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Cidadania e Ética

Cidadania e Ética

1ª edição
2019
Autoria Francesco Napoli
Parecerista Validador Homero Nunes Pereira

*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.

Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte


desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Unidade 6
6. Consciência Política e Ação
Social

Para iniciar seus estudos


6
Veremos aqui o conceito de participação e como podemos pensar as suas
diversas formas a partir da revolução digital. Vamos também conhecer a
necessidade da ação social como postura ética baseada na cidadania, a
qual deve ser uma prática constante.

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar o conceito de participação.

• Descrever o conceito de saída da menoridade para Kant.

• Diferenciar as esferas pública e privada.

• Identificar a relação entre passividade política e legado


monárquico.

• Descrever o conceito de “lugar de fala”.

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Introdução da unidade
Participação é a base da democracia, mas temos uma herança monárquica que nos impele a sermos passivos,
esperando que alguém chegue e resolva nossos problemas. Porém, temos um compromisso ético com a cidadania
e o dever da participação naquilo que é público. Nesta unidade, veremos como os conceitos de representatividade
e ação social estão relacionados com a transição da monarquia para a república e como nossa forma de pensar,
mesmo no século XXI, em plena revolução digital, ainda existem muitos resquícios monárquicos que dificultam a
efetivação da nossa participação.

6.1 Participação

6.1.1 O estado e o exemplo do condomínio

Participação é um conceito muito caro para a democracia, que pode ser visto por vários ângulos e abarcar coisas
menores. Exemplos: de uma perspectiva microcósmica, ter um apartamento e fazer parte de um condomínio; de
uma perspectiva macrocósmica, a sociedade como um todo (um estado).

Vamos começar a pensar esse conceito de uma perspectiva microcósmica, a partir do exemplo citado: você
comprou um apartamento em um prédio e agora divide a propriedade do prédio com outros condôminos. Alguém
construiu uma edificação gigantesca, e você comprou apenas uma pequena parte dela, mas, ao mesmo tempo,
você é também uma espécie de sócio do edifício como um todo, pois há nele várias áreas em comum, como
estacionamento, salão de festas, portaria etc. A pessoa que construiu o prédio vendeu todos os apartamentos;
agora, o prédio como um todo pertence a todos os compradores, que formam um condomínio. Você integra
essa sociedade e tem obrigações, como pagar regularmente a taxa de condomínio e participar das decisões;
afinal, você, além de ser dono do seu apartamento, é também um dos donos daquele prédio. Será que é possível
comparar esse exemplo com nossa condição de cidadão e nossa participação política na vida em sociedade?

6.1.1.1 O Público e o privado

Vamos nos manter no exemplo do condomínio. É como se houvesse dois territórios distintos: aquele que é a
sua casa (dentro do seu apartamento), e outro que é frequentado por você e por seus vizinhos. A sua casa pode
ser concebida como parte da esfera privada e, nos espaços compartilhados por seus vizinhos, dentro do seu
condomínio, já há uma primeira dimensão da esfera pública, que, se ampliada, chega até a rua (espaço público).
A participação se dá de modo mais superficial na esfera privada. Muitas vezes, brigamos para ter voz dentro
de nossa própria família ou entre nossos amigos. Na esfera privada, as relações tendem a ser mais informais e
passionais, e nossa forma de participar se dá, meio que espontaneamente, em algum grau. Já na esfera pública,
nossa atuação se dá sempre de modo mais formal e racional, estipulando-se metas e trabalhando para alcançá-
las. Para compreendermos o conceito de participação, precisamos nos atentar para o seguinte fato: somos
obrigados a desenvolver meios de sustento para nossos lares e nos voltamos para eles, dedicando nossa cota de
participação, de modo quase que integral, para a esfera privada em detrimento da esfera pública. Esse fenômeno
acontece desde uma perspectiva microcósmica até a participação na própria política.

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No Brasil, por exemplo, temos certos comportamentos na esfera pública, como jogar papel na rua, que não temos
na esfera privada. É como se o público, por ser de todos, fosse percebido como se não pertencesse a ninguém.

Saiba mais

O conceito grego de Estado é a cidade-estado, uma unidade social, política e econômica,


geograficamente delimitada, muitas vezes por um muro circundante, que tinha como
epicentro uma cidade e onde a soberania era exercida por cidadãos livres, os quais
determinavam uma forma de governo (aristocracia, oligarquia, democracia). Os gregos
inauguram o conceito de esfera pública, na qual os cidadãos decidem os rumos da pólis
por meio da democracia. Na atualidade, essa dimensão da esfera pública é a base da ética
moderna, que parte do pressuposto segundo o qual a razão deve ser o vetor das relações na
esfera pública por meio do Estado laico.

Figura 34 – Parthenon – Grécia

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.

6.1.1.2 O animal político, a democracia e a cidade

Aristóteles afirmava que o homem é um animal político. Pólis, em grego, significa cidade. Ser um animal político
significa ser membro da pólis, essa instância que pertence a todos e a ninguém, ao mesmo tempo. Nenhum
cidadão individualmente é dono da pólis, mas todos são donos dessa coletividade, que é compartilhada por cada
um. Dessa forma, a característica que diferenciaria o homem dos outros animais, segundo Aristóteles, seria,
justamente, essa necessidade de constituir algo inventado pelos próprios membros.

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Entre os gregos, não existia a ideia de Estado laico. Essa ideia surgiu somente no século XVIII, com o Iluminismo,
mas, ao inventarem a democracia, os gregos deram as bases daquilo que veio a ser a nossa noção de república –
uma “coisa pública”, que pertence a todos e que deve ser gerida por seus membros. Portanto, as primeiras noções
de “participação” na história do ocidente certamente estão na democracia grega, que criou sistemas formais de
participação, de modo que seus cidadãos tivessem voz e pudessem decidir os rumos da pólis.

É realmente incrível imaginar que, tanto tempo atrás, esses indivíduos pensaram e efetivaram uma forma,
considerada por nós, tão sofisticada de vida em sociedade. Hoje em dia, a ideia de democracia é considerada uma
bandeira a ser defendida por todos nós. Sabemos que a experiência grega com a democracia foi interrompida
pela invasão dos romanos (século II a.C.), e, depois da queda do Império Romano (século V d.C.), a Europa entrou
no que chamamos de Idade Média, um período de fragmentação política e ausência de Estados organizados,
quando não havia meios para que a participação se efetivasse. Somente no século XV, com o Renascimento,
ressurge a concepção de Estado e são dadas as bases do que chamamos de nação.

Portanto, o conceito moderno de democracia que temos hoje é relativamente recente. Oriundas do Iluminismo,
no século XVIII, nossas concepções de democracia e participação surgem em contraposição ao conceito de
monarquia. Se, na Grécia antiga, onde a democracia surgiu, o conceito de Estado cabia em uma cidade; hoje,
nossa noção de Estado é a ideia de “país”, oriunda de um processo de formação de Estados nacionais que ocorreu
na Europa a partir do Renascimento e que teve como base os regimes monárquicos.

6.1.1.3 Kant e o esclarecimento

Figura 35 – Kant

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.

Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão iluminista, elaborou as bases da ética moderna. Em um pequeno
texto intitulado O que é esclarecimento?, Kant, em resposta pública a um pastor que havia criticado o Iluminismo,

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elabora um argumento que ainda é essencial para os dias de hoje: a necessidade da separação entre as esferas
pública e privada em um contexto de Estado laico.

Quando Kant diz “esfera pública”, está se referindo a essa esfera da vida, na qual atuamos na rua, a partir de um
papel social predeterminado publicamente, no qual há formalidade, como um cargo institucional, nossa vida
profissional etc. Quando ele diz “esfera privada”, está se referindo a essa esfera da vida na qual atuamos dentro
de casa, em nossas vidas pessoais, e aos papéis sociais desempenhados a partir dela, como o papel de pai, filho
etc., sempre mais informalmente e passionalmente.

Kant vai dizer da necessidade de “maioridade da razão” nesses modos de atuação e de como é imprescindível
que, na esfera pública, prevaleça a razão, de modo que a política seja praticada em termos de Estado laico. Para
tal, Kant afirma ser necessária uma atitude de ousadia contra a preguiça e a comodidade da menoridade da
razão. Seria necessário ousar saber! Libertar-se dos tutores e pensar por si mesmo. Veja este trecho do famoso
texto de Kant:

O Esclarecimento é a saída do homem da condição de menoridade auto-imposta. Menoridade


é a incapacidade de servir-se de seu entendimento sem a orientação de um outro. Esta
menoridade é auto-imposta quando a causa da mesma reside na carência não de entendimento,
mas de decisão e coragem em fazer uso de seu próprio entendimento sem a orientação alheia.
Sapere aude! (Ousai saber!) Tenha coragem em servir-te de teu próprio entendimento! Este é o
mote do Esclarecimento. Preguiça e covardia são as causas que explicam por que uma grande
parte dos seres humanos, mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da orientação
alheia (naturaliter maiorennes), ainda permanecem, com gosto e por toda a vida, na condição de
menoridade. As mesmas causas explicam por que parece tão fácil outros afirmarem-se como seus
tutores. É tão confortável ser menor! Tenho à disposição um livro que entende por mim, um pastor
que tem consciência por mim, um médico que me prescreve uma dieta etc.: então não preciso me
esforçar. Não me é necessário pensar, quando posso pagar; outros assumirão a tarefa espinhosa
por mim; a maioria da humanidade (aí incluído todo o belo sexo) vê como muito perigoso, além de
bastante difícil, o passo a ser dado rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram para si de
bom grado a sua supervisão. Após terem previamente embrutecido e cuidadosamente protegido
seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem dar qualquer passo fora dos trilhos nos
quais devem andar, os tutores lhes mostram o perigo que as ameaça caso queiram andar por
conta própria. Tal perigo, porém, não é assim tão grande, pois, após algumas quedas, aprenderiam
finalmente a andar; basta, entretanto, o exemplo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las
por completo para que não façam novas tentativas. É, porém, difícil para um indivíduo livrar-se
de uma menoridade quase tornada natural. Ele até já criou afeição por ela, e, por suas próprias
mãos, é efetivamente incapaz de servir-se do próprio entendimento porque nunca lhe foi dada a
chance de tentar (KANT, 2010).

Para Kant, esclarecimento ou Iluminismo seria um movimento de emancipação do homem de seus tutores em
direção a uma autonomia, que caracterizaria a maioridade da razão. Dessa forma, segundo Kant, a religiosidade,
os sentimentos, a subjetividade etc. poderiam se manifestar perfeitamente na esfera privada, mas, na esfera
pública, deve prevalecer a razão:

Para o esclarecimento, porém, nada é exigido além da liberdade; e mais especificamente a


liberdade menos danosa de todas, a saber: utilizar publicamente sua razão em todas as dimensões.
Mas agora escuto em todos os cantos: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, exercitai-vos!
O Conselho de Finanças: não raciocineis, pagai! O líder espiritual: não raciocineis, crede! (um único
senhor no mundo pode dizer: raciocinai o quanto quiser, e sobre o que quiser; mas obedecei!) Por
todo canto há a restrição da liberdade. E qual restrição serve de obstáculo para o esclarecimento?

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Qual não o impede e até mesmo o sustenta? Respondo: o uso público do entendimento deve ser
livre em qualquer momento, e só ele pode gerar o esclarecimento entre os seres humanos; o uso
privado do mesmo pode frequentemente ser bastante restrito, sem que, todavia, o progresso do
esclarecimento seja, por isso, impedido (KANT, 2010).

Observe que Kant, quando fala que existe um único senhor que diz para racionar o quanto quiser, mas obedecer,
faz uma menção ao rei da Prússia (atual Alemanha) Frederico II, que era um déspota esclarecido, ou seja, um
monarca que aderiu aos ideais iluministas, abrindo mão de seu poder político, mas se mantendo na condição de
influência nacional. Veja que situação interessante! Um filósofo iluminista, que defende a separação entre Igreja
e Estado, democracia e república, encontra-se em uma monarquia e está publicando um texto sobre o que é
o esclarecimento ou o Iluminismo. É curioso percebermos o modo como Kant elabora sua narrativa por conta
desse paradoxal contexto, defendendo o Iluminismo e, ao mesmo tempo, reconhecendo a postura esclarecida
do rei Frederico II.

Os ideais iluministas ainda estão em processo de efetivação, pois, como disse Marx, a infraestrutura ou a parte
material – como a tecnologia, por exemplo – muda muito mais rapidamente que a superestrutura, que é o
pensamento e a própria cultura. Dessa forma, para que ideias como liberdade de crença, liberdade de expressão
e representatividade se efetivem, o Estado laico se torna elemento básico e uma verdadeira bandeira a ser
levantada por todos que defendem a democracia e o republicanismo.

O mais famoso exemplo de despotismo esclarecido é a Família real britânica, que se mantém em um lugar de
prestígio e privilégios, mas não tem mais o poder político de outrora, que atualmente é exercido pelo parlamento.

Figura 36 – Família real britânica

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.

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6.1.1.4 Monarquia, passividade e menoridade da razão

Monarquia absolutista é um regime no qual não há uma separação nítida entre as esferas pública e privada. Há
um dono do reino, que é o rei. Ele é quem recebe os impostos e faz a gestão do reino. Ele é adorado por seus
súditos, que compartilham valores e crenças, como se todos fizessem parte de uma mesma e grande “esfera
privada”, não havendo essa instância de participação promovida pela esfera pública, a partir da ideia de república.
Portanto, em uma monarquia, não há meios para que a participação se efetive. O rei é autoridade máxima e é ele
quem decide, quem resolve os problemas, quem dá pão e circo. É ele que protege o reino, que dedica sua vida por
ele. O rei é tido como uma espécie de enviado de Deus, uma figura superior em todos os sentidos. Diferente por
excelência, o rei tem em si a própria noção de Estado, personificando-o. Basta lembrarmos de um dos grandes
monarcas do Absolutismo na Europa, o Rei Luís XIV, considerado o Rei Sol, que proferiu a famosa frase: “O Estado
sou eu”.

Figura 37 – Rei Luís XIV

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018.

Sendo, historicamente, a monarquia o nosso primeiro modo de conceber a ideia de Estado na modernidade,
podemos inferir que há em nós várias heranças monárquicas, que nos colocam em uma postura passiva no que
se refere à participação, esperando que algo aconteça ou que alguém nos seja um tutor.

Para haver participação, são necessários um sistema político que permita e forneça meios para que a participação
se efetive e uma postura ativa, oriunda de um sentimento de pertencimento, como no exemplo do condomínio,
citado anteriormente. O passado monárquico deixou seus legados no mundo ocidental, e um deles é a passividade,
que Kant chamou de menoridade da razão. Por exemplo, na educação tradicional, o professor exerce autoridade
e tem uma postura ativa, enquanto os alunos se veem passivos, cumprindo ordens. Inclusive, o próprio termo
“aluno” tem uma origem etimológica sintomática: significa, do latim, desprovido de luz. Nossa postura diante
das artes também tende a ser passiva, esperando que as emoções e sensações sejam causadas pela obra, e o
espectador não pode participar, nem tocar as obras em museus. Na política, então, nossa passividade vai ao
extremo. Por termos essa noção de Estado pautado em uma monarquia, há em nós uma tendência a considerar

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os governantes como se fossem pessoas salvadoras, que vão resolver todos os problemas, como se eles não
fossem de todos. Nós, brasileiros, especialmente, temos muitos legados monárquicos engendrados em nossa
cultura e temos essa tendência de exaltar os representantes, gerando fenômenos políticos como o populismo.
Há em nós o hábito de transformarmos o direito do voto em uma obrigação, por meio do qual elegemos alguém
e, depois, sequer nos lembramos em quem votamos. É como se continuássemos esperando o rei resolver todos
os nossos problemas.

6.1.1.5 Ser cidadão dá trabalho!

Em uma democracia, a participação é algo imprescindível. São necessários engajamento e postura ativa. Ser
cidadão dá trabalho! Temos de buscar aqueles políticos que, de fato, nos representam; temos de acompanhar sua
trajetória constantemente, acompanhar as votações, ver como nosso representante se posicionou, comunicarmo-
nos com ele, cobrar dele, inteirarmo-nos das coisas que estão sendo discutidas e decididas e nos posicionarmos,
defendendo essas posições, de modo que possamos sempre analisar se estamos acertando ou errando.

Somente nossa postura cidadã poderá nos garantir a tão sonhada democracia que queremos. Afinal, dizer
que todo político é corrupto é tão generalizador, preconceituoso e falacioso como dizer que todo favelado é
bandido. Ademais, se somos um animal político, como disse Aristóteles, somos todos inevitavelmente políticos,
pois fazemos parte da pólis. Todas as nossas ações podem ter uma dimensão política; nossos corpos podem ser
políticos, gerando gestos e posicionamentos.

Como dissemos, a ideia de república nasce em contraposição à monarquia. Portanto, precisamos encarar a
política como uma prática semelhante à do síndico em um condomínio muito complexo e cheio de contradições,
no qual o gestor ou o poder executivo seria o síndico, ou seja, um cidadão comum que dedica parte de seu tempo
para gerir o condomínio. Não é necessário regalias, privilégios e luxos. Se compartilharmos a gestão de algo,
devemos nos organizar e termos a obrigação de participar. O espaço público deve ser considerado de todos, e
não como se fosse de ninguém. Os privilégios que os políticos têm são um legado monárquico que precisa ser
rompido. Não se faz necessário palácio, tapete vermelho, nem supersalários. Os políticos devem ser encarados
como legisladores e gestores da coisa pública. Assim como os síndicos em um condomínio exercem essa função,
que alguém tem de fazer, os políticos também representam o povo nas decisões.

Saiba mais

O projeto de construção da cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, nos traz um
exemplo de herança monárquica, quando, no século XIX, época em que prevalecia o discurso
republicano, Aarão Reis, engenheiro e urbanista responsável pelo seu projeto, desenha um
“Palácio do Governo”, reforçando a ideia de que governantes devem frequentar palácios.

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Figura 38 – Palácio da Liberdade

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018

6.2 Representatividade
A revolução digital é vista, por alguns historiadores, como um desdobramento da revolução industrial e teria
duas fases distintas: uma primeira, ainda no século passado, na década de 1990, quando surge a internet, e
uma segunda, a partir da primeira década do século XXI, com a popularização dos dispositivos móveis, como
smartphones e notebooks. A partir de então, a internet deixa de ser aquele momento separado do cotidiano, no
qual você se senta na frente de seu computador fixo para acessar a rede, para ser uma ampliação desse acesso
para qualquer lugar a qualquer hora, por meio de dispositivos móveis e internet remota (redes de wi-fi e 4G).

Para pensarmos a participação em tempos de revolução digital, precisamos partir de dois fatos ocorridos
nos séculos XVIII e XXI: o século XVIII nos legou os conceitos de república e democracia contemporâneos, e
o século XXI nos trouxe a revolução digital, que revolucionou as formas de comunicação e participação por
meio de uma horizontalização. As primeiras formas de comunicação de massa, durante quase todo o século
XX, eram verticais, ou seja, vinham de cima para baixo, sem a possibilidade de interação. O espectador, nesse
caso, somente recebe a informação. O rádio e a tevê foram as primeiras formas de comunicação de massa e
não permitiam a interação, até a popularização do telefone, que promoveu alguma possibilidade por meio de
telefonemas para as rádios e votações em determinado tema da tevê. Mesmo assim, a relação de quem foi
criado na frente da tevê para com esse dispositivo sempre foi de passividade. A tevê determina o horário de seu
programa predileto e diz ao telespectador até a hora de ir ao banheiro, que normalmente é durante os intervalos
comerciais, que geralmente têm o áudio sutilmente ampliado para alcançar o espectador que se ausentou de
sua frente. As nossas gerações vivenciaram esses dispositivos de um modo não interativo e, mesmo agora,
inseridos no século XXI, ainda temos como base essa relação, e isso deixa suas marcas em nosso modo de nos
relacionarmos com eles. Certamente, as gerações que já nasceram sob a égide do mundo digital têm outras
formas de perceber e lidar com os dispositivos digitais.

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Sem dúvidas, a internet é um meio para a participação e já nasce em uma lógica liberalista, que dá a ela muita
liberdade de ação individual, combinando com a ideia de democracia liberal. Porém, quem realmente está por
trás dos dispositivos, por meio dos quais as pessoas se comunicam, são empresas privadas, como o Facebook e o
Google, que criam, com total autonomia, seus dispositivos de interação (redes sociais, sites de busca, aplicativos,
etc.). Esses dispositivos foram lançados no mercado a partir da lógica liberal de demanda e oferta; então, eles
precisam se popularizar para gerarem lucro. Em tese, qualquer um poderia criar uma rede social ou um aplicativo,
o qual, se tornando popular, todos passariam a usar e, por ser uma empresa privada, você teria autonomia para
decidir sobre como e com quem as pessoas se relacionariam. Nossa legislação parece não conseguir acompanhar
o ritmo de mudança. O Facebook, por exemplo, tem um poder imenso sobre as massas e não tem vínculo com
nenhum Estado. Então, são empresas privadas decidindo o modo como milhões de pessoas vão interagir e
participar virtualmente.

Para seduzir as pessoas, de modo que elas escolham e permaneçam em determinada rede social ou aplicativo, as
empresas desenvolvem todo tipo de recursos. O Facebook, por exemplo, dá a impressão de que você está conectado
a todo o mundo e, portanto, tem uma visão ampla da realidade; porém, o que você mais vê é, normalmente,
aquilo que você mais deu likes, ou seja, o Facebook dá a você mais e mais de você mesmo, alimentando seu ego
em torno da vaidade, colocando você em uma bolha e fornecendo uma falsa impressão da realidade. Ao mesmo
tempo, você tem condições de também moldar essa bolha, excluindo pessoas e páginas que são consideradas
indesejáveis. Esse gesto, além de dar uma falsa impressão de que foi você que criou sua bolha e, portanto, teria
autonomia ao frequentar a rede social, também exclui o diferente, dando uma segunda falsa impressão, como se
o mundo fosse apenas aquilo que aparece na sua timeline. Mesmo tendo consciência disso, vemo-nos obrigados
a frequentar as redes sociais, a ter um smartphone e a lidar com esses dispositivos e seus recursos.

Esses recursos ainda não têm nenhuma regulamentação e indicam que os meios de participação passarão por uma
revolução durante este século. O início do século XXI já experimentou mudanças políticas ocorridas depois das
redes sociais, como a chamada “Primavera Árabe” ou as Jornadas de Junho de 2013, aqui no Brasil, que levaram o
país uma turbulência política, que agravou uma crise econômica, acentuando no país uma polarização política. O
poder das redes sociais é imenso e pode ser utilizado de inúmeras formas, que terão sempre consequências boas
e ruins. Claro que a internet é uma invenção que gera ferramentas essenciais para nossa vida na atualidade e tem
inúmeros pontos positivos; porém, o modo como ela se impõe nos coloca diante da necessidade de questioná-la
e problematizá-la para que possamos aperfeiçoá-la.

Figura 39 – Mulher com smarthphone

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018

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6.2.1 Representatividade e lugar de fala

A noção de representatividade ganhou nova abordagem com as redes sociais. Passamos a ter acesso a pessoas
que não acessaríamos, a não ser pela existência da rede. Esse fato foi decisivo para que minorias se fortalecessem
e se reorganizassem politicamente; por exemplo: o crescimento do movimento LGBTQI (lésbicas, gays, bissexuais,
trans, queer e intersexuais), do movimento negro, do movimento feminista, etc. Hoje, por causa da internet, uma
pessoa de uma cidade interiorana pode ficar sabendo que existem outras pessoas que se parecem com ela ou com
aquilo que ela quer ser e forjar outras identidades. Essa ferramenta ressignificou o conceito de representatividade,
de modo que as pessoas passaram a se ver representadas de modo mais íntimo.

O conceito de “lugar de fala” não se refere, necessariamente, a indivíduos falando algo. Trata-se de um conceito
que parte da perspectiva segundo a qual as visões de mundo se apresentam posicionadas desigualmente. Djamila
Ribeiro, autora do livro O que é lugar de fala?, afirma que “não estamos falando de indivíduos necessariamente,
mas das condições sociais que permitem ou não que esses grupos acessem lugares de cidadania” (RIBEIRO,
2017). O que a autora propõe é uma análise a partir da identificação e localização de grupos de pessoas
inseridas nas relações de poder, levando em consideração aspectos como gênero, raça, classe social, geração
e sexualidade como elementos cruciais dentro da estrutura social. Portanto, o conceito de “lugar de fala” parte
das desigualdades geradas pelas múltiplas condições e hierarquias. A internet promoveu diversos modos de
discurso, antes marginalizados, mas que hoje alcançaram público amplo; consequentemente, os indivíduos com
lugares de fala que não ressoavam passaram a integrar o espaço público.

Para garantirmos a liberdade de expressão e a representatividade, faz-se imprescindível a ideia de Estado laico.
O Brasil tornou-se oficialmente um Estado laico em 15 de novembro de 1889, quando deixou de ser uma
monarquia e passou a ser uma república. Até então, todos os rituais da vida social, como casamentos, registros de
nascimentos e óbitos, festividades e acontecimentos sociais em geral, eram determinados pela Igreja Católica.
Com a proclamação da república, essas funções foram sendo gradualmente transferidas da Igreja para o Estado.
Hoje, se você for se casar, basta entrar em um cartório, pegar a senha e pagar a taxa. Trata-se de um contrato,
reconhecido pelo Estado, que não lhe pergunta nada sobre religião. Por acontecer na esfera pública, costuma
ser pouco cerimonioso e, se há algum grau de cerimônia, trata-se de herança dos tempos de monarquia. As
cerimônias propriamente ditas são feitas nas igrejas ou nas casas das pessoas, ou seja, na esfera privada. Ao
mesmo tempo, existem, ainda hoje, cidadezinhas nos interiores do país nas quais nascimentos e mortes ainda
são registrados pela Igreja Católica, pois nunca chegaram cartórios por lá. A pós-modernidade é marcada pela
diversidade e fragmentação das identidades. Hoje, as pessoas não necessariamente precisam estar vinculadas a
uma religião para manifestarem sua religiosidade.

Outra polêmica em torno dessa questão está ligada à existência de uma bancada evangélica em nosso Congresso
Nacional, que já demonstrou em vários episódios uma falta de consideração pela laicidade do Estado, permitindo
que convicções puramente religiosas permeiem suas escolhas e atitudes em uma clara ausência de espírito
republicano.

Quando falamos de religião, estamos nos referindo à instituição religiosa – empresa que tem sede física, placa
e logomarca, uma instituição que formaliza a religiosidade, que é o sentimento espontâneo de espiritualidade
que muitas pessoas têm e que, na modernidade, se libertou da condição institucionalizada e se tornou individual,
seguindo a tendência do individualismo contemporâneo, oriundo do capitalismo. Por exemplo: é comum ouvirmos
que determinada pessoa diz não ter religião, mas tem uma espiritualidade própria, por meio da qual ela diz sentir
as energias do cosmos, ou ainda as pessoas que inventam seus próprios rituais, como casamentos, nos quais os
próprios indivíduos inventam a cerimônia, sem vínculo com nenhuma igreja. Essa é a base do Estado laico, um
estado sem vínculo com nenhuma religião, que permite que todas as religiões possam coexistir, inclusive quem

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não tem religião ou até mesmo quem é ateu. A democracia depende do Estado laico para existir, assim como a
ciência também necessita de laicidade para sua prática.

6.3 Ação social


Ação social significa compreender que todo gesto pode ter uma dimensão política. Se você é um pedagogo,
administrador, psicólogo, engenheiro ou tem qualquer outra forma de atuar no mercado por meio de trabalho
especializado – que necessita de formação acadêmica –, sua profissão tem a ciência como chancela, ou seja, é
a ciência que dá credibilidade, condições e comprovação de que sua atuação é eficiente. Por isso, toda atuação
profissional, no âmbito do trabalho especializado, vai ter de seguir determinadas regras estabelecidas pelo
método científico, que são a base de códigos de ética, conselhos federais etc. Antes de tudo, sua atuação deve
seguir aqueles procedimentos que já foram testados e comprovados cientificamente como os mais adequados e
eficientes, pois o que autoriza você a exercer tal profissão é justamente o diploma concedido por uma instituição
que está subordinada a um governo (por isso, dissemos que a ciência se desenvolve melhor no Estado laico). No
Brasil, todas as instituições de ensino, tanto da rede pública quanto da rede privada, estão subordinadas às regras
do Ministério da Educação, que determina quais os conteúdos necessários para tal formação, fiscaliza e avalia as
instituições de ensino e garante que somente especialistas, mestres e doutores sejam os professores. Ou seja, por
trás de todo conhecimento, técnica e inovação, está a ciência.

Há todo um arcabouço regulatório que busca garantir que todo método, procedimento e conhecimento seja
comprovadamente o mais exitoso até o momento, levando em conta que a própria ciência está em constante
construção e mudança; por isso a necessidade, cada vez maior, de se manter atualizado por meio de pós-
graduações, mestrados e doutorados. Portanto, sua atuação profissional tem um compromisso ético de seguir
essas determinações, que são consenso entre os pesquisadores. E quando algo não é consenso? Ou quando
alguém utiliza do respaldo de sua profissão para fins eticamente questionáveis? Imagine um psicólogo que
utiliza a autoridade de seu diploma para doutrinar religiosamente seus pacientes, dizendo praticar uma espécie
de psicologia própria, que ele denomina de “psicologia cristã”. Ou um professor que utiliza sua autoridade e
credibilidade para doutrinar seus alunos, seja religiosamente ou por meio de alguma ideologia que não é aceita
na academia. Ou mesmo um gestor que comete algum tipo de discriminação. Essas práticas são condenáveis
em termos éticos, pois partimos do pressuposto segundo o qual quem aprendeu determinada ciência por meio
da academia tem um compromisso social com esta e deve exercer esse papel social que lhe foi conferido pela
sociedade a partir da laicidade e cientificidade.

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Figura 40 – Casal homoafetivo

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018

Um psicólogo que utiliza seu diploma para evangelizar, grosso modo, afirmando ser uma depressão a “falta
de Deus no coração” ou um “encosto”, que se resolverá se houver adesão à determinada religião, ou que a
homossexualidade seria uma doença e ele ofereceria a cura, está sendo antiético, pois não há, cientificamente,
uma corrente da psicologia chamada psicologia cristã e já está comprovado que relações homoafetivas são
práticas comuns em várias culturas em diferentes épocas, e não uma patologia. Portanto, não há comprovação de
que esse tipo de tratamento tem eficácia; logo, chamamos isso de charlatanismo. O Estado laico não proíbe essas
práticas. Não há problema algum em oferecer ajuda às pessoas com sofrimento psíquico por meio da religião –
vários pastores fazem isso. O problema está em utilizar a ciência “psicologia” como um respaldo para essa prática,
exercendo-a em desconformidade com o código de ética do Conselho Federal de Psicologia. O mesmo se aplica
para o exemplo do professor que abusa de seu poder e credibilidade ou do gestor que atenta contra os direitos
humanos. Ambos devem exercer seus papéis em conformidade com a ciência, com a legislação e com a ética de
seus ofícios e comprometidos com a sociedade como um todo. Uma ação social envolve a dimensão ética na
medida em que abarca toda a sociedade.

6.3.1 Ação social, violência e ocupação do espaço público

Os noticiários da tevê aberta estão repletos de programas policiais que sensacionalizam a violência,
transformando-a em objeto de consumo. Esses programas passam a impressão de que a sociedade caminha
para uma condição na qual a violência está aumentando, como se fosse cada vez mais perigoso ocupar os
espaços públicos e como se os bandidos estivessem cada vez mais ousados. No entanto, se analisamos os dados
estatísticos de institutos de pesquisa sobre a violência nas últimas décadas, veremos movimentos diversos, nos
quais determinada cidade reduziu imensamente os índices de violência, enquanto outras aumentaram em uma
época e, depois, tornaram a diminuir em outra, em um complexo movimento que envolve muitos fatores, que
vão desde pormenores específicos de cada cidade até a própria situação econômica do país, da distribuição de
renda até a presença – ou ausência – de políticas públicas que combatam a violência, distribuam renda, forneçam
educação e oportunidade para as classes marginalizadas etc.

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Figura 41 – Arma

Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018

Portanto, essa sensação de que estamos nos tempos mais violentos que já existiram em toda a humanidade é falsa.
A democracia se estabelece no espaço público, e a ocupação desses espaços é crucial para sua manutenção. Por
isso, esse discurso de aumento de violência, que é produzido pela mídia com a intenção mercantil de aumentar
a audiência, acaba por prejudicar a própria democracia, criando um constante estado de alerta que, em alguns
momentos, beira o pânico, por meio de discursos capciosos, vendidos e consumidos como uma espécie de
entretenimento por uma grande parcela da sociedade.

Esse discurso, além de desestimular a ocupação do espaço público, transforma a discussão da violência no Brasil
em algo mais passional do que racional, pois a violência é vendida em termos de sensacionalismo. São casos
particulares de pessoas que têm suas tragédias pessoais transformadas em espécie de peças de entretenimento,
como as próprias novelas televisivas. Assim, as pessoas lidam com essas questões, partindo de uma perspectiva
subjetiva, pessoal e passional, associando a elas ódio e adoração – termos que provêm de relações que
historicamente se estabeleceram em um contexto religioso/monárquico – com questões sociais, públicas
e políticas, chegando ao ponto de repetirem barbaridades como “bandido bom é bandido morto” ou que os
direitos humanos só protegem os bandidos. São leituras rasas e desprovidas de noções básicas de republicanismo,
democracia e humanidade, que são produtos dessa falácia. Não é possível demonstrar cientificamente que há
um movimento progressivo de aumento constante da violência, que teria nos colocado na época mais violenta
de toda a história, apesar de a mídia passar essa falsa impressão e o senso comum ter incorporado essa ideia.

A própria forma como percebemos o Estado laico também apresenta semelhante distorção. Há uma ideologia
liberal, iluminista, que parte da promessa cartesiana, segundo a qual o homem estaria em um processo de
emancipação, por meio da razão, que o conduziria à plenitude, curando todas as doenças e respondendo todas
as perguntas, em um movimento de domínio da natureza. Portanto, o Estado laico seria um caminho natural de
todas as repúblicas, que, por meio da democracia e da educação para todos, e tendo seus cidadãos atuando na
esfera pública, estes escolheriam democraticamente, por meio da razão, esse caminho.

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Porém, hoje assistimos a vários movimentos, tanto de países que estão reduzindo o número de pessoas que se
dizem religiosas quanto de países que aumentaram esse número. Segundo pesquisa da empresa WIN/Gallup,
feita com 64 mil pessoas em 65 países, países africanos, do Oriente Médio e do Leste europeu parecem estar
se tornando cada vez mais religiosos, enquanto os europeus ocidentais, menos. Lembrando que o Estado laico
não é aquele que tem menos pessoas religiosas, mas, sim, aquele no qual as pessoas sabem separar Estado e
religião. A pesquisa nos permite inferir que se trata não de combater a religião, mas, sim, de vivenciá-la de modo
mais consciente e menos servil, mais próximo da espiritualidade. Essa mesma pesquisa verificou que países com
maiores índices de educação costumam ter mais laicidade.

Portanto, essa ideia segundo a qual haveria uma tendência de todas as repúblicas se tornarem laicas também tem
suas controvérsias. Os modos por meio dos quais a história caminha são diversos e se entrelaçam em complexas
relações, ora tendendo para um lado, ora para outro. Em alguns momentos, as coisas mudam ou avançam e,
depois, voltam a ser como antes ou regridem; mas agora, de outra forma, em um movimento circular que se
expande, no qual velho e novo se confundem. Concluindo, a história está em constante mudança, mas nunca
segue uma mesma direção.

A ocupação do espaço público é um bom exemplo de ação social que enfatiza a democracia e a percepção
daquilo que é público como algo de todos. Se o discurso midiático, que sensacionaliza a violência, desestimula
a ocupação do espaço público, então é necessário questionar o caráter eminentemente mercadológico da
divulgação da violência e propor leituras alternativas e críticas que enfatizem o discurso ético e defendam os
direitos humanos como a base de um Estado laico, no qual todos são cidadãos que se sentem representados por
meio de sua participação democrática.

Síntese da unidade
Nesta unidade, você pôde conhecer os conceitos de participação, saída da menoridade para Kant e lugar de fala.
E ainda, conheceu as diferenças entre as esferas pública e privada e a relação entre passividade política e legado
monárquico.

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Considerações finais
A participação é um exercício constante, que deve ser ensinado e
praticado a todo o momento, de modo que a cidadania se torne a base das
relações políticas. O Estado laico é a base da democracia contemporânea,
e nossas ações precisam ter essa dimensão universal por meio da
representatividade.

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