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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) FEDERAL DA __ª VARA DO TRABALHO


DE BELÉM-PA

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

MM. JUIZ(A)

DAVI GUILHERME TORRES PINTO, brasileiro, solteiro,


empregado público, portador da CI. n. 1389238 (PC/PA) e inscrito
no CPF sob o n. 198.100.082-87, residente e domiciliado em
Passagem Alegre, n. 73, Pedreira, CEP: 66.087-760, Belém/PA,
vem, com a ordinária reciprocidade de respeito, por intermédio
de seus advogados in fine assinados, ut instrumento de
procuração (anexo – Doc. 01), com fundamento na lei (CLT, art.
840), propor esta RECLAMAÇÃO TRABALHISTA em face do CONSELHO
REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL DA 12ª REGIÃO –
CREFITO-12, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ
sob o n. 06.282.646/0001-95, com endereço nesta cidade de
Belém/PA à Travessa 14 de abril, n. 2093, Guamá, CEP: 66063-475,
na pessoa de seu representante legal, conforme os elementos
fáticos e jurídicos a seguir delineados:

1 – CAUSA DE PEDIR

1.1. BREVE SINOPSE FÁTICA

No dia 11.01.2006, o Reclamante foi contratado pelo


Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 12ª
região – CREFITO-12, para exercer a função de auxiliar no setor
de serviços gerais, percebendo salário inicial no valor de R$
366,00, consoante CTPS anexa (anexo – Doc. 02).

As atividades do Obreiro consistem na limpeza geral dos


ambientes da Reclamada, inclusive dos banheiros os quais somam 8
(oito) unidades, além do recolhimento de lixo, estes últimos com
frequência diária, consoante memorando em anexo (anexo – Doc.
03). Leia-se:
Em virtude das próprias atividades, o Obreiro fica
exposto a agentes insalubres como bactérias, fungos, bacilos,
parasitas, protozoários, vírus, entre outros, razão pela qual o
Obreiro deveria receber os EPIs devidos, como bota, luva e
óculos de proteção, conforme será fundamentado no item de
direito respectivo, sem prejuízo de outros EPIs que venham a ser
informados como necessários nos termos dos documentos
laborambientais a serem, eventualmente, apresentados pela
Reclamada.

Anexa-se, ainda, fotos dos banheiros que o Obreiro faz


as limpezas, para demonstrar a situação em que os lixeiros se
encontram nos momentos de recolhimento. Veja-se
exemplificativamente (anexo – Doc. 04):
Todavia, apesar de exposto a agentes insalubres, o
Reclamante sempre recebeu somente a luva, sendo que esta era
renovada somente mediante solicitação do Obreiro e, somente, no
ano de 2023, recebeu botas e foi informado que lhe será entregue
uniforme, mas ainda não houve o efetivo fornecimento.

Destaque-se que a exposição do Reclamante é direta e


habitual, tendo em vista que, em seu fluxo normal de trabalho,
realiza a limpeza dos banheiros e recolhimento do lixo no âmbito
do CREFITO, diariamente, consoante memorando fornecido pelo
próprio Reclamado (anexo – Doc. 03), frisando que, ao longo do
pacto laboral de quase vinte anos, somente no ano de 2023 lhe
entregaram a bota.

Além disso, também não houve treinamento adequado


quanto à utilização dos EPI’s e tampouco fiscalização para
suporte quanto ao correto uso destes.

Frise-se que o CREFITO é uma autarquia, responsável


pelo atendimento de profissionais a ele vinculados – como
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, além do atendimento
às mais variadas demandas vindas do público externo em geral -
de maneira que a limpeza feita pelo Obreiro diferencia-se
completamente daquela realizada em escritórios e residências,
além de ser indubitável o atendimento ao público externo, nos
termos do memorando anexo (anexo – Doc. 03).

Assim, diante da rotina de trabalho supramencionada e,


notadamente, diante da exposição a substâncias insalubres, bem
como a ausência do pagamento (anexo – Doc. 05) o Autor faz jus à
percepção de adicional de insalubridade, consoante previsão da
Norma Regulamentadora 15, Anexo 14 do MTE. Desta forma, requer-
se que o Reclamado seja condenado ao pagamento do adicional de
insalubridade em grau máximo (40%), em parcelas vencidas pelo
período de 01.09.2017 a 31.03.2023, e em parcelas vincendas, a
partir de 01.04.2023, tudo com os devidos reflexos em férias +
1/3, 13º salário e FGTS, considerando o contato do Obreiro com
agentes insalubres.

Outrossim, também requer o Autor – a teor dos fatos e


fundamentos já expostos e dos que serão objeto de item próprio –
a concessão de tutela de urgência, para que seja determinado à
Reclamada que forneça todos os equipamentos de proteção
individual (EPI’s) devidos ao Obreiro – bota, luva e máscara1 -
devendo os referidos EPI’s gozarem de Certificado de Aprovação
(CA) pelo Ministério do Trabalho / Economia, na forma da NR n.
6, bem como serem renovados com a periodicidade indicada pelo
fabricante de cada produto, e sempre antes do desgaste que vier
a diminuir sua eficácia.

Independentemente da concessão do provimento de


urgência, requer-se, ainda, que ao final da lide seja condenada
o Reclamado ao cumprimento dessa obrigação de fazer.

Por todo o exposto, o Reclamante ajuíza a presente


reclamação trabalhista para que sejam assegurados os seus
direitos trabalhistas, conforme a seguir.

1.2 – DO DIREITO APLICÁVEL À ESPÉCIE

A par dos elementos fáticos acima delineados, os


fundamentos jurídicos não permitem que seja suscitado qualquer
tipo de dúvida quanto à procedência e legitimidade do presente
pleito. Senão vejamos:

1.2.1 – DA EXPOSIÇÃO DIRETA A AGENTES INSALUBRES (LIXO


URBANO) – DIREITO AO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE EM GRAU MÁXIMO –
NORMA REGULAMENTADORA 15, ANEXO 14 – PREVISÃO CONTIDA
ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL

Conforme exposto ao norte, o Reclamante vem sendo


exposto diretamente e de forma habitual a agentes biológicos
nocivos em virtudem da limpeza de vasos e aparelhos sanitários
de uso coletivo e recolhimento de lixo, sem a utilização dos
EPI’s obrigatórios e sem que tenha havido o pagamento do
adicional de insalubridade devido.

Primeiramente, quanto aos EPIs necessários, é sabido


que o trabalhador que labora em atividades como limpeza de
banheiros e recolhimento de lixo fica exposto a agentes
biológicos como bactérias, fungos, bacilos, parasitas,

1 Sem prejuízo de outros EPIs que venham a ser informados como necessários nos
termos dos documentos laborambientais a serem, eventualmente, apresentados
pela Reclamada ao longo da instrução processual.
protozoários, vírus, entre outros, devendo receber, pelo menos,
bota, luva e óculos de proteção.

Ademais, segundo a Norma Regulamentadora n. 06 (anexo –


Doc. 06), “considera-se EPI o dispositivo ou produto de uso
individual utilizado pelo trabalhador, concebido e fabricado
para oferecer proteção contra os riscos ocupacionais existentes
no ambiente de trabalho”.

Desse modo, estando o Obreiro exposto a estes agentes,


deve fazer uso dos EPIs devidos.

Notadamente quanto aos agentes biológicos e o risco de


exposição, a Norma Regulamentadora n. 15, em seu Anexo 14(anexo
– Doc. 07), regulamenta a insalubridade em grau máximo para
operações que tenham contato direto e habitual com lixo urbano,
conforme abaixo em destaque:

ANEXO Nº 14 - AGENTES BIOLÓGICOS

Insalubridade de grau máximo

Trabalho ou operações, em contato permanente com:


- pacientes em isolamento por doenças infecto-
contagiosas, bem como objetos de seu uso, não
previamente esterilizados;

- carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos,


couros, pêlos e dejeções de animais portadores de
doenças infectocontagiosas (carbunculose,
brucelose, tuberculose);

- esgotos (galerias e tanques); e

- lixo urbano (coleta e industrialização).

Nesta toada, o C. TST já consolidou o entendimento de


ser devido o adicional em grau máximo em caso limpeza de
banheiros e recolhimento de lixo em áreas de uso público:

Súmula nº 448 do TST


ATIVIDADE INSALUBRE. CARACTERIZAÇÃO. PREVISÃO NA
NORMA REGULAMENTADORA Nº 15 DA PORTARIA DO
MINISTÉRIO DO TRABALHO Nº 3.214/78. INSTALAÇÕES
SANITÁRIAS. (conversão da Orientação
Jurisprudencial nº 4 da SBDI-1 com nova redação
do item II ) – Res. 194/2014, DEJT divulgado em
21, 22 e 23.05.2014.
I - Não basta a constatação da insalubridade por
meio de laudo pericial para que o empregado tenha
direito ao respectivo adicional, sendo necessária
a classificação da atividade insalubre na relação
oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho.
II – A higienização de instalações sanitárias de
uso público ou coletivo de grande circulação, e a
respectiva coleta de lixo, por não se equiparar à
limpeza em residências e escritórios, enseja o
pagamento de adicional de insalubridade em grau
máximo, incidindo o disposto no Anexo 14 da NR-15
da Portaria do MTE nº 3.214/78 quanto à coleta e
industrialização de lixo urbano. (Destacou-se)

Não é por outra razão que todas as turmas deste E.


Tribunal Regional da 8ª Região têm entendido pelo deferimento do
adicional de insalubridade em grau máximo em casos como o que
ora se discute. In verbis:

EMENTA
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. LIMPEZA DE BANHEIRO
DE USO COLETIVO. A limpeza de banheiro escolar
não pode ser equiparada à limpeza em residências
ou escritórios, por ser de uso coletivo, de
grande circulação, ensejando o pagamento do
adicional de insalubridade no grau máximo. Nesse
sentido, a Súmula nº 448, II do C. TST. Recurso
não provido. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.
CONFIGURAÇÃO. As empresas reclamadas integram o
mesmo grupo econômico, mantendo-se a sentença
quanto à sua condenação solidária ao pagamento
dos créditos trabalhistas devidos ao reclamante.

(TRT da 8ª Região; Processo: 0000492-


14.2021.5.08.0129 ROT; Data: 10/06/2022; Órgão
Julgador: 1ª Turma; Relator: IDA SELENE DUARTE
SIROTHEAU CORREA BRAGA)(Destacou-se)

EMENTA
I-RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. LEGITIMIDADE.
SINDICATO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. O
Sindicato tem legitimidade para defesa de
direitos individuais homogêneos dos integrantes
da categoria, na forma do artigo 8º, III, da CF.
Configuram-se como direitos individuais
homogêneos aqueles postulados de origem comum,
nos termos do artigo 81, III, do Código de Defesa
do Consumidor. PRELIMINAR REJEITADA. II-RECURSO
DA RECLAMADA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. GRAU
MÁXIMO. Cabe ao empregador a responsabilidade de
zelar pela redução e/ou eliminação dos riscos
inerentes ao trabalho de seus empregados (artigos
154 a 201 da CLT), devendo provar nos autos a
higidez e segurança na prestação de labor da
trabalhadora (art. 818, II, da CLT e art. 373,
II, do CPC/2015), o que não ocorreu nos presentes
autos. Pelas provas acostadas aos autos,
confirmou-se que os substituídos trabalham em
condições insalubres em contato com agentes
químicos e bacteriológicos e recolhimento de lixo
na limpeza de banheiros de grande circulação de
pessoas, conforme previsão contida na Súmula 448,
II, do C. TST. SENTENÇA MANTIDA. 1 DO

(TRT da 8ª Região; Processo: 0000669-


41.2021.5.08.0011 ROT; Data: 02/02/2023; Órgão
Julgador: 2ª Turma; Relator: MARIA DE NAZARE
MEDEIROS ROCHA)

EMENTA
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. EXPOSIÇÃO A AGENTES
QUÍMICOS E BIOLÓGICOS. ATIVIDADE DE LIMPEZA DE
BANHEIROS. PROCEDÊNCIA. A jurisprudência atual do
Colendo TST, consubstanciada na sua Súmula 448,
considera que a higienização de instalações
sanitárias de uso público ou coletivo de grande
circulação, e a respectiva coleta de lixo, por
não se equiparar à limpeza em residências e
escritórios, enseja o pagamento de adicional de
insalubridade em grau máximo. Desta feita, por
disciplina judiciária, há de se reconhecer o
direito da obreira ao sobredito adicional no grau
máximo, porquanto restou incontroverso que ela
realizava a higienização de instalações
sanitárias de uma escola pública.

(TRT da 8ª Região; Processo: 0000624-


94.2022.5.08.0207 ROT; Data: 08/02/2023; Órgão
Julgador: 3ª Turma; Relator: MARIO LEITE SOARES)
(Destacou-se)

EMENTA

DIFERENÇAS DE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. GRAU


MÁXIMO (40%). LIMPEZA DE BANHEIRO COLETIVO.
GRANDE CIRCULAÇÃO. DEVIDAS. A limpeza de banheiro
escolar não pode ser equiparada à limpeza em
residências ou escritórios, por ser de uso
coletivo, de grande circulação, o que enseja o
pagamento do adicional de insalubridade no grau
máximo (40%). Nesse sentido, a Súmula n. 448, II,
do TST. Recurso improvido.

(TRT da 8ª Região; Processo: 0000080-


29.2019.5.08.0202 ROT; Data: 14/12/2022; Órgão
Julgador: 4ª Turma; Relator: WALTER ROBERTO PARO)
(Destacou-se)

Diante do exposto, resta claro que o Obreiro faz jus ao


adicional respectivo, nos termos da Norma Regulamentadora n. 15,
em seu Anexo 14, razão pela qual pugna-se pela condenação do
Reclamado ao pagamento do adicional de insalubridade em grau
máximo (40%), em parcelas vencidas pelo período de 01.09.2017 a
31.03.2023, conforme memorial de cálculos que integra a exordial,
e em parcelas vincendas, a partir de 01.04.2023, tudo com os
devidos reflexos em férias + 1/3, 13º salário e FGTS.

1.2.2 - DA TUTELA DE URGÊNCIA – PREENCHIMENTO INTEGRAL


DOS REQUISITOS

O Autor requer a concessão de tutela de urgência, para


que seja determinado ao Reclamado que forneça todos os
equipamentos de proteção individual (EPI’s) devidos ao Obreiro –
bota, luva e máscara - devendo os referidos EPI’s gozarem de
Certificado de Aprovação (CA) pelo Ministério do Trabalho /
Economia, na forma da NR n. 6, bem como serem renovados com a
periodicidade indicada pelo fabricante de cada produto, e sempre
antes do desgaste que vier a diminuir sua eficácia.2

No caso sub examine estão presentes todos os requisitos


para concessão da tutela pretendida, conforme exposição a
seguir:

1.2.3.1 – DA VEROSSIMILHANÇA – DA PROBABILIDADE DO


DIREITO

A verossimilhança se consubstancia pelas seguintes


nuances:

2
Sem prejuízo de outros EPIs que venham a ser informados como necessários nos
termos dos documentos laborambientais a serem, eventualmente, apresentados
pela Reclamada ao longo da instrução processual.
a) A comprovação prévia da exposição constante
habitual do Autor ao lixo urbano e substâncias orgânicas
decorrentes da limpeza das privadas, eis que imprescindível para
o exercício da sua atividade ordinária na empresa (anexo – Doc.
03);

b) A demonstração, inclusive por foto, do contato com


o lixo urbano (anexo – Doc. 04);

c) O reconhecimento, por meio da NR 15 do contato com


lixo urbano como agente ensejador do pagamento do adicional em
grau máximo (anexo – Doc. 07);

d) A circunstância do pleito estar amparado na


jurisprudência trabalhista, pela Súmula 448 do C. TST, além de
tratar de direito deferido por todas as turmas desde E. TRT,
conforme demonstrado alhures.

Patente, pois, o cumprimento do intitulado requisito


necessário à concessão da medida liminar pretendida, pois o
conjunto probatório apresentado evidencia que o Obreiro faz jus
ao direito requerido.

1.2.3.2 – DO PERIGO NA DEMORA – DO PERIGO DE DANO

Por sua vez, o perigo da demora reside no grave risco à


saúde ao qual está exposto o Autor, em virtude do contato com os
agentes insalubres sem o fornecimento adequado dos EPI’s
devidos, o que pode vir a lhe causar doenças graves e danos
irreparáveis, havendo ofensa direta aos seus direitos
fundamentais constitucionais mais básicos, entre eles o direito
à vida, direito à saúde e qualidade de vida.

Isto posto, percebe-se que também o perigo da demora


corrobora a concessão do pleito de urgência.

1.2.3.3 – DO PERICULUM IN MORA INVERSO – DO PERIGO DE


IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DA DECISÃO - INEXISTÊNCIA

O art. 300, §3º do CPC, aduz:

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada


não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Ocorre que in hoc casu o perigo da demora inverso é
desprezível, e sequer deve ser considerado, consoante se verá.

Isso porque, a tutela de urgência se destinada tão


somente a compelir o Reclamado a fornecer os equipamentos de
proteção individual adequados às atividades insalubres
desempenhas pelo Autor.

Destarte, não se vislumbra perigo de irreversibilidade


do provimento antecipatório que justifique a não concessão da
liminar pretendida neste momento, inexistindo o risco do
periculum in mora reverso, pois, não estar-se-á imputando
qualquer obrigação de pagar, mas sim, de fazer, com o fim de
resguardar a integridade física e a segurança do trabalhador,
logo, não há razão para se considerar que o pleito do Obreiro
não será atendido por este D. Juízo, inclusive em sede de tutela
de urgência, como medida de justiça.

Por todo o exposto, fica patente que a concessão da


tutela antecipada não encontra óbice no art. 300, §3º do CPC.

1.2.3 - DA APLICAÇÃO DA LEI. N. 14.010/2020 – DA


SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

Na esfera trabalhista operam dois tipos de prescrição –


a total e a parcial – sendo que esta afeta as obrigações de
trato sucessivo que, ao se renovarem continuamente, prorrogam o
marco inicial da contagem da prescrição.

Nesta senda, a Lei n. 14.010/2020, com vigor a partir


de 10.06.2020, ao versar sobre algumas das medidas
governamentais mais relevantes e urgentes, com vistas ao
enfrentamento jurídico da pandemia mundial, disciplinou o Regime
Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de
Direito Privado (RJET) no período da pandemia do coronavírus
(Covid-19), o qual também tratava, especialmente, em seu art.
3º, dos prazos prescricional e decadencial provenientes das
relações jurídicas pátrias, no período compreendido entre
20.03.2020 e 30.10.2020. Observe-se:

Art. 3º Os prazos prescricionais consideram-se


impedidos ou suspensos, conforme o caso, a partir
da entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro
de 2020.
§ 1º Este artigo não se aplica enquanto
perdurarem as hipóteses específicas de
impedimento, suspensão e interrupção dos prazos
prescricionais previstas no ordenamento jurídico
nacional.

§ 2º Este artigo aplica-se à decadência, conforme


ressalva prevista no art. 207 da Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
(Destacou-se)

Como se nota, o art. 3º da Lei n. 14.010/2020 é claro


ao afirmar que estão suspensos os prazos prescricionais no
período acima referenciado.

Por sua vez, em que pese a novel legislação ser


bastante recente, os Tribunais Regionais do Trabalho vêm
aplicando a mesma para fins de suspensão/impedimento de prazos
prescricionais trabalhistas. Confira-se:

EMENTA

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE AFASTADA. REFORMA


TRABALHISTA. DIREITO INTERTEMPORAL. SUSPENSÃO DA
PRESCRIÇÃO. É sabido que com a Reforma
Trabalhista ficou expressamente previsto que,
acaso o exequente deixe de promover uma
determinação no curso da execução, ficando inerte
por mais de dois anos, o juiz poderá reconhecer a
prescrição intercorrente do crédito trabalhista.
Entretanto, prevalece nesta e. 1ª Turma Julgadora
o entendimento de que para fazer valer a nova lei
o magistrado condutor do processo deve
primeiramente advertir a parte contra qual passou
a correr o prazo prescricional do disposto no
art. 11-A da CLT, pois seguindo esse ritual
estar-se-á preservando a característica
fundamental do novo modelo de processualística,
que é pautado na colaboração entre as partes e no
diálogo com o julgador. Logo, nos casos em que
não se segue esse caminho, afasta-se a pronúncia
da prescrição intercorrente e determina-se o
cumprimento do novo rito. Some-se a isso a
necessidade de serem observadas eventuais causas
suspensivas da prescrição alegadas pelo
interessado, como a disposta no artigo 3º da Lei
n. 14.010/2020, previamente debatida na origem.
Agravo provido. (TRT da 23.ª Região; Processo:
0064100-70.2008.5.23.0081; Data: 26-03-2021;
Órgão Julgador: Gab. Des. Paulo Barrionuevo - 1ª
Turma; Relator(a): PAULO ROBERTO RAMOS
BARRIONUEVO) (Destacou-se)

EMENTA
PRESCRIÇÃO BIENAL. AVISO PRÉVIO INDENIZADO.
CONTAGEM DO PRAZO. Considerando que o artigo 3º
da Lei 14.010/2020, que dispõe sobre o Regime
Jurídico Emergencial e Transitório das relações
de direito privado no período da pandemia do
coronavírus (COVID-19), estabelece a suspensão
dos prazos prescricionais a partir do início da
sua vigência até 30.10.2020, e ajuizada a ação em
10.08.2020, ou seja, na vigência da mencionada
Lei, não há falar em prescrição total. (TRT-3,
Processo: RO - 0010504-06.2020.5.03.0180,
Redator: Convocada Sabrina de Faria F.Leao, Data
de julgamento: 11/02/2021, Décima Terceira Turma,
Data da publicação: 12/02/2021) - (Destacou-se)

EMENTA
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. LEI Nº 14.010/2020.
SUSPENSÃO DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS. Passados
mais de dois anos desde a entrada em vigor da Lei
nº 13.467/17 (11/11/2017), mostrar-se-ia bastante
razoável que se pusesse fim ao processo,
especialmente porque a partir desta data, também
passou a ter vigência a nova redação do art. 878
da CLT que determina que a execução seja
promovida pela própria parte interessada quando
estiver representada por advogado. Ocorre que, em
10/06/2020, entrou em vigor a Lei nº 14.010/2020,
que dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e
Transitório das relações jurídicas de Direito
Privado no período da pandemia do coronovírus
(COVID-19), e que prevê em seu artigo 3º que "Os
prazos prescricionais consideram-se impedidos ou
suspensos, conforme o caso, a partir da entrada
em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020."
Dessa forma, os prazos prescricionais ficaram
suspensos do dia 10/06/2020 até 30/10/2020. Não
considerada a suspensão pelo juízo de origem, é
de ser dado provimento ao agravo de petição do
exequente. (TRT-3; Processo: AP - 0010314-
92.2016.5.03.0112; Órgão Julgador: Nona Turma;
Relator: Rodrigo Ribeiro Bueno; Disponibilização:
28/01/2021) (Destacou-se)

EMENTA
AGRAVO DE PETIÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.
SUSPENSÃO. LEI 14.010/2020. PROSSEGUIMENTO DA
EXECUÇÃO. A Lei 14.010/2020 suspendeu o curso dos
prazos prescricionais a partir da vigência da
referida norma, até a data de 30/10/2020. Apesar
da decisão que declarou a prescrição ter sido
proferida após a vigência da supracitada lei,
tem-se que esta norma operou a suspensão do prazo
prescricional no seu interregno de vigência, a
saber, 12/06/2020 a 30/10/2020 (art. 3º, caput,
da Lei 14.010/2020), restando claro que, ao tempo
da propositura do presente apelo, não havia
findado o biênio prescricional, de modo que deve
prosseguir a execução trabalhista. Agravo
provido. (TRT-6, Processo: Ag -
0001030-43.2015.5.06.0005, Redator: Carmen Lucia
Vieira do Nascimento, Terceira Turma, Data da
publicação: 12/02/2021) – (Destacou-se)

Nessa direção o TRT – 8ª Região uniformizou sua


jurisprudência, conforme precedente vinculante em IAC, julgado
por unanimidade pelo Plenário e publicado em 19.04.2022, in
verbis:

"Admite-se a aplicação da Lei nº 14.010/20 ao


Direito do Trabalho, dada a sua natureza jurídica
de direito privado, para aplicar a suspensão do
prazo prescricional no período de 20/03/2020 a
30/10/2020, em atenção aos artigos 1º, parágrafo
único, e 3º da referida lei"

Nesse sentido, considerando o ajuizamento da


reclamatória, inicialmente, em 13.04.2023 –, o marco inicial da
prescrição quinquenal recairia em 13.04.2018.

Porém, partindo do pressuposto que a Lei n.


14.010/2020, suspendeu o prazo prescricional, para todos os
fins, pelo interregno de 20.03.2020 e 30.10.2020, esse período
de dias/meses deve ser acrescentado no interregno anterior a
13.04.2018, de modo que o termo inicial da prescrição ocorrerá
em 01.09.2017, sendo este o termo inicial considerado para
liquidação dos cálculos.

Desta feita, faz jus o Reclamante, e desde já se


requer, que o D. Juízo condene o Reclamado ao pagamento das
diferenças salariais, no período imprescrito de 01.09.2017 a
31.03.2023, em parcelas vencidas, e de 01.04.2023 em diante, até
a efetiva regularização, em parcelas vincendas, tudo acrescido
dos reflexos legais e conforme memorial de cálculos integrante
desta exordial.

1.2.4 - DA JUSTIÇA GRATUITA – PROCURAÇÃO COM PODERES


PARA PRESTAR DECLARAÇÃO DE HIPOSUFICIENCIA – APRECIAÇÃO NA
PRIMEIRA OPORTUNIDADE – PRECAUÇÃO CONTRA DECISÃO SURPRESA –
COMPROVAÇÃO MEDIANTE DECLARAÇÃO (ART. 99, §3º, CPC/15) –
JURISPRUDÊNCIA C. TST

O Autor requer, por procurador com poderes específicos,


lhe seja concedido os benefícios da justiça gratuita, com
fundamento no art. 790, §3º, da CLT, art. 4º da Lei n. 1.060/50
e Enunciado de Súmula n. 463 do C. TST, eis que não possui meios
suficientes para custear as despesas da causa sem prejudicar o
sustento próprio e de sua família.

Aliás, compulsando as fichas financeiras do Autor


(anexo – Doc. 05), constata-se que este percebe vencimentos em
montante inferior a 40% do teto estabelecido pela Previdência
Social.

Ressalte-se, outrossim, que, na esteira da atual


jurisprudência do C. TST, a comprovação da insuficiência de
recursos como requisito para obtenção de gratuidade de justiça
(art. 790, §4º, CLT) pode ser realizada pela simples declaração
proferida por pessoa natural, à qual se conferirá presunção de
veracidade, na forma do art. 99, §3º, do CPC, entendimento que
conspira a favor da proteção processual ao trabalhador
reclamante, que não pode atuar com ônus mais gravosos que os do
litigante civil.

Nesse diapasão, requer seja apreciado o presente pleito


de forma prioritária, na primeira oportunidade em que este D.
Juízo venha a atuar nos autos, com o fito de precaver eventual
decisão surpresa ao longo da lide.

1.2.5 - DA BASE DE CÁLCULO DOS REFLEXOS EM FGTS

O Autor destaca que os reflexos em FGTS devem ser pagos


tendo como base de cálculo todas as parcelas remuneratórias
apuradas, isto é, tanto a remuneração propriamente dita, quanto
seus reflexos remuneratórios em férias + 1/3 e 13º salário,
considerando o previsto no art. 15 da Lei n. 8.036/90, in
verbis:

Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos


os empregadores ficam obrigados a depositar, até
o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária
vinculada, a importância correspondente a 8
(oito) por cento da remuneração paga ou devida,
no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na
remuneração as parcelas de que tratam os arts.
457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que
se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962,
com as modificações da Lei nº 4.749, de 12 de
agosto de 1965. (Vide Lei nº 13.189, de 2015)
(Destacou-se)

Destarte, os reflexos em FGTS devem ser apurados com


base em todas as parcelas remuneratórias calculadas, da mesma
forma como seria caso as Reclamadas tivessem efetuado o
pagamento no tempo certo em contracheque. Ex positis, requer-se:

2 – PEDIDO

Por todo o exposto, e por ser medida de lídima justiça,


requer-se que V. Exa. se digne em:

a) Preliminarmente, conceder ao Reclamante os


benefícios da justiça gratuita na primeira oportunidade em que
este D. Juízo atuar nos autos, uma vez que preenchidos os
requisitos legais, conforme os fundamentos;

b) Declarar suspensa a prescrição pelo período


abrangido pelos arts. 1º, parágrafo único e 3º da Lei n.
14.010/20, ou seja, de 20.03.2020 e 30.10.2020, período esse de
dias/meses deve ser acrescentado no interregno anterior ao
limiar do prescricional do quinquênio, de modo que sejam
contemplados todos os períodos existentes nos cálculos que
integram a exordial;

c) Conceder tutela de urgência, para determinar ao


Reclamado que forneça todos os equipamentos de proteção
individual (EPI’s) devidos ao Obreiro – notadamente, bota, luva
e máscara - devendo os referidos EPI’s gozarem de Certificado de
Aprovação (CA) pelo Ministério do Trabalho / Economia, na forma
da NR n. 6, bem como serem renovados com a periodicidade
indicada pelo fabricante de cada produto, e sempre antes do
desgaste que vier a diminuir sua eficácia, sob pena de multa a
ser arbitrada por este D. Juízo em valor, sugere-se, não
inferior a R$ 300,00/dia;

d) Ao final, sendo ou não concedida a tutela de


urgência, determinar à Reclamada que forneça todos os
equipamentos de proteção individual (EPI’s) devidos ao Obreiro,
nos termos e sob as mesmas cominações requeridas no item
anterior;

e) Condenar o Reclamado ao pagamento do adicional de


insalubridade referente às parcelas vencidas, em grau máximo, no
período de 01.09.2017 a 31.03.2023, consoante fundamentos e
memorial de cálculos detalhado que é parte integrante desta
exordial e cujo resumo segue colacionado abaixo, bem como em
parcelas vincendas, a partir de 01.04.2023, em grau máximo
enquanto o Reclamante permanecer exposto ao agente insalubre,
com os devidos reflexos em 13º, Férias + 1/3 e FGTS:

f) Condenar o Reclamado ao pagamento de honorários


advocatícios, nos termos da fundamentação, no percentual de 15%
(quinze por cento), em favor de Tuma, Torres & Advogados
Associados S/S, CNPJ 22.251.184/0001-03;
g) Considerar todas as parcelas de natureza
remuneratória deferidas como base de cálculo do FGTS, conforme
os fundamentos;

h) Determinar que por ocasião da execução toda e


qualquer guia de retirada seja expedida em nome da sociedade de
advogados (Tuma, Torres & Advogados Associados S/S, CNPJ
22.251.184/0001-03).

Protesta a Demandante por todos os meios de provas em


direito admitidos, especialmente pelo depoimento pessoal das
partes, sob pena de confissão, juntada de documentos, inquirição
de testemunhas, exames, perícias, vistorias e tantas outras
quantas forem necessárias para prova de tudo quanto aqui
afirmado.

Como de praxe, requer-se que o causídico MÁRCIO PINTO


MARTINS TUMA, OAB/PA 12.422, conste obrigatoriamente em todas as
publicações do processo em epígrafe, ainda que substabelecidos
outros advogados, sob pena de nulidade (art. 272, §5º do CPC
vigente e Enunciado de Súmula n. 427 do TST).

Dá-se à causa o valor de R$ 49.974,033, para efeitos de


custas e enquadramento no rito processual cabível.

Nestes Termos,
Pede deferimento.
Belém/PA, 12 de abril de 2023.

ANA CAROLINA M. DE ALBUQUERQUE OMAR ALEIXO CONDE MARTINS


OAB/PA 26.487 OAB/PA 18.980

MÁRCIO PINTO MARTINS TUMA


OAB/PA 12.422

3 Para fins de arbitramento do valor da causa, consideraram-se os valores das


parcelas vencidas (referentes às parcelas devidas não pagas no período
anterior à reclamação, com reflexos em 13º salário, Férias + 1/3 e FGTS), bem
como as doze parcelas do importe que ora se requer o pagamento, nos termos do
art. 292, §2º, CPC, tudo consoante fórmula abaixo:

Parcelas vincendas: R$ 520,80 * 12 = R$ 6.249,60


Parcelas vencidas = R$ 43.724,43
VALOR DA CAUSA: R$ 49.974,03

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