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Desenvolver a capacidade da educação cristã – Fase 1

O que não é liderança cristã

Antes de definirmos a liderança cristã, vamos frisar o que não é. Isso é importante para destacar as
incompreensões sobre o tema, muito comuns no cotidiano. Nossa reflexão se dará em três tópicos: o que não é
liderança cristã, a liderança à luz de Jesus e uma definição de liderança cristã.  
Assista ao vídeo abaixo sobre não confundir uma autêntica liderança com outras formas de conduzir grupos ou
situações.  
Liderança cristã não pode ser confundida com fama, poder, popularidade, talento e coisas do gênero, ou em
linguagem religiosa, dom, chamado, espírito de servo, grandes templos, entre outros. Nesse processo, é
possível que um líder tenha fama, seja popular e multitalentoso, mas isso não é o foco, constituindo-se mais em
riscos do que oportunidades para um bom líder. Se essas questões não forem bem controladas, o adequado
exercício da liderança cristã será comprometido.  
Ser líder difere de ser chefe, realizador, gerente ou coordenador. Um bom líder tem capacidade para realizar
tarefas e delegá-las, é capaz de gerenciar e coordenar, sendo que a eficiência em fazer uma ação isoladamente
não o converte em um líder, no sentido amplo do termo. Infelizmente, o senso comum atribui
equivocadamente o adjetivo líder a pessoas que alcançaram sucesso em determinadas ações de seus
respectivos projetos pessoais, sem que isso atenda a critérios mínimos de uma liderança eficaz.    
Você encontrará em grande número nos anais da história exemplos de indivíduos que tinham talentos, poder,
popularidade, capacidade de realizar grandes tarefas, gerenciamento, coordenação, mas o resultado foi
desastroso para muitas famílias e nações, porque agiam mal e segundo o próprio plano egoísta de ação.
Podemos citar: o nazista Adolf Hitler (Europa), responsável pela morte de milhões de pessoas, com ênfase no
chamado holocausto judeu; o ditador da Uganda Idi Amin (África), considerado um dos mais brutais e déspotas
da história; Maria I da Inglaterra, Irlanda e França, causante da morte de muitos protestantes no século XVI; o
imperador romano Calígula e suas atrocidades por motivos banais; Mehmed Talat (Talat Pasha), que comandou
o império otomano e culminou no holocausto armênio e de outros cristãos no início do século XX; o
conquistador espanhol Francisco Pizarro e o genocídio de milhões de indígenas na América Latina; a lista é
extensa... Do ponto de vista cristão, esses indivíduos foram grandes manipuladores, jamais líderes.  
A essa altura da reflexão você já percebeu que estamos reservando à expressão liderança, um sentido positivo,
quando muito, neutro. No entanto, é comum ver na mídia algum relato sobre um meliante que “liderava” uma
quadrilha. Na perspectiva cristã, usar esse termo está equivocado, porque aquele criminoso está
“manipulando”, “enganando”, “induzindo ao crime”, “destruindo”, "aliciando os seus comandados" e isso não é
liderança. Trata-se de uma opção e busca por precisão nos termos.
Um bom professor é um líder; um político honesto também; assim como qualquer ofício justo e legalizado no
país, quando executado com excelência e competência no serviço aos demais.    
magino que você já deve ter ouvido falar do holocausto judeu, executado pelos nazistas nos tempos da
Segunda Guerra Mundial. Mas antes dele, e ainda no início do século XX, houve o holocausto armênio, o
primeiro genocídio daquele século contra minorias, durante a Primeira Guerra Mundial. A memória histórica é
importante para que haja justiça e reparação.  
A crônica 95 anos do genocídio armênio: o protótipo dos genocídios dos tempos modernos relata um evento
acadêmico ocorrido no Brasil, que teve esse triste episódio da história mundial como pano de fundo. Mostra o
potencial daqueles que assumem o lugar de conduzir um grupo, para o bem ou mal, e a necessidade de
aprender com os erros do passado para que eles não se repitam.    
A preocupação com os rumos da liderança e seu impacto sobre os demais é uma preocupação ética legítima
quando pensamos sobre o alcance dos líderes. Esse artigo , que você lerá na sequência, apresenta um estudo
de caso comparativo entre dois gestores de grandes empresas: General Electric e Panasonic. O foco deles nas
pessoas e a visão de liderança permitiu grandes logros. Conheça mais dessa experiência.  
O líder pode ser parte do problema ou da solução. Lamentavelmente, muitas pessoas no mundo foram
empoderadas para realizar grandes ações e acabaram se desviando no processo, causando muitos danos. 
A clareza no uso do termo liderança ajudará na elaboração do projeto no sentido de delimitar o papel e a
característica do ensinador cristão enquanto líder. A influência que um professor exerce sobre os estudantes
dependerá tanto de capacidades e habilidades para o ofício, quanto de caráter ilibado e autoridade interna.  

Missão

Estamos reforçando a importância da liderança cristã às comunidades de fé à sociedade de forma mais ampla.
Líderes bem formados e capacitados poderão fazer a diferença na vida de tantas outras pessoas, gerando um
efeito multiplicador e transformacional.  
A questão motriz desse projeto é: como preparar uma aula dinâmica e relevante na igreja, que una elementos
pedagógicos e teológicos adequadamente? Ciente da sua liderança e de seu alcance, e trabalhando os
elementos pedagógicos e teológicos, forneceremos a você, até o final desse projeto, ferramentas operacionais
para a elaboração, execução e acompanhamento da produção de uma aula com profundidade e relevância.  
Nessa fase, o foco estará no fortalecimento da liderança de cada um, independentemente de ter ou não cargos
oficiais. Para isso, você será desafiado a identificar seus dons/talentos e a desenvolvê-los no serviço aos demais.
É uma experiência profundamente humanizadora e espiritual.  

Visão, metas, amor e humildade

A liderança cristã está relacionada à tomada de decisão para agir em favor de um grupo visando contribuir à
uma solução ou realização de algo importante. Trata-se de um processo profundamente humano, o ato de
projetar-se para fora, realizar-se no encontro com o outro, construir comunidade, e, também, intensamente
espiritual, dado que trabalha virtudes e comportamentos que elevam o espírito e conectam as pessoas com
aquilo que é nobre, agradável e desejado por Deus. Para nortear esse processo de desenvolvimento da
liderança alguns princípios deverão ser observados. Assista o vídeo abaixo e compreenda melhor:
Vamos trabalhar doze princípios a partir da fé cristã: visão, metas, amor, humildade, autocontrole,
comunicação, investimento, oportunidade, energia, persistência, autoridade e conscientização.7 Quer saber
mais sobre os princípios de liderança? Venha assistir ao vídeo abaixo.  
O primeiro princípio da liderança é o da visão. É a base de toda a verdadeira liderança, o que distingue um líder
de um mero gerente. Recordemos que a visão vem da reflexão sobre a necessidade real de um coletivo. A visão
é uma imagem clara do que o líder vê seu grupo ser ou fazer. Ele será o instrumento de Deus para conduzir o
processo de melhoramento. Qualquer visão valiosa vem de Deus. É revelação da vontade de Deus. A atuação
do líder para agir em função da visão chama-se “missão”, o percurso escolhido para atingir o objetivo proposto.
A série de passos específicos para realizar a missão chama-se “metas”. O líder tem uma visão, uma missão e
muitas metas.  
O princípio do estabelecimento de metas indica o processo de ajuste do foco da missão. As metas devem ser
revisadas periodicamente, de preferência todo mês. Um bom plano define metas específicas, mensuráveis,
atingíveis, realísticas e tangíveis. Cada meta deve ser um passo específico e não um desejo vago. Devem ser
fundamentadas em nosso próprio desempenho, em vez de depender da eficiência de outros. As metas de
curto, médio e longo prazo simplificam a tomada de decisão, geram respeito e possibilitam a sensação de
realização. Estabelecer metas é uma disciplina contínua que proverá os ajustes necessários ao planificado.  
O terceiro princípio é o amor, o que distingue o líder de um mero detentor de poder. Não é meramente uma
emoção sentimental, mas um ato de vontade, visando o bem dos outros. Para ser líder é necessário tomar a
decisão de amar o próximo, a Deus e a nós mesmos.
Em Gálatas 5:22-23 lemos sobre o Fruto do Espírito, que aparece no singular. É como um fruto que tem muitos
gomos. Cada virtude é parte integrante do mesmo fruto. Assim, a alegria é a música do amor; a paz é a
harmonia do amor; a longaminidade é a resistência do amor; a benignidade é o serviço do amor; a bondade é o
comportamento do amor; a fidelidade é a medida do amor.  
Outro princípio fundante da liderança é a humildade, a expressão do amor. É o senso de inferioridade que
permeia a consciência do líder quando se percebe diante da majestade divina. Ele sabe que suas ideais
criativas, desejo de fazer o bem e capacidades são todas dadas por Deus. Assim, coloca o que tem e o que é em
posição de submissão a outros, como pessoa prestativa e cortês. Isso faz com que não se considere
autossuficiente, mas reconheça os próprios dons, recursos e realizações. A verdadeira humildade não suprime a
personalidade de ninguém, antes a potencializa para o servir. No entanto, pior que não ter humildade é a falsa
humildade. Engana apenas a si mesmo, pois, os demais percebem que quando alguém é auto-adulador e
pomposo.  
E você pode se perguntar: como ser humilde? A partir da fé cristã, podemos apontar alguns caminhos:
entronize Cristo no coração; seja obediente a Deus e às Escrituras; assuma a atitude e o comportamento de
uma criança; siga o exemplo de Jesus na oração, nas relações pessoais, evitando o elitismo, a intolerância, a
distinção de classes e a autopromoção; sirva a todos.  
O líder é um gestor de pessoas que usa sua autoridade e poder como serviço para os demais. Ele canaliza as
energias de cada um para liderar as condições de ação das pessoas. Ele coordena um conjunto de interfaces
para manejar o estoque de recursos e conhecimentos em cada grupo.
Os princípios de liderança ressaltam as qualidades que um líder deve desenvolver. No momento de preparar a
tabela de dons e talentos e de como desenvolvê-los, faça a reflexão voltada para os princípios de liderança
como norteadores do processo.  

Autocontrole, comunicação, investimento e oportunidade

Avançaremos para um segundo conjunto de princípios de liderança. Não é demais enfatizar que devem ser
considerados em sua totalidade. Isto é, não basta aplicar um ou dois princípios e desconsiderar os demais.
Todos devem ser igualmente amadurecidos para subir de nível como líder. Vamos juntos para mais um vídeo.  
O quinto princípio é o autocontrole, o domínio do amor. Faz a pessoa ser controlada pelo Espírito. Resulta em
uma vida caracterizada pela disciplina. Em relação à visão o líder vive no futuro e, pelo autocontrole, planeja
dispêndios e atitudes de acordo com o que dispõe no momento. Nenhum líder pode influenciar outros se não
se controla a si próprio, sendo equilibrado em tudo. Ao contrário, uma confiança excessiva em nossos pontos
fortes pode sabotar nosso autocontrole nas áreas em que somos peritos. Quem se controla será
verdadeiramente livre, não estando presos aos vícios ou instintos.  
Um líder deve ser um bom comunicador, constituindo a comunicação como o sexto princípio da liderança. A
tarefa do líder é comunicar a visão, a missão e as metas ao grupo, tudo com amor e humildade. Algumas
orientações básicas na hora de se comunicar: reconhecer a importância da comunicação eficiente; avaliar o
auditório; selecionar o objetivo correto da comunicação; romper a barreira da introversão; fazer referência ao
conhecido/experiência; comprovar suas declarações; motivar o grupo à ação.8  
O sétimo princípio é o investimento. Um líder deve aprender a contribuir. Esse princípio postula que, o que
investirmos ou doarmos, receberemos de volta multiplicado. E mais ainda: receberá o que planta (Gl 6.7; Lc
6.31). Colherá amigos, se plantar amizades; boas finanças, se investir dinheiro; comunhão com Deus, se orar;
colherá revolta e insurreição, quem planta o medo. Além disso, receberá na mesma proporção (2 Co 9.6): se
investe pouco, receberá pouco. A motivação para investir é pessoal: investe porque traz benefícios; os liderados
devem ser incentivados a fazê-lo também.  
No tocante ao investir, há duas posturas: investidor e retentor. Os retentores vivem para poupar e no final,
perdem (amigos, família, saúde, respeito). Sem embargo, esse princípio não pode ser usado meramente para
visar retorno. Não servimos à Mamom (riqueza), mas aprendemos a servir a Deus com o nosso mamom.
Aprenda a investir: a) reconheça que Deus é Provedor, b) comprometa-se com a vontade de Deus e não a sua,
c) invista aquilo que quer obter, d) invista no objetivo mais imediato, e) seja paciente, f) não se abata com as
falhas ocasionais, g) ponha seu dinheiro onde quer que seu coração esteja, h) alegre-se, i) creia e, j) glorifique a
Deus.  
Desenvolver a capacidade de enxergar as oportunidades é o oitavo princípio. As maiores oportunidades
aparecem disfarçadas em problemas insuperáveis. É necessário ter disciplina para encontrar oportunidades em
toda parte.9 Como não somos gênios, cometeremos muitos erros nas tentativas, tendo que aprender a manejar
os erros e tirar proveito deles. Sugestão: a) admitir o erro assim que tomar conhecimento dele; b) assumir
responsabilidade pelo erro; c) avaliar os prejuízos; d) estudar as causas do erro; e) eliminar as causas do erro; f)
recuperar o possível; g) evitar que se repita; h) iniciar novo modo; i) usar os erros como “sinalização”; j)
obstáculos realçam a liderança.  
Nesse vídeo Ricardo Piovan aponta três principais erros que afetam os líderes. O primeiro indicado é a falha na
comunicação com os liderados. Reflita sobre isso. É fundamental desenvolver-se na área comunicacional para
superar os ruídos e dar clareza no processo dialógico. O segundo erro é que muitos líderes não buscam auto-
conhecimento e o terceiro é que desconhecem os fatores motivacionais, dando por certo que cada um irá se
motivar, quando não é assim que os grupos se comportam. 
Como anda seu domínio próprio? Tem aproveitado as oportunidades e investido com sabedoria? Estabelece
uma comunicação fluida com as pessoas? Em que áreas você sente que deve melhorar? Reflita sobre isso e vá
trabalhando na sua tabela ampliada de dons e talentos para a liderança.  
 
Energia, persistência, autoridade e conscientização

Com esse terceiro conjunto de princípios de liderança encerramos a lista dos mais importantes e fundantes
para a liderança cristã. Esperamos que os oito primeiros princípios tenham despertado em você o desejo de
aprimorar sua liderança. Esses quatro finais apontam para a solidez de uma liderança que permanece. Assista
ao vídeo na sequência.  
O nono princípio é o da energia. Pessoas seguem líderes entusiastas. É a energia que produz entusiasmo. Quem
tem energia cativa a atenção dos outros, atrai seguidores, consegue aceitação e a confiança dos seus
semelhantes. É a capacidade de agir ou de ser ativo, envolvendo vitalidade física e emocional. Um líder deve
irradiar boa saúde, mesmo sendo idoso. A energia física, intelectual e emocional deve ser demonstrada através
do gostar de trabalhar e atingir metas, esforço continuado sem desistir. Se tem energia terá capacidade de dar
atenção até aos detalhes. Como desenvolver sua energia: alimentação correta, exercícios físicos regulares,
eliminar emoções negativas, viver em comunhão com Deus.    
A persistência como capacidade de superar obstáculos é o décimo princípio. Todo líder sofre pressões e
problemas que podem levá-lo a desistir, mas deve permanecer firme na visão. É imprescindível ter
determinação para prosseguir, ainda que os resultados não sejam satisfatórios no curto prazo. Como resistir:
recordar a visão, focalizar suas metas, acreditar que se realizarão, leitura de biografias, comunhão com Deus.10
Outro princípio é o da autoridade, que indica o empoderamento necessário para servir. O líder só pode exercer
o princípio da autoridade se estiver consciente que está liderando pessoas e a razão pela qual o faz. Ele deve
estar consciente tanto da sua autoridade interior quanto exterior. A autoridade exterior vem do cargo e da
hierarquia. A autoridade interior vem do caráter ilibado. A autoridade exterior pode ser removida, mas é a
interior que autentica uma liderança cristã que permanece. Sem autoridade interior o líder é respeitado
somente em sua presença e governa com base na pressão.11  
O último princípio e de igual importância é o princípio da conscientização, que habilitará a capacidade de
discernimento. O líder deve estar bem consciente de todos os aspectos de sua liderança, controlando
constantemente seu desempenho de modo a alcançar a excelência. O líder também deve estar consciente que
seus recursos provêm de Deus. Ele compreende que seu poder vem do Senhor. Que tal você começar a
exercitar conscientemente sua liderança?  
Mário Sérgio Cortella concedeu uma entrevista a Armando Levy. Nela reflete sobre a formação de pessoas no
ambiente empresarial, mas que pode ser pensada para outros ambientes com as devidas adaptações. Formar o
pessoal interno da organização não é um custo, é um investimento.  
Ser uma pessoa determinada ajuda a enfrentar tempos de crise. É nesses momentos que decidimos avançar ou
retroceder. Arriscar ou ficar na zona de conforto. Quando o líder se torna melhor, todos melhoram. Mantenha
sua fé e persista, mesmo diante das dificuldades. Ainda que o medo insista em ser companhia, ative a fé, a
esperança e a determinação.
Os doze princípios de liderança devem ser desenvolvidos pelo aspirante a líder. Vá ampliando sua tabela de
dons e talentos e indique o que você precisa fazer para evoluir em cada um deles.  

Libertando, líderes, dons e ministérios dos cargos ordenados

Uma reflexão necessária anterior ao processo de identificação e desenvolvimento dos dons é se perguntar
quem é será o sujeito desse despertar dos dons. Isso é importante porque se a liderança ficar restrita a um
grupo específico de pessoas na igreja, haverá uma drástica redução na quantidade de líderes. E parece que isso
é intencional, quase uma reserva corporativa de mercado institucional. Ao contrário disso, a liderança deveria
ser aberta a um número crescente de pessoas e à toda comunidade, independentemente de cargos e
institucionalização.  
Para compreender mais sobre isso, assista ao vídeo a seguir.  
Os ministérios estão há muitos séculos sedimentados como privilégio de uns poucos. No final do século I, já
havia ficado claro que o cristianismo era uma religião distinta do judaísmo. Para enfrentar as forças que se
inclinavam ao retorno à Antiga Religião e para filtrar as influências dos demais movimentos, teve início um
processo de empoderamento dos bispos, que passaram a ser vistos como os únicos fiadores da tradição
apostólica. Para que a igreja pudesse enfrentar com êxito as heresias, os crentes foram encorajados a seguir a
orientação do clero. A partir de então, o ministério ordenado passou a ocupar uma posição dominante e
incontestável na vida eclesiástica, derivando as doutrinas da sucessão apostólica.  
Ainda de acordo com David Bosch, a clericalização da igreja acompanhou a sacerdotalização do clero, como
intermediário entre Deus e a igreja, dividindo a comunidade de fé entre maduros e imaturos, os que sabem e os
que aprendem, os que ministram e os que recebem, e assim por diante. O clero (cargos oficiais) se descolou da
igreja (povo, leigo). A noção sacramental da ordenação, que resistiu à Reforma Protestante, subjaze mesmo nas
igrejas evangélicas. Na época medieval se cria que a alma do ordenado era tocada pelo Cristo, alçando aquele
oficial como autêntico mediador. Por conta disso há quem dobre os joelhos ou beije a mão de lideres religiosos,
numa subserviência disfarçada de honraria.  
Assumir um ministério passou a ser obra de especialistas, de pessoas oficialmente ordenadas para tal,
“somente para autorizados”, criando uma reserva corporativista de líderes, unicamente os empoderados pela
força de um cargo.  
Enquanto ser líder for tratado como reduto exclusivo do Ministério Ordenado a liderança cristã estará cativa da
institucionalização. Urge despertar a liderança nos distintos grupos, desde os informais até os formais, dos
pequenos aos grandes. O mundo corporativo já se despertou para isso, enquanto as igrejas ainda não
avançaram frente ao reducionismo do ministério pastoral dogmatizado e centralizador.  
Falar de liderança não é se restringir aos cargos eclesiásticos, ao chamado Ministério Ordenado. É curioso o fato
de pensar que o maior líder que já existiu para o cristianismo ser Jesus, um leigo. Ele não era de nenhuma
ordem sacerdotal. Isso diz muito do que se espera da liderança cristã na sociedade. No artigo  "Leigos abertos
para uma sociedade aberta: a autonomia do laicato maiorene diante dos novos desafios da sociedade: uma
reflexão de aparecida pós-celam" , Kuzma faz sua reflexão com base no contexto católico, uma novidade para
alguns e também o início de um novo tempo.  
Amy Cuddy fala sobre a importância da linguagem corporal na comunicação em grupos. Para um líder isso é
fundamental. Lembrando que estamos mais interessados agora naquela liderança que não depende de cargos
ou institucionalidade. Seu comportamento diante do grupo vai ajudá-lo a exercer melhor a influência
necessária sobre eles.
A redescoberta do apostolado (missão) dos leigos ou do sacerdócio de todos os crentes é um dos movimentos
mais impactantes e necessários na igreja atual. A ação de liderar grupos não deve ser circunscrita aos pastores
e outros cargos oficiais, mas desafiar toda a comunidade, formada por pessoas com distintas vocações.  

Identificando dons e talentos

Identificar os dons e talentos que possuímos é uma tarefa ousada. Muitos não se sentem confortáveis, sendo
tomados por uma timidez ou modéstia que impede reconhecer as capacidades externadas. Contudo, é
necessário superar essa barreira para caminhar rumo ao autoconhecimento. Discernir sobre o que temos ou
não ajudará a ser proativo nas áreas para as quais temos habilidades, evitando, inclusive, frustrações com
atividades contrárias ao seu perfil. Quer saber mais sobre isso? Assista ao vídeo.  
Como cristãos acreditamos que cada um possui dons espirituais e talentos naturais que habilitam ao serviço a
Deus e à comunidade. Quanto mais cedo se identificar essas ferramentas, tanto mais logrará coparticipar da
missão. Os líderes em particular e as igrejas como comunidades de fé devem incentivar os membros a um
posicionamento em relação aos dons e talentos que possuem. Peter Wagner faz a distinção entre dons
espirituais e talentos, mostrando o quanto podem ser úteis:  
Dom espiritual é um atributo especial, dado pelo Espírito Santo, a cada membro do Corpo de Cristo, de acordo
com a graça divina, para ser usado dentro do contexto do Corpo. [...] Os talentos são aquelas características
que dão a cada ser humano uma personalidade sem igual. Parte de nossa auto-identidade tem a ver com o
conjunto particular dos talentos que exibimos. [...] Os crentes, como qualquer outra pessoa, também tem
talentos naturais. Mas estes talentos não devem ser confundidos com os dons espirituais. [...] em alguns casos
(não em todos, é claro) Deus toma um talento natural em um incrédulo, e transforma isso em dom espiritual,
quando tal pessoa passa a fazer parte do Corpo de Cristo. Mesmo em casos assim, o dom espiritual é mais do
que algum talento natural aprimorado. Por ser dado por Deus, um dom espiritual jamais pode ser
reproduzido.14   
Todo cristão tem ao menos um dom (1 Pe 4.10) e seu propósito é proveitoso (1 Co 12.7). Peter Wagner
argumenta que dentre os benefícios do cristão descobrir seus dons espirituais está o fato que “tornar-se-á um
crente melhor e mais capaz de permitir que Deus faça sua vida ser útil em Suas mãos”15. De acordo com
Efésios 4.11-16 os dons têm ainda uma importante participação: promovem unidade e fomentam o serviço
cristão.  
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado,
até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade,
atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um
lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e
esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele
que é a cabeça, Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a
si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função (Efésios 4.11-16).   
A terminologia desta passagem é interessante: “aperfeiçoar”, “ministério”, “edificação”, “unidade”, “se ajudam
mutuamente”, “atividade própria de cada membro” e “crescimento”. Quanto mais diferentes e em uso, mais
interdependência brotará de um membro para com o outro. Logo, haverá mais unidade, fortalecimento e
crescimento. Nesse sentido a igreja teria a obrigação de proporcionar aos membros o desenvolvimento de seus
dons particulares para colocá-los ao serviço dos demais.   
Bruce Bugbee e Armando Bispo destacam que o ensinamento bíblico sobre dons espirituais tem despertado
interesse universal entre as igrejas. As reflexões têm cruzado barreiras denominacionais e fronteiras
geográficas. Registram:  
Deus vem mudando o coração de Seu povo. Hoje, os crentes estão começando a buscar ativamente seu lugar
de serviço dentro e através da igreja local. Historicamente, servir nunca foi algo muito popular. Mas estamos
testemunhando o início de uma nova era.16   
Os dons não foram dados para fins particulares. Nesse sentido David Kornfield afirma: “Deus nos deu dons não
para que sejamos realizados (mesmo que isso aconteça), mas para que sirvamos a outras pessoas de forma que
estas sejam encorajas e edificadas”17 (Kornfield, 1997, p. 41). O Espírito distribui os dons visando a
participação dos cristãos na unidade do Corpo de Cristo. Eles são reconhecidos por meio da interação com os
outros. Apresentam-se, mormente como uma inquietação ao perceber que determinadas áreas da igreja
poderiam ser conduzidas ou realizadas de maneira muito melhor. Assim, os dons são “identificados” e
posteriormente “desenvolvidos”. Peter Wagner afirma que os dons são recebidos e não conquistados. O
processo de identificação e desenvolvimentos dos dons faz parte do autoconhecimento do cristão e do seu
engajamento no reino de Deus.18  

Não existe uma lista fechada de dons. Mesmo na Bíblia, aparecem várias listagens que podem ser combinadas.
Por exemplo, 1 Coríntios 12: 8-10, 28-29; Romanos 12: 3-8; Efésios 4:11; e 1 Coríntios 7: 7, onde se enumeram
mais de vinte dons e talentos. Há pesquisadores que falam em mais de cem dons em toda a Bíblia, incluindo as
manualidades e as destrezas dos que construíram o tabernáculo de Israel, por exemplo. Destacaremos alguns
dons:  
 
- Administração: capacidade de organizar tarefas e grupos (Lucas 14: 28-30; Atos 6: 1-7; 1 Coríntios 12:28);  
- Apostolado: plantação, supervisão e treinamento para o anúncio do evangelho (Atos 15: 22-35; 1 Coríntios
12:28; 2 Coríntios 12:12; Gálatas 2: 7-10; Efésios 4: 11-14);  
- Artesanato: capacidade de planejar, construir e trabalhar com manualidades (Êxodo 30:22, 31: 3-11; 2
Crônicas 34: 9-13; Atos 18: 2-3);  
- Discernimento de espíritos: capacidade de identificar a falsidade nas diversas situações (Mateus 16: 21-23;
Atos 5: 1-11, 16: 16-18; 1 Coríntios 12:10; 1 João 4: 1-6);  
- Evangelismo: habilidade para comunicar o evangelho (Atos 8: 5-6, 8: 26-40, 14:21, 21: 8; Efésios 4: 11-14);  
- Exortação: fortalecer, confortar ou corrigir os demais (Atos 14:22; Romanos 12: 8; 1 Timóteo 4:13; Hebreus
10: 24-25);  
- Fé: capacidade de acreditar para resultados sobrenaturais em todas as áreas da vida (Atos 11: 22-24; Romanos
4: 18-21; 1 Coríntios 12: 9; Hebreus 11);  
- Pobreza voluntária: capacidade de repartir (Marcos 12: 41-44; Romanos 12: 8; 2 Coríntios 8: 1-7, 9: 2-7 65);  
- Cura: agir como intermediário na fé e na oração para a cura de moléstias (Atos 3: 1-10, 9: 32-35, 28: 7-10; 1
Coríntios 12: 9, 28);  
- Ajuda: apoio para a realização de tarefas no ministério (Marcos 15: 40-41; Atos 9:36; Romanos 16: 1-2; 1
Coríntios 12:28);  
- Hospitalidade: criar ambientes acolhedores para outros (Atos 16: 14-15; Romanos 12:13, 16:23; Hebreus 13:
1-2; 1 Pedro 4: 9);  
- Intercessão: disciplina para orar por pessoas, lugares ou situações (Hebreus 7:25; Colossenses 1: 9-12, 4: 12-
13; Tiago 5: 14-16);  
- Conhecimento: iluminar com a verdade uma situação (Atos 5: 1-11; 1 Coríntios 12: 8; Colossenses 2: 2-3);  
- Guiar: direcionar as pessoas (Romanos 12: 8; 1 Timóteo 3: 1-13, 5:17; Hebreus 13:17);  
- Misericórdia: sentir empatia e cuidar dos que sofrem (Mateus 9: 35-36; Marcos 9:41; Romanos 12: 8);  
- Milagres: alterar resultados naturais de um modo sobrenatural através da oração e da fé (Atos 9: 36-42, 19:
11-12, 20: 7-12; Romanos 15: 18-19; 1 Coríntios 12:10, 28);  
- Pastorado: cuidar das necessidades pessoais dos outros (João 10: 1-18; Efésios 4: 11-14; 1 Timóteo 3: 1-7; 1
Pedro 5: 1-3);  
- Profecia: comunicar a verdade para um relacionamento adequado com Deus (Atos 2: 37-40, 7: 51-53, 26: 24-
29; 1 Coríntios 14: 1-4; 1 Tessalonicenses 1: 5);  
- Serviço: trabalhar pelo bem geral e suprir as necessidades das pessoas (Atos 6: 1-7; Romanos 12: 7; Gálatas
6:10; 1 Timóteo 1: 16-18; Tito 3:14);  
- Ensino: estudar e aprender (Atos 18: 24-28, 20: 20-21; 1 Coríntios 12:28; Efésios 4: 11-14)  
- Línguas: seja orar em uma linguagem celestial ou até aprender novos idiomas (Atos 2: 1-13; 1 Coríntios 12:10,
14: 1-14);  
- Sabedoria: clareza às situações e circunstâncias (Atos 6: 3, 10; 1 Coríntios 2: 6-13, 12: 8).  
Os seres humanos são dotados de inteligências múltiplas. São tantas possiblidades e combinações que tornam
cada pessoa um indivíduo único e com grande potencial. Conheça mais sobre o tema e busque identificar o
conjunto de inteligências que estão mais presentes na sua biografia e como aproveitar melhor essa potência.  
 
John Maxwell dá algumas dicas sobre como descobrir o propósito da sua vida a partir das paixões que você
tem. Pensar sobre isso é muito importante. Ele pergunta: o que eu amo? O que me dá energia? E depois: quais
são as coisas que eu faço bem? Essa é a chave da descoberta.
Vimos uma lista modesta com vinte e dois dons e talentos. Procure ampliar essa listagem a partir de pesquisa
sobre outras narrativas e situações bíblicas para confeccionar uma tabela mais ampla na sua entrega da
atividade.  

Desenvolvendo dons e talentos

Uma vez identificados os dons e talentos será necessário desenvolvê-los. O fato de ter certas capacidades não
garante a qualidade do resultado. Demanda-se esforço continuado e aperfeiçoamento.   Assista o vídeo abaixo
e veja mais:
Os dons são mais que o papel de cada cristão na sua comunidade. Todos exercitam a fé, hospitalidade,
misericórdia, etc., mas o que foi agraciado com um dom espiritual específico tem melhores condições de servir
a Deus em situações específicas. Se cada cristão colocar o dom recebido em atividade, os grupos
experimentarão um renovo em suas fileiras. São vários os benefícios para a igreja, dentre eles: maior
entendimento e harmonia na comunidade; espírito voluntarioso; estreitamento das relações; maturidade
espiritual; e maior sensibilidade às opções espirituais. Para o cristão: conhecer a vontade de Deus; envolve-se
com áreas em que foi “chamado”; eficiência; remir o tempo; etc.19  
Para desenvolver os dons e talentos, algumas ações são importantes. Primeiro, faça um inventário das
qualidades e defeitos que você percebe na sua vida. Se preferir, em uma página liste suas qualidades e em
outra os seus defeitos. Não seja econômico, busque ser o mais específico possível. Ato segundo, busque
conversar com outras pessoas sobre essas listas.
Peça que eles façam leitura e acrescentem novos elementos. Ouvir os outros é um exercício interessante. Ato
terceiro, pense sobre cada um dos itens positivos e em como aproveitá-los em sua vida e comunidade, carreira
e lazer; em relação aos pontos negativos, pense em como superá-los. Tanto as qualidades como os defeitos
podem demandar novos cursos, treinamento, exercício, disciplina, etc. Indique pontualmente o que deve ser
feito em cada caso. Tome seu tempo para fazer essa isso e revisite os resultados mensalmente, para ver se cabe
alguma alteração ou enfoque novo.  
Por exemplo, se você se sente vocacionado para a área da música, tome seu tempo para definir melhor a área
específica. Há canto, instrumentos de sopro, percussão, regência, composição, etc. Vá ao detalhe. Definida a
área, busque formação adequada e vá amadurecendo e polindo seu talento. Uma frase atribuída a Paul E.
Holdcraft é muito pertinente: “mantenha as suas ferramentas prontas. Deus lhe indicará a sua tarefa”. Dons e
talentos devem ser desenvolvidos, aprimorados, testados. Essa evolução lhe dará confiança para assumir
responsabilidades.  
Deus chama as pessoas para serem parte do seu corpo, expressarem seu amor e comunicarem a novidade do
evangelho da paz ao mundo por meio das habilidades que todos podem desenvolver, sendo cada um útil
segundo a sua vocação. Para isso, é necessário colocar os dons e talentos à disposição do Senhor e do próximo.
Eles serão muito úteis em nosso aperfeiçoamento e também para a edificação dos demais.  
Desenvolver um talento depende do nível de capacidade natural, mas também de aprendizagem intencional
por parte do talentoso, e ensino competente e apropriado. Há predisposições e genes que favorecem
determinadas ações, mas sem desenvolvimento, talentos podem ficar adormecidos. Nesse artigo são propostas
algumas práticas que ajudarão no desenvolvimento de talentos.  
Michelle Schneider fala sobre o profissional do futuro. Qual o papel da tecnologia na mudança das nossas
ocupações? Precisamos conversar sobre isso. O avanço tecnológico mudará muitas profissões. Pense sobre isso
quando estiver definindo seus dons e talentos e em como relacioná-los com as novas opções proporcionadas
pela tecnologia.  
O nosso desenvolvimento deve estar em relação com os demais. Mário Sérgio Cortella fala sobre fortalecer as
competências numa organização.
Está na hora de avançar na sua lista de dons e talentos e acrescentar estratégias de superação e
desenvolvimento para cada elemento encontrado. Seja generoso ao listar seus dons e exigente ao pontuar as
melhorias necessárias. 
 

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