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Curso Teórico de Manejo

do Aleitamento Materno

Conteudistas
Amanda Souza Moura
Ariane Tiago Bernardo de Matos
Elsa Regina Justo Giugliani
Lilian Cordova do Nascimento
Renara Guedes Araújo

Unidade 5
APOIO CONTINUADO ÀS MÃES
UNIDADE 5
APOIO CONTINUADO ÀS MÃES
Nesta unidade serão abordadas as principais queixas que podem ocorrer
durante a amamentação, como ingurgitamento mamário e trauma
mamilar; mastite e abscesso mamário. Assim, o profissional de saúde
deve estar preparado para prevenir, identificar precocemente esses
problemas e auxiliar as pacientes a superá-los, de acordo com abordagens
de tratamento. Orientar uma técnica adequada de amamentação, com
orientações de pega correta, funciona como medida preventiva. Também
serão abordadas situações em que há elevada ou baixa produção de leite,
discutindo opções para resolver uma situação ou outra, como a doação
do excesso de leite para um Banco. Além disso, serão esclarecidas as
vantagens quando há o devido apoio à amamentação da mulher que
trabalha fora de casa, abordando os direitos da nutriz, como também
orientando-a acerca do momento certo de desmamar a criança, conforme
preparação da mãe e seu filho.

OBJETIVOS
Retrato das principais queixas que podem ocorrer durante a amamentação,
identificando suas respectivas opções de tratamento; orientações de
técnicas adequadas de amamentação; discussão de situações em que
houver uma elevada ou baixa produção de leite; apoio à amamentação
da mulher que trabalha fora de casa, abordando os direitos da nutriz;
direcionamento acerca do momento certo para o desmame.
AULA 1 - DIFICULDADES NA AMAMENTAÇÃO:
INGURGITAMENTO MAMÁRIO E TRAUMA MAMILAR

O profissional de saúde deve estar preparado para prevenir, identificar


precocemente o ingurgitamento mamário e trauma mamilar e auxiliar
as mulheres a superá-los.

A Unidade Básica de Saúde que a família de Juliana frequenta fica próxima


de sua casa e recebeu a certificação da Estratégia Amamenta Alimenta Brasil
(EAAB). Isso quer dizer que os profissionais dessa Unidade foram capacita-
dos e estão mais preparados para desenvolver ações de promoção, proteção
e apoio ao aleitamento materno e a alimentação complementar saudável.

ESTRATÉGIA AMAMENTA E ALIMENTA BRASIL

Reconhecendo a atenção primária como principal via de acesso


da população às ações de saúde e o seu importante papel na
promoção e proteção da saúde das pessoas, o Ministério da
Saúde instituiu em 2013 a EAAB, fruto da integração de duas
estratégias - a Rede Amamenta Brasil (RAB) e a Estratégia
Nacional para Promoção da Alimentação Complementar
Saudável (ENPACS) – que tinham como finalidade promover
reflexão sobre a prática da amamentação e da alimentação
complementar saudável, respectivamente.

A EAAB, um dos componentes da Política Nacional de Promoção,


Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno, tem como princípio
a educação permanente em saúde e como base a metodologia
crítico-reflexiva, buscando criar espaços para o desenvolvi-
mento de um processo de educação, formação e de práticas em
saúde compartilhado coletivamente, de forma a potencializar
a qualidade do cuidado.

Visando qualificar as ações de promoção do aleitamento


materno e da alimentação complementar saudável para crian-
ças menores de 2 anos de idade e, assim, melhorar os indicado-
res de alimentação infantil, a EAAB investe no aprimoramento
das competências e habilidades dos profissionais de saúde
para a promoção do aleitamento materno e da alimentação
complementar como atividade de rotina das UBS.

Saiba mais acessando: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/


publicacoes/bases_discussao_politica_aleitamento_materno.pdf

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Ao longo dos 2 primeiros anos de Alice, Juliana apresentou algumas difi-
culdades que passaremos a relatar.

Juliana, Alice e Fernando, acompanhados de D. Helena, mãe de


Juliana, compareceram à UBS no 5 o dia após o nascimento de Alice.

Juliana relatou que está dando só o peito, sempre que Alice dá sinais
de que quer mamar. Ela mama com frequência, inclusive à noite.
Desde ontem está com as mamas muito cheias e “empedrada”,
que só piora, pois Alice não consegue dar conta de todo o leite
que está sendo produzido. Juliana está com muita dor nas mamas,
principalmente durante as mamadas, pois os seus mamilos estão
machucados. Ela comentou que parece que os seus mamilos
encolheram. Dona Helena tem passado os dias na casa do casal
para auxiliar nas tarefas domésticas. O apoio de Fernando está
sendo muito importante nesse período em que Juliana está muito
sensível e com dor. Ele está “cuidando” de Juliana e participando
ativamente nos cuidados de Alice.

Para refletir
Vamos refletir sobre as dificuldades que Juliana está enfrentando
com a amamentação. Começaremos respondendo à pergunta:
“Quais os problemas que você identificou no relato de Juliana?”
( ) dor nas mamas e mamilos
( ) fadiga de Juliana
( ) Alice mamar com muita frequência
( ) Juliana dar o peito sempre que Alice dá sinais de que quer mamar
( ) mamas muito cheias e empedradas

RESPOSTA

Mamadas frequentes e em livre demanda não são problemas,


inclusive esta é a recomendação. Fadiga materna pode ser
um problema, mas Juliana não se queixou de cansaço, apesar
de dar de mamar dia e noite. Assim, o profissional deve focar
nos dois problemas que estão causando dor e sofrimento a
Juliana, pois, se não resolvidos, podem levar ao desmame: dor
nas mamas e mamilos e mamas muito cheia e empedradas.

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Não foi encontrada nenhuma anormalidade no exame de Alice. A sua
sucção é adequada. Inclusive ela já começou a recuperar o peso que
havia perdido depois do nascimento. Ela urina bastante, pois suas fral-
das ficam molhadas mais de 8 vezes ao dia. E evacua várias vezes ao dia,
fezes bem amarelas e amolecidas.

Já o exame das mamas de Juliana apresentou algumas alterações: mamas


muito cheias, inchadas, quentes, brilhantes, duras e doloridas. Os mami-
los estão planos e com fissuras, com as pontas machucadas.

Na observação da mamada foi possível verificar que Alice estava tendo


dificuldade para fazer uma pega adequada, pois a aréola estava muito
tensa. Ela só conseguia abocanhar o mamilo.

Para auxiliar Juliana e Alice nesta situação, é muito importante que o


profissional domine:

• A técnica de observação de mamada;

• O manejo do ingurgitamento mamário;

• A técnica de retirada do leite;

• O manejo do trauma mamilar.

As técnicas de observação de mamada e da retirada do leite já foram


abordadas em aulas anteriores. Vamos nos concentrar agora no manejo
do ingurgitamento mamário e do trauma mamilar.

INGURGITAMENTO MAMÁRIO
Esta é uma mama com ingurgitamento.

Figura 1 - Mama com ingurgitamento

Fonte: Acervo COCAM/ Ministério da Saúde

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Você sabe por que essas mamas ficaram assim? Sabia que existem três
mecanismos envolvidos no ingurgitamento mamário? São eles:

• Retenção de leite nos alvéolos;

• Congestão/aumento da vascularização da mama;

• Edema decorrente da congestão e obstrução da drenagem linfática.

O que pode ocorrer se não houver alívio do ingurgitamento?

Se o leite não for removido, a congestão e o edema vão se agravar. O


leite passará a ter dificuldade para fluir. O leite represado aumenta a sua
consistência, tornando-se mais viscoso, por isso o leite parece “empe-
drado”. Isso dificulta ainda mais a retirada do leite. Se o ingurgitamento
persistir, o fator inibidor da lactação reduzirá ou mesmo interromperá a
produção do leite, com posterior reabsorção do leite represado. O ingur-
gitamento não tratado pode ser o início de uma mastite.

Saiba mais

Fator inibidor da lactação são peptídeos específicos fabricados


pela mama e que inibem a produção do leite. A sua remoção,
por meio do esvaziamento da mama, é que garante a reposição
do leite removido.

Como o profissional pode ajudar Juliana a aliviar o seu ingurgitamento?


Vamos descobrir a seguir.

MEDIDAS PARA AJUDAR NA RETIRADA DO LEITE MATERNO

• Mamadas frequentes;

• Retirar gentilmente das mamas um pouco de leite antes das mamadas para
amaciar a aréola e facilitar a pega adequadas;

Saiba mais
Compressas mornas (pano úmido) na aréola logo antes da
mamada para ativar o reflexo de ejeção do leite ou uma chuvei-
rada ou banho morno;

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• Retirar leite entre as mamadas, o suficiente para se sentir confortável;

• Massagens delicadas das mamas, com movimentos circulares, particular-


mente nas regiões mais afetadas pelo ingurgitamento. Elas fluidificam o
leite viscoso acumulado e estimulam o reflexo de ejeção do leite;

• Massagens nas costas e pescoço ou outras formas de relaxamento também


podem ajudar o leite a fluir.

Saiba mais
O reflexo de ejeção do leite é provocado pela ocitocina, um
hormônio produzido na hipófise posterior, liberado pelo estí-
mulo da sucção. Esse hormônio contrai as células mioepiteliais
que envolvem os alvéolos, expulsando o leite neles contidos. É
influenciado positivamente por estímulos condicionados, tais
como visão, cheiro e choro da criança, e por fatores de ordem
emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por
outro lado, é influenciado negativamente por dor, desconforto,
estresse, ansiedade, medo, insegurança).

MEDIDAS PARA ALIVIAR O DESCONFORTO


Medidas adjuvantes no tratamento do ingurgitamento mamário são:

• Usar sutiã com alças largas e firmes, ininterruptamente, para alívio da dor e
manter os ductos em posição anatômica;

• Uso de analgésicos sistêmicos/anti-inflamatórios pode ser útil se a dor for


intensa. Ibuprofeno é considerado o mais eficaz, auxiliando também na redu-
ção da inflamação e do edema. Paracetamol pode ser usado como alternativa.

MEDIDAS PARA AJUDAR NA REDUÇÃO DO EDEMA

Compressas frias (ou bolsa térmica de gel ou gelo envolto em tecido),


em intervalos regulares das mamadas. Em situações de maior gravida-
de, podem ser feitas em todos os intervalos das mamadas. Importante:
o tempo de aplicação das compressas não deve ultrapassar 20 minu-
tos devido ao efeito rebote, ou seja, um aumento do fluxo sanguíneo
para compensar a redução da temperatura local. Tão importante quanto
orientar o manejo do ingurgitamento, é orientar a sua prevenção.

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Atenção!

Deve-se observar a temperatura das compressas, tanto morna


quanto fria, de modo que não provoque queimadura na pele.

PREVENÇÃO DO INGURGITAMENTO MAMÁRIO

Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde.

• Início da amamentação o mais cedo possível, de preferência na primeira


hora de vida.

• Mamadas frequentes, em livre demanda, sem limitar a duração das mamadas;

• Posicionamento e pega favoráveis à retirada o leite da mama, para melhor


esvaziamento das mamas;

• Não uso de suplementos tais como água, chás e principalmente outros lei-
tes ou qualquer outro alimento nos primeiros seis meses;

• Não uso de chupetas e mamadeiras;

• Retirar o leite com frequência caso o bebê não esteja sendo amamentado
ou mamando pouco.

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TRAUMA MAMILAR

Juliana relatou que pediu conselho de outras mulheres sobre o


que fazer para curar as rachaduras no seu peito.

Acesse a figura interativa na plataforma AVASUS, clique em cima de cada


uma delas e descubra se as sugestões dadas foram úteis ou não.

FIGURA INTERATIVA 1

Agora você já sabe como ajudar uma mãe com mamilos machucados. Mas
você sabe como prevenir essa condição? No caso de Juliana, provavel-
mente o trauma mamilar foi consequência do ingurgitamento mamário.

MEDIDAS ÚTEIS NA PREVENÇÃO DE TRAUMA MAMILAR

Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde.

• Amamentação com técnica adequada (posicionamento e pega adequados);

• Cuidado para que os mamilos se mantenham secos entre as mamadas.


Trocar os absorventes/forros com frequência quando há vazamento de leite;

• Evitar produtos que retiram a proteção natural do mamilo como sabões/


sabonetes, álcool ou qualquer produto secante. Não há necessidade de
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lavar os mamilos antes ou após as mamadas. Basta lavar os mamilos uma
vez ao dia;

• Evitar ingurgitamento mamário, que pode dificultar a pega adequada;

• Retirar um pouco de leite da aréola antes das mamadas, caso ela esteja
muito cheia, tensa;

• Introduzir um dedo pela comissura labial (canto da boca) se for preciso


interromper a mamada, de maneira que a sucção seja interrompida antes
de a criança ser retirado do seio;

• Evitar que o bebê use o seu mamilo como chupeta. Isso é muito comum
quando o bebê dorme no peito, quando isso ocorrer, retire-o gentilmente
da mama.

Vamos agora conhecer outras causas de dor nos mamilos.

CANDIDÍASE

A infecção da mama no puerpério por Candida sp é bastante comum.


A infecção pode atingir só́ a pele do mamilo e da aréola ou comprome-
ter os ductos lactíferos. São fatores predisponentes a umidade e lesão
dos mamilos e uso, pela mulher, de antibióticos, contraceptivos orais e
esteroides. Na maioria das vezes, é a criança quem transmite o fungo,
mesmo quando a doença não seja aparente.

A infecção por Candida sp costuma manifestar-se por coceira, sensação


de queimadura e dor em agulhadas nos mamilos, que persiste após as
mamadas. A pele dos mamilos e da aréola pode apresentar-se avermelha-
da, brilhante ou apenas irritada ou com fina descamação; raramente se
observam placas esbranquiçadas. Algumas mães queixam-se de ardência
e dor em agulhada dentro das mamas. É muito comum a criança apresen-
tar crostas brancas orais, que devem ser distinguidas das crostas de leite
(essas últimas são removidas sem machucar a língua ou gengivas).

Uma vez que o fungo cresce em meio úmido, quente e escuro, são medi-
das preventivas contra a instalação de cândida manter os mamilos secos
e arejados e expô-los à luz por alguns minutos ao dia.

Manejo

Mãe e bebê devem ser tratados simultaneamente, mesmo que a criança


não apresente sinais evidentes de candidíase. O tratamento inicialmente
é local, com nistatina, clotrimazol, miconazol ou cetoconazol tópicos por
duas semanas. As mulheres podem aplicar o creme após cada mamada
e ele não precisa ser removido antes da próxima mamada. Um grande

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número de espécies de cândida é resistente à nistatina. Violeta de gen-
ciana a 0,5% a 1,0% pode ser usada nos mamilos/aréolas e na boca da
criança uma vez por dia por três a cinco dias. Se o tratamento tópico não
for eficaz, recomenda-se cetoconazol 200 mg/dia, por 10 a 20 dias.

Além do tratamento especifico contra o fungo, algumas medidas gerais


são úteis durante o tratamento, como enxaguar os mamilos e secá-los
ao ar livre após as mamadas e expô-los à luz por pelo menos alguns
minutos por dia. As chupetas e bicos de mamadeira são fontes impor-
tantes de reinfecção, por isso, caso não seja possível eliminá-los, eles
devem ser fervidos por 20 minutos pelo menos uma vez ao dia.

Fonte:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_
materno_cab23.pdf (p. 59)

FENÔMENO DE RAYNAUD

O fenômeno de Raynaud, uma isquemia intermitente causada por vaso-


espasmo, que usualmente ocorre nos dedos das mãos e dos pés, tam-
bém pode acometer os mamilos. Em geral ocorre em resposta à expo-
sição ao frio, compressão anormal do mamilo na boca da criança ou
trauma mamilar importante. Porém, nem sempre é possível encontrar
a causa. Manifesta-se inicialmente por palidez dos mamilos (por falta
de irrigação sanguínea) e dor importante antes, durante ou depois das
mamadas, mas é mais comum depois das mamadas, provavelmente por-
que em geral o ar é mais frio que a boca da criança. A palidez é seguida
de cianose e finalmente o mamilo se torna avermelhado. Muitas mulhe-
res relatam dor em “fisgadas” ou sensação de queimação enquanto o
mamilo está pálido e por isso muitas vezes essa condição é confundida
com cândidos. Os espasmos, com a dor característica, duram segundos
ou minutos, mas a dor pode durar uma hora ou mais. É comum haver
uma sequência de espasmos com repousos curtos. Algumas medicações
como Fluconazol e contraceptivos orais podem agravar os vasoespasmo.

Manejo

Deve-se buscar identificar e tratar a causa básica que está contribuindo


para a isquemia do mamilo e melhorar a técnica de amamentação (pega),
quando esta for inadequada. Compressas mornas ajudam a aliviar a dor
na maioria das vezes. Analgésico e anti-inflamatório, tipo ibuprofeno,
podem ser prescritos, se necessário. Quando a dor é importante e não
houver melhora com as medidas já́ citadas (o que é raro), deve-se utilizar
a nifedipina 5 mg, três vezes ao dia, por uma ou duas semanas ou 30–60
mg, uma vez ao dia, para a formulação de liberação lenta. As mulheres
com essa condição devem evitar uso de drogas vasoconstritoras, tais
como cafeína e nicotina.

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Fonte:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_
materno_cab23.pdf (p. 60)

ECZEMA/DERMATITE

Assim como em outras partes do corpo, o mamilo e a mama podem ter


eczema, dermatite ou outras doenças da pele.

BLOQUEIO DE DUCTO LACTÍFERO

O bloqueio de ductos lactíferos ocorre quando o leite produzido numa


determinada área da mama, por alguma razão, não é drenado adequa-
damente. Com frequência, isso ocorre quando a mama não está sendo
esvaziada adequadamente, o que pode acontecer quando a amamenta-
ção é infrequente ou quando a criança não está conseguindo remover o
leite da mama de maneira eficiente. Pode ser causado também quando
existe pressão local em uma área, como, por exemplo, um sutiã muito
apertado, ou como consequência do uso de cremes nos mamilos, obs-
truindo os poros de saída do leite. Tipicamente, a mulher com bloqueio
de ductos lactíferos apresenta nódulos localizados, sensíveis e doloro-
sos, acompanhados de dor, vermelhidão e calor na área envolvida. Em
geral, a febre não faz parte do quadro clínico. Às vezes, essa condição
está associada a um pequeno, quase imperceptível, ponto branco na
ponta do mamilo, que pode ser muito doloroso durante as mamadas.

Qualquer medida que favoreça o esvaziamento completo da mama irá


atuar na prevenção do bloqueio de ductos lactíferos. Assim, técnica cor-
reta de amamentação e mamadas frequentes reduzem a chance dessa
complicação, como também o uso de sutiã que não bloqueie a drena-
gem do leite e a restrição ao uso de cremes nos mamilos.

Manejo

O tratamento dessa condição deve ser instituído precoce e energicamen-


te, para que o processo não evolua para mastite. As seguintes medidas
são necessárias para o desbloqueio de um ducto lactífero:

• Mamadas frequentes;

• Utilização de distintas posições para amamentar, oferecendo primei-


ramente a mama afetada, com o queixo do bebê direcionado para a
área afetada, o que facilita a retirada do leite do local;

• Calor local (compressas mornas) e massagens suaves na região atingi-


da, na direção do mamilo, antes e durante as mamadas;

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• Ordenha manual da mama ou com bomba de extração de leite caso
acriança não esteja conseguindo esvaziá-la;

• Remoção do ponto esbranquiçado na ponta do mamilo, caso esteja pre-


sente, esfregando-o com uma toalha ou utilizando uma agulha esterilizada.

Assim como em outras partes do corpo, o mamilo e a mama podem ter


eczema, dermatite ou outras doenças da pele.

TRAUMA POR BOMBA DE EXTRAÇÃO DE LEITE MAL POSICIONADO


OU COM SUCÇÃO MUITO FORTE

LESÃO CAUSADA POR ANQUILOGLOSSIA OU FRÊNULO DE LÍNGUA CURTO


(LÍNGUA PRESA)

Fonte: Acervo COCAM/Ministério da Saúde.

Siga o protocolo de Bristol de Avaliação da Língua (BTAT), visto na Unidade


4, aula 3.

Fonte:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_aleitamento_
materno_cab23.pdf (p. 60 e 61)

Foi marcado um retorno para Juliana em sete dias para


acompanhamento da evolução dos problemas, ou antes, caso
os problemas piorassem. Juliana retornou sem ingurgitamento
mamário e com as lesões mamilares cicatrizadas.

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AULA 2 - DIFICULDADES NA AMAMENTAÇÃO:
MASTITE E ABSCESSO MAMÁRIO

Quando Alice estava com 3 semanas de vida Juliana procurou a


UBS com muita dor na mama esquerda, febre alta, calafrios e mal-
estar há mais de 24 horas. Acha que está piorando. Ela parou de
amamentar Alice nessa mama porque uma vizinha lhe disse que
o leite poderia fazer mal.

O exame da mama revelou um segmento da mama esquerda vermelho,


quente e muito doloroso, semelhante ao da foto a seguir.

Fonte: Acervo COCAM/ Ministério da Saúde

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Para refletir
Qual o diagnóstico mais provável?

( ) ingurgitamento mamário
( ) bloqueio de ducto lactífero
( ) mastite infecciosa
( ) mastite não infecciosa
( ) abscesso mamário

Resposta: Muito provavelmente Juliana está com mastite, uma


inflamação da mama. Provavelmente ela é infecciosa, ou seja, há
infecção bacteriana na área comprometida, porque Juliana está
com febre alta há mais de 24 horas, mal-estar importante e piora
do seu estado. A bactéria mais comum é o estafilococo áureo.

Retomando nosso caso, diante da suspeita de mastite infecciosa,


Juliana deverá ser vista por um médico. Se não houver um disponível
na UBS, ela deverá ser encaminhada imediatamente para um
pronto-atendimento, pois o tratamento precoce é muito importante
para evitar complicações.

É importante que toda a equipe da UBS saiba identificar os sinais e sintomas


de mastite e faça o encaminhamento adequado. Juliana foi vista pelo médico,
que prontamente prescreveu antibiótico por 10 dias e um anti-inflamatório.

Além de tomar os medicamentos, quais orientações Juliana deve rece-


ber? Vamos saber?

• Esvaziar a mama com frequência: este é o componente mais importante do


tratamento.

• Apesar da presença de bactérias no leite materno quando há mastite, é


seguro para a criança (sadia, a termo) mamar no peito. A retirada manual
do leite após as mamadas pode ser necessária se não houver um esvazia-
mento adequado.

• Suporte emocional: esse componente do tratamento da mastite é muitas


vezes negligenciado, apesar de ser muito importante, pois esta condição é
muito dolorosa, com comprometimento do estado geral da mulher.

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• Outras medidas de suporte: repouso da mãe (preferencialmente no leito);
ingerir bastante líquidos; iniciar a amamentação na mama não afetada; usar
sutiã bem firme.

• Alertar que Alice pode estranhar o gosto do leite da mama afetada, pois ele
costuma ficar mais salgado, devido ao aumento dos níveis de sódio e uma
diminuição dos níveis de lactose.

• Alertar Juliana que a produção de leite na mama afetada pode diminuir por
algum tempo

• Retornar em 48 horas.

Juliana retornou em 48 horas, relatando que continuava com febre


e mal-estar e que a vermelhidão da mama não havia regredido.

Para refletir
O que melhor explica essa evolução?

( ) a regressão do quadro é lenta e o antibiótico ainda não


começou a fazer efeito
( ) existe a possibilidade de um abcesso mamário

Resposta: possibilidade um abcesso mamário.

ABSCESSO MAMÁRIO
O abscesso mamário, em geral, é causado por mastite não tratada ou
com tratamento iniciado tardiamente ou ineficaz. É comum após a inter-
rupção da amamentação na mama afetada pela mastite sem o esvazia-
mento adequado do leite por extração manual ou por bomba.

O diagnóstico é feito basicamente pelo quadro clínico: dor intensa, febre,


mal-estar, calafrios e presença de áreas de flutuação à palpação no local
afetado. No diagnóstico diferencial do abscesso, devem-se considerar
galactocele, fibroadenoma e carcinoma da mama. A ultrassonografia

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pode confirmar o abscesso mamário, além de indicar o melhor local para
incisão ou aspiração.

Todo esforço deve ser feito para prevenir abscesso mamário, já que
essa condição pode comprometer futuras lactações em aproximada-
mente 10% dos casos. Qualquer medida que previna o aparecimento
de mastite consequentemente vai prevenir o abscesso mamário, assim
como a instituição precoce do tratamento da mastite se ela não puder
ser prevenida.

Manejo

O abscesso mamário exige intervenção rápida e compreende as seguin-


tes medidas:

• Drenagem cirúrgica, de preferência sob anestesia local, com coleta de secre-


ção purulenta para cultura e teste de sensibilidade a antibióticos;

• Demais condutas indicadas no tratamento da mastite infecciosa, sobretudo


a antibioticoterapia e o esvaziamento regular da mama afetada;

• Manutenção da amamentação. A mãe pode continuar a amamentar a crian-


ça na mama comprometida. Porém, se a sucção for muito dolorosa, a mãe
pode interromper temporariamente a amamentação na mama afetada até
a dor melhorar. A amamentação deve ser mantida na mama sadia (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2009).

Os abscessos mamários não adequadamente tratados podem evo-


luir para drenagem espontânea, necrose e perda do tecido mamário.
Abscessos muito grandes podem necessitar de ressecções extensas,
podendo resultar em deformidades da mama, bem como comprometi-
mento funcional. O uso de drogas para supressão da lactação não está
indicado nos casos em que as mães desejem continuar a amamentação.

Fonte: Brasil (2015, p. 63-64).

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Diante da possibilidade de um abscesso mamário, Juliana foi
encaminhada para realizar um ultrassom, pois não havia de áreas
de flutuação na área comprometida. Após realizar o ultrassom,
Juliana retornou à UBS com o resultado negativo para abscesso. A
conduta do médico foi então trocar o antibiótico. Juliana retornou
à UBS 48 horas após trocar o antibiótico. Estava bem melhor e sem
febre. Foi mantido o tratamento. Juliana perguntou ao médico por
que ela tinha tido mastite. Vamos saber a resposta?

A mastite costuma ocorrer quando, por qualquer motivo, há


estagnação do leite. As situações que favorecem a estagnação do
leite incluem: bloqueio de ducto lactífero, mamadas com horá-
rios regulares, redução súbita do número de mamadas, longos
períodos de sono do bebê, uso de chupetas ou mamadeiras,
esvaziamento inadequado das mamas, freio de língua curto,
criança com sucção débil, produção excessiva de leite, separa-
ção entre mãe e bebê, desmame abrupto e fadiga materna. As
mulheres que já tiveram mastite alguma vez têm mais chance
de desenvolver outras mastites. Fissuras mamilares costumam
ser a porta de entrada das bactérias na mastite infecciosa.

Juliana chegou à conclusão de que é possível que a causa da sua


mastite seja a sua produção abundante de leite. Disse que Alice não
dá conta de tanto leite e que geralmente fica satisfeita mamando
em apenas um peito. Ela, para aliviar o desconforto da mama não
usada, costuma retirar leite dessa mama e jogar fora.
O médico aproveitou a oportunidade e perguntou à Juliana se ela
já tinha pensado em doar leite. Juliana ficou de pensar. O médico
orientou Juliana a entrar em contato com o Banco de Leite Humano
mais próximo de sua casa para saber mais sobre doação de leite
materno e como fazê-lo, caso ela decida por doar.

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AULA 3 - DIFICULDADES NA AMAMENTAÇÃO:
BAIXA PRODUÇÃO DE LEITE

Continuando a história de Juliana, ela e a mãe, Dona Helena,


compareceram à UBS para a visita de puericultura dos três meses
de Alice. Juliana relatou que andava muito cansada e que por
sugestão de uma amiga, que percebeu o quanto ela estava cansada,
passou a dar uma ou duas mamadeiras com fórmula industrializada
à noite, para Alice dormir melhor e ela poder descansar. Dessa
maneira, Juliana fica sem amamentar por 8-10 horas. Após alguns
dias, ela notou que está com menos leite, pois não sente mais o
seu peito tão cheio como antes e inclusive parou de doar leite há
algum tempo. Ela também notou mudança de comportamento de
Alice. Ela está chorando mais, quer mamar com mais frequência
e tem demorado mais para mamar. Às vezes parece inquieta
quando está mamando. Além disso, parece estar urinando menos
e fazendo menos cocô.

Alice foi pesada e medida. Ela ganhou menos peso que o esperado.

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Para refletir
Na sua opinião, o que está acontecendo com Alice?

( ) ela está preferindo a fórmula


( ) ela está ingerindo pouco leite por estar menos interessada
no peito
( ) ela está ingerindo pouco leite porque Juliana está com baixa
produção de leite
( ) ela deve estar doente
Resposta: muito provavelmente Juliana está com baixa produção de
leite por ficar um período muito longo sem esvaziar a mama. Alice
apresenta vários sinais de que pode estar ingerindo pouco leite.

O profissional valorizou o cansaço de Juliana e não a julgou


por estar dando fórmula à Alice. Elogiou o fato de ela estar
amamentando, apesar de todo o cansaço. Em seguida, comentou
que provavelmente o leite dela não estava sendo suficiente para
o crescimento adequado de Alice porque ela permanecia muito
tempo sem amamentar, o que fez com que a sua produção de
leite diminuísse. Acrescentou à conversa os riscos de Alice estar
recebendo fórmula. Depois de conversarem sobre a situação,
o profissional perguntou à Juliana o que ela gostaria de fazer.
Juliana respondeu que não sabia de todas as consequências de
dar fórmula à noite para Alice e que gostaria muito de retomar
o aleitamento materno exclusivo. O profissional usou de suas
habilidades para aumentar a confiança da mãe de que ela poderia
voltar a amamentar exclusivamente.

Vamos agora ver o que o profissional orientou para que Juliana aumen-
tasse a sua produção de leite. Veja o infográfico a seguir.

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O profissional explicou que à medida que o suprimento de leite
de Juliana aumentar, ela vai observar o comportamento de Alice
voltando ao habitual e que ela vai passar a urinar mais (no mínimo
6 fraldas molhadas por dia) e a evacuar com mais frequência.

Dona Helena ouviu falar sobre o uso de remédios para aumentar


a produção de leite e perguntou ao profissional se no caso de
Juliana não estaria indicado.

Observe a resposta do profissional.

O uso de remédios para aumentar a produção do leite, que cha-


mamos de galactogogos, podem ser úteis em situações muito
específicas. No caso de Juliana, não há indicação.

124
Você sabia?
Galactogogos

Os galactagogos são medicamentos utilizados no intuito de estimu-


lar a produção de leite, particularmente em mães de prematuros
e mães adotivas. Não há evidências científicas robustas sobre a
eficácia desses medicamentos. A domperidona e a metoclopra-
mida são exemplos de galactogogos. Alguns estudos com pequeno
número de participantes mostraram que a domperidona aumen-
tava a produção de leite, principalmente em mães de crianças
prematuras, não tendo sido observados efeitos adversos em doses
terapêuticas e por curto período. No entanto, atribui-se ao uso
endovenoso de domperidona a ocorrência de arritmia ventricular,
prolongamento do intervalo QT e inclusive morte súbita em adultos.
O uso desse medicamento por via oral em recém-nascidos e crian-
ças foi associado ao prolongamento do intervalo QT. A sulpirida
(Equilid), muito utilizada no Brasil como galactogogo, é uma droga
para uso em psiquiatria e deve ser evitada, pois faltam estudos
que demonstrem sua eficácia como galactagogo e, sobretudo,
pode causar importantes efeitos indesejáveis na mulher. Assim,
diante das evidências existentes até o momento, o profissional de
saúde deve ter muita cautela ao prescrever qualquer galactogogo,
pesando os potenciais riscos e benefícios, e sempre informando
a mulher sobre as dúvidas existentes quanto à eficácia desses
medicamentos e os seus potenciais efeitos adversos.

No caso de Juliana, não foi difícil entender por que a sua produção de
leite diminuiu. Mas nem sempre é assim. São fundamentais uma histó-
ria detalhada, um exame físico completo da criança e uma observação
cuidadosa de uma mamada para elucidar a causa da baixa produção de
leite, o que é indispensável para o tratamento. Qualquer situação que
limite o esvaziamento das mamas pode causar diminuição na produção
de leite materno: pega inadequada, mamadas infrequentes e/ou curtas,
amamentação com horários pré-estabelecidos, ausência de mamadas
noturnas, ingurgitamento mamário, uso de complementos e uso de chu-
petas e de protetores (intermediários) de mamilo.

Vamos conhecer situações menos frequentes associadas à baixa produ-


ção de leite? São elas:

• Anquiloglossia (frênulo de língua curto) severa

• Lábio/palato leporino

125
• Micrognatia (queixo anormalmente recuado)

• Macroglossia (língua anormalmente grande)

• Uso de medicamentos na mãe ou na criança que deixe a criança sonolenta

• Uso de medicamentos/substâncias na mãe que provocam diminuição da


síntese de leite (estrógenos, bromocriptina, cabergolina, ergotamina, ergo-
metrina, lisurida, levodopa, pseudoefedrina, álcool, nicotina, brupropiona,
diuréticos e testosterona, principalmente se utilizados no puerpério imedia-
to, período mais sensível para a supressão da lactação).

• Asfixia perinatal

• Criança pré-termo

• Síndrome de Down

• Hipotireoidismo

• Disfunção neuromuscular

• Doenças do sistema nervoso central

• Padrão de sucção anormal

• Problemas anatômicos da mama (mamilos muito grandes, invertidos ou


muito planos)

• Doenças maternas: infecção, hipotireoidismo, diabetes não tratada, Síndro-


me de Sheehan, tumor hipofisário, doença mental.

• Retenção de restos placentários

• Fadiga materna

• Distúrbios emocionais da mulher

• Restrição dietética materna importante (perda de peso maior que 500 g por
semana)

• Redução cirúrgica das mamas

• Tabagismo materno

• Nova gravidez

126
Você sabia?
Síndrome de Sheehan

A síndrome de Sheehan é a necrose da glândula pituitária decor-


rente de uma complicação hemorrágica pós-parto. A doença pode
evoluir de forma lenta e por isso ser diagnosticada tardiamente.
Na fase aguda da doença pode haver cefaleia, alterações da visão,
diminuição da lactação e amenorreia logo após o parto. Na fase
crônica os sintomas variam e pode ocorrer astenia, fraqueza
muscular, pele seca, anemia, náuseas, vômitos, rarefação dos
pelos pubianos e axilares, infertilidade e distúrbios psiquiátricos.

Após certificar-se de que Juliana e Dona Helena não tinham mais


perguntas ou comentários a fazer, o profissional encerrou a consulta,
colocando-se à disposição para auxiliar no processo de resgate à
amamentação exclusiva de Juliana ou de qualquer outra dificuldade
que eventualmente possa surgir ao longo da amamentação.

127
AULA 4 - APOIO À AMAMENTAÇÃO DA MULHER
TRABALHADORA
Nesta aula, vamos abordar a amamentação na mulher que tem que se
ausentar de casa para trabalhar. Você sabe por que se recomenda a con-
tinuação da amamentação após o retorno ao trabalho?

• O bebê adoece menos e a mãe falta menos ao trabalho porque não precisa
ficar em casa cuidando de uma criança doente.

• Mãe e bebê têm mais oportunidades de ficarem próximos, enquanto o bebê


mama, o que fortalece a relação especial e pessoal entre eles.

• A família não precisará gastar parte de seu orçamento com compra de fór-
mulas ou outros leites.

• Torna a alimentação noturna mais prática, pois a mulher pode ficar deitada
e relaxada.

No caso que estamos


acompanhando, Juliana quis
ficar mais tempo com Alice e
tirou um mês de férias depois
dos quatro meses da licença
maternidade. Vinte dias antes
de retornar ao trabalho, Juliana
procurou a Unidade Básica de
Saúde para se informar sobre
o que poderia fazer para
continuar amamentando sua
filha por bastante tempo, mesmo após ter retornado ao trabalho.
O profissional de saúde que atendeu Juliana usou as habilidades
de comunicação para elogiar o esforço de Juliana em continuar
amamentando e explicou que a manutenção da amamentação
depois do retorno ao trabalho é vantajosa não apenas para a
mulher e para a criança. Ele disse que o empregador que conhece as
vantagens de apoiar as trabalhadoras a continuarem amamentando
após a volta ao trabalho sabe que:

128
• A trabalhadora se afasta menos do trabalho porque seu filho é saudável.

• A trabalhadora fica mais concentrada no trabalho porque está tranquila com
relação à saúde do bebê.

• O empregador corre menos risco de perder funcionárias competentes.

• As mulheres têm mais interesse em trabalhar para empregadores que


as valorizam.

• As famílias e a comunidade veem com bons olhos os empregadores que


apoiam as mães.

• Os bebês amamentados crescem saudáveis para integrar a força de trabalho.

Enquanto Juliana estiver no trabalho, Alice ficará sob os cuidados


da avó, dona Helena. O profissional deu algumas sugestões:

•  Amamentação exclusiva e frequente enquanto Juliana estiver em casa, em


licença maternidade ou férias.

• Continuar a amamentar sempre que Juliana e Alice estiverem juntas (antes


de sair para trabalhar, durante a noite, nos dias de folga da mãe), para man-
ter uma boa produção de leite.

• Aprender a retirar o leite e deixar para o cuidador oferecer o leite com copi-
nho a Alice, de forma carinhosa e segura, enquanto Juliana está trabalhan-
do. (ver como retirar o leite da mama na Unidade 4)

• Retirar o leite no trabalho em intervalos regulares. Quanto mais leite for


retirado, mais leite será produzido. Isso mantém o suprimento de leite na
quantidade que o bebê precisa e alivia possíveis desconfortos nas mamas
por ficarem muito cheias.

• Não introduzir outros alimentos antes que seja necessário. Quando a criança
estiver com 6 meses, alguns dias antes da retomada do trabalho é suficiente.

• Fazer contato e trocar ideias com outras mães que estão trabalhando e
amamentando.

129
Você sabia?
Você sabia que a Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio
ao Aleitamento Materno incluiu a ação “Mulher Trabalhadora que
Amamenta” (MTA) no componente Proteção Legal à Amamentação?

Dentre as iniciativas que o Ministério da Saúde recomenda e apoia,


estão: Extensão da Licença Maternidade para seis meses, Salas
de Apoio à Amamentação e Creches ou Berçários nos locais de
trabalho ou auxílio creche. A seguir, vamos detalhar um pouco
mais essas iniciativas.

O profissional também informou Juliana sobre a legislação sobre


os direitos da mulher trabalhadora que tem emprego formal com
carteira assinada, como ela.

Veja o que foi dito à Juliana!

A trabalhadora com carteira assinada tem direito a:

• Licença-maternidade de 4 meses, garantidos pela Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT);

• Direito a dois descansos diários, de meia hora cada um, durante a jornada
de trabalho, até o 6º mês de vida do bebê;

• Intervalos para repouso e alimentação como os demais trabalhadores. A


trabalhadora pode tentar um acordo com seu chefe para flexibilizar o horário
de trabalho, assim poderia juntar os dois intervalos de meia hora e entrar uma
hora mais tarde ou sair uma hora mais cedo até seu bebê completar seis meses;

• Creches ou berçários - os estabelecimentos em que trabalham pelo menos


30 mulheres com mais de 16 anos de idade deverão ter local apropriado
onde seja permitido às empregadas deixar, sob vigilância e assistência, os
seus filhos durante a amamentação. As empresas e empregadores também
podem adotar o sistema de reembolso-creche, em substituição à exigência
de creche no local de trabalho, ou firmar convênio com instituição próxima.

130
Você sabia?
Você conhece o Programa Empresa Cidadã? Sabe o que ele pre-
coniza sobre a licença maternidade?

As empresas que aderem ao Programa Empresa Cidadã, da Receita


Federal, passam a adotar a licença-maternidade de 6 meses. As
instituições que aderem a essa iniciativa recebem benefícios fiscais.
A trabalhadora interessada pode conversar com o empregador
sobre essa possibilidade, e muitas outras funcionárias poderão
ser beneficiadas.

Juliana comentou que uma amiga sua trabalha em uma empresa


que tem uma Sala de Apoio à Amamentação.

Você sabe que sala é essa?

Figura 7 - Sala de apoio à amamentação

Fonte: Acervo COCAM/ Ministério da Saúde

Algumas empresas possuem Salas de Apoio à Amamentação, espaços


simples e com condições higiênico-sanitárias adequadas para que a

131
mulher, com privacidade e segurança, possa retirar e armazenar o seu
leite, levando-o para casa ao final da sua jornada de trabalho para ser
oferecido posteriormente pelo cuidador ao seu filho. Estimule a mulher
a conversar com a sua chefia, com suas colegas!

O local onde Juliana trabalha não dispõe de Sala de Apoio à


Amamentação.

Quais sugestões o profissional de saúde pode dar para Juliana retirar o


leite de maneira segura?

• Procurar um local com privacidade para retirar o leite com tranquilidade


e armazená-lo, se possível. Conversar com as outras trabalhadoras e com
o empregador, para a criação de uma sala de apoio à amamentação na
empresa.

• Caso o local de trabalho seja próximo a um Banco de Leite Humano ou


Posto de Coleta de Leite Humano, verificar a possibilidade de retirar o leite
nesse local.

Juliana perguntou para o profissional o que uma mulher que


não possui vínculo formal de trabalho pode fazer para manter
a amamentação do bebê.

Veja a resposta do profissional a seguir.

• Se for possível e desejado, a mulher pode levar o bebê pequeno ao traba-
lho, ou pedir para alguém levá-lo no trabalho para ser amamentado.

• Ver a possibilidade de a mulher ter maior flexibilidade nos horários de tra-


balho (chegar mais tarde, sair mais cedo, reduzir a carga horária, trocar de
horário com algum colega).

• Explicar ao seu patrão e colegas a importância de amamentar, especialmen-


te que o leite materno protege a criança, que ficará menos doente, e que,
assim, a trabalhadora faltará menos ao trabalho e estará mais contente.

132
Saiba mais

Saiba mais sobre os direitos da mulher trabalhadora que ama-


menta na “Cartilha da mulher trabalhadora que amamenta”,
no link

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_mulher_
trabalhadora_amamenta.pdf.

Para saber o que é necessário para implantar uma sala de apoio


no seu local de trabalho, conheça o “Guia para implantação de
salas de apoio à amamentação para a mulher trabalhadora”:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_implantacao_
salas_apoio_amamentacao.pdf.

Para finalizar essa aula, assista ao vídeo:

Mulher Trabalhadora que Amamenta

133
AULA 5 - AMAMENTAÇÃO CONTINUADA POR 2
ANOS OU MAIS / DESMAME

Juliana e Fernando vão à


Unidade de Saúde para a
revisão de saúde dos 2 anos
de Alice. O casal relata que
Alice está bem, o que foi
confirmado pelo exame
físico da criança. O seu peso
e altura estão adequados
para a idade, assim como o
seu desenvolvimento.
Entre outras questões, o
casal trouxe a amamentação
para ser discutida. Juliana ainda amamenta Alice inclusive participou
de um mamaço que ocorreu em seu município, como parte das
comemorações da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM)/
Agosto Dourado. Juliana quis saber mais sobre essas comemorações.

Você sabia?
SMAM/AGOSTO DOURADO

A Semana Mundial do Aleitamento Materno (1 a 7 de agosto) é uma


iniciativa da WABA (Aliança Mundial para Ações de Aleitamento
Materno), sendo comemorada no mundo inteiro desde 1992. A
cada ano é escolhido um tema, que é amplamente divulgado e
trabalhado. O Ministério da Saúde assumiu a coordenação das
comemorações da SMAM em 1999, adotando-a como política
pública de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.
Em 2017, o Brasil expandiu as atividades da SMAM para todo o mês
de agosto, instituindo o Agosto Dourado através da Lei 13.435 de
12 de abril de 2017 – dar a opção de clicar na lei e abrir (http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13435.htm). No
Brasil, a celebração da SMAM/Agosto Dourado se dá em todos os
níveis: federal, estadual e municipal, com muitos parceiros: mídia,
artistas, entidades associativas (parceria oficial com a Sociedade
Brasileira de Pediatria), Organizações Não Governamentais (ONGs),
grupos de mães e sociedade civil em geral.

134
Juliana tem sofrido muita pressão para desmamar, inclusive de
Fernando, que acha que Alice está “grandinha” para mamar.

Como você abordaria essa questão? Qual deveria ser a primeira reação
do profissional?

A primeira reação do profissional deveria ser ouvir Juliana a respeito de


como ela e Alice se sentem com relação à amamentação e à pressão que
estão recebendo.

Juliana disse que gosta de amamentar e que Alice é uma criança


muito feliz e ela atribui parte dessa felicidade à amamentação. Por
ela e Alice a amamentação poderia continuar, mas não está segura
de que está fazendo a coisa certa. Tem medo de prejudicar Alice.

Na sua opinião, qual seria o próximo passo dessa conversa?

Fernando disse que acha estranho Alice ainda mamar no peito. Ele
não vê muito outras crianças dessa idade sendo amamentadas.
Assim como Juliana, teme que isso possa fazer mal à Alice. Acha
que Alice pode ficar muito dependente e, se deixar, Alice vai
querer mamar para sempre.

Com essa fala, Fernando externou alguns mitos relacionados à amamen-


tação considerada “prolongada”. Você sabe quais são os mais comuns?

135
Alguns mitos e crenças relacionados à amamentação
“prolongada”

• Faz mal à criança e à mãe sob o ponto de vista psicológico, e deixa a criança
muito dependente.
• Uma criança jamais desmama por si própria.
• O leite não sustenta mais.

O profissional comentou da recomendação de amamentação por 2 anos


ou mais, e que não havia um limite máximo estabelecido para o desma-
me. Que atualmente mais mulheres no Brasil e no mundo estão ama-
mentando por 2 anos ou mais. Em seguida comentou os benefícios da
amamentação por mais tempo. Veja quais são:

• Menor morbidade e mortalidade da criança. Enquanto receber leite mater-


no, estará recebendo os fatores de proteção contra infecções.

• Melhor desenvolvimento orofacial, reduzindo a chance de maloclusão den-


tária e problemas na mastigação e fala.

• Menor chance de sobrepeso/obesidade na infância, adolescência e em


adultos.

• Melhor desenvolvimento cognitivo (melhor desempenho em testes de QI).

• Menor chance da mulher que amamenta de ter câncer de mama, de ovário


e de endométrio.

• Economia para a família.

Fernando e Juliana ficaram impressionados com o que ouviram.


Mas Juliana tinha muitas dúvidas: “será que eu vou saber a hora
de desmamar? Será que eu vou saber como fazer sem causar
traumas para Alice ou para mim? Será que eu vou resistir às
pressões para desmamar Alice?”.
O profissional se colocou à disposição para auxiliá-la no processo
quando fosse o momento. E comentou que a decisão final de
quando e como desmamar caberia apenas a ela e Alice. Quanto
à forma de desmamar, antecipou que o ideal que o desmame
fosse “natural”.

Vamos saber mais sobre desmame natural, outros tipos de desmame e


como apoiar a dupla no nesse processo.

136
O PROCESSO DO DESMAME
O homem é o único mamífero em que o desmame (aqui definido como
a cessação do aleitamento materno) não é determinado somente por
fatores genéticos e pelo instinto. A amamentação na espécie humana é
fortemente influenciada por múltiplos fatores de ordem social, cultural,
econômica, étnica e comportamental. Hoje, ao contrário do que ocorreu
ao longo da evolução da espécie humana, a mulher opta (ou não) pela
amamentação e decide por quanto tempo vai (ou pode) amamentar.
Muitas vezes, as preferências culturais (não-amamentação, amamenta-
ção de curta duração) entram em conflito com a expectativa da espécie
(em média, dois a três anos de amamentação).

O desmame não é um evento, e sim um processo que faz parte da evolu-


ção da mulher como mãe e do desenvolvimento da criança. Nessa lógica,
o desmame deveria ocorrer naturalmente, na medida em que a criança
vai amadurecendo.

No desmame natural, a criança se autodesmama, o que pode ocorrer em


diferentes idades, em média entre dois e quatro anos e raramente antes
de um ano. Costuma ser gradual, mas às vezes pode ser súbito, como, por
exemplo, em uma nova gravidez da mãe (a criança pode estranhar o gosto
do leite, que se altera, e o volume, que diminui). A mãe participa ativamen-
te no processo, sugerindo passos quando a criança estiver pronta para
aceitá-los e impondo limites adequados à idade. Entre os sinais indicativos
de que a criança está madura para o desmame, constam:

• Idade maior que um ano;

• Menos interesse nas mamadas;

• Aceita variedade de outros alimentos;

•  É segura na sua relação com a mãe;

• Aceita outras formas de consolo;

•  Aceita não ser amamentada em certas ocasiões e locais;

•  Às vezes dorme sem mamar no peito;

• Mostra pouca ansiedade quando encorajada a não amamentar;

• Às vezes prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe em vez de mamar.

137
O desmame natural proporciona transição mais tranquila, menos estres-
sante para a mãe e a criança, preenche as necessidades da criança (fisio-
lógicas, imunológicas e psicológicas) até ela estar madura para tal e,
teoricamente, fortalece a relação mãe–filho. O desmame abrupto deve
ser desencorajado, pois, se a criança não está pronta, ela pode se sen-
tir rejeitada pela mãe, gerando insegurança e, muitas vezes, rebeldia.
Na mãe, o desmame abrupto pode precipitar ingurgitamento mamário,
estase do leite e mastite, além de tristeza ou depressão, e luto pela per-
da da amamentação ou por mudanças hormonais.

É importante que a mãe não confunda autodesmame natural com a cha-


mada “greve de amamentação” do bebê. Essa ocorre principalmente em
crianças menores de um ano, é de início súbito e inesperado, a criança pare-
ce insatisfeita e em geral é possível identificar uma causa: doença, dentição,
diminuição do volume ou sabor do leite, estresse e excesso de mamadeira
ou chupeta. Essa condição usualmente não dura mais que 2–4 dias.

A mulher, com frequência, sente-se pressionada a desmamar, muitas


vezes contra a sua vontade e sem ela e o bebê estarem prontos para
tal. Existem vários mitos relacionados à amamentação dita “prolonga-
da”, tais como as crenças de que aleitamento materno além do primeiro
ano é danoso para a criança sob o ponto de vista psicológico; que uma
criança jamais desmama por si própria; a amamentação prolongada é
um sinal de problema sexual ou necessidade materna e não da criança;
e que a criança que mama fica muito dependente. Algumas mães, de
fato, desmamam para promover a independência da criança. No entan-
to, é importante lembrar que o desmame provavelmente não vai mudar
a personalidade da criança. Além disso, o desmame forçado pode gerar
insegurança na criança, o que dificulta o processo de independização.

Muitas vezes, a amamentação é interrompida apesar do desejo da mãe


em mantê-la. As razões mais frequentes alegadas para a interrupção
precoce são: leite insuficiente, rejeição do seio pela criança, trabalho da
mãe fora do lar, “leite fraco”, hospitalização da criança e problemas nas
mamas. Muitos desses problemas podem ser evitados ou manejados.
Quando o profissional de saúde se depara com a situação de a mulher
querer ou ter que desmamar antes de a criança estar pronta, é impor-
tante, em primeiro lugar, que ele respeite o desejo da mãe e a apoie
nesse processo. Entre os fatores que facilitam o processo do desmame,
encontram-se os seguintes:

• Mãe estar segura de que quer (ou deve) desmamar;

• Entendimento da mãe de que o processo pode ser lento e demandar ener-


gia, tanto maior quanto menos pronta estiver a criança;

• Flexibilidade, pois o curso do processo é imprevisível;

138
• Paciência (dar tempo à criança) e compreensão;

• Suporte e atenção adicionais à criança – mãe deve evitar afastar-se nesse


período;

• Ausência de outras mudanças, por exemplo, controle dos esfíncteres, sepa-


rações, mudanças de residência, entre outras;

• Sempre que possível, fazer o desmame gradual, retirando uma mamada do


dia a cada 1–2 semanas.

A técnica utilizada para fazer a criança desmamar varia de acordo com


a idade. Se a criança for maior, o desmame pode ser planejado com ela.
Pode-se propor uma data, oferecer uma recompensa e até mesmo uma
festa. A mãe pode começar não oferecendo o seio, mas também não
recusando. Pode também encurtar as mamadas e adiá-las. Mamadas
podem ser suprimidas distraindo a criança com brincadeiras, chamando
amiguinhos, entretendo a criança com algo que lhe prenda a atenção.
A participação do pai no processo, sempre que possível, é importante.
A mãe pode também evitar certas atitudes que estimulam a criança a
mamar, como não sentar na poltrona em que costuma amamentar.

Algumas vezes, o desmame forçado gera tanta ansiedade na mãe e no bebê


que é preferível adiar um pouco mais o processo, se possível. A mãe pode,
também, optar por restringir as mamadas a certos horários e locais.

As mulheres devem estar preparadas para as mudanças físicas e emo-


cionais que o desmame pode desencadear, tais como: mudança de
tamanho das mamas, mudança de peso e sentimentos diversos como
alívio, paz, tristeza, depressão, culpa e luto pela perda da amamentação
ou por mudanças hormonais.

Concluindo, cabe a cada dupla mãe/bebê e sua família a decisão de man-


ter a amamentação, até que a criança a abandone espontaneamente,
ou interrompê-la em um determinado momento. Muitos são os fatores
envolvidos nessa decisão: circunstanciais, sociais, econômicos e cultu-
rais. Cabe ao profissional de saúde ouvir a mãe e ajudá-la a tomar uma
decisão, pesando os prós e os contras. A decisão da mãe deve ser res-
peitada e apoiada.

Fonte: Brasil (2015, p. 91-93).

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Fernando saiu da consulta convencido da importância da
manutenção da amamentação de Alice pelo tempo que elas
quiserem e Juliana saiu decidida a continuar com a amamentação.
Depois da conversa com o profissional, se sente mais empoderada
para resistir a eventuais pressões para desmamar.

ATIVIDADE AVALIATIVA UNIDADE 5

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