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Fig. 8.66 - Valva mitral normal. A presença de espaço livre de ecos durante o
segmento CD (seta) não indica falta de coaptação entre os folhetos (vide texto).
Fig. 8.69 - Corte longitudinal. Lesão reumática da valva mitral (M) com discreta
calcificação da borda do folheto anterior e do posterior. Notar o aumento das
cavidades esquerdas.
Fig. 8.70 - Corte transverso ao nível mitral. A área do orifício valvar mitral
geralmente está acima de 3 cm2 quando em uma dupla lesão mitral
predominar a insuficiência.
Quando há apenas regurgitação mitral sem estenose, não existe fusão
das comissuras. Frequentemente há também uma convexidade do folheto
anterior da mitral para o interior do VE no início da diástole, similar ao
encontrado na estenose mitral (Fig. 8.71).
Fig. 8.71 - Corte longitudinal. Notar a convexidade dos folhetos da mitral (M).
Este sinal indica que há gradiente mitral, que pode ser devido à
concomitância de uma estenose mitral ou a um gradiente de fluxo secundário a
uma regurgitação muito importante. Aqui também, uma das primeiras
anormalidades é o encontro de um folheto posterior da mitral relativamente
imóvel quando visto no corte longitudinal. Essas alterações no eco indicam
apenas que a valva tem lesão reumática, não necessariamente que ela esteja
regurgitando. Quando além destas alterações encontram-se sinais de
sobrecarga volumétrica do VE, deduz-se que a lesão reumática mitral está
produzindo uma regurgitação. É fácil concluir que, se a regurgitação for
discreta, portanto sem sobrecarga das cavidades esquerdas, não há como
distinguir de uma estenose leve ou de uma lesão mitral sem problemas
hemodinâmicos na maioria dos casos.
Em raras ocasiões é possível notar um defeito de coaptação dos
folhetos mitrais no início da sístole num corte longitudinal (Fig. 8.72A) ou
transverso ao nível da valva (Fig. 8.72B). Este sinal tem sido utilizado também
para avaliação da gravidade da regurgitação.98 Assim, a ausência de
coaptação de uma pequena área da mitral encontrada apenas junto à
comissura medial ou à comissura lateral, geralmente indica pequena
regurgitação, enquanto que a não coaptação no centro do orifício valvar ou em
ambas regiões das comissuras indica uma regurgitação grave. É importante
que a não coaptação dos folhetos seja procurada logo no início da sístole, pois
a contração ventricular traciona o aparelho mitral em direção ao ápice retirando
o orifício da posição do corte.
Fig. 8.72 - Ausência de perfeita coaptação dos folhetos valvares (M) na sístole.
A- Corte longitudinal. B- Corte transverso ao nível mitral.
Fig. 8.135 - Corte transverso ao nível mitral. Notar que a calcificação do anel
(seta), não envolve os folhetos.
Doppler a Cores
Fig. 8.156- Regurgitação mitral com jato central visto ao Doppler a cores.
Quando o folheto anterior está predominantemente envolvido pela rotura
de cordoalhas ou pelo prolapso, o jato tem direção posterior e lateral (Fig.
8.157), enquanto o envolvimento do folheto posterior produz um jato anterior e
superior quando o segmento central é o que prolapsa, anterior e medial quando
o segmento lateral prolapsa e anterior e lateral quando for o segmento medial
(Fig. 8.158).
Fig. 8.157- Regurgitação mitral com jato dirigido para a parede inferior do AE.
Fig. 8.158 - Regurgitação mitral com o jato dirigido para a parede anterior do
AE.
Em alguns casos de jatos excêntricos, nota-se ocasionalmente que são
dirigidos para uma parede atrial e retornam em direção à valva pela parede
oposta, após incidir na parede posterior (Fig. 8.159).
A B
Fig. 8.159 – (A)Regurgitação mitral com jato dirigido para a parede inferior do
AE que retorna pela parede anterior. (B) Apical quatro câmaras. Jato dirigido
para o SIA retorna pela parede lateral.
A B
Fig. 8.160 – (A)Jato excêntrico em um caso de cleft mitral.(B) Jato excêntrico
em perfuração do folheto anterior.
O Doppler a cores facilita bastante a demarcação da área ocupada no
interior do AE pela turbulência da regurgitação mitral e, portanto, a sua análise
da gravidade pode ser melhor feita com este método, principalmente utilizando-
se da técnica transesofágica(219,225). Quando a regurgitação é leve, nota-se
turbulência apenas na região do AE próxima à mitral (Fig. 8.161A), na
moderada pode ir até metade do AE e na regurgitação importante esta
turbulência se estende por grande área do AE (Fig. 8.161B).
Fig. 8.161 - Diversos graus de regurgitação mitral. A- Leve. Jato fino e curto. B-
Grave. Todo o AE esta preenchido pelo fluxo turbulento.
Os mesmos aspectos são demonstrados ao eco transesofágico em uma
regurgitação leve (Fig. 8.162A), moderada e grave (Fig. 162B). Quando
comparados com a avaliação hemodinâmica, o eco transesofágico mostra
melhor correlação do que o transtorácico (r = 0.82 vs r = 0.49) (226).
Fig. 8.162 - Regurgitação mitral leve (A) e grave (B) ao eco transesofágico.
Fig. 8.164 - Efeito Coanda. Quando o jato está junto a uma parede, somente há
incorporação de sangue na região livre do jato. Vide texto.
B
Fig. 8.165 – (A) Eco transesofágico. (B) Corte Longitudinal. Efeito Coanda.
Notem como o jato se adere à parede atrial (setas).
Há casos de produzir uma volta completa na cavidade atrial (Fig. 8.166).
Devido ao efeito Coanda, a avaliação da gravidade da regurgitação baseada na
análise da área da região de turbulência mais comumente subestima a lesão e
não deve ser utilizada (222).
Um outro dado importante é que a extensão da área de turbulência está
também relacionada à velocidade do jato além do volume regurgitante. Assim,
o mesmo volume regurgitante irá produzir uma área maior em um paciente
hipertenso (maior gradiente VE-AE na sístole) e uma área menor em pacientes
com função do VE deteriorada ou com aumento da pressão no AE nos átrios
não complacentes (menor gradiente VE-AE na sístole).
D
Fig. 8.166 - Efeito Coanda. Eco transesofágico. Corte quatro câmaras. O jato
se dirige para o septo interatrial (A), atinge a parede posterior do AE (B) e
retorna pela parede lateral (C). Apical de 4 câmaras, o jato se dirige à parede
lateral do AE, atinge a parede posterior e retorna pelo SIA (D).
Fig. 8.167 - Jato regurgitante mitral dirigido para a auriculeta esquerda. Embora
a regurgitação fosse importante não se detectava turbulência em outras regiões
do AE. Corte transesofágico.
O diâmetro do jato regurgitante em sua origem aparenta ser mais
importante para a avaliação da gravidade da regurgitação do que a área de
turbulência dentro do AE quando analisada ao eco transesofágico (240). A
relação entre o diâmetro do jato e a gravidade é a seguinte:
FR= 2 π r2 . Va . ( IV / Vmax ) . FC
Hoje em dia, a preferência dos cirurgiões tem sido o reparo valvar mitral
em vez da troca por uma prótese. A técnica de plastia valvar oferece resultados
variáveis na dependência da etiologia da regurgitação e também de qual
folheto está predominantemente envolvido. Na Cleveland Clinic, o sucesso da
valvuloplastia mitral pode variar entre 88% quando o problema é uma rotura de
cordoalhas do segmento mediano do folheto posterior a 29% quando houver
rotura de cordoalhas envolvendo ambos folhetos(249). Para melhor
planejamento cirúrgico é portanto necessário uma investigação detalhada não
só da etiologia mas também do mecanismo da regurgitação mitral (221,250).
Tal avaliação pode ser feita facilmente pelo eco transtorácico e transesofágico
determinando com segurança a etiologia. O mecanismo da regurgitação é
estudado analisando-se a origem e a direção do jato regurgitante, como visto
anteriormente. A verificação de aceleração pré-valvar junto ao folheto mitral é
uma boa indicadora do segmento valvar afetado (223).
Atualmente, nos principais centros cirúrgicos todas as cirurgias valvares
são realizadas com a monitorização ecocardiográfica quer pela técnica
epicárdica, quer pela transesofágica. Naturalmente é preferível o eco
transesofágico por não perturbar o ato cirúrgico. O auxílio desta monitorização
vai além da verificação do resultado cirúrgico, já que os seus achados podem
alterar o plano da cirurgia devido a diagnóstico de condições insuspeitadas nos
exames pré-operatórios ou melhor definição da condição da valva. Deve-se
levar em conta o efeito da anestesia na regurgitação mitral. A de origem
funcional costuma diminuir sensivelmente durante anestesia geral (250a).
A cirurgia de plastia valvar deve ser sempre realizada com o
acompanhamento do eco transoperatório (251). O eco transoperatório permite
avaliar com segurança o resultado do reparo valvar antes de se fechar o tórax
e portanto determinar a necessidade ou não de nova plastia ou troca valvar
durante o mesmo ato cirúrgico(251) (Fig. 8.171). Se após a plastia ficar uma
regurgitação maior que ++/4+, faz-se necessário ou um novo reparo valvar ou
a troca por uma prótese. Importante porém que a avaliação não seja feita
imediatamente depois da saída da circulação extracorpórea mas cerca de 20 a
30 minutos após, já que precocemente pode haver discinesias segmentares
nas paredes do VE secundárias à isquemia com disfunção de músculo papilar
e regurgitação mitral importante que melhora depois. Esta avaliação deverá
também ser feita apenas quando o paciente tiver retornado para as condições
de pressão arterial semelhantes às vistas no momento do estudo pré-
valvuloplastia. Lembrem-se que o volume regurgitante é altamente dependente
da pós-carga e não faz sentido nenhum comparar os achados quando o
paciente tinha pressão normal antes com os encontrados em situação de
hipotensão depois. Em alguns casos é necessário utilizar aminas pressoras
para obter uma pressão arterial comparável ao estudo inicial.
Fig. 8.171 - Eco transesofágico transoperatório. Regurgitação mitral importante
(A) antes da valvuloplastia. Logo após saída da circulação extra-corpórea (B)
nota-se o sucesso do reparo valvar.
E
Fig. 8.172 - Anel de Carpentier (setas) visto ao eco bidimensional (setas)
transtorácico transverso ao nível mitral (A), apical de quatro câmaras (B) e ao
eco transesofágico quatro câmaras (C) e da via de saída do VE (D).
Transesofágico transgástrico (E).