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Parte I – Conceitos Jurídicos e Delimitação do Objecto de Estudo do

DCIA

3. Cooperação e Integração Internacional

A nossa disciplina é denominada por “Direito da Cooperação e Integração em


África”. Antes de apresentarmos o seu conceito, importa esmiuçar o significado de cada
um dos termos que comporta a sua denominação, isto é, “cooperação” e “integração”,
por um lado, bem como “Direito da cooperação” e “Direito da Integração”, por outro
lado. Começaremos por abordar os dois primeiros termos.

3.1. Cooperação internacional

3.1.1. Conceito

Etmologicamente, o termo “cooperação” provém da expressão latina


“cooperatione”, cujo verbo é “cooperare” (co + operare), que significa trabalhar em
conjunto para um fim comum, actuar conjuntamente ou em simultâneo, colaborar, etc.

A cooperação não ocorre apenas a nível das relações interpessoais, mas também é
uma realidade muito presente nas relações interestaduais/intergovernamentais. Os
Estados mantêm entre si mútuas e múltiplas relações de cooperação em vários domínios
de interesse comum.

Nestes termos, entende-se por cooperação internacional ou intergovernamental,


o acto ou processo mediante o qual dois ou mais Estados conjugam os seus esforços
com vista a alcançarem objectivos comuns.

3.1.2. Características

O processo de cooperação é distinto do processo de integração pelas


características que indicamos abaixo:
a) A cooperação visa organizar o trabalho comum dos Estados, todavia,
preservando as estruturas nacionais existentes;

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b) Constitui uma fase embrionária do processo de integração, razão pela qual
a cooperação faz parte do conceito de integração em sentido lato
(integração latu sensu);
c) As relações de cooperação são relações de carácter horizontal (de
coordenação);
d) Na cooperação, os Estados prosseguem objectivos mais modestos;
e) A delegação de competências dos Estados para o novo ente, se houver, é
inexistente ou quase inexistente, pelo que não se lhe atribui poder
autónomo de decisão;
f) O mecanismo de deliberação assenta na unanimidade, no consenso ou em
maioria qualificada;
g) Os Estados podem desvincular-se quando lhes convier (Exemplo: a saída
de Marrocos na OUA, em 1984).

3.2. Integração internacional

3.2.1. Conceito

Etmologicamente, o termo “integração” deriva igualmente do latim, da expressão


“integratione” cujo verbo é “integrare”, que significa tornar inteiro ou cabal, completar,
incluir/inserir/incorporar vários elementos num todo unitário.

Segundo KARL DEUTSCH (alemão, checo e americano), integrar é constituir


um todo com as partes, é transformar unidades previamente separadas em elementos dum
sistema coerente.

Segundo JOÃO MOTA DE CAMPOS (português), a integração internacional é,


simultaneamente, uma técnica, um processo e uma situação com que se tem em vista
substituir unidades independentes, existentes na sociedade internacional de forma
fraccionada, por blocos mais ou menos amplos. Estes blocos deverão ser dotados de um
mínimo de poder autónomo de decisão e de intervenção em domínios anteriormente
sujeitos à competência das unidades integradas. Assim definida, a integração
internacional distingue-se da cooperação internacional, pois esta salvaguarda a
independência dos participantes e jamais desemboca na atribuição de um poder de

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decisão autónomo em domínios importantes que tradicionalmente se incluiam na esfera
das competências estatais.

3.2.2. Características

O processo de integração diferencia-se do processo de cooperação visto


anteriormente pelas seguintes características:
a) A integração é mais ampla do que a cooperação e pode atingir a sociedade
como um todo;
b) As relações de integração são relações de carácter vertical (de
subordinação) – existência de órgãos supranacionais;
c) Na integração, os Estados prosseguem objectivos mais ambiciosos –
pressupõe a criação de um novo ente e implica a harmonização ou
uniformização das políticas económicas, comerciais, monetárias, etc.;
d) Há transferência de competências dos Estados para o novo ente, a quem é
atribuido poder autónomo de decisão;
e) Existem mecanismos próprios de deliberação, requerendo apenas uma
maioria simples;
f) A desvinculação pode gerar altos custos para os Estados (caso BREXIT –
Reino Unido).

Todavia, importa ainda esclarecer três notas: (i) o grau de aprofundamento


pretendido na formação de blocos regionais vai da cooperação à integração; (ii) o
processo de integração não implica o desaparecimento das unidades que compõem o
novo ente criado; (iii) a cooperação e a integração não são compartimentos estanques,
podem sobrepor-se uma da outra (podem coexistir).

3.3. Quadro comparativo

Tendo em conta as considerações acima expostas, apresentamos abaixo um


quadro comparativo das características da cooperação internacional e da integração
internacional, bem como uma figura que ilustra a criação de um novo ente no âmbito de
um processo integracionista.

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Cooperação internacional Integração internacional
Fase embrionária do processo de integração; A integração é mais ampla do que a cooperação;
Relações de carácter horizontal (de
Relações de carácter vertical (de subordinação);
coordenação);
Os Estados prosseguem objectivos mais Os Estados prosseguem objectivos mais
modestos; ambiciosos;
A delegação de competências é inexistente ou
Há transferência de competências;
quase inexistente;
Não pressupõe a criação de um novo ente; Pressupõe a criação de um novo ente;
O novo ente (caso exista) não é dotado de O novo ente é dotado de poder autónomo de
poder autónomo de decisão; decisão;
O mecanismo de deliberação assenta na
Existem mecanismos próprios de deliberação –
unanimidade, no consenso ou em maioria
maioria simples;
qualificada;
Os Estados podem desvincular-se quando lhes A desvinculação pode gerar altos custos para os
convier. Estados.

Estados

A D
Novo ente

B C
Integrado pelos 4 Estados

BIBLIOGRAFIA

 BIACCHI GOMES, Eduardo. Manual de Direito da Integração Regional. 2.ª


edição, Juruá Editora, Curitiba, 2014.

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 ACCIOLY, Elizabeth. Direito Internacional da Integração. In GUERRA
(Coord.). Tratado de Direito Internacional. Freita Bastos, Rio de Janeiro, 2008.
 MERCADANTE, Araminta de Azevedo/JUNIOR, Umberto Celli/ROCHA de
ARAÚJO, Leandro (Coordenadores). Blocos Económicos e Integração na
América Latina, África e Ásia. Juruá Editora, Curitiba.

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