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ESCOLA SECUNDÁRIA PADRE ANTÓNIO VIEIRA

FILOSOFIA 11 – Estatuto do conhecimento científico

Texto 1 - Verificação, confirmação e falsificação

“A conceção clássica de ciência como um saber autêntico, seguro e suficientemente fundamentado


subsiste até hoje. (...)
Todavia, raramente conseguimos adivinhar a verdade, e nunca podemos estar seguros de o termos
conseguido. Temos que nos conformar com um saber conjetural. (...)
As teorias científicas, por melhor comprovadas e fundamentadas que sejam, não passam de conjeturas, de
hipóteses bem sucedidas, e estão condenadas a permanecerem sempre conjeturas ou hipóteses. (...) Mas
então o que se entende por critério racional do progresso científico na busca da verdade. (...) Quando é que
uma hipótese científica é preferível a uma outra hipótese?
A nossa resposta é: a ciência é uma atividade crítica. Nós testamos criticamente as nossas hipóteses.
Criticamo-las com o propósito de detetar erros, e na esperança de, ao eliminarmos os erros, nos
aproximarmos da verdade.
Consideramos uma dada hipótese – por exemplo, uma hipótese nova – preferível a uma outra quando
satisfaz os três requisitos seguintes: em primeiro lugar, a nova hipótese deve explicar todos aqueles aspetos
que a hipótese anterior havia conseguido explicar com êxito. Em segundo lugar, deve evitar, ao menos,
algumas das falhas da hipótese anterior. Ou seja, deve, se possível, resistir a alguns dos exames críticos a que
a outra hipótese não resistiu. Em terceiro lugar, deve explicar, se possível, os aspetos que a antiga hipótese
não pode esclarecer. (...)
Este critério evolutivo pode ser considerado um critério de aproximação da verdade. Isto porque se uma
hipótese satisfaz o critério do progresso e, consequentemente, suporta as verificações críticas pelo menos tão
eficazmente quanto a hipótese que a precedeu, admitimos então que se aproxima mais da verdade”
Popper, K., Em busca de um mundo melhor, Ed. Fragmento, pp. 48, 49.

1. De acordo com Popper, as teorias científicas não podem usufruir mais do estatuto de “saber autêntico,
seguro e suficientemente fundamentado”.Porquê ?
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2. Qual a relação existente entre a visão das hipóteses científicas enquanto conjeturas e a noção de
evolução em ciência?
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Filosofia da Ciência 1
Texto 2

“Vale a pena destacar três aspetos acerca do método das conjeturas e


refutações. Em primeiro lugar, o cientista não procura proteger a todo o custo
as suas teorias de eventuais ataques. Pelo contrário, o método exige que ele
próprio seja crítico em relação a elas. Felizmente, pensa Popper, se algum
cientista ficar ‘agarrado’ às suas teorias, outros tratarão de as criticar por si.
Isto revela o caráter essencialmente crítico do método científico.
Em segundo lugar, contrariamente ao que supõem os defensores do
método indutivo, não se parte da observação, nem a experimentação serve
para verificar ou confirmar teorias. A observação surge depois da hipótese, e
a sua finalidade é encontrar contra-exemplos, e não suportá-la.
Analogamente, a finalidade da experimentação é tentar mostrar que não
ocorre aquilo que a hipótese prevê, visando a sua falsificação, não a sua
verificação.
Em terceiro lugar, é um método que se baseia apenas no raciocínio
dedutivo, e não no indutivo. (…)
dedutivo, e não no indutivo. (…)
Isto mostra também, de acordo com Popper, que é errado afirmar que há teorias ou hipóteses
verdadeiras, dado que elas nunca são verificadas. Mesmo quando as teorias passam com sucesso testes
severos para as falsificar, continua a ser errado afirmar que são verdadeiras. Nem sequer é correto dizer
com isso que aumenta o seu grau de confirmação.
Então, se nunca se pode provar que uma teoria é verdadeira, o que dizer daquelas que não conseguimos
falsificar, mesmo que tentemos seriamente fazê-lo? Essas teorias são, diz Popper, corroboradas. O termo
usado por Popper para as teorias até então bem-sucedidas é corroboração e não verificação.”
Luís Rodrigues, Filosofia 11º ano, Plátano Editora, Lisboa, 2008, p. 186.

1. Quais os três aspetos que caraterizam o método das conjeturas e refutações?


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2. De acordo com Popper, corroborar e verificar uma hipótese são coisas distintas. Porquê?
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Filosofia da Ciência 2
Texto 3 – Objeções ao falsificacionismo

Várias objeções têm sido apontadas à perspetiva de Popper sobre a ciência. Vamos referir três.
Uma delas é que a perspetiva de Popper não corresponde ao que realmente se passa na prática: muitos
milhares de cientistas que fazem todos os dias investigação não procuram refutar teorias, tratando antes de
lhes encontrar novas aplicações. Além disso, há variadíssimos exemplos de teorias cujas previsões não se
confirmaram e que nem por isso foram abandonadas. Tudo o que aconteceu foi que os cientistas
procederam apenas a alguns ajustes na teoria, conservando-a em vez de a considerarem falsificada. Mesmo
que fosse desejável que os cientistas se comportassem como diz Popper, a história da ciência parece
mostrar que isso só raramente acontece. Assim, a teoria de Popper não descreve a realidade, antes se
limitando a dizer como os cientistas deveriam proceder. (…)
Uma segunda objeção é que Popper só dá conta do conhecimento científico negativo e não daquele que,
em geral, nos leva a dar importância à ciência: os seus resultados positivos. O conhecimento útil da ciência
tem um carácter positivo, por isso temos razões práticas para acreditar nele. Sabemos por exemplo que a
penicilina funciona porque tem certos resultados, e não porque não foi falsificada.
Uma última objeção é que, de acordo com Popper, não podemos proferir juízos sobre o futuro que sejam
racionalmente justificados, pelo que nos deixa na mesma situação levantada pelo problema da indução.
Como justificar, então, a minha previsão de que se me atirar da janela do 20º andar irei estatelar-me no chão
em vez de flutuar no ar? Popper concorda com Hume que é errado basear-me na ideia de que o futuro será
como o passado. Devo, então, concluir que é tão justificado acreditar que ficarei a flutuar no ar como
acreditar que irei estatelar-me no chão caso me atire da janela do 20º andar?

Almeida, A. Murcho, D., 50 Lições de Filosofia 11º ano, Didáctica Editora, Lisboa, 2014, pp. 186, 187.

1. Explicita as três críticas apontadas a K. Popper no texto


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Filosofia da Ciência 3
2. Completa as objeções a Karl Popper com a informação do manual (pp. 119 e 120).

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Trexto 4 - Será a ciência objetiva?

“Se Karl Popper representou para a tradicional filosofia da ciência uma primeira ruptura, estudos
posteriores representaram uma ruptura muito maior e muito mais radical. (...) Karl Popper nunca questionou
a racionalidade e objetividade da ciência, ainda que divergisse nos critérios de demarcação de racionalidade
e objetividade. (...) Popper é antiempirista, antiverificacionista e anti-indutivista, mas não pôs em causa a
racionalidade da ciência, nem a objetividade científica.
Com T. Kuhn (...) tudo se altera. (...) [Comecemos por enunciar três] fatores que puseram em causa a
conceção positivista e objetivista da ciência. (...)
Em primeiro lugar, as repercussões da introdução da noção de paradigma e do conceito de revolução
científica. Afinal, a intervenção dos cientistas na produção de conhecimento científico não está apenas
determinada pelo papel protagonista da experiência e por fatores estritamente científicos, mas bem ao
contrário por um conjunto de fatores extracientíficos.
Em segundo lugar, o reconhecimento de que a ideologia é afinal uma componente intrínseca a qualquer
prática e, logo, também à própria prática científica. Mais do que um obstáculo à produção do conhecimento
científico, a ideologia é, de facto, condição de possibilidade da produção científica.
Em terceiro lugar, os resultados das investigações em sociologia da ciência vieram revelar que a produção
de conhecimento científico é determinada não apenas por determinadas condições teóricas, mas também por
condições sociais e políticas. O saber afinal sempre andou de mãos dadas com o poder e os seus interesses.
Foi a 2ª Guerra Mundial, por exemplo, que levou ao desenvolvimento da ciência nuclear. Regra geral, os
cientistas trabalham na dependência de um orçamento, quer do Estado, quer de grandes empresas privadas.
Um e outro só pagam a atividade científica na medida em o produto dessa atividade serve os seus interesses.
Vicente, J. N., Razão e Diálogo, Porto Editora, Porto, 2004, p. 222
apud Fernandes, M., Barros, N., Filosofia 11º, Lisboa editora, Lisboa,2004, pp. 184, 185.

1. Explicita a crítica que se faz a Popper no primeiro parágrafo.


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Filosofia da Ciência 4
2. Identifica e explicita os fatores que vêm por em causa a concepção objetivista de ciência.
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Filosofia da Ciência 5

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