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INTRODUÇÃO
Os objetivos principais deste capítulo são:
Estratégia é outra palavra herdada dos gregos que a usavam para designar a arte dos
generais. Estrategos eram os comandantes supremos escolhidos para planejar e fazer a guerra na
antiga Grécia. Depois de muita aplicação e desenvolvimento em situações militares, o conceito de
estratégia e as técnicas da administração estratégica chegaram às organizações em geral,
especialmente às empresas. Na moderna teoria geral da administração, a administração estratégica
e o enfoque sistêmico são conceitos estreitamente relacionados.
1
A história da guerra está cheia de estratagemas famosos, como o Cavalo de Tróia e os
tanques de guerra de papelão construídos pelos aliados na Inglaterra, nos dias que antecederam a
invasão da Europa, durante a Segunda Guerra Mundial. Esses são apenas dois exemplos da
utilização da inteligência para superar a resistência ou mesmo a superioridade do concorrente, ou
desviar sua atenção.
2
I -De acordo com Henry Mintzberg, estratégia é:
II -H. Igor Ansoff, por outro lado, explica a estratégia por meio das seguintes expressões:
IV -De acordo com o historiador Alfred D. Chandler, a estratégia deve ser definida como o
processo de estabelecer metas e objetivos de longo prazo para a empresa, e de adotar
cursos de ação e alocar recursos para atingi-los.
1
GAJ, Luis. Administração estratégica. São Paulo: Ática, 1987. p. 18.21.
2
Idem,ibidem.
3
Idem, ibidem.
4
CHANDLER JR., Alfred D. Strategy and structure. Cambridge, Mass. : MIT Press, 1962. p. 16.
3
V -Mais tarde, outros autores associaram o processo de elaborar o planejamento de longo
prazo com as rápidas mudanças nas relações entre a organização e seu ambiente.
Estratégia, segundo Hampton, é um plano que relaciona as vantagens da empresa com os
desafios do ambiente. O desafio da estratégia é adaptar a organização com sucesso a seu
ambiente5.
Ambiente
Ameaças Oportunidades
Planejamento Estratégico
Figura 13.2 – Planejamento estratégico consiste em definir objetivos para lidar com as
ameaças e oportunidades oferecidas pelo ambiente da organização
Adaptar a empresa ao ambiente não significa apenas torná-la mais capaz de enfrentar seus
concorrentes, porque os desafios vêm de diversas fontes. Evolução da tecnologia, exigências dos
sindicatos, controle governamental e pressões da sociedade são circunstâncias que oferecem
desafios e oportunidades para todos os tipos de organizações. A estratégia é a ferramenta para
enfrentar esses desafios e oportunidades, que se apresentam não apenas para empresas, como
também para sindicatos, órgãos da administração pública ou prefeituras e outras organizações que
não têm concorrência nem o objetivo do lucro.
4
atividades de implementação, acompanhamento e avaliação dos planos. Completou-se assim o
circuito planejamento-execução-controle da estratégia. Na administração contemporânea, a
administração estratégica, conforme mostra a Figura 13.3, é o campo que trata de:
Planejamento estratégico: o processo de elaborar a estratégia.
Implementação e controle: o processo de colocar em prática, acompanhar e avaliar a
estratégia.
Planejamento Estratégico
Implementação da Estratégia
Acompanhamento e Avaliação da
Estratégia
Figura 13.3 – Administração estratégica é o processo de definir, realizar e avaliar os resultados dos
planos estratégicos.
3 ABRANGÊNCIA DA ESTRATÉGIA
6
Ver STONER, James ª F., FREEMAN, R. Edward, GILBERT JR., Daniel R. Management. Madri: Prentice Hall International, 1995. p.
271-272.
5
Grandes corporações com muitas unidades
ESTRATÉGIA CORPORATIVA
ESTRATÉGIA DE RAMO OU
operações singulares
ESTRATÉGIA FUNCIONAL
ESTRATÉGIA OPERATIVA
(Planejamento Operacional)
6
especifico das empresas do sistema Globo. Neste nível, a estratégia focaliza as outras empresas,
isoladas ou pertencentes a outras corporações, que atuam no mesmo ramo de negócios. As
decisões mais importantes, desse modo, são as seguintes:
4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
7
MASSiE, Joseph L, OOUGLAS. John. Managing: a contemporary introduction. New York : Prentice Hall, 1992. p. 144-145.
8
Idem, ibidem.
9
DRIZIN, Bons. Uso e administração de infonnaçães para a tomada de decis'5es estratégicas. Tese de doutoramento. São Paulo : FGV
1991. p. 200-201.
7
Planejamento estratégico é o processo de desenvolver a estratégia -a relação pretendida da
organização com seu ambiente. O processo de planejamento estratégico compreende a tomada de
decisões que afetam a empresa por longo prazo, especialmente decisões sobre os
produtos/serviços que a organização pretende oferecer e os mercados/clientes que pretende atingir.
Toda organização pratica o planejamento estratégico, de forma explícita ou implícita, com maior ou
menor grau de formalização. Do passado para o presente de qualquer organização, sempre é
possível identificar estratégias explícitas ou implícitas, formais ou informais. Entretanto, é mais difícil
encontrar organizações que tenham planos estratégicos formais e explícitos do presente para o
futuro.
O planejamento estratégico é responsabilidade dos executivos de nível mais alto, que podem
ser ajudados por assessores nesse processo. Organizações profissionalizadas, de grande porte,
podem dispor de equipes ou departamentos de planejamento para auxiliar os altos executivos.
Essas equipes ou departamentos têm designações como novos negócios ou estudos econômicos.
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Figura 13.5 – Os planos estratégicos dependem da análise dos desafios oferecidos pelo
ambiente externo e pelos sistemas internos da organização.
8
5 ANÁLISE DO AMBIENTE
Uma das bases para a formulação da estratégia é a análise das ameaças e oportunidades do
ambiente. Quanto mais instável e complexo o ambiente, maior a necessidade do enfoque sistêmico
e do planejamento estratégico. O conceito de ambiente e os fatores a serem considerados numa
análise ambiental variam de organização para organização.
A ação da concorrência é o principal fator que cria ameaças e, algumas vezes, oportunidades
para as empresas. As oportunidades que a concorrência cria são, por exemplo:
Novas idéias.
Novos mercados.
Novas necessidades.
Novos conceitos de administração.
A análise da concorrência pode ser iniciada pelo estudo do ramo de negócios: o roteiro, a
seguir, apresenta as principais informações de uma análise do ramo de negócios:
Estrutura (empresas que compõem o ramo de negócios e sua participação nas vendas,
produção, faturamento, número de funcionários etc.).
Unhas de produtos e vendas.
Compradores e comportamento dos compradores (poder aquisitivo, sazonalidade etc.).
Crescimento das empresas e do mercado10.
10
BETHLEM, Agrícola de Souza. Política e estratégia de empresas. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1981. p. 64-69.
9
A técnica da análise estrutural, para estudar o ramo de negócios, consiste em examinar as
características de um ramo de negócios, chamadas fatores estruturais, para identificar o nível e as
variações na lucratividade dos concorrentes. Segundo Hayden, os fatores estruturais compõem-se
de cinco forças competitivas de um ramo de negócios, que são as seguintes, representadas na
Figura 13.6:
CONCORRENTES
POTENCIAIS
Ameaça de entrada de
novos concorrentes
REALIDADE
FORNECEDORES ENTRE COMPRADORES
Barganha
Barganha
Poder de
Poder de
CONCORRENTES
Ameaça de substituição
SUBSTITUTOS
Figura 13.6 – Forças competitivas num ramo de negócios. Adaptado de HAYDEN, Catherine
L., op. cit. Ver também PORTER, Michael L., Competitive strategy: techniques for analyzing
industries and competitors. New York : Free Press, 1980, p. 4.
10
III -Poder dos compradores: os compradores, diretamente ou por meio da legislação, podem
forçar as empresas de um ramo de negócios a segurar seus preços, fornecer-lhes
informações dispendiosas ou manter peças em estoque (como acontece com a indústria
automobilística).
IV -Produtos substitutos: podem estabelecer limites para o aumento dos preços e influenciar
decisões sobre investimentos em desenvolvimento de novos produtos (como acontece na
indústria de tecido e vestuário).
V -Poder dos fornecedores: pode ser muito grande ou muito pequeno, e, desse modo,
influenciar bastante ou pouco os preços dos componentes para os concorrentes de um
ramo de negócios. Por exemplo: a indústria de insumos básicos (combustíveis,
eletricidade, comunicações) tem grande poder sobre os demais ramos de negócios,
porque, em geral, são monopólios. Os fornecedores da indústria automobilística, por outro
lado, são relativamente fracos11.
O mercado pode ser estudado segundo quatro enfoques ou bases principais, que também são
utilizadas como indicadores para a segmentação do mercado (a divisão do mercado em grupos de
consumidores):
I –Geográfico
11
HAYDEN, Catherine L. The handbook of strategic expertise. New York : Free Press, 1986. p. 316.
11
Estudo e classificação dos clientes de acordo com as regiões em que vivem, tamanho das
cidades, densidade demográfica, clima.
II –Demográfico
Estudo e classificação dos clientes de acordo com a distribuição etária, sexo, tamanho da
família, tempo de casamento, renda, profissão, escolaridade, religião, etnia.
III –Psicossocial
Estudo e classificação dos clientes de acordo com a classe social, estilo de personalidade.
IV -Comportamental
Por exemplo: o crescimento da criminalidade nas grandes cidades teve várias, conseqüências
importantes sob o ponto de vista da estratégia de marketing de muitos tipos de organizações. Criou
vastos mercados para todos os tipos de empresas que oferecem produtos e serviços relacionados
com a segurança e, ao mesmo tempo, abriu espaços para os partidos políticos e candidatos a
cargos eletivos usarem a política de segurança como plataforma eleitoral.
12
LOWRY; James R., WEINRICH, Bemard W Business in today's world. Cincinnati : South-Westem, 1994. p. 339-344. Ver também
KOTLER, Philip, ARMSTRONG, Gary. Marketing: an introduction. Englewood Cliffs : Prentice Hall, 1991. p. 220.
12
5.3 OUTROS SEGMENTOS DO AMBIENTE:
O ambiente externo de uma organização pode ser muito complexo, dependendo do tipo de
organização. Muitas das variáveis do ambiente admitem algum grau de controle. Outras variáveis
são incontroláveis, ou requerem grande esforço para que a organização consiga resultados. Seja
qual for o caso, a organização deve sempre procurar acompanhar as tendências nos segmentos
relevantes para a formulação de suas estratégias. Alguns dos segmentos mais importantes para a
maioria das organizações, e os indicadores de tendências que devem ser monitorados, são os
seguintes, resumidos na Figura 13.7:
AÇÃO E CONTROLE DO
GOVERNO
MUDANÇAS
TECNOLÓGICAS
As primeiras gravações em discos deram origem ao som hi-fi, depois ao som estereofônico,
em seguida à gravação digital. Carburadores transformaram-se na injeção eletrônica. Máquinas de
escrever cederam espaço para os editores de texto dos computadores. Os cinemas ganharam a
concorrência da televisão e do video-cassete. As válvulas dos primeiros computadores foram
aposentadas pelos transistores e estes pelos microprocessadores. Nada indica que a evolução vá
parar ou que as pessoas queiram retomar ao passado. Portanto, acompanhar a evolução
13
tecnológica é, seguramente, uma estratégia para assegurar a sobrevivência e a eficácia da
organização.
Patentes.
Revistas especializadas.
Feiras técnicas e da indústria.
Associações de pesquisa.
Congressos científicos.
Contatos informais com universidades, institutos de pesquisa e pesquisadores.
Contatos com fornecedores de tecnologias ou produtos usados pelos concorrentes.
Qualquer estratégia deve sempre levar em conta a ação e o controle do governo. - Por um
lado, todas as organizações são obrigadas a seguir diversos tipos de legislações: trabalhista,
tributária, de proteção do meio ambiente, de defesa do consumidor e de regulamentação do formato
das embalagens, entre muitas outras. O descumprimento de qualquer desses códigos pode
representar sérios problemas.
14
As organizações ameaçadas por essa concorrência atuaram de diversas maneiras para
defender-se. Aprimorar a competitividade foi uma das principais. Atuar junto ao próprio governo,
individualmente ou por meio das associações de classe, foi outra.
A atuação junto ao próprio governo é uma das estratégias prediletas - a expressão que indica
essa atuação é fazer lobby, que significa acompanhar e, se possível, tentar de alguma forma
influenciar as decisões dos legisladores e dos governantes. Há pessoas, departamentos nas
grandes empresas e mesmo empresas especializadas em fazer lobby.
Emprego e desemprego.
Demissões e admissões.
Taxa de juros.
Valor das ações.
Movimento dos negócios.
Endividamento e inadimplência.
Flutuação do poder aquisitivo.
Flutuação no consumo de determinados produtos, indicativos de alterações no poder
de compra e nos hábitos dos compradores.
Poupança.
15
todos os dias informações sobre esses e outros indicadores, para a economia e para cada ramo de
negócios. Obter e utilizar essas informações para tomar decisões é extremamente importante para
qualquer administrador e empresa.
O acompanhamento da evolução das normas sociais vai além do estudo das variáveis
psicossociais e comportamentais do mercado. Atitudes e preferências, estilos de vida, expectativas
e medos coletivos, tendências e hábitos são as informações que podem indicar oportunidades e
ameaças. Por exemplo, algumas tendências nas normas sociais que modificaram o contexto da
administração das empresas na pane final do século XX são as seguintes:
6 DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL
16
ANÁLISE INTERNA
DA ORGANIZAÇÃO
Vantagens
Competitivas Consultas
aos Cliente
Participação
no Mercado Benchmarking
13
Esta parte deste capítulo baseia-se em esquema de diagnóstico proposto por KATZ, Robert L. Cases and concepts in colporate
strategy. Englewood Cliffs : Prentice HaIl, 1970.
17
um de seus mercados. As tendências e as flutuações desses números podem indicar ameaças ou
oportunidades no ambiente, bem como debilidades e potencialidades da organização.
Mercado
Interno Mercado
Externo
48%
52%
1997
Mercado
Interno
35%
2002 (previsão)
Mercado
Externo
65%
Figura 13.9 – Participação dos clientes (mercados) no faturamento (fonte: Siderúrgica Del Orinoco)
Outro tópico para exame quantitativo são os produtos e serviços. Neste item, a organização
deve produzir e manter informações numéricas sobre os produtos que vende e serviços que presta
para seus clientes. Para uma empresa, isto significa saber qual a participação dos produtos e
serviços nas vendas. O estudo da participação dos produtos e serviços nas vendas, ao longo de um
determinado período, também permite identificar ameaças, oportunidades, tendências e a
necessidade de decisões (Figura 13.10).
14
Esta seqüência é arbitrária. O processo de planejamento estratégico começa pelo item anterior ou qualquer outro.
18
Outros; 12
Pager; 9
Celulares; 42
Rádio
comunicação
móvel; 18
Semicondutore
s; 19
19
Vantagem Competitiva Exemplo
1 – Qualidade de projeto do produto e de Mercedes-Benz, Volkswagen, Boeing, Rede
serviço Globo, etc
Empresas japonensas de forma geral e suas
2 – Eficiência e baixo custo das operações e
seguidoras que adotaram os sistemas de
dos recursos em geral
“administração enxuta”
3 – Liderança na inovação Microsoft, Banco 24Horas
4 – Disponibilidade e desenho da assistência
Volkswagen, Xerox
técnica (serviço pós-venda)
Lojistas, empresas e microempresários em
5 – Relações pessoais com consumidores geral; negócios que operram o sistema de
venda porta a porta.
6 – Propriedade ou controle de matérias-primas
Vale do Rio Doce, Petrobrás, cartel do cimento
de alto custo ou escassas
7 – Disponibilidade de capital Bancos, fundos de pensão
Monopólios e oligopólios de forma geral,
8 – Controle do mercado Petrobrás, telefônicas, cartel do cimento,
Microsoft
Nestlé, Johnson & Johnson, Açúcar União,
9 – Aceitação do consumidor da marca da
bombom Sonho de Valsa, Coca-Cola, Gillete,
empresa
Arnold Schwarzenegger, Disney
10 – Conveniência e disponibilidade do produto
Nestlé, Açúcar União, Gillete
(eficácia do sistema de distribuição)
11 – Preço Baixo Produtos vendidos em camelôs, lojas de 1,99
12 – Preço Alto Mercedez-Bens, primeira classe em aviões
Figura 13.11 – Principais vantagens competitivas
20
Outras; 11
Cannon; 5
Minolta; 7
Gestetner; 7
Xerox; 70
I -Primeiro, é possível identificar pontos fortes e fracos a partir do estudo das informações do
diagnóstico organizacional. As tendências evidenciadas pelas informações do diagnóstico
mostram direta ou indiretamente as potencialidades que se deve preservar e as
debilidades a corrigir.
III -Se possível, os clientes devem ser consultados. Por meio de pesquisas eventuais ou
periódicas, consultas informais, ou questionários preenchidos por clientes, como fazem os
21
hotéis e companhias de aviação, a empresa pode montar um precioso arquivo,
continuamente atualizado, sobre a imagem de seus produtos e serviços no mercado.
IV -A empresa pode fazer comparações metódicas com a concorrência. Esse processo é
chamado benchmarking, e consiste em usar uma empresa considerada modelo como base
de comparação e, eventualmente, cópia. A técnica do benchmarking é uma das novas
tendências da teoria geral da administração e será analisada no último capítulo deste livro.
Um plano estratégico deve conter a definição da missão (ou negócio) e dos objetivos
desejados pela organização. Segundo Katz, os objetivos devem definir a situação futura desejada
em tennos de clientes e mercados, produtos e serviços, vantagens competitivas, participação no
mercado e desempenho econômico-financeiro15. A Figura 13.13 apresenta uma seqüência de
procedimentos para a elaboração do plano estratégico.
15
KATZ, Robert L. Op. cito p. 195.
22
ANÁLISE DA
ANÁLISE DO AMBIENTE ORGANIZAÇÃO
DEFINIÇÃO DE MISSÃO
E NEGÓCIO
Clientes e Mercado
Produtos e Serviços
DEFINIÇÃO DE
OBJETIVOS Vantagens competitivas
ESTRATÉGICOS
Participação no Mercado
Desempenho econômico-
SELEÇÃO DE financeiro
ESTRATÉGIAS
Estudar, definir e, eventualmente, redefinir a missão da organização é uma das tarefas mais
importantes no desenvolvimento de um plano estratégico 16. Essa tarefa não tem um momento
predeterminado para ocorrer, podendo ser realizada no início do diagnóstico organizacional, quando
estão sendo analisados os clientes/mercados e produtos serviços, ou em qualquer outro estágio do
desenho da estratégia.
23
O quê a organização está fazendo agora?
Qual sua utilidade para os clientes?
Em que negócios estamos?
Quem são nossos clientes?
Que necessidades estamos atendendo?
Que papéis estamos cumprindo?
17
Stakeholders: pessoas ou outras organizações que são afetadas pelo funcionamento e desempenho de uma organização.
24
Devido a pressões desse tipo, a administração contemporânea dá grande ênfase aos
interesses dos stakeholders, que devem ser incorporados na missão. De acordo com essa visão, a
missão implícita de qualquer organização não é maximizar o lucro dos acionistas, mas criar valor
para os stakeholders: acionistas, empregados, clientes, comunidades, instituições sociais e
governamentais, fornecedores e até mesmo os concorrentes. Essa estratégia tende a beneficiar os
acionistas no longo prazo. Muitas empresas aceitaram esse conceito e passaram a enfatizá-lo em
seú planejamento estratégico.
Depois da crise do petróleo dos anos 70, algumas empresas petrolíferas mudaram sua
missão, que antes era extração, refino e distribuição de óleo. Exxon, Shell e Mobil
tornaram-se empresas de energia, envolvendo-se nos ramos de carvão, energia solar,
nuclear e outras formas de energia.
A SKF; empresa sueca de rolamentos descobriu que sua especialidade básica era o
tratamento de superfícies, quando o negócio de rolamentos começou a andar mal. A
SKF conseguiu, assim, ingressar em outros ramos e explorar novas oportunidades no
negócio de tratamento de superfícies.
Muitas empresas não têm missões explícitas nem se preocupam em defini-las. Outras apenas
sugerem sua missão. Grande número de empresas prefere usar a palavra negócio, para substituir a
palavra missão. A idéia de negócio, para definir um ramo de atuação, é mais prática e também pode
ser explícita ou implícita. Inúmeras empresas declaram explicitamente seu negócio; outras parecem
achar que seu negócio é tão óbvio que não precisa ser explicitado.
Por exemplo, "Disney faz gente feliz" ou "está no negócio do entretenimento" em vez de
"constrói e opera parques de diversões". Essa mensagem é enfatizada para todos os funcionários
da Disney; especialmente aqueles que lidam diretamente com o público nos parques da empresa.
As companhias de aviação, os bancos de negócios e as redes de televisão, no entanto, atuam em
negócios tão óbvios, que não parecem sentir a necessidade de explicitá-lo.
25
Ao definir seus objetivos ou metas estratégicas18, a organização declara quais resultados
deseja alcançar e quando deseja que eles sejam alcançados. Muitas empresas partem desse ponto
em seu planejamento estratégico, não se preocupando em explicitar uma missão. Esses resultados
desejados, focalizando a venda de produtos ou serviços, ou a cobertura de mercados, podem ser
enunciados como alvos muito precisos ou intenções. Por exemplo:
7.3 ESTRATÉGIAS
As estratégias propriamente ditas são planos que dirigem e delineiam as maneiras de alcançar
os objetivos. Por exemplo:
Depois de uma carreira como executivo bem-sucedido da Ford, Lee Iacocca assumiu a
presidência da Chrysler, com a missão de recuperá-la. A empresa estava em acelerada
decadência e corria o risco de desaparecer. O objetivo estratégico, desse modo, era
salvar a Chrysler. Entre outras estratégias, Iacocca, conseguiu um empréstimo do
governo americano; negociou com os sindicatos para alcançar uma espécie de trégua
e enxugar o quadro; e, sobretudo, estimulou a inovação na linha de produtos,
especialmente no design. Como estratégia subsidiária para essa inovação, Iacocca
associou-se a estúdios de projetos na Itália.
Durante muito tempo após estabelecer-se no Brasil, a Parmalat foi uma empresa quase
anônima, apenas mais uma entre inúmeras outras. Em 1989, um novo presidente
propôs-se a disputar a liderança com a Nestlé. Em quatro anos, esse objetivo havia
transformado a Parmalat brasileira na segunda maior operação do grupo, menor
apenas que a matriz italiana. Para chegar a esse resultado, a empresa utilizou uma
18
Objetivos e metas são usados aqui como sinônimos.
26
combinação de investimentos, compra de pequenas empresas regionais, padronização
da qualidade, ingresso em novos mercados e lançamento de inúmeros produtos novos,
alguns deles importados.
Estratégias são decisões que se colocam em prática para atingir objetivos estratégicos, sejam
eles recuperar uma empresa em má situação, manter um bom desempenho, alcançar um novo
patamar de resultados, crescer ou manter-se no mercado. Há diferentes maneiras de classificar as
estratégias. Classificá-las em estratégias genéricas e de adaptação é uma forma de estudar como
as empresas agem nessa dimensão.
I –Diferenciação
A estratégia da diferenciação consiste em procurar projetar uma forte identidade própria para o
serviço ou produto, que o tome nitidamente distinto dos produtos e serviços concorrentes. Isso
significa enfatizar uma ou mais vantagens competitivas, como qualidade, serviço, prestígio para o
consumidor, estilo do produto ou aspecto das instalações. Por exemplo:
II -Liderança do custo
Na estratégia que busca a liderança por meio do custo, o objetivo não é diferenciar-se dos
concorrentes, mas oferecer um produto ou serviço mais barato. Essa estratégia é largamente
19
Ver PORTER, Michael E. Competitive ~trategy. New York : Free Press, 1980.
27
utilizada pelos fabricantes de computadores, à medida que a tecnologia toma os produtos muito
semelhantes e barateia os componentes. Também foi a estratégia usada pelos fabricantes
japoneses de automóveis e relógios digitais, que destruíram o mito de que qualidade superior
significa preço mais alto. E, quem quer que use um relógio Ironman, deixou-se convencer pela
mesma estratégia, usada pela Texas Instruments.
III -Foco
A classificação das estratégias pode basear-se nos tipos de desafios que a organização deve
resolver para adaptar-se ao ambiente. Com base no estudo de diversas empresas, Miles e Snow
identificaram quatro estratégias ou padrões de adaptação, que refletem diferentes taxas de
mudança de produtos e mercados.
O comportamento de defesa é caracteristico das empresas que têm foco muito estreito, são
altamente especializadas e relutam em procurar oportunidades novas ou atuar em situações
diferentes daquelas a que estão acostumadas. Por causa desse foco estreito, essas empresas
raramente modificam sua tecnologia, estruturas ou sistemas operacionais.
28
II -Comportamento prospectivo (prospectors)
20
MILES, Raymond E., SNO~ Charles C. Organizational strategy, st1UCture and processo New York : McGraw-Hill,1978.
29
Classificado pela Business Week como um dos dez maiores grupos empresariais
brasileiros.
Considerado como instituição de perfil empreendedor.
A instituição permanece atenta a novas oportunidades de investimentos e transações
no setor industrial.
O Bradesco está alerta21.
PARTICIPAÇÃO NO MERCADO
Grande Pequena
Grande ESTRELAS PONTOS DE INTERROGAÇÃO
? ? ?
CRESCIMENTO DO
MERCADO VACAS LEITEIRAS VIRA-LATAS
$
Pequeno
21
PELUSO, Luciana. Os tentáculos do Bradesco. Isto É, n"1406, p. 114-115, 11 set. 1996
30
I -Estrelas (stars)
?
Estrelas são os produtos ou unidades de negócios que têm participação elevada em mercados
com altas taxas de crescimento e que, portanto, têm alto potencial de lucratividade. Por causa
disso, as estrelas são unidades de negócios ou produtos ganhadores de dinheiro.
As vacas leiteiras são produtos e negócios que têm alta participação em mercados
estabilizados, com pequenas taxas de crescimento. Por causa disso, as vacas leiteiras ganham
dinheiro, mas não precisam de grandes investimentos.
IV Vira-latas (dogs)
Os vira-latas são os produtos e negócios que têm pequena participação em mercados com
pequenas taxas de crescimento. Precisam de dinheiro para sobreviver e não ganham o suficiente
para tanto. Portanto, não representam boas oportunidades de investimento.
Muitos produtos e negócios têm um ciclo de vida que passa pelos quatro quadrantes da
matriz: começam como pontos de interrogação e tomam-se estrelas. A medida que surgem novos
concorrentes, transformam-se em vacas leiteiras e, finalmente, em vira-latas. A utilização da matriz
de crescimento e participação, que é uma ferramenta para a administração de carteiras de produtos
e negócios, requer, em primeiro lugar, a identificação de cada produto ou negócio como vira-lata,
vaca leiteira, estrela ou ponto de interrogação. Com base nessa classificação, a empresa pode
selecionar uma estratégia. Usualmente, as estratégias que se baseiam na matriz do BCG seguem o
padrão de dar dinheiro às estrelas, tirar das vacas leiteiras para investir nas oportunidades, deixar
os vira-latas à míngua e pensar no que fazer com os pontos de interrogação.
31
A matriz de crescimento e participação permite entender o processo de formação de uma
grande empresa de autopeças. No final de 1991, o Bradesco comprou 15,5% da Metal Leve. Em
1995, comprou 40% do capital da Cofap. Em 1996, coordenou a compra da Metal Leve por um
consórcio formado pela Cofap e pela alemã Mable. O resultado foi a constituição de uma única
empresa, com 15% de capital do Bradesco, 51% da Mable, 31% da Cofap e 3% pulverizados no
mercado. As projeções dos analistas da indústria automobilística previam que as empresas
estritamente nacionais de autopeças desapareceriam, para dar lugar às multinacionais. Também
havia a projeção de que a produção de automóveis cresceria 80% no Brasil na virada do século.
Com suas perspectivas de altas taxas de crescimento, o pais tomara-se uma opção preferencial de
investimento, uma vez que o mercado no resto do mundo estava saturado. O Bradesco e seus
parceiros haviam investido numa estrela potencial22.
8 SELEÇÃO DE ESTRATÉGIAS
22
Idem
32
Devemos diversificar ou especializar-nos?23
9 lMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA
Como indica a Figura 13.15, a estratégia pode ser posta em prática por meio de três
mecanismos principais: planejamento nas áreas funcionais, políticas, planos operacionais e
estrutura organizacional. Esses mecanismos serão analisados, a seguir, individualmente.
ESTRATÉGIA
Operações
Marketing
Finanças
Recursos Humanos
Para realizar objetivos estratégicos, a organização escolhe diferentes linhas de ação. Por
exemplo, o objetivo da Parmalat, "tornar-se a maior empresa do ramo do leite no Brasil",
transformou-se, em seguida, em "crescer por meio da compra de outras empresas"24 A estratégia
alternativa, da compra de outras empresas, poderia ser a ampliação da capacidade produtiva ou a
23
MASSIE, Josheph L., DOUGLAS, John. Op. Cit. p. 146-148.
24
Exame, p. 27, 2 levo 1994.
33
importação de produtos. Para colocar qualquer uma dessas estratégias em prática, outras
estratégias subseqüentes precisam ser formuladas.
Para comprar outras empresas, é preciso planejar formas de conseguir o dinheiro necessário,
no mercado de capitais ou com os acionistas. Para ampliar a capacidade produtiva, é preciso
planejar a construção de novas instalações e processos produtivos. Para importar produtos, é
preciso fazer pesquisa de mercado. Em qualquer caso, é preciso planejar o emprego de pessoas e
a aplicação de dinheiro. Qualquer linha de ação envolve a previsão do consumo de recursos.
O planejamento nas áreas funcionais define as linhas de ação que colocam em prática os
objetivos estratégicos da organização. As áreas funcionais mais importantes de qualquer
organização são as seguintes:
Ao lado das políticas, todos os tipos de planos operacionais são instrumentos para a
implementação da estratégia. Cronogramas, decisões, orçamentos, projetos e outros tipos de
planos, como normas e procedimentos, corporativos e funcionais, são todos reflexos de decisões
sobre o futuro, que procuram colocar em prática as estratégias explícitas e implícitas.
34
9.3 ESTRUTURA ORGANlZACIONAL
Alfred Chandler popularizou o princípio de que "a estrutura segue a estratégia" 25. A
macroestrutura organizacional, desenhada no organograma, com suas unidades de negócios e
áreas funcionais, é o retrato da estratégia explícita ou implícita. O organograma mostra as áreas em
que a empresa está atuando, e as formas de lidar com os mercados e clientes. A microestrutura
organizacional, que consta das descrições de cargos, reflete as atividades que as pessoas devem
realizar no dia-a-dia, orientadas pelas políticas.
25
CHANDI..ER, Alfred. op. cito
35
11 BALANCED SCORECARD
Uma das ferramentas que procura fornecer a visão de conjunto dos fatores críticos de sucesso
chama-se balanced scorecard, ou balanced business scorecard? 27 Essa técnica focaliza quatro
dimensões (chamadas perspectivas) imponantes do desempenho da empresa, cada uma das quais
desdobra-se em medidas específicas, que podem dividir-se em indicadores, como mostra a Figura
13.16.
26
KEUNlNG, Doede. Management. Londres: Pitman, 1998. p. 520-529.
27
Sem tradução em português. O significado é painel ou placar que mostra resultados balanceados ou combinados. KAPLAN, R.,
NORTON, D. The balanced scorecard. Harvard Business Review, Jan./Feb. 1992.
36
PERSPECTIVA DO
CLIENTE
PERSPECTIVA DA PERSPECTIVA DO
INOVAÇÃO E BALANCED
DESEMPENHO
APRENDIZAGEM SCORECARD
FINANCEIRO
ORGANIZACIONAL
PERSPECTIVA DOS
PROCESSOS INTERNOS
Outra contribuição importante para aumentar a abrangência dos sistemas de controle foi feita
pelos prêmios de qualidade instituídos em diferentes países. O Prêmio Europeu da Qualidade,
estudado no Capítulo 6, também procura evidenciar as relações de causa e efeito entre diversos
fatores de sucesso. Recapitulando, o modelo do prêmio estabelece que satisfação do cliente,
satisfação do empregado e impacto sobre a sociedade são resultados alcançados por meio de
liderança, que impulsiona quatro fatores: política e estratégia, administração de pessoas, recursos e
processos. O resultado final é a excelência nos resultados empresariais.
12 REINÍCIO DO CICLO
37
são dinâmicos e propõem desafios constantemente. Pontos fracos e fortes surgem e evoluem,
exigindo a intervenção da administração.
A cada momento, como indica a Figura 13.17, o ciclo de planejamento pode ser reiniciado,
com base nas informações de controle. O controle pode indicar que a estratégia funciona
corretamente, se os objetivos estiverem sendo atingidos. Um desempenho superior ao esperado
mostra que a estratégia está sendo extremamente bem-sucedida. Um desempenho aquém dos
objetivos mostra incoerência entre os desafios e a estratégia. Sejam quais forem os resultados, o
processo de controlar e avaliar a execução da estratégia é o ponto de partida para a revisão de
todas as definições.
I. CAMINHÕES VOLKSWAGEN28
Os negócios com caminhões, ao contrário do que ocorre com automóveis, são movidos por
razões comerciais, e não emocionais. Apesar do ambiente de crise econômica em que vivia o país,
o ano de 1999 começou com acirrada concorrência no mercado de caminhões, enquanto o mercado
de automóveis permanecia estagnado. Ocorria naquele momento uma mudança no perfil da frota de
caminhões, com aumento das vendas dos modelos de tamanho médio, de 13 a 16 toneladas. Este
último, o mais disputado. De uma fatia de 17,7% das vendas totais de caminhões, em 1997, havia
28
Fonte: Gazeta Mercantil, 22 levo 99, p. C-I.
38
saltado para 20,2%, em 1998. A Mercedes-Benz continuava sendo a líder do mercado e desse
segmento. A Volkswagen oferecia modelo similar ao da Mercedes, com preço 5% menor.
Segundo as projeções das montadoras, o mercado de caminhões deveria cair 10% em 1999.
Fevereiro deveria ser um mês fraco. Março e abril, tradicionais meses do pico da safra de verão,
eram promissores, apesar da crise econômica. Para o ano, a VW tinha o objetivo de manter sua
participação em tomo de 20%.
A Sadia S.A. fechou 1998 com 472,6 milhões de reais em exportações. Desse total, 44%
tinham vindo do Oriente Médio; 19%, da Europa; 15%, da Ásia; 14%, do Mercosul.
29
Fonte: Gazeta Mercantil, 23 fev. 99, p. C-4.
39
Para 1999, a meta estava em 400 milhões de dólares. Para isso, a empresa fazia esforços
para abrir novos mercados, especialmente de produtos de maior valor agregado, que passaram a
ser competitivos no exterior devido à desvalorização do real em relação ao dólar. Novas frentes de
vendas já haviam sido abertas em Cuba, no Leste Europeu e na Ásià Central. No Oriente Médio, a
perspectiva era aumentar as vendas.
O faturamento bruto da Sadia havia caído de 3,2 bilhões de reais em 1997 para 2,65 bilhões
de reais em 1998. A redução deveu-se à venda dos negócios de soja, responsáveis por cerca de
500 milhões de reais em vendas. O lucro, em 1998, teve um aumento de 140,5%, passando de 71,2
milhões de reais, para 171,3 milhões de reais.
Com a desvalorização do real, a empresa teve de elevar seus preços entre 6% e 11 %, devido
à alta dos custos da matéria-prima. A área de pescados também foi .muito afetada pela
desvalorização, já que 100% dos produtos são importados. Nas margarinas, em que a matéria-
prima, o óleo, é cotada em dólares, o aumento ficou em 11%.
QUESTÕES
1. Faça uma síntese dos resultados obtidos pelas duas empresas em 1998.
2. Faça um diagrama mostrando as ameaças e oportunidades, em 1999, para as duas empresas.
3. Sintetize os objetivos traçados pelas duas empresas para 1999.
4. Em sua opinião, até que ponto esses objetivos são coerentes com as ameaças e oportunidades,
e outras tendências (por exemplo, pontos fortes e fracos)?
5. O que há de comum e diferente entre as estratégias das duas empresas?
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