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1- SOBRE A PSICOLOGIA
A psicologia situa-se entre as ciências mais jovens no campo da medicina e talvez por
isso esteja tão difundida atualmente a idéia de que ela é, em grande parte, a matéria de
especulações puras, de tecnicismos triviais ou, como disse WELLES, “apenas um refúgio
para a ociosa indústria dos pedantes”.
Não falta quem acredite que o psicológico tem pouca ou nenhuma influência sobre a
conduta humana, seus problemas ou os chamados distúrbios somáticos. No entanto, apesar
de seus poucos anos de existência, a psicanálise contribuiu com notáveis conhecimentos
para quase todas as especialidades médicas, a tal ponto que prescindir deles no tratamento
de certos distúrbios que se manifestam no ser humano seria tão impróprio quanto
renunciar ao uso de antibióticos.
A grande transformação operada no estudo das neuroses e psicoses, que Freud não só
iniciou como empreendeu durante mais de 50 anos de infatigável trabalho, pode ser
comparada com a que ocorreu na medicina geral graças aos métodos de auscultação,
percussão, medição da temperatura, radiologia, bacteriologia, física e bioquímica.
A psicanálise levou o conhecimento das doenças a um novo nível científico e, como
disse JASPERS em sua patologia geral, “Freud marcou época na psiquiatria com o seu novo
ensaio de compreensão psicológica.
Em suma: a teoria e o método psicanalítico convertem a antiga psiquiatria descritiva,
estática, numa ciência dinâmica ou psiquiatria interpretativa, ao ingressar-se nela.
A maioria dos especialistas da psiquiatria norte-americana reconhece, cada vez mais,
a importância dos conceitos psicanalíticos, incorporando-os ao ensino. Isso é, em grande
parte, uma resposta à solicitação de médicos e estudantes, cujas experiências durante a
Segunda Guerra Mundial os levaram à necessidade de admitir um conceito dinâmico das
doenças e dos problemas humanos que até então lhes eram inacessíveis.
Atualmente, a maioria dos professores de psiquiatria dos Estados Unidos ou são
psicanalistas, ou assimilaram uma quantidade suficiente de conhecimentos de psicanálise.
O resultado final é que a psicanálise deixou de ser uma disciplina de grupo para integrar-se
amplamente no campo da psiquiatria e da medicina em geral, passando a constituir parte
básica da abordagem do paciente pelo médico.
Os grandes avanços registrados nos últimos anos em relação a alguns processos que
intervêm na etiologia dos distúrbios psíquicos projetaram uma luz clara não apenas no
terreno da clínica, mas também no da prevenção. É perfeitamente conhecido o fato de que o
bem-estar do homem não depende exclusivamente de uma saúde física mas também de
uma correta adaptação ao meio, com uma capacidade adequada para enfrentar as
necessidades sociais, econômicas e industriais da vida moderna.
Um estudo mais completo dos mecanismos psicodinâmicos capacitaria o médico a
adotar, diante do paciente, uma posição que lhe permitisse um enfoque global. Para isso é
preciso considerar o psíquico como função do orgânico, já que não se pode falar de
paralelismo nem de interação, o que implicaria uma concepção dualista, em vez de uma
noção funcional e monista.
O funcional e monista é a integração de todos os fatores; a hierarquia, a compreensão
da função com respeito ao ser. O funcional o adequado, é o que serve para desenvolver ao
máximo as potencialidades. Para poder-se dizer que um automóvel é bom, temos que ver ser
funciona e, sobretudo, como funciona; quanta gasolina e quanto óleo consome, como se
articulam suas diferentes engrenagens.
Também nisso consiste o bom ou o mau da saúde e da doença, e é preciso que se vá
desenvolvendo uma integração de muitos elementos, aparentemente opostos, mas que na
realidade não o são. Assim, onde percebemos a alegria no rosto, nunca separamos a alma
do corpo, não observamos duas coisas que teriam alguma relação entre si, mas um todo que
posteriormente, ou seja, de uma forma totalmente secundária e artificiosa, podemos
separar.
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PSICANÁLISE - 3
2- A MEDICINA PSICOSSOMÁTICA
O próprio vocábulo “psicossomático”, usado correntemente, não está isento de crítica.
No fundo, ele trai a sua própria intenção semântica, pois em sua designação mostra-se
vítima de uma dualidade cartesiana entre corpo e alma, conforme assinala LÓPEZ IBOR.
Pela análise química pode-se chegar a conhecer os componentes da porcelana
utilizada para fabricar uma xícara e chegar, numa fase posterior, ao ordenamento dos
átomos. Esse problema se colocará na medida em que for necessário saber exatamente
como é constituída a xícara, e também é válido para o estudo do homem. É possível
desmontá-lo psicologicamente, pólos sobre a mesa. Para que serve ter uma xícara reduzida
a seus átomos, se o que se quer é beber café? O que é difícil saber, e geralmente escapa à
observação, é a forma como se produz e se possibilita a integração. Diz JASPERS: “Por
exemplo, se movo a minha mão ao escrever, sei o que quero e meu corpo obedece a essa
vontade finalista; o que ocorre é assinalável, em parte, nos aspectos neurológicos e
fisiológicos, mas o primeiro ato de tradução dos propósitos psíquico no acontecer corporal é
inacessível e incompreensível.
Deve-se considerar que as conexões fisiológicas estabelecem-se inteiramente em
círculos. O processo psíquico suscita uma série de fenômenos somáticos, que por sua vez
alteram o processo psíquico.
Do psiquismo partem as excitações e inibições relativamente rápidas, por exemplo, na
musculatura lisa dos vasos; em compensação, os efeitos sobre as glândulas endócrinas são
mais lentos, podendo-se observar o seguinte círculo: o psiquismo estimula o sistema
nervoso, este estimula as glândulas endócrinas, que produzem os hormônios, que, por sua
vez, influenciam o processo somático e psíquico.
Quanto aos conceitos em que se relacionam o psíquico e o somático, REICH diz em
seu artigo “Funcionalismo orgonótico” que se pode considerar que eles se integram de
acordo com o seguinte esquema:
Por outro lado, isso nada tem de novidade, pois Paracelso (Philippus Aureolus
Thephrastus von Hohenheim, c. 1493-1541), em seu livro Paragranum, editado em 1530, já
afirmou: “A base da medicina deve ser o estudo da natureza em sua leis físicas, telúricas e
cósmicas, a compreensão dos fenômenos biológicos e a preparação dos remédios mediante a
química.”
“O primeiro médico do homem é Deus, o fazedor da saúde. Pois o corpo não é um ente
separado, mas a morada para a alma. Portanto, o médico deve cuidar de pôr todos esses
elementos em harmonia, conseguindo assim uma verdadeira saúde. Esse harmonioso
acorde que une o homem as coisas do mundo com as divinas.”
A palavra religião - diga-se de passagem - provém do latim religare, ou seja, unir de
novo. O processo curativo deve participar dessa característica. Considerando assim o
problema, a religião seria a base da medicina, e PARACELSO prediz um mal para todos
aqueles que não realizam seu auto-conhecimento, pois não conhecem a substância de sua
própria natureza. Com a diversidade de técnicas e conceitos que devem ser utilizados na
medicina atual, fica difícil que uma só pessoa possa reunir e manipular todos eles
perfeitamente. Por isso a solução prática - ainda que não seja ideal - é o trabalho de equipe,
com um chefe que deve ter não só amplos conhecimentos, mas também habilidade
suficiente para poder integrar os diferentes dados fornecidos pelos componentes do grupo e,
a partir dessa aparente parcialização do paciente, formular um diagnóstico e uma terapia
integral.
3- HISTERIA
Histeria (é uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional. Os
conflitos interiores manifestam-se em sintomas físicos, como por exemplo, paralisia,
cegueira, surdez, etc. Pessoas histéricas freqüentemente perdem o autocontrole devido a um
pânico extremo. Foi intesamente estudada,por Charcot e Freud.
Foi considerada, até Freud, como uma doença exclusivamente feminina.
No final do século XIX, Jean Martin Charcot (1825-1893), um eminente neurologista
francês, que empregava a hipnose para estudar a histeria, demonstrou que idéias mórbidas
podiam produzir manifestações físicas. Seu aluno, o psicólogo francês Pierre Janet (1859-
1947), considerou como prioritárias, para o desencadeamento do quadro histérico, muito
mais as causas psicológicas do que as físicas.
Posteriormente, Sigmund Freud (1856-1939), em colaboração com Breuer, começou a
pesquisar os mecanismos psíquicos da histeria e postulou em sua teoria que essa neurose
era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional.
Os distúrbios sensoriais podem:
abranger os sentidos da visão, audição, paladar e olfato;
variar desde sensações peculiares até a hipersensibilidade ou anestesia total;
causar grande sofrimento com dores agudas, para as quais nenhuma causa
orgânica pode ser determinada.
Os distúrbios motores podem incluir uma gama de manifestações, como paralisia
total, tremores, tiques, contrações ou convulsões. Afonia, tosse, náusea, vômito, soluços são
muitas vezes de origem histérica.
Episódios de amnésia e sonambulismo são considerados reações de dissociação
histérica.
3.1. Etimologia
O termo tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta
condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no útero, hystera em grego.
O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um
movimento irregular de sangue do útero para o cérebro.
4- HISTÓRIA DA HISTERIA
Apenas uma razão de ordem histórica e de respeito pela cronologia dos êxitos e
fracassos da vida de Segmund Freud enquanto pesquisador explica o fato de neste módulo
se tomar a histeria como ponto de partida para o estudo do patológico e do normal para a
psicanálise.
Em nome do rigor científico a que estava preso, Freud não pôde aceitar nada do que se
dizia para explicar a histeria, sobretudo quando uma grande parcela dos argumentos e
razões pecava pelo desconhecimento de indiscutíveis fatores fisiológicos.
A “Grande Histeria” do século passado, que se manteve com suas notáveis
características até o início deste século, comportava uma mobilização geral e aguda de
sintomas e motivações, sendo lógico então que a psicanálise começasse a desenvolver-se por
esse caminho.
5- ESTUDOS REALIZADOS
5.1. Jean-Martin Charcot
Jean-Martin Charcot (Paris, 1825 — Morvan, 1893) foi um médico e cientista francês;
alcançou fama no terreno da psiquiatria na segunda metade do século XIX. Foi um dos
maiores clínicos e professores de Medicina da França e juntamente, com Guillaume
Duchenne, o fundador da moderna neurologia, suas maiores contribuições para o
conhecimento das doenças do cérebro foram o estudo da afasia e a descoberta do aneurisma
cerebral e causas de hemorragia cerebrais.
Durante as suas investigações, Charcot concluiu que a hipnose era um método que
permitia tratar diversas perturbações psíquicas, em especial a histeria.
Charcot é tão famoso quanto seus alunos: Sigmund Freud, Joseph Babinski, Pierre
Janet, Albert Londe, Georges Gilles de la Tourette, e Alfred Binet. A Síndrome de Tourette,
por exemplo, foi batizada por Charcot em homenagem a um de seus alunos, Georges Gilles
de la Tourette.
6- SINTOMAS FISICOS
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PSICANÁLISE - 12
6.1. Paralisia
6.2. Cegueira
A cegueira é a falta do sentido da visão. A cegueira pode ser total ou parcial; existem
vários tipos de cegueira dependendo do grau e tipo de perda de visão, como a visão
reduzida, a cegueira parcial (de um olho) ou o daltonismo.
7- SEMIÓTICA PSICANALÍTICA
Semiótica psicanalítica é uma área interdisciplinar das ciências humanas que se
propõe à reflexão para uma clínica da cultura contemporânea na confluência epistemológica
da semiótica aplicada e da psicanálise em extensão, construindo hipóteses e diagnósticos
referentes ao “ser no mundo” atual e à realidade social a partir de suas contradições ou
sintomas. Dessa forma, define e alcança o espaço de interseção das disciplinas da
linguagem com as incidências do inconsciente: as categorias peirceanas (primeridade,
secundidade e terceridade) e as categorias lacanianas (real, simbólico e imaginário). Sua
reflexão aponta para o conjunto de processos de produção capitalista, circulação e consumo
de significações na vida cotidiana, abordando todo e qualquer fenômeno humano, individual
ou coletivo - em especial, o estilo de recalcamento próprio desta época da história da
humanidade.
8- EPISTEMOLOGIA E SEMIÓTICA
Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego [episteme], ciência, conhecimento;
[logos], discurso) é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à
crença e ao conhecimento.
A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do
conhecimento (daí também se designar por filosofia do conhecimento). Ela se relaciona
ainda com a metafísica, a lógica e o empirismo, uma vez que avalia a consistência lógica da
teoria e sua coesão fatual, sendo assim a principal dentre as vertentes da filosofia (é
considerada a "corregedoria" da ciência).
Sua problematização compreende a questão da possibilidade do conhecimento: Será
que o ser humano conseguirá algum dia atingir realmente o conhecimento total e genuíno,
fazendo-nos oscilar entre uma resposta dogmática ou empirista? Outra questão abrange os
limites do conhecimento: Haverá realmente a distinção entre o mundo cognoscível e o
mundo incognoscível?
E finalmente, a questão sobre a origem do conhecimento: Por quais faculdades
atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a
priori?
Há ainda outras questões relativas ao conhecimento, como a apostasia da ciência de
seu verdadeiro sentido e sua aproximação à outras formas de aprendizado com estruturas
ilógicas e irracionais: O senso comum, a filosofia e a ciência, no mais das vezes, dão um
caráter universal ao contingente, tornando-o dogmático. Assim, a ciência, que sempre
julgou-se detentora única do saber, vê-se inserida em seu coexistente princípio de
contradição.
9- CATEGORIAS
9.1. Charles Sanders Peirce
valores relativos para os signos lingüísticos (entenda-se por isso um significante - imagem
acústica: um substantivo qualquer - e um significado - conceito: o substantivo real), ou seja,
“o valor respectivo das peças depende de sua posição sobre o tabuleiro, da mesma forma
que na língua cada termo tem seu valor pela oposição com todos os outros”.
Também nas colocações de Saussure percebe-se a influência da semiose, pois,
analogicamente, ao se começar um jogo de xadrez se têm a primeiridade no posicionamento
das peças no tabuleiro, em um segundo momento (no desenrolar das jogadas, no
pensamento das conseqüências de cada movimento das peças, não que se possa prever com
exatidão qual será a articulação feita pelo opositor) se vê o secundismo, por fim, é chegada a
hora do fechamento do ciclo com um xeque-mate ou mesmo com um empate entre os
jogadores. Então, não é assim nos diálogos travados entre falantes? Primeiro se propõe um
determinado assunto (primeirismo), o mesmo sendo aceito, vai-se então para o
desenvolvimento dos argumentos (secundismo) - em um verdadeiro jogo de palavras, frases,
orações e conceitos - as melhores explanações fecham a semiose em um ato de persuasão
da parte contrária (terceirismo). Contudo, pela lógica da semiose de Peirce, na lingüística
estrutural de Saussure, quando há a proposição de um novo debate, sobre o mesmo
assunto, abre-se a possibilidade de um novo fechamento, da parte antes vencida ser a
vencedora, basta que saiba ter habilidade no momento do secundismo.
Como em uma semiose aplicada ao macro da linguagem, a lingüística estrutural de
Saussure, como todas as outras correntes teóricas, sofreu embates, pois, segundo Émile
Benveniste (antes propagador das idéias do pesquisador suíço, no Círculo Lingüístico de
Praga) e Merleau-Ponty, a analogia de Saussure colocou a língua em um contexto mecânico.
Para Benveniste, o signo seria uma partícula arbitrária. Já Ponty, leva em consideração a
existência de um contexto inexpresso, ou seja, uma conexão que une, por exemplo, um
sujeito a um verbo, um conceito que daria à sentença um caráter vivo (orgânico) e não
simplesmente mecanicista.
Estes tipos de oposição podem ser tomados como algo agregador à evolução da
linguagem e não apenas como uma pura e simples realização das correntes que a estudam
no decorrer da história, em outros termos: o movimento dialético também pode ser o
instrumento que propulsiona o desenvolvimento dos signos e, segundo Clément, para Hegel,
tal movimentação não significa um método, mas a própria vida do espírito que se mantém
através do negativo.
Ou, citando Goethe, “eu sou aquilo que tudo nega, pois o que existe, é para ser
destruído”.
9.4. Pensamento
Peirce levou exatamente 30 anos, de 1967 a 1897, para completar sua teoria das
categorias.
Estas foram originalmente apresentadas no seu ensaio de 1867 "Sobre uma nova lista
de categorias" (Pierce, 1931-1958, 1.545, também publicado em Pierce, 1981, vol. 2, pp. 49-
59 e Peirce, 1992, pp. 2-10). Entretanto, foi apenas em 1897 que o sistema triádico de
Peirce ficou "fundamentalmente completo," quando ele "acrescentou o possível como um
modo de ser, e, ao fazê-lo, desistiu da sua teoria probabilística das freqüências inspirada em
Mill," renunciando, ao mesmo tempo, a qualquer resquício de nominalismo que pudesse
ainda porventura haver em seu pensamento. Foi só em 1902 que Peirce adotou suas
categorias, então chamadas de categorias fenomenológicas, como base geral para toda a sua
doutrina lógica.
Como afirmado em 1902 (L75: B8), há três perspectivas a partir das quais as
categorias deveriam ser estudadas antes de serem claramente apreendidas:
qualidade;
objeto e
mente.
Do ponto de vista ontológico da qualidade, o ponto de vista da primeiridade, as
categorias aparecem como:
qualidade ou primeiridade, isto é, o ser de uma possibilidade qualitativa positiva,
por exemplo, a mera possibilidade de uma qualidade nela mesma, tal como
vermelhidão, sem relação com qualquer outra coisa, antes que qualquer coisa no
mundo seja vermelha.
reação ou secundidade, quer dizer, a ação de um fato atual, qualquer evento no seu
aqui e agora, no seu puro acontecer, no ato em si de acontecer, o fato em si mesmo
sem que se considere qualquer causalidade ou lei que possa determiná-lo, por
exemplo, uma pedra que rola de uma montanha.
Mediação ou terceiridade, o ser de uma lei que governará fatos no futuro (Pierce,
1931-1958, 1.23), qualquer princípio regulador geral que governa a ocorrência de
um fato real, como por exemplo, a lei de gravidade que rege o rolar da pedra da
montanha.
Do ponto de vista do objeto ou secundidade, isto é, do ponto de vista do existente, as
categorias são:
qualia, quer dizer, fatos de primeiridade, por exemplo, a qualidade sui generis do
vermelho no céu em um certo entardecer de um outono qualquer nos pampas
gaúchos.
relações, isto é, fatos de secundidade, tal como a percussão resultante da batida da
pedra no chão, quando o esforço da pedra contra a resistência do solo resulta em
polaridade bruta.
representação, isto é, signos ou fatos de terceiridade: a palavra "céu," uma foto ou
uma pintura do céu como signos do céu.
Do ponto de vista da mente ou terceiridade, as categorias são:
imagem é, sem dúvida, a sua, mas ao mesmo tempo é a de um outro, pois está em déficit
com relação a ela. Devido a esse intervalo, a imagem de fato captura a criança e esta se
identifica com ela. Isso levou Lacan à idéia de que a alienação imaginária, quer dizer, o fato
de identificar-se com a imagem de um outro, é constitutiva do eu (moi) no homem, e que o
desenvolvimento do ser humano está escondido por identificações ideais. É um
desenvolvimento no qual o imaginário está inscrito, e não um puro e simples
desenvolvimento fisiológico. (Miller, 1977, pp. 16-17 apud Santaella & Nöth, 1998, pp. 189-
190).
A constituição do eu toma lugar durante o estágio do espelho e começa com o
reconhecimento da identidade próprio do eu através da imagem especular em um jogo
paradoxal, de oscilação entre o eu e o outro. Senhor e servo do imaginário, o ego se projeta
nas imagens em que se espelha: imaginário da natureza, do corpo, da mente, das relações
sociais. Buscando por si mesmo, o ego acredita se encontrar no espelho das criaturas para
se perder naquilo que não é ele. Esta situação é fundamentalmente mítica. É uma metáfora
da condição humana, uma vez que estamos sempre ansiando por uma completude que não
pode jamais ser encontrada, infinitamente capturada em miragens que ensaiam sentidos
onde o sentido está sempre em falta.
A correspondência do imaginário com a categoria da primeiridade não é difícil de ser
percebida. Qualquer identificação é imaginária em todas as ocasiões. Identificar é obliterar a
distinção entre o sujeito e o objeto da identificação. É dissolver as fronteiras que poderiam
distinguir e separar o ego do outro. A identificação corresponde, portanto, a um estado
monádico que almeja a totalidade, completude e auto-suficiência. O imaginário é uma
mônada que se alimenta da miragem do outro, uma miragem na iminência da dissipação e
da perda. Ser eu, sendo, ao mesmo tempo, o outro, é idílico mas também mortífero, pois um
dos polos dessa pretensa unidade está sempre à beira do desaparecimento. Tal iminência de
dissipação é uma das principais características da primeiridade.
B. O Real. O registro psíquico do real não deve ser confundido com a noção corrente
de realidade. Para Lacan, o real é aquilo que sobra como resto do imaginário e que o
simbólico é incapaz de capturar.
O real é o impossível, aquilo que não pode ser simbolizado e que permanece
impenetrável ao sujeito do desejo para quem a realidade tem uma natureza fantasmática.
Diante do real, o imaginário tergiversa e o simbólico tropeça. Real é aquilo que falta na
ordem simbólica, os restos que não podem ser eliminados em toda articulação do
significante, aquilo que só pode ser aproximado, jamais capturado.
Lacan veio reconhecer que, para o ser falante, não há adequação na relação entre o
objeto e sua imagem, entre as partes do corpo e a imagem que se tem dele. Como a nossa
imaginação desordenada pode preencher sua função? Como o imaginário e o real podem ser
articulados na economia psíquica do sujeito? Esta polaridade, esta fratura entre o
imaginário e o real, entre o simbólico e o real corresponde exatamente à categoria da
secundidade. O real é sempre bruto e abrupto. É causação não governada pela lei do
conceito. O real resiste ao simbólico porque ele insiste, en souffrance, de tocaia para tomar
de assalto o simbólico.
C. O Simbólico. O registro do simbólico é o lugar do código fundamental da
linguagem. Ele é lei, estrutura regulada sem a qual não haveria cultura. Lacan chama isso
de grande Outro. O Outro, grafado em maiúscula, foi adotado para mostrar que a relação
entre o sujeito e o grande Outro é diferente da relação com o outro recíproco e simétrico ao
eu imaginário. Miller (1987) nos fornece uma apresentação bastante clara do simbólico, no
que se segue.
O outro é o grande Outro da linguagem, que está sempre já aí. É o outro do discurso
universal, de tudo o que foi dito, na medida em que é pensável. Diria também que é o Outro
da biblioteca de Borges, da biblioteca total. É também o Outro da verdade, esse Outro que é
um terceiro em relação a todo diálogo, porque no diálogo de um com outro sempre está o
que funciona como referência tanto do acordo quanto do desacordo, o Outro do pacto
quanto o Outro da controvérsia.
Todo mundo sabe que se deve estar de acordo para poder realizar uma controvérsia, e
isso é o que faz com que os diálogos sejam tão difíceis. Deve-se estar de acordo em alguns
pontos fundamentais para poder-se escutar mutuamente. É o Outro da palavra que é o
alocutário fundamental, a direção do discurso mais além daquele a quem se dirige. A quem
falo agora? Falo aos que estão aqui e falo também à coerência que tento manter. (p. 22)
A correspondência do registro simbólico com a terceiridade é óbvia. O grande Outro
em todos os seus sentidos é sempre terceiridade. É lei, mediação, estrutura regulada que
prescreve o sujeito.
A análise fenomenológica dos registros psicanalíticos exemplifica uma característica
importante das categorias universais de Peirce. Embora essas categorias sejam
onipresentes, não podendo ser claramente separadas em qualquer fenômeno dado, há
sempre uma predominância de uma sobre as outras. Assim, primeiridade, secundidade e
terceiridade podem ser proeminentemente percebidas no imaginário, real e simbólico
respectivamente.
Uma extensão importante que pode ser derivada da correspondência das categorias
fenomenológicas com os três registros baseia-se no princípio da recursividade. Se as
categorias são onipresentes, o real e o simbólico devem também aparecer no registro do
imaginário, o real e o imaginário devem estar presentes no registro do simbólico e o
imaginário e simbólico também devem estar presentes no registro do real.
O imaginário é a categoria psicanalítica da demanda de amor, o real é a categoria da
pulsão e o simbólico, do desejo. A análise da demanda de amor, de fato, revela que ela
depende da linguagem, não há demanda sem linguagem, pois a demanda humana se
expressa através de signos ou através daquilo que Lacan chamou de cadeia de significantes.
Alienada na linguagem a demanda humana é capturada no deslocamento infinito da cadeia
metonímica do desejo, na cadeia de significantes do simbólico. Ao mesmo tempo, a demanda
de amor é acossada pelas vicissitudes obscuras da pulsão sexual. Apesar da predominância
da demanda de amor (primeiridade) que o caracteriza, o imaginário também apresenta sua
face simbólica (terceiridade) e sua face real (secundidade).
Relações triádicas homólogas também aparecem no registro do real que está sob a
dominância da pulsão. Esta indica a grande distinção que separa a sexualidade animal da
humana. Pulsão é uma necessidade que não pode jamais ser inteiramente satisfeita. Devido
à mediação do simbólico, a mera necessidade não pode existir para o humano. O que existe
em seu lugar é o curso circular sem fim da pulsão. O papel do imaginário na pulsão também
se torna aparente na fantasia que acompanha a busca humana pela satisfação.
O registro do simbólico, sob o governo do desejo, não é menos triádico do que os
outros três registros. Sem o estofo do imaginário, o simbólico não seria nada mais do que
uma cadeia vazia, um infinito deslocamento de significantes. Sem o real do corpo, por outro
lado, ele não seria nada mais do que uma maquinaria combinatória, maquinaria
desencarnada feita de padrões e regras.
Outro domínio para a comparação entre Lacan e Peirce diz respeito à visão peirciana
da relação entre fenomenologia e semiótica. Para Peirce, fenomenologia ou faneroscopia é
uma quaseciência. É apenas a porta de entrada para sua arquitetura filosófica. Embora as
categorias sejam um ponto de partida importante para a análise de um dado fenômeno, as
ferramentas analíticas não vêm delas, mas sim dos conceitos semióticos. Isso não quer dizer
que a fenomenologia e a semiótica estejam separadas. Ao contrário, elas estão
indissoluvelmente atadas. Mesmo assim, suas diferenças não podem ser negligenciadas. A
fenomenologia descreve o fenômeno como ele aparece. O resultado dessa descrição são as
categorias universais. Ora, a terceira categoria corresponde à noção de signo. Ela é o signo.
Assim, a semiótica nasce no coração da fenomenologia. A diferença está no fato de que os
11 - PSICOLOGIA SOCIAL
A psicologia social surgiu para estabelecer uma ponte entre a psicologia e a sociologia.
O seu objeto de estudo é o comportamento dos indivíduos quando estão em interação.
Ela também pode ser definida como o estudo do condicionamento que os processos
mentais impõem à vida social do homem, ao mesmo tempo que as diversas formas da
convivência social influem na manifestação concreta dos mesmos.
Segundo Aroldo Rodrigues, psicólogo brasileiro, a psicologia social é o estudo das
"manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras
pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação".
A interação social, a interdependência entre os indivíduos e o encontro social são os
objetos investigados por essa área da psicologia. Assim, vamos falar dos principais conceitos
da psicologia social a partir do ponto de vista do encontro social: a percepção social, a
comunicação, as atitudes, as mudanças de atitudes, o processo de socialização, os grupos
sociais e os papéis sociais.
Hoje em dia, a teoria da psicologia social tem recebido inúmeras críticas. Apontamos
agora as principais:
Baseia-se num método descritivo, ou seja, um método que se propõe a descrever
aquilo que é observável, fatual. É uma psicologia que organiza e dá nome aos
processos observáveis dos encontros sociais.
Tem seu desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte-
americana do pósguerra, que precisava de conhecimentos e de instrumentos que
possibilitassem a intervenção na realidade, de forma a obter resultados imediatos,
com a intenção de recuperar a nação, garantindo o aumento da produtividade
econômica. Não é para menos que os temas mais desenvolvidos foram a
comunicação persuasiva, a mudança de atitudes, a dinâmica grupal etc, voltados
sempre para a procura de "fórmulas de ajustamento e adequação de
comportamentos individuais ao contexto social".
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PSICANÁLISE - 22
Parte de uma noção estreita do social. Este é considerado apenas como a relação
entre pessoas – a interação pessoal -, e não como um conjunto de produções
humanas capazes de, ao mesmo tempo em que vão construindo a realidade social,
construir também o indivíduo. Esta concepção será a referência para a construção
de uma nova psicologia social.
Psicologia Social - Estudo científico da Psicologia dos seres humanos nas suas
relações com outros indivíduos, quer sejam influenciados, quer ajam sobre eles; pensamos e
sentimos de determinada maneira porque somos seres sociais; o mundo em que vivemos é,
em parte, produto da maneira como pensamos.
A Psicologia Social só toma em consideração a dimensão social dos fenómenos
psicológicos.
Objecto - A Psicologia Social é a ciência que procura compreender os “como” e os
“porquê” do comportamento social.
Campo de Ação - Comportamento analisado em todos os contextos do processo de
influência social: interação pessoa/pessoa; interação pessoa/grupo; interação grupo/grupo.
Estuda as relações interpessoais: comunicação; influências; conflitos; autoridade; etc.
Investiga os factores psicológicos da vida social: estatuto social; liderança;
estereótipos; etc.
Analisa os factores sociais da Psicologia Humana: motivação; atitudes; opiniões;
preconceitos; etc.
12 - O DESENVOLVIMENTO DO
COMPORTAMENTO SOCIAL
12.1. O Processo de Socialização
O ser humano é uma ser gregário, não vive isolado. Ao contrário, ele participa de
vários grupos entre os quais estão a família- onde se desenvolve a socialização primária -, os
companheiros, a escola, a comunidade religiosa etc. – com os quais desenvolve a
socialização secundária. Em cada grupo ele deve desempenhar um papel, ou seja, um modo
estruturado de comportar-se em um grupo. Realizando aquilo que se espera que um
indivíduo faça quando ocupa uma posição no grupo.
Assim, existe um padrão de comportamento para o aluno, para o professor, para o
noivo, para o pai etc. Além disso, existem padrões de comportamento que são considerados
adequados para as diferentes idades e gêneros.
O papel de professor, tradicionalmente aceito, inclui explicar, fornecer informações,
dirigir uma discussão, questionar, avaliar, aconselhar etc. O papel de mãe inclui o cuidado
com a casa e com a alimentação da família, a criação, a proteção e a orientação das
crianças. Do pai espera-se que oriente os filhos, trabalhe e forneça o sustento para todos.
Da criança exige-se afeto, obediência e respeito a seus pais e irmãos.
Ao mesmo tempo que uma criança desempenha o seu papel, aprende os papéis de seu
pai, de sua mãe e dos demais familiares. Uma criança, depois de fazer uma coisa errada,
pode chamar a si mesma de “feia”, exatamente como ela acha que faria sua mãe.
Pode imitar os movimentos de seu pai ao dirigir o automóvel da família. Pode, ainda,
brincar da mesma forma como fazem seus irmãos mais velhos. Isso mostra que os
elementos da família se transformaram em modelos cuja conduta pode ser imitada.
Ninguém discute que há necessidade de se disciplinar uma criança e que está é uma
tarefa que cabe, fundamentalmente, aos pais. É evidente que a socialização da criança
requer a imposição de certos controles e o estabelecimento de certas regras. Sem esses
controles e regras não seria possível a aprendizagem de habilidades, atitudes e
comportamentos necessários a vida em grupo.
Embora sejam, inicialmente, externas, as normas de conduta devem ser adotadas pelo
indivíduo e servir de guias que são seguidos mesmo quando a autoridade externa não está
presente. A substituição do controle externo pelo autocontrole se dá por um processo de
internalização, ou seja, pela formação de uma consciência moral.
Como já foi visto, a consciência moral consiste no conjunto de valores que permite ao
indivíduo distinguir entre o bem e o mal, em suas convicções sobre suas responsabilidades
e sobre o que deve ou não fazer. Quando o indivíduo age de acordo com esses valores e
convicções, ele sente orgulho de si mesmo; quando os transgride, sente culpa ou remorso.
valor das regras, uma vez que estas parecem ser expressão de um estado de humor
momentâneo.
13 - PERSONALIDADE
O termo personalidade é empregado pelo senso comum com diferentes significados.
Algumas vezes, a personalidade é entendida como uma avaliação da imagem social do
indivíduo. “Ele não tem nenhuma personalidade” ou “Ele tem muita personalidade”.
Sugerindo uma escala de valores, dentro da qual um determinado traço está sendo
considerado pelo observador.
Outras vezes, o termo é empregado não apenas como sinônimo de uma única
característica, mas também de um conjunto de características que são socialmente
eficientes.
Um vendedor que procura “melhorar sua personalidade” tenta falar fluentemente
sobre diversos assuntos, ser bem-humorado, adaptável, ter certa postura em público etc.
Não existem pessoas com “mais” ou “menos” personalidade do que as outras. Cada um tem
sua individualidade, ou seja, sua personalidade. A singularidade é a característica
fundamental do ser humano.
De maneira geral, a personalidade pode ser definida como a maneira pela qual um
indivíduo age, pensa e sente. A personalidade, portanto, representa as características
duradouras de um indivíduo, que o diferenciam dos demais. Essa definição, embora
genérica, inclui aspectos estruturais e dinâmicos.
O único critério seguro de nossa identidade pessoal é a consciência que temos de nós
mesmos. Nessa parte da personalidade, às vezes denominada Eu, outras vezes Ego,
predominam aspectos conscientes. No entanto, nem sempre podemos saber se aquilo de que
temos consciência é objetivamente verdadeiro. Alguns pensamentos e atos parecem ser mais
significativos para o Eu do que outros, embora não saibamos se para isso contribuíram
fatores conscientes ou inconscientes.
O Eu refere-se ao conjunto de conhecimentos, sentimentos e atitudes que uma pessoa
tem em relação à sua aparência, às suas potencialidades, às suas emoções, aos seus
motivos e aos seus comportamentos.
A consciência que uma pessoa tem de si mesma dá identidade e sentimento de
continuidade às suas experiências. Se uma pessoa, por exemplo, se percebe inferior a seus
pares, essa percepção afetará a maioria de suas ações, mesmo que inferioridade não seja
objetivamente verdadeira. Provavelmente ela evitará expor publicamente suas idéias, manter
ou defender um ponto de vista ou assumira a liderança em algumas atividades porque acha
que irá fracassar ou que será ridicularizada.
A autoconsciência desenvolve-se gradualmente e emerge durante os primeiros seis
anos de vida. Os maiores avanços ocorrem no segundo ano, com o aparecimento da
linguagem. Podemos dizer que autoconsciência é processo mais importante da vida de uma
pessoa e constitui o sistema central que vai dirigir e integrar as informações e forças
resultantes das várias formas de interação com pessoas ou objetos. Portanto, o sentido do
Eu é o núcleo da personalidade.
comportada. Ela acredita que os outros pensam aquilo que ela pensa e não sente
necessidade de explicar suas emoções.
O egocentrismo também é manifestado no direito de posse. Tudo é exclusivamente
dela: seus pais, seus irmãos, sua casa, seus brinquedos. Ela não aceita dividir nada com
ninguém. Briga com os outros para garantir a propriedade absoluta de tudo.
C. Dos 6 aos 12 anos de idade. Neste período o sentido de identidade se amplia.
As crianças dessa faixa etária são francas quanto às suas fraquezas e características.
Elas se chamam por apelidos, que geralmente estão relacionados a alguma deficiência. O
ingresso na escola coloca a criança diante de uma realidade estranha ao seu ambiente
familiar. Ela aprende, por exemplo, que a linguagem ensinada por seus pais pode não ser a
mesma usada por seus colegas, que seu modo de vestir tem de ser mudado. Aprende
também que tem que tomar cuidado com o que fala e com o que faz.
A necessidade de incorporar essas diferenças conduz à revisão e à mudança de
hábitos. Seus esforços para modificar sua maneiras de agir e para ocultar os traços
desaprovados acabam influenciando o conceito que ela tem de si mesma. Essa necessidade
de auto-regulação e de aquisição de novas condutas, freqüentemente, resulta em uma
ampliação e intensificação do Eu.
Outro fator que contribui para a ampliação do Eu é a realização de tarefas tais como
fazer compras, ir à escola sozinha, arrumar estantes, realizar pequenos concertos de seus
brinquedos. O sentir-se independente nas suas atividades cotidianas aumenta a
autoconfiança.
A criança que já adquiriu identidade e autoconfiança é bem-ajustada, ou seja, brinca
bem com seus companheiros durante longos períodos, é prestativa com seus irmãos e
colegas, tem seus desempenhos escolares próximos de suas capacidades e mostra relativa
independência dentro ou fora do lar. Isso não ocorre, no entanto, quando há rejeição
constante por parte dos colegas e quando ela sofre forte interferência dos pais em sua livre
iniciativa.
A criança que não tem liberdade de ação ou de utilização de seus dotes naturais
encontrará dificuldades nas atividades escolares e nas relações com seus companheiros. A
falta de iniciativa a torna dependente, com pouca confiança em si mesma e bloqueada na
manifestação de seus sentimentos e desejos, o que dificulta uma clara consciência de si
mesma.
D. Adolescência. Na adolescência o problema de identidade se torna mais agudo. A
conhecida rebeldia dos adolescentes tem uma ligação estreita coma busca da identidade. A
rejeição e oposição, total ou parcial, aos pais é um estágio necessário, embora cruel, desse
processo. A rebeldia do adolescente corresponde ao negativismo da criança de dois anos de
idade.
A auto-imagem do adolescente depende dos outros. Ele procura a popularidade e teme
a rejeição. Seus cabelos, seu gosto musical, sua roupa, seus maneirismos se conformam aos
padrões de seu grupo. Raramente ele desafia esses padrões. Sua auto-imagem e seu sentido
de identidade ainda não podem suportar tensões que resultariam desse desafio.
O jovem que está atrasado em seu desenvolvimento físico sente-se infeliz. Ele não
pode suportar o fato de sua barba ainda ser rala ou de sua voz não ter engrossado. A moça
não se conforma pelo fato de seu corpo ainda não ter as formas femininas definidas.
A busca da identidade se reflete na freqüência com que o adolescente experimenta
diferentes tipos. Ele modifica constantemente sua maneira de conversar, de pentear os
cabelos, imita um herói, depois outro, e assim sucessivamente. O que realmente deseja
ainda não aconteceu: sua verdadeira identidade.
Como normalmente os pais criticam ou ridicularizam essas preocupações do
adolescente, ele busca apoio nos companheiros. Os jovens passam horas ao telefone,
discutindo como comportar-se com o sexo oposto, qual a roupa para ir a uma festa ou
mesmo contando suas “proezas”. Até o namoro é uma forma de testar sua auto-imagem; por
isso, suas paixões são intensas e de pouca duração.
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PSICANÁLISE - 30
Uma outra fonte de conflito para o adolescente são as necessidades sexuais. Os jovens
já aprenderam as coerções sociais e acham difícil harmonizar seus impulsos com as
convenções.
Outra área de dúvida, ainda é a escolha de uma profissão ou de um objetivo de vida. O
adolescente sabe que seu futuro precisa seguir um plano. Freqüentemente ele espera
demais da vida. Muitos dos seus ideais são tão elevados que é quase inevitável uma
desilusão. Talvez, anos mais tarde, ele descubra limites reais para suas aspirações, à
medida que a experiência lhe mostra que ninguém pode ser tão famoso quanto ele
pretendia, nem tão talentoso quanto ele imaginava ser ou que nenhum casamento pode ser
tão perfeito quanto ele sonhava.
Ajustar a auto-imagem e as aspirações às condições reais que a vida oferece é uma
tarefa para o adulto. Contudo, a colocação de objetivos muito elevados, que é característica
do adolescente, é uma fase muito importante na evolução do sentido do Eu.
A auto-realização que é um dos motivos orientadores de nossas vidas, surge na
adolescência. Portanto, enquanto o jovem não começar a elaborar planos de vida, o sentido
do Eu não estará completo.
A maioria das pessoas enfrenta muitas dificuldades para abandonar os
comportamentos pueris ou adolescentes. À medida que a idade avança, tornam-se
constantes as cobranças quanto à realização profissional, à formação de uma família, à
responsabilidade social etc. A pessoa madura é aquela que adquiriu uma identidade e
integrou as várias dimensões da evolução do sentido do Eu em um sistema estruturado.
Todas as características das fases precedentes – o sorriso autêntico da criança da primeira
infância, a curiosidade e a experimentação do pré-escolar, a autonomia conquistada pelo
escolar, a coragem e o idealismo do adolescente – devem ser incorporadas na personalidade
adulta, embora expressas de novas maneiras.
14.1. Humanista
A. Conflito. O conflito é tanto uma forma de agressão quanto uma frustração. Quando
afirmamos que uma pessoa está em conflito com outra pessoa, com sua família ou
sociedade, queremos dar a entender que há um sentimento de hostilidade e agressão entre
elas. A pessoa pode expressar estes sentimentos mediante atos agressivos que variam desde
a desaprovação silenciosa até o assassinato.
B. Conflitos Internos. O conflito interno é aquele que existe na intimidade da pessoa.
Estes conflitos são frustrantes na medida em que impedem a pessoa de alcançar o que
deseja e portanto envolve também agressão. Um conflito interno é como uma guerra civil,
posto que ocorre entre duas forças opostas no interior das pessoas. Um conflito interno
muito comum surge quando uma pessoa deseja alguma coisa condenada por sua
consciência.
Os conflitos internos eclodem entre duas respostas incompatíveis de aproximação
(desejo) e evitação (medo).
C. Resolução de Conflitos. Se todos os conflitos internos podem ser representados por
força opostas no íntimo da pessoa ou tendências comportamentais de aproximação e
evitação então verificaremos que a resolução de conflitos ocorrerá de diferentes maneiras.
A tendência para aproximação pode ser fortalecida, a tendência para o afastamento
pode ser enfraquecida ou ambos podem ocorrer ao mesmo tempo. Por exemplo, uma criança
que tenha medo das ondas do mar pode ser conduzida lentamente para a água encorajada e
apoiada por um adulto. Se isto for feito cuidadosamente e repetido de tempos em tempos, o
medo enfraquecerá ou desaparecerá, e o conflito poderá ser resolvido. O adulto deve reforçar
as tendência de aproximação e enfraquecer as de afastamento.
Para situações de vida perigosas deve ser fortalecido o afastamento e enfraquecida a
aproximação. Ameaças, explicações e punições são empregadas para enfraquecer a
aproximação do que pode ser perigoso.
D. Negociação dos Conflitos. No processo de ajustamento do homem ao seu ambiente,
destacam-se os mecanismos psicológicos que permitem a acomodação dos conflitos. O
estudo desses mecanismos, segundo a psicanálise permite compreender melhor as maneiras
de o indivíduo contornar os obstáculos que se antepõem aos seus desejos. Os mecanismos
de defesa são métodos defensivos do ego para se livrar da ansiedade.
Racionalização. O indivíduo procura dar explicação ou justificativa para o que
percebe, sente e faz. As racionalizações compensatórias, permitem a resolução de
conflitos. Ex.: Raposa e as Uvas. Não podendo alcançar as uvas a raposa procurou
ajustar-se à situação, alegando estarem as mesmas verde.
Fantasia. Talvez a felicidade se resuma em desejar-se muito e contentar-se com
pouco. Dificilmente nos contentamos com o que temos e cada dia desejamos mais,
porque somos constantemente motivados a comprar automóvel, viajar, assistir
espetáculos caros. Não podendo obter tudo que ansiamos nem sobrepor todos os
obstáculos da vida, recorremos a fantasia, trocando o mundo real por um mundo
fantástico, onde as barreiras são transpostas com facilidade. Esse mecanismo
permite temperar as dificuldades da realidade.
Projeção. Pensamentos e sentimentos que na realidade são nossos são atribuídos a
pessoas e objetos que nos cercam. Ex.: O aluno que é reprovado coloca a culpa no
professor X que é incapaz.
Deslocamento. Uma emoção ligada a uma idéia inaceitável pela própria pessoa é
recalcada no inconsciente, pode transferir-se para uma outra idéia neutra.
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PSICANÁLISE - 35
Uma pessoa saudável é aquela que domina ativamente seu ambiente, mostra certa
unidade de personalidade e é capaz de perceber adequadamente seu mundo e a si
mesma;
É alguém que mantém um comportamento harmonioso, sem fazer exigências
excessivas aos outros e a sua própria pessoa;
Nem sempre estão felizes e livres de conflitos. Irritações, aborrecimentos e
sofrimentos ocorrem na vida de qualquer pessoa;
É tolerante à frustração (planeja uma forma de evitar ou superar o obstáculo e
aguarda a oportunidade, se necessário resigna-se ao inevitável.
Enfrenta o mundo e seus problemas (cresce o eu e o domínio de si mesmo).
É dominada por motivações conscientes.
B. Patológico.
Adulto desajustado enfrenta frustrações como uma criança, com ataques de
desespero, cólera, piedade de si mesmo, atribui aos outros a culpa de seus
insucessos.
Foge do mundo como forma de reagir à realidade (doentio, auto destrutivo).
Modo rígido e fechado de viver (estagnação no processo de individuação e de
crescimento emocional que impedem auto realização e a busca de si mesmo.
Sistema de motivação é cego, inconsciente, normalmente auto destrutivo.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DOR, Joël. Estruturas e Clínica Psicanalítica. Rio de Janeiro: Livrarias TAURUS-
TRIMBRE Editores, 1991.