Você está na página 1de 35

Currículo, Didática e Práticas

Avaliativas do Ensino e da
Aprendizagem
1. Concepção de Conhecimento, Didática e Prática
de Ensino na Nova Proposta 4
Historicidade 4
Novas Concepções 9

2. Características do Trabalho Docente 13

3. Organização do Trabalho Docente e os Fundamentos


do Planejamento 23

4. Dubet Entre Docentes 29

5. Referências Bibliográficas 34

02
03
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

1. Concepção de Conhecimento, Didática e Prática


de Ensino na Nova Proposta

Fonte: Veja1

Historicidade universal de lecionar tudo a todos,


assim, de ensinar a forma correta,
Jan Amos Comenius (1592- para alcançar resultados, de lecionar
1670), na obra Didática Magna
(1651) relata as primeiras inter- de forma simples, deste modo sem
pretações a respeito da didática que educadores e educandos se mo-
como a “arte de ensinar”. Co- lestem ou abespinham-se, entretan-
menius (1651) reconhece o di-
reito à educação e a importân- to, ao contrário, passem a ter uma
cia da Didática em relação ao grande alegria, seja em lecionar de
ensino e ao aprendizado na vida forma sólida, não de modo superfi-
de todo ser humano (apud,
BARBOSA E FREITAS, 2018). cial, de qualquer forma conduzindo
por meio da verdadeira cultura, aos
Olhando a distinção entre o bons costumes, a uma comiseração
ensinar e o aprender, vale apena ar- mais profunda.
ticular que nós ousamos assegurar Vejamos que a didática é pro-
uma didática magna, isto é, uma arte tegida e estudada há muito tempo

1 Retirado em http://veja.abril.com.br

4
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

por díspares teóricos, estudiosos e arte de ensinar marcharam dando


autores que procuravam identificar ênfase no ensino e a aprendizagem,
e debater sobre as diversas técnicas da transmissão de informações pelo
e metodologias de ensino existentes, docente para a direção de atividades
que teriam como um excepcional para estimular o aforismo e a refle-
fim o aperfeiçoamento da educação. xão do aluno, da importância de pla-
nejar contingentes de reforço, com o
Damis (1988, p. 13), relata a desígnio de conseguir adquirir ma-
evolução da Didática em para-
neiras específicas de comportamen-
lelo com a história da educação
quando diz: Desde os jesuítas, tos, para regular ensinamentos e de-
passando por Comênio, Rous- senvolver aptidões nos alunos.
seau, Herbart, Dewey, Snyders,
Paulo Freire, Saviani, dentre
outros, a educação escolar per-
correu um longo caminho do
ponto de vista de sua teoria e
prática. Vivenciada através de
uma prática social específica - a
pedagogia -, esta educação or-
ganizou o processo de ensinar-
aprender através da relação
professor aluno e sistematizou
um conteúdo e uma forma de
ensinar (transmitir-assimilar) o
saber erudito produzido pela
humanidade. Encontramos na
histórica da educação períodos
em que se difundiram novas
tendências educacionais que fi-
Fonte: http://pt.slideshare.net
caram conhecidas como Teo-
rias de Ensino; entre elas cabe
ressaltar a Pedagogia Tradicio- Finalmente, o entendimento
nal, a Pedagogia Renovada, a lançado sobre a ação de lecionar ca-
Pedagogia Tecnicista e a Peda-
gogia Crítica. Fazer um paralelo minhou, historicamente, dentro do
da Didática com estas teorias se contexto de priorizar ora um ora ou-
faz necessário, uma vez que a tro componente que compõe o ato de
sua historicidade ocorreu em
conjunto com os acontecimen- lecionar. A Pedagogia Tradicional
tos de cada período em que a desponta um momento em que a
educação se desenvolveu (apud,
educação era especialmente de cu-
BARBOSA E FREITAS, 2018).
nho religioso, que tinha como desíg-
Desse modo, historicamente, nio o trabalho de transcender a pes-
os conhecimentos adquiridos na soa para trazer o melhor de si.

5
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Importância da didática no dia a dia e na sala de aula

Fonte: http://blog.maxeduca.com.br

Pedagogia Sua ênfase de ensino era de so- (1989, p. 44), nesta concepção
tradicional brepor a teoria à prática, o que “a Didática é compreendida co-
colocava o professor como cen- mo um conjunto de regras vi-
tro do ensino, “detentor do sa- sando assegurar aos futuros
ber” e onde o foco era a exposi- professores as orientações ne-
ção mecânica do conteúdo, con- cessárias ao trabalho docente”,
siderado por vezes enciclopédi- que “separa teoria e prática,
co. Além do mais, os conteúdos sendo a prática vista como apli-
eram separados das experiên- cação da teoria, e o ensino como
cias do cotidiano dos alunos e forma de doutrinação”. Esta
não estavam de acordo com as concepção ainda influência de
realidades sociais. Para Veiga maneira direta e/ou indireta a

6
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

forma de ensinar de muitos do- gistério, o docente termina por con-


Pedagogia centes. A Pedagogia Renovada
centrar o seu ideário.
Renovada ficou conhecida também como
Escola Nova, que tinha como
O professor ideal educativo o “aprender a A Pedagogia Tecnicista “se es-
como atuante trutura na teoria da aprendiza- Pedago
secundário aprender” partindo do pressu-
gem behaviorista orientada por gia
somente em posto de que o importante é a Tecnici
casos extemos aquisição do saber o que muitas objetivos instrucionais pré-de- sta
de intervenção. vezes desqualifica o saber em si. finidos e tecnicamente elabora-
O conhecimento De acordo com Veiga (1989, p. dos” (Veiga, 1989, p. 58). A ela
provindo da 52), na Pedagogia Renovada a cabe o termo “aprender a fazer”
ciência, à partir uma vez que o produto final do
da observação
Didática era vista: [...] como um
do mundo, mas conjunto de ideias e métodos, ensino é mais importante do
não das privilegiando a dimensão téc- que o aluno e o professor. Como
limitações nica do processo de ensino, fun- afirma Veiga (1989, p. 60-61):
sócio-economico- damentados nos pressupostos O enfoque do papel da Didática
poliíticas psicológicos ou pedagógicos e a partir dos pressupostos da Pe-
experimentais, cientificamente dagogia Tecnicista procurou
validados na experiência e desenvolver uma alternativa
constituídos em teoria, igno- não-psicológica, situando-se no
rando o contexto sócio-político- âmbito geral da Tecnologia
econômico (apud, BARBOSA E Educacional, tendo como preo-
FREITAS, 2018). cupação básica a eficiência e a
eficácia do processo de ensino.
[..] o processo é que define o
Note que o conteúdo era flexí- que professores e alunos devem
vel, aberto e espontâneo, pois provi- fazer, quando e como farão. [..]
nha do conhecimento ordinário para Enfim, a Didática é concebida
como estratégia para o alcance
alcançar ao conhecimento científico. dos produtos previstos para o
O papel do docente era o de mero se- processo ensino-aprendizagem
cundário se indispensável fosse de- (apud, BARBOSA E FREITAS,
2018).
terminada intervenção, e esta era
para auxiliar o educando a reencon- Desse modo, a função da insti-
trar seu raciocínio. tuição escolar é de produzir sujeitos
Note que diversos educadores para o mercado do trabalho, e ao do-
ainda lecionam sob forte influência cente termina por ter a responsabili-
desta tendência pedagógica, visto dade de comunicar as matérias, logo
que é disseminada nas faculdades considerando por especialista como
nos cursos de licenciatura. Assim, um “um ritual vazio”, que aplica o
por conta da predominância da in- sistema de instrução que lhe é ante-
fluência da Pedagogia Nova também cipado com o objetivo de garantir
na legislação educacional e nos cur- além disso o apropriado controle no
sos de desenvolvimento para o ma- comportamento mediante da instru-
ção.

7
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Logo, a Pedagogia Crítica em que professores e alunos se


Pedagogia tornem agentes críticos que
crítica aprecia a escola sendo parte inte-
questionem ativamente e nego-
grante um contexto social dentro de ciem a relação entre teoria e
um todo, que procura a mudança da prática, entre a análise crítica e
o senso comum e entre a apren-
sociedade por meio da democracia. dizagem e a transformação so-
Onde ela se recupera a unidade da cial. Os conteúdos ensinados
atividade educacional no interior do aos alunos são indissociavel-
mente a realidade do meio so-
exercício social pronunciando seus cial em que estes indivíduos es-
fatores teóricos e materiais que se tão inseridos, o que dá signifi-
sistematizam na pedagogia arquite- cado real, humano e social ao
que é ensinado. Saviani (1983,
tada, do mesmo moto, como teoria e p. 83), destaca que a perspecti-
prática do ensino. va da Pedagogia Critica “aponta
na direção de uma sociedade
Em Giroux (2005, p. 135), va- em que esteja superado o pro-
mos encontrar o seguinte escla- blema de divisão do saber”. Na
recimento sobre a Pedagogia Pedagogia Crítica encontramos
Crítica: Está no âmago da pró- uma Didática preocupada com
pria definição de pedagogia crí- o trabalho docente, com a tarefa
tica a vontade coletiva de refor- do ensino e com a aprendiza-
mar as escolas e de desenvolver gem do aluno (apud, BARBOSA
modos de prática pedagógica E FREITAS, 2018).

Fonte: Slide share

8
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Note que ainda, podemos en- científica, práticas pedagógicas e no


contrar o consequente esclareci- assunto de ensino-aprendizagem
mento sobre a Didática Crítica: a neste novo panorama.
qual procura superar o intelectua- Desse modo, criou-se a obriga-
lismo, protocolar do enfoque tradici- ção de constituição de experiências
onal, impedir as implicações do es- que, logo, proporcionem o espaço
pontaneísmo escola novista, arguir a para práticas e reflexão dos seguin-
orientação desmobilizadora do tec- tes princípios:
nicismo e readquirir os exercícios
designadamente pedagógicos, des- a) educação como totalidade: a
partir do paradigma emergente,
prestigiadas adquirido pelo discurso
a experiência ancora-se no re-
reprodutivista. conhecimento do conhecimen-
to não dualista, que se funda na
A Didática comprometida pro- superação das distinções, tais
cura compreender e analisar a como natureza/cultura, natu-
realidade social onde está inse- ral/artificial, vivo/inanimado,
rida a escola. Em síntese, esta mente/matéria, razão/emoção,
trajetória da Didática na busca observador/observado, subjeti-
pela ressignificação, se apre- vo/objetivo, coletivo/indivi-
senta com características diver- dual, animal/pessoa, etc. Este
sas, de acordo com os momen- relativo colapso de distinções
tos históricos, políticos e soci- dicotômicas repercute nas dis-
ais. Inspirada pelas mais diver- ciplinas científicas que sobre
sas correntes, tendências e con- elas se fundaram (Santos, B. S.,
cepções pedagógicas, ainda é 2000, p. 40). No paradigma
influenciada até os dias atuais, emergente, o conhecimento é
uma vez que a história humana total, tendo como horizonte a
não para de reescrever-se e o totalidade universal. De natu-
conhecimento renova-se a cada reza sistêmica, este novo enten-
momento (apud, BARBOSA E dimento sobre a ciência procu-
FREITAS, 2018). ra desfazer as armadilhas da se-
paração das ciências físicas das
humanas e sociais (da Física ou
Novas Concepções Química da Psicologia, Sociolo-
gia ou Biologia, por exemplo),
Em implicação do desafio já buscando alargar os horizontes
da compreensão e integrar tudo
demonstrado, ainda está assentada aquilo que não tem como existir
no horizonte da evolução do projeto desintegradamente. No PPP da
UFPR Litoral, a educação como
a precisão de desenvolvimento de
totalidade está anunciada da
práticas de ensino que versem, espe- seguinte forma: Entende a for-
cifiquem e concretizem a ruptura mação educacional como uma
totalidade concreta, que se dá
epistemológica apregoada em corre-
no conjunto das relações sociais
lação às concepções de informação e que se desenvolve a partir das

9
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

contradições que lhes dão mo- jetivo, observador/observado,


vimento, portanto, não tem etc, de maneira dinâmica, e não
existência em si, mas somente a separando um elemento do ou-
partir da produção social de tro, apresenta também a indis-
seus sujeitos [...] no conjunto sociabilidade entre teoria e prá-
das relações sociais do mundo tica. Por esse caminho conse-
presente (UFPR, 2008a, p. 9- gue compreender a realidade de
12) (apud, TREVISAN, 2018). maneira dinâmica e do ponto
de vista da totalidade concreta
em que se estabelecem as rela-
De acordo com o que vimos,
ções entre as pessoas e o conhe-
esse modelo proposto está afinado cimento na sociedade (apud,
com uma compreensão de currículo TREVISAN, 2018).
fundamentado no enfoque Herme-
nêutico-Deliberativo e, especial- Desse jeito, a proposta busca
mente, Sócio Crítico. sobrepujar um tipo de ensino dog-
mático atormentado por alcançar
Ao enfatizar a natureza sistêmi- respostas e não levar o educando a
ca do conhecimento, isto é, a re- pensar ou perguntar, bem como é
lação todo/parte, subjetivo/ob-
ironizado na charge a seguir:

Menino questiona o ensino dogmático, preocupado em dar respostas prontas

Fonte: Autores (2018)

Afora, esta proposta exibe de e na ética, capaz de transfor-


mar a realidade. Segundo o
também as seguintes características:
PPP, A organização da forma-
ção docente, ao privilegiar a in-
a) interdisciplinaridade das vestigação/ação por meio dos
áreas do conhecimento/forma- projetos de aprendizagem pos-
ção profissional integral: enten- sibilita ao educando o exercício
de-se viável a partir da forma- da construção da leitura da rea-
ção discente pautada na crítica, lidade concreta. Esse exercício,
na investigação, na proativida- mediado pelos espaços dos fun-

10
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

damentos teórico-práticos e das


interações culturais e humanís-
ticas, no diálogo com seus pa-
res, professores e o meio social,
vai construindo as condições
objetivas viabilizadoras de sua
autonomia, aqui entendida co-
mo um processo emancipatório
(UFPR, 2008a, p. 9-12; apud;
TREVISAN, 2018).

Notamos que nesta proposta


estão coevos as diversas característi-
cas inovadoras de um currículo
exemplar emergente ou que propor-
cione autonomia, na medida em que
estabelece um desenho de justaposi-
ção em meio a teoria e prática e que
pondera a totalidade concreta e a in-
terdisciplinaridade como compo-
nentes relevantes.

11
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

2. Características do Trabalho Docente

Fonte: Prova Fácil Web2

E ntender a profissão de educa-


dor implica envolver a com-
plexidade do processo de ensino-
do trabalho educador o aspecto de
ser um trabalho interativo.

aprendizagem, que compõe o cen- O ensino dirige-se a seres hu-


manos que são ao mesmo tem-
tro. O ensino é um exercício social po seres individuais e sociais.
concreto, diligente, multidimensi- Segundo Tardif (2002), o ob-
onal, interativo, sempre incomum jeto do trabalho docente são os
seres humanos que possuem
e aperiódico. características peculiares. O(A)
É um procedimento que sofre professor(a) trabalha com su-
jeitos que são individuais e he-
implicações de fatores econômicos,
terogêneos, têm diferentes his-
culturais, psicológicos, técnicos, tórias, ritmos, interesses neces-
políticos, éticos, estéticos, institu- sidades e afetividades. Isso tor-
na as situações de ensino com-
cionais, afetivos. Podemos avultar plexas, únicas, imprevisíveis e
como uma primeira propriedade incabíveis em generalizações ou

2 Retirado em http://provafacilnaweb.com

13
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

esquemas pré-definidos de A título de exemplo, o docente


ação. Além de individual o ob-
precisa trabalhar com grupos (mul-
jeto do trabalho docente é tam-
bém social. Sua origem de clas- tidisciplinar), entretanto ainda tem
se e seu gênero o expõem a di- de se dedicar aos alunos; precisa le-
ferentes influências e experiên-
cias que repercutem em sala de
cionar sua matéria, conforme os alu-
aula provocando diferentes rea- nos conseguem compreender, pois,
ções e expectativas no(a) pro- cada um vai assimilá-la de forma
fessor(a) e alunos(as). Neste
sentido, Tardif (2002, p. 130)
muito diferente; necessita, desse
nos alerta que “o objeto do tra- modo, agradar aos estudantes, en-
balho docente escapa constan- tretanto sem que isso se decompo-
temente ao controle do traba-
lhador, ou seja, do professor.”
nha em favoritismo; precisa motivá-
Outra característica destacada los, sem paparicá-los; carece aferi-
pelo autor é a dimensão afetiva los, sem abandoná-los, etc.
presente no ensino que pode
funcionar como elemento facili- Lecionar é, assim sendo, reali-
tador ou bloqueador do pro- zar escolhas firmemente em plena
cesso de ensino aprendizagem influência mútua com os alunos.
(apud, PASSOS, s/a).
Ora, essas escolhas estarão sujeitas a
experiência dos docentes, de seus
Logo, uma grande parte do
conhecimentos, bem como suas con-
trabalho educador é de cunho afe-
vicções e culturas, de seu compro-
tuoso, emocionalmente. Funda-
misso com o que realizam, de seus
menta-se em sentimentos, em afei-
aspectos a respeito dos estudantes e,
ções, na competência não apenas
concomitantemente, dos próprios
no pensar dos educandos, todavia
educandos.
ao mesmo tempo de perceber e
compreender suas emoções, seus Por ser um trabalho interativo o
medos, suas exultações, seus pró- ensino exige um investimento
pessoal do(a) professor(a) para
prios bloqueios sentimentais.
garantir o envolvimento do(a)
aluno(a) no processo, para des-
(Tardif, 2002, p. 130) Segundo pertar seu interesse e participa-
o autor citado, pelas peculiari- ção e para evitar desvios que
dades do objeto de trabalho do- possam prejudicar o trabalho. É
cente a prática pedagógica por esse motivo que Tardif
dos(as) professores(as) consis- (2002) afirma que a personali-
te em gerenciar relações sociais, dade do(a) professor(a) é um
envolve tensões, dilemas, nego- componente de seu trabalho, o
ciações e estratégias de intera- que ele denomina de trabalho
ção (apud, PASSOS, s/a). investido, ou seja, no desempe-

14
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

nho de seu trabalho o(a) profes- que trabalhando com grupos, logo, o
sor(a) empenha e investe o que
docente não pode deixar de alcançar
ele(a) é como pessoa. Aquilo
que nos parece ser a caracterís- os as pessoas.
tica do trabalho investido ou vi-
vido é a integração ou absorção Segundo Tardif (2002, p. 146),
da personalidade do trabalha- esse problema nunca é resol-
dor no processo de trabalho vido de maneira satisfatória do
quotidiano enquanto elemento ponto de vista ético, pois “os
central que contribui para a re- professores nunca podem aten-
alização desse processo. (...) der às necessidades singulares
Nesse tipo de atividade, a per- de todos os alunos assumindo
sonalidade do trabalhador, suas padrões gerais de uma organi-
emoções, sua afetividade fazem zação de massa” (apud, PAS-
parte integrante do processo de SOS, s/a).
trabalho: a própria pessoa, com
suas qualidades, seus defeitos,
sua sensibilidade, em suma, tu- Cada docente segue no seu dia
do o que ela é, torna-se, de certa a dia as próprias estratégias de aten-
maneira, um instrumento de
trabalho. Nesse sentido ela é
dimento diferenciado, de repartição
um componente tecnológico da atenção e acompanhamento de
das profissões de interação. seus educandos, jazendo sempre
Essa tecnologia emocional é re-
presentada por posturas físicas,
atento a essa articulação entre o in-
por maneiras de estar com os dividual e o coletivo.
alunos. (Tardif, 2002, p. 142; Outro assunto ético exibido
apud, PASSOS, s/a).
pela autora menciona-se a maneira
como o docente torna a ciência a ser
Logo, o autor distingue tam-
trabalhada acessível ao educando. O
bém a dimensão ética do trabalho
docente possui uma propriedade de
docente que submerge assuntos co-
conhecimentos diferente dos estu-
mo relações de poder, juízos de va-
dantes, a maneira como interatua
lor, opções, veemências, direitos e
com eles ao trabalhar esse conheci-
privilégios. O primeiro assunto ético
mento que submerge um problema
que o autor ergue diz respeito a um
ético para cujo nem sempre exone-
fator já referido antes, ao aspecto
ramos a devida atenção.

15
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Fonte: http://usandoticsnaeducacao.wordpress.com

As características apresentadas seu trabalho, nos quais profes-


permitem perceber o grau de sores e professoras lidam com
complexidade que envolve o de- relações interpessoais que são
senvolvimento do trabalho do- sempre únicas eivadas de as-
cente, e compreender porque pectos afetivos, valorativos, psi-
não se encaixa em saberes está- cológicos. Interferem nessas re-
veis, sistemáticos e instrumen- lações elementos que perpas-
tais, automaticamente aplica- sam a existência de cada um
dos às situações de ensino dos indivíduos que participam
aprendizagem. Entretanto o do grupo: culturais, familiares,
exercício da profissão docente religiosos, econômicos, experi-
exige o domínio de determina- ências vividas, diferentes for-
dos saberes, é sobre estes que mas de ser e estar no mundo e
trataremos a seguir: Os Saberes interesses diversos formando,
Docentes no desempenho de assim, uma intrincada teia de

16
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

interações. Não podendo contar gumenta que este é um saber


com um conjunto de saberes es- experiencial que o(a) professor
táveis, instrumentais que lhes (a) vai construindo, mobilizan-
auxilie no desenvolvimento de do, elaborando ao longo de sua
sua prática, que envolve ques- vivência profissional no enfren-
tões de imensa complexidade, tamento das situações e proble-
incerteza e singularidade, os mas cotidianos. É um saber in-
(as) professores(as) apoiam-se terativo porque elaborado no
em suas experiências pessoais e âmbito de interações com os
profissionais, nas suas crenças outros sujeitos envolvidos no
e valores, criam, improvisam e processo de ensino-aprendiza-
constroem saberes no enfrenta- gem. É também um saber plural
mento de situações únicas que já que não se fundamenta num
exigem decisões e encaminha- “repertório de conhecimentos
mentos únicos (apud, PASSOS, unificado e coerente, mas sobre
s/a). vários conhecimentos e sobre
um saber fazer que são mobili-
zados e utilizados em função
Note que a competência do
dos contextos variáveis e con-
educador não é tanto uma técnica tingentes da prática profissio-
circunspeta por uma série de treinos nal.” (Tardif, op. cit. p. 109).
Neste sentido o saber docente
fundamentadas em conhecimentos mobiliza diversas fontes de di-
concretos ou na experiência e nem ferentes espaços e tempos, sem-
um simples descobrimento pessoal. pre aberto e inacabado, conti-
nuamente reconstruído a partir
O docente não é um especialis- de novos conhecimentos, novas
ta nem tanto um improvisador, en- experiências e novas necessida-
tretanto sim um profissional que des. É um saber, segundo o au-
tor citado, existencial ligado,
pode empregar o seu conhecimento não apenas às experiências pro-
junto a sua experiência e trabalhar fissionais, mas também à histó-
dentro dos contextos pedagógicos ria de vida do(a) professor(a)
seu jeito de ser e de agir, sua
com objetivos pré-existentes. identidade. Nas palavras do au-
Essa abrangência desvirtua a tor: Os saberes experienciais
conclusão, como já demonstrado an- estão enraizados no seguinte
fato mais amplo: o ensino se de-
teriormente, que o trabalho na do- senvolve num contexto de múl-
cência é, em grande parte, confirma- tiplas interações que represen-
do por aquilo que o docente é en- tam condicionantes diversos
para a atuação do professor. Es-
quanto pessoa, pela maneiro como ses condicionantes não são pro-
ajuíza, opera seus valores, sua expe- blemas abstratos como aqueles
riência e sua individualidade. encontrados pelo cientista, nem
problemas técnicos, como
aqueles com os quais se depa-
Buscando caracterizar os sabe- ram os técnicos e os tecnólogos
res docentes, Tardif (2002) ar- (Apud, PASSOS, s/a).

17
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Vejamos que se tratando de contar com um referencial teó-


rico para fundamentar sua prá-
um cientista e o técnico, ambos tra-
tica pedagógica. Sacristán
balham a partir de exemplos e seus (1991, p. 87) lembra que “A ca-
condicionantes derivam da aplica- pacidade operativa do conheci-
mento e da investigação peda-
ção ou da preparação desses mode- gógica na prática depende da
los. possibilidade de o conhecimen-
Logo, em seu trabalho cotidi- to ampliar a consciência dos
problemas educativos e dos
ano em seu cargo, os condicionantes modelos alternativos.” (Apud,
aparecem conexos a circunstâncias PASSOS, s/a).
concretas que não são passíveis de
acepções bem delineadas e que de- Logo, a fundamentação teóri-
mandam improvisação e desenvol- ca, se em esmera na interação com a
tura pessoal, assim como a compe- prática começando pela reflexão sis-
tência de enfrentar circunstâncias temática sobre os acontecidos, o
mais ou menos efêmeras e mutáveis. qual oferecerá subsídios para expan-
Desse modo, lidar com condi- dir as probabilidades de atuação re-
cionantes e circunstâncias é o que fletida do docente. Assim a conexão
permite aos educadores desenvolver entre a teoria e prática estruma, en-
os hábitos (ou seja, certas disposi- rica e oferece informações para a su-
ções alcançadas na e pela prática le- peração da ação docente.
gítima), que lhe possibilitarão preci- Logo, todo conhecimento ad-
samente enfrentar os condicionan- quirido não será meramente acadê-
tes e misteriosos da profissão. mico, lógico, feito de aspectos, rudi-
mentos e teorias, como ainda não é
Os hábitos podem transformar- um conhecimento formado somente
se num estilo de ensino, em por experiência. É uma ciência que
“macetes” da profissão e até
mesmo em traços da “persona- versa em administrar a informação
lidade profissional”: eles se ma- disponível e ajustá-la taticamente ao
nifestam, então, através de um contexto da circunstância formativa,
saber-se e de um saber-fazer
pessoais e profissionais valida- em que pese, cada instante, se põe
dos pelo trabalho cotidiano. sem perder de vista os desígnios de-
(Tardif, 2002, p. 49). Compre-
lineados.
ender o ensino como prática so-
cial, vivenciada a partir de inte-
rações pessoais, significa reco- É um saber agir em situação.
nhecer que sua abordagem não Mas não se fique com uma ideia
se limita a um conhecimento pragmático funcionalista do pa-
preciso, objetivo e instrumen- pel do professor na sociedade,
tal. Isso não quer dizer que a porque o professor tem que ser
profissão docente não possa um homem ou uma mulher, ser

18
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

pensante e crítico, com respon- fissão docente, não se descola


sabilidades sociais no nível da da subjetividade do(a) profes-
construção e do desenvolvi- sor(a), Nóvoa (1997) reforça a
mento da sociedade. (Alarcão, necessidade da formação do(a)
1998, p. 104). Pelas caracterís- professor(a) encontrar espaços
ticas apresentadas, percebemos de interação entre as dimensões
que o trabalho docente se carac- pessoal e profissional (apud,
teriza pela pluralidade de sabe- PASSOS, s/a).
res e experiências para seu de-
sempenho. Nossa ação docente
Ao desconhecer essa influên-
se confunde com aquilo que so-
mos. Ao se referir à cultura pro- cia mútua, os cursos cujo objetivo é
fissional docente como um te- formar professores terminam não
cido de muitos fios, uma cultura
plural, Arroyo (2000:199) afir-
conseguindo executar esse processo
ma que ser professor(a) “se de formação. Logo, o desenvolvi-
mistura com o que se pensa, mento pessoal é indispensável assim
sente, com autoimagens, com
possibilidades e limites, com
como o desenvolvimento profissio-
horizontes humanos possíveis nal, bem como nas instâncias forma-
como gente e como grupo social tivas que possuem espaços a serem
e cultural.” Levando em consi-
deração que o exercício da pro-
abertos para essa compreensão.

Fonte: Slide share

19
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Logo, a formação não se arqui- Logo, essas reflexões aqui exi-


teta por acúmulo (de certificados, de bidas possibilitam asseverar que
conhecimentos ou de técnicas), to- para ser educador não é suficiente a
davia, por meio de um trabalho de propriedade de um determinado
reflexivo e autocrítica sobre as práti- conteúdo. Esse entender reducio-
cas e de reconstrução constante de nista da profissão educador assinala
uma identidade individual. para determinadas dificuldades pe-
dagógicas que separaremos a seguir.
Por isso é tão importante inves-
tir a pessoa e dar um estatuto ao Note que o processo de ensi-
saber da experiência. (Nóvoa, no-aprendizagem é pensado como
1997, p. 25). O saber que o(a) adstrito à exibição de um determina-
professor(a) utiliza no desem-
penho de sua profissão tem do contexto. A prática educadora
uma especificidade que exige torna-se enrijecida, repetitiva, des-
uma formação inicial e continu- motivante, invariável. O método em-
ada, não é uma profissão que
possa se improvisar. Conforme pregada fundamenta-se na exposi-
vimos até aqui, mesmo base- ção-assimilação da matéria, sem lu-
ando-se em experiências e em gar para uma participação mais al-
conhecimentos práticos, outros
conhecimentos interagem na tiva do estudante e para aperfeiçoar
forma como o(a) professor(a) o desenvolvimento de competências
desenvolve sua ação e enfrenta mentais, desenvolturas, competên-
as questões cotidianas de sua
profissão (apud, PASSOS, s/a). cias, estimas, reflexões e outras
aprendizagens indispensáveis para a
Desse modo, a autora menci- formação do indivíduo.
ona quatro maneiras de encarar a
educação como trabalho profissio- As relações professor(a) alu-
nal: no(a) tendem a ser difíceis, hie-
rarquizadas, marcadas pela au-
 O ensino como ofício compos- sência de diálogo, elemento
to de saberes práticos adquiri- fundamental num processo for-
dos pela experiência; mativo essencialmente intera-
 O ensino como uma derivação tivo. A avaliação limita-se a um
processo de atribuição de notas.
do conhecimento, isto é, como Reduzindo o processo de ensi-
aplicação de uma ciência; no-aprendizagem à mera trans-
 O ensino como uma arte que missão de conteúdo, o(a) pro-
exprime a criatividade indivi- fessor(a) deixa de perceber seu
dual de quem o realiza; papel e do conhecimento traba-
lhado na totalidade da forma-
 O ensino como um empenha- ção do(a) aluno(a), assim como
mento moral, sublinhando a sua relação com o contexto so-
dimensão ética da atividade cial, assumindo um caráter fra-
docente (apud, PASSOS, s/a). gmentado e pouco significativo.

20
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Os aspectos afetivo e ético não no e dos saberes mobilizados


são considerados como partes para o exercício da profissão.
integrantes do processo. O(a) Buscou-se enfatizar o caráter
professor(a) não toma consci- multidimensional, dinâmico e
ência que ao desenvolver sua imprevisível do ensino para cu-
ação ela não está circunscrita à ja abordagem não é suficiente
apresentação dos conteúdos da um saber técnico-instrumental,
disciplina. Sua postura, sua for- teórico que pode ser aplicado a
ma de se relacionar com o co- situações modelo (apud, PAS-
nhecimento que trabalha, com SOS, s/a).
a docência e com os estudantes,
seus valores, seus interesses e
Por fim, ao contrário do ensi-
gostos são também elementos
formadores (apud, PASSOS, nado, trabalhar com o ensino de-
s/a). manda um saber pluralizado, atem-
poral, interativo, em fido processo
Logo, o trabalho educador de construção, estabelece do docen-
abordado dessa maneira deslum- te o poder de articulação das díspa-
brada deixa de ser olhado em sua di- res instâncias de seu saber, de seu
namicidade, em constante desenvol- conhecimento profissional e indivi-
vimento, em interação com as várias dual.
instâncias, sempre incomum e ape-
riódico, demandando, deste modo,
um método de reflexão fido para
uma vestida de consciência em sua
complexidade, de suas característi-
cas e para a procura de superação de
suas plausíveis limitações.

O(a) professor(a) que centra


sua ação docente apenas na
transmissão-assimilação de
conteúdos não está em sintonia
com o cenário histórico atual
com suas características soci-
ais, econômicas, culturais, polí-
ticas e ritmo acelerado de trans-
formação, que põem em xeque
um processo de ensino-apren-
dizagem pautado num modelo
conteudista. As considerações
aqui apresentadas buscaram
mostrar, sem a pretensão de es-
gotar, algumas das característi-
cas do trabalho docente - o ensi-

21
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

3. Organização do Trabalho Docente e os Funda-


mentos do Planejamento

Fonte: Veja3

N ote que o planejamento é um


método de sistematização e or-
ganização das atuações do docente.
vida humana. A toda ocasião em que
as pessoas são compelidas a esque-
matizar, a tomar disposições que,
É um elemento da racionalização do em determinados períodos, são defi-
trabalho pedagógico que envolve a nidas por meio de improvisações;
atividade escolar com os teores do em outros, são deliberadas partindo
contexto social. de atuações antecipadamente orga-
Assim, a ação de planejar se nizadas.
faz presente em todos os períodos da

3 Retirado em http://veja.abril.com.br

23
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

24
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Fonte: Slide player

Note que foram apresentados nem mesmo há métodos de pla-


nejamentos gerais e abstratos
determinados conceitos de planeja-
que possam ser aplicados a tan-
mento propositalmente que nos leva tas variedades de situações so-
a compreender seu significado. As- ciais e educacionais principal-
mente se considerarmos a natu-
sim, caro(a) aluno(a), exibirei a se- reza política, histórica, cultural,
guir determinados desses conceitos, econômica etc. (AZANHA,
esperando que serão controvertidos 1993, p. 70-78).
e ressignificados por cada um no pe-
Planejamento é um processo de
ríodo de organizar sua prática peda- busca de equilíbrio entre meios
gógica. e fins, entre recursos e objeti-
vos, na busca da melhoria do
funcionamento do sistema edu-
O significado do termo ‘planeja- cacional. Como processo o pla-
mento’ é muito ambíguo, mas nejamento não corre em um
no seu uso trivial ele compreen- momento do ano, mas a cada
de a ideia de que sem um míni- dia. A realidade educacional é
mo de conhecimento das condi- dinâmica. Os problemas, as rei-
ções existentes numa determi- vindicações não têm hora nem
nada situação e sem um esforço lugar para se manifestarem. As-
de previsões das alterações pos- sim, decide-se a cada dia a cada
síveis desta situação nenhuma hora (SOBRINHO, 1994, p. 3).
ação de mudança será eficaz e O planejamento pedagógico e a
eficiente, ainda que haja clareza organização do trabalho do-
dos objetivos dessa ação. Nesse cente
sentido trivial, qualquer indiví-
duo razoavelmente equilibrado
é um planejador [...]. Não há Planejamento é um “processo
uma ‘ciência do planejamento’ de tomada de decisão sobre

25
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

uma ação. Processo que não Este planejamento elabora, in-


planejamento coletivo (que é corpora e reflete as políticas
nossa meta) envolve busca de educacionais. O planejamento
informações, elaboração de global da escola corresponde às
propostas, encontro de discus- ações sobre o funcionamento
sões, reunião de decisão, avali- administrativo e pedagógico da
ação permanente” (MST, 1995, escola; para tanto, este planeja-
p. 5). mento necessita da participa-
ção em conjunto da comunida-
Planejamento é processo de re- de escolar. Nos dias atuais, em
flexão, de tomada de decisão que o trabalho pedagógico tem
[...] enquanto processo, ele é sido solicitado em forma de
permanente (VASCONCELOS, projeto, o planejamento escolar
1995, p. 43). (Apud, LAR- pode estar contido no Projeto
CHERT, s/a). Político Pedagógico - PPP, ou
no Plano de Desenvolvimento
Escolar - PDE. O planejamento
Logo, conforme a professora curricular é a organização da di-
Larchert, resumindo, o planeja- nâmica escolar. É um instru-
mento que sistematiza as ações
mento consiste assim em uma to- escolares do espaço físico às
mada de decisão sistematizada, avaliações da aprendizagem. O
prudentemente organizada sobre o planejamento de ensino envol-
ve a organização das ações dos
sistema educacional, o estudante, a educadores durante o processo
instrução, o docente, as matérias, de ensino, integrando professo-
res, coordenadores e alunos na
as disciplinas, os teores, os meto- elaboração de uma proposta de
dologias e métodos de ensino, a or- ensino, que será projetada para
ganização administrativa da insti- o ano letivo e constantemente
avaliada (apud, LARCHERT,
tuição escolar, conjuntamente com s/a).
a comunidade escolar.
Desse modo, o planejamento Logo, o planejamento de aula
é circunspeto por díspares níveis organiza atuações indicativos aos
de organização. Portanto, podemos afazeres na sala de aula. É o que o
ajuizar em superfície macro no Pla- docente organiza para o desenvolvi-
nejamento do Sistema de Educa- mento do ensino-aprendizagem de
ção, que satisfaze ao planejamento seus educandos coerentemente tra-
balho com o planejamento curricu-
da educação em esfera nacional, es-
lar, com o planejamento escolar e
tadual e municipal.
com o planejamento de ensino.

26
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Fonte: Slide share

27
28
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

4. Dubet Entre Docentes

Fonte: Netshow4

N ote que uma primeira apreci-


ação se alude ao fato de as ex-
periências educadoras serem rela-
tivamente homólogas a de seus alu-
nos no que se refere ao quesito mo-
tivacional. De acordo com Dubet
(1997), os docentes delineiam seus
afazeres como uma “atividade pro-
fundamente subjetiva, aonde se
compromete por completo sua per-
sonalidade.”
Mas, que é Dubet F.:

4 Retirado em http://netrshow.me

29
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

os professores contrapõem uma


forte identificação burocrática
como forma de proteção. Neste
sentido, os professores viven-
ciam uma experiência dual que
opõe um forte compromisso
subjetivo no ofício a uma defesa
rígida da burocracia. Já os alu-
nos, por outro lado, contra-
põem a vida juvenil à vida esco-
lar. Portanto, ambos os atores
se situam na confluência de
identidades situadas em con-
traposição. Devido ao processa-
mento desta contradição, os do-
centes desejam que a adminis-
tração os proteja. Já os estu-
dantes desejam que a institui-
ção lhes oferte uma vida juvenil
independente de sua vida esco-
lar (GODINHO, 2019).

Fonte: Escola.gov Desse modo, foram apresenta-


das estas dicotomias experimenta-
Note que os docentes se sen- das pelos atores exibidos, Dubet
tem revelados a um trabalho de ma- considera que a escola republicana
neira especial individual que, do seu transformou seu projeto educativo
modo, os compromete com assuntos envolto da sacralização de costumes
bem como: visto como sendo universais: nação,
 Autoridade, razão, disciplina, civismo, etc.
 Competências pedagógicas, Logo, a escola republicana
 Poder de sedução olha os educadores como sacerdo-
 E sentido de justiça. tes, do mesmo modo que se vê como
um santuário intacto aos tumultos e
Sendo assim, os docentes preci-
sam modelar sua interação pe- paixões do mundo. Por conta dessa
dagógica e sua constituição não arrogância existencial, os educandá-
está de todo definida pela fun- rios e seus delegados socializadores
ção. Dubet assegura que a per-
sonalidade dos docentes tem não interrogam, por diversas vezes,
que estar à frente destes que os problemas mais teatrais de sua at-
por sua vez, não veem mais os mosfera: o racismo, a implicação
alunos como “receptáculos de
conhecimentos”. Nesse com- ocupacional, a violência, assim
plexo túnel, entre a individuali- como diversas maneiras de precon-
zação e a subjetivação do ofício,

30
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

ceito advindas, lançadas ou convivi- do como o primeiro plano da vida es-


das em seu interior. colar de seus intérpretes, assim co-
mo sujeita uma fratura dramática, o
Durante todas as entrevistas, colapso da função socializadora da
temas polêmicos foram trata-
instituição educacional.
dos com monossílabos ou com
silenciamentos, evidenciando a
pouca vontade docente de en- Em caráter conclusivo, Dubet
frentá-los. Ademais, nesse de- sintetiza os principais dilemas
terminado período republica- na atualidade ao afirmar que a
no, desenvolve uma concepção escola alterou profundamente
de educação em que a obediên- sua natureza sem assumir as
cia a uma disciplina racional consequências; o colégio (refe-
institui a liberdade futura dos re-se à realidade francesa sobre
cidadãos. Dubet então apresen- os tipos de estabelecimentos
ta uma reflexão transformado- educativos) nunca escolheu
ra: “A experiência dos docentes verdadeiramente seu estatuto
e alunos, suas formas de socia- de Escola para todos. Em suma,
lização devem ser consideradas a experiência dos alunos - e a
como um processo de desen- dos professores - é uma medida
cantamento, de manifestação do valor de uma escola, visto
da decadência do programa ins- que esta produziu desigualdade
titucional”. Estabelecido o pres- humilhando e desarmando es-
suposto, o pesquisador francês ses atores (GODINHO, 2019).
aborda os passos para a trans-
formação desta realidade. Con-
forme o autor francês, as razões
para que esta nova realidade se
Logo, o cenário dessa vez é que
concretize - no que tange às esta produção não poderá ser mais
ações políticas dos professores tolerada e estimulada, visto que pari
e alunos são as seguintes: a es-
cola perdeu o monopólio de ar-
passu demuda a autoestima destes
quitetar uma imagem ordeira atores. Dessa forma, é um erro, de
do mundo, especialmente em acordo com o autor, confiar que o fu-
decorrência do tempo dedicado
pelos alunos - na vida social -
turo da escola se dê no contragolpe
aos meios de comunicação; a dos bons e antigos métodos do pas-
vocação se dá pela realização de sado.
uma atividade prática e não
mais um dom; a própria massi- Este interessante debate pode
ficação; a concepção de sociali- ser conferido no livro: Sentidos do
zação feita pela/na escola se Trabalho Docente que disponibilizei
transformou (GODINHO,
2019). no Material Complementar.

Desse jeito, a decadência edu-


cacional suscita em duas implica-
ções: projeta a vivência escolar sen-

31
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Materiais Complementares

Links “gratuitos” a serem con-


sultados para um acrescentamento
no estudo do aluno de assuntos que
não poderão ser abordados na apos-
tila em questão:

Sentidos do Trabalho Docente - Li-


vro

Licenciatura_CienciaReligiao-Dida-
tica-Curriculo-trabalho-Pedagogico.
- Livro

32
33
33
CURRÍCULO, DIDÁTICA E PRÁTICAS AVALIATIVAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

5. Referências Bibliográficas
BARBOSA, Flávia Aparecida dos Santos E
FREITAS, Fernando Jorge Correia de. A
DIDÁTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NO
PROCESSO DE FORMAÇÃO DO PRO-
FESSOR. a Faculdade de Pimenta Bueno –
FPB, 2018. Retirado em:
https://fapb.edu.br/wp-content/uplo-
ads/sites/13/2018/02/especial/3.pdf

DUBET, F. Quando o sociólogo quer saber


o que é ser professor. Revista Brasileira de
Educação. v. 5, n. 6, p. 222-230, 1997.

______, O que é uma escola justa? Cader-


nos de Pesquisa, v. 34, n. 123, p. 539-555,
set./dez. 2004.

______, DUBET, F. A escola e a exclusão.


Cadernos de Pesquisa, n. 119, p. 29-45, ju-
lho/ 2003.

GODINHO, Luís Flávio Reis Sentidos do


trabalho docente/Luís Flávio Reis Godi-
nho. - Cruz das Almas/BA: UFRB, 2019.

LARCHERT, Jeanes Martins. O planeja-


mento pedagógico e a organização do tra-
balho docente. DIDÁTICA E TECNOLO-
GIA, Unidade 3, UESC [s/a].

PASSOS, Carmensita Matos Braga. Traba-


lho docente: características e especificida-
des. UFC [s/a].

TREVISAN, Amarildo Luiz Didática, currí-


culo e trabalho pedagógico [recurso eletrô-
nico] / Amarildo Luiz Trevisan, Neiva Vi-
eira Trevisan. - 1. ed. - Santa Maria, RS:
UFSM, NTE, UAB, 2018.

34
34
03
5

Você também pode gostar