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Inês Signorini
University of Campinas
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All content following this page was uploaded by Inês Signorini on 13 October 2014.
se a distinção entre e/E e o/O, resultando cinco vogais átonas: /i, u, e, o, a/ RESENHA/REVIEW
: bElo>beleza; sOl>solar; na átona não-final, o/u perdem o traço que os
distingue, fósfuro, abóbura, ficando quatro vogais /i, u, e, a/; e, em posição RAJAGOPALAN, Kanavillil. 2003. Por uma lingüística crítica: linguagem,
final de palavra, reduz-se o sistema a três: /a, i, u/, verdi, bolu, casa. A identidade e questão ética. Sâo Paulo: Parábola Editorial. ISBN 85-
passagem de um subsistema para outro é identificada pela elevação gradual 88456-13-3. Pp.144.
da vogal média (E, O > e, o > i, u) que ocorre de acordo com o grau de
enfraquecimento da sílaba: as pretônicas são relativamente menos fortes do Resenhado por/by: Inês SIGNORINI
que as tônicas e as átonas postônicas são as mais fracas. Fica, pois, o sistema (UNICAMP)
das primeiras com cinco vogais enquanto as finais se reduzem a um sistema
de três vogais. Como os valores forte/fraco emergem da atribuição do acento Palavras-chave: Lingüística crítica; Lingüística e ética; Linguagem e
primário, o processo tem por domínio a palavra prosódica. É o que está identidade.
representado na figura 1: Key-words: Critical Linguistics; Linguistics and Ethics; Language and
Identity.
(1) A neutralização, segundo Câmara Jr. (1977)
Conforme anunciado logo no início do texto de apresentação do volume,
i u i u i u i u esta é uma coletânea de intervenções do Prof. Rajagopalan em congressos
e ο e ο e brasileiros nos últimos cinco anos, articuladas em função de uma proposta
E O do que poderíamos chamar uma “virada crítica” no campo dos estudos
a a a a lingüísticos, a exemplo do que já vem ocorrendo há algum tempo no campo
das ciências sociais.
Adepto da teoria autossegmental, Wetzels(1992) reinterpreta Mattoso O sentido dado à palavra “crítica” pelo autor é bem próximo do que
Câmara, explicando a neutralização da seguinte forma: Definidas as vogais defende Mey para os estudos em pragmática lingüística:
em termos da geometria de Clements, com altura vinculada a traços de
abertura, aberto 1, aberto 2 e aberto 3, o traço neutralizado é desligado e “A palavra ‘crítica’ é freqüentemente usada para designar uma postura
reflexiva e indagadora em relação aos fenômenos da vida. Na tradição das
substituído pelo valor oposto. Dessa forma, paulatinamente, neutraliza-se o
ciências sociais, o termo foi introduzido pela Escola de Frankfurt na década
sistema de sete para cinco, quatro e três vogais, aplicando-se cada de 1930 (Horkheimer, Adorno, Benjamin) e seus herdeiros do pós-Guerra, os
neutralização, uma por vez, de acordo com seu domínio restrito: palavra ‘neo-Frankfurtianos’, entre os quais Jürgen Habermas seja talvez o mais
fonológica, pé métrico e fronteira vocabular, respectivamente, pretônica, bem conhecido. O que une todos esses pensadores é que todos eles examinam
postônica não-final e postônica final. As regras estão representadas em (2). a vida social, enfim a própria sociedade, a partir de uma perspectiva que eu
chamaria de ‘subjetividade refletida’. Eles não acreditam em ‘fatos nus’ de
(2) A neutralização, segundo Leo Wetzels (1992) qualquer ciência, sobretudo quando a ciência em questão lida com os seres
[– acento 1] humanos. O ponto de vista do observador, e os seus interesses em observar o
que quer que seja, têm de ser levados em conta.” (Mey 2001: 315; tradução
X Domínio: palavra fonológica minha; também citado por Rajagopalan 2001).
linguagem, ponto de ancoragem de toda ciência lingüística. Tendo a discussão NEUTRALIZAÇÃO DAS ÁTONAS
desses temas como fio condutor, o autor acrescenta à idéia de uma “postura
reflexiva e indagadora” dos fenômenos estudados a do tipo de relevância (The Neutralization in Portuguese)
que, segundo ele, devem assumidamente ter os estudos lingüísticos:
Leda BISOL
“Quando me refiro a uma lingüística crítica, quero, antes de mais nada, me (PUC-RS)
referir a uma lingüística voltada para questões práticas. Não é a simples
aplicação da teoria para fins práticos, mas pensar a própria teoria de forma
diferente, nunca perdendo de vista o fato de que o nosso trabalho tem que ter ABSTRACT: The phonological system of Brazilian Portuguese has two rules
alguma relevância. Relevância para as nossas vidas, para a sociedade de of neutralization in favor of high vowels and not three, as it has been
modo geral.” (p. 12) postulated. The asymmetrical subsystem of four pos- tonic vowels in non-
final position is only an effect of frequency, for both middle vowels /e, o/
A esse tipo de relevância está relacionada, segundo o autor, a dimensão are shown to be sensitive to raising. It seems to be a case of expansion of
ética dos estudos sobre a linguagem. Como bem assinala o bioquímico francês the minimum system of three vowels which, in search of regularization,
Jaques Monod (1971), tanto na ação quanto no discurso, o conhecimento causes variation between two subsystems, the one with five and the one
está “necessariamente” associado a uma escala de valores, escala essa que with three vowels. This paper is developed in the non-linear framework and
vai determinar, em última análise, a definição do que é propriamente the data are results of variable rule analysis.
“verdadeiro” no campo do conhecimento. Mas, como também ressalta Monod, KEY-WORDS: mid vowels, neutralization, variation.
a ciência fundada no postulado da verdade objetiva trata verdade e valor
como elementos antagônicos, próprios de domínios que se excluem (a esse RESUMO: O sistema fonológico do português brasileiro possui duas regras
respeito ver também Signorini 1998a). Nesse sentido é que se pode dizer, de neutralização em favor da vogal alta e não três, como se vinha
como Rajagopalan na coletânea em referência, que no campo dos estudos postulando. O subsistema assimétrico de quatro vogais da postônica não-
lingüísticos, quanto mais próximo está o pesquisador do chamado “núcleo final é apenas um efeito de freqüência, pois ambas as vogais médias /e,o/
duro” da disciplina, mais estará lidando com a chamada “pesquisa pura”, e mostram-se sensíveis ao alçamento. Tudo indica que se trata de expansão
mais tenderá “a relegar a um segundo plano qualquer discussão a respeito do sistema mínimo de três vogais que, em busca da regularização, cria
das conseqüências éticas de suas elucubrações teóricas ou mesmo negar variação entre dois subsistemas, o de cinco e o de três vogais. O artigo
sumariamente (...) que elas existam.” (p.18) Em contrapartida, conforme desenvolve-se na linha da fonologia não-linear, considerando dados
também aponta o autor, há “uma tendência cada vez mais evidente” de se resultantes de análise de regra variável.
enfocarem as questões éticas, ideológicas e políticas da pesquisa científica PALAVRAS-CHAVE: vogais médias, neutralização, variação.
por parte de pesquisadores trabalhando nas chamadas sub-áreas “hifenizadas”
e aplicadas, segundo ele “tidas como mais periféricas ao ‘núcleo duro’” (pp.
19-20). Introdução
Em sua discussão de um trabalho exemplar a esse respeito, no caso o de
Cameron et alii (1993), de grande influência também em pesquisas voltadas A interpretação da elevação da vogal média como neutralização
para o ensino de língua no Brasil, Rajagopalan chama, porém, a atenção deve-se a Câmara Jr. (1977) que, chamando atenção para a variedade de
para a tendência em muitos desses trabalhos que se propõem a desenvolver timbre das átonas, em seu dizer de complexidade apenas aparente, explica-a,
uma pesquisa “fortalecedora”, ou “empoderadora” (empowering) para o leigo, seguindo o conceito da Escola de Praga nos termos seguintes:
em “relegar toda a ética à esfera da prática”, mantendo-se assim “a crença Estabelecidos os fonemas na pauta tônica por sua função distintiva em
de que o saber em si está acima de qualquer consideração ética” (p. 21). E número de sete /i, u, e, o, E, O,a/, o sistema fica reduzido nas demais pautas
essa tendência se verifica, segundo o autor, na medida em que: por neutralização, ou seja, por perda do traço que distingue entre si dois
fonemas. Disso emanam subsistemas de cinco, quatro e três vogais ,
respectivamente, pretônica, postônica não-final e final. Na pretônica, perde-
BORBA, F. da S. 1996. Uma gramática de valências para o português. São “Em primeiro lugar (...) a questão ética é invocada nessas discussões a partir
Paulo: Ática. da premissa, nem sempre explicitada, de que o lingüista tem o dever de ajudar
BRÉAL, M. 1992. Ensaio de Semântica: Ciência das Significações. Tradução os leigos, especialmente aqueles que serviram de informantes, como se fosse
de Férras, A. et al. São Paulo: Educ & Pontes. a quitação de uma dívida já contraída. Em segundo lugar, presume-se que o
que torna o lingüista apto para ajudar os outros é o conhecimento
CÂMARA JR, J. M. 1985. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes.
especializado que ele possui, ou seja, o lingüista se auto-outorga um dever -
DIAS DA SILVA, B. C. 1996. A Face Tecnológica dos Estudos da Linguagem: junto com o dever, um enorme privilégio - na medida em que se considera
o processamento automático das línguas naturais. Tese de doutorado. detentor de um saber que lhe dá acesso às verdades sobre a linguagem,
Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, verdades essas que, quando postas a serviço de todos, podem trazer benefícios
Araraquara. e justiça para todos.” (p. 21)
CHOMSKY, N. 1959. A Review of B. F. Skinner’s Verbal Behavior. Language,
35: 26-58. Em última análise, segundo o autor, trazer a questão ética para a instância
____. 1988. Language and Problems of Knowledge. The MIT Press. de produção do saber é, antes de mais nada, deixar o campo da epistemologia
GECKELER, H. 1976. Semántica Estructural y Teoría del Campo Léxico. para entrar no da sociologia do conhecimento e conceber essa atividade como
Madrid: Editorial Gredos. uma prática social: “Se concordarmos que a confecção de teorias é uma
GINGRAS, René. 1995. Para acabar com cierta ambiguedad léxica. Langues e atividade que se processa sob determinadas condições sociológicas muito
Linguistique, 21. Québec: Université Louval. precisas, não há como não aceitar também a consequência de que elas reflitam,
LYONS, J. 1987. Semântica - I. Tradução de Averbug, M.W. & Souza, C. S. ainda que de forma sutil, os anseios e as inquietações que movem aqueles
Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. que estão por trás daquelas reflexões teóricas.” (pp. 20-21) E em se tratando
____ 1977. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Tradução de Wanda das condições sociológicas que presidem a produção do conhecimento, os
Ramos. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes. “fenômenos da vida” , de que fala Mey (2001:315), adquirem grande
PIATELLI-PALMARINI, M. (Org.). 1983. Teorias da Linguagem. Teorias da relevância.
Aprendizagem. São Paulo: Ed. Cultrix. Os “fenômenos da vida”, destacados por Rajagopalan para nortear essa
POTTIER, B. 1968. Lingüística moderna y filologia hispánica. Madrid: Gredos. sua proposta de uma “postura reflexiva e indagadora” no exame das questões
REHFELDT, G. K. 1980. Polissemia e campo semântico (estudo aplicado aos abordadas na coletânea, são fundamentalmente os relacionados à globalização,
verbos de movimento). Porto Alegre: EDURGS/FAPA/FAPCCA. segundo ele um fenômeno inexorável e irreversível de consequências
SABA, A. 1998. Morfosin y Ayda: dos sistemas para analizar textos en lengua significativas tanto para o cidadão comum e sua língua quanto para o linguista
espanola. ILC – CNR. (in mimmeo) e sua reflexão sobre a língua; e os relacionados às limitações de ordem
SANDMANN, A. J. 1990. Polissemia e Homonímia. In: M. H. de M. Neves. disciplinar que fizeram da lingüística uma ciência tipicamente “moderna”,
Descrição do Português. Publicação do Curso de Pós-graduação em isto é, moldada pelas tradições racionalistas e logocêntricas européias dos
Lingüística e Língua Portuguesa. Ano IV – Nº. 1. UNESP – Campus séculos XVIII e XIX.
de Araraquara. Desse modo, a globalização é vista como fator determinante tanto da
SILVA, A. S. da. 1989. Homonímia e Polissemia. Análise sêmica e teoria do reviravolta nos padrões tradicionais de conceituação da identidade e dos
campo léxico. Congresso Internacional de Filologia e Lingüística graus de “autenticidade” do falante e também das formas e usos de uma
Românica, XIX. Santiago de Compostela. língua, quanto do renovado interesse pela questão das políticas lingüísticas.
SKINNER, B. F. 1957. Verbal Behavior. Nova York: Appleton-Century-Crofts. À epistemologia lingüística tradicional são relacionados os limites da “tese
ULLMANN, S. 1964. Semântica: uma introdução à ciência do significado. do representacionalismo” nas teorizações da linguagem, a separação entre
Tradução de J. A. Osório Mateus. Lisboa: Fundação Calouste sujeito e objeto, teoria e ideologia, teoria e prática, relevância objetiva e
Gulbenkian. relevância existencial; tudo isso desembocando, segundo o autor, numa
WERNER, R. 1982. La Definición Lexicografica. In: G. Haensch et al. La “sensação de estagnação que se verifica no campo das pesquisas lingüísticas
Lexicografía: de la lingüística teórica a la lexicografía práctica. nos dias de hoje” (p. 41), sensação essa mais fortemente ressentida no exterior,
Madrid: Editorial Gredos, S.A. mas que inevitavelmente chegará ao Brasil, uma vez que, como afirma, “há
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fatores internos à própria disciplina” que conduzem a um pernicioso um critério distintivo entre homônimos, ou seja, a formação de expressões
descompasso entre “os velhos caminhos” e “as novas realidades que vêm cristalizadas.
despontando” (p. 41). Com o escopo de proporcionarmos mais um mecanismo de diferenciação
Essa é uma visão largamente informada pelas discussões em curso no entre formas homônimas, além daqueles já expostos, investigamos formas
mundo anglo-saxão contemporâneo sobre as bases racionalistas e homônimas a partir de seus singulares “traços especificadores”. Esses traços
logocêntricas da ciência moderna e seus embates com as teorias críticas mais têm o propósito de individualizar e identificar os significados de lexias
recentes, tanto as de inspiração marxista (Escola de Frankfurt, Análise Crítica homônimas, por meio da sua contextualização. De fato, inferimos que uma
do Discurso, Pedagogia Crítica) quanto as produzidas pelo que se forma homônima pode ser identificada e desambiguada por meio da sua
convencionou chamar de forma genérica de reflexão “pos-moderna”, correlação com outros itens lexicais em um contexto. Esse contexto revelará
notadamente o pós-estruturalismo europeu (Nietzche, Foucault, Derrida), o a realização do homônimo como forma1, forma2 ou forma3. Dessa maneira,
pragmatismo (Pierce, James, Dewey) e o neo-pragmatismo (Rorty) realizamos um levantamento (demonstrativo apenas) desses “traços
americanos. E ao trazer para o leitor brasileiro “algumas pinceladas rápidas”, especificadores” em algumas formas homônimas da língua portuguesa do
como insiste em várias passagens da coletânea, do que está em jogo quando Brasil.
se pretende repensar a ciência lingüística à luz das indagações impostas pelas Essa análise nos demonstrou que, de fato, a forma banco1, por exemplo,
novas realidades que vêm despontando”, o autor tem essa discussão como não ocorreu semanticamente em combinatórias com lexias do tipo “cheque”,
principal referência. Prova disso é a afirmação de que a lingüística “é muito “dinheiro”, “financiamento”, etc.; o mesmo se verificou para a forma banco2
mais uma prática discursiva do que um campo do saber” (p. 76). As alusões que não se realizou semanticamente com “de praça”, “de jardim”, “levantar”,
ao contexto brasileiro são ilustrativas, mas não remetem a nenhuma versão etc. Essa técnica de identificação de itens homônimos, levando em
local da discussão em curso. consideração o campo das associações sintagmáticas relativas à experiência
O tom muitas vezes provocador dessas “pinceladas” é uma marca do de mundo, e a sua conseqüente desambiguação, pode ser empregada por
autor em suas intervenções, inclusive as das várias publicações em língua desambiguadores estatísticos, por exemplo, além de parsers, para o
inglesa referenciadas ao longo do livro, nas quais estão melhor desenvolvidos Processamento das Línguas Naturais (PLN), na Área da Inteligência
muitos dos argumentos rapidamente esboçados nos 16 textos que compõem Artificial.
a coletânea. Nesse sentido é que se pode dizer, como o autor em seu texto de
apresentação do volume, que as propostas por ele apresentadas “fazem parte E-mail: zavaglia@lem.ibilce.unesp.br
de um trabalho contínuo” e visam a “estimular um debate” (p. 13). Um Recebido em outubro de 2002
debate que já vem se impondo em vários círculos do campo aplicado dos Aprovado em fevereiro de 2003
estudos da linguagem, particularmente desde a segunda metade da década de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
90, como testemunham as referências ao Congresso Internacional da AILA
(Associação Internacional de Lingüística Aplicada) de 1996 em que foram BALDINGER, K. 1970. Teoría Semántica: Hacia una semántica moderna.
discutidas as questões das fronteiras disciplinares e das implicações éticas Madrid: Ediciones Alcalá.
da pesquisa aplicada, além dos trabalhos de Pennycook voltados para uma BARBOSA, O. 1987. Dicionário de Homônimos e Parônimos. Brasília:
“Lingüística aplicada crítica” e a discussão do autor com os conhecidos Editerra.
linguistas aplicados britânicos Brumfit e Widdowson sobre ideologia e ciência. BARBOSA, M. A. 1996. Léxico, produção e criatividade: processos do
Nesses círculos internacionais1 , e também nos brasileiros desde a mesma neologismo. 3a.ed. São Paulo: Plêiade.
época, tem sido a questão da inter/transdisciplinaridade o principal vetor BERRUTO, G. 1979. La Sémantica. México: Editorial Nueva Imagen S.A.
BIDERMAN, M.T.C. 1978. Teoria Lingüística: lingüística quantitativa e
1
Para que se tenha uma idéia dos termos do debate e do modo como questões como globalização, políticas
computacional. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.
lingüísticas, ética e teoria crítica têm sido a ele incorporadas, ver os números 13 (Applied linguistics for the ____. 1991. Polissemia versus Homonímia. Anais do Seminário do Gel,
21st century ) e 14 (English in a Changing World) da AILA Review, editadas em 1999 por David Graddol XXXVIII, Franca: UniFran - União das Faculdades Francanas.
& Ulrike H. Meinhof e em 2000 por David Graddol, respectivamente. ____. 1998. Dicionário didático de português. 2a. ed. São Paulo: Ática.
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partes ou capítulos e os temas transbordam de um texto para outro, são A partir de tal distribuição, elaboramos os conceitos de tais termos:
retomados, trançados e retrançados em função do objetivo acima descrito de
não perder de vista a busca da relevância “para a vida” dos envolvidos no Formas Homógrafas Pluricategoriais Monossêmicas (FHPM): formas
trato das questões de linguagem. E esses envolvidos, segundo o autor, tanto homógrafas que possuem categorias gramaticais diferentes sendo que cada
são o lingüista e o leigo, quanto o pesquisador e o pesquisado; tanto são os uma delas possui apenas uma acepção.
membros da comunidade acadêmica quanto os da sociedade. Isso faz com
Formas Homógrafas Pluricategoriais Polissêmicas (FHPP): formas
que as implicações de ordem política, ética e ideológica dos diversos modos
homógrafas que possuem categorias gramaticais diferentes em que pelo menos
de abordagem das questões de linguagem se tornem uma espécie de leitmotiv
uma delas possui mais de uma acepção.
da coletânea.
Nos quatro primeiros textos são apresentadas as questões mais gerais Formas Homógrafas Unicategoriais Monossêmicas (FHUM): formas
relacionadas aos temas tratados no volume (Linguagem e ética: algumas homógrafas de idêntica categoria gramatical sendo que cada uma delas possui
considerações gerais; Linguagem e identidade; Lingüística e a política de apenas uma acepção.
representação; Relevância social da lingüística). A partir do quinto texto
(Sobre a dimensão ética das teorias lingüísticas), essas questões são Formas Homógrafas Unicategoriais Polissêmicas (FHUP): formas
retomadas e exploradas em diferentes aspectos. Assim, a questão da identidade homógrafas de idêntica categoria gramatical em que pelo menos uma delas
lingüística é articulada à da globalização (A identidade lingüística em um possui mais de uma acepção.
mundo globalizado), à dos processos de subjetivação (Língua estrangeira e Formas Heterófonas Pluricategoriais Monossêmicas (FHrPM): formas
auto-estima), à da representação enquanto atividade política e ideológica (A de grafia idêntica, mas que se pronunciam diferentemente sendo que cada
construção de identidades: lingüística e a política de representação; uma delas possui apenas uma acepção.
Designação: a arma secreta, porém incrivelmente poderosa, da mídia em
conflitos internacionais; Sobre a arte, a ficção e a política de representação). Formas Heterófonas Pluricategoriais Polissêmicas (FHrPP): formas de
Os estudos lingüísticos são relacionados às questões de política lingüística grafia idêntica, mas que se pronunciam diferentemente em que pelo menos
(Linguagem e xenofobia; A polêmica sobre os ‘estrangeirismos’ e o papel uma delas possui mais de uma acepção.
dos linguistas no Brasil) e de participação social (Por uma lingüística crítica;
O linguista e o leigo: por um diálogo cada vez mais necessário e urgente). Dado que entendemos o fenômeno da polissemia como unicategorial,
Em seu conjunto, as contribuições apresentadas na coletânea colocam uma forma, se classificada como polissêmica, deverá possuir somente uma
também para o leitor uma questão não de fato tematizada, mas que está categoria gramatical. A partir do momento que a uma forma são atribuídas
embutida em vários discursos críticos referenciados pelo autor. Trata-se dos duas ou mais categorias gramaticais, ela se torna integrante do fenômeno da
componentes chamados “pós-colonial” e “neo-colonial” (Bhabha 1994; homonímia. O termo que utilizamos para tal é Forma Unicategorial
Mignolo 2000) das práticas de investigação e reflexão que constituem o Polissêmica (FUP), ou seja, uma forma que possui uma categoria gramatical
linguista em países periféricos como o Brasil . Mas essa, talvez, seja uma com duas ou mais acepções cujos significados se encontram em conjunção:
estória ainda por ser contada. POLISSEMIA: significados conjuntivos
Em conformidade, Borba (1996) diz: A. VIEIRA (orgs) Análise do discurso. Percursos teóricos e metodológicos.
Brasília: Editora Plano e UnB.
Quem se interessa por uma descrição sintático-semântica do léxico não se KLEIMAN, Angela. B. & SIGNORINI, Inês. (orgs.) 2000. O ensino e a formação
contenta com uma análise componencial nessa linha9, justamente por ela ser
do professor. Alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Artmed
incompleta e/ou superficial. A simples subcategorização não basta para
Editora.
determinar como se dá a dinâmica das relações lexicais. Isso porque os traços
de substância léxica são opacos e só se tornam transparentes quando se MARTIN, James R. 2000. Design and practice: enacting functional linguistics.
especificam pela combinação com outros. (Borba 1996:49) Annual Review of Applied Linguistics. vol. 20: 116-126.
MEY, Jacob. L. 2001. Pragmatics: An Introduction. 2ª. Ed. Mass., EUA e
Para Borba (1996), existem mecanismos de compatibilidade e de Oxford, Reino Unido: Blackwell Publishers.
incompatibilidade que aproximam e afastam os itens em relação aos traços MIGNOLO, Walter D. 2000. Local Histoires/Global Designs: coloniality,
semânticos existentes em cada um deles. Esse mesmo autor conclui, “que a subaltern knowledges and border thinking. Princeton: Princeton University
observação das relações entre os itens é um caminho produtivo para se Press.
estabelecerem condições de uso. A identidade de oposições faz chegar a MONOD, Jacques. 1971.Chance and Necessity. An Essay on the Natural
contextos específicos” (1996:131). Philosophy of Modern Biology. New York: Alfred A. Knopf.
Neste trabalho, o objeto de estudo central é a homonímia, mais MOITA LOPES, Luiz P. 1998. Contextos institucionais em Lingüística Aplicada:
especificamente a homografia. O fenômeno da polissemia é analisado novos rumos. Intercâmbio, vol. 5: 3-14.
justamente para servir de parâmetro à linha limítrofe do fenômeno da MOITA LOPES, Luiz P. 2002a. Identidades fragmentadas: a construção
homonímia. Entretanto, definir e caracterizar a polissemia é fator discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas:
imprescindível para a nossa análise, uma vez que individualizamos no interior Mercado de Letras.
do fenômeno da homonímia, a polissemia. MOITA LOPES, Luiz P. 2002b. Stretching the boundaries of Applied Linguistics
Dessa forma, distribuímos os conceitos de homonímia e polissemia da or
seguinte maneira na tabela classificatória abaixo: interrogating the field from within. Simpósio Rethinking Applied Linguistics,
HOMONÍMIA: significados disjuntivos Congresso AILA 2002, Cingapura, mimeo.
Homonímia Categorial Homonímia Semântica Homonímia Heterófona MOITA LOPES, Luiz P. (org.) 2003. Discursos de identidades: discurso como
espaço de construção de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão
Formas Formas Formas Formas Formas Formas
na escola e na família. Campinas: Mercado de Letras.
Homógrafas Homógrafas Homógrafas Homógrafas Heterófonas Heterófonas
PENNYCOOK, Allastair (1998). English and the Discourses of Colonialism.
Pluricatego- Pluricatego- Unicategoriais Unicatego- Pluricatego- Pluricategoriais
Londres e Nova Iorque: Routledge.
riais riais Monossêmicas riais riais Polissêmicas
RAJAGOPALAN, Kanavillil. 2001. Resenha do livro Pragmatics: An Introduction.
Monossêmicas Polissêmicas (FHUM) Polissêmicas Monossêmicas (FHrPP)
(FHPM) (FHPP) (FHUP) (FHrPM)
2nd Edition. DELTA vol.17 no.2 São Paulo.
CHMITZ, John. Ethics, Translation and the Human Factor. Proceedings of the
EXEMPLOS:
World Congress of Translators (International Federation of Translators
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(v.); falta2a, (subs.); (subs.); (v.); (v.); SIGNORINI, Inês. 1998 a. Figuras e modelos contemporâneos da subjetividade.
castigo2 falta2b, banco2 ato2a,ato2b, começo2 acordo2a,acordo2
In: Inês Signorini (org.) Lingua (gem) e identidade: elementos para
(subs.)> falta2c (subs.)> ato2c (sub.); (subs)> b,acordo2c,
acordo2d uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras.
(subs.);> ato3a,ato3b (subs.)>
(subs.)> SIGNORINI, Inês. 1998b (org.) Lingua (gem) e identidade: elementos para
uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras.
Tabela 4 – Classificação do fenômeno da Homonímia SIGNORINI, Inês. & CAVALCANTI, Marilda.1998. (orgs.) Linguística Aplicada
9
Quer dizer, na linha da semântica lexical que costuma subagrupar o léxico em conjuntos por afinidade de e transdisciplinaridade: questões e perspectivas. Campinas: Mercado
traços do tipo “+movimento, + animado, +concreto”, por exemplo (Borba 1996:49). de Letras.