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Boituva/SP, 20 de março de 2023.

Minha querida amiga, realmente há muito tempo não nos falamos, que saudades! Lembro-me
desse nosso último encontro que aconteceu naquele Congresso em Salvador, todos usando
máscaras e amedrontados com a pandemia, muitas mortes e sofrimento, mas todos com
esperança de um amanhã melhor no qual poderíamos voltar as escolas, a viver nossa vida e
sair pelas ruas sem sentir medo.
Lembro-me claramente daquela discussão no Congresso, como todos os profissionais da
educação se encontravam perplexos com a ideia de quererem antecipar a alfabetização de
nossas crianças ainda na Ed. Infantil. Maria, você assim como eu sei que nos tempos de hoje
não se tem mais respeito ao desenvolvimento das crianças, a gestão das escolas sempre nos
empurrando apostilas, e cobrando excessivamente que essas crianças estejam pré-
alfabetizadas. Mas me pergunto, cadê o brincar? Cadê a liberdade de ser criança? Cada
instituição escolar vive uma realidade, assim como cada criança que as frequentam. Não
condeno a ideia de trazer de forma lúdica que as crianças se familiarizem com as letras, os
sons que cada letra tem, podendo trabalhar isso com a musicalização, o formato de cada letra,
trabalhando com o desenho. Mas nunca esquecer de que são crianças e que se devem
aprender brincando! Sabemos, nem toda instituição vai trabalhar dessa maneira, algumas de
uma forma rude e maçante vai trabalhar esse desenvolvimento utilizando a apostila, muita das
vezes por ter pouco recurso, ou até mesmo má formação de alguns professores. Após essa
mudança na BNCC antecipando a alfabetização para o 2º ano do ensino fundamental e nos
falando sobre a importância de pré-alfabetização na Ed. Infantil mediante a um Governo
despreocupado com a educação e formação de profissionais adequados para tal situação, com
certeza é de extrema preocupação. Não se pode e nem se consegue. Assim como já dizia Paulo
Freire, que sem investimento astucioso e substancial na educação como um todo, até faremo-
nos educandos e educadores, mas abatidos sob nossas existências. Até mesmo o interesse
mais aflorado esmorece frente ao descaso. Daí a necessidade da esperança de que tanto nos
fala o mestre. Quase quero escrever “Esperança”, com “E” maiúsculo! A esperança não-
ingênua, não-frívola, mas fecunda e embasada em princípios sólidos. Disse ele em Pedagogia
da Esperança (1992, p. 5).
Maria, como sinto saudades do nosso tempo na faculdade. As amizades na sala, os trabalhos
em grupos, trocas de ideias e opiniões, as aulas ricas que tínhamos com nossos professores
foram de extrema importância, com toda certeza me recordo do episódio da flauta, a sala
tentando tocar,sofremos, mas também rimos muito, bons tempos. Fico feliz em saber que
passou em um concurso, que grande desafio você está passando aí não? Na minha visão, a
parte de que a coordenadora queira que inicie o processo de alfabetização, pode ser
considerada. Mas de uma forma lúdica, no entanto, entendo também a dificuldade financeira
da instituição e no caso você teria que buscar alternativas que caibam na realidade da escola e
das crianças. Uma alternativa é a criação de um alfabeto móvel com tampas de garrafa pet,
personalizar cada uma deixando mais atrativas para as crianças, para que de forma lúdica
através do jogo e brincadeira as crianças se familiarizem com a comunicação e as encorajando
a leitura, escrita e fala. Com o João pode ser trabalho o alfabeto móvel, deixe ele explorar as
letras, faça uma plaquinha com o nome de cada aluno e se puder coloque uma foto de cada
aluno em sua plaquinha. Explore os recursos de estímulo sensorial, areia, massinha ou tinta.
Para trabalhar a oralidade do João crie rimas e aliterações, selecione palavras que rimem com
seu nome, crie versos, brincadeiras ou uma música. Com o auxílio de sua estagiária tenho
certeza de que vencerá esse desafio com êxito, por mais que ela esteja estudando por EAD
tenho certeza de que se for uma pessoa esforçada e que tenha amor pela profissão vai se sair
muito bem! Busquem ler, pesquisar e estudar formas de adaptar as atividades em sala para o
João.

Maria, aqui me despeço e desejo-lhe muita sorte, creio na sua capacidade e tenho certeza de
que tudo que for feito com amor vai ser de bom proveito e importante para o
desenvolvimento das crianças de sua sala. Te desejo boa sorte, e gratidão pela carta! Qualquer
dúvida me procure novamente. Um abraço e até mais.
Rizia Santos.

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