicas para o professor de Educação
Física e sua prática cotidiana.

    A descoberta e sistematização das diversas formas sobre o porquê e como a Educação Física
caracteriza a suas práticas pedagógicas é importante para reconhecer, compreender e avaliar quais
princípios filosóficos, diretrizes e motivações ideológicas que fundamentam as suas bases
ontológicas e epistemológicas.

    A importância de reconhecer essas bases filosóficas reside no fato de que a partir do advento da
modernidade e da transformação do "logos" (razão) numa forma de racionalidade orientada quase
que fundamentalmente pela lógica do trato do conhecimento científico (bases epistemológicas), se
perderam de vista, em grande parte, questões básicas que já fizeram parte importante do estudo da
Filosofia no contexto da formação humana, e que nos remetem, historicamente, à tentativa de
compreender a essência do conhecimento, suas contradições, limites e possibilidades.

    A questão fundamental da Filosofia nos remete necessariamente a duas perguntas centrais na
história da humanidade. Uma de natureza ontológica, isto é aquela relacionada com a necessidade
de estudar a origem, a essência, a causa primeira do cosmos, da vida, do pensamento, assim como
a relação entre o ser e o pensamento (somos alma, espírito, idéia imutável ou somos fruto do
desenvolvimento e aprimoramento da matéria, dinâmica e mutável?) Outra, a epistemológica,
relacionada com a necessidade de conhecer a essência e a validade do conhecimento científico,
enquanto propriedade dos organismos vivos.

    No processo de conhecimento participam os sentidos, a razão, e a intuição. Nesse sentido,


pergunta-se: qual deles é a origem, a fonte a base principal do conhecimento humano? Na questão
de saber o lugar e a importância deles no conhecimento da verdade há divergência de opiniões. Na
história da Filosofia apareceram diferentes doutrinas ao respeito (BASARIAN, 1988, p. 99), tais
como o Empirismo, Racionalismo, Intuicionismo e o Materialismo Dialético.

    Para a Ontologia, a noção "o ser", é um conceito utilizado para designar todas as coisas
materiais: a matéria, a natureza, o mundo exterior, a realidade e todos os objetos, fatos e fenômenos
materiais que existem "fora" do pensamento. Ao ser, de natureza material, contrapõe-se o
pensamento, a idéia, isto é, a natureza imaterial, ideal ou espiritual.

    O "pensamento" é outro conceito filosófico que designa a consciência do sujeito, a mente, o
espírito, a alma e todos os fenômenos ideais e espirituais, ou seja, os conhecimentos considerados
sensíveis e racionais tais como as sensações, as percepções, as representações, os sentimentos,
as emoções, as idéias etc.

    A importância da ontologia e da epistemologia reside no fato, ainda que grande parte dos
professores não saiba disso, de que a partir dessas fontes de conhecimento são construídas as
visões de mundo Idealista e Materialista de mundo como um todo. Concepções que, em essência,
caracterizam e sustentam grande parte das idéias ou representações que construímos ao longo das
nossas vidas pessoais e profissionais. A partir da ontologia estuda-se, assim, a essência, das
coisas e indaga-se o que é primeiro o ser ou o espírito, a idéia, a alma?

    A epistemologia estuda a essência do conhecimento e a relação cognitiva que o sujeito


estabelece com os objetos ou fenômenos naturais e sociais. Indaga, por exemplo, qual o fator
primário e determinante do conhecimento humano: o objeto ou o sujeito?

    Tal como poderá ser verificado neste trabalho, conforme a resposta dada às questões ontológicas
e epistemológicas colocadas pela Filosofia, será possível perceber de que forma se materializam na
realidade social as duas grandes correntes ou doutrinas filosóficas predominantes no mundo
contemporâneo, o Idealismo e o Materialismo.

Se a resposta for que o pensamento, a idéia, a consciência o sujeito é primário e determina o ser, a
matéria, a realidade, teremos o idealismo filosófico com suas inúmeras variantes. Se, ao contrário,
a resposta for que o ser, a matéria, a realidade, o objeto, é primário e determina o pensamento, a
idéia, a consciência, o sujeito, teremos o materialismo filosófico e suas diferentes variantes
(BAZARIAN, 1988, p. 53)2.

    Dessa forma, o objetivo deste trabalho é descrever as principais abordagens de ensino da


Educação Física da História na Educação Física, buscando compreender, em parte, a sua trajetória
histórica, suas possibilidades e limites, bem como apresentar parte da sistemática de Planejamento
Coletivo do Trabalho Pedagógico desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Planejamento e
Metodologias do Ensino da Cultura Corporal da Universidade Federal de Uberlândia - NEPECC/UFU
em processos de formação continuada de professores das redes públicas de ensino.

Abordagens não propositivas e propositivas do ensino da Educação Física

    À luz das correntes epistemológicas do conhecimento científico, várias foram as abordagens
constituídas na Educação Física ao longo da sua história. No quadro 1, abaixo, são apresentadas as
abordagens de ensino surgidas a partir dos anos 1980 no Brasil, as quais continuam refletindo,
social e politicamente, a pluralidade de entendimentos a respeito de quais "devem ser" as funções
sociais e quais as bases metodológicas do ensino da Educação Física.
    Ao analisar o impacto social da produção de conhecimento decorrente dessas abordagens,
verifica-se que elas não se manifestam no cotidiano escolar de forma homogênea ou consensual e
sim sob diferentes lógicas de intervenção sócio-comunicativa nos contextos em que exercem sua
influência, que incluem os mecanismos e os processos de definição de perfis profissionais, bem
como as matrizes curriculares definidas para os cursos de formação de professores (MUÑOZ
PALAFOX, 2001).

    Longe de se concretizarem as práticas destas abordagens em espaços pluralistas e democráticos


de socialização do conhecimento, orientado para a transformação objetiva da prática do professor e
da realidade escolar, pode-se observar que elas vêm se materializando na realidade concreta de
forma mais ou menos autônoma, como campos em disputa por uma hegemonia teórico-
instrumental que, em essência, caracterizam a existência diferenciada de projetos políticos de
sociedade, educação e profissão docente, com suas respectivas lógicas de racionalidade teórica e
de intervenção social (MUÑOZ PALAFOX, 1997 e 2001).

    Para Valter Bracht (2007) o quadro das propostas pedagógicas em Educação Física apresenta-se
hoje bastante diversificado e, embora considere que a prática pedagógica atual resista a mudanças4,
ou seja, que a prática esteja acontecendo influenciada pelo paradigma da aptidão física e do esporte
rendimento, reconhece que várias abordagens pedagógicas foram gestadas nas últimas duas
décadas, as quais se colocam hoje como alternativas para o ensino da Educação Física.

    Reforçando estas questões, no Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, realizado em


setembro de 1997 em Vitória/Espírito Santo, foi apresentado um relatório por Castellani Filho e
Taffarel dentro do qual identificaram a existência de 3 grandes correntes de pensamento na
Educação Física:

a. Uma, com traços eminentemente positivistas, ainda impregnada do viés da


neutralidade da ciência (relacionada com o modelo da Aptidão Física e do Esporte
Rendimento);
b. outra de caráter cientificista e historicista5 onde o contexto sócio-histórico ou é
subestimado ou relativizado, e;
c. em posição de minoria, a discussão da ciência e da Educação Física no âmbito da
dialética materialista-histórica das suas relações de produção, na atualidade, nas
relações capitalistas.

    Contrariamente às abordagens anteriores esta perspectiva epistemológica considera o trabalho


humano e a práxis social fundamentos essenciais para a construção do cérebro, dos processos de
pensamento e da consciência humana e, portanto, do caráter social irredutivelmente histórico do seu
produto: o conhecimento. Em outras palavras, para esta perspectiva a essência humana além de
não ser fruto de uma abstração criada pelos indivíduos isolados é, na realidade, fruto histórico do
conjunto das nossas atividades humano-sociais. Em resumo, a essência humana - onde se localiza
a ação cognitiva que nasce da prática do ato de conhecer - é a soma das forças de produção da
vida, que todos enfrentamos e que estão historicamente construídas.

    A partir da utilização da perspectiva epistemológica "-c-", Castellani Filho (1999) identificou uma
série de propostas metodológicas de ensino da Educação Física com suas respectivas concepções
de educação e sociedade, tomando como referência a literatura surgida no final dos anos 1980 e
meados dos anos 1990.

    A partir da proposta de Castellani Filho (1999), Celi Taffarel (op. cit.) apresentou uma ampliação
da mesma a partir do reconhecimento das principais contribuições teóricas dos autores pesquisados,
tal como apresentado no quadro 2, a seguir:

    Para Taffarel6, as abordagens não propositivas e propositivas relacionam-se com a abrangência


das proposições teóricas e metodológicas que cada uma das abordagens existentes apresenta para
o trato com o conhecimento e a sistematização e organização dos processos de trabalho
pedagógicos, que incluem a avaliação, para viabilizar ou não, propostas concretas de ensino-
aprendizagem na Escola.

    Segundo a autora, um campo acadêmico pode ser delimitado a partir de três critérios de análise
utilizados para identificar metodologicamente as naturezas: filosófica, política e pedagógica do
mesmo. Tais critérios foram identificados ao estudar a produção de conhecimento de grupos,
núcleos e laboratórios de estudos e pesquisas da área, publicações em revistas, livros e propostas
curriculares das secretarias estaduais e municipais de educação, assim como nos planos e
programas de ensino dos Cursos de Licenciatura em Educação Física.

    O primeiro critério diz respeito à localização de possibilidades explicativas históricas de


proposições epistemológicas que podem ser apreendidas a partir da consideração do que é ciência,
e o que é Educação Física e seu objeto de estudo 7.

    O segundo critério é a direção política do processo de formação humana assumido no interior de
cada abordagem de ensino e que pode ser apreendida na análise das propostas curriculares, tanto
da formação inicial quanto na formação continuada, e suas relações com um dado projeto Histórico
de sociedade, subjacente a tais propostas.

    O terceiro critério refere-se às categorias que fundamentam teórico-metodologicamente cada


uma das abordagens propostas, as quais podem ser identificadas e descritas por meio do estudo
das práticas pedagógicas que propõem: a) no processo de trabalho pedagógico instituído; b) nas
formas de organização e sistematização dos saberes que defende e ministra com seus respectivos
objetivos de ensino e, c) pela proposta de avaliação que defendem na sua estrutura curricular.

    A partir da análise dessas indagações será possível, então, identificar e desvendar que
fundamentos ontológicos e epistemológicos caracterizam os Projetos Históricos e seus respectivos
Projetos Político-Pedagógicos explicita ou implicitamente descritos em cada uma das abordagens
propostas no campo acadêmico denominado Educação Física.

Abordagens recentes do ensino da Educação Física escolar

    Segundo Bássoli de Oliveira8, na atualidade podem ser encontradas as seguintes metodologias


do Ensino da Educação Física, considerando que o ensino vem, historicamente, buscando organizar
meios e formas metodológicas que sejam colocadas em prática para o atendimento das exigências
que permeiam o mesmo (OLIVEIRA, 1997).

    Estudos desenvolvidos pelo mesmo Oliveira (1988; 1992), Bracht (1989; 1992), Guilhermeti
(1991), Kunz (1991; 1994) e outros, procuraram demonstrar que as denominadas Tendências
Metodológicas de Ensino da Educação Física são propostas que, em vários casos, sucumbiram
antes mesmo de serem testadas e colocadas efetivamente em prática devido a vários fatores dentre
os quais podem ser encontrados: a falta de preparo dos professores para o enfrentamento de novas
estratégias metodológicas; a falta de interesse em estimular novas abordagens metodológicas; a
condição de refratário do conhecimento que os docentes assumem no ensino; a estabilidade
empregatícia que os docentes têm dentro do sistema educacional e do medo da instabilidade frente
a novos conteúdos e estratégias metodológicas (OLIVEIRA, 1997).

Entretanto, mesmo frente a este quadro de dificuldades e incertezas na apresentação de propostas


metodológicas, a área da Educação Física tem, nos últimos anos, procurado criar estratégias e
apresentar novas formas reflexivas do entendimento e aplicação da Educação Física na escola. Este
esforço, mais uma vez, vemos que tem sido pequeno frente aos problemas gerais que a área possui
em relação ao entendimento de toda a comunidade sobre a Educação Física. Infelizmente, a
Educação Física é entendida como atividade dentro do processo educacional, é resolvida como uma
prática sem interesse para a formação integral dos educandos e assim por diante (OLIVEIRA, 1997).

    Para esse mesmo autor, a Educação Física conta na atualidade com quatro propostas de
destaque: as Metodologias do Ensino Aberta; Construtivista; Crítico-Superadora e Crítico-
Emancipatoria.

    Os dados apresentados a seguir foram coletados e descritos por Oliveira (1997) a partir de uma
série de respostas oferecidas pelos próprios idealizadores ao autor.

Metodologia do Ensino Aberto

    Idealizadores: Reiner Hildebrandt & Ralf Laging (Alemanha) e Grupo de Trabalho Pedagógico
(Brasil).

    Referencial Teórico

 Teoria Sociológica do Interacionismo Simbólico (Mead/Blumer).


 Teoria Libertadora (Paulo Freire).
 Interacionismo Simbólico (Blumer).
a. O atributo simbólico é justificado pela premissa de que os homens agem baseados nos
significados em relação a coisas e pessoas;
b. Estes significados são adquiridos em interações sociais;
c. Estes significados podem ser modificados através de processos interpretativos.

    Berger e Luckman (1985, p. 98) ao falarem dos significados/símbolos afirmam:

Os significados institucionais devem ser impressos poderosa e inesquecivelmente na consciência do


indivíduo. Como os seres humanos são freqüentemente preguiçosos e esquecidos, deve também
haver procedimentos mediante os quais estes significados possam ser reimpressos e
rememorizados, se necessário, por meios coercitivos geralmente desagradáveis. Além disto, como
os seres humanos são freqüentemente estúpidos, os significados institucionais tendem a ser
simplificados no processo de transmissão, de modo que uma determinada coleção de "fórmulas"
institucionais possa ser facilmente aprendida e guardada na memória pelas gerações sucessivas. O
caráter de "fórmula" dos significados institucionais assegura sua possibilidade de memorização.

    Objeto de Estudo: O mundo do movimento e suas implicações sociais.

    Objetivos Gerais: Trabalhar o mundo do movimento em sua amplitude e complexidade com a


intenção de proporcionar, aos participantes, autonomia para as capacidades de ação.

    Seriação Escolar: Pode ser trabalhada dentro da atual estrutura curricular escolar. Preocupa-se
mais em como trabalhar, acessar e tornar significativo os conteúdos aos participantes.

    Conteúdos Básicos: O mundo do movimento e suas relações com os outros e as coisas.

    Enfoque Metodológico:

Os conteúdos são construídos por meio da definição de Temas Geradores e são
desenvolvidos promovendo-se ações problematizadoras;
 As ações metodológicas são organizadas de forma a conduzir a um aumento no nível
de complexidade dos temas tratados e realiza-se em uma ação participativa, onde
professor e alunos interagem na resolução de problemas e na definição dos temas
geradores;
 O ensino aberto exprime-se pelo estímulo à "subjetividade" dos participantes. Aqui
entram as intenções do professor e os objetivos de ação dos alunos.

    O Grupo de Trabalho Pedagógico defende uma aula de Educação Física que:

a. procura uma ligação do aprender escolar com a vida de movimento dos alunos;
b. não olha para o esporte só como rendimento;
c. considera as necessidades e interesses, medos e aflições dos alunos, e que não os
reduz a condições prévias de aprendizagem motora;
d. mantém o caráter de brincadeira no movimento e na forma natural dos alunos, isto é,
que faça com que isso se desenvolva na discussão social;
e. considera a relação entre movimento, percepção e realização;
f. possibilite aos alunos a participação em todas as etapas do processo ensino-
aprendizagem.

    Relação Professor-Aluno: Estabelece-se dentro de uma ação co-participativa que se amplia


conforme o amadurecimento e responsabilidade assumida pelos integrantes do grupo. O
engajamento, competência e responsabilidade docente são fatores fundamentais para a efetivação e
ampliação das ações pedagógicas no ensino aberto.
    Avaliação: Privilegia a avaliação do processo ensino-aprendizagem.

    Livros que tratam do assunto

 Concepções Abertas no ensino da Educação Física (Hildebrandt & Laging, 1986).


 Visão Didática da Educação Física (Grupo de Trabalho Pedagógico, 1991).
 Criatividade nas aulas de Educação Física (Taffarel, 1985).

Metodologia Construtivista

    Apesar de o trabalho não ser considerado totalmente construtivista, pelo próprio autor que não
gosta de classificação, denominou-se o mesmo como tal por apresentar, dentro da área da
Educação Física, a ligação mais próxima a esta metodologia educacional. A pessoa que iniciou esta
tendência foi Emilia Ferreiro, seguida por Ana Teberosky. Hoje, vários grupos de educadores estão
trabalhando nesta tendência com o propósito de redirecioná-la e aperfeiçoá-la. Na educação já se
trabalha com a linha denominada de sócioconstrutivismo, um avanço, segundo os educadores, do
construtivismo original.

    Idealizador: João Batista Freire (na Educação Física).

    Referencial Teórico: Piaget, especialmente com as obras "O nascimento da inteligência na


criança" e "O possível e o necessário, fazer e compreender".

    Tendência Educacional: Construtivista (com tendência ao sócio-interacionismo -


socioconstrutivismo).

    Objeto de Estudo: Motricidade Humana, entendida como o conjunto de habilidades que


permitem ao homem produzir conhecimento e se expressar.

    Objetivos Gerais: Ensinar as pessoas a se saberem corpo. Ou seja, terem consciência de que
são corpo. Mais especificamente seria ensinar as habilidades que permitem as expressões no
mundo.

    Seriação Escolar: Pode ser adaptada ao currículo atual, mas aponta, para alterações no
currículo, inclusive na seriação.

    Conteúdos Básicos: Trabalhar, inicialmente, com a cultura dos próprios participantes, de modo a
tornar, o conhecimento significativo. Trabalhar com a educação dos sentidos, educação da
motricidade, educação do símbolo.

    Enfoque metodológico: Trabalha com a metodologia do conflito. A partir do que o sujeito sabe,
sugerir mudanças no conteúdo, criando o conflito entre o que se sabe e o que é preciso ser
aprendido. Do conflito viria a consciência do fazer.

    Relação Professor-Aluno: Todos participam do processo de construção do conhecimento.

    Avaliação: Este aspecto necessita ser ainda melhor trabalhado. O autor da proposta não se sente
à vontade para falar do tema, o que não quer dizer que não o domine, apenas ressalta que para uma
tomada de posição seria necessário uma dedicação especial ao estudo do mesmo.

    Livro que trata do assunto

 Educação de corpo inteiro (FREIRE, 1989).


Metodologia Crítico-Superadora

    Idealizadores: Coletivo de Autores (1992).

    Referencial Teórico: Teoria do Materialismo Histórico-Dialético

    É denominada Crítico-Superadora porque tem a Concepção Histórico-Crítica como ponto de


partida. Assim como ela, entende ser o conhecimento elemento de mediação entre o aluno e o seu
apreender (no sentido de construir, demonstrar, compreender e explicar para poder intervir) da
realidade social complexa em que vive. Porém, diferentemente dela, privilegia uma dinâmica
curricular que valoriza, na constituição do processo pedagógico, a intenção dos diversos elementos
(trato do conhecimento, tempo e espaço pedagógico...) e segmentos sociais (professores,
funcionários, alunos e seus pais, comunidade e órgãos administrativos...).

    Objeto de Estudo: Temas inerentes à Cultura Corporal do Homem e da Mulher brasileiros,


entendendo-a como uma dimensão da cultura. Busca desenvolver a apreensão, por parte do aluno -
da Cultura Corporal, como parte constitutiva da sua realidade social complexa.

    Objetivos Gerais: Desenvolver a apreensão, por parte do aluno, da sua Cultura Corporal,
entendendo-a como parte constitutiva da sua realidade social complexa.

    Seriação Escolar: Propõe a estruturação em ciclos de escolarização:

    1° Ciclo: (pré à 3a. série) - ciclo de organização da identificação dos dados da realidade;
    2° Ciclo: (4a à 6a série) - ciclo de iniciação à sistematização do conhecimento;
    3° Ciclo: (7a à 8a série) - ciclo de aplicação da sistematização do conhecimento;
    4° Ciclo: (2o grau) - ciclo de aprofundamento da sistematização do conhecimento.

    Conteúdos Básicos: São os temas que, historicamente, compõem a Cultura Corporal do Homem
e da Mulher brasileiros: Jogo / Ginástica / Dança e Esportes.

    Enfoque Metodológico: Propõe olhar para as práticas constitutivas da Cultura Corporal, como
"Práticas Sociais", vale dizer, produzidas pela ação (trabalho) humana com vistas a atender
determinadas necessidades sociais. Dessa forma, as atividades corporais, esportivas ou não,
componentes da nossa Cultura Corporal, são vivenciadas - tanto naquilo que possuem de "fazer"
corporal, quanto na necessidade de se refletir sobre o significado/sentido desse mesmo "fazer".

    Relação Professor-Aluno: Defende o prevalecer da Diretividade Pedagógica (Snyders). Cabe ao


professor explicar, a priori, a intencionalidade de suas ações pedagógicas, pois ela não é neutra. É
Diagnóstica (parte de uma leitura/interpretação da realidade, de uma determinada forma de estar no
mundo), Judicativa (estabelece juízo de valor) e Teleológica (é ensopada de intenções, metas, fins a
alcançar). Tal ação pedagógica tem no conhecimento sobre a realidade, manifesta pelo aluno, o seu
ponto de partida. Como seu horizonte de trabalho pedagógico, tem o de qualificar o conhecimento
do aluno sobre aquela mesma realidade - no sentido de dotá-lo de maior complexidade -, de tal
forma que ela, realidade, é a mesma... e é diferente!

    Avaliação: Privilegia a avaliação do processo Ensino-Aprendizagem.

    Livros que tratam do assunto

 Metodologia do ensino da Educação Física (Coletivo de Autores, 1992).


 Educação Física e Aprendizagem Social (BRACHT, 1992).
Metodologia Crítico-Emancipadora

    Idealizador: Elenor Kunz (1994).

    Referencial Teórico: Teoria Sociológica da Razão Comunicativa (Habermas).

    Objeto de Estudo: Movimento Humano - esporte e suas transformações sociais.

    Objetivos Gerais:

 Conhecer e aplicar o movimento conscientemente, libertando-se de estruturas


coercitivas;
 Refuncionalizar o movimento.

    Seriação Escolar: Não aponta e/ou trabalha alguma proposta neste sentido

    Conteúdos Básicos: O movimento humano através do esporte, da dança e das atividades


lúdicas.

    Enfoque Metodológico: Defende a idéia de que é necessário que cada disciplina se torne um
verdadeiro campo de estudos e de pesquisa. Também para a Educação Física. Afinal de contas os
alunos visitam a escola para estudar e não para se divertir (embora o estudo possa se tornar algo
divertido) ou para praticar esportes e jogos (embora esta prática, também tenha a sua importância).
Assim, optou-se por uma estratégia didática com as seguintes categorias de ação: trabalho,
interação e linguagem.

    Uma aula deve ter como caminho a ser percorrido em seu desenvolvimento:

1. Arranjo material;
2. Transcendência de limites pela experimentação;
3. Transcendência de limites pela aprendizagem;
4. Transcendência de limites, criando.

    Relação Professor-Aluno: Fundamenta-se na ação comunicativa problematizadora, visando uma


interação humana responsável e produtiva.

    Avaliação: Privilegia a avaliação do processo Ensino-Aprendizagem.

    Livros que tratam do assunto

 Educação Física: ensino e mudanças (KUNZ, 1991).


 Transformação didático-pedagógica do esporte (KUNZ, 1994).

Considerações finais

    Segundo KUNZ (1994:131)

é necessário que cada disciplina se torne um verdadeiro campo de estudos e de pesquisa. Também,
para a Educação Física. Afinal de contas os alunos visitam a escola para estudar e não se divertir
(embora o estudo possa se tornar algo divertido) ou para praticar esportes e jogos (embora esta
prática também tenha a sua importância).
    Nesse sentido, para Oliveira (1997), se desejamos que a Educação Física alcance um novo
entendimento e aceitação junto a toda comunidade é imprescindível uma retomada de ações
metodológicas e de conteúdos significativos no contexto escolar.

    Por outro lado, no contexto das mais recentes Metodologias de Ensino apresentadas, pode ser
observada a importância do papel do professor no processo de organização dos seus programas de
ensino e das ações metodológicas que deverá implementar, as quais exigem conhecimento,
compromisso, responsabilidade e competência para promover o desenvolvimento de um processo
ensino aprendizagem crítico e de qualidade.

    Oliveira (1997) faz questão de destacar no seu estudo que a importância que o Coletivo de
Autores (1992) assumiu ao apresentar na metodologia Crítico-Superadora, de Ensino, ao defender a
construção de uma sociedade igualitária, dentro da perspectiva socialista. Tal compromisso sócio-
político está mais claro e explicitado na proposta citada do que nas demais. Contudo, pode-se
também constatar junto aos demais idealizadores que mesmo sem esse compromisso explícito suas
idéias voltam-se à construção de uma sociedade mais justa e humana.

    Entretanto, concordando com Oliveira, este nos alerta para o fato de que o professor deve sempre
estar precavido contra visões fantasiosas e ilusórias da realidade educacional, motivo pelo qual cita
BETTI (1991:167), para quem:

o discurso sócio-político, que lidera o processo de transformação na Educação Física brasileira


atual, propõe um modelo de personalidade que desenha um homem crítico, criativo e consciente, e
os instrumentos disponíveis no processo ensino-aprendizagem para acionar tais propostas, são a
polarização em torno da ludicidade, controle interno, não-formalidade, cooperação, flexibilidade das
regras, solução de problemas e honestidade. Pode-se prever um esmorecimento deste discurso se
não houver percepção suficiente para acionar esta operacionalização.

Você também pode gostar