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Parte I – Conceitos Jurídicos e Delimitação do Objecto de Estudo do

DCIA

5. Direito da Cooperação e Direito da Integração

Uma vez assimilados os conceitos e as características da cooperação internacional


e da integração internacional, resta-nos agora olhar para os sistemas de normas que regem
os referidos processos. Por uma questão de lógica, começaremos por abordar sobre o
“Direito da Integração”, enquanto género da espécie “Direito da Cooperação”.

5.1. Direito da Integração

O Direito da Integração é o sistema de normas e princípios jurídicos que regulam


o processo de integração entre dois ou mais Estados. É aquele que rege a formação,
organização e funcionamento dos blocos económicos regionais.

O Direito da Integração engloba duas espécies: na base está o Direito da


Cooperação e no topo está o Direito Comunitário.

5.1.1. Direito da Cooperação

O Direito da Cooperação é o sistema de normas e princípios jurídicos que regulam


o processo de cooperação entre os Estados, visando alcançar objectivos comuns.

O Direito da Cooperação possui, nomeadamente, as seguintes características:


a) É uma fase embrionária do Direito da Integração;
b) Regula as relações internacionais de carácter horizontal, não havendo,
portanto, órgãos supranacionais;
c) As suas normas não têm aplicabilidade directa no ordenamento jurídico
interno dos Estados, carecendo sempre de recepção ou adopção de
medidas nacionais para vigorarem na ordem interna dos Estados;
d) As suas normas são aprovadas por unanimidade, consenso ou maioria
qualificada;
e) É um ramo do Direito Internacional Público.

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5.1.2. Direito Comunitário1

O Direito Comunitário é o sistema de normas e princípios jurídicos de carácter


supranacional que regulam as relações derivadas do processo de integração entre os
Estados, estipulando direitos e obrigações para os sujeitos pertencentes a uma
determinada comunidade jurídica.

O Direito Comunitário possui, designadamente, as seguintes características:


a) É a fase final do Direito da Integração;
b) Regula relações de caractér vertical, existindo órgãos supranacionais;
c) Existe primazia/superioridade do Direito Comunitário sobre o Direito
Interno dos Estados;
d) Existe aplicabilidade directa ou recepção automática das normas
comunitárias no ordenamento jurídico dos Estados membros;
e) Existe o efeito directo das normas comunitárias em relação aos nacionais
dos Estados membros;
f) As suas normas são aprovadas por maioria simples;
g) Não é um ramo do Direito Internacional Público.

A respeito do Direito Comunitário, vide os seguintes casos jurisprudenciais: Caso


COSTA Vs ENEL (15 de Julho de 1964) e Caso SIMMENTHAL (9 de Março de 1978).

5.2. Quadro comparativo

Tendo em conta as considerações acima expostas, apresentamos abaixo o seguinte


diagrama do Direito da Integração e um quadro comparativo das características do
Direito da Cooperação e do Direito Comunitário.

Direito da Integração

Direito Comunitário

Direito da Cooperação

1
Exemplo: o Direito da União Europeia.

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Direito da Cooperação Direito Comunitário
Fase embrionária do Direito da Integração; Fase final do Direito da Integração;
Regula relações de carácter horizontal; Regula relações de carácter vertical;
Inexistência de órgãos supranacionais; Existência de órgãos supranacionais;
Em geral, primazia do Direito Internacional Primazia do Direito Comunitário sobre o Direito
sobre o Direito Interno; Interno;
Não há aplicabilidade directa das suas normas; Aplicabilidade directa das normas comunitárias;
Não tem efeito directo em relação aos Efeito directo das normas comunitárias em relação
nacionais dos Estados membros; aos nacionais dos Estados membros;
As normas são aprovadas por unanimidade,
As normas são aprovadas por maioria simples;
consenso ou maioria qualificada;
É um ramo do Direito Internacional Público. Não é um ramo do Direito Internacional Público.

6. Direito da Cooperação e Integração em África (DCIA)

6.1. Conceito

O DCIA é o sistema de normas e princípios jurídicos que regulam o processo de


cooperação e de integração entre os Estados africanos, visando alcançar objectivos
comuns.

Com efeito, dedica-se ao estudo das organizações internacionais enquanto


resultados dos processos de cooperação e integração dos Estados, mormente as
organizações ligadas ao continente africano.

O DCIA compreende normas emanadas no quadro da antiga Organização de


Unidade Africana (OUA), da União Africana (UA) e das Comunidades Económicas
Regionais existentes em África.

Portanto, o DCIA faz parte do Direito Internacional Regional.

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6.2. Relação com o Direito Internacional Público

Sabemos o que é o Direito Internacional Público. A sua relação com o DCIA pode
ser vista com base nos seguintes aspectos:

Quanto ao âmbito, o Direito Internacional pode ser universal/geral/comum ou


particular/regional. Tal como já referimos, o DCIA faz parte do Direito Internacional
Regional, na medida em que se ocupa das normas que regem os processos de cooperação
e integração dos Estados africanos.

Quanto aos sujeitos, enquanto o Direito Internacional regula as relações que se


estabelecem entre todos os sujeitos da sociedade internacional (como os Estados, as
organizações internacionais e os indivíduos), o DCIA ocupa-se fundamentalmente do
aprofundamento do estudo das organizações internacionais no quadro da cooperação e
interdependência entre os Estados.

Quanto às fontes, enquanto o Direito Internacional abrange uma gama de fontes


previstas no artigo 38.º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e mais
outras resultantes do seu desenvolvimento progressivo, o DCIA tem como fonte de
eleição os tratados internacionais, enquanto instrumentos por virtude do qual são
instituídos os processos de cooperação e integração dos Estados. Assim, é o tratado que
define o modelo de uma organização internacional: se é de cooperação ou de integração.

BIBLIOGRAFIA

 ACCIOLY, Elizabeth. Direito Internacional da Integração. In GUERRA


(Coord.). Tratado de Direito Internacional. Freita Bastos, Rio de Janeiro, 2008.
 BIACCHI GOMES, Eduardo. Manual de Direito da Integração Regional. 2.ª
edição, Juruá Editora, Curitiba, 2014.
 ISATA, Sebastião. Apontamentos de Direito da Cooperação e Integração em
África (Textos Policopiados), Luanda.
 VÁN-DÚNEM, França. Apontamentos de Direito Internacional Público (Textos
Policopiados), Luanda.

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