Artigo publicado no jornal “Atibaia Notícias”, em 21 de setembro de 2002
Entende-se por historiografia o processo de escrita da
História, que por sua vez tem como objetivo o registro dos fatos históricos pertinentes ao homem e seus processo de transformação social. Teve origem na historiografia grega, por meio de poetas e lógrafos que tratavam os eventos que narravam de forma mítica, transcrevendo o que entendiam como fatos históricos rebuscados de heroísmos, mágicas, rituais e fantasias, onde deuses e homens interagiam tanto no plano terreno como divino: era a historiografia mítica. O mito surgiu da necessidade do homem em buscar explicações para fenômenos da natureza ainda incompreendidos, como por exemplo os trovões, períodos de cheia, chuvas, estações do ano, nascimento e morte etc. A transmissão da história mítica se dava por meio de narrativas orais que antecederam os primeiros registros escritos e mesmo no período inicial de difusão das técnicas de escrita. A escrita rudimentar foi primordialmente desenvolvida para registrar tratados, acordos, genealogias de sacerdotes e magistrados, transações comerciais e unidades de peso e medida para controle e estoque de alimentos, não tendo a finalidade de transcrever eventos históricos. A historiografia desta fase do que se convencionou como Idade Antiga, tratando-se do contexto grego-romano como Período Clássico, foi sendo substituída lenta e gradativamente por uma linha de raciocínio cada vez mais clara e objetiva, substituindo-se o mito pela busca de uma verdade histórica, acreditando-se passível de reprodução. A mudança na estrutura política e social das pólis gregas, com o desenvolvimento do modo de produção escravista como predominante, do Estado e da estratificação social, fez com que se preocupassem, os historiadores, em buscar um registro histórico cada vez mais objetivo e racional. Como principal característica desta linha historiográfica podemos citar o sentimento de subordinação que o homem mantinha diante da natureza e de insignificância diante de seu destino, que segundo pensavam seria imutável pelas mãos mortais e dado pelos deuses. A realidade se fixava de forma categórica e inquestionável. A História, em seu aspecto experimental, servia exclusivamente para fins comprobatórios desta realidade. Desta linha historiográfica nasceu a preocupação em se registrar fatos acontecidos e suas conseqüências, para que em situações similares no futuro pudessem concluir de antemão o que ocorreria, por meio da observação dos registros históricos do passado. Dava-se à história uma primeira função pedagógica. A partir da composição deste conceito chega-se à principal finalidade do estudo da História para os antigos, aliado à necessidade de se cristalizar ou mesmo criar imagens de “homens ilustres” (chefes militares, soberanos etc.). O desprendimento do mito fez-se sentir quando da necessidade em relatar as grandes conquistas dos imperadores romanos, a fim de intimidar os gregos para que não oferecessem resistência ao domínio inevitável, que acabou sendo ultimado no século II a.C. De qualquer forma, antes ou depois do domínio romano sobre os gregos, durante a vigência desta linha historiográfica, o centro de tudo era “o homem” e a história era registrada a fim de relatar “suas glórias, bravatas e atos heróicos”; porém, era escrita por membros da classe dominante, com a finalidade de relatar seus grandes feitos sob seu exclusivo ponto de vista. Era a história das minorias para as minorias. Mesmo sob domínio de Roma, os gregos e seus métodos historiográficos influenciaram sobremaneira a historiografia romana que, porém, adotou um caráter mais nacionalista e religioso, mantendo a crença de imutabilidade diante da natureza e da submissão do homem perante ela. Por outro lado houve decréscimo no âmbito racional de suas obras, valorizando-se a política e as instituições judiciárias (Legislação Romana). Também durante o domínio de Roma a transmissão da história oral foi sendo sobreposta pelo registro escrito. Roma também se utilizou de lendas para remontar suas origens, diante das narrativas heróicas dos gregos a respeito das suas, a pobre realidade da origem do povo romano, em virtude de seu patriotismo, precisava ser substituída por lendas que aludissem aos deuses de forma epopéica e grandiloquente. A partir da historiografia greco-romana foram dados os primeiros passos rumo a uma ciência histórica no Ocidente, de onde se mostra de fundamental importância um esforço compreensivo de seu modus operandi.