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EMEIEF AYRTON SENNA DA SILVA

3º ANO A – PERÍODO MANHÃ

PROFESSORA: DULCILENE A. BATISTA

2020 chegou! Iniciei o ano cheia de expectativas profissionais por ter

assumido um grande desafio: ser professora do 3º ano. Sempre fugi deste

desafio pensando na questão da permanência ao final do ano, mas acreditei

que poderia buscar estratégias diversas para o desenvolvimento das

aprendizagens, e assim, não precisasse me preocupar com a permanência de

nenhuma criança.

Iniciei 2020 com várias pesquisas sobre alfabetização e estratégias

para ensinar matemática, até me matriculei num curso de aperfeiçoamento

profissional para discutir a construção da escrita e retomar conceitos que

há algum tempo estavam meio adormecidos, pois nos últimos anos vinha

trabalhando com 2º ciclo e de certa forma, me distanciei um pouco destas

discussões.

Chegou o mês de março, já havia criado uma rotina fixa, as crianças já

tinham compreendido esta organização, enfim... estávamos nos conhecendo.


Realizávamos muitas atividades coletivas e percebia que as crianças curtiam

muito as brincadeiras e interações propostas.

Na segunda semana de março, saímos na sexta feira para mais um

final de semana, certos de que uma nova semana começaria como as outras

anteriores, fiz o planejamento para iniciar as atividades de um projeto

proposto pela prefeitura o MINDLAB, porém, naquele sábado e domingo

começaram a surgir notícias de um vírus que atingiu nosso país, informações

de pessoas mortas pela contaminação e a maior novidade... a melhor vacina

era o distanciamento social. Como assim?

Não consigo conceber educação sem contato, sem olho no olho, sem

toque, sem abraço, sem contato... nem cursos EAD eu faço! Sempre bati no

peito e disse: prefiro estar sentada num banco escolar debatendo e

conversando sobre educação presencialmente... nada de distância.

E de repente na segunda feira, a informação é que quem pudesse

deveria ficar em casa e na semana seguinte as aulas estariam suspensas por

tempo indeterminado. Naquela semana o número de crianças foi mínimo até

que me vi sozinha na sala de aula. Que estranho!

No início pensei: ah daqui quinze dias tudo voltará ao normal!

Aproveito este tempo para continuar minhas pesquisas e estudos. Vou

pensar num trabalho top! Vou arrasar! Kkkkkk doce ilusão!!!

A todo momento sinto que a frase que representa 2020 para mim é a

de Luis Fernando Veríssimo: “quando você pensa que sabe todas as

respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”. Eu que estava com a

rotina montada e muitas propostas engatilhadas teria que aprender a dar

aula remota. Meu Deus! Sempre valorizei o vínculo com as crianças, mas

apenas no espaço escolar... procurava manter minha privacidade, não passava

meu telefone para quase ninguém e agora precisava montar um grupo de

WhatsApp para manter contato com as crianças. Como seria isso?


Bem! Se não tinha jeito, então foi o que fiz. Salvei os contatos das

crianças com o nome delas e o da mãe na sequência, pois, minimamente eu

precisaria saber com quem estava me comunicando e montei o grupo.

No início tudo era novidade, toda hora tinha alguém mandando alguma

mensagem, marquei então um encontro online com a turma toda só para

matar saudades, afinal já era início de maio, já estávamos há quase dois

meses em casa.

Organizei um link no Skype e mandei no grupo, oito crianças

entraram e conversamos por meia hora. Foi muito gostoso ver as carinhas

novamente, mas me preocupava com quem não tinha como acessar, não podia

deixar ninguém de fora! Porém, a alegria das crianças em rever os amigos,

ainda que distante, e a possibilidade de fazer uma leitura e alguma atividade

já me trazia a sensação de não estar sendo omissa com aqueles pequenos

que estavam sob minha responsabilidade. Escolhi um livro para ler no

encontro que falava sobre o medo pensando nas crianças, mas na verdade,

esse sentimento era mais meu do que delas.

Então a partir de dois de maio começamos a ter encontros semanais

com a turma e quem não podia participar eu ia mantendo contato por

mensagens. Quatro crianças não conseguiam acesso por motivos diversos,

consegui manter contato por mensagem com três. Apenas uma criança não

tenho notícias... me parece que a família resolveu mudar-se de cidade.

Foram muitos desafios nestes encontros o meu domínio e das crianças

no uso destas novas tecnologias, as interferências durante os encontros:

cachorro latindo, carro vendendo tudo o que se possa imaginar, famílias

conversando alto, panelas batendo, televisão ligada num volume imenso

rezando missa ou dando notícias trágicas etc. Nunca pensei que fosse dizer

isso... mas acho que a sala de aula é o lugar mais tranquilo do mundo, lá

conseguimos nos concentrar apenas no que está sendo proposto; o máximo é


alguma interferência na porta ou o barulho de uma turma no pátio que pode

ser plenamente contornável.

Momentos de encontros online – 3º Ano A

Contudo, nem tudo é dificuldade organizei uma nova rotina em

subgrupos e procurei como critério os saberes, por isso, pude apoiar com

maior facilidade as crianças que ainda não eram leitoras e escritoras e essa

estratégia, propiciou grandes avanços para elas. Lógico que o apoio das

famílias tem sido fundamental para cada conquista, mas, fico muito feliz em

perceber que todos tiveram avanços, uns mais outros nem tanto, mas num

ano totalmente atípico, temos que ter outros parâmetros para avaliar as

conquistas e insucessos.

Além disso, conseguimos consolidar um vínculo muito mais forte, hoje

recebo fotos de momentos da rotina da criança que antes não fazia ideia

que acontecia, algumas famílias sentem-se felizes em compartilhar

momentos através de fotos, vídeos, desabafos e até solicitam orientações

para muitas coisas além da escola.


Nunca imaginei que aqueles quinze dias iniciais que eu planejei ficar

em casa se estenderiam até o final do ano. Hoje já temos intimidade, rotina

e até conseguimos dominar melhor a tecnologia. Percebo as crianças mais à

vontade para me contar coisas e participar das aulas, tem um menino que

todos os dias nos encontros me fala: “ah professora! Que saudades de estar

na escola!”, algumas vezes, ele até colocou uniforme para se sentir mais

próximo dela.

Criamos outras formas de comunicação e organização do trabalho, o

WhatsApp é ferramenta diária para tirar dúvidas e acompanhar o

desenvolvimento das atividades, as propostas precisam ser autoexplicativas

para que as crianças e famílias consigam realizá-las de acordo com os

objetivos propostos e até criamos outras formas de registros como o Pad-

let onde são registradas as produções e discussões mais significativas.

Imagens enviadas via WhatsApp - 3º ano A


Produções artísticas do ano 2020 registradas no Pad-let – 3º ano A

Linha do tempo – Vida dos alunos do 3º ano A registradas no Pad-let

Germinação – Cultivo de Girassóis 3º ano A - registrados no Pad-let


Exemplos de comunicações realizadas via WhatsApp ao longo do Ano de 2020

Agora quase ao final de 2020 realizei uma conversa com as

crianças sobre a avaliação do nosso ano. É claro que eles se lembram com

saudades dos meses iniciais e das atividades que fizemos lá na sala de aula,

mas, conseguem perceber que mesmo com dificuldades conseguiram

aprender muitas coisas que levarão para a vida toda. Além disso, esperam

ansiosos pelo momento de poder voltar a ver e abraçar os amigos

presencialmente.

Há uma imagem que para mim representa este período: o casulo da

borboleta. A metamorfose vai acontecer, mas tudo ao seu tempo, agora é

tempo de aprender a esperar as asas serem preparadas, para depois alçar

grandes e coloridos voos. Tenho certeza que não conseguiremos chegar na

escola todos os dias sem comemorar nossas vitórias, a superação e

sobretudo a vida!

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