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Sevcenko, Nicolau.
discutindo
S327r O renascimento I Nicolau Sevcenko . - 6. ed. - São Paulo :
6. ed. Atual ; Campinas, SP : Editora da Universidade Estadual de Cam-
..·,-
a história
pinas, 1988. -~ " -~ •.••_.,._ • .-.1,,. :.:;.: : -.-: ... ,;_.:~,~-.;:~-_.~
(Discutin do a história)
o
Bibliografia.
I
-700.9024
-945.05
88-0076
CONSELHO EDITORIAL
Aécio Pereira Chagas, Alfredo Miguel Ozório de Almeida, Attílio José Giarola,
Aryon Dall'Igna Rodrigues (Presidente), Eduardo Roberto Junqueira
Guimarães, Hermóger!es de Freitas Leitão Filho, Michael MacDonald Hall,
coord.: jaime pinsky
Jayme Antunes Maciel Jr., Ubiratan D'Ambrósio.
t
I
P. Qual o seu en t1o!vimento com o tema deste livro? P. Como explicar a pujança do Renascimento, surgin do em continuida-
R. E en_orme 1 Eu vivi um período de intensa mudança cultural, em tor- de à miséria, à opressão e ao obscurantismo do p eríodo m edieval?
no do fmal dos an?s 60 e InÍCio dos 70, me empenhei e acredir:ei profun - R. O Renascimento assinala o florescimento de um longo processo ante-
dam ente nas poss1brlrdades prodrgtosas daquele fluxo inconformista e rior de produção, circulação e acumulação de recursos econômicos, de-
transf?rmador que louvava o amor, a paz, a liberdade e a fantasia. Mas sencadeado desde a Baixa Idade Média. São os excedentes d essa ativida-
um dra o ~onho acabou e eu me dei conta de que a maior parte das pes- de crescente em progressão maóça que serão utilizados para financiar,
so.as mamíestava um sentrmento oscilante entre o desprezo, o ridículo e manter e estimular uma ativação econômica. Surge assim a socir dade
a ~~diferença para com os visionários. Do resíduo de esperança e inquie - dos mercadores, organizada por princípios como a liberdad e de iniciati-
taçao e da enorme perplexrdade que se seguiram a essa experiência dolo- vas, a cobiça e a potencialidade do homem, compreendido como senhor
rosa, nasceu o desejo de entender as raízes ambivalenres de nossa cultu- todo poderoso da natureza, destinado a dominá-la e submetê-la à sua
ra, . presa entre o anseio de um mundo melhor e o horror da mudança. vontade , substituindo-se no papel do próprio Criador. O Renascimento,
F01 essa preocupação que me levou a sondar o Renascimento, a revolu- portanto, é a emanação da riqueza e da abundância, e seus maiores com-
ção cultural que fundou nosso mundo moderno. promissos serão para com ela.
Outras razões mais circunstanciais também me auxiliaram muito
nesse p_e~curso. Ocorre que demre o círculo de meus amigos mais ínti-
mos, vanos são artistas ou professores de História da Arte. Eles me auxi- P. A liberdade de escolha entre o bem e o ma! parece ter sido uma das
liararn muito, estimulando a elaboração deste texto, esclarecendo mi- polêmica.r introduzidas pelo Renascimento. Como é que o homem re-
nhas rdéias , sugerindo e me emprestando seus livros. Gostaria, or isso, nascentista se posiciona com relação ao exercício da liberdade plena?
dea~radecer a Antonio-Hélio Cabral, Murilo Marx, Ronei Bacelli, Maria R. A certa altura de uma das mais importantes peças de Shakespeare, o
Cnsuna Costa Sales, Kléber Ferraz Monteiro, Elias Thomé Saliba e mui- personagem Lord Macbeth declara: "Ouso tudo que é próprio de um
ro especialmente a Maria Cristina Simi Carletti, que discutiu toda a es- homem; quem ousar fazer mais do que isso não o é" . Essa postura reve-
uutura do texto comigo, foi o diapasão das avaliações estéticas, colabo- la com extraordinária clareza toda a audácia da experiência renascentis-
rou na escolha das ilustrações, compartilhou das minhas aflições e a ta. Tratava-se, com efeito, de uma prática cujos gestos mais ousados lan-
quem dedico este trabalho. çaram seus participantes para além de si mesmos, colocando-os no li-
miar entre o demônio e o próprio Deus. Se o orgulho pela descoberta de
sua prodigiosa capacidade criativa e pela revelação de virtudes, de técni-
P. De que forma o conhecimento da cultura renan·entista pode au:a.!iar ca e intelecto que jamais suspeitaram em si aproximava-os da figura do
no enten dim ento do presente ? Pai Eterno, sua vaidade afetada e a cobiça sem freios gue desen.cacLe:eaa,-~~=:=::;;;;:;;~::::::~
R. A história da c~l rura renascentista nos ilustra com clareza todo 0 pm';.-;;..._--=---'J-am an-astava~os-para as legiões o ríncipe das Trevas. E, no entanto, a t
,_
cesso de consrruç,lliLcultural- do-homem aderno e d a sociedade con-
===~===::::c~::=:;::;;:;:=;:::::-=---r:tceom
irqp~o)rriân e-a;.~N
~.rdele se ma?ifestam, já muito dinâmicos e predominantes,
opção era clara: tudo que os renascentistas pretendiam era assumir a
condição humana até seus limites , até as últimas conseqüências. Nem
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o_s germes do mdlVldual!smo, ~o racionalismo e da ambição ilimitada, Deus e nem o demônio; todo o desafio consistia em ser absolutamente,
t!piCos de comportamentos mars rmperativos e representativos do nosso radicalmente humano, apenas humano.
tempo. Ela consagra a vitória da razão abstrata, que é a instância supre- Mas até que ponto os poderes dominantes poderiam tolerar as con-
ma de toda a cultura moderna, versada no rigor das matemáticas que seqüências dessa liberdade? Sobretudo se ela retornava para a sociedade
passarão a reg~r os sistemas de controle do tempo, do espaço, do traba- em forma de dúvida, de crítica, de relativismo e, muito pior, de ironia?
lho e do domínro da natureza. Será essa mesma razão abstrata que estará Alguns ficaram aquém, outros ultrapassaram os limites do permitido,
presente tanto na elaboração da imagem naturalista pela qual é repre- atacando os privilégios dos poderosos e pagando com o que rinham de
sentado o _real, quanto na formação das línguas modernas e na própria mais caro: sua consciência, sua liberdade, seu corpo e sua própria vida.
constrtUiçao da cha~ada rdentrdade nacwnal. Ela é a nova versão dopo-
der domrnante e sera consubstancrada no Estado Moderno, entidade ra-
cwn~lrzadora, controladora e disciplinadora por excelência, que exrin- P. Certa vez ouvi você comparando a experiência do artista renascentista
gUJra a .muluplrcrdade do real, rmpondo um padrão único, monolítico e com a empresa das grandes nm;egações. Como seria isso ?
mrransrgente para o enquadramento de toda sociedade e cultura . Isso, R. Nós temos no Renascimento um desses momentos particularmente
contradnonamente, fará brotar um anseio de liberdade e autonomia de interessantes da História, em que o homem aparece transtornado, atôni-
espírito, certamente o mais belo legado do Renascimento à atualidade. to, sufocado pelo peso da própria liberdade. Nessas con dições p o demos
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tentar fazer uma avaliação desse homem preso na solidão de ser livre e
temos uma situação estratégica para verificar a dimensão de sua cora-
gem, de seus desejos e de seus pavores. O Renascimento constitui, por
isso, uma das mais fascinantes aventuras intelectuais da humanidade. 1. condições históricas gerais
Ele guarda uma semelhança mais do que notável com a empresa das
grandes navegações. Para se atreverem a essas perigosas viagens maríti-
mas, esses homens, ainda modestamente equipados, foram igualmente
encorajados pelas comunidades burguesas e cortesãs, receberam privilé- .
gios, honrarias e regalias, mas tiveram que enfrentar monstros míticos e
reais, tiveram que suportar, ao mesmo tempo, a atração e o medo do
desconhecido, tiveram que acreditar em si mesmos e em seus confrades
mais do que em entidades sobrenaturais, tiveram que enfrentar todos os
riscos de desbravar novos mundos e tiveram que suportar o choque de
valores completamente diversos dos seus. E muitos deles, como Colom-
bo, acabaram na solidão, no sofrimento e na miséria, desprezados pelos
que se abeberavam de suas conquistas . O mesmo aconteceu com inúme-
ros criadores do Renascimento. E, no entanto, esses homens viveram
uma experiência soberana de criação e puderam provar o gosto amargo,
porém único, de serem livres.
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e as dificuldades enfrentada,s pela escassez de mão-de-obra a obrigaram corte e de província, um círculo de juristas que instituísse, legitimasse e
a um endividamento crescente junto aos capitalistas burgueses. Vão sen- zelasse por uma nova ordem sócio-p?lícico-<:_con.ômica e um quadro fiel
do assim obrigados a desfazer-se de pane de suas terras, a emancipar de diplomatas e espiões, cultos e e.fiClente~ . E ev1deme que homms com
seus servos, a aumentar as regalias das cidades e dos mercadores. O co- tais qualidades e disp~sições senan:~ mrus pr~vavelmente ~ncontrados
mércio sai da crise do século XIV fortalecido. O mesmo ocorre com a ati- nos escalões da burgues1a. Esse era ahas um conJunto ~e ser_v1ços que po-
vidade manufatureira, sobretudo aquela ligada à produção bélica, à deria em parte ser encomendado a grandes casas de fmanClstas e a gran-
construção naval e à produção de roupas e tecidos, nas quais tanto a_]tá- des traficantes, de certo modo já habituados com todos eles. Era o caso
lia quanto a Flandres se colocaram à frente das demais.As minas de me- dos Albertí, dos Médici, dos Frescobaldi, dos Peruzz.i, dos Acciaiuoli e
tais nobres e comuns da Europa Central também são enormemente ati-
vadas. Por tudo isso muitos historiadores costumam tratar o século XV ltál ia Durante a Renascença
como um período de Revolução Comercial. As linhas grossa s indicam os limites do Estado Papal
Fortalecimento da Monarquia
Outro agente que saiu fortalecido da crise do século XIV foi a Mo-
===~:=::-::...::.:.:=-;:=======~----"'-narqu.ia-:-0-váwo-de poder aberto-pelo enfraqueci..rnento--d.a.-nobrez ......~---1
imediatamente recoberto pela expansão das atribuições, poderes e in-
fluências dos monarcas modernos . Seu papel foi decisivo tanto para con-
duzir a guerra quanto, principalmente, para aplacar as revoltas popula-
res. A burguesia via neles um recurso legítimo contra as arbitrariedades
da nobreza e um defensor de seus mercados contra a penetração de con-
correntes estrangeiros. A unificação política significava a unificação tam-
bém das moedas e dos impostos, das leis e normas, pesos e medidas,
fronteiras e aduanas. Significava a pacificação das guerras feudais e a eli-
minação do banditismo das estradas. Com a grande expansão do comér-
cio, a Monarquia nacional criaria a condição política indispensável à de-
fmição dos mercados nacionais e à regularização da economia interna-
cional.
Mas como instituir um Estado onde só havia o poder pulverizado
dos feudos? Criar e manter um poder amplo e permanente, neste mo-
mento, significava ·antes de mais nada contar com um grande e temível
exército de mercenários, um vasto corpo de funcionários burocráticos de
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dos Bardi nas cidades italianas, ou dos Fugger, dos Welser dos Rehlin- Nova Ordem Social
ger, dos Inhoff no Império Alemão, dos Thurzo na Hungria dos Go-
dard na França e assim por diante. '
To?as .essas :_asas comerci~is .~ossuíam úma enorme burocracia que Nos termos desse quad ro , deparamo -nos com uma nova ordem so-
~b~angia d~en~oes ta~lto .nacionais como internacionais; graças às suas cial. Sem a mediação das corporações , empresários e empregados si-
muiil:eras agenoas, fettonas e .e~::ttrepostos. Desenvolviam igualmente ruam-se como indivíduos isolados na sociedad e. Seus padrões de aju sta-
um stst~ma co_mpleto de contabilidade e de administração empresarial e mento à realidade passam a ser as co ndições do mercado, a ordem jurídi-
finance1ta. Nao relutavam, mesmo quando necessário, em contratar ca imposta e defendida p elo Estado e a livre associação com seus compa-
com companhias especializadas os serviços de corpos de mercenários pa- nheiros de interesse . A ruptura dos antigos laços sociais de dependência
ra a guerra, para combater revoltas populares ou para simples ameaça . E social e das regras corporativas p romov em, portanto, a liberação do indi-
o que e~a o Estado Mo~c:_r~o senão a ampliação de uma empresa comer- víduo e o empurram para a luta da concorrência com outros indivíduos,
cial, CUJO controle dee1sono estava nas mãos do rei, sendo que este se conforme as condições p ostas p elo Estado e p elo capitalismo . O sucesso
aconselh~va com os assessores financeiros, fiscais, comerciais, militares, ou o fracasso nessa nova luta dependeria - segundo Maquiavel, o intro-
com os diplomatas e espiões antes de qualquer gesto? dutor da ciência política precisamente nesse momento - de quatro fa-
_Era natural, portanto, que os monarcas buscassem o apoio, a inspi- tores básicos : acaso, engenho, astúcia e riqueza. Para os pensadores re-
raçao. e. enc?ntrassem parte de seu pessoal junto a essas grandes casas co- nascentistas, os humanistas, a ed ucação seria o fa tor decisivo.
meroats. Normalmente o acordo incluía a concessão dos direitos de ex- Nem Maquiavel nem os humanistas estavarn lo nge da verdade. O
ploração de minas de metais preciosos e ordinários de sal e alume 0 momento histórico colocava em foco sobretudo a capacidade criativa da
monopólio sobre certos artigos comerciais e o arrend;mento da cobra~ça personalidade humana . O período é de grande inventividade técnica es-
de Impostos. Os lu cros e o poder que tais privilégios p ropiciavam a seus timulada e estimuladora do desenvolvim ento econômico. Criam-se no -
dete~tores eram extraordinários e faziam com que eles se tornassem ver- vas técnicas de exploração agrícola e mineral, de fun ição e met~lurgia,
dadeiros p atronos dos Estados aos quais se associavam. A casa dos Habs- de construção naval e navegação, de armamentos e d e guerra . E o mo-
burgo, por exemplo, teve seu destino indissociavelmente ligado ao dos mento da invenção da Imprensa e de novos tipos de papel e de tintas. Se
b~nqueuos Fugger, que fmanoaram as campanhas de Maximiliano na a introdução de uma nova técnica poderia colocar u ma e mpresa à frente
Italra ( 1508-17), garantiram a eleição de Carlos V como Imperador de suas concorrentes, a criação de novas armas colocava os Estados em
( ~ 5.19) e sua guerra contra a França, possibilitaram a formação da liga ca- vantagem sobre os seus rivais . Foi com esse objetivo que Ga!ileu foi con-
to!Jca que combateu os protestantes e sustentaram ainda paralelamente tratado pela oligarquia mercantil da República de Veneza e foi esse tipo
o tesouro pontifica! e os tronos dos monarcas da Europa Oriental (com de préstimos que Leonardo da Vinci ofereceu a Ludovico, o Mouro , se-
exceção da Rússia). nhor de Milão, a fim de entrar para seu serviço .
Tem-se , dessa fo.rma , a imagem .d~um Estado transformado numa Esse conjunto ele circunstâncias instituiu a prática da observação
va~ta empresa e ele próprio dominado por uma ou algumas casas finan- atenta e metoãica ã a natureza, acompa tí nada ela inTervenção-do obser-
ceiras. E era quase 1sso. Mas o contrário também era verdadeiro ao me- vador por meio de experimentos , configurando uma a titude que seria
nos para ~s produtores organizados segundo o modelo das corporações mais tarde denominada científica. O o bjetivo era o de obter o máximo
tradicionai s: o Estado acaba por submetê-los, todos, paulatinamente, a domínio sobre o meio natural, a fim de explorar-lhe os mínimos recur-
seu controle. A umf1cação política significava padronização local e jurí- sos em proveito dos lucros de mercado. O instrumento-chave para o do-
diCa, e a form~ção do mercado nacional implicava a equiparação dos mínio da naturez<J. e de seus man<.nciais, através do qual se poderia con-
preços, dos salanos, do mmo d~a produção e das características dos pro- densar sua vastidão e variedade numa linguagem abstrata, rigorosa e ho-
dutos . O tempo agora era_ propicio par.a empresas de um novo tipo . Em- mogênea, era a matemática. Nesse campo, os progressos caminhavam
presas que recrutavam mao-de-obra. diretamente dentre os camponeses rápido, desde a assimilação e difusão dos algarismos arábicos e das técni-
expulsos dos campos pela adoção sistemática das lavouras comerciais e cas algébricas, tomadas à civili zação islâmica . O instrumental matemáti-
q~e apresentav~m a dupla vantagem de empregar por baixos salários e co era indispensável para efetu ar a contabilidad e complexa das empresas
nao serer_:o. !Jgaa~s a qualquer corporação. Companhias essas modeladas mercantis e financeiras, o u seja , os cálculos cambiais e os diversos siste-
pelo espmto de JnJclatJva e ~anância de seus empresários, que negocia- mas de juros, empréstimos, investimentos e bonificações.
v~ duetameme com as sociedades de jornaleiros o valor dos salários e As pesquisas sobre a trad ição d a geom etria euclidiana acompa nha-
defm1am os preços e padrões dos produtos de acordo com as condições vam de perto os avanços na matem át ica . E am bas ganh aram novas fun-
da concorrência internacional. ções com a invenção da luneta astro nômica p or G alile u . Pode-se, assim,
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confirmar a teoria radical do heliocentrismo (u Sol ocupando o centro do
Sistema planetáriO e não a Terra como ,acreditavam os homens da Igreja,
b~seados em Ptolomeu) e a rotund1daae do nosso planeta. Mas foi acre-
ditando nessa cosmografia ousada, muito antes ainda de sua confirma-
2D os humanistas:
ção, que Colombo descobriu a América (1492) e Fernao de Magalhães
fez a primeira ~iagem de vol~a ao mundo (1519-1521). Graças a essas
uma nova visão do mundo
desc_:>bertas, ? sistema comemal pôde ampliar-se, até atingir toda a ex-
tensao do glo_bo terrestre. Globo que passou a ser rigorosamente mapea-
do e esqua~nnhado por uma rede de coordenadas geométricas, destina-
da a gar:ntir a segurança e a exatidão das viagens marítimas e 0 sucesso
dos negooos dos mercadores europeus. O desenvolvimento do saber e
do comércio se reforçavam mutuamente.
A m_ate~atização do espaço pela cartografia é acompanhada pela
matemauzaç_ao do tempo. C? ano de 15p0 marca significativamente tan-
to o de;~ob!Imento do Brasil quat;Ito a mvenção do primeiro relógio de
b~lso. us sec~lo~ XV e XYI _ass!stll"am a uma ampla difusão de relógios
pubhc_os mec_amcos ou hrdra_ulicos, os 9-uais são instalados nas praças
cem~ai~ das cidades que desepvam exibir sua opulência e sua dedicação
meto~1ca a~ trabalho. As pessoas não s~ movem mais pelo ritmo do sol,
pelo ul.nto ao galo ou pelo rep_Kar dos s10os , mas p elo tique-taque contí-
nuo, regular~ exato dos relógios . A duração do dia não é mais conside-
r:da pela posiç1Io do sol ou pelas condições atmosféricas, mas pela preci-
~ao das horas e dos mmutos. Em breve os contratos não falarão mais de Para começar: a quem é que se costuma chamar de humanistas e o
JOrnada de trabalho, ~as prescreverão o número exato das horas a serem que significa esse título ? Embora só se tenha difundido no século XV,
cu~~ndas err: troca do pagamento. O próprio tempo tornou-se um .dos esse termo indicava um conjunto de indivíduos que desde o século ante-
pnnopa1s artigos do mercado. rior vinha se esforçando para modificar e renovar o padrão de estudos
Mas o que pensavam os hofl_let;Is do período sobre essas mudanças? ministrado tradicionalmente nas Universidades medievais . Esses centros
A burgu esia, sua grande benefiCiána, estava eufórica. A nobreza e 0 cle- de formação intelectual e profissional eram dominados pela cultura da
ro, perdendo o espaço tradicional dos feudos, procuram conquistar um Igreja e voltados para as três carreiras tradicionais : direito, medicina e
novo lugar de destaqu~ Junto às cortes monárquicas ecém-criadas;~.--.,. te~logia-Esta.vam portanto, empenhados-em transmirir-aos-s~us alunos
Gampon_ese0 _:-anesaos, perdencio a tutela tradicional do senhorio e da uma concepção estática, hierárquica e dogmática da sociedade, da natu-
corp?raçao, sao atirados , na mawr parte das vezes contra a vontade, nu- reza e das coisas sagradas, de forma a preservar a ordem feudal . Mas,
ma liberdade mdlVldual que pouco mais significava que trabalho insano conforme já vimos, as transformações históricas fora.m tão drásticas nesse
para garantu a sobrevivência nos limites mínimos. Mas e os pensadores período, que praticamente dissolveram as condições de existência do
os filósofos, os artistas, os cientistas , numa palavra: os humanistas, esse~ feudalismo . E as novas circunstâncias impuseram igualmente aos ho-
homens nascidos com ~s novas condições e destinados a incrementá-las, mens que alterassem suas atitudes com relação a seu destino, à socieda-
o_que pensavam ele~ disso tudo? Que partido tomavam? Pensavam por de, à natureza e ao próprio campo do sagrado. . . .
s~ mesmos ou eram Instrumentos pensantes da burguesia que os finan- Iniciou-se assim um movimento, cujo objetivo era atualizar, dma-
Ciava~ A resposta a essas questões é bem mais comolexa do que se pode mizar e revitalizar os estudos tradicionais, baseado no programa dos stu-
Imagmar. • dia humanitq.tis (estudos humanos), que incluíam a poesia, a filosofia, a
história, a matemática e a eloqüência, discipli~a esta r~sultante da f\lsão
entre a retórica e a filosofia. Assim, num sentido estnto, os humamstas
era.m, por definição, os homens empenhados nessa reforma educacio-
nal, baseada nos estudos humanísticos. Mas o que tinham esses estudos
de tão excepcional, a ponto de servirem para reformar o l?redomínio cul-
tural inquestionável da Igreja e reforçar toda uma nova vtsão do mundo?
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Ocorre que esses studia humanitatis eram indissociáveis da aprendiza- versão e a leitura mais cristalina . O que levou esses autores, por conse-
gem e do perfeito domínio das línguas clássicas (latim e grego), e mais qüência, à consideração das circunstância: e_dos per:ío~os em que_f?~am
tarde do árabe , hebraico e aramaico . Assim sendo, deveriam ser condu- escritos os textos e ao estudo das caractensncas das soe1edades e Clvihza-
zidos, centrados exclusivamente sobre os textos dos autores da Antigui- ções an!iga: . A crítica_ filológica se trao~forma, portanto! em crítica his-
dade clássica, com a completa exclusão dos manuais de textos medievais. tórica. E evidente, po1s, que os humaniStas não demoranam em transfe-
Significava, pois, um desafio para a cultura dominante e uma tentativa rir rodo esse saber para suas próprias condições concretas de existência.
de abolir a tradição intelectual medieval e de buscar novas raízes para a Estabeleceram em primeiro lugar as bases das línguas nacionais da Euro -
elaboração de uma nova cultura. pa-moderna e passaram, em seguida, ao estudo histórico das novas socie-
dades urbanas e dos novos Estados monárquicos . Eles davam assim sua
contribuição para a consolidação dos Estados-Nação modernos.
Inspiração n·a Cultura Antiga
{ Os humanistas, num gesto ousado, tendiam a considerar como mais Crítica da Cultura Tradicional
perfeita e mais expressiva a cultura que havia surgido e se desenvolvido
no seio do paganismo, antes do advento de Cristo. A Igreja, portanto, Crítica cultural, crítica filológica, crítica histórica: a atividade crít~-
para quem a história huma..'1a só atingira a culminância na Era Cristã, ca, como se pode ver, foi uma das características mais notáveis do movi-
não poderia ver com bons olhos essa atitude. Não quer isso dizer que os menta humanista. Uma atividade crítica voltada para a percepção da
humanistas fossem ateus, ou que desejassem retornar ao paganismo . mudança, para a transformação dos costumes, das línguas~ das civiliza-
Muito longe disso, o ceticismo toma corpo na Europa somente a partir ções. Uma visão , portanto, mais ~tenta ao~ asrectos d e modificação eva-
dos séculos XVII e XVIII. Eram todos cristãos e apenas desejavam rein- riação do que aos de permanência e contmUldade. O c~oque entre esse
terpretar a mensagem do Evangelho à luz da experiência e dos valores da ponto de vista e o dos teólogos tradicion~is, que ~efend1am os valores da
Antiguidade. Valores esses que exaltavam o indivíduo, os feitos históri- Igreja e da cultura medieval, não podena ser ma1s completo. ~ara _esses,
cos, a vontade e a capacidade de ação do homem, sua liberdade de atua- nenhuma mudança contava que não fossem as mudanças n? m_tenor da
ção e de participação na vida das cidades. A crença de que o homem é a alma: a escolha feita por cada um entre o caminho do bem, md1eado P~-
fonte de energias criativas ilimitadas, possuindo uma disposição inata lo clero, e o do mal, aconselhado pelas forças satânicas . E o únlCo _movi-
para a ação, a virtude e a glória. Por isso, a especulação em torno do ho- mento histórico que contava era aquele que levava da vinda de ~nsto ao
mem e de suas capacidades físicas e espirituais se tornou a preocupação Juízo Final, permitindo aos homens o retorno ao Paraíso Perd1do .
fundamental desses pensadores, definindo uma atitude que se tornou Os teólogos, portanto, tinham toda a preocupação voltada para as
conhee1da como a_9tropocentrismo. A coincidência desses ideais com os almas e para Deus, ou seja, para o mundo tran~cend ente ,_o__mundo_dos-;;:;;;:.:,:..:::---::~:::=::::;;
prop§sitos da camada burguesa é mais do gY..e_ev.idente . --;;;;;...----"'"---:: - -fenômenos esp1rituais e imateriais. Os human1stas, por sua vez, volta-
==~=====-;:., ..::......;;;~=--::::.=::---';;;;;...--._,._E-~reciso , co~tuao, m terpretar com prudência o ideal de imitação vam-se para 0 aqui e o agora, para o mundo concreto dos seres hui?anos
(tmttatzo) dos anngos., proposto como o objetivo maior e mais sublime em luta entre si e com a natureza, a fim de terem um controle mawr so-
dos humanistas por Petrarca, um de seus mais notáveis representantes. bre 0 próprio destino. Por outro lado, a preg~ção_ do clero t:adi~ion~l r~-
A imitação não seria a mera repetição, de resto impossível, do modo de forçava a submissão total do homem, em pnmeuo l~gar,,a ompotenaa
vida e das circunstâncias históricas dos gregos e romanos, mas a busca de divina em segundo 2. orientação do clero, e em terceuo, a tutela da no-
inspiração em seus atos, suas crenças, suas realizações, de forma a sugerir breza, 'exaltando no' ser humano, sobretudo, o~ valores da piedade, da
um novo compo_rtamento do homem europeu. Um comportamento cal- mansidão e da disciplina. A postura dos humamstas era comJ?let.a n:ente
cado na determmação _d a vontade, n? desejo de conquistas e no anseio diferente, valorizava 0 que' de divino havi~ em ~ada homem, mduzmdo-
do novo . Petrarca considerava que a 1dade de ouro dos antigos, submer- 0 a expandir suas forças, a criar e a produzu, agm~o sobre o mundo para
sa sob? "bar~aris~o" medieval, poderia e deveria ser recuperada, mas transformá-lo de acordo com sua vontade e seu mteresse.
graças a ener~1a _ e a v_ontade de seus contemporâneos . Dessa forma, se esse título de humanistas identificava inici~me~:e
. Petrarca ms_lstla, u~clusive, em que o próprio latim degenerado, uti- um grupo de eruditos voltados para a renovação dos estudos ur:lverslta:
l~zado pe_la IgreJa, dev1a ser abandonado em favor da restauração do la- rios, em pouco tempo ele se aplicava a todos aqueles que s:: ~ed1eavam a
tlm classlco dos grandes autores do per:íodo pagão. A crítica cultural se crítica da cultura tradicional e à elaboração de um novo codlgo de valo- \"
desdobra, desse modo, na crítica filológica: 0 estudo minucioso e acura- res e de comportamentos, centrados no ir:divíduo e ~~ sua capacidade
do dos textos e da linguagem, com vistas a estabelecer a mais perfeita realizadora, quer fossem professores ou Clentlstas, clengos ou estudan-
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tes, poetas ou artistas plásticos. Esse grupo de inovadores e de inconfor- internacional, através de roda a Europa, reforçado por trocas de corres-
mistas não era certamente visto com bons olhos pelos homens e entida- pondências, viagens, ho~pital~dade, trocas. d_e inform;.ções, _livros e
des encarregadas de preservar a cultura tradicional, mas isso não impe- idéia~. a circulação dos pn~op1antes e dos disc~pulos, a rori?a~ao .de ce-
diu que alguns atuassem no seio da própria Igreja , principalmente nà náculos, envolvendo eruditOS de diferentes ongens nas pnncipats Ufl:I"
Itália, próximo ao trono pontificai, onde os papas em geral se comporta- versidades. Essa rede de relações lhes dava uma nova d1mensão de apo10
vam como verdadeiros estadistas, pretendendo dirigir a Igreja como um e de identificação, que tentava defender e socorrer os confrades em apu-
Estade> Moderno, cercando-se de um grupo de intelectuais progressistas. ros sempre que isso fosse .possível. Era também um. campo ~érti~ de estí-
De resto, esses homens originais procuravam garantir sua sobrevivência e mulos, de estudos e de divulgação, que se tornou amda ma.ts eficaz c?I?
a continuidade de sua atuação, ligando-se a príncipes e monarcas, às uni- os progressos das técnicas de imprensa. Ass:m, o ~umamsm~ que se m~:
versidades, às municipalidades ricas, ou às grandes famílias burguesas, ciou como um movimento típico das odades Italianas no seculo ~ Ja
onde atuavam como mestres e preceptores dos jovens. ganhava as principais cidades e capitais da Eur?pa do N~rte, adqumndo
uma amplitude que seus promotores pretendram que rosse umversal.
Perseguições
( O respeito à individualidade deles e à originalidade de pensamento
nunca foi uma conquista assegurada. A vida sempre lhes foi cheia de
perseguições e riscos iminentes: Dante e Maquiavel conheceram o exílio,
Campanella e Galileu foram submetidos a prisão e tortura, Thomas Mo-
rus foi decapitado por ordem de Henrique VIII , Giordano Bruno e Etie-
ne Dolet foram condenados à fogueira pela Inquisição, Miguel de Servet
foi ig.ualmente queimado vivo pelos calvinistas de Genebra, para só
mencwnarmos o destinp trágico de alguns dos mais famosos represen-
tantes do humanismo,.) Mesmo as constantes viagens e mudanças de
Erasmo de Rotterdam e de Paracelso, por exemplo, eram em grande par-
te motivadas pelas perseguições que lhes moviam seus inimigos podero-
sos. Sua situação nunca foi realmente segura e mesmo a dependência em
que se encontravam de alguma instituição, príncipe ou família podero-
sa, causava-lhes por vezes constrangimentos humilhantes . Essa a razão
por _que ~rasmo nunca aceitou submeter-se à tutela de nenhum podero-
_ _so . _p_o so-tamb~m que-Maquiavel · a
ninguém ele estima, ainda que o vejais fazer-se de servo a quem traja
um manto melhor que o dele'' . Nem porque trabalhavam para os pode-
rosos, esses homens se sujeitavam a ser meramente seus instrümentos
pensantes. Eram ciosos de sua independência e liberdade de pensamen-
to, às vezes com sucesso e na maior parte das vezes com custos elevadíssi-
mos, senão pagando com a própria vida, como vimos . Para muitos, esse
ardor de independência significou a morte na mais completa miséria,
abandonados por todas as forças sociais. Esse foi o caso de Camões e de
Michelangelo, que morr~ram ~míngua; o pintor e escultor italiano, por
exemplo, acabou sua vrda m!Serável, doente e solitário, recusando-se
porém a aceitar a encomenda de Paulo IV para que pintasse véus sobre
os corp~os. nus que havia criado para o ''Juízo Final'', na Capela Sistina
do palac10 do Vaticano.
Mas e.sse mesmo clima de insegurança vivido por todos esses inova-
dores servm para que se estabelecesse entre eles um laço de solidariedade Humanistas estudando em meio à diversidade de objetos de estudo.
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f
b
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gigantescas colocadas nas praças e locais públicos com as quais homena- luta cultural deve ser compreen?ida, port~nto, como uma das dirnen-.
geavam seus fund adores e seus heróis; e de resto quadros, gravuras, sões da luta da burguesia para ~umar-se diante d? clero e da nobreza e
afrescos , que adornavam os recintos particulares e alguns prédios públi- de seus ideais de submissão piedosa e da cavalana medievaL
cos, em que costumavam aparecer em grande destaque em meio aos san- A produção art~tica, portan~o_, acaba se tornando um do:_ focos
tos ou às cenas do Evangelho, ou mesmo retratados em primeiro plano, principais desse conrronto. As at1v1dades e_ os campos de reflexao que
predominando sobre uma cidade ou uma vasta região que aparecia em mais preocup~vam os _Pens~dores r~n.:scentl~ta~ ~parecem con/der:sados
ponto menor ao fundo . nas artes plásucas: a flloso~1a, a rehg1ao, a h1st<?na, a arte,_ a tecmca e a
Esses financiadores de uma nova cultura - burguesia, príncipes e ciência. Acompanhando a Intenção da burguesia de ampliar seu domí-
monarcas - eram chamados mecenas, isto é, protetores das artes . Seu nio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa
objetivo não era somente a autopromoção, mas também a propaganda e científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar
difusão de novos hábitos, valores e comportamentos. Mais do que sua nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a
imagem, que podia ou não aparecer nas obras, o que elas deveriam vei- luz a cor e mesmo a expressão e o sentimento. A arte renascentista é
cular era uma visão racional, dinâmica , progressista, otimista e opulenta um~ arte de pesquisa, de invenções, inovações e aperfeiçoamentos técni-
do mundo e da sociedade. Uma-visão na qual o modo de vida e os valo- cos. Ela acompanha paralelan1ente as conquistas da física, da matemáti-
res da burguesia e do poder cenwllizado aparecessem como única forma ca, da geometria, da anatomia, da engenharia e da filosofia. Basta lem-
de vida e conjunto de crenças mais satisfatório para todas as pessoas. Essa brar a invenção da perspectiva matemática por Brunelleschi, ou seus ins-
trumentos mecânicos de construção civil, ou os instrumentos de enge-
nharia civil ou militar inventados por Leonardo da Vinci, ou as pesquisas
anatômicas de Michelangelo, ou o aperfeiçoamento das tintas a óleo pe-
los irmãos Van Eyck, ou os estudos geométricos Cle Albrechr Dürer, en-
tre tantos outros .
A Arte Medieval
Mas, para que se possam destacar as peculiaridades da arte renas-
centista, conviria antes que se apresentasse uma indicação breve e ele-
mentar das características da arte medieval, com a qual ela iria formar
um vivo contraste, tomando-a como um padrão de exclusão, ou seja ,
considerando-a como o- conjuntoãe vãlores tecmcos, estéticos e filosófi-
cos a serem negados. A arte mais típica da cultura medieval do Ocidente
europeu foi o estilo românico. Denso, pesado, com suas catedrais em
forma de fortalezas militares - o que de fato eram - os artistas do ro-
mânico representavam as imagens de um ponto de vista simbólico, abs-
trato, sem qualquer consideração para com as características reais das
coisas e dos seres representados, tais como tamanho, volume, forma,
proporções, cor, movimento, etc. Suas figuras, exclusivamente religio-
sas, eram estáticas, de formas e expressões invariáveis, de volumes e di-
mensões uniformes, apareciam sobretudo nas esculturas e relevos que
faziam parte da própria arquitetura das catedrais e dos monumentos
mortuári<?s, daí seu aspecto sólido e maciço, como que constituindo pe-
quenos pilaretes perdidos no conjunto da construção arquitetônica. As
f1guras eram chapadas contra o fundo, quase que suprimindo a idéia de
Monalisa- espaço. Uma arte estática, rústica, inalterável e sagrada, como a socieda-
Leonardo da Vinci. de que ela representava.
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O românico prevaleceu por toda a Alta Idade Média, mas na última
fase do período medieval aparece o gótico, uma arte de raiz germânica e
que, portanto, penetra pelo Norte da Europa . Se bem que mantenha al-
gumas características do românico, o estilo gótico traz consigo a leveza e
a delicadeza das miniaturas e o policromatismo da arte autenticamente
popular. Sua difusão ajuda a romper com a rigidez do românico e as c~
tedrais ganhariam uma nova concepção, baseada na leveza dos arcos agi-
vais e na sutileza da iluminação dos vitrais, dinâmicos e multicoloridos.
Começava-se a ganhar em termos de espaço, movimento, luz e cor.
A região da Península Itálica, ao sul, entretanto, permanecia ainda
sob a forte influência da arte bizantina, presa, pois, a uma concepção
iconizada da imagem, exclusivamente religiosa e rigorosamente ligada a
normas fixas de composição como o hieratismo (forma rígida e majestosa
imposta por uma tradição invariável), a frontalidade (obrigação de só re-
presentar as imagens de frente), o tricromatismo (normalmente o azul,
o dourado e o ocre), a isocefalia (todas as cabeças de uma série com a
mesma altura), a isodactilia (todos os dedos de uma mesma mão com o
mesmo tamanho) e a hierarquia dos espaços (com o destaque variando
Arquitetura em
estilo gótico com
arcos e vitrais:
Sainte Chapelle
das figuras mais sagradas para as menos sagradas). Mais do que normas ,
esses requisitos da imagem eram dogmas religiosos, rompê-los era sacri-
légio, acarretando a destruição da obra e a punição do artista.
De qualquer forma, nesses três estilos, a arte era concebida como
um instrumento didático. Num universo social de analfabetos (pratica-
mente só o clero sabia ler e escrever) , eram as imagens, vistas pelos fiéis
p_or dentro e por fora, ao longo de toda a igreja, que transmitiam e repe-
t~am im~táveis as lições da teologia cristã. A arte não tinha, pois, um
f~ em SI mesma e não guardava nenhuma relação necessária com a rea-
Igreja em esttfo lidade concreta e cotidiana do mundo; ao contrário, era preciso trans-
românico com cender as imagens para além delas encontrar a doutrina e a verdadeira
detalhes de salvaç~o. ~s ima~ens eram apenas uma inspiração e um convite para que
escultura: a medrtaçao se dlflgisse ao mundo espiritual e celestial, o único que con-
NotreDame- tava, guiada pela palavra do clero e assegurada pelo braço da nobreza.
La-Grande.
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26
dem era ''viver mais pelo sentido do que pelo espírito''. Com base nesse
jogo de fatores, mestres pintores como Cimabue_e Duccio, já na segu~
da metade do século XIV, passaram a dar~ suas Imagens um toque mais
humanizado, dando maior expressão _às figuras, demonstrando ainda a
preocupação _de produzir uma certa Ilusão de espaço .e. mov_imento eJ?
suas composições. O sucesso ~lc~r:çado por sua arte foi Imediato, ela vi-
nha de encontro à nova sensibilidade das camadas urbanas e com elas
iniciou -se o do/c e stzl nuovo (doce estilo novo).
0 primeiro grande mestre desse estilo, porém, seria Giotto. Elabo-
rando 0 universo dinâmico e colorido do gótico com a noção de paisa-
gem típica da arte bizant~na e o ~re~cor humano e_D:aturalista da sensibi-
lidade franciscana, esse pmtor cnana uma arte ongmal que encantou os
homens de seu tempo. As personagens de suas pinturas preservavam sua
individualidade, tendo cada qual traços fisionômicos, vestes e posturas
diferenciadas e sempre muito expressivas de seu estado de espírito.
Giotto procurava ainda destacar o volume de suas imagens em toda a
grandeza de sua rridimensionalidade. E temos aí o fato mais prenhe de
conseqüências: ao definir o volume tridimensional de suas figuras, Giot-
to teve que desenvolver uma concepção mais nítida de espaço, dando
um efeito de profundidade em suas composições . Rompia assim com o
tradicional fundo dourado , contra o qual as figuras góticas e bizantinas
ficavam chapadas, o que eliminava a noção de espaço, reduzindo a figu-
ração a um plano bidimensional e fechado . Essa nova concepção does-
Mosaico da Capela
Palatina: ícone
bizantino.
'
~~:·~-~~~,
<·:~i~ todo o Ocidente europeu até o início de nosso século.
. Como efeito da utilização dessa -perspectiva central-, -=o,;;:;u~p-=e=rs~p·ectiva --==--i
,
r
·. ~ :: lmear, todo o esdpaço pictóricodficfa subordin~do a uma única didr~tr~z v~- ,·
.. ~~~i~1~,_;.:..;.;.=- . - Sua1, representa a pe1o ponto e uga, ou sep, quanto m aJOr a IstanCia ·
~--
. . :: .. ,_t: ~:.!_:·_:_!:· i· ·..
·.·:: com que os objetos e elementos são percebidos pelo olhar do pintor,
•§..1 tanto menores eles aparecem no quadro, de forma que todas as linhas !
f.~~ ................ -t-·-·._:;··'+--i---+:++:-~-...:·:..:.·:·._ j_
.-.·~~-.--; · i~:. :; paralelas da composição tendem a convergir para um único ponto no f
~ndo do quadro, que representa o próprio infinito visual. Obtém-se as- ~
~ ................................... ·!"""!·"!··· srm uma completa racionalização do espaço e das figuras pintadas que ~
dá aos quadros um tom de uniformidade e homogeneidade em que na- ~
~. i;;:;~:-.:.;;:t.:.;;J i' ...........:........... .. da,_n~m o mínimo detalhe escapa ao controle geométrico matemático ['
··"·· : do artista. A imagem fica claramente definida em função desses dois re- f
...... ••• ••• • 1
ferenciais básicos : o ' 'olhar fixo'' do pintor fora do quadro e o ponto de t·
fuga no seu fundo. Quem quer que observe a obra deverá colocar-se exa- 1:
tamente na posição do olhar do artista e terá sua observação dirigida ne- ·
T
Estudo de perspectiva. cessari~mer:ite pela dinâmica que o ponto de fuga impõe à totalidade da r
obra. A liberação do olhar do artista corresponde, desse modo, a subor-
30
31
dinação do olhar do observador, a quem só fica aberta a possibilidade de zação de instrumentos ópticos de origem árabe: destinados à mensura-
uma única leitura da obra. - geométrica e cálculo matemáuco, como a a!Jdade, utillzados por as-
A essa altura a composição de uma obra pictórica implicava uma tal çao . · · · 1·
, amos , engenheiros ' arquitetos,
tron - construtores
. .CIVIS e navais, re OJoei-
sofisticação que não estava mais à altura do artesão comum. De fato, a ros, navegadores e ma:emáticos. A perspectiva lrne:r, port~nto, deriva-
elaboração da perspectiva linear envolvia necessariamente o domínio de va de uma séne de praucas e procedimentos que Ja se hav~am tor~ado
noções bastante profundas de matemática, geometria e óptica. As dife- habituais para a nova elne burguesa. Eis porque ela assimrl?u ~e Ime-
renças de coloração impostas pela profundidade (quanto mais distantes diato essa forma d e representação do espaço e passou a considera-la co-
os elementos representados, mais opacos e diluídos eles ficam), os jogos mo a única form a exata e possível .
de luz e sombra, de tons e meios-tons, impunham por sua vez um estu- Tratava-se, no entanto, apenas de uma possibilidade dentre várias.
do minucioso do fenômeno da luz, do reflexo, da refração, das cores e, A perspectiva lin ea: absolutamente não correspo~de à complexid~de
portanto, das tintas, dos pincéis e das telas. A representação realista da psicofisiológica da viSão humana. Para começar, a visão humana é bifo-
figura humana, por sua vez, exigia um domínio completo sobre a anato- cal e não monocular; ela é também dinâmica- formando imagens atra-
mia do corpo, os recursos do movimento e a psicologia das expressões. vés de movimentos constantes- e não fixa, e devido ao formato esferói-
Nessas condições, o pintor já não era um artesão, mas um cientista com- de do globo ocular, percebe a realidade através de planos curvos e não
pleto , como Leonardo, Michelangelo, Dürer e tantos outros . Abre-se retilíneos, como na perspectiva geométrica. A grande vantagem desse
um enorme fosso entre a arte voltada para a elite e presa a todos esses método para os pintores renascentistas consistia no princípio da unidade
pr?c~~imentos científicos e a arte popular, a que se habituou chamar de nele implícito. O espaço na arte medieval era criado pela j).lstaposição de
pnmmva . imagens, composta em paralelismos coordenados ou em seqüência livre,
de forma que o observador deveria movimentar-se o tempo todo para
Arte e Ciência observar o conjunto , mudando sempre seu foco óptico . Já o espaço da
arte renascentista é rigorosamente concentrado, sendo a visão de conjun-
Brunelleschi foi o primeiro a exigir que as artes plásticas saíssem do to da obra simultânea e não desdobrada como no outro. O seu princípio
universo do artesanato e entrassem para o círculo da cultura superior, fundamental é, pois, o da unidade e da unificação: unidade de espaço,
junto à poesia, à filosofia, à teologia, à matemática e à astronomia. E unidade. de tempo, unidade de tema e unidade de composição sob os
não era sem sentido sua exigência. Com efeito, podemos verificar que o cânones unificados das proporções. Nada mais adequ ado a um mundo
desenvolvimento artístico acompanhava paralelamente o desenvolvi- marcado pelos esforços da unificação : unificação política sob as Monar-
mento científico. O esforço de toda nova astronomia de Copérnico, Ni- quias nacionais, unificação geográfica através do mapeamento de todo o
colau de Cusa e Galileu era no sentido de contestar a hierarquização e a globo terrestre, unificação da natureza sob o primado das leis universais.
finitude do espaço cósmico, conforme propo:;.to por Aristó"teles e Ptolo-
meu e reiterado pela Igrej ~O sonho desses astrônomos , nas palavras de Criação Individualizada ===::::::===- - - -
Descartes, era reduzir a ciência astronômica à matemática e demonstrar'======:.:.::::
a definição incomensurável do espaço e dos corpos estelares. Ora, o que Esse zelo racional totalizante de que os artistas pretendem cercar as
fizeram os pintores com a introdução da técnica da perspectiva linear foi obras de arte é uma indicação segura da concepção d a arte científica que
justamente a redução do espaço pictórico a um conjunto de relações ma- se origina com Brunelleschi e principalmente com A!berti, o primeiro a
temáticas e a sua projeção para o infinito indicado pelo ponto de fuga, teorizar que a matemática é o terreno comum da arte e da ciência. Nasce
ao invés do espaço fechado do mundo gótico e bizantino . Não havia d~ um novo orgulho do artista-- a pretensão de desfrutar de uma dig-
mais como separar a arte e a ciência, ambas representavam a vanguarda mdade social e cultural superior. Do âmago de sua lib erdade ele escolhe
da aventura burguesa da conquista de um mundo aberto e de riquezas o ponto de vista que vai fixar na tela para o regalo dos observadores . Se,
infinitas. graças ~ criação do espaço pictórico produzido pela técnica da perspecti-
Um fato notável e que não pode ser tomado como meramente ca- va, ~ pmtura aparece como uma janela aberta para o mundo, a ~!e cabe
sual é que dois dos maiores perspectivistas do Renascimento, Brunelles- decidu ?nde deve abrir essa janela e que cena deve mostrar. As~Im sen-
chi, o criador do método, e Dürer, que escreveu os mais completos trata- do, a cnação artística torna-se livre e cada artista torna-se um cnador In-
dos sobre a teoria das proporções humanas, haviam sido relojoeiros e ti- dividualizado . Brunelleschi foi 0 primeiro a romper ruidosamente com
nham uma longa prática na construção de relógios. Daí sua grande habi- as corporações de ofício, jogando rodo o peso de sua competência contra
lidade com o cálculo, o projeto, a mecânica e a precisão rigorosa . A visão os regulamentos medievais: a administração da cidade optou pelo arqui-
fixa e monocular por sua vez tornou-se uma prática habitual com a utili- teto e mandou os mestres que o perseguiam para a cadeia.
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--:' --·:-;-- · ·
E se a geração de Brunelleschi ainda se encontrava sob a tutela de - ti·a do homem dividido e fragmentado, preso à liberdade de
d a angus ,
· d"vi·dualidade, essa herança desconfortavel que todos trazemos do
mecenas como Cosme de Médici, que dominava Florença e encomenda-
suam
homem moderno e que é a marca propna a m~ d erni·d a d e. D eIa nasceu
I ' · d
va trabalhos aos artistas, seu neto, Lourenço de Médici, dito o Magnífi-
co, preferia comportar-se como colecionador, comprando obras de arte ·b .,.tà tão falada do comportamento de MJChelangelo, pelo seu ca-
a-tem tormentado
m · e1e 101
e sua arte tensa, pois .c · h
o ornem para quem a
Livremente elaboradas e vendidas pelos artistas em seus ateliês. Isso au- rater ·ae' ncia dessa divisão
. . - · um carater
-
mentava ainda mais a liberdade dos artistas, reforçava sua individualida- e fragmentaçao assumm agu d o,
consc I · .c · 1 · -
de e consagrava a formação de um mercado de obras de arte nas grandes num tempo trágico, marcado pelo movimento rewrmlSta, pe a mv~sao e
cidades. Livre das guildas, preservando sua autonomia ante os mecenas, e de Roma sob as ordens do imperador da Alemanha e pela cnse da
saqu
economia italiana diante . - 1_
das navegaçoes_ "b'encas.
. Com e_Ie tam b'~ma ar-
confirmados na sua individualidade, os artistas se esforçam para conse-
guir melhor posição social. Filarete passa a exigir que todos os artistas as- te renascentista se transforma _no ma~emsmo_, e. a placi~ez r~c10nal da
sinem seus quadros, que assim se tornavam a expressão da individuali- ''Última Ceia'' de Leonardo da lugar a turbulenc1a emocwnal mconuda
dade de seu criador, mas também um valor de mercado, pois o valor dos do "Juízo Final" da Capela Sistina.
quadros passa a ser medido também pelo prestígio de sua assinatura. Os
pintores pela primeira vez ousam pintar-se a si mesmos, privilégio antes
só reservado aos santos, aos nobres e aos grandes burgueses. Ghiberti es-
creve a primeira autobiografia que se conhece de um pintor e Vasari as
primeiras biografias dos grandes artistas de seu tempo. Ticiano conquis-
ta títulos de nobreza e freqüenta os círculos mais aristocráticos. Ê conhe-
cida a história, verdadeira ou não, de que o Imperador Carlos V se abai-
xou_para ~ nhar um pincel caído das mãos de Ticiano. É a imagem do
mecenas se submetendo ao artista. Tal é seu prestígio social já em mea-
dos do século XV, que eles se tornam nomes da moda, o que lhes dá
maior valor de mercado e maior prestígio a seus compradores e proteto-
res, reforçando todo o ciclo.
Mas essa espiral crescente de valorização da arte e do artista, como o
reforço de uma sociedade individualista e suntuosa, não poderia deixar
de ter conseqüências para ambos. Por exemplo, no que se refere ao rit-
mo de produção. Quanto mais rápido um artista produz, maiores enco-
mendas recebe, pois a rapidez de entrega se torna também um valor de
mercado. Mas para q~roduza tão rápi do_é_preciso que racionalize a
:..-==-=-=-=--...pro·duçao Cl as obras através da divisão social do trabalho. Assim sendo,
vários artistas e aprendizes participam da composição de uma mesma
obra de que o artista pouco mais faz do que o esboço geral e assinatura
final. Esse processo certamente aumenta seus dividendos, porém reduz
sua espontaneidade e sua individualidade.
Alguns tentam resistir a essa situação, exigindo um ritmo próprio
de trabalho e produção, como Leonardo da Vinci, que dizia: ''o pintor
deve viver só, contemplar o que seus olhos percebem e comunicar-se
consigo mesmo''. Mas o tempo e o espaço da contemplação não existem
mais numa sociedade de concorrência brutal, de ritmo frenético e de
profunda divisão social do trabalho. E se o artista pretende recuperá-lo,
só poderá fazê-lo isolando-se como Michelangelo e Tintoreto, que não
admitiam ninguém no seu ambiente de trabalho e toruaram-se homens
terrivelmeme sós. A solidão irremediável do artista moderno é um passo
para seu encerramento na torre de marfim de seu ofício e seu mergulho
na alienação completa. A alienação e a angústia por sua vez são a fonte
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diosidade e o mistério do destino individual de cada homem e a forma ção do mundo medieval para o moderno.
como ele joga com a sorte e com as circunstâncias históricas que o cercam A tônica das narrativas é a bu_sca da realiz;t~ão amorosa entre as per-
que preocupam essencialmente a imaginação de Dante . Menos que o di- sonagens, em sua conce_Pção ma1s _carn:l, pratica e terrena. Nesse jogo
vino, sua inquietação é com o humano, ou com o divino através do hu- algo brutal em que .se d1sputa a sat1sfaçao amorosa, entram em cena to-
mano. Ele assim é um homem de dois mundos, pois ao mesmo tempo das as emoções que movem os seres humanos, das mais baixas às ~is
em que resume a civilização medieval, sintetiza todas as perplexidades elevadas criando as mais variadas situações: ciúmes, embuste, traição ,
que assinalarão e dignificarão o homem moderno . honra ~alícia, sacrifício, vaidade, orgulho, humilhação, tenacidade,
etc. A~ regras, a ética e as convenções artificiais da sociedade são as gran-
Petrarca e Boccaccio des inimigas, a astúcia é a arm a principal, a fortuna (sorte) é a aliada in-
fiel, e a glória consiste na conquista do ser amado e n~ consumação do
Na mesma Toscana, onde praticamente nasceu a literatura renas- ato amoroso. Impossível imaginar uma concepção ma1s ·humana, terre-
centista, destacaram-se dois brilhantes ·continuadores dos esforços de na, prática e una da miserável condição humana e ~o teatro ~ômico do
Dante pela criação de um stzl nuovo (novo estilo): Francesco Petrarca cotidiano. Nada mais distante do universo metafísKo, celestial e casto
(1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1313 -1375). Muito embora fossem da Idade Média.
ambos contemporâneos, muito amigos e dois amantes incansáveis do~ À parte de sua obra literária, Petrarca e Boccaccio fizeram parte da
novos valores humanistas , suas obras seguem diretrizes muito diferentes primeira grande geração de fundadores e divulgadores da corre:ue h~
e assinalam duas vertentes diversas na literatura renascentista. Petrarca manista. Ambos eruditos, dedicaram-se a fundo ao estudo do laum clas-
foi o primeiro poeta a fazer de si mesmo, de suas emoções, de suas hesi- sico e realizaram inúmeras traduções e reedições de textos latinos, com-
tações e de sua perplexidade seu tema único e permanente . O seu Can- pondo , inclusive , parJe_de sua..o_hra.literáriaJLessu d ioma Seu..r.enome •---'=-.;;.......--'!
---=-cioneiro-;-que-resume cerca Cle 50 poemas , refere-se continuamente ao portanto, atravessou a Europa em todas as direções . A literatura e o hu-
seu amor desenganado pela jovem Laura, amada distante, inacessível e manismo italiano do século XIV ocupariam por isso um papel de desta-
alvo de um amor ao mesmo tempo sublimado e tenso, como o de Dante que singular no contexto do amplo processo de renovação cultural que
por Beatriz. agitava o continente. Nesse momento, a língua, a arte e as formas de
Nesses poemas Petrarca percorre todos os desvios de sua alma, pers- composição toscanas assumem o papel de primeiro plano como lingua-
cruta seus sentimentos mais íntimos, acompanha as oscilações mais sutis gem cultural, superando o dialeto da Provença, a langue d'oc, que pre-
do seu estado de espírito . Todos os recursos de seu lirismo se concentram valecera até então. É na musicalidade, no ritmo e nos metros da língua
para expor e glosar sua humanidade inquieta e frágiL Nesse sentido, a toscana que iriam buscar inspiração os franceses e espanhóis nesse ~o-
obra de Petrarca iria atingir um grau inédito de elaboração formal que rnemo, e seria pelo italianismo dos espanhóis e franceses que se gw~-
exploraria todas as possibilidades rítmicaS e musicais do idioma toscano, ram, numa segunda instância, os portugueses e os ingleses . Demoraria
dando-lhe uma plasticidade e sonoridade que impressionaram os con- muito para que as demais nações aprendessem a desligar-se do jugo cul-
temporâneos tanto dentro quanto fora da Itália. A forma preferida de tural italiano e fizessem sua própria arte . Isso só ocorreria quando c~da
1i
sua poesia , o soneto, receberia um tal acabamento em suas mãos que o uma dessas nações atingisse o auge de seu poderio econômico e polítiCO,
tornaria dominante em toda a produção lírica pelo menos até o século como ocorreria, por exemplo, com o Portugal de D. Manuel I e D . João
XIX. O mesmo ocorrendo com o verso decassílabo, por ele trabalhado III, com a Espanha do Século de Ouro e com a Inglaterra isabelina.
com tanta habilidade quanto o de Dante.
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Portugal, Espanha, França e Inglaterra ocorre com Dante Alighieri que, no ~eu trat~do De Vulgari Eloquentia,
procura fixar o padrão do que devena constrt~ir a língua literária italia-
Esse fenômeno é facilmente compreensível, .u ma vez que apenas a na Na França, um grupo de poetas renascentistas , reunidos num cená-
prosperidade comercial é que permitia a ~onstituição de núcleos urbanos cuio que se autodenominava ''a ~léi~-~e'_', estabele~e as regras do fran-
densos e ricos e cortes aristocráticas sofisticadas o suficiente para se trans- cês literário ao elaborar o tratado lmguistico denommado Defesa e Ilus-
formarem em público consumidor·de uma produção artístico-intelectual tração da Líng_u~ J!rancesa. Nesse se_ntido ~e:iam os sistem_atizadores de
voltada para a mudança dos valores medievais. Nessas condições somen- um esforç~ já IniCiado com~ refo~mista rel!gwso Jean Calvmo, que dera
te é que poderiam aparecer e manter-se um Rabelais, protegido por ho- ao francês uma elaboração literána refinada através de sua obra Institui-
mens ricos e poderosos, um alto magistrado da monarquia francesa co- ção da Religião Crist~. o. ou.tro gr~nde líder refor~~sta , Martinho Lute-
mo Montaigne, um cortesão espanhol com o Garcilaso de La Vega, o fi- ro, produziu uma prnne_ua orgamzação exata do Idioma ale:mão através
lho de um sapateiro rico como Marlowe ou um intelectual capaz de viver de sua tradução da Bíblia.
da renda de sua própria obra , como Erasmo de Rotterdam, num caso ex- É preciso, no entanto, não perder o sentido político desses esforços
tremo. É por essa razão que o movimento renascentista europeu segue de unificação lingüística. A rigor, qualquer dos dialetos de um país po-
num ritmo próprio em cada nação, sendo bastante prematuro na Itália e deria ser tomado como base para a constituição de seu idioma oficiaL
na Flandres, mas também declinando mais cedo na península italiana Contudo, só o foram aqueles dialetos que representavam as regiões he-
(em torno de 1527, com a invasão e saque de Roma). Arrasta-se pelo sé- gemônicas de cada país , por sua riqueza ou importância política como
culo XVI em Portugal, Espanha e França e termina no limiar do século sede da corte monárquica. Com efeito, na Itália é o toscano de matiz
XVII na Inglaterra. · florentino que se impõe como idioma nacional; na Espanha é o castelha-
Aliás , essa relação do movimento renascentista com a evolução das no da corte m adrilenha; na França é o dialeto da lle-de-France, região
monarquias européias não é nem um pouco acidentaL Um dos fatores onde se situava a corte parisiense, que se torna o idioma oficial; na In-
fundamentais de que careciam os Estados nascentes para centralizar e glaterra esse papel iria caber ao dialeto londrino; na Alemanha o idioma
concentrar o poder político sob seu completo controle era a definição e nacional derivaria da região da Saxônia, cujo príncipe eleitor acolheu e
imposição de uma língua nacional que acabasse com a fragmentação re- protegeu Lutero contra as perseguições movidas pelo imperador e pelo
presentada pelos inúmeros dialetos regionais e impusesse um padrão papado .
unitário à administração , aos estatutos e à cultura de cada país, dando-
lhe a unidade de um todo homogêneo e com uma identidade própria. Idiomas Nacionais
Nesse sentido, as pesquisas lingüísticas e filológicas dos humanistas vi-
nham justamente a calhar: elas permitiram a constituição dos vários A constituição dos idiomas nacionais, assim como a definição dos
idiomas nacionais, próprios de cada país europeu. Parece estranho ima- próprios limites territoriais de cada nação, seria, portanto, o resultado
ginar que os humanistas , tão preocupaâos em recup erar o latnn cla.ssKo , de-um gest o de força , atraves ao qual um Gia eto é e CitO como predom i-- - - -
tenham criado os fundamentos para definir os idiomas vulgares moder- n~nte, g_anha sistematização gramatical, passa a ser a base dos decretos,
nos . Mas precisamente porque desprezavam o latim degradado, usado l~Is e .éditos reais, ficando todas as demais línguas e falas regionais mar-
pela Igreja e pelas administrações regionais em fins da Idade Média, e gmal!zadas e iletradas, quando não, proibidas . Francisco I, da França,
buscavam o latim clássico do período áureo do Império Romano , uma por exemplo, através da ordenança de ViHe.rs-Cotterêts, impõe que to-
língua que ninguém mais - exceto eles - conhecia ou saberia falar, dos o_s processos e trâmites judiciais só fossem conduzidos em francês .
acabaram condenando .o latim medieval à ruína e à extinção. Henrique VII da Inglaterra impôs a Bíblia traduzida no inglês da sua
Por outro lado, os intelectuais e letrados do Renascimento , desejo- corte às escolas dominicais e paróquias de todo o país . O poder econômi-
sos de compreender, exaltar e interferir na vida cotidiana e concreta das co, o poder polít~co _e a ~riação cultural aparecem, portanto, mais uma
cidades e dos Estados, procuraram em suas obras o recurso de uma lín- vez como _sendo mdissociavelmente ligados .
gua que chegasse a camadas mais amplas possíveis da população, a fim • A varu:~ade da produção literária renascentista é muito grande . Os
de conquistá-las para seus projetos e suas idéias de mudança. Nesse sen- ge~ero.s utilizados pelos literatos geralmente remetiam aos gêneros da
tido, a intenção desses escritores coincidia plenamente com a dos senho- ~n~gmdade ~lássi.ca, como é fácil de supor. Tínhamos assim o poema
res e dos monarcas que os sustentavam. Assim, Antonio de Nebrija- epico, a_p?esia línca, o drama pastoral, as narrativas satíricas, a tragédia
o~ ~ebrija- (1444-15 32), um humanista espanhol, escrevia o primeiro e~ com~dia, dentre outros. As formas e os metros eram quase todos de
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e~çao Ita Ia~a? _que remontav~ em grande parte ao período de ap~ -
~IclOnário latino-castelha..'1o e uma gramática castelhana que fornece-
nam as bases para a formação do idioma espanJ10l moderno. O mesmo g da corte siciliana de Fredenco li : o soneto, o verso decassílabo e a oi-
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tava (estrofe de oito versos) . Portanto, se os gêneros eram antigos, as for- •
mas de composição eram novas, assim como a preocupação de criar na -~ Epopéia
língua nacional, explorando-lhe todas as possibilidades musicais, rítmi- -
cas, e as rimas . No conjunto, pois, não se tratava de restaurar gêneros Mais notáveis, porém, pelo seu significado histórico~ _são as epo-
~- uavés das quais os poetas procuram enaltecer e glorificar suas na-
antigos, mas de servir-se deles para veicular novos conteúdos sob formas
p:Ias, ~ergentes legitimando simbolicamente os Estados monárquicos
que suscitavam uma nova sensibilidade.
çoes e centraliza~am e agigantavam nesse período. Praticamente em to-
que se . 1 - d
d asas nações tentou-se, com maiOr
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ou menor sucesso, essa exa taçao o
r · d d ·
Poesia JLírica poder temporal e das conquistas_ e ld'eitos de arm~s as casasf_ red1nantes,
uevistas como um esforço coletivo e to a a naçao com o Ito e cum-
O gênero mais freqüentemente explorado é a poesia lírica tal como ;ir seu destino predestinado de exercer a he~emonia sobre todos os po-
concebida por Petrarca. Seus grandes expoentes fora da Itália seriam vos. Temos assim a Francíada (1562) de P1erre de Ronsard, a Fmry
Clément Marot (1495-1544), Maurice Sceve (1501-1562) e os poetas da Queen (1596) de Edmund Spenser, a Dragontea (1958) de Lope deVe-
Pléiade na França; Gru-cilaso de La Vega (1503-1536) e Fernando Herre- ga e Os Lusíadas (1572) de Luís de Camões. Também aqm o modelo se-
ra (1534-1597) na Espanha; Luís de Camões (1524-1580) em Portugal. guido é 0 da epo~éia_ clássica, mas os sistemas rítmico~ e de versificação
A temática é sempre intimista e apaixonada, dedicada à expansão do ' seguem 0 padrão Italiano. De qualquer forma, pouco rmportam as pr~
sentimento sublimado de um amor fervoroso por uma amada sempre cedências dos recursos de que lançaram mãos os poetas nesse caso, ·pois
longínqua e inatingível. Esse lirismo de fundo platônico tem um forte seu objetivo era um só: o de instituir uma alma nacional e o culto de
elemento místico, com a amada representando o bem, o belo, a perfei- crenças e valores nacionais - fundar mesmo a idéia de nação e prognos-
ção, numa idealização que a identifica em última instância com a fé na ticar, desde já, o seu destino glorioso, único e preponderante.
salvação pela abnegação, pelo sacrifício e pela contenção dos impulsos
mais instintivos do homem.
O poeta leva a sublimação de sua paixão intensa ao ponto de atingir Teatro
um estado febril de excitação, que definiria o impulso criativo como um
arrebatamento de inspiração poética e ao mesmo tempo um fervor mís- Outro dos gêneros recuperados da antiguidade clássica e que encon-
tico que o eleva a regiões superiores do intelecto e do espírito . É dessa traria uma enorme aceitação nesse período foi o teatro, nas suas duas
sensação de elevação que nasce uma consciência do papel superior que vertentes antigas: a tragédia e a comédia. A arte cênica, contudo, tivera
cabe ao poeta na sociedade, qual um ser inspirado que fala aos homens um grande desenvolvimento durante a Idade Média através de represen-
comuns sobre uma realidade acima de suas pálidas existências cotidia- tações de cenas religiosas: os Mistérios, as Paixões e os Milagres. Tratava-
nas. O poeta assim seria um experimentador que explora, avalia e anun- se de representações de cenas do Evangelho ou da história da vida da
cia os limites mais extremos da emoção, da sensibilidade e da imagina- Virgem e outros santos, efetuadas normalmente na parte frontal das
ção humanas . ----iF-=igrejas ou as p raças maiores-das ciâ.ades , povoaâ.os e alâ eias . Er"'a~="'===clf-,
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organizadas pelo clero em colaboração com as corporações de artesãos e
da _População de forma geral, que era quem desempenhava os vários pa-
Poesia Pastoral péis envolvidos na peça. Portanto, a participação e a receptividade po-
pular eram intensas. Não havia mesmo qualquer separação entre palco e
Outro gênero de grande sucesso na literatura renascentista é a poe-
platéia: todos estavam envolvidos na peça só pelo fato de estarem pre-
sia pastoral, baseada nos poemas bucólicos de Virgílio. Seus grandes re-
sentes. Os cenários eram simultâneos, permanecendo todos armados um
presentantes seriam Torquato Tasso (Aminta, 1572) e Sanazzaro (Arca-
ao lado do outro , independentemente de qual estivesse sendo usado, e
dia, 1502) na Itália; Jorge Montemayor (Diana Enamorada, 1542), Cer-
os próprios atores ficavam o tempo todo na cena, mesmo que não tives-
vantes (Galatéia, 1585) e Lope de Vega (Arcadia, 1599) na Espanha;
s~m. par~icipação no ato em representação. Ao espectador-ator caberia
Honoré d'Urfé (I'Astrée, 1607) na França e Edmund Spenser (O Calen-
distinguir, pelo andamento do conjunto da peça, a que cenário deveria
dário dos Pastores, 1579) na Inglaterra. Coleções de contos, ou novelas, atentar e a ação de quais atores deveria acompanhar , d esconsiderando
com narrativas satíricas, picarescas ou edmcantes também tiveram gran- todos os elementos que não participavam do ato, embora se mantives-
de voga desde o Decameron de Boccaccio. Célebres nessa linha são o sem em cena.
Heptamerão da Rainha Margarid<J de Navarra (1492-1549) e as Novelas . A prin:eira tragédia clássica publicada em lí.t1gua popular no Renas-
Exemplares (1613) de Cervantes. Cimento foi a Sofonisba (1515) de Giangiorgio Trissino, humanista ita-
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_. _----'"~-'"~~ · --~t'-'""' pv1 1uLcHv c~~c genero clássico, o autor se- bis 0 anglicano . Mas a figura mais proeminent~ desse círculo era
guiu as normas da tragédia grega, dando à peça unidade de tempo, de de.~ Sph kespeare (1564-1618), filho de um fabncante de luvas e
Wdharnd ales que foi ator pro fi!SSIOn . ai , passao d o em segm'da a socio, .
espaço e de ação . Como se pode ver, essa ordenação interna da peça era
completamente estranha às encenações populares medievais, dando à roupas e pe hia teatral e por fim empresário teatral, acabando a vida
de sua compan , .
representação uma linearidade, uma disciplina e uma racionalidade que . um próspero empresano . . , . , _
obrigavam além do mais a uma separação decisiva entre o palco e o pú- com~ história de Shakespeare. é ~I? pouco a histona na sua geraçao ~ a
blico e impunham a utilização de atores profissionais . Segundo essa con- · londrina uma h1stona de trabalho, esforço, poupança, m-
da burguesia · ' d , . .
cepção teatral, cada cenário aparece e desaparece quando a ação que ne- · ascensão social. Tanto que uma as temaucas centrais na
vesumento e , _ d · 1
le se desenrola principia e acaba, cada personagem só permanece no pal- obra desse dramaturgo e a noça~ de or em, posta em pengo pe a amea-
co enquanto tem uma função significativa na cena e as ações se sucedem r do caos e da anarquia, como em Macbeth, Hamlet ou Hen-
ça d as I Orças . b r
rique IV, suas grandes tragédias ..Sduasdsifumpadtlads recaia_m. ~o re um rorte
o -
I
um ourives; Christopher Marlowe (1564-1593), filho de um sapateiro; identificação com as doutrinas e as diretrizes da Contra-Reforma catóhca
Ben Janson ( 15 72-163 7), que trabalhou com o padrasto, o qual era pe- seria completa e o arrastaria para os ideais do maneirismo e do barroco·
drmo, foi soldado e ator profissional : Thomas Dekker (1570-1641), fi-
lho de um alfaiate; Francis Beaumont (1584-1616), filho de um juiz e
John Fletcher (1579-1625), que fez seus estudos em Cambridge, filho
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i.-
9. Como se deu a evolução da técnica da perspectiva no Renas-
Discuti V"~ do o texto cimento e de que forma a perspectiva revolucionou a concepção
das anes plásticas'
1O. A arte renascentista era uma arte popular' A que classe social
pertenciam os artistas e a quem dirigiam sua ane'
11. Como se expressava a indiviclualiclacle do artista renascentista em
relação ao mecenas e às exigências de um mercado de ane
emergente?
12. Por que dizemos que a Diuina comédia ele Dame Alighieri é o
1. A Baixa Idade Média caracterizou-se por um período ele profundas marco mais significativo. embora um tanto quanto ambíguo. ela
mudanças estruturais em nível político, econômico e social. criação literária moderna?
Aponte as principais diretrizes desse período de mudanp. 13. Quais as contribuições que os intelectuais e letrados do Renas-
2. O que foi a crise do século XIV e como se pode relacioná-la -co1n cimento forneceram à constituição elos idiomas nacionais?
o período subseqüente (século XV), em que há um desenvol\'i- 14. Estabeleça uma comparação entre as represemações teatrais
mento econômico (Revolução Comercial), político (form:~çào das medievais e as representações teatrais renascentistas (leia o
monarquias nacionais), social (forralecimemo ela burguesia) ç parágrafo referente à tragédia Sojonisba, de Trissino, para carac-
cultural (Renascimento)? terizar estas últimas).
3. De que forma os interesses da burguesia, filiada às grandes casa-; 15. Como explicar a aparente contradição entre a cultura renascentista
comerciais, e dos monarcas se estreitaram originando o processo na Itália, comprometida com a ordem e a liberdade do espírito
de formação dos Estados nacionais (século XV)? humano, e a situação de caos e opressão que caracteriza o
4. a) De que maneira o desenvolvimento do comércio e o do saber panorama político das cidades italianas, no início desse período
técnico-científico se relacionam? (séculos XIII e XIV)?
b) Como essa relação se espelha na produção artística renas- 16. Quais os três momentos em que é tradicionalmente dividido o
centista, principalmente no campo das artes plfisticas' Renascimento italiano' Identifique as principais características ele
5. O título de humanistas sofreu mudanças no decorrer do século XV'. cada um, apontando seus representantes máximos .
A quem se identificava inicialmente corno humanistas e qual c1 17. Destaque as característica s que denotam a raiz. burguesa da arte
novo sentido que tal título adquiriu posterionnenre' renascentista flamenga.
6. Explique o que é antropocentrismo. 18. Descreva as condições do surgimento da ane renascentista fran-
7. A universalidade do humanismo não determinou uma unidade clt· cesa e caracterize-a.
pontos de vista, surgindo, pois, várias correntes. Identifique a.·. 19. Por que a penetração das idéias renascentistas na Espanha se deu
principais correntes, salientando suas características ~·entrais t· tardiamente e qual o morivo de stta curta vigência?
seus representantes mais significaüvos.
8. Trace um paralelo entre a ane medieval e a arte renascentista
relacionando o sentido de cada uma delas no interior elo conrextc·
histórico vivido pelas suas respectivas sociedades.
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