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Autora: Juliana Harumi Hasebe

INTERPRETAÇÃO DAS
Resumo selecionado no concurso
Descomplicando, referente à live
“Casos clínicos para dominar a
interpretação das anemias”

Definição: É uma síndrome clínica OBS: Do ponto de vista prático não


associada a uma diversidade de existe uma hemácia hipercrômica,
possibilidades etiológicas (causas). pois a hemácia não consegue
» É caracterizada por uma redução concentrar hemoglobina mais do que
na massa eritróide (redução no ela suporta.
número de hemácias, no hematócrito
e na quantidade de hemoglobina) Anemias macrocíticas hipocrômicas
são, em geral, regenerativas
OBS: Lembrando que o hemograma é » Principais causas de anemia
composto pelo eritrograma, regenerativa: doenças hemolíticas e
leucograma e plaquetograma! hemorragias

■ Os principais dados que Anemias microcíticas hipocrômicas


encontramos no eritrograma são: são mais comuns em pacientes com
» Contagem de hemácias anemia ferropriva
» Concentração de hemoglobina » No entanto, um paciente com
» Hematócrito (volume globular) anemia de doença crônica também
pode apresentar microcitose e
A
■ A anemia não é um diagnóstico, e sim uma síndrome hipocromia hipocromia
clínica, dessa forma, precisamos encontrar a causa da
mesma 1.3 EM RELAÇÃO AO GRAU DE REGENERAÇÃO:

■ Observações em lâmina (essencial no hemograma


1. Classificação das anemias completo)
» Viés: examinador da lâmina (subjetivo)
■ Devemos classificar a anemia a fim de auxiliar na procura da
causa
Policromasia, Podem sinalizar
ponteado basofílico, regeneração. Mas para
Pode ser classificada: corpúsculo de Howell- classificar a anemia, é
❶ Quanto à gravidade jolly, hemácias necessária a contagem
nucleadas de reticulócitos
❷ Em relação aos índices eritrocitários (VGM e CHCM)
❸ Em relação à regeneração (anemia regenerativa, semi-
regenerativa ou não regenerativa) ■ Contagem de reticulócitos
» Quantificação do número de reticulócitos em relação ao
1.1 QUANTO À GRAVIDADE: número total de hemácias

■ É importante classificar a gravidade da anemia, pois ela


implica diretamente na conduta diagnóstica e no tratamento
ANEMIA
■ Discreta, moderada ou severa
» Parâmetros são diferentes entre as espécies
» Leva em consideração o hematócrito (%)

Gravidade Gato Cão REGENERATIVA SEMI- ARREGENERATI


Discreta 20 – 24% 30 – 36% REGENERATIVA VA
Moderada 15 – 19% 18 – 29%
Severa < 14% < 18%
Normocítica
1.2 EM RELAÇÃO AOS ÍNDICES ERITROCITÁRIOS: normocrômica Normocítica
ou normocrômica Normocítica
macrocítica ou microcítica normocrômica
■ VGM (volume globular médio) hipocrômica
hipocrômica
■ CHGM (concentração de hemoglobina globular média)

■ VGM: classifica quanto ao tamanho Anisocitose /


policromasia Sem sinais de
» Macrocítica (hemácia com tamanho maior) Anisocitose /
+++ anisocitose /
policromasia +
» Normocítica (hemácia com tamanho normal) policromasia
RDW > 15% RDW < 15%
» Microcítica (hemácia com tamanho menor) RDW < 15%
RETICULÓCITO
■ CHGM: classifica quanto à cor S
» Hipocrômica (hemácia mais pálida; tem menos
hemoglobina) CCR < 1%
» Normocrômica (hemácia com a quantidade de CCR 1-2% até (cão)
CCR > 2% moderado
hemoglobina normal) < 0,4% (gato
■ CCR = contagem corrigida de reticulócitos
■ Foram solicitados hemograma, bioquímica sérica
OBS: É importante destacarmos que anemia normocítica inicialmente:
normocrômica não é sinônimo de anemia arregenerativa! Ela
pode ser regenerativa ou semi-regenerativa também.

Anemia regenerativa:
■ É mais comum ser macrocítica hipocrômica
» Isso porque as hemácias jovens são maiores (macrocitose)
e possuem menor quantidade de hemoglobina (hipocromia)

1.3.1 Contagem corrigida de reticulócitos (CCR):

𝐶𝐶𝑅 𝑣𝑠. % 𝑟𝑒𝑡𝑖𝑐𝑢𝑙ó𝑐𝑖𝑡𝑜𝑠

■ O % de reticulócitos é o percentual observado de 100 células


vermelhas, quantas são reticulócitos e quantas são hemácias

■ A CCR leva em conta a severidade da anemia, o quão grave


está a anemia; e é calculada pela fórmula abaixo:

𝐻𝑡 𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 × % 𝑟𝑒𝑡𝑖𝑐𝑢𝑙ó𝑐𝑖𝑡𝑜𝑠
𝐶𝐶𝑅 =
𝐻𝑡 𝑒𝑠𝑝é𝑐𝑖𝑒 (45 𝑐ã𝑜; 35 𝑔𝑎𝑡𝑜)

TABLE A – Reference Guidelines for Assessing Reticulocyte


Response
Degree of % Reticulocytes Reticulocytes/μL
Regene- Dogs Cats Dogs Cats (aggr)
ration ■ No eritrograma, vemos uma anemia normocítica
None < 60.000 < 15.000 normocrômica
Slight 1–4 0.5 - 2 60.000 – 150.000 15.000 – ■ Na contagem de reticulócitos, a CCR estava em 0,54% e os
50.000 reticulócitos absolutos em 33.320 μL, indicando resposta nula à
Moderate 5 – 20 3–4 150.000 – 300.000 50.000 –
regeneração
100.000
Marked > 20 >4 > 500.000 > 200.000
❶ Esta anemia tem significado clínico? Qual a provável
■ O parâmetro mais confiável para cães é a CCR; para gatos, causa?
algumas literaturas falam que é a contagem absoluta de ❷ Tem relação com a queixa principal (hematoquezia
reticulócitos recorrente crônica)?
❸ Qual seria sua conduta terapêutica e diagnóstica?

2. Casos clínicos Anemia arregenerativa:


■ Anemia por doença crônica
2.1 CASO CLÍNICO 1: ■ Anemia por deficiência de ferro
■ Anemia por perda aguda de sangue
Thor, canino, Rottweiller, 11 anos: ■ Anemia por doença renal
■ O Thor, há aproximadamente 7 anos atrás teve diarreia ■ Anemia por doença hormonal
sanguinolenta de forma cíclica. Há 5 meses tem tido ■ Anemia hipoproliferativa
hematoquezia (colite), ciclicamente, porém os episódios têm
sido mais frequentes nas últimas semenas

■ Tem artrose severa nos cotovelos; recebe, desde os 4 anos de


idade Omega 3. Há 4 anos recebe Colágeno UC-II, e
pontualmente em dias de maior atividade (1x semana) AINE
(Rimadyl 100 mg – dose aquém (abaixo) do proposto em bula
para o peso do Thor = 53 kg). É mantida a Ração Light.

■ Recebe gabapentina para tratamento deste quadro de dor


crônica.

Diagnóstico de Giardia e Isospora

Tratado com Febemdazole e Sulfa +


trimetropim ■ Para diferenciar as duas primeiras causas sublinhadas acima,
devemos solicitar a dosagem de ferro sérico, transferrina e
ferritina
Coproparasitológico e Teste Giardia
» Nesse paciente, foi encontrado ferro sérico reduzido,
seriados negativos
transferrina normal e ferritina reduzida

Com uso de Sulfassalazina 20 mg/kg Interpretação:


BID, o curso dos episódios diarreicos
tem sido mais curtos
■ Nas anemias de doença crônica e de inflamação, é
esperado ferro sérico baixo e ferritina normal ou aumentada.
Já na anemia ferropriva, a ferritina deve estar baixa PTIALISMO
» Lembrando que tanto anemia ferropriva, quanto anemia
da doença crônica e anemia da inflamação causam redução
do ferro sérico. Portanto, não conseguimos fechar o
diagnóstico apenas dosando o ferro sérico
» Não adianta suplementar ferro em um paciente que tem CAVIDADE CAVIDADE
BUCAL BUCAL
anemia por doença crônica ou inflamação, pois não está ANORMAL NORMAL
faltando ferro nesse paciente. Na verdade, há uma série de
modificações nos mediadores (o principal é a hepcidina), que
faz com que o ferro vá para as reservas (a principal reserva é a
ferritina) - Massas bucais (PAAF / - Sinais do SNC e fígado
biopsia) normal
- Lesões nas junções - Sinais de encefalopatia
ANEMIA DE DOENÇA mucocutâneas? hepática
CRÔNICA e ANEMIA FERROPRIVA
INFLAMAÇÃO - Gengivite, estomatite, - Náusea e vômito
glossite, faucite - Regurgitação
• Ferro sérico baixo • Ferro sérico baixo - Doença periodontal? - Disfagia
• Ferritina normal ou • Ferritina baixa
aumentada • Transferrina alta - Glândulas salivares?
• Transferrina baixa • Há falta de ferro (de-
• Não há falta verda- vemos suplementar
deira de ferro (não com ferro) Pontos importantes:
devemos suplementar ■ Anamnese completa e detalhada
com ferro, e sim tratar ■ Exame físico minucioso
a causa de base)
■ Sinais de doença sistêmica

■ Portanto, o paciente tinha uma anemia ferropriva!

2.2 CASO CLÍNICO 2:

■ Canino, Boxer, 1 ano, 26 kg

Queixa principal: Está salivando muito, fica parado e começa


a escorrer saliva no cantinho da boca.
» Também relata que aparentemente está comendo menor,
acha que perdeu “medidas”, aparece mais cintura, mas tem
outro cãozinho junto, difícil mensurar de fato quem está
comendo mais.

■ Salivação excessiva = sialorreia / ptialismo

■ Seguindo a anamnese, cão devidamente imunizado,


■ Anemia leve, normocítica hipercrômica
everminado, super bem cuidado. Come ração linha Super
» Lembrando que a hipercromia não existe, então ela
premium e por vezes adicionam carne na ração.
apareceu provavelmente por hemólise pré-analítica
■ Teve contato com carrapato há uns 6 meses, achou 1, mas
■ Trombocitopenia importante (severa) – abaixo de 25.000
desde então usa ectoparasiticidas regularmente. O
» Porém há presença de agregação plaquetária leve
contactante (outro Boxer) não tem nenhum sintoma.
» Considerar hemoparasitoses (histórico de carrapato)
» Foi encontrado um carrapato no exame físico!

Exame físico:
■ TR = 38,1 °C
■ FC = 84 bpm
■ FR = 20 mpm
■ PAS = 110 mmHg
■ Mucosas normocoradas
■ Sem alterações na ausculta cardiopulmonar
■ Palpação abdominal sem alterações
■ Inspeção da cavidade oral sem alterações
■ Linfonodos sem alterações
■ Desconforto leve à palpação abdominal (prof. suspeitou que
o baço pudesse estar aumentado)
» Esplenomegalia piorou no retorno (após 48 horas)

■ Solicitamos hemograma e bioquímica sérica para triagem


■ Bioquímica sérica estava normal, então não era por doença
Plano diagnóstico – ptialismo / sialorreia: renal ou hepática
Diagnóstico: babesiose

■ A Babesia causa uma doença primariamente hemolítica, por


isso é esperada uma anemia regenerativa. Porém, o corpo
leva de 1 a 4 dias para ter o pico de regeneração. Então como
o tutor era muito cuidadoso, o animal chegou para consulta
rapidamente, e não tinha uma anemia grave secundária à
Babesia

■ Diante do resultado positivo para babesiose, foi iniciado o


tratamento com Imidocarb, associado à doxiciclina (não foi
feito PCR nem 4Dx para Ehrlichia)
» Após 24 horas o animal voltou a comer normalmente e a
sialorreia cessou. Provavelmente a sialorreia era secundária à
náusea

Instagram: @raciocinioclinico_vet
YouTube: Raciocínio Clínico Vet

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