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UMA CEGUINHA MÁRTIR,

DA FÉ E DA PUREZA.

No tempo das ferozes perseguições romanas contra os cristãos, a modéstia nos


vestidos e nas modas, traía as jovens cristãs, que eram levadas perante os
tribunais, onde além do cândido lírio da virtude se pretendia roubar-lhes o
precioso tesouro da fé.

Havia no tempo de Galérico, uma pobre donzela ceguinha, mas distinta pela
caridade e mansidão. Enquanto todos lhe lamentassem a cegueira, ela agradecia
a Deus essa doença, porque dizia, via com uma luz mais clara e brilhante do que
o sol. Trajava humildemente, e o vestido remendado de mendiga era-lhe apenas a
guarda do pudor. Presa por suspeita de ser cristã, foi a pobrezinha levada à
presença do prefeito Têntulo, que em vão se esforçou por fazê-la apostatar e
sacrificar às divindades. Como nada conseguisse, mandou Têntulo ao verdugo,
que deitasse a virgem sobre um cavalo de madeira, em que se torturavam os
condenados, e lhe estendesse os braços por cima da cabeça. Ouviu-se o ranger
dos ossos da criança. Era a tortura que começava. Cobriu-se-lhe o rosto de
palidez mortal; moveu os lábios, mas não se lhe ouviu queixa nem gemido. Todos
os rostos refletiam a compaixão pela menina, mas por medo do prefeito ninguém
protestava.

– Então, já sabes o que é dor?

– interrogou Têntulo. Adora os deuses e não sofrerás mais.

– Agradeço-Vos, meu Deus, respondeu a menina, por me permitirdes sofrer por


vossa fé. Amo-Vos, amo-Vos, cada vez mais, ó Esposo de minha alma; e neste leito
de dor são para Vós todos os meus pensamentos e afetos.

– Irritado, gritou o prefeito: “Verdugo, queima-lhe as costas”.

Era este um suplício muito em voga naquele tempo. Uma onda de sangue tingiu
as faces da virgem ao lembrar-se que iam despi-la publicamente. Cheia de
angústia e santo pudor exclamou:

– “Meu Deus, esposo de minha alma, sofrerei por Vós todas as dores, todos os
martírios; mas poupa-me a vergonha de ser despida publicamente.

Aproximou-se o verdugo de tocha acesa para cumprir as ordens recebidas e viu


que a menina não fazia o mínimo movimento. Morrera de vergonha, desta
vergonha cristã que é um dos mais belos encantos da alma feminina. Morrera
daquela vergonha, hoje tão rara em nossas donzelas e até senhoras, mães de
família, infelizes escravas da moda, cujas imodéstias são a perda de tantas
almas. – M. S. – Agosto de 1950.
Fonte: Rev. Pe. Geraldo Vasconcellos, “Lições Edificantes”, Coleções de Trechos
escolhidos de Revistas, Livros e Jornais, Cap. VII – Pela Modéstia Cristã, p. 371-
372. Gráfica Cerbino, Niterói/RJ, 1951.

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