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DA FÉ E DA PUREZA.
Havia no tempo de Galérico, uma pobre donzela ceguinha, mas distinta pela
caridade e mansidão. Enquanto todos lhe lamentassem a cegueira, ela agradecia
a Deus essa doença, porque dizia, via com uma luz mais clara e brilhante do que
o sol. Trajava humildemente, e o vestido remendado de mendiga era-lhe apenas a
guarda do pudor. Presa por suspeita de ser cristã, foi a pobrezinha levada à
presença do prefeito Têntulo, que em vão se esforçou por fazê-la apostatar e
sacrificar às divindades. Como nada conseguisse, mandou Têntulo ao verdugo,
que deitasse a virgem sobre um cavalo de madeira, em que se torturavam os
condenados, e lhe estendesse os braços por cima da cabeça. Ouviu-se o ranger
dos ossos da criança. Era a tortura que começava. Cobriu-se-lhe o rosto de
palidez mortal; moveu os lábios, mas não se lhe ouviu queixa nem gemido. Todos
os rostos refletiam a compaixão pela menina, mas por medo do prefeito ninguém
protestava.
Era este um suplício muito em voga naquele tempo. Uma onda de sangue tingiu
as faces da virgem ao lembrar-se que iam despi-la publicamente. Cheia de
angústia e santo pudor exclamou:
– “Meu Deus, esposo de minha alma, sofrerei por Vós todas as dores, todos os
martírios; mas poupa-me a vergonha de ser despida publicamente.