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SUMÁRIO

1 - SOBRE A PSICOLOGIA ..........................................................................................2


2 - A MEDICINA PSICOSSOMÁTICA ............................................................................3
3 - HISTERIA..............................................................................................................5
3.1. ETIMOLOGIA ............................................................................................................. 5
3.2. HISTERIA E FEITIÇARIA ............................................................................................... 6
4 - HISTÓRIA DA HISTERIA .......................................................................................6
4.1. ERA CONTEMPORÂNEA ............................................................................................... 8
5 - ESTUDOS REALIZADOS.......................................................................................11
5.1. JEAN-MARTIN CHARCOT ........................................................................................... 11
5.2. SIGMUND FREUD ..................................................................................................... 11
6 - SINTOMAS FISICOS ............................................................................................11
6.1. PARALISIA ............................................................................................................... 12
6.2. CEGUEIRA .............................................................................................................. 12
6.3. DEFICIÊNCIA AUDITIVA ............................................................................................. 12
7 - SEMIÓTICA PSICANALÍTICA ...............................................................................12
7.1. DISCIPLINAS EVOLVIDAS ........................................................................................... 12
8 - EPISTEMOLOGIA E SEMIÓTICA ..........................................................................13
9 - CATEGORIAS ......................................................................................................13
9.1. CHARLES SANDERS PEIRCE ....................................................................................... 13
9.2. A DANÇA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM PELA SEMIOSE DE P EIRCE ................................ 14
9.3. JACQUES LACAN ...................................................................................................... 15
9.4. PENSAMENTO .......................................................................................................... 16
10 - AS TRÊS CATEGORIAS PEIRCIANAS E OS TRÊS REGISTROS LACANIANOS ....16
10.1. AS CATEGORIAS UNIVERSAIS DE P EIRCE ..................................................................... 17
10.2. OS TRÊS REGISTROS PSICANALÍTICOS......................................................................... 18
10.3. A ONIPRESENÇA DAS CATEGORIAS ............................................................................. 20
10.4. DA FENOMENOLOGIA À SEMIÓTICA ............................................................................. 20
11 - PSICOLOGIA SOCIAL .......................................................................................21
11.1. CRÍTICAS À PSICOLOGIA SOCIAL ................................................................................. 21
11.2. UMA NOVA PSICOLOGIA SOCIAL E INSTITUCIONAL ......................................................... 22
12 - O DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO SOCIAL...................................23
12.1. O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ................................................................................. 23
12.2. A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE PESSOAL E CULTURAL .................................................... 23
12.3. O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS ................................................................. 24
13 - PERSONALIDADE ............................................................................................26
13.1. ASPECTOS ESTRUTURAIS DA PERSONALIDADE .............................................................. 26
13.2. ASPECTOS DINÂMICOS DA P ERSONALIDADE ................................................................. 26
13.3. A A UTOPERCEPÇÃO OU AUTOCONSCIÊNCIA .................................................................. 27
13.4. O DESENVOLVIMENTO DA I DENTIDADE ....................................................................... 27
13.5. TEORIAS DA P ERSONALIDADE .................................................................................... 30
13.6. ALGUNS CONCEITOS FREUDIANOS .............................................................................. 32
14 - PSICANÁLISE: MÉTODO E FORMA DE ATUAÇÃO.............................................32
14.1. HUMANISTA ............................................................................................................ 33
14.2. CONFLITO, F RUSTRAÇÃO E A JUSTAMENTO ................................................................... 34
14.3. O NORMAL E O PATOLÓGICO ..................................................................................... 35
14.4. TERAPIAS: ENFOQUES P RINCIPAIS .............................................................................. 36
PSICANÁLISE - 2

1- SOBRE A PSICOLOGIA
A psicologia situa-se entre as ciências mais jovens no campo da medicina e talvez por
isso esteja tão difundida atualmente a idéia de que ela é, em grande parte, a matéria de
especulações puras, de tecnicismos triviais ou, como disse WELLES, “apenas um refúgio
para a ociosa indústria dos pedantes”.
Não falta quem acredite que o psicológico tem pouca ou nenhuma influência sobre a
conduta humana, seus problemas ou os chamados distúrbios somáticos. No entanto, apesar
de seus poucos anos de existência, a psicanálise contribuiu com notáveis conhecimentos
para quase todas as especialidades médicas, a tal ponto que prescindir deles no tratamento
de certos distúrbios que se manifestam no ser humano seria tão impróprio quanto
renunciar ao uso de antibióticos.
A grande transformação operada no estudo das neuroses e psicoses, que Freud não só
iniciou como empreendeu durante mais de 50 anos de infatigável trabalho, pode ser
comparada com a que ocorreu na medicina geral graças aos métodos de auscultação,
percussão, medição da temperatura, radiologia, bacteriologia, física e bioquímica.
A psicanálise levou o conhecimento das doenças a um novo nível científico e, como
disse JASPERS em sua patologia geral, “Freud marcou época na psiquiatria com o seu novo
ensaio de compreensão psicológica.
Em suma: a teoria e o método psicanalítico convertem a antiga psiquiatria descritiva,
estática, numa ciência dinâmica ou psiquiatria interpretativa, ao ingressar-se nela.
A maioria dos especialistas da psiquiatria norte-americana reconhece, cada vez mais,
a importância dos conceitos psicanalíticos, incorporando-os ao ensino. Isso é, em grande
parte, uma resposta à solicitação de médicos e estudantes, cujas experiências durante a
Segunda Guerra Mundial os levaram à necessidade de admitir um conceito dinâmico das
doenças e dos problemas humanos que até então lhes eram inacessíveis.
Atualmente, a maioria dos professores de psiquiatria dos Estados Unidos ou são
psicanalistas, ou assimilaram uma quantidade suficiente de conhecimentos de psicanálise.
O resultado final é que a psicanálise deixou de ser uma disciplina de grupo para integrar-se
amplamente no campo da psiquiatria e da medicina em geral, passando a constituir parte
básica da abordagem do paciente pelo médico.
Os grandes avanços registrados nos últimos anos em relação a alguns processos que
intervêm na etiologia dos distúrbios psíquicos projetaram uma luz clara não apenas no
terreno da clínica, mas também no da prevenção. É perfeitamente conhecido o fato de que o
bem-estar do homem não depende exclusivamente de uma saúde física mas também de
uma correta adaptação ao meio, com uma capacidade adequada para enfrentar as
necessidades sociais, econômicas e industriais da vida moderna.
Um estudo mais completo dos mecanismos psicodinâmicos capacitaria o médico a
adotar, diante do paciente, uma posição que lhe permitisse um enfoque global. Para isso é
preciso considerar o psíquico como função do orgânico, já que não se pode falar de
paralelismo nem de interação, o que implicaria uma concepção dualista, em vez de uma
noção funcional e monista.
O funcional e monista é a integração de todos os fatores; a hierarquia, a compreensão
da função com respeito ao ser. O funcional o adequado, é o que serve para desenvolver ao
máximo as potencialidades. Para poder-se dizer que um automóvel é bom, temos que ver ser
funciona e, sobretudo, como funciona; quanta gasolina e quanto óleo consome, como se
articulam suas diferentes engrenagens.
Também nisso consiste o bom ou o mau da saúde e da doença, e é preciso que se vá
desenvolvendo uma integração de muitos elementos, aparentemente opostos, mas que na
realidade não o são. Assim, onde percebemos a alegria no rosto, nunca separamos a alma
do corpo, não observamos duas coisas que teriam alguma relação entre si, mas um todo que
posteriormente, ou seja, de uma forma totalmente secundária e artificiosa, podemos
separar.
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PSICANÁLISE - 3

A integração do somático e do psíquico está comprovada de diversas maneiras, em


fatos que usam conceitos corpo-alma, podem ser formulados grosso modo; por exemplo,
para compreendermos como o somático atua sobre o psíquico podemos assinalar a ação dos
tóxicos (mescalina e LSD), as lesões cerebrais, a ação da insulina e o eletrochoque.

2- A MEDICINA PSICOSSOMÁTICA
O próprio vocábulo “psicossomático”, usado correntemente, não está isento de crítica.
No fundo, ele trai a sua própria intenção semântica, pois em sua designação mostra-se
vítima de uma dualidade cartesiana entre corpo e alma, conforme assinala LÓPEZ IBOR.
Pela análise química pode-se chegar a conhecer os componentes da porcelana
utilizada para fabricar uma xícara e chegar, numa fase posterior, ao ordenamento dos
átomos. Esse problema se colocará na medida em que for necessário saber exatamente
como é constituída a xícara, e também é válido para o estudo do homem. É possível
desmontá-lo psicologicamente, pólos sobre a mesa. Para que serve ter uma xícara reduzida
a seus átomos, se o que se quer é beber café? O que é difícil saber, e geralmente escapa à
observação, é a forma como se produz e se possibilita a integração. Diz JASPERS: “Por
exemplo, se movo a minha mão ao escrever, sei o que quero e meu corpo obedece a essa
vontade finalista; o que ocorre é assinalável, em parte, nos aspectos neurológicos e
fisiológicos, mas o primeiro ato de tradução dos propósitos psíquico no acontecer corporal é
inacessível e incompreensível.
Deve-se considerar que as conexões fisiológicas estabelecem-se inteiramente em
círculos. O processo psíquico suscita uma série de fenômenos somáticos, que por sua vez
alteram o processo psíquico.
Do psiquismo partem as excitações e inibições relativamente rápidas, por exemplo, na
musculatura lisa dos vasos; em compensação, os efeitos sobre as glândulas endócrinas são
mais lentos, podendo-se observar o seguinte círculo: o psiquismo estimula o sistema
nervoso, este estimula as glândulas endócrinas, que produzem os hormônios, que, por sua
vez, influenciam o processo somático e psíquico.
Quanto aos conceitos em que se relacionam o psíquico e o somático, REICH diz em
seu artigo “Funcionalismo orgonótico” que se pode considerar que eles se integram de
acordo com o seguinte esquema:

Se considerarmos separadamente as partes deste esquema, verificaremos o seguinte:

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Na superfície, nos pontos 1 e 2, há uma absoluta antítese psique-soma. Esse é o


âmbito dos mecanicistas, que consideram o psíquico funcionando separadamente do físico-
químico, embora paralelamente a ele; também é esse o campo em que se situam os vitalistas
que, inversamente, sustentam que a energia vital cria e determina o somático. “O somático
determina a sensação”, dizem os mecanicistas; “as sensações (enteléquia) determinam a
matéria”, dizem os vitalistas. Tudo depende de se partir do ponto 1 ou do ponto 2.
Três e 4 são elementos que correm paralelos e, considerados fora do resto do
diagrama, não têm qualquer conexão entre si. Essas linhas correspondem à teoria
paralelista mente-corpo, segundo a qual os processos somáticos e psíquicos são
mutuamente independentes e correm paralelos um ao outro.
Cinco e 6 correm em sentido opostos, distanciando-se um do outro, correspondendo
ao conceito segundo o qual matéria e espírito - soma e pisque -, instintos e moral - natureza
e cultura -, sexualidade e trabalho, o terrestre e o divino, são elementos incompatíveis. Além
disso, são antitéticos. Representam o pensamento de qualquer tipo de misticismo.
Na altura de 7 e 8 há uma única linha de movimento que se pode ver a partir do lado
direito ou a partir do lado esquerdo. Corresponde ao conceito de monismo, da teoria
paralelista mente-corpo, segundo o qual o psíquico e o físico são apenas aspectos diferentes
de uma mesma coisa.
Devemos admitir que os monistas, com sua maneira de pensar, estão mais perto da
verdade do que os mecanicistas, os vitalistas, os dualistas e os demais. Mas não levam em
conta a antítese que resulta a divisão do unitário, como sucede no caso da natureza, que se
divide em matéria viva e inerte, animais e plantas, ou na divisão dos organismos, que se
dividem em órgãos autônomos.
Ao não considerarem essa antítese, também não levaram em conta a interdependência
do somático e do psíquico. Diz REICH: “O esquema funcional considera, por outro lado, as
muitas funções autônomas da unidade funcional. De acordo com esse conceito, as diversas
funções derivam de uma fonte comum (9); num dado campo, funções diferentes são
idênticas (7 e 8), e em campos distintos são divergentes (5 e 6) ou correm paralelas,
independentes uma da outra (3 e 4); ou, finalmente, são convergentes, ou seja, atraem-se ou
influem uma sobre a outra de acordo com o princípio de antítese (1 e 2).
Para ilustrá-lo em termos concretos, o organismo animal deriva de uma só célula
unitária que está capacitada para a função de expansão e contração (9). Nessa unidade
celular desenvolvem-se, sobre a base das ações de tensão a descarga, as funções tanto
somáticas quanto psíquicas do que virá a ser o complexo organismo total (7 e 8), que não
manifesta até esse momento nenhuma diferenciação em funções psíquicas e somáticas. Só
posteriormente se vê a diferenciação. As funções somáticas desenvolvem-se por si mesmas,
formando, no decorrer do desenvolvimento embrionário, os diferentes órgãos independentes.
Nesse período, as funções emocionais não se desenvolvem para além do estágio primitivo
das percepções agradáveis e desagradáveis.
No nascimento, psique e soma já constituem dois ramos de um aparelho unitário (5 e
6) e por um lado funciona o orgânico, por outro ocorrem as funções agradáveis-
desagradáveis. Mas continua existindo o enraizamento bioenergético que têm em comum (7
e 8).
A partir desse ponto, esses elementos prosseguem em seu desenvolvimento
independentemente um do outro; por exemplo, o grupo modelo (3 e 4), no qual, ao mesmo
tempo, um está influenciando o outro. Os diversos órgãos corporais formaram-se e
continuam crescendo.
Independentemente disso, a função prazer-desprazer dá lugar às três emoções
básicas: prazer, angústia e raiva, e às várias funções da percepção.
O desenvolvimento e a diferenciação da função de percepção constituem processos
autônomos, independentes do crescimento dos órgãos. Entretanto, ambas as séries de
desenvolvimento recebem energia biológica de um tronco comum (9, 7 e 8), sob a forma de
um sistema nervoso autônomo. O crescimento dos órgãos e o desenvolvimento das emoções
dependem do funcionamento total do aparelho vital autônomo.
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Por outro lado, isso nada tem de novidade, pois Paracelso (Philippus Aureolus
Thephrastus von Hohenheim, c. 1493-1541), em seu livro Paragranum, editado em 1530, já
afirmou: “A base da medicina deve ser o estudo da natureza em sua leis físicas, telúricas e
cósmicas, a compreensão dos fenômenos biológicos e a preparação dos remédios mediante a
química.”
“O primeiro médico do homem é Deus, o fazedor da saúde. Pois o corpo não é um ente
separado, mas a morada para a alma. Portanto, o médico deve cuidar de pôr todos esses
elementos em harmonia, conseguindo assim uma verdadeira saúde. Esse harmonioso
acorde que une o homem as coisas do mundo com as divinas.”
A palavra religião - diga-se de passagem - provém do latim religare, ou seja, unir de
novo. O processo curativo deve participar dessa característica. Considerando assim o
problema, a religião seria a base da medicina, e PARACELSO prediz um mal para todos
aqueles que não realizam seu auto-conhecimento, pois não conhecem a substância de sua
própria natureza. Com a diversidade de técnicas e conceitos que devem ser utilizados na
medicina atual, fica difícil que uma só pessoa possa reunir e manipular todos eles
perfeitamente. Por isso a solução prática - ainda que não seja ideal - é o trabalho de equipe,
com um chefe que deve ter não só amplos conhecimentos, mas também habilidade
suficiente para poder integrar os diferentes dados fornecidos pelos componentes do grupo e,
a partir dessa aparente parcialização do paciente, formular um diagnóstico e uma terapia
integral.

3- HISTERIA
Histeria (é uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional. Os
conflitos interiores manifestam-se em sintomas físicos, como por exemplo, paralisia,
cegueira, surdez, etc. Pessoas histéricas freqüentemente perdem o autocontrole devido a um
pânico extremo. Foi intesamente estudada,por Charcot e Freud.
Foi considerada, até Freud, como uma doença exclusivamente feminina.
No final do século XIX, Jean Martin Charcot (1825-1893), um eminente neurologista
francês, que empregava a hipnose para estudar a histeria, demonstrou que idéias mórbidas
podiam produzir manifestações físicas. Seu aluno, o psicólogo francês Pierre Janet (1859-
1947), considerou como prioritárias, para o desencadeamento do quadro histérico, muito
mais as causas psicológicas do que as físicas.
Posteriormente, Sigmund Freud (1856-1939), em colaboração com Breuer, começou a
pesquisar os mecanismos psíquicos da histeria e postulou em sua teoria que essa neurose
era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional.
Os distúrbios sensoriais podem:
 abranger os sentidos da visão, audição, paladar e olfato;
 variar desde sensações peculiares até a hipersensibilidade ou anestesia total;
 causar grande sofrimento com dores agudas, para as quais nenhuma causa
orgânica pode ser determinada.
Os distúrbios motores podem incluir uma gama de manifestações, como paralisia
total, tremores, tiques, contrações ou convulsões. Afonia, tosse, náusea, vômito, soluços são
muitas vezes de origem histérica.
Episódios de amnésia e sonambulismo são considerados reações de dissociação
histérica.

3.1. Etimologia

O termo tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta
condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no útero, hystera em grego.

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O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um
movimento irregular de sangue do útero para o cérebro.

3.2. Histeria e Feitiçaria

Na história da Humanidade os sintomas de alterações no sistema nervoso foram


comparados à casos de possessão demoníaca e efeitos da feitiçaria. Segundo Freud são
manifestações de sintomas histéricos, onde temos quadros psicopatológicos que vão desde
ataques convulsivos até paralisias de membros e contraturas musculares. Juntamente com
os sintomas físicos da histeria, pode-se observar uma série de distúrbios psíquicos:
alterações no curso e na associação de idéias, inibições na atividade da vontade, exagero e
repressão de sentimentos. As modificações psíquicas, que são o fundamento do estado
histérico, ocorrem na esfera da atividade mental inconsciente.
Como fatores capazes de propiciar o desenvolvimento de uma disposição histérica,
podem ser mencionados: criação cheia de mimos, o despertar prematuro das atividades
mental e sexual na criança, excitamentos freqüentes e violentos, trauma, intoxicação
(drogas e álcool), luto, enfim tudo que é capaz de exercer um efeito prejudicial.
Aparece, com freqüência, na adolescência, onde as meninas começam a escutar vozes
e se comunicar com os mortos e os meninos sentem-se dominados por uma força
sobrenatural e demoníaca. Sendo a histeria uma anomalia na diferença de distribuição das
excitações, qualquer fato que modifique essa má distribuição e oriente a catexia da energia
em direção apropriada, geraria uma descarga desses impulsos reprimidos e levaria a
anulação do sintoma. Arrumar um namorado ou ocupar a cabeça com atividades
intelectuais e esportivas, seria uma boa forma para amenizar esse desajuste.
Na histeria o que ocorre é uma cisão na mente do indivíduo. Uma parte de sua mente
fica em estado hipnóide permanentemente, mas com um grau variável de nitidez em suas
representações, estando sempre preparada, todas as vezes que há um lapso no pensamento
de vigília, para assumir o controle da pessoa inteira (como num ataque ou num delírio). Isso
ocorre tão logo um afeto poderoso interrompe o curso normal das representações, nos
estados crepusculares e nos estados de exaustão. A partir desse estado hipnóide
persistente, representações não motivadas e estranhas à associação normal forçam sua
entrada na consciência, introduzem-se alucinações no sistema perceptivo e inervam-se atos
motores independentemente da vontade consciente. Esse mente hipnóide é susceptível, no
mais alto grau, à conversão de afetos e à sugestão, e assim aparecem com facilidade novos
fenômenos histéricos, que, sem a divisão da mente, só surgiriam com grande dificuldade e
sob a pressão de afetos repetidos. A parte expelida da mente é o Demônio pelo qual a
observação ingênua dos supersticiosos acredita estar dominando. É verdade que um espírito
estranho à consciência de vigília da pessoa exerce domínio sobre ela, porém o espírito não é
de fato um estranho, mas parte dela mesmo.

4- HISTÓRIA DA HISTERIA
Apenas uma razão de ordem histórica e de respeito pela cronologia dos êxitos e
fracassos da vida de Segmund Freud enquanto pesquisador explica o fato de neste módulo
se tomar a histeria como ponto de partida para o estudo do patológico e do normal para a
psicanálise.
Em nome do rigor científico a que estava preso, Freud não pôde aceitar nada do que se
dizia para explicar a histeria, sobretudo quando uma grande parcela dos argumentos e
razões pecava pelo desconhecimento de indiscutíveis fatores fisiológicos.
A “Grande Histeria” do século passado, que se manteve com suas notáveis
características até o início deste século, comportava uma mobilização geral e aguda de
sintomas e motivações, sendo lógico então que a psicanálise começasse a desenvolver-se por
esse caminho.

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Hipócrates, nascido em 460 a.C., já se referia a esse mal, demonstrando que,embora


em sua época se conhecesse a epilepsia, muitas vezes não se conseguia distingui-la
nitidamente da histeria, sobre a qual, concretamente, só se possuíam alguns conhecimentos
rudimentares. A maior parte dos doentes daquilo que na época se conhecia como “mal de
Hércules” e as célebres pitonisas de Delfos, que em meio a horríveis convulsões e gritos
estridentes profetizavam o futuro de quem as consultavam no Templo de Apolo, não eram,
na realidade, mais do que pessoas histéricas.
Para ele, em suma, tratava-se de uma anomalia de tipo ginecológico, concepção essa
que, com algumas variantes, dominou a clínica e a terapêutica da histeria até o século XIX.
Os médicos do Egito e de outros povos primitivos do Oriente Próximo também
acreditavam que a matriz era um órgão bicorne que podia deslocar-se no interior do corpo
até obstruir todas as entradas de ar.
Platão, contemporâneo de Hipócrates, nascido em 427 a.C., sustentava esta mesma
teoria, e no Timeu atribuiu a Sócrates a seguinte definição: “A matriz é um animal que
deseja ardentemente engendrar crianças. Quando fica estéril por muito tempo, depois da
puberdade, aflige-se e indigna-se por ter de suportar semelhante situação e passa a
percorrer o corpo, obturando todas as saídas de ar. Paralisa a respiração e impele o corpo
para extremos perigosos, ocasionando ao mesmo tempo diversas enfermidades, até que o
desejo e o amor, reunindo o homem e a mulher, façam nascer um fruto e o recolham como
de uma árvore.”
Ma está mesma suposição leva ao erro tão difundido de se acreditar que o casamento
é uma cura para as mulheres histéricas e que se uma histérica for casada livra-se do mal
tendo um filho.
Quatro séculos e meio depois de hipócrates, sem retirar à matriz toda sua importância
na etiologia da histeria, Galeno, no ano 170 de nossa era, qualificou de absurda a opinião
de Hipócrates e Platão. Seus conhecimentos mais profundos de anatomia demonstraram-lhe
que o útero não podia deslocar-se constantemente desde a vagina até o apêndice xifóide.
No século IX, um médico árabe, Serapião, disse que os distúrbios histéricos não eram
devidos à retenção do sangue menstrual mas à continência sexual, pois só encontrara essa
afecção em mulheres solteiras e viúvas.
Durante toda a Idade Média, de 476 a 1453, ocorre com a histeria o mesmo que
aconteceria com tantos outros aspectos da atividade humana: atribuiu-se a ela um valor
demoníaco idêntico ao que lhe conferiu o Corão, que apresenta os distúrbios psíquicos ou
nervosos como obra da influência do demônio.
Entretanto na Idade Média o conceito da histeria inspira-se na medicina antiga. Ora é
atribuída a um deslocamento da matriz, ora à ação de vapores tóxicos de origem genital,
mas sempre domina, como fator causal, a intervenção do demônio.
A partir de 1500, os médicos, liberados do conceito de demônio, voltam a considerar a
histeria do ponto de vista somático e vêem nela “uma sufocação por deslocamento da
matriz”.
O respeito pelos antigos foi tanto que Jean Fernel (1497-1558) censurou Galeno por
ter dito que a matriz não podia deslocar-se para produzir a histeria.
Baseados no conceito de que o útero se deslocava, imaginaram que para atrair a
matriz para o lugar dela o melhor era fazer a doente aspirar maus odores (chifre queimado,
substâncias pútridas, amoníaco, urina e fezes humanas) e colocar-lhe na zona vaginal
odores agradáveis (âmbar, tomilho, láudano ou noz-moscada, fervidos em vinho).
Não eram esses, porém, os únicos remédios a que se recorria no século XVI como
terapêutica e prevenção contra a histeria. Costumava-se também colocar uma pedra preta,
polida e pesada, chamada pedra de Espanha, amarrada com ataduras sobre o umbigo da
paciente. Na realidade, era um remédio preventivo, pois quando se apresentavam os
sintomas concretos do acesso a pedra devia ser retirada.

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PSICANÁLISE - 8

Também se recomendava beber infusões de briônia em vinho branco, chá de angélica-


da-Noruega, funchos, asafétida, cânfora, ungüento almiscarado, âmbar, podendo tudo isso
ser utilizado também em poções ou em pomadas.
Remanescentes dessa terapêutica renascentista mantêm-se ainda na nossa época.
Não faz muito tempo, era comum encontrar na bolsa de qualquer solteirona ou viúva jovem
um vidrinho de sais.
Em finais do século XVI e início do XVII, além das causas físicas, tais como as
hemorragias e as infecções, começaram a ser considerados os fatores emocionais, mas
apenas como causa desencadeante, num terreno que continuava vinculando o mal ao
deslocamento ou a vapores tóxicos de origem uterina.
Outro pesquisador da época destacou a semelhança entre a crise histérica e o
orgasmo.
Alguns médicos já não vacilavam em afirmar que os sintomas considerados
vulgarmente como efeitos da possessão demoníaca eram, na realidade e por seu
agrupamento, perturbações geradas por uma única doença. Suas explicações eram de
caráter fisiológico: a bola - chamada de globus hystericus - que as pacientes sentiam subir
do estômago até a garganta era devida, segundo eles, a uma irritação dos plexos
mesenféricos, cujas contrações retiravam a parte inferior dos hipocôndrios, que pareciam
elevar-se e causar aquela sensação estranha.
O riso espasmódico e a dificuldade respiratória eram produtos de contrações do
mesmo tipo no diafragma. Nas descrições da histeria, nessa época, aparecia com destaque o
espasmo, distúrbio de ordem mecânica.
Em 1916, Charles Lepois, médico francês, rompeu com todas as idéias tradicionais e
desculpou-se por estar em aberta contradição com tantos homens de saber; explicou que
sua experiência prática e documentada obrigava-o a sustentar que o útero não entrava
nessa questão, que sua importância estava inteiramente descartada, e eram os nervos que
dominavam o panorama histérico.
Depois atribuiu a enfermidade a um distúrbio das serosidades, que distenderiam a
origem dos nervos, sobretudo os medulares e os do sexo e sétimo pares. Do ponto de vista
clínico, reconheceu a histeria masculina e a infantil, fazendo uma descrição correta das
perturbações sensoriais premonitórias do ataque, como obnubilação da vista e do ouvido,
perda da voz e opressão nas têmporas; observou a paralisia dos membros superiores e
inferiores e também notou que os tremores eram fenômeno precursor da paralisia histérica.
Assinalou também que a histeria atacava tanto os homens quanto as mulheres, e, em
particular, os indivíduos habitualmente denominados hipocondríacos, sendo correto,
portanto, supor que sua origem não estava na matriz. “A histeria imita quase todas as
doenças que afetam o gênero humano, pois em qualquer parte do corpo em que se localize
produz sintomas que são próprios da região. Por isso alguns acidentes se parecem coma
epilepsia e suas convulsões podem simular as desta última”, adverte Sydenham.
A obra de Sydenham não foi conhecida por muitos de seus contemporâneos e só no
início de 1859, 200 anos depis, Briquet fez com que se desse a ela seu justo valor.

4.1. Era Contemporânea

Fundamentalmente, desde o século XVII até a Revolução Francesa e início da era


contemporânea, manteve-se em plena vigência a teoria de que a histeria era provocada por
vapores fétidos desprendidos pela matriz em virtude da decomposição do sangue menstrual
e do suposto sêmen feminino.
Em 1768 chegou a Paris o médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815), que
tinha “descoberto” alguns anos antes, em Viena, o magnetismo animal.
Mesmer tem uma importância indireta na história da histeria, pois, embora não se
dedicasse deliberadamente ao estudo desse mal, quase todos os seu pacientes sofriam dele.

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PSICANÁLISE - 9

Enquanto ele discutia com os membros da Academia Francesa, um discípulo seu, o


conde Máxime de Puységur, esclarecia em 1784, de forma definitiva, a existência do
mecanismo hipnótico. Na realidade, não foi uma descoberta, pois Paracelso relata que, num
convento de Coríntia, os monges utilizavam objetos brilhantes para mergulhar os doentes no
sono; e, no ano 90, Apolônio de Tiana forneceu elementos que permitem supor a utilização
empírica da hipnose na época.
Pode-se dizer que o começo do século XIX foi funesto para a evolução do conceito
científico da histeria. Em 1816, Loyer-Vilhermay publica o seu Tratado das enfermidades
nevosas e vaporosas, e particularmente da histeria e da hipocondria.
Esse trabalho teve uma influência nefasta entre os médicos, pois ele cai no mesmo
erro de Galeno e Hipócrates, ao sustentar a existência do esperma na mulher e ao admitir
como causa etiológica da histeria o deslocamento do útero e as sufocações.
Como reação à tese equivocada desse pesquisador, um médico do serviço de alienados
de La Salpêtrière, o dr. E. J. Georget (1795-1828), publicou um artigo em que criticava os
conceitos de Villermay, fazendo uma descrição clínica do ataque histérico que nos permite
considerá-lo o primeiro autor a caracterizar o “estado segundo” ou sonambulismo histérico.
Em 1830, na Inglaterra, o dr. Brodie publicou um livro sobre Afecções nervosas locais,
citando nas páginas dedicadas à histeria conhecimentos que seus contemporâneos em
grande parte ignoravam.
Estudos também, com profundo critério clínico, a retenção de urina, as nevralgias e o
timpanismo histérico. Formulou a terapêutica das contraturas e paralisias, que consistia
sobretudo em estabelecer um tratamento inofensivo, afirmando que essas afecções se
curavam muito frequentemente “sob a influência de uma viva impressão moral.”
Assim chegamos ao ano de 1862, em que Charcot passou a se encarregar da seção de
histeria na Salpêtrière. Graças ao seus trabalhos, o histerismo começou a ser considerado
verdadeiramente como uma afecção nervosa.
Os experimentos que se realizaram na Salpêtrière baseraram-se principalmente nas
provas efetuadas pelo cirurgião britânico James Braid (1795-1860), que introduziu os
termos hipnotismo, hipnotizador e hipnótico, e faleceu depois de 65 anos de uma vida de
vicissitudes, em que se misturaram escândalos, pesquisas honestas, um esforço terapêutico
e a ambição inescrupulosa (Zilboorg).
Ao ocupar-se do estudo das paralisias surgidas depois dos traumas, Charcot procurou
reproduzi-las artificialmente. Usou para isso pacientes histéricos que, por meio de hipnose,
transferia para o estado do sonambúlico.
Com esta investigação de alcance tão amplo, Charcot deu uma contribuição realmente
inestimável para o conhecimento do ser como um todo. Anos mais tarde, baseando-se no
resultado dessas investigações, Janet (1849-1942), Breuer (1842-1925) e Freud (1856-1939)
desenvolveram suas teorias da neurose, que num certo aspecto coincidiam com o conceito
medieval dessas afecções, substituindo apenas o “demônio” por uma fórmula psicológica,
que segundo Melanie Klein é “o objeto mau, perseguidor”.
Nos tempos de Charcot a histeria manifestava-se com suas quatro fases perfeitamente
definidas. A sua apresentação era evidente mas, com o passar do tempo, suas formas
modificaram- se. Atualmente é raro encontrar um caso de grande histeria, o que levou
muitos médicos a pensarem que o mal tinha desaparecido. No entanto, o que acontece é que
o aspecto formal da histeria se modificou. O vocabulário da alma sofreu mudanças com o
decorrer do tempo, como as que se produziram em todos os idiomas.
Na Idade Média contava com formas de expressão diferentes daquelas utilizadas na
Idade Contemporânea, e o mesmo foi acontecendo em épocas sucessivas. Essa linguagem,
como todas as outras, era regida pela moda.
O fundamental na obra de Charcot é sua concepção fisiopatológica da enfermidade. “É
psíquica por excelência”, disse ele, e foi o primeiro a considerar que o seu valor essencial era
um estado doente do espírito.

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PSICANÁLISE - 10

Em 1893, Breuer e Freud publicaram um estudo preliminar sobre “O mecanismo


psíquico dos fenômenos histéricos”. Em 1895 era publicado o livro Estudos sobre a histeria
e, com ele, lançavam-se as bases da concepção psicanalítica.
Charcot já vislumbrara o valor dessas recordações esquecidas e, numa conferência
sobre as neuroses nos acidentes ferroviários, insistiu no papel posterior das perturbações
da memória, que diminuía, e a imaginação fantástica que se encarregava de preencher as
lacunas produzidas.
“Os fatos reais”, assinalava Charcot, “deixam, sem dúvida, imagens penosas que se
mantêm no mais fundo da consciência e, embora pareçam esquecidas, essas recordações
provocam e alimentam temores, angústias ou paralisias, conforme as imagens estejam
investidas de emoção ou de movimento.” Essas imagens Janet chamou de “lembranças
traumáticas”.
Chega a essa conclusão baseando-se na dissociação da atividade psíquica em duas
formas de psiquismo: superior ou consciente e inferior, poligonal ou automático. Ele
distingue os fenômenos psíquicos dos fenômenos mentais. É psíquico todo ato cortical que
implique pensamento, intelectualidade. Todo o córtex é psíquico.
Em contrapartida, considera mentais apenas os fenômenos ou distúrbios localizados
nos centros dos psiquismo superior. Dessa elaboração deduz as seguintes proposições:
“Tudo o que é psíquico na é necessariamente mental. Na histeria há sempre distúrbios do
psiquismo inferior poligonal; se, ao mesmo tempo, há distúrbios do psiquismo superior,
produz-se uma complicação e o histérico converte-se em alienado.”
Bernheim soluciona o problema da histeria a seu modo e crê que todos os fenômenos
histéricos são simples ocorrências normais exageradas por “auto-sugestão”. Bernheim vai
tão longe em sua interpretação psicológica, que chega a negar a própria existência da
histeria quando diz: “As grandes e pequenas crises de histeria, em suas diversas e
numerosas formas, são a simples exageração de fenômenos normais de ordem
psicofisiológicas.
Depois das concepções psicológicas puras aparece Babinsky (1857-1932),
acrescentando ao mecanismo de natureza psíquica - que ele prefere chamar de sugestão -
um outro orgânico e reflexo. “A histeria é um estado psíquico que torna o indíviduo
submetido a ela capaz de auto-sugestão. Manisfesta-se principalmente por distúrbios
primitivos e acessoriamente por distúrbios secundários”.
Para explicar o conjunto de sintomas da grande histeria, Babinsky admite dois
mecanismos: um exclusivamente psíquico, outro puramente reflexo.
Sollier é o autor da teoria fisiológica que pretende atribuir um substrato anatômico
aos fenômenos histéricos. A insônia rebelde e absoluta desse tipo de doentes chamara sua
atenção, e alguns fatos clínicos e experimentais permitiram-lhe atribuir tal anomalia dos
histéricos ao fato de eles viverem submersos num estado de sono patológico. E como isso
deixa os doentes num aparente estado de vigília, propôs chamá-lo de vigilambulismo. “Se os
histéricos não dormem o sono normal é porque habitualmente dormem outros sonos
parciais”.
A teoria Sollier poderia ser comparada, em parte, com a concepção psicanalítica dos
investimentos intrapsíquicos dos representantes dos órgãos, e torna-se mais compreensível
se substituirmos “sono parcial” por “investimento libidinal”, e “centros cerebrais” por
“representações de órgãos”.
“Do ponto de vista biológico, a histeria é uma neurose cortical com os seguintes traços
característicos: 1º, esgotamento fácil das células corticais; 2º, perda da labilidade normal do
equilíbrio dinâmico; 3º, reatividade paradoxal e inclinação para o desenvolvimento dos
processos estáticos e segregações prolongadas do córtex.”
Uma análise total do conceito etiológico da histeria permite estabelecer que desde o
primeiro momento, na Antiguidade, os médicos que abordaram o estudo desse mal
conceberam como sua raiz um distúrbio ou uma afecção de natureza ginecológica.

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PSICANÁLISE - 11

Esse conceito inconsciente do conflito sexual ou instintivo manteve-se ao longo de


toda a Idade Média, mudando sua expressão simbólica no decorrer dela. Na etiologia da
histeria apresentava-se o diabo como a expressão simbólica do sexual, algo pecaminoso,
imundo e repudiável.
No século XVII,o conceito amplia-se ao levar em conta as paixões mas, ao mesmo
tempo, é expressão de uma maior repressão da sexualidade.
Cem anos depois, no século XVIII, Mesmer aparentemente se distanciou do sexual,
uma vez que, segundo sua teoria, os doentes deviam cair, para sua cura, na famosa “Crise
convulsiva”, que nada mais é do que um orgasmo extragenital.
Posteriormente, Breuer e Freud, como produtos de uma época de repressão, abordam
a histeria no plano psicológico (idéias, estados oniróides), mas o tema sexual não assume
nessa época um papel preponderante.
Por último, surge de forma destacada o conflito sexual associado ao conceito psíquico
da histeria, e é então que Breuer não o sustenta e Freud fica sozinho.
Centenas de anos foram necessários para unir dois conceitos que, num dado
momento, chegaram a ser paralelos e que, se unidos, teriam permitido compreender e tratar
muito antes essa neurose.

5- ESTUDOS REALIZADOS
5.1. Jean-Martin Charcot

Jean-Martin Charcot (Paris, 1825 — Morvan, 1893) foi um médico e cientista francês;
alcançou fama no terreno da psiquiatria na segunda metade do século XIX. Foi um dos
maiores clínicos e professores de Medicina da França e juntamente, com Guillaume
Duchenne, o fundador da moderna neurologia, suas maiores contribuições para o
conhecimento das doenças do cérebro foram o estudo da afasia e a descoberta do aneurisma
cerebral e causas de hemorragia cerebrais.
Durante as suas investigações, Charcot concluiu que a hipnose era um método que
permitia tratar diversas perturbações psíquicas, em especial a histeria.
Charcot é tão famoso quanto seus alunos: Sigmund Freud, Joseph Babinski, Pierre
Janet, Albert Londe, Georges Gilles de la Tourette, e Alfred Binet. A Síndrome de Tourette,
por exemplo, foi batizada por Charcot em homenagem a um de seus alunos, Georges Gilles
de la Tourette.

5.2. Sigmund Freud

Sigmund Freud (Príbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939) foi


um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da Psicanálise. Interessou-se
inicialmente pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que
apresentavam esse quadro. Mais tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre
outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da
associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise. Freud, além de ter sido
um grande cientista e escritor (Prémio Goethe, 1930), possui o título, assim como Darwin e
Copérnico, de ter realizado uma revolução no âmbito humano: a idéia de que somos
movidos pelo inconsciente.
Freud, suas teorias e seu tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena
do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas idéias são freqüentemente
discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo
debate ao redor delas no uso como tratamento científico e médico.

6- SINTOMAS FISICOS
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PSICANÁLISE - 12

6.1. Paralisia

A paralisia é o estado ou situação de imobilidade, seja ela total ou parcial. A


poliomielite (vulgarmente tratada por paralisia infantil) caracteriza-se por ser uma doença
que paralisa completamente os músculos das pernas, impedindo a pessoa de andar.
A paralisia é causada pelo mal funcionamento de algumas áreas do sistema nervoso
central, que deixa de transmitir impulsos para a ativação muscular. A sede do distúrbio
pode estar nas células do encéfalo ou da medula, ou nos nervos que vão ao músculo.
A poliomielite é um tipo de paralisisa em que os músculos mostram-se relaxados e
fracos e a sede da perturbação está nos vervos ligado ao músculo.
O tratamento depende de exercícios, massagens, aplicações elétricas, etc.

6.2. Cegueira

A cegueira é a falta do sentido da visão. A cegueira pode ser total ou parcial; existem
vários tipos de cegueira dependendo do grau e tipo de perda de visão, como a visão
reduzida, a cegueira parcial (de um olho) ou o daltonismo.

6.3. Deficiência Auditiva

Deficiência auditiva ou surdez é a incapacidade parcial ou total de audição. Pode ser


de nascença ou causada posteriormente por doenças.
No passado, costumava-se achar que a surdez era acompanhada por algum tipo de
déficit de inteligência. Entretanto, com a inclusão dos surdos no processo educativo,
compreendeu-se que eles, em sua maioria, não tinham a possibilidade de desenvolver a
inteligência em virtude dos poucos estímulos que recebiam e que isto era devido à
dificuldade de comunicação entre surdos e ouvintes. Porém, o desenvolvimento das diversas
línguas de sinais e o trabalho de ensino das línguas orais permitiram aos surdos os meios
de desenvolvimento de sua inteligência.
Atualmente, a educação inclusiva é uma realidade em muitos países. Fato ressaltado
na Declaração de Salamanca que culminou com uma nova tendência educacional e social.

7- SEMIÓTICA PSICANALÍTICA
Semiótica psicanalítica é uma área interdisciplinar das ciências humanas que se
propõe à reflexão para uma clínica da cultura contemporânea na confluência epistemológica
da semiótica aplicada e da psicanálise em extensão, construindo hipóteses e diagnósticos
referentes ao “ser no mundo” atual e à realidade social a partir de suas contradições ou
sintomas. Dessa forma, define e alcança o espaço de interseção das disciplinas da
linguagem com as incidências do inconsciente: as categorias peirceanas (primeridade,
secundidade e terceridade) e as categorias lacanianas (real, simbólico e imaginário). Sua
reflexão aponta para o conjunto de processos de produção capitalista, circulação e consumo
de significações na vida cotidiana, abordando todo e qualquer fenômeno humano, individual
ou coletivo - em especial, o estilo de recalcamento próprio desta época da história da
humanidade.

7.1. Disciplinas Evolvidas

Pesquisa em semiótica e psicanálise - metodologia de aplicação das categorias de


análise que permitem fazer leituras das manifestações do inconsciente a céu aberto.
Sintomas da cultura - recenseamento dos conflitos e soluções de compromisso que a
vida em sociedade impõe aos seus integrantes.

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PSICANÁLISE - 13

Subjetividades contemporâneas - mapeamento dos distintos modos de subjetivação e


singularização nas sociedades do século 21.
Estrutura da linguagem verbal e teoria dos discursos - estudo das funções e do campo
da palavra, com reconhecimento e descrição dos modos discursivos.
Fundamentos da psicanálise - estudo dos conceitos fundamentais da teoria
psicanalítica, cronológica e logicamente.
Formações e produções do inconsciente - estudo dos processos significantes de
produção de sentido e das regras que regem os fenômenos psíquicos.
Teoria dos gozos: estudo das diversas modalidades de satisfação pulsional,
determinadas por fatores internos e externos ao sujeito.
Arte e sublimação - estudo das capacidades de criação artística como maneiras de
evitar o recalcamento, com avaliação das produções à luz da psicopatologias.
Estudos de gênero - avaliação das conseqüências da diferença sexual no sujeito da
enunciação e a determinação de sua posição simbólica no processo de sexuação.
Políticas da diversidade - análise e comentário das determinações históricas, sociais e
culturais da contemporaneidade, suas formas de inclusão e exclusão.
A condição pós-humana - estudo das intervenções psicossomáticas da tecnologia, com
discussão sobre as perspectivas do pós-humanismo.

8- EPISTEMOLOGIA E SEMIÓTICA
Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego [episteme], ciência, conhecimento;
[logos], discurso) é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à
crença e ao conhecimento.
A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do
conhecimento (daí também se designar por filosofia do conhecimento). Ela se relaciona
ainda com a metafísica, a lógica e o empirismo, uma vez que avalia a consistência lógica da
teoria e sua coesão fatual, sendo assim a principal dentre as vertentes da filosofia (é
considerada a "corregedoria" da ciência).
Sua problematização compreende a questão da possibilidade do conhecimento: Será
que o ser humano conseguirá algum dia atingir realmente o conhecimento total e genuíno,
fazendo-nos oscilar entre uma resposta dogmática ou empirista? Outra questão abrange os
limites do conhecimento: Haverá realmente a distinção entre o mundo cognoscível e o
mundo incognoscível?
E finalmente, a questão sobre a origem do conhecimento: Por quais faculdades
atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a
priori?
Há ainda outras questões relativas ao conhecimento, como a apostasia da ciência de
seu verdadeiro sentido e sua aproximação à outras formas de aprendizado com estruturas
ilógicas e irracionais: O senso comum, a filosofia e a ciência, no mais das vezes, dão um
caráter universal ao contingente, tornando-o dogmático. Assim, a ciência, que sempre
julgou-se detentora única do saber, vê-se inserida em seu coexistente princípio de
contradição.

9- CATEGORIAS
9.1. Charles Sanders Peirce

Charles Sanders Peirce (10 de setembro de 1839, Cambridge (Massachusetts), – 19 de


abril de 1914, Milford, Pennsylvania) foi um filósofo, cientista e matemático estadunidense.
Era filho de Benjamim Peirce, na época um dos mais importantes matemáticos de Harvard.
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PSICANÁLISE - 14

Charles Sanders Peirce licenciou-se em ciências e doutorou-se em Química em


Harvard. Ensinou filosofia nesta universidade e na Universidade de John Hopkins. Foi o
fundador do Pragmatismo e da ciência dos signos, a semiótica. Antecipou muitas das
problemáticas do Círculo de Viena.
Além dos títulos descritos, Peirce também era matemático, físico e astrônomo. Dentro
das ciências culturais estudou particularmente Linguística, Filologia e História, com
contribuições também na área da Psicologia Experimental. Estudou praticamente todos os
tipos de ciência em sua época, sendo também conhecedor de mais de dez idiomas.
As áreas pelas quais é mais conhecido, e às quais dedicou grande parte de sua vida e
estudos, são a Lógica e Filosofia. Propôs aplicar nesta última os métodos de observação,
hipóteses e experimentação a fim de aproximá-la mais das características de ciência.
Peirce concebia a Lógica dentro do campo do que ele chamava de teoria geral dos
signos, ou Semiótica. Os últimos 30 anos de sua vida foram dedicados a estudos acerca da
Semiótica, para Peirce um sistema de lógica. Produziu cerca de 80.000 manuscritos durante
a vida, sendo que 12.000 páginas foram publicadas.
A Semiótica Peirciana pode ser considerada uma Filosofia Científica da Linguagem. A
Fenomenologia é a ciência que permeia a semiótica de Peirce, e deve ser entendida nesse
contexto.
Para Peirce, a Fenomenologia é a descrição e análise das experiências do homem, em
todos os momentos da vida. Nesse sentido, o fenômeno é tudo aquilo que é percebido pelo
homem, seja real ou não.
Seus estudos levaram ao que ele chamou de Categorias do Pensamento e da Natureza,
ou Categorias Universais do Signo. São elas a Primeiridade, que corresponde ao acaso, ou o
fenômeno no seu estado puro que se apresenta à consciência, a Secundidade, corresponde à
ação e reação, é o conflito da consciência com o fenômeno, buscando entendê-lo. Por último
a Terceiridade, ou o processo, a mediação. É a interpretação e generalização dos fenômenos.

9.2. A Dança dos Estudos da Linguagem pela Semiose de Peirce

Um signo, seu objeto e sua interpretação: os três sujeitos da semiose de Pierce. Os


estudos da linguagem talvez possam se encaixar nessa ação triádica, haja vista o
mecanismo natural de se abrir novas possibilidades teóricas a partir de pontos já
corroborados, no todo, ou até mesmo refutados, neste caso, aproveitando-se parte de
estudos desenvolvidos para ganchos de novos conceitos.
A linguagem seria o signo, a escrita e a fala seriam os objetos, e as várias teorias sobre
a linguagem seriam a interpretação. A partir destes ajustes se constroem as infindas
roupagens da língua e as oposições conceituais sobre este signo.
Um exemplo seria o “atomismo lógico” proposto por Bertrand Russell, no início do
século passado, cuja intenção “era considerar que as frases têm existência própria,
independente do sujeito e da experiência”. Essa tese foi apoiada pelo filósofo Ludwig
Wittgenstein que afirmava ser a linguagem uma “representação projetiva da realidade”.
Contudo, após a evolução dos estudos ditos da corrente positivista lógica e com sua junção
com as linhas pragmáticas da América do Norte, a posição de Ludwig em relação a Russell
passou a ser contrária, com várias críticas sobre o modelo tradicional de interpretação
aceito inicialmente. Ao observar este exemplo percebe-se que Ludwig se encaixou nas
categorias da semiose pierciana. Em princípio, pegou a tese de Russell já fechada em sua
terceiridade e a abriu, iniciou então seus próprios estudos sobre o signo linguagem
(primeiridade), no decorrer de suas análises sobre os objetos “escrita” e “fala” desenvolveu a
segundidade do signo e, deste modo, finalizou o processo novamente em outra terceiridade
quando diz que “o jogo de linguagem não é nada tão elementar (...) a linguagem tem jogos
incontáveis: novos tipos de linguagens, novos jogos lingüísticos surgem continuamente,
enquanto outros envelhecem ou são esquecidos”.
Valorizando a língua falada, considerando que antes de serem escritas as linguagens
eram faladas, Saussure faz paralelo entre a linguagem e o jogo de xadrez, em um sentido de
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valores relativos para os signos lingüísticos (entenda-se por isso um significante - imagem
acústica: um substantivo qualquer - e um significado - conceito: o substantivo real), ou seja,
“o valor respectivo das peças depende de sua posição sobre o tabuleiro, da mesma forma
que na língua cada termo tem seu valor pela oposição com todos os outros”.
Também nas colocações de Saussure percebe-se a influência da semiose, pois,
analogicamente, ao se começar um jogo de xadrez se têm a primeiridade no posicionamento
das peças no tabuleiro, em um segundo momento (no desenrolar das jogadas, no
pensamento das conseqüências de cada movimento das peças, não que se possa prever com
exatidão qual será a articulação feita pelo opositor) se vê o secundismo, por fim, é chegada a
hora do fechamento do ciclo com um xeque-mate ou mesmo com um empate entre os
jogadores. Então, não é assim nos diálogos travados entre falantes? Primeiro se propõe um
determinado assunto (primeirismo), o mesmo sendo aceito, vai-se então para o
desenvolvimento dos argumentos (secundismo) - em um verdadeiro jogo de palavras, frases,
orações e conceitos - as melhores explanações fecham a semiose em um ato de persuasão
da parte contrária (terceirismo). Contudo, pela lógica da semiose de Peirce, na lingüística
estrutural de Saussure, quando há a proposição de um novo debate, sobre o mesmo
assunto, abre-se a possibilidade de um novo fechamento, da parte antes vencida ser a
vencedora, basta que saiba ter habilidade no momento do secundismo.
Como em uma semiose aplicada ao macro da linguagem, a lingüística estrutural de
Saussure, como todas as outras correntes teóricas, sofreu embates, pois, segundo Émile
Benveniste (antes propagador das idéias do pesquisador suíço, no Círculo Lingüístico de
Praga) e Merleau-Ponty, a analogia de Saussure colocou a língua em um contexto mecânico.
Para Benveniste, o signo seria uma partícula arbitrária. Já Ponty, leva em consideração a
existência de um contexto inexpresso, ou seja, uma conexão que une, por exemplo, um
sujeito a um verbo, um conceito que daria à sentença um caráter vivo (orgânico) e não
simplesmente mecanicista.
Estes tipos de oposição podem ser tomados como algo agregador à evolução da
linguagem e não apenas como uma pura e simples realização das correntes que a estudam
no decorrer da história, em outros termos: o movimento dialético também pode ser o
instrumento que propulsiona o desenvolvimento dos signos e, segundo Clément, para Hegel,
tal movimentação não significa um método, mas a própria vida do espírito que se mantém
através do negativo.
Ou, citando Goethe, “eu sou aquilo que tudo nega, pois o que existe, é para ser
destruído”.

9.3. Jacques Lacan

Jacques-Marie Émile Lacan (Paris, 13 de abril de 1901 — Paris, 9 de setembro de


1981) foi um psicanalista francês.
Formado em Medicina, passou da neurologia à Psiquiatria, tendo sido aluno de Gatian
de Clérambault. Teve contato com a psicanálise através do surrealismo e, a partir de 1951,
afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado do sentido da obra freudiana, propõe
um retorno a Freud.
Para isso, utiliza-se da lingüística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e
Benveniste) e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do
Estruturalismo.
Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é
primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Em 1966 foi
publicada uma coletânea de 34 artigos e conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973
inicia-se a publicação de seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário).

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9.4. Pensamento

Sua primeira intervenção na Psicanálise é para situar o Eu como instância de


desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do
Espelho.
O Eu é situado no registro do Imaginário, juntamente com fenômenos como amor,
ódio, agressividade. É o lugar das identificações e das relações duais. Distingue-se do
Sujeito do Inconsciente, instância simbólica. Lacan reafirma, então, a divisão do sujeito,
pois o Inconsciente seria autônomo com relação ao Eu. E é no registro do Inconsciente que
deveríamos situar a ação da Psicanálise.
Esse registro é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Lévi-Strauss
afirmava que "os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede
e determina o significado”, no que é seguido por Lacan. Marca-se aqui a autonomia da
função simbólica. Este é o Grande Outro que antecede o sujeito, que só se constitui através
deste - "o inconsciente é o discurso do Outro", "o desejo é o desejo do Outro".
O campo de ação da psicanálise situa-se então na fala, onde o inconsciente se
manifesta, através de atos falhos, esquecimentos, chistes e do relato dos sonhos, enfim,
naqueles fenômenos que Lacan nomeia como "formações do inconsciente". A isto se refere o
aforismo lacaniano "o inconsciente é estruturado como uma linguagem".
O Simbólico é o registro em que se marca a ligação do Desejo com a Lei e a Falta,
através do Complexo de Castração, operador do Complexo de Édipo. Para Lacan, "a lei e o
desejo recalcado são uma só e a mesma coisa". Lacan pensa a lei a partir de Lévi-Strauss,
ou seja, da interdição do incesto que possibilita a circulação do maior dos bens simbólicos,
as mulheres. O desejo é uma falta-a-ser metaforizada na interdição edipiana, a falta
possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto metonímia. Lacan articula neste processo
dois grandes conceitos, o Nomedo-Pai e o Falo. Para operar com este campo, cria seus
Matemas.
É na década de 1970 que Lacan dará cada vez mais prioridade ao registro do Real. Em
sua tópica de três registros, Real, Simbólico e Imaginário, RSI, ao Real cabe aquilo que
resiste a simbolização, "o real é o impossível","não cessa de não se inscrever". Seu
pensamento sobre o Real deriva primeiramente de três fontes: a ciência do real, de
Meyerson, da Heterologia, de Bataille, e do conceito de realidade psíquica, de Freud. O Real
toca naquilo que no sujeito é o "improdutivo", resto inassimilável, sua "parte maldita", o
gozo, já que é "aquilo que não serve para nada". Na tentativa de fazer a psicanálise operar
com este registro, Lacan envereda pela Topologia, pelo Nó Borromeano, revalorizando a
escrita, constrói uma Lógica da Sexuação ("não há relação sexual", "A Mulher não existe").
Se grande parte de sua obra foi marcada pelo signo de um retorno a Freud, Lacan considera
o Real, junto com o Objeto a ("objeto ausente"), suas criações.

10 - AS TRÊS CATEGORIAS PEIRCIANAS


E OS TRÊS REGISTROS LACANIANOS
Este artigo é uma extensão de um ensaio publicado mais de uma década atrás
(Santaella, 1986) na revista Cruzeiro Semiótico, a revista da Associação Portuguesa de
Semiótica, editada por Norma Tasca. No artigo anterior, fiz uma comparação geral entre as
três categorias fenomenológicas universais de C. S. Peirce, a primeiridade, secundidade e
terceiridade, e as três categorias conceituais da realidade humana, de Jacques Lacan, os
registros do imaginário, real e simbólico.
Essa comparação foi encorajada por dois fatores pelo menos. O primeiro devido ao fato
de que as categorias de Peirce são universais. Elas aparecem em qualquer fenômeno de
qualquer espécie, a presença delas é particularmente evidente em um fenômeno de natureza
triádica como são os três registros lacanianos ou a tríade freudiana da dinâmica psíquica
em inconsciente, subconsciente e consciente, mais tarde redefinida como id, superego e ego.

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PSICANÁLISE - 17

O objetivo do presente artigo é avançar alguns passos na comparação entre Peirce e


Lacan.
Tenho por propósito mostrar que a lógica da categoria peirciana da terceiridade, que é
a lógica do signo, pode contribuir para o entendimento das complexas interações dos três
registros lacanianos do imaginário, real e simbólico.

10.1. As Categorias Universais de Peirce

Peirce levou exatamente 30 anos, de 1967 a 1897, para completar sua teoria das
categorias.
Estas foram originalmente apresentadas no seu ensaio de 1867 "Sobre uma nova lista
de categorias" (Pierce, 1931-1958, 1.545, também publicado em Pierce, 1981, vol. 2, pp. 49-
59 e Peirce, 1992, pp. 2-10). Entretanto, foi apenas em 1897 que o sistema triádico de
Peirce ficou "fundamentalmente completo," quando ele "acrescentou o possível como um
modo de ser, e, ao fazê-lo, desistiu da sua teoria probabilística das freqüências inspirada em
Mill," renunciando, ao mesmo tempo, a qualquer resquício de nominalismo que pudesse
ainda porventura haver em seu pensamento. Foi só em 1902 que Peirce adotou suas
categorias, então chamadas de categorias fenomenológicas, como base geral para toda a sua
doutrina lógica.
Como afirmado em 1902 (L75: B8), há três perspectivas a partir das quais as
categorias deveriam ser estudadas antes de serem claramente apreendidas:
 qualidade;
 objeto e
 mente.
Do ponto de vista ontológico da qualidade, o ponto de vista da primeiridade, as
categorias aparecem como:
 qualidade ou primeiridade, isto é, o ser de uma possibilidade qualitativa positiva,
por exemplo, a mera possibilidade de uma qualidade nela mesma, tal como
vermelhidão, sem relação com qualquer outra coisa, antes que qualquer coisa no
mundo seja vermelha.
 reação ou secundidade, quer dizer, a ação de um fato atual, qualquer evento no seu
aqui e agora, no seu puro acontecer, no ato em si de acontecer, o fato em si mesmo
sem que se considere qualquer causalidade ou lei que possa determiná-lo, por
exemplo, uma pedra que rola de uma montanha.
 Mediação ou terceiridade, o ser de uma lei que governará fatos no futuro (Pierce,
1931-1958, 1.23), qualquer princípio regulador geral que governa a ocorrência de
um fato real, como por exemplo, a lei de gravidade que rege o rolar da pedra da
montanha.
Do ponto de vista do objeto ou secundidade, isto é, do ponto de vista do existente, as
categorias são:
 qualia, quer dizer, fatos de primeiridade, por exemplo, a qualidade sui generis do
vermelho no céu em um certo entardecer de um outono qualquer nos pampas
gaúchos.
 relações, isto é, fatos de secundidade, tal como a percussão resultante da batida da
pedra no chão, quando o esforço da pedra contra a resistência do solo resulta em
polaridade bruta.
 representação, isto é, signos ou fatos de terceiridade: a palavra "céu," uma foto ou
uma pintura do céu como signos do céu.
Do ponto de vista da mente ou terceiridade, as categorias são:

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PSICANÁLISE - 18

 sentimento ou consciência imediata, quer dizer, signos de primeiridade, por


exemplo, a qualidade de sentimento vaga e indefinida que a vermelhidão do céu em
um crepúsculo no outono produz em um certo observador.
 sensação ou fato, quer dizer, sentido de ação e reação ou signos de secundidade,
por exemplo, ser surpreendido diante de um fato inesperado.
 concepção ou mente nela mesma, sentido de aprendizagem, mediação ou signos de
terceiridade, por exemplo, este parágrafo que acabo de escrever e que você está
lendo agora.
O tópico mais importante relativo às categorias peircianas, entretanto, está no fato de
que elas são universais. Os conceitos categoriais são, portanto, extremamente gerais e
abstratos. Peirce (1931-1958) afirmou que suas categorias meramente sugerem um modo de
pensar: "Talvez não seja correto chamar as categorias concepções. Elas são tão intangíveis
que não passam de tons ou nuanças das concepções" (1.353).
Assim, as categorias universais não substituem nem excluem a variedade infinita de
outras categorias mais específicas e materiais que podem ser encontradas em todos os
fenômenos. Elas são apenas noções gerais indicando o perfil lógico dentro do qual algumas
classes de idéias se incluem.
Desse modo, as categoria da primeiridade inclui as idéias de acaso, originalidade,
espontaneidade, possibilidade, incerteza, imediaticidade, presentidade, qualidade e
sentimento. Na secundidade, encontramos idéias relacionadas com polaridade, tais como
força bruta, ação e reação, esforço e resistência, dependência, conflito, surpresa.
Terceiridade está ligada às idéias de generalidade, continuidade, lei, crescimento, evolução,
representação e mediação.
Disso se pode concluir que as categorias também estão logicamente subjacentes aos
três registros psicanalíticos. Dada a generalidade lógica dessas categorias, entretanto, elas
não são capazes de especificar o conteúdo desses registros, pois essa especificação só pode
vir do campo da psicanálise. Conseqüentemente, a fenomenologia e a semiótica só podem
fornecer o substrato lógico, sem poder indicar quais são as características específicas que a
primeiridade, secundidade e terceiridade adquirem na psicanálise. A natureza dos três
registros será apresentada brevemente abaixo, seguida do exame de suas correspondências
com as três categorias.

10.2. Os Três Registros Psicanalíticos

A. O Imaginário. O imaginário é basicamente o registro psíquico correspondente ao


ego (ao eu) do sujeito, cujo investimento libidinal foi denominado por Freud de Narcisismo.
O eu é como Narciso: ama a si mesmo, ama a imagem de si mesmo ... que ele vê no
outro. Essa imagem que ele projetou no outro e no mundo é a fonte do amor, da paixão, do
desejo de reconhecimento, mas também da agressividade e da competição. (Quinet, 1995, p.
7)
Na sua "Introdução ao narcisismo," Freud (1914/1968a) já havia percebido que não
existe, no início, uma unidade compatível ao eu do indivíduo, devendo esse eu ser
construído. No seu texto sobre o estágio do espelho, Lacan veio dar conta exatamente dessa
constituição da função do eu que Freud mencionara sem desenvolver. É bastante conhecido
o fato de que, para descrever a fase do espelho, Lacan se utilizou do esquema ótico, ou
melhor, de um certo uso do esquema ótico, que fosse capaz de introduzir, além da
constituição do eu, também a função do sujeito na relação especular.
O estágio do espelho se refere ao período em que o bebê, na idade entre seis e dezoito
meses mostra grande interesse em sua própria imagem no espelho. Lacan explicou esse
interesse singular tomando como referência a idéia de Bolk de que o lactente humano é, de
fato, desde a origem, em seu nascimento, um prematuro, fisiologicamente falando. Por isso
está numa situação constitutiva de desamparo; experimenta uma discordância intra-
orgânica. Portanto, segundo Lacan, se a criança exulta quando se reconhece em sua forma
especular, é porque a completeza da forma se antecipa com relação ao que logrou atingir; a
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imagem é, sem dúvida, a sua, mas ao mesmo tempo é a de um outro, pois está em déficit
com relação a ela. Devido a esse intervalo, a imagem de fato captura a criança e esta se
identifica com ela. Isso levou Lacan à idéia de que a alienação imaginária, quer dizer, o fato
de identificar-se com a imagem de um outro, é constitutiva do eu (moi) no homem, e que o
desenvolvimento do ser humano está escondido por identificações ideais. É um
desenvolvimento no qual o imaginário está inscrito, e não um puro e simples
desenvolvimento fisiológico. (Miller, 1977, pp. 16-17 apud Santaella & Nöth, 1998, pp. 189-
190).
A constituição do eu toma lugar durante o estágio do espelho e começa com o
reconhecimento da identidade próprio do eu através da imagem especular em um jogo
paradoxal, de oscilação entre o eu e o outro. Senhor e servo do imaginário, o ego se projeta
nas imagens em que se espelha: imaginário da natureza, do corpo, da mente, das relações
sociais. Buscando por si mesmo, o ego acredita se encontrar no espelho das criaturas para
se perder naquilo que não é ele. Esta situação é fundamentalmente mítica. É uma metáfora
da condição humana, uma vez que estamos sempre ansiando por uma completude que não
pode jamais ser encontrada, infinitamente capturada em miragens que ensaiam sentidos
onde o sentido está sempre em falta.
A correspondência do imaginário com a categoria da primeiridade não é difícil de ser
percebida. Qualquer identificação é imaginária em todas as ocasiões. Identificar é obliterar a
distinção entre o sujeito e o objeto da identificação. É dissolver as fronteiras que poderiam
distinguir e separar o ego do outro. A identificação corresponde, portanto, a um estado
monádico que almeja a totalidade, completude e auto-suficiência. O imaginário é uma
mônada que se alimenta da miragem do outro, uma miragem na iminência da dissipação e
da perda. Ser eu, sendo, ao mesmo tempo, o outro, é idílico mas também mortífero, pois um
dos polos dessa pretensa unidade está sempre à beira do desaparecimento. Tal iminência de
dissipação é uma das principais características da primeiridade.
B. O Real. O registro psíquico do real não deve ser confundido com a noção corrente
de realidade. Para Lacan, o real é aquilo que sobra como resto do imaginário e que o
simbólico é incapaz de capturar.
O real é o impossível, aquilo que não pode ser simbolizado e que permanece
impenetrável ao sujeito do desejo para quem a realidade tem uma natureza fantasmática.
Diante do real, o imaginário tergiversa e o simbólico tropeça. Real é aquilo que falta na
ordem simbólica, os restos que não podem ser eliminados em toda articulação do
significante, aquilo que só pode ser aproximado, jamais capturado.
Lacan veio reconhecer que, para o ser falante, não há adequação na relação entre o
objeto e sua imagem, entre as partes do corpo e a imagem que se tem dele. Como a nossa
imaginação desordenada pode preencher sua função? Como o imaginário e o real podem ser
articulados na economia psíquica do sujeito? Esta polaridade, esta fratura entre o
imaginário e o real, entre o simbólico e o real corresponde exatamente à categoria da
secundidade. O real é sempre bruto e abrupto. É causação não governada pela lei do
conceito. O real resiste ao simbólico porque ele insiste, en souffrance, de tocaia para tomar
de assalto o simbólico.
C. O Simbólico. O registro do simbólico é o lugar do código fundamental da
linguagem. Ele é lei, estrutura regulada sem a qual não haveria cultura. Lacan chama isso
de grande Outro. O Outro, grafado em maiúscula, foi adotado para mostrar que a relação
entre o sujeito e o grande Outro é diferente da relação com o outro recíproco e simétrico ao
eu imaginário. Miller (1987) nos fornece uma apresentação bastante clara do simbólico, no
que se segue.
O outro é o grande Outro da linguagem, que está sempre já aí. É o outro do discurso
universal, de tudo o que foi dito, na medida em que é pensável. Diria também que é o Outro
da biblioteca de Borges, da biblioteca total. É também o Outro da verdade, esse Outro que é
um terceiro em relação a todo diálogo, porque no diálogo de um com outro sempre está o
que funciona como referência tanto do acordo quanto do desacordo, o Outro do pacto
quanto o Outro da controvérsia.

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Todo mundo sabe que se deve estar de acordo para poder realizar uma controvérsia, e
isso é o que faz com que os diálogos sejam tão difíceis. Deve-se estar de acordo em alguns
pontos fundamentais para poder-se escutar mutuamente. É o Outro da palavra que é o
alocutário fundamental, a direção do discurso mais além daquele a quem se dirige. A quem
falo agora? Falo aos que estão aqui e falo também à coerência que tento manter. (p. 22)
A correspondência do registro simbólico com a terceiridade é óbvia. O grande Outro
em todos os seus sentidos é sempre terceiridade. É lei, mediação, estrutura regulada que
prescreve o sujeito.
A análise fenomenológica dos registros psicanalíticos exemplifica uma característica
importante das categorias universais de Peirce. Embora essas categorias sejam
onipresentes, não podendo ser claramente separadas em qualquer fenômeno dado, há
sempre uma predominância de uma sobre as outras. Assim, primeiridade, secundidade e
terceiridade podem ser proeminentemente percebidas no imaginário, real e simbólico
respectivamente.

10.3. A Onipresença das Categorias

Uma extensão importante que pode ser derivada da correspondência das categorias
fenomenológicas com os três registros baseia-se no princípio da recursividade. Se as
categorias são onipresentes, o real e o simbólico devem também aparecer no registro do
imaginário, o real e o imaginário devem estar presentes no registro do simbólico e o
imaginário e simbólico também devem estar presentes no registro do real.
O imaginário é a categoria psicanalítica da demanda de amor, o real é a categoria da
pulsão e o simbólico, do desejo. A análise da demanda de amor, de fato, revela que ela
depende da linguagem, não há demanda sem linguagem, pois a demanda humana se
expressa através de signos ou através daquilo que Lacan chamou de cadeia de significantes.
Alienada na linguagem a demanda humana é capturada no deslocamento infinito da cadeia
metonímica do desejo, na cadeia de significantes do simbólico. Ao mesmo tempo, a demanda
de amor é acossada pelas vicissitudes obscuras da pulsão sexual. Apesar da predominância
da demanda de amor (primeiridade) que o caracteriza, o imaginário também apresenta sua
face simbólica (terceiridade) e sua face real (secundidade).
Relações triádicas homólogas também aparecem no registro do real que está sob a
dominância da pulsão. Esta indica a grande distinção que separa a sexualidade animal da
humana. Pulsão é uma necessidade que não pode jamais ser inteiramente satisfeita. Devido
à mediação do simbólico, a mera necessidade não pode existir para o humano. O que existe
em seu lugar é o curso circular sem fim da pulsão. O papel do imaginário na pulsão também
se torna aparente na fantasia que acompanha a busca humana pela satisfação.
O registro do simbólico, sob o governo do desejo, não é menos triádico do que os
outros três registros. Sem o estofo do imaginário, o simbólico não seria nada mais do que
uma cadeia vazia, um infinito deslocamento de significantes. Sem o real do corpo, por outro
lado, ele não seria nada mais do que uma maquinaria combinatória, maquinaria
desencarnada feita de padrões e regras.

10.4. Da Fenomenologia à Semiótica

Outro domínio para a comparação entre Lacan e Peirce diz respeito à visão peirciana
da relação entre fenomenologia e semiótica. Para Peirce, fenomenologia ou faneroscopia é
uma quaseciência. É apenas a porta de entrada para sua arquitetura filosófica. Embora as
categorias sejam um ponto de partida importante para a análise de um dado fenômeno, as
ferramentas analíticas não vêm delas, mas sim dos conceitos semióticos. Isso não quer dizer
que a fenomenologia e a semiótica estejam separadas. Ao contrário, elas estão
indissoluvelmente atadas. Mesmo assim, suas diferenças não podem ser negligenciadas. A
fenomenologia descreve o fenômeno como ele aparece. O resultado dessa descrição são as
categorias universais. Ora, a terceira categoria corresponde à noção de signo. Ela é o signo.
Assim, a semiótica nasce no coração da fenomenologia. A diferença está no fato de que os

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conceitos semióticos resultam da análise lógica e, consequentemente, constituem-se em


conjuntos altamente interconectados de idéias distintivas que podem funcionar como
dispositivos poderosos para o estudo de qualquer fenômeno como signo.
Disto decorre minha hipótese de que a definição do signo pode fornecer recursos
adicionais para a análise dos três registros psicanalíticos. Para Peirce, o signo é uma relação
indissociável de
 um fundamento, aquilo que permite ao signo funcionar como tal,
 um objeto, aquilo que determina o signo e que é, ao mesmo tempo, representado
pelo signo e
 um interpretante, o efeito que o signo está apto a produzir em uma mente
interpretadora qualquer. Esse efeito pode ser da ordem de um pensamento, de uma
mera reação, sensação ou de uma simples qualidade de sentimento.
De acordo com essa lógica triádica do signo, o imaginário, isto é, a categoria da
demanda de amor, ocupa a posição lógica do fundamento do signo. O real, a categoria da
pulsão sexual, ocupa a posição lógica do objeto do signo, enquanto o simbólico, a categoria
do desejo, ocupa a posição lógica do interpretante. Esta análise pode ser ainda mais
detalhada quando os três tipos de fundamento, os dois tipos de objeto, o objeto imediato e o
dinâmico, e os três tipos de interpretante, o imediato, o dinâmico e o final, são levados em
consideração para uma melhor compreensão do imaginário, real e simbólico. Entretanto,
essas relações exigem pesquisas que devem ficar para o futuro.

11 - PSICOLOGIA SOCIAL
A psicologia social surgiu para estabelecer uma ponte entre a psicologia e a sociologia.
O seu objeto de estudo é o comportamento dos indivíduos quando estão em interação.
Ela também pode ser definida como o estudo do condicionamento que os processos
mentais impõem à vida social do homem, ao mesmo tempo que as diversas formas da
convivência social influem na manifestação concreta dos mesmos.
Segundo Aroldo Rodrigues, psicólogo brasileiro, a psicologia social é o estudo das
"manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras
pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação".
A interação social, a interdependência entre os indivíduos e o encontro social são os
objetos investigados por essa área da psicologia. Assim, vamos falar dos principais conceitos
da psicologia social a partir do ponto de vista do encontro social: a percepção social, a
comunicação, as atitudes, as mudanças de atitudes, o processo de socialização, os grupos
sociais e os papéis sociais.

11.1. Críticas à Psicologia Social

Hoje em dia, a teoria da psicologia social tem recebido inúmeras críticas. Apontamos
agora as principais:
 Baseia-se num método descritivo, ou seja, um método que se propõe a descrever
aquilo que é observável, fatual. É uma psicologia que organiza e dá nome aos
processos observáveis dos encontros sociais.
 Tem seu desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte-
americana do pósguerra, que precisava de conhecimentos e de instrumentos que
possibilitassem a intervenção na realidade, de forma a obter resultados imediatos,
com a intenção de recuperar a nação, garantindo o aumento da produtividade
econômica. Não é para menos que os temas mais desenvolvidos foram a
comunicação persuasiva, a mudança de atitudes, a dinâmica grupal etc, voltados
sempre para a procura de "fórmulas de ajustamento e adequação de
comportamentos individuais ao contexto social".
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 Parte de uma noção estreita do social. Este é considerado apenas como a relação
entre pessoas – a interação pessoal -, e não como um conjunto de produções
humanas capazes de, ao mesmo tempo em que vão construindo a realidade social,
construir também o indivíduo. Esta concepção será a referência para a construção
de uma nova psicologia social.

11.2. Uma nova Psicologia Social e Institucional

Com uma posição mais crítica em relação à realidade social e à contribuição da


ciência para a transformação da sociedade, vem sendo desenvolvida uma nova psicologia
social, buscando a superação das limitações apontadas anteriormente.
A psicologia social mantém-se aqui como uma área de conhecimento da psicologia,
que procura aprofundar o conhecimento da natureza social do fenômeno psíquico.
O que quer dizer isso?
A subjetividade humana, isto é, esse mundo interno que possuímos e suas expressões,
são construídas nas relações sociais, ou seja, surge do contato entre os homens e dos
homens com a Natureza.
Assim, a psicologia social, como área de conhecimento, passa a estudar o psiquismo
humano, objeto da psicologia, buscando compreender como se dá a construção deste
mundo interno a partir das relações sociais vividas pelo homem. O mundo objetivo passa a
ser visto, não como fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como
fator constitutivo.
Numa concepção como essa, o comportamento deixa de ser "o objeto de estudo", para
ser uma das expressões do mundo psíquico e fonte importante de dados para compreensão
da subjetividade, pois ele se encontra no nível do empírico e pode ser observado; no entanto,
essa nova psicologia social pretende ir além do que é observável, ou seja, além do
comportamento, buscando compreender o mundo invisível do homem.
Além disso, essa psicologia social abandona por completo a diferença entre
comportamento em situação de interação ou não interação. Aqui o homem é um ser social
por natureza. Entende-se aqui cada indivíduo aprende a ser um homem nas relações com os
outros homens, quando se apropria da realidade criada pelas gerações anteriores,
apropriação essa que se dá pelo manuseio dos instrumentos e aprendizado da cultura
humana.
O homem como ser social, como um ser de relações sociais, está em permanente
movimento. Estamos sempre nos transformando, apesar de aparentemente nos mantermos
iguais.
Isso porque nosso mundo interno se alimenta dos conteúdos que vêm do mundo
externo e, como nossa relação com esse mundo externo não cessa, estamos sempre como
que fazendo a "digestão" desses alimentos e, portanto, sempre em movimento, em processo
de transformação.
Ora, se estamos em permanente movimento, não podemos ter um conjunto teórico
onde os conceitos paralisam nosso objeto de estudo. Se nos limitarmos a falar das atitudes,
da percepção, dos papéis sociais e acreditarmos que com isso compreendemos o homem,
não estaremos percebendo que, ao desempenhar esse papel, ao perceber o outro e ao
desenvolver ou falar sobre sua atitude, o homem estará em movimento, Por isso, nossa
metodologia e nosso corpo teórico devem ser capazes de captar esse homem em movimento.
E, superando esse conceitual da antiga psicologia social, a nova irá propôr, como
conceitos básicos de análise, a atividade, a consciência e a identidade, que são as
propriedades ou características essenciais dos homens e expressam o movimento humano.
Esses conceitos e concepções foram e vêm sendo desenvolvidos por vários autores soviéticos
que produziram até a década de 1960: Silvia Lane e Antônio Ciampa, que são brasileiros e
trabalhavam ativamente na PUC-SP. Silvia Lane faleceu em 2006.

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PSICANÁLISE - 23

Psicologia Social - Estudo científico da Psicologia dos seres humanos nas suas
relações com outros indivíduos, quer sejam influenciados, quer ajam sobre eles; pensamos e
sentimos de determinada maneira porque somos seres sociais; o mundo em que vivemos é,
em parte, produto da maneira como pensamos.
A Psicologia Social só toma em consideração a dimensão social dos fenómenos
psicológicos.
Objecto - A Psicologia Social é a ciência que procura compreender os “como” e os
“porquê” do comportamento social.
Campo de Ação - Comportamento analisado em todos os contextos do processo de
influência social: interação pessoa/pessoa; interação pessoa/grupo; interação grupo/grupo.
Estuda as relações interpessoais: comunicação; influências; conflitos; autoridade; etc.
Investiga os factores psicológicos da vida social: estatuto social; liderança;
estereótipos; etc.
Analisa os factores sociais da Psicologia Humana: motivação; atitudes; opiniões;
preconceitos; etc.

12 - O DESENVOLVIMENTO DO
COMPORTAMENTO SOCIAL
12.1. O Processo de Socialização

O ser humano é uma ser gregário, não vive isolado. Ao contrário, ele participa de
vários grupos entre os quais estão a família- onde se desenvolve a socialização primária -, os
companheiros, a escola, a comunidade religiosa etc. – com os quais desenvolve a
socialização secundária. Em cada grupo ele deve desempenhar um papel, ou seja, um modo
estruturado de comportar-se em um grupo. Realizando aquilo que se espera que um
indivíduo faça quando ocupa uma posição no grupo.
Assim, existe um padrão de comportamento para o aluno, para o professor, para o
noivo, para o pai etc. Além disso, existem padrões de comportamento que são considerados
adequados para as diferentes idades e gêneros.
O papel de professor, tradicionalmente aceito, inclui explicar, fornecer informações,
dirigir uma discussão, questionar, avaliar, aconselhar etc. O papel de mãe inclui o cuidado
com a casa e com a alimentação da família, a criação, a proteção e a orientação das
crianças. Do pai espera-se que oriente os filhos, trabalhe e forneça o sustento para todos.
Da criança exige-se afeto, obediência e respeito a seus pais e irmãos.
Ao mesmo tempo que uma criança desempenha o seu papel, aprende os papéis de seu
pai, de sua mãe e dos demais familiares. Uma criança, depois de fazer uma coisa errada,
pode chamar a si mesma de “feia”, exatamente como ela acha que faria sua mãe.
Pode imitar os movimentos de seu pai ao dirigir o automóvel da família. Pode, ainda,
brincar da mesma forma como fazem seus irmãos mais velhos. Isso mostra que os
elementos da família se transformaram em modelos cuja conduta pode ser imitada.

12.2. A Formação da Identidade Pessoal e Cultural

A partir do momento em que nasce a criança passa a sofrer a influência da cultura do


seu grupo social, ou seja, recebe uma herança cultural. Essa herança corresponde ao
conjunto de padrões de comportamento, de crenças, de instituições de valores materiais e
espirituais que caracterizam a civilização, a nação e o grupo social em que ela está inserida.
Assim, por exemplo, ela deverá aprender valores que são característicos da civilização
ocidental, de seu país e de sua classe social. Uma pessoa começa a aprender lições de sua
cultura muito antes de Ter consciência de que ela exista. Embora seja difícil aceitar, os
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nossos sentimento, a nossa percepção de mundo, os nossos valores e pensamentos


assumiram a forma que têm porque outras pessoas os moldaram de acordo com
determinado padrão.
Ao nascer, o ser humano dispõe de uma quantidade muito limitada de
comportamentos, a maioria dos quais são reações reflexas inatas. Como exemplos desses
respostas reflexas podemos citar: sugar, agarrar objetos que toquem a palma da mão,
bocejar, espirrar, chorar.Pouco se espera de um bebê; talvez um sorriso, um olhar
interessado, algumas vocalizações. Porém, à medida que a criança se desenvolve, muitas
coisas passam a ser exigidas.
Ela deve tornar-se independente quanto à higiene corporal, controlar sua
agressividade aprender a adiar ou inibir a satisfação de suas vontades, ingressar na escola,
conviver com professores e com outras crianças.
Com o avanço da idade, o meio social se diversifica e o comportamento vai ficando
mais complexo e integrado.
Tornar-se adulto é um processo que envolve a escolha de uma profissão, a formação
de uma família, a adaptação aos diversos grupos, a independência financeira, a escolha de
atividades de lazer etc. Isso implica que a pessoa deve desempenhar, simultaneamente,
vários papéis: de pai, de profissional, de cidadão, de religioso, de sócio de um clube
recreativo etc. Integrando-os a sua personalidade.
Nos primeiros anos a criança se adapta quase integralmente aos padrões e valores
culturais. No decorrer de seu desenvolvimento, ela começa a se rebelar contra eles. Na
adolescência a descoberta de sua identidade é mais importante do que conformar-se as
tradições. Na idade adulta ocorre uma integração entre os valores pessoais e os culturais.
No processo de socialização, portanto, existem dois aspectos complementares. O
primeiro é a tentativa da sociedade para moldar o comportamento da criança de acordo com
seus valores e padrões de conduta. O segundo é a individuação, ou seja, a tentativa da
pessoa de manter sua singularidade enquanto faz algumas concessões aos vários grupos
dos quais é membro.
É preciso ainda salientar que a transmissão da herança cultural não se faz por meio
de uma sucessão uniforme de influências. Mesmo nas comunidades mais fechadas a
influência pode variar. Na escola, uma criança terá um professor, enquanto outra terá
outro; uma lerá um livro outro. Mesmo as crianças da mesma família estão sujeitas a
diferentes tratamentos. Para os meninos são acentuados alguns aspectos da cultura; para
as meninas, outros. O filho mais velho, o do meio e o caçula recebem influ6encias sociais
diferentes. A amplitude e variabilidade das experiências pessoais fazem com que exista uma
enorme diferença entre os indivíduos de um mesmo grupo social.

12.3. O Relacionamento Entre Pais e Filhos

Ninguém discute que há necessidade de se disciplinar uma criança e que está é uma
tarefa que cabe, fundamentalmente, aos pais. É evidente que a socialização da criança
requer a imposição de certos controles e o estabelecimento de certas regras. Sem esses
controles e regras não seria possível a aprendizagem de habilidades, atitudes e
comportamentos necessários a vida em grupo.
Embora sejam, inicialmente, externas, as normas de conduta devem ser adotadas pelo
indivíduo e servir de guias que são seguidos mesmo quando a autoridade externa não está
presente. A substituição do controle externo pelo autocontrole se dá por um processo de
internalização, ou seja, pela formação de uma consciência moral.
Como já foi visto, a consciência moral consiste no conjunto de valores que permite ao
indivíduo distinguir entre o bem e o mal, em suas convicções sobre suas responsabilidades
e sobre o que deve ou não fazer. Quando o indivíduo age de acordo com esses valores e
convicções, ele sente orgulho de si mesmo; quando os transgride, sente culpa ou remorso.

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O problema central da socialização da criança não é haver ou não disciplina, mas o


tipo de disciplina empregada pelos pais.
De modo geral, a disciplina que os pais estabelecem pode ser categorizada em
disciplina pela afirmação do poder e disciplina pelo respeito à criança. A disciplina pela
afirmação do poder baseia-se na punição, que inclui o uso de agressão física, a retirada de
privilégios ou objetos materiais, ameaças e humilhações. Nesse caso, as regras estabelecidas
pelos pais devem ser respeitadas sem discussão. A obediência que se estabelece
fundamenta-se no medo.
Educar uma criança empregando castigos corporais não é uma boa técnica de
socialização, pois provoca efeitos indesejáveis. Em primeiro lugar, apenas elimina o
comportamento inadequado e não conduz a interiorização de padrões de conduta. Além
disso, ensina a criança a mentir, a fugir, a dissimular, como formas de evitar a punição.
Em geral, os pais que usam castigos físicos são muitos autoritários. Na maior parte
das vezes eles não só estabelecem regras que devem ser obedecidas, como também
restringem a atividade espontânea da criança. O excesso de rigor faz com que ela não
adquira autonomia para lidar com os desafios ambientais e se sinta desamparada cada vez
que é colocada em uma situação nova, em que regras não estão claramente estabelecidas.
Por fim, outra desvantagem do uso da força física como técnica disciplinar é o
fornecimento de um modelo agressivo. Nesse caso, os pais acabam passando à criança a
idéia de que a agressão é válida desde que o agressor tenha mais poder ou força que o
agredido.
Outra técnica dentro da disciplina pela afirmação do poder é a retirada do amor. Na
retirada do amor os pais expressam, direta ou indiretamente, o seu desgosto pelo fato de a
criança ter-se comportado de maneira inadequada. Nesse caso eles ignoram a criança,
recusando-se a falar com ela ou a ouvi-la, ou ameaçam abandoná-la.
Essa técnica é também altamente punitiva. Como a criança é totalmente dependente
dos pais e não consegue compreender que o isolamento é temporário, ela pode sentir
ansiedade e desespero.
Outra maneira de impor a disciplina pela afirmação do poder é o uso de controles que
diminuem o auto conceito da criança ou a expõem ao ridículo, fazendo comentários
negativos, fazendo comparações etc.
Essas intervenções fazem com que a criança desenvolva sentimentos de inadequação e
desprestígio. Isso pode prejudicar seu ajustamento escolar e suas relações com os
companheiros.
No procedimento disciplinar de respeito à criança, os pais são calorosos e receptivos,
encorajadores da autonomia. Sabem estabelecer um equilíbrio entre o comportamento
disciplinado e responsável e a autonomia e liberdade para expressar as emoções. Isso não
significa ausência de disciplina, pois sem controles não há socialização.
Esse procedimento é caracterizado pelo emprego do diálogo. As regras de conduta são
estabelecidas junto coma as crianças, a partir das explicação dos motivos ou da aprovação.
As exigências feitas são compatíveis com o nível de desenvolvimento da criança.
Os pais pedem a opinião dela e respeitam seus sentimentos. Elogiam suas realizações
e incentivam sua autonomia e independência, dentro dos limites de sua idade.
Ao dialogar com a criança, os pais, como agentes socializadores, mostram que as
regras não são imposições arbitrárias de alguém que detém o poder, mas algo necessário
para o respeito mútuo e a convivência em grupo. Nesse caso, o respeito à autoridade
fundamentase na admiração, no afeto e na responsabilidade.
Existem pais cujo comportamento disciplinador se caracteriza pela incoerência. Em
certos momentos são receptivos e calorosos, aceitando qualquer conduta da criança. Outras
vezes são autoritários e intransigentes, punindo os mesmos comportamentos que
permitiram anteriormente. Essa inconsistência é mais prejudicial do que uma disciplina
autoritária e impositiva. Como a criança nunca sabe como deve se comportar, pode retrair-
se, como se desejasse não ser percebida pelos pais. Além disso, não consegue entender o
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valor das regras, uma vez que estas parecem ser expressão de um estado de humor
momentâneo.

13 - PERSONALIDADE
O termo personalidade é empregado pelo senso comum com diferentes significados.
Algumas vezes, a personalidade é entendida como uma avaliação da imagem social do
indivíduo. “Ele não tem nenhuma personalidade” ou “Ele tem muita personalidade”.
Sugerindo uma escala de valores, dentro da qual um determinado traço está sendo
considerado pelo observador.
Outras vezes, o termo é empregado não apenas como sinônimo de uma única
característica, mas também de um conjunto de características que são socialmente
eficientes.
Um vendedor que procura “melhorar sua personalidade” tenta falar fluentemente
sobre diversos assuntos, ser bem-humorado, adaptável, ter certa postura em público etc.
Não existem pessoas com “mais” ou “menos” personalidade do que as outras. Cada um tem
sua individualidade, ou seja, sua personalidade. A singularidade é a característica
fundamental do ser humano.
De maneira geral, a personalidade pode ser definida como a maneira pela qual um
indivíduo age, pensa e sente. A personalidade, portanto, representa as características
duradouras de um indivíduo, que o diferenciam dos demais. Essa definição, embora
genérica, inclui aspectos estruturais e dinâmicos.

13.1. Aspectos Estruturais da Personalidade

Ao se tentar descrever como uma pessoa é, verifica-se um conjunto de traços. Eles


constituem-se em uma série de reações ou de tendências para agir de uma determinada
maneira em diferentes situações, caracterizando os ajustamentos típicos de uma pessoa. O
que determina comportamentos regulares e constantes.
Dessa forma, uma pessoa submissa é aquela que é obediente, dócil, respeitosa,
humilde, que é incapaz de tomar decisões por conta própria.
Ao descrever-se as pessoas em termos de traços, temos a tendência de situá-las em
pólos extremos. Contudo, ninguém é sempre “gentil” nem é sempre extremamente
“ganancioso”. As características variam de acordo com as situações enfrentar. Para uma
descrição correta do comportamento dos indivíduos é necessário admitir-se a variabilidade.
As pressões do ambiente físico ou social podem adiar, aumentar, deformar ou inibir a
conduta que normalmente esperaríamos de alguém a partir de seus traços.
Na atividade de uma pessoa, portanto, existe uma parte constante e uma parte
variável. A parte constante é designada pelo conceito de personalidade e é descrita por um
conjunto de traços.

13.2. Aspectos Dinâmicos da Personalidade

Os aspectos dinâmicos da personalidade referem-se às razões, aos porquês das ações


de um indivíduo.
Pelo menos em parte, vivemos nossas vidas de acordo com nossos valores, intenções e
planos conscientes. No entanto, nem sempre conseguimos explicar por que às vezes agimos
ou pensamos em agir de maneira contrária a nossos desejos conscientes. Isto sugere que,
na dinâmica da personalidade, é necessário admitir a existência de motivos inconscientes.
Os motivos conscientes são baseados na percepção atual do mundo exterior ou de
uma sensação interior. São aqueles que estão claramente definidos em nossa mente.
Motivos inconscientes são traumas, conflitos ou sensações que não têm acesso fácil à nossa
mente e que em geral são expressos de forma camuflada ou distorcida.
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Além de conscientes e inconscientes, os motivos podem ser transitórios ou


duradouros.
Espantar um mosquito do rosto é um ato motivado, ainda que transitoriamente. Um
jovem que treina arduamente para ser campeão olímpico está também motivado. Nesse
caso, contudo, a motivação persistirá por um longo período de sua vida.
No estudo da personalidade interessam os motivos duradouros, uma vez que os
transitórios não produzem padrões de comportamentos característicos do indivíduo. Uma
pessoa muito calma, por exemplo, pode perder ocasionalmente o controle frente a uma
situação de muita tensão. Isso não significa que a agressividade seja um traço de sua
personalidade.
Por fim, a hierarquia de motivos de um indivíduo e a maneira de satisfazê-los variam
ao longo de sua vida.
Durante a primeira infância, a criança depende inteiramente de seus pais. O
adolescente tem uma independência relativa e o adulto deve desenvolver certo grau de
responsabilidade social. Essa transformação da personalidade necessariamente significa
mudanças básicas na motivação.
Uma criança é exigente e não suporta adiamentos na satisfação de seus desejos. Ela
só se interessa por sua fome, seu cansaço, sua necessidade de atividade, de brinquedo e de
carinho. Não se preocupa com o bem-estar dos outros nem tolera rivalidades ou frustrações.
Para ela, as pessoas que a cercam devem dedicar-se à satisfação imediata de seus
desejos. Esse egocentrismo tende a diminuir com o decorrer da idade. Contrariamente à
criança, uma parte dos motivos do adulto envolve responsabilidade social. Ele se preocupa
com sua família, sua empresa, sua comunidade ou mesmo com o bem-estar da
humanidade.

13.3. A Autopercepção ou Autoconsciência

O único critério seguro de nossa identidade pessoal é a consciência que temos de nós
mesmos. Nessa parte da personalidade, às vezes denominada Eu, outras vezes Ego,
predominam aspectos conscientes. No entanto, nem sempre podemos saber se aquilo de que
temos consciência é objetivamente verdadeiro. Alguns pensamentos e atos parecem ser mais
significativos para o Eu do que outros, embora não saibamos se para isso contribuíram
fatores conscientes ou inconscientes.
O Eu refere-se ao conjunto de conhecimentos, sentimentos e atitudes que uma pessoa
tem em relação à sua aparência, às suas potencialidades, às suas emoções, aos seus
motivos e aos seus comportamentos.
A consciência que uma pessoa tem de si mesma dá identidade e sentimento de
continuidade às suas experiências. Se uma pessoa, por exemplo, se percebe inferior a seus
pares, essa percepção afetará a maioria de suas ações, mesmo que inferioridade não seja
objetivamente verdadeira. Provavelmente ela evitará expor publicamente suas idéias, manter
ou defender um ponto de vista ou assumira a liderança em algumas atividades porque acha
que irá fracassar ou que será ridicularizada.
A autoconsciência desenvolve-se gradualmente e emerge durante os primeiros seis
anos de vida. Os maiores avanços ocorrem no segundo ano, com o aparecimento da
linguagem. Podemos dizer que autoconsciência é processo mais importante da vida de uma
pessoa e constitui o sistema central que vai dirigir e integrar as informações e forças
resultantes das várias formas de interação com pessoas ou objetos. Portanto, o sentido do
Eu é o núcleo da personalidade.

13.4. O Desenvolvimento da Identidade

É difícil descobrir em que ponto do desenvolvimento surge o sentido do Eu.


Provavelmente o primeiro aspecto do Eu a se desenvolver seja o Eu Corporal ou Eu

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Somático. O Eu Somático dá à criança uma vaga consciência de si mesma como ser


individual.
Cada criança vem ao mundo com numerosas potencialidades: constituição física,
capacidade de adaptação e sensibilidade, nível de atividade geral etc. Algumas dessas
características começam a se desenvolver logo no início da vida; outra ficam latentes e só se
manifestam alguns anos depois; outras, ainda não recebem estímulos suficientes para se
atualizar ou se realizar.
A. Do nascimento aos 2 anos de idade. Os bebês de poucas semanas já se diferenciam
no seu estilo de reação aos estímulos internos e externos. Muitos mostram boa
adaptabilidade e sensibilidade moderada.
Raramente são perturbados pelas alterações normais – ficar molhado, ter fome, sede,
sono etc. -. São tranqüilos e acomodados. Outros, no entanto, são mais sensíveis e, diante
das mesmas situações, ficam tensos e choram muito.
O sentido do Eu Corporal desenvolve-se a partir dessas sensações orgânicas. No
entanto, as sensações de fome, sede, desconforto físico, posição da cabeça ou dos membros,
por si mesmas, não são suficientes para provocar o aparecimento do sentido do Eu.
Um bebê não pode comer quando deseja. Da mesma forma, quando tenta se
movimentar, logo sente suas limitações. No universo da criança é importante a presença de
uma pessoa adulta. As respostas que essa pessoa dá às suas necessidades orgânicas é o
segundo elemento para o desenvolvimento do Eu Corporal, pois são algo vindo “de fora”.
Essa separação entre interior e exterior, ou seja, entre as sensações e as modificações nelas
causadas pela presença de outra pessoa, é o ponto de partida para a objetivação do Eu.
Os pais por sua vez, acabam sendo influenciado pelo estilo comportamental do seu
bebê. Ao entender e responder à linguagem natural da criança, eles acabam encorajando ou
inibindo o estilo comportamental do filho e colaborando, assim, para a formação de sua
identidade.
B. Dos 2 aos 6 anos de idade. A partir dos dois anos de idade, o Eu Somático
gradualmente é suplantado pela autopercepção.
A autopercepção envolve um sentido definido de autoidentidade e uma consciência de
diferentes papéis sociais e relacionamentos com as outras pessoas.
Dos dois anos de idade em diante, a criança tem uma necessidade muito grande de
explorar seu ambiente. Ela deseja empurrar o carrinho, mexer nas gavetas dos armários,
acender fósforos, colocar os dedos nas tomadas, brincar com cães e gatos, ou seja, tem uma
imensa curiosidade a ser satisfeita. Em poucos minutos a curiosidade de una criança
pequena pode dessarumar uma casa inteira.
Essa curiosidade não é uma conseqüência direta do sentido do Eu. É apenas uma
reação normal provocada pelo desenvolvimento cognitivo.
O sentido do Eu aparece quando essas atividades são impedidas. Quando isso ocorre,
a criança sente que tem desejos e sentimentos próprios e torna-se agudamente consciente
de si mesma com um Eu. Um sintoma disso é o aparecimento de uma oposição sistemática
ao alimento, às roupas, às ordens, a quase tudo que os pais desejam que ela faça. Esse
esforço pela autonomia, que aparece na forma de negativismo, é a primeira manifestação da
existência da autopercepção.
O negativismo – reação de oposição generalizada – é uma espécie de transição entre a
dependência e a docilidade do bebê e a autonomia da criança em idade pré-escolar, ou seja,
uma faz intermediária entre o Eu Corporal e a autoconsciência.
A evolução do Eu está longe de estar completa. A criança em idade pré-escolar perde
facilmente sua identidade. A fantasia domina sua vida e seu brinquedo. Ela tem
companheiros imaginários e apresenta dificuldades no uso de pronomes referentes à
primeira pessoa. Além disso, ela é totalmente egocêntrica. Pensa que o mundo existe para o
seu proveito. Por exemplo, em seu pensamento, o sol a segue para ver se é uma criança bem

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comportada. Ela acredita que os outros pensam aquilo que ela pensa e não sente
necessidade de explicar suas emoções.
O egocentrismo também é manifestado no direito de posse. Tudo é exclusivamente
dela: seus pais, seus irmãos, sua casa, seus brinquedos. Ela não aceita dividir nada com
ninguém. Briga com os outros para garantir a propriedade absoluta de tudo.
C. Dos 6 aos 12 anos de idade. Neste período o sentido de identidade se amplia.
As crianças dessa faixa etária são francas quanto às suas fraquezas e características.
Elas se chamam por apelidos, que geralmente estão relacionados a alguma deficiência. O
ingresso na escola coloca a criança diante de uma realidade estranha ao seu ambiente
familiar. Ela aprende, por exemplo, que a linguagem ensinada por seus pais pode não ser a
mesma usada por seus colegas, que seu modo de vestir tem de ser mudado. Aprende
também que tem que tomar cuidado com o que fala e com o que faz.
A necessidade de incorporar essas diferenças conduz à revisão e à mudança de
hábitos. Seus esforços para modificar sua maneiras de agir e para ocultar os traços
desaprovados acabam influenciando o conceito que ela tem de si mesma. Essa necessidade
de auto-regulação e de aquisição de novas condutas, freqüentemente, resulta em uma
ampliação e intensificação do Eu.
Outro fator que contribui para a ampliação do Eu é a realização de tarefas tais como
fazer compras, ir à escola sozinha, arrumar estantes, realizar pequenos concertos de seus
brinquedos. O sentir-se independente nas suas atividades cotidianas aumenta a
autoconfiança.
A criança que já adquiriu identidade e autoconfiança é bem-ajustada, ou seja, brinca
bem com seus companheiros durante longos períodos, é prestativa com seus irmãos e
colegas, tem seus desempenhos escolares próximos de suas capacidades e mostra relativa
independência dentro ou fora do lar. Isso não ocorre, no entanto, quando há rejeição
constante por parte dos colegas e quando ela sofre forte interferência dos pais em sua livre
iniciativa.
A criança que não tem liberdade de ação ou de utilização de seus dotes naturais
encontrará dificuldades nas atividades escolares e nas relações com seus companheiros. A
falta de iniciativa a torna dependente, com pouca confiança em si mesma e bloqueada na
manifestação de seus sentimentos e desejos, o que dificulta uma clara consciência de si
mesma.
D. Adolescência. Na adolescência o problema de identidade se torna mais agudo. A
conhecida rebeldia dos adolescentes tem uma ligação estreita coma busca da identidade. A
rejeição e oposição, total ou parcial, aos pais é um estágio necessário, embora cruel, desse
processo. A rebeldia do adolescente corresponde ao negativismo da criança de dois anos de
idade.
A auto-imagem do adolescente depende dos outros. Ele procura a popularidade e teme
a rejeição. Seus cabelos, seu gosto musical, sua roupa, seus maneirismos se conformam aos
padrões de seu grupo. Raramente ele desafia esses padrões. Sua auto-imagem e seu sentido
de identidade ainda não podem suportar tensões que resultariam desse desafio.
O jovem que está atrasado em seu desenvolvimento físico sente-se infeliz. Ele não
pode suportar o fato de sua barba ainda ser rala ou de sua voz não ter engrossado. A moça
não se conforma pelo fato de seu corpo ainda não ter as formas femininas definidas.
A busca da identidade se reflete na freqüência com que o adolescente experimenta
diferentes tipos. Ele modifica constantemente sua maneira de conversar, de pentear os
cabelos, imita um herói, depois outro, e assim sucessivamente. O que realmente deseja
ainda não aconteceu: sua verdadeira identidade.
Como normalmente os pais criticam ou ridicularizam essas preocupações do
adolescente, ele busca apoio nos companheiros. Os jovens passam horas ao telefone,
discutindo como comportar-se com o sexo oposto, qual a roupa para ir a uma festa ou
mesmo contando suas “proezas”. Até o namoro é uma forma de testar sua auto-imagem; por
isso, suas paixões são intensas e de pouca duração.
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Uma outra fonte de conflito para o adolescente são as necessidades sexuais. Os jovens
já aprenderam as coerções sociais e acham difícil harmonizar seus impulsos com as
convenções.
Outra área de dúvida, ainda é a escolha de uma profissão ou de um objetivo de vida. O
adolescente sabe que seu futuro precisa seguir um plano. Freqüentemente ele espera
demais da vida. Muitos dos seus ideais são tão elevados que é quase inevitável uma
desilusão. Talvez, anos mais tarde, ele descubra limites reais para suas aspirações, à
medida que a experiência lhe mostra que ninguém pode ser tão famoso quanto ele
pretendia, nem tão talentoso quanto ele imaginava ser ou que nenhum casamento pode ser
tão perfeito quanto ele sonhava.
Ajustar a auto-imagem e as aspirações às condições reais que a vida oferece é uma
tarefa para o adulto. Contudo, a colocação de objetivos muito elevados, que é característica
do adolescente, é uma fase muito importante na evolução do sentido do Eu.
A auto-realização que é um dos motivos orientadores de nossas vidas, surge na
adolescência. Portanto, enquanto o jovem não começar a elaborar planos de vida, o sentido
do Eu não estará completo.
A maioria das pessoas enfrenta muitas dificuldades para abandonar os
comportamentos pueris ou adolescentes. À medida que a idade avança, tornam-se
constantes as cobranças quanto à realização profissional, à formação de uma família, à
responsabilidade social etc. A pessoa madura é aquela que adquiriu uma identidade e
integrou as várias dimensões da evolução do sentido do Eu em um sistema estruturado.
Todas as características das fases precedentes – o sorriso autêntico da criança da primeira
infância, a curiosidade e a experimentação do pré-escolar, a autonomia conquistada pelo
escolar, a coragem e o idealismo do adolescente – devem ser incorporadas na personalidade
adulta, embora expressas de novas maneiras.

13.5. Teorias da Personalidade

A. Psicanálise. Sigmund Freud (1856-1939), médico vienense, especializou-se em


Fisiologia e em psiquiatria, formou-se em 1881. Ele alterou o modo de pensar da vida
psíquica. Investigou processos misteriosos do psiquismo como fantasias, sonhos,
esquecimentos, enfim, a interioridade do homem.
Criou a psicanálise, que é uma teoria, um método de investigação e uma prática
profissional.
É uma teoria enquanto teoriza o conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento
da psique humana.
É um método de investigação interpretativo que busca o significado oculto daquilo que
é manifesto através de ações, palavras, produções imaginárias como os sonhos e os delírios.
É uma prática profissional porque é uma forma de tratamento psicológico (terapia
analítica), que visa a cura ou auto conhecimento. Busca descobrir as regiões obscuras da
vida psíquica vencendo as resistências interiores, pois disse que se ele conseguiu “não é
uma aquisição definitiva da humanidade, mas tem que ser realizada de novo por cada
paciente e por cada psicanalista”.
Trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra francês, que tratava histeria com hipnose em
Paris. Em Viena trabalhou com Josef Breuer no caso de Ana O, que apresentava distúrbios
somáticos e sintomas de paralisia com contratura muscular, inibições e dificuldades de
pensamento. Os sintomas originaram-se ao cuidar do pai enfermo. Desejou que o pai
morresse. Essa idéia e sentimentos foram reprimidos e substituídos pelos sintomas.
Em estado de vigília não era capaz de indicar a origem dos sintomas, mas, sob
hipnose relatava a origem de cada um deles (ligados à vivências anteriores). Os sintomas
desapareciam devido à liberação das reações emotivas associadas aos eventos traumáticos.
Breur denominou método catártico onde a liberação dos afetos leva à eliminação dos
sintomas.
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Freud abandonou a hipnose, desenvolveu a técnica de pressão, concentração com


rememoração através da conversação, por fim abandonou as perguntas e partiu para a
associação livre.
Descobre o inconsciente. O indivíduo sempre esquecia algo que era penoso para si e
tornava-se o material reprimido que localizava-se no inconsciente.
Teorias sobre a Estrutura do Aparelho Psíquico.
 Teoria do Aparelho Psíquico.
Em 1990, no livro “A Interpretação dos Sonhos”, Freud apresenta a 1a. concepção
sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade.
Considera a existência de 3 sistemas ou instâncias psíquicas:
 Inconsciente - “Conjunto de conteúdos não presentes no campo atual da
consciência”. São os conteúdos reprimidos que não tem acesso aos sistemas pré-
consciente ou consciente pela ação de censuras internas. Possui leis próprias. Ex.:
não existe noção de passado e presente.
 Pré-consciente - local onde permanecem os conteúdos acessíveis a consciência.
Aquilo que não está na consciência, neste momento, mas que no momento seguinte
pode estar.
 Consciente - Recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do
mundo interior. Destaca-se o fenômeno da percepção e principalmente a percepção
do mundo exterior.
Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e outros conceitos
aos 3 sistemas da personalidade.
 ID -Reservatório da energia psíquica, onde se localizam as pulsões: de vida e morte.
É regido pelo princípio do prazer (busca o prazer e evita o desprazer, o que também
é prazer).
 EGO - Estabelece o equilíbrio entre as exigências do ID, as exigências da realidade
e as “ordens” do SUPEREGO. Procura “dar conta” do interesse da pessoa. Ë regido
pelo princípio da realidade (que junto com o princípio do prazer, regem o
funcionamento psíquico). É um regulador na medida que altera o princípio do
prazer no sentido de buscar a satisfação considerando as condições objetivas da
realidade.
 SUPEREGO - Origina-se (com o complexo de Édipo) a partir das internalizações,
dos limites e da autoridade.A moral, os ideais são funções do Superego. Refere-se
as exigências sociais e culturais.
A Descoberta da Sexualidade Infantil.
Na prática clínica, Freud, pesquisando sobre causas e funcionamento das neuroses,
descobriu que a grande maioria dos pensamentos e desejos reprimidos eram de ordem
sexual, localizados nos primeiros anos de vida do indivíduo.
Na vida infantil estavam as experiências traumáticas, reprimidas que originavam os
sintomas atuais. Essas ocorrências deixavam marcas profundas na estrutura da
personalidade.
Coloca a sexualidade no centro da vida psíquica.
Postula a existência da sexualidade infantil.
Principais aspectos destas descobertas:
 Função sexual existe logo após o nascimento e não a partir da puberdade como se
afirmava;
 O período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar a
sexualidade adulta;

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 A LIBIDO, nas palavras de Freud é “a energia dos instintos sexuais e só deles”.


No desenvolvimento psicossexual o indivíduo tem nos primeiros anos de vida a função
sexual ligada à sobrevivência, e portanto, o prazer é encontrado no próprio corpo.

13.6. Alguns Conceitos Freudianos

A. Complexo de Édipo. Inicia aproximadamente entre 2 e 5 anos e seu declínio é entre


5 ou 6 anos.
Para o menino:
 Mãe => objeto do desejo
 Pai => rival que impede o acesso à mãe
o menino procura então assemelhar-se ao pai para obter a mãe.
o por medo do pai desiste da mãe que é trocada pela riqueza do mundo social e
cultural.
B. Realidade Psíquica. A princípio entendia que tudo que era relatado pelos pacientes
tinha ocorrido de fato. Posteriormente descobriu que poderia ter sido imaginado com a
mesma força e conseqüência de uma situação real.
C. Funcionamento Psíquico. É concebido através de 3 pontos de vista:
 Econômico: existe uma grande quantidade de energia que “alimenta” os processos
psíquicos.
 Tópico: aparelho psíquico é constituído de um número de sistemas que são
diferenciados quanto a sua natureza e funcionamento “lugar” psíquico.
 Dinâmico: no interior do psiquismo existem forças que entram em conflito e estão
permanentemente ativas. A origem dessas forças é a pulsão.
Compreender os processos psíquicos é considerar os 3 pontos de vista
simultaneamente.
D. Pulsão. É um estado de tensão (diferente do instinto), que busca através de um
objeto a supressão deste estado.
 Eros - pulsão de vida que abrange as pulsões sexuais e as de auto conservação.
 Tanathos - pulsão de morte, pode ser auto destrutiva agressiva ou destrutiva.

14 - PSICANÁLISE: MÉTODO E FORMA DE


ATUAÇÃO

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PSICANÁLISE - 33

A função primordial da psicoterapia é buscar a origem do sintoma ou do


comportamento manifesto ou do que é verbalizado, isto é, integrar os conteúdos
inconscientes na consciência.
É necessário vencer as resistências do indivíduo que impedem o acesso ao
inconsciente.
Este tipo de psicoterapia é a PSICANÁLISE. Pode ter como objetivo a cura ou o
autoconhecimento.
Os métodos para atingir esses objetivos são:
 interpretação dos sonhos, dos atos falhos ( os esquecimentos , as substituições de
palavras etc...) e as
 associações livres.
No caminho de acesso ao inconsciente o que conta é a história pessoal. Cada palavra,
cada símbolo tem um significado particular para cada indivíduo. Tradicionalmente a
psicanálise utilizava um divã. Atualmente está ampliando seu raio de ação para fenômenos
de grupo, práticas institucionais, compreensão dos fenômenos sociais como a violência,
delinqüência etc.

14.1. Humanista

A primeira revolução psicológica que ocorreu no século XX foi da Psicologia


Behaviorista. A Segunda revolução foi a de Freud.
A Teoria Humanísta é considerada como a terceira revolução na Psicologia, gerou o
renascimento do humanismo nesta área do saber. Esta teoria tenta explicar a psicologia não
como ela é, mas como devia ser. Busca encaminhar a psicologia à sua fonte , a psique, uma
vez que ao tornar-se ciência seu objeto de estudo passa a ser o comportamento observável.
A Psicologia Humanista não é o estudo do “ser humano” , e sim um compromisso com
o vir a ser humano. Representa uma reação contra o Behaviorismo e a Psicanálise ortodoxa,
por isso foi denominada a terceira força.
Alguns dissidentes de Freud como Adler, Jung, Rank, Stekel, Ferenczi, discordavam
dele em relação a sua teoria da libido com seu determinismo instintivo e a sua tendência
para atribuir a origem das dificuldades a um passado remoto. Começaram a atribuir maior
ênfase ao presente, à presença do paciente e ao futuro com suas aspirações , metas e planos
de vida do indivíduo.
O denominador comum desta teoria e terapia é o respeito pela pessoa, o
reconhecimento do outro e o respeito a si mesmo. Sua característica central é a ênfase na
pessoa humana, o indivíduo em sua totalidade e unicidade. O reconhecimento de que um
precisa do outro e a importância dos relacionamentos no crescimento da personalidade.
O terapeuta existencial humanista deixa de ser um catalisador silencioso como no
tempo de Freud para ser um participante ativo com a totalidade do seu ser. Participa para
ajudar, para conhecer e compreender o cliente.Acredita que só através da participação é
possível obter o conhecimento proveitoso.
Matson (1969), enquanto presidente da Associação de Psicologia Humanista na época,
propõe uma linha de compromisso aos psicólogos humanistas que foi: jurar permanente
oposição a todas as formas de tirania sobre a mente do homem; defender a liberdade
psicológica que descreve como sendo a ameaça à liberdade mental, que consiste no poder de
escolha.
Explica o autor que a nossa liberdade psicológica é ameaçada pela falta de coragem e
de fibra; pela nossa incapacidade para viver com o dogma democrático, que se assenta na
capacidade do ser humano para conduzir sua própria vida. Aponta a educação como um
campo onde predomina essa falta de coragem ao que denomina de “doença ocupacional do
trabalho social”, em que a pessoa assistida passa a ser um cliente que é tratado como
paciente e diagnosticado como incurável” (GREENING, 1975, p.80).
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PSICANÁLISE - 34

A terceira força deve lutar contra as ameaças à liberdade mental e autonomia da


pessoa, condenando cada força desumanizante, despersonalizante e desmoralizante que nos
empurra para uma sociedade tecnocrática , um laboratório dos sonhos behavioristas e dos
pesadeos do humanista.

14.2. Conflito, Frustração e Ajustamento

A. Conflito. O conflito é tanto uma forma de agressão quanto uma frustração. Quando
afirmamos que uma pessoa está em conflito com outra pessoa, com sua família ou
sociedade, queremos dar a entender que há um sentimento de hostilidade e agressão entre
elas. A pessoa pode expressar estes sentimentos mediante atos agressivos que variam desde
a desaprovação silenciosa até o assassinato.
B. Conflitos Internos. O conflito interno é aquele que existe na intimidade da pessoa.
Estes conflitos são frustrantes na medida em que impedem a pessoa de alcançar o que
deseja e portanto envolve também agressão. Um conflito interno é como uma guerra civil,
posto que ocorre entre duas forças opostas no interior das pessoas. Um conflito interno
muito comum surge quando uma pessoa deseja alguma coisa condenada por sua
consciência.
Os conflitos internos eclodem entre duas respostas incompatíveis de aproximação
(desejo) e evitação (medo).
C. Resolução de Conflitos. Se todos os conflitos internos podem ser representados por
força opostas no íntimo da pessoa ou tendências comportamentais de aproximação e
evitação então verificaremos que a resolução de conflitos ocorrerá de diferentes maneiras.
A tendência para aproximação pode ser fortalecida, a tendência para o afastamento
pode ser enfraquecida ou ambos podem ocorrer ao mesmo tempo. Por exemplo, uma criança
que tenha medo das ondas do mar pode ser conduzida lentamente para a água encorajada e
apoiada por um adulto. Se isto for feito cuidadosamente e repetido de tempos em tempos, o
medo enfraquecerá ou desaparecerá, e o conflito poderá ser resolvido. O adulto deve reforçar
as tendência de aproximação e enfraquecer as de afastamento.
Para situações de vida perigosas deve ser fortalecido o afastamento e enfraquecida a
aproximação. Ameaças, explicações e punições são empregadas para enfraquecer a
aproximação do que pode ser perigoso.
D. Negociação dos Conflitos. No processo de ajustamento do homem ao seu ambiente,
destacam-se os mecanismos psicológicos que permitem a acomodação dos conflitos. O
estudo desses mecanismos, segundo a psicanálise permite compreender melhor as maneiras
de o indivíduo contornar os obstáculos que se antepõem aos seus desejos. Os mecanismos
de defesa são métodos defensivos do ego para se livrar da ansiedade.
 Racionalização. O indivíduo procura dar explicação ou justificativa para o que
percebe, sente e faz. As racionalizações compensatórias, permitem a resolução de
conflitos. Ex.: Raposa e as Uvas. Não podendo alcançar as uvas a raposa procurou
ajustar-se à situação, alegando estarem as mesmas verde.
 Fantasia. Talvez a felicidade se resuma em desejar-se muito e contentar-se com
pouco. Dificilmente nos contentamos com o que temos e cada dia desejamos mais,
porque somos constantemente motivados a comprar automóvel, viajar, assistir
espetáculos caros. Não podendo obter tudo que ansiamos nem sobrepor todos os
obstáculos da vida, recorremos a fantasia, trocando o mundo real por um mundo
fantástico, onde as barreiras são transpostas com facilidade. Esse mecanismo
permite temperar as dificuldades da realidade.
 Projeção. Pensamentos e sentimentos que na realidade são nossos são atribuídos a
pessoas e objetos que nos cercam. Ex.: O aluno que é reprovado coloca a culpa no
professor X que é incapaz.
 Deslocamento. Uma emoção ligada a uma idéia inaceitável pela própria pessoa é
recalcada no inconsciente, pode transferir-se para uma outra idéia neutra.
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PSICANÁLISE - 35

 Sublimação. Substituição de comportamentos por outros mais sublimes segundo


os padrões sociais adotados pela comunidade em que vive. Ex.: Por deficiências
próprias, o poeta, que se sente impossibilitado de obter o amor da mulher desejada,
sublima nos versos seus desejos.
 Compensação. É um mecanismo que permite ao indivíduo compensar certas
deficiências físicas ou psicológicas através do desenvolvimento de determinadas
capacidades.
 Generalização. É o mecanismo através do qual o indivíduo atribui a muitas
pessoas, ou ao gênero humano, aquelas verdades desagradáveis. Ex.: Ao ser
prejudicado por uma pessoa estrangeira, o cidadão, normalmente, além de xingar
essa pessoa, procura ofender todos os patrícios da mesma.
 Frustração. É o estado emocional que acompanha a interrupção de um
comportamento motivado. Nossa saúde mental depende da FORMA como
enfrentaremos a frustração. Tanto a ausência de frustração, como acontece com
indivíduos superprotegidos, quanto o excesso normalmente são prejudiciais.
 Ansiedade. É um estado afetivo caracterizado por sentimentos de apreensão,
inquietude e mal estar difusos. Podem ser tomadas por medo de um perigo vago e
desconhecido, mas para a pessoa inevitável. Conflitos e frustrações podem ser
fontes de ansiedade.
 Ajustamento. Depende da correta utilização dos vários mecanismos que nos
auxiliam na solução de problemas psíquicos. Considerar uma pessoa ajustada
depende do conceito que temos de ajustamento e dos critérios utilizados. Os
conceitos e critérios variam dependendo do lugar e época.
Alguns autores fazem distinção entre o indivíduo normal e o ajustado, outros
consideram Ter o mesmo significado. O ser ajustado é o que se adapta com facilidade aos
padrões da sociedade, o que não significa ser normal, saudável, realizado e feliz. Perls
considera que a pessoa é feliz, saudável à medida em que vive o momento presente. Já
Maslow considera que o indivíduo com saúde mental caracteriza-se por ser mais espontâneo
e comunicativo.
Podemos observar que uma pessoa considerada “normal” manifesta comportamento
que se caracteriza por:
 Manutenção da boa saúde física;
 Conhecimento mais amplo possível e aceitação de si mesmo;
 Conhecimento e aceitação dos outros;
 Relacionamento de confiança com outras pessoas;
 Participação social efetiva;
 Ocupação profissional realizadora e criativa.
Ajustamento emocional é definido por Cória Sabini como os meios pelos quais o
indivíduo procura manter um relacionamento harmonioso entre as suas necessidades e as
exigências do se meio ambiente físico e social.

14.3. O Normal e o Patológico

 Culturas diferentes tem concepções diferentes sobre Saúde Mental;


 Nas sociedades primitivas a pessoa normal é a que abandonou inteiramente sua
individualidade em prol de padrões sociais que beneficiam o grupo;
 No mundo ocidental a normalidade enfatiza a individualidade e a realização das
potencialidades pessoais.
A. Normal.
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PSICANÁLISE - 36

 Uma pessoa saudável é aquela que domina ativamente seu ambiente, mostra certa
unidade de personalidade e é capaz de perceber adequadamente seu mundo e a si
mesma;
 É alguém que mantém um comportamento harmonioso, sem fazer exigências
excessivas aos outros e a sua própria pessoa;
 Nem sempre estão felizes e livres de conflitos. Irritações, aborrecimentos e
sofrimentos ocorrem na vida de qualquer pessoa;
 É tolerante à frustração (planeja uma forma de evitar ou superar o obstáculo e
aguarda a oportunidade, se necessário resigna-se ao inevitável.
 Enfrenta o mundo e seus problemas (cresce o eu e o domínio de si mesmo).
 É dominada por motivações conscientes.
B. Patológico.
 Adulto desajustado enfrenta frustrações como uma criança, com ataques de
desespero, cólera, piedade de si mesmo, atribui aos outros a culpa de seus
insucessos.
 Foge do mundo como forma de reagir à realidade (doentio, auto destrutivo).
 Modo rígido e fechado de viver (estagnação no processo de individuação e de
crescimento emocional que impedem auto realização e a busca de si mesmo.
 Sistema de motivação é cego, inconsciente, normalmente auto destrutivo.

14.4. Terapias: Enfoques Principais

A. Psicanalítica. A terapia psicanalítica é baseada na teoria da psicanálise onde são


realizadas sessões de atendimento que denomina-se análise.
Inicialmente somente os médicos, podiam fazer formação em psicanálise, uma vez que
Freud – seu fundador – possuia formação em medicina. Atualmente foi aberto aos
psicólogos.

Psicanalista é o profissional que faz sua formação no método psicanalítico, e o utiliza


em sua prática clínica.

B. Comportamental. A terapia Comportamental, atualmente denominada terapia


cognitivo comportamental é utilizada por psicólogos que fazem sua especialização nesta
área. A base desta terapia é a teoria do behaviorismo. É um tipo de psicoterapia que atinge
resultados em tempos relativamente breves em relação à mudança de comportamentos
indesejáveis por outros aceitáveis pelo paciente.
C. Medicamentosa. É a terapia com base em medicamentos. Na área de saúde mental
é de responsabilidade do psiquiatra. Sua formação acadêmica é em Medicina, com duração
de cinco anos. Sua residência médica em psiquiatria é de aproximadamente 2 anos.
A ênfase de seu conhecimento (além da medicina) é a psicopatologia. Sua atuação é
diagnosticar transtornos mentais para medicar. Sua formação é diferente da formação do
psicólogo enquanto este se atem a entender e estudar técnicas para estruturar e mudar
comportamentos, aquele se detém a estudar a psicopatologia, que é sua ferramenta básica.
A psicopatologia estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. A psicopatologia
fenomenológica é o método utilizado pela psiquiatria como ferramenta para o diagnóstico
sindrômico (conjunto de sinais e sintomas) e nosológico (origem da doença). Esse método de
investigação foi desenvolvido por Karl Jasper em 1913. Baseia-se na descrição do fenômeno
psíquico conforme são observados e relatados. Um dos conceitos básicos da psicopatologia
fenomenológica é a diferenciação entre a forma e o conteúdo do sintoma Ex.: paciente
delirante diz ser rei e o outro diz ser Deus

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PSICANÁLISE - 37

 ambos tem a mesma forma (idéia delirante)


 e conteúdos diferentes
Outro exemplo: Paciente com delírio hipocondríaco e outro com síndrome do pânico
(este é mais difícil de entender)
 ambos tem sintomas diferentes
 mesmo conteúdo
D. Ocupacional. Terapia Ocupacional é uma prática da saúde que tem como objeto de
estudo a Atividade Humana, permitindo à pessoa a construção de um novo cotidiano
superando limitações, deficiências, doenças, traumas, disfunções que interferem na
qualidade de sua vida diária, prática, de trabalho e lazer.
A terapia ocupacional previne, recupera e reabilita as disfunções e distúrbios que
dificultam a pessoa na realização de atividades de sua vida diária como higiene,
alimentação, vestuário; atividades de lazer como esportes e entretenimento e a vida de
trabalho, objetivando realizar as atividades do seu cotidiano com independência.
Trata o indivíduo como um ser holístico, através de atividades auto-expressivas,
lúdicas, de autopreservação e adaptação funcional. Atua em hospitais, centros de saúde,
consultoria às empresas, universidades, escolas, clínicas, consultórios, centros
comunitários, atendimentos domiciliares, casas geriátricas, creches e órgãos públicos.
E. De Grupo. A terapia de grupo é o processo psicoterápico aplicado à várias pessoas
simultaneamente. Ë necessário certos cuidados ao se selecionar os participantes do grupo.
Uma grande vantagem deste tipo de psicoterapia é que podemos aprender com a experiência
do outro e até mesmo nos sensibilizarmos em relação a um problema, que aparentemente é
de exclusividade alheia, também me pertence. As técnicas utilizadas no processo
psicoterapêutico de grupo devem ser utilizadas como meios para se atingirem objetivos e
não como um fim em si mesmo.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DOR, Joël. Estruturas e Clínica Psicanalítica. Rio de Janeiro: Livrarias TAURUS-
TRIMBRE Editores, 1991.

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