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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) FEDERAL DA __ª VARA DO TRABALHO DE


BELÉM/PA

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

MM. JUIZ(A)

LETÍCIA LORENA BRAGA AMORIM, brasileira, casada, operadora


de água e esgoto, portadora da CI. n. 4889716 (SSP/PA) e inscrita
no CPF sob o n. 863.032.012-53, residente e domiciliada em Av. dos
planetas, n. 200, Mangueirão, CEP: 66640-002, Belém/PA, vem, com a
ordinária reciprocidade de respeito, por intermédio de seus
advogados infra assinados, ut instrumento de procuração (anexo –
Doc. 01), propor esta RECLAMAÇÃO TRABALHISTA em face de COMPANHIA
DE SANEAMENTO DO PARA - COSANPA, sociedade de economia mista,
inscrita no CNPJ sob o n. 04.945.341/0001-90, estabelecida à Av.
Governador Magalhães Barata, n. 1.201, São Brás, CEP 66060-901, Belém
(PA) de acordo com os elementos fáticos e jurídicos a seguir
delineados:

1 – DA CAUSA DE PEDIR

1.1 – BREVE SINOPSE FÁTICA

A Autora foi admitida junto a Reclamada em 03.01.2018,


consoante CTPS em anexo (anexo – Doc. 02), por meio de concurso
público, para exercer o cargo de Operadora de Estação de Água e
Esgoto e percebendo, como remuneração o valor de R$ 1.769,56,
conforme fichas financeiras e contracheques acostados (anexo – Doc.
03).

Desde que ingressou nos quadros da Reclamada, a Obreira


prestava seus serviços de forma fixa no setor do Bengui (UNAM),
executando todas as atribuições do Operador de Água e Esgoto
previstas no Edital (anexo – Doc. 04), local em que permanece até
hoje, ausentando-se em poucas ocasiões para cobrir férias em outros
setores, a exemplo, Cordeiro de Farias, Benjamim Sodré e Eduardo
Angelim, sempre executando o processo de cloração.

A Obreira, em regra, labora no regime de revezamento, da


seguinte forma: no primeiro dia, no horário das 7:00h às 13:15h; no
segundo, das 13:00h às 19:15h, com intervalo intrajornada de 15
(quinze) minutos, e no terceiro dia, das 19:00h às 08:00h, com
intervalo de 1 (uma) hora, descansando o resto desse dia; folgando
no quarto dia e retomando a escala novamente a partir do quinto dia,
de forma sucessiva, regime este que permanece até a presente data,
conforme comprovam os registros de ponto anexados (anexo – Doc. 05).

Frise-se que, apesar da Reclamante sempre laborar em


domingos e feriados em virtude do próprio regime de trabalho, nunca
recebeu o valor correspondente, tampouco gozou da folga
compensatória.

Assim, requer-se a condenação da Reclamada ao pagamento em


dobro dos domingos e feriados efetivamente trabalhados, em parcelas
vencidas, pelo período de 03.01.2018 a 30.04.20231, conforme apurado
no memorial de cálculos integrante da inicial2, com reflexos em
férias + 1/3, 13º salário e FGTS, e em parcelas vincendas, a partir
de 01.05.2023 (ilíquido) e enquanto perdurar o labor na jornada
indicada sem o pagamento correspondente direto em contracheque, com
os mesmos reflexos.

Ademais, havendo o reconhecimento do adicional de


insalubridade, conforme postulado no item 1.2.1 desta exordial, por
consectário lógico, deverá esta parcela ser considerada para fins de
pagamento dos domingos e feriados trabalhados em dobro, o que desde
já se requer.

Além disso, tendo em vista que a Autora continua laborando


na mesma jornada, requer-se que a Reclamada seja condenada, em sede
de obrigação de fazer, a pagar os domingos e feriados trabalhados a
partir de 01.05.2023, com os mesmos reflexos postulados nas parcelas
vencidas, sob pena de multa arbitrada por este D. Juízo. A data em
que a Reclamada passar a cumprir a obrigação de fazer ora reportada,
com a devida comprovação nos autos, deverá servir de termo final
para apuração das vincendas dos domingos e feriados em dobro e
reflexos.

1
Ressalta-se que os períodos de abr/2020 a mar/2021 e jul/2022 a set/2022 foram
excluídos do cálculo, tendo em vista que entre os anos de 2020/2021, a Obreira
foi afastada em razão de ser integrante de grupo de risco para a COVID-19 e por
gozo de licença maternidade, ao passo que o período de 2022 foi excluído em razão
da adesão da Obreira à greve.

2 Como a Obreira não possuía as fichas de ponto de mar/2023 e abril/2023, os


domingos e feriados trabalhados nesse período foram calculados com base na escala
laborada pela Autora, consoante calendários também anexos.
Entre as atividades exercidas pela Obreira, estão a
operação do registro de tubulação de água, manobras e quadros
elétricos de bombas, além de aplicação de cloro nos setores de
Bengui/UNAM, Cordeiro de Farias, Benjamim Sodré e Eduardo Angelim,
dentre outros, conforme haja necessidade.

Nessa toada, a Reclamante, manuseia diversos produtos


químicos, entre eles o “cloropast” - que consiste em pastilhas à
base de cloro orgânico com amplo espectro de ação contra bactérias,
esporos e fungos, são destinadas à desinfecção de água - substância
altamente tóxica, cujo uso, se não for feito da forma correta e com
a proteção necessária, pode trazer danos gravíssimos a saúde.

Nesta toada, o próprio edital do concurso público prestado


pela Autora traz, entre as atribuições do Operador de Água e Esgoto,
o preparo e a aplicação de produtos químicos (anexo – Doc. 04). Veja-
se:

Pois bem.

Em que pese o uso recorrente desta substância, cujo risco


à saúde é altíssimo, a troca de EPI’s somente é feita com
periodicidade muito aquém da necessária. Por ocasião da admissão, a
Obreira recebeu uniforme, bota, luva e óculos, de forma incompleta,
tendo recebido, somente em 2023 o avental, restando clara a
deficiência no fornecimento de EPI’s pela Reclamada.
Além disso, também não houve treinamento adequado quanto
à utilização dos EPI’s e tampouco fiscalização para suporte quanto
ao correto uso destes.

Frise-se que a exposição da Autora às substâncias químicas


se dá, tanto de forma manual – por meio do processo de cloração –
quanto pela respiração, já que, durante o manuseio, também inala,
ao fim e ao cabo, o produto, razão pela qual a máscara utilizada
deve possuir um filtro contra gases ácidos, conforme exposto no
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais da Reclamada, em anexo.
Confira-se trecho do PPRA que consta tal exigência, bem como a
máscara utilizada (anexo – Doc. 06 – parte 1 – pág. 61):
Aliás, a própria Ficha de Informação de Segurança de um
dos produtos utilizados, o Cloropast (anexo – Doc. 07 – fl. 02),
ressalta os riscos que ele apresenta, inclusive quanto ao alto grau
de nocividade às mucosas. Observe-se:

Em paralelo, são ora trazidas fotos que demonstram como


ocorre o manuseio do cloropast que precisa ser feito diretamente por
um operador (anexo – Doc. 08), sendo que, na própria foto, o
empregado não utiliza todos os EPI’s necessários. Confira-se:
Assim, diante da rotina de trabalho supramencionada e
notadamente diante da exposição a substâncias insalubres, a Autora
faz jus à percepção de adicional de insalubridade. Desta forma,
requer-se que a Reclamada seja condenada ao pagamento do adicional
de insalubridade em grau máximo (40%), em parcelas vencidas pelo
período de 03.01.2018 a 30.04.20233, e em parcelas vincendas, a
partir de 01.05.2023, tudo com os devidos reflexos em férias + 1/3,
13º salário e FGTS, considerando o contato da Obreira com produtos
químicos.

Outrossim, também requer a Autora – a teor dos fatos e


fundamentos já expostos e dos que serão objeto de item próprio – a
concessão de tutela de urgência, para que seja determinado à
Reclamada que forneça todos os equipamentos de proteção individual
(EPI’s) devidos à Obreira, conforme previsão exauriente do PPRA
(anexo – Doc. 06 – parte 1 – pág. 61), devendo os referidos EPI’s
gozarem de Certificado de Aprovação (CA) pelo Ministério do Trabalho
/ Economia, na forma da NR n. 6, bem como serem renovados com a

3
Ressalta-se que os períodos de abr/2020 a mar/2021 e jul/2022 a set/2022 foram
excluídos do cálculo para todos os fins, pois, em 2020/2021, a Obreira foi afastada
em razão do Covid-19, por ser grupo de risco, e, posteriormente adentrou no período
de licença maternidade, e, em 2022, ausentou-se em razão de greve.
periodicidade indicada pelo fabricante de cada produto, e sempre
antes do desgaste que vier a diminuir sua eficácia.

Independentemente da concessão do provimento de urgência,


requer-se, ainda, que ao final da lide seja condenada a Reclamada
ao cumprimento dessa obrigação de fazer.

Por todo o exposto, a Reclamante ajuiza a presente


reclamação trabalhista para que, afastando-se a ilegalidade cometida
pela Reclamada, sejam-lhe assegurados os seus direitos trabalhistas,
conforme a seguir.

1.2 – DO DIREITO APLICÁVEL À ESPÉCIE

1.2.1 – DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE DEVIDO E NÃO PAGO –


DIREITO RECONHECIDO PELA JURISPRUDÊNCIA DESDE E. TRT

Conforme exposto alhures, a Reclamante tem sido exposta,


em sua jornada regular de trabalho, de maneira habitual, a
substâncias químicas, notadamente o cloro/cloropast, sem o
fornecimento periódico dos EPI’s devidos.

Portanto, a Reclamante tem sido exposta, de forma habitual


e permanente, a produtos químicos com alto grau de nocividade,
colocando em risco sua saúde e segurança.

Considerando que a Autora, ao exercer suas atividades,


precisa efetuar o manuseio de cloro, cujo uso pode trazer danos
gravíssimos a sua saúde, faz jus ao adicional de insalubridade, nos
termos previstos no art. 192 da CLT.

Nesta toada, o E. TRT/8ª já reconheceu o direito à


percepção de adicional de insalubridade aos empregados que laboram
na COSANPA em condições idênticas a que ora requer, inclusive
relativa à mesma função da Autora, qual seja Operador de Estação de
Água e Esgoto e em face da mesma Reclamada. Observe-se:

TRECHO DO INTEIRO TEOR DO ACÓRDÃO

Referido laudo é conclusivo acerca da identificação


dos seguintes agentes insalubres e medidas
necessárias à neutralização com a utilização de
EPI, in verbis:
Foi realizada a avaliação qualitativa das atividades
habituais do paradigma, considerando o
"CLOROPAST6040", consiste em pastilhas à base de
cloro orgânico com amplo espectro de ação contra
bactérias, esporos e fungos, são destinadas à
desinfecção de água - substância altamente tóxica,
cujo uso, se não for feito de forma correta e com a
proteção necessária, pode trazer danos gravíssimos à
saúde.
Conforme a Ficha de Informações de Segurança de
Produtos Químicos (FISPQ) danos à saúde que podem
ocorrer através do contato do produto em partes
específicas do organismo humano são:
Contato com os olhos: em exposição moderada aos olhos
causa irritação. Já em severa exposição pode causar
danos irreversíveis aos olhos;
Contato com a pele: em exposição moderada com a pele
causa irritação. Grande exposição pode causar severa
irritação;
Inalação: em exposição moderada pode causar irritação
do muco e das membranas da passagem respiratória
(nasal e garganta);
Ingestão: a ingestão pode causar ferimentos no
esôfago, estômago, vômitos, sangramento gástrico e
possivelmente colapso circulatório. A exposição pode
causar ulceração química;
Em razão dos danos que pode provocar à saúde humana,
a FISPQ do fabricante, indica o uso dos EPI
apropriados:
Proteção respiratória: máscara com filtro para gases
ácidos;
Proteção das mãos: luvas de borracha ou de PVC;
Proteção dos olhos: óculos de segurança;
Proteção da pele e corpo: roupas e botas
impermeáveis.
Contudo, do exame dos recibos de entrega de EPI
constata-se que não houve a entrega de máscara com
filtro nos anos de 2018 e 2020 e que as luvas de
proteção foram fornecidas apenas em duas ocasiões nos
anos de 2019 e 2021 (ID 6d635ff - Pág. 2).
Sobre a falta de fornecimento regular e adequado de
EPI o reclamante esclareceu ainda em depoimento o
seguinte: "que os EPI's utilizados são mascara, luva,
bota, uniforme e óculos; que retificando este eram
os que deveriam ser utilizados, mas na prática
recebeu kit completo apenas uma única vez; que
recebeu tal kit no inicio do contrato"
Irregularidade esta que converge com o laudo pericial
de ID c5680c6 acima citado, o qual o perito
evidenciou a falta de adoção de medidas adequadas,
não utilização dos EPI necessários à neutralização
da insalubridade, fazendo jus o reclamante, portanto,
ao adicional sob este título em grau máximo. Por tais
fundamentos, nega-se provimento ao recurso
ordinário. (TRT da 8ª Região; Processo: 0000128-
32.2021.5.08.0003; Data de Julgamento: 29/04/2022;
Órgão Julgador: 2ª Turma; Relator: Exmo. Des. Paulo
Isan Coimbra da Silva Junior) (Destacou-se)

TRECHO DA SENTENÇA (mantida pela C. 4ª Turma


deste E. TRT/8ª)
(...)
III – DISPOSITIVO

ANTE O EXPOSTO, NOS TERMOS DA FUNDAMENTAÇÃO ACIMA,


DECIDE O JUÍZO DA 1ª VARA DO TRABALHO DE BELÉM, NA
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA PROPOSTA POR DILSON DE ASSIS
BATISTA NETO EM FACE DE COMPANHIA DE SANEAMENTO DO
PARÁ, RECONHEÇO QUE FALECE A ESTA ESPECIALIZADA
COMPETÊNCIA PARA DETERMINAR A EXECUÇÃO DAS
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS A TERCEIROS, REJEITAR AS DEMAIS
PRELIMINARES, NO MÉRITO, JULGAR OS PEDIDOS
PROCEDENTES, EM PARTE, PARA:

A) JULGAR PROCEDENTE A CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE


FAZER, DEFERINDO A TUTELA DE URGÊNCIA PARA DETERMINAR
QUE A RECLAMADA FORNEÇA TODOS OS EQUIPAMENTOS DE
PROTEÇÃO INDIVIDUAL ACOMPANHADOS DOS RESPECTIVOS
CERTIFICADOS DE APROVAÇÃO DEVIDOS AO RECLAMANTE E
DESCRITOS NO DOCUMENTO DE ID FC236B2 – PÁG 61, BEM
COMO DEMONSTRE QUE A TROCA DOS EPI'S OCORREU COM A
PERIODICIDADE NECESSÁRIA, DE ACORDO COM A INDICAÇÃO
DO FABRICANTE DE CADA PRODUTO, TUDO APÓS O PRAZO DE
8 DIAS ÚTEIS DA PUBLICAÇÃO DESTA SENTENÇA, SOB PENA
DA MULTA A SER CALCULADA SER MAJORADA PARA R$ 200,00
POR DIA.

B) JULGAR PROCEDENTE A CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE


FAZER, PARA DETERMINAR QUE, A PARTIR DE 01/07/2020,
A RECLAMADA PROCEDA AO PAGAMENTO DOS FERIADOS
EFETIVAMENTE TRABALHADOS, EM DOBRO, MAIS REFLEXOS EM
13º SALÁRIO, FÉRIAS + 1/3 E DEPÓSITOS DE FGTS.

CONDENAR A RECLAMADA AO PAGAMENTO DE:

A) ADICIONAL DE INSALUBRIDADE À ALÍQUOTA DE 40%, EM


PARCELAS VENCIDAS, MAIS REFLEXOS SALARIAIS EM 13º
SALÁRIO, FÉRIAS + 1/3 E FGTS, NO PERÍODO DE
30/01/2018 a 30/06/2020;
B) ADICIONAL DE INSALUBRIDADE À ALÍQUOTA DE 40%, EM
PARCELAS VINCENDAS, ENQUANTO NÃO HOUVER O
FORNECIMENTO INTEGRAL E REGULAR DOS EPI’S, TAL QUAL
DETERMINA A NR 06 DO MTE, MAIS REFLEXOS EM EM 13º
SALÁRIO, FÉRIAS + 1/3 E FGTS;
C) ADICIONAL DE INSALUBRIDADE À ALÍQUOTA DE 20%, EM
PARCELAS VINCENDAS, CONFORME LIMITE DO PEDIDO,
ENQUANTO O AGENTE ESTIVER EXPOSTO AO AGENTE
INSALUBRE, MAS UTILIZANDO OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
INDIVIDUAL.
D) FERIADOS TRABALHADOS, EM DOBRO, MAIS REFLEXOS EM
13º SALÁRIO, FÉRIAS + 1/3 E DEPÓSITOS DE FGTS, NO
PERÍODO DE 03/01/2018 A 30/06/2020, A SEREM APURADOS
CONFORME CARTÕES DE PONTO.
(...) (TRT8; Processo n. 0000437-93.2020.5.08.0001;
Orgão Julgador: 1ª Vara do Trabalho de Belém;
Relatora: MM. Juiz Albeniz Martins e Silva Segundo;
Data de publicação: 12/12/2020) (Destacou-se)

EMENTA (NA PARTE QUE INTERESSA)


RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA.
I - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. LAUDO PERICIAL.
Comprovado por laudo pericial VALIDADE. idôneo e
valorado positivamente que o reclamante laborava em
condições insalubres, em razão da insuficiência dos
EPI's entregues, era da reclamada o ônus de comprovar
a higidez do ambiente de trabalho, ônus do qual não
se desincumbiu. Recurso desprovido.

TRECHO DO INTEIRO TEOR

O laudo pericial de ID. b1625dd concluiu pela


existência de agente insalubre no posto de trabalho
do reclamante (Unidade da Cosanpa do Benguí), pela
insuficiência dos EPI's fornecidos pela reclamada
para a neutralização do cloro, bem como pela ausência
de fiscalização do correto uso dos equipamentos pelos
empregados, nos seguintes termos: "O exame pericial
levantou que o reclamante trabalha em operações de
sistemas de abastecimento de água, onde há
necessidade de manipulação de produto químico, no
caso em tela, o cloro em forma de pastilha para o
tratamento da água fornecida pelo reclamado a
população, entre outras atividades operacionais.
Quanto ao manuseio do produto químico cloro, há
necessidade do colaborador do reclamado está usando
E.P.I. completos. No caso em tela notamos a falta do
óculos de proteção e o avental, além de que o depósito
para o armazenamento do cloro é enclausurado não
tendo condição de manipular o produto no seu
interior. Por fim, não ficou evidenciado treinamentos
para o uso dos E.P.I. e o de manipulação dos produtos
químicos, bem como a efetiva fiscalização da
utilização dos E.P.I. pelos colaboradores do
reclamado. (ID. 68e6874 - Pág. 27)" (TRT8; Processo
n. 0001002-22.2018.5.08.0003; Orgão Julgador: 4ª
Turma; Relatora: Exma. Desa. Sulamir Monassa; Data
de publicação: 20/08/2018) (Destacou-se)

Desta forma, resta claro o direito da Reclamante ao


adicional pleiteado, conforme já reconhecido em casos pretéritos por
este E. Tribunal.

Junta-se, ainda, na presente oportunidade, como prova


emprestada, o laudo pericial apresentado nos autos da reclamatória
n. 0001002-22.2018.5.08.0003 (anexo – Doc. 09), considerando que as
atividades exercidas pela trabalhadora e pela paradigma daquele
processo são idênticas as da Autora.

Anexa-se, ainda, o laudo pericial realizado nos autos de


n. 0000113-45.2021.5.08.0009 (anexo – Doc. 10), que teve como
paradigma empregado que laborava nas mesmas atividades da Autora, no
qual o expert reconheceu ser devido o adicional de insalubridade em
grau máximo e ocasião em que não foram disponibilizados EPI’s nem
mesmo para uso no momento da perícia, em demonstração inequívoca do
desprezo nutrido pela Cosanpa em relação à saúde e segurança dos
seus empregados.

Traz-se à baila, também, termo de audiência do processo n.


0000128-32.2021.5.08.0003 (anexo – Doc. 11), Reclamante André Vieira
de Figueiredo, no qual o preposto não soube confirmar o fornecimento
adequado dos EPI’s no período imprescrito, inclusive confessando
recordar que não houve fornecimento algum no ano de 2020, o que
corrobora a lamentável realidade laboral enfrentada pela Autora.

Por derradeiro, faz-se necessário juntar também o termo de


audiência do processo n. 0000796-54.2022.5.08.0007, Reclamante Ely
Regina Pereira Rodrigues, com a confissão do preposto da empresa
quanto a ausência de treinamento para o uso de EPI’s, falta de
treinamento, declarando, ainda, que o técnico em segurança, que era
responsável pela fiscalização fazia visita, tão somente, uma vez a
cada ano ou ano e meio (anexo – Doc. 12), o que revela um total
descaso com a proteção da saúde do trabalhador.

Ante o exposto, requer-se o pagamento do adicional de


insalubridade, em grau máximo, no importe de 40% sobre o salário
mínimo vigente em cada período, conforme Súmula n. 28 deste E.
Tribunal, em parcelas vencidas pelo período de 03.01.2018 a
30.04.2023, e em parcelas vincendas, a partir de 01.05.2023, tudo
com reflexos em férias + 1/3, 13º salário e FGTS.

1.2.2 – DO DIREITO AO PAGAMENTO DOS DOMINGOS E FERIADOS


TRABALHADOS

Conforme exposto alhures, a Reclamante labora em regime de


turnos ininterruptos de revezamento, cuja jornada, é a seguinte: no
primeiro dia, no horário das 7:00h às 13:15h; no segundo, das 13:00h
às 19:15h, com intervalo intrajornada de 15 (quinze) minutos, e no
terceiro dia, das 19:00h às 08:00h, com intervalo de 1 (uma) hora,
descansando o resto desse dia; folgando no quarto dia e retomando a
escala novamente a partir do quinto dia, de forma sucessiva, regime
este que permanece até a presente data.

Disto, infere-se que, desde a admissão, a Autora labora em


domingos e feriados sem receber em dobro, tampouco gozar de folga
compensatória.

Nesta toada, a Súmula 146 do C. TST prevê que o trabalho


prestado em domingos e feriados e não pagos, devem ser adimplidos
em dobro. Confira-se:

Súmula nº 146 do TST


TRABALHO EM DOMINGOS E FERIADOS, NÃO COMPENSADO
(incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 93 da
SBDI-1) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
O trabalho prestado em domingos e feriados, não
compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuízo da
remuneração relativa ao repouso semanal.

Ademais, ressalte-se que a norma coletiva da categoria


(anexo – Doc. 13), a qual autoriza a jornada laborada pela Autora,
não contempla o pagamento de domingos e feriados trabalhados. Leia-
se:
Assim, considerando que o pagamento destes dias não está
incluso na remuneração já percebida pela Autora, devem ser adimplidos
em dobro, nos termos do que preleciona a Súmula 146 do C. TST.

Cumpre destacar, ainda, que o turno ininterrupto de


revezamento é uma modalidade de jornada de trabalho extremamente
prejudicial à saúde física e mental do trabalhador, já que
impossibilita que ele estabeleça uma rotina, ainda que mínima, pois
a cada dia labora em um horário diferente, privando-o, inclusive,
de uma convivência familiar e social saudável.

Diante disso, requer-se a condenação da Reclamada ao


pagamento dos domingos e feriados efetivamente trabalhados em dobro,
com reflexos em férias + 1/3, 13º salário e FGTS, conforme apurado
no memorial de cálculos integrante da inicial e com base nos
registros de ponto anexados (anexo – Doc. 05).

Além disso, tendo em vista que a Autora continua laborando


na mesma jornada, requer-se que a Reclamada seja condenada, em sede
de obrigação de fazer, a pagar os domingos e feriados trabalhados a
partir de 01.05.2023, com reflexos em férias + 1/3, 13º salário e
FGTS, de igual maneira.

Ademais, havendo o reconhecimento do adicional de


insalubridade, conforme postulado no item 1.2.1 desta exordial, por
consectário lógico, deverá esta parcela ser considerada para fins de
pagamento dos domingos e feriados trabalhados em dobro, o que desde
já se requer.
1.2.3 - DA TUTELA DE URGÊNCIA – PREENCHIMENTO INTEGRAL DOS
REQUISITOS

A Autora requer a concessão de tutela de urgência, para


que seja determinado à Reclamada que forneça todos os equipamentos
de proteção individual (EPI’s) devidos à Obreira, conforme previsão
exauriente do PPRA (anexo – Doc. 06 – parte 1 – pág. 61), devendo os
referidos EPI’s gozarem de Certificado de Aprovação (CA) pelo
Ministério do Trabalho / Economia, na forma da NR n. 6, bem como
serem renovados com a periodicidade indicada pelo fabricante de cada
produto, e sempre antes do desgaste que vier a diminuir sua eficácia.

No caso sub examine estão presentes todos os requisitos


para concessão da tutela pretendida, conforme exposição a seguir:

1.2.3.1 – DA VEROSSIMILHANÇA – DA PROBABILIDADE DO DIREITO

A verossimilhança se consubstancia pelas seguintes


nuances:

a) A comprovação prévia da exposição constante habitual


da Autora a substâncias químicas, eis que imprescindível para o
exercício da sua atividade ordinária na empresa (anexo – Docs. 06,
08, 09 e 10);

b) A demonstração, inclusive por foto, do não


fornecimento escorreito, de todos os EPI’s necessários (anexo – Docs.
08, 09 e 10);

c) Juntada de perícias que reconheceram ser devido o


adicional de insalubridade a empregados que laboram na mesma função
da Reclamante (anexos – Docs. 09 e 10);

d) Confissão do preposto no processo n. 0000128-


32.2021.5.08.0003 (anexo – Doc. 11) acerca do não fornecimento de
nenhum EPI no ano de 2020, o que corrobora a lamentável realidade
laboral enfrentada pela Autora;

e) Confissão do preposto no processo n. 0000796-


54.2022.5.08.0007, quanto a ausência de treinamento para o uso de
EPI’s, falta de treinamento, declarando, ainda, que o técnico em
segurança, que era responsável pela fiscalização fazia visita, tão
somente, uma vez a cada ano ou ano e meio (anexo – Doc. 12);
f) A circunstância do pleito estar amparado na
jurisprudência trabalhista, sendo inclusive reconhecido o direito
por este E. TRT em demandas semelhantes, inclusive em face do mesmo
Empregador, conforme demonstrado alhures.

Patente, pois, o cumprimento do intitulado requisito


necessário à concessão da medida liminar pretendida, pois o conjunto
probatório apresentado evidencia que à Obreira faz jus à incorporação
requerida.

1.2.3.2 – DO PERIGO NA DEMORA – DO PERIGO DE DANO

Por sua vez, o perigo da demora reside no grave risco à


saúde ao qual está exposto a Autora, em virtude da exposição aos
agentes insalubres sem o fornecimento adequado dos EPI’s devidos, o
que pode vir a lhe causar doenças graves e danos irreparáveis,
havendo ofensa direta aos seus direitos fundamentais constitucionais
mais básicos, entre eles o direito à vida, direito à saúde e
qualidade de vida.

Isto posto, percebe-se que também o perigo da demora


corrobora a concessão do pleito de urgência.

1.2.3.3 – DO PERICULUM IN MORA INVERSO – DO PERIGO DE


IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DA DECISÃO - INEXISTÊNCIA

O art. 300, §3º do CPC, aduz:

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não


será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Ocorre que in hoc casu o perigo da demora inverso é


desprezível, e sequer deve ser considerado, consoante se verá.

Isso porque, a tutela de urgência se destinada tão somente


a compelir a Reclamada a fornecer os equipamentos de proteção
individual adequados às atividades insalubres desempenhas pela
Autora.

Destarte, não se vislumbra perigo de irreversibilidade do


provimento antecipatório que justifique a não concessão da liminar
pretendida neste momento, inexistindo o risco do periculum in mora
reverso, pois, não estar-se-á imputando qualquer obrigação de pagar,
mas sim, de fazer, com o fim de resguardar a integridade física e a
segurança da trabalhadora, logo, não há razão para se considerar que
o pleito da Obreira não será atendido por este D. Juízo, inclusive
em sede de tutela de urgência, como medida de justiça.

Por todo o exposto, fica patente que a concessão da tutela


antecipada não encontra óbice no art. 300, §3º do CPC.

1.2.4 - DA APLICAÇÃO DA LEI. N. 14.010/2020 – DA SUSPENSÃO


DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

Na esfera trabalhista operam dois tipos de prescrição – a


total e a parcial – sendo que esta afeta as obrigações de trato
sucessivo que, ao se renovarem continuamente, prorrogam o marco
inicial da contagem da prescrição.

Nesta senda, a Lei n. 14.010/2020, com vigor a partir de


10.06.2020, ao versar sobre algumas das medidas governamentais mais
relevantes e urgentes, com vistas ao enfrentamento jurídico da
pandemia mundial, disciplinou o Regime Jurídico Emergencial e
Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no
período da pandemia do coronavírus (Covid-19), o qual também tratava,
especialmente, em seu art. 3º, dos prazos prescricional e decadencial
provenientes das relações jurídicas pátrias, no período compreendido
entre 20.03.2020 e 30.10.2020. Observe-se:

Art. 3º Os prazos prescricionais consideram-se


impedidos ou suspensos, conforme o caso, a partir da
entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020.

§ 1º Este artigo não se aplica enquanto perdurarem


as hipóteses específicas de impedimento, suspensão e
interrupção dos prazos prescricionais previstas no
ordenamento jurídico nacional.

§ 2º Este artigo aplica-se à decadência, conforme


ressalva prevista no art. 207 da Lei nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002 (Código Civil). (Destacou-se)

Como se nota, o art. 3º da Lei n. 14.010/2020 é claro ao


afirmar que estão suspensos os prazos prescricionais no período acima
referenciado.

Por sua vez, em que pese a novel legislação ser bastante


recente, os Tribunais Regionais do Trabalho vêm aplicando a mesma
para fins de suspensão/impedimento de prazos prescricionais
trabalhistas. Confira-se:

EMENTA

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE AFASTADA. REFORMA


TRABALHISTA. DIREITO INTERTEMPORAL. SUSPENSÃO DA
PRESCRIÇÃO. É sabido que com a Reforma Trabalhista
ficou expressamente previsto que, acaso o exequente
deixe de promover uma determinação no curso da
execução, ficando inerte por mais de dois anos, o
juiz poderá reconhecer a prescrição intercorrente do
crédito trabalhista. Entretanto, prevalece nesta e.
1ª Turma Julgadora o entendimento de que para fazer
valer a nova lei o magistrado condutor do processo
deve primeiramente advertir a parte contra qual
passou a correr o prazo prescricional do disposto no
art. 11-A da CLT, pois seguindo esse ritual estar-
se-á preservando a característica fundamental do novo
modelo de processualística, que é pautado na
colaboração entre as partes e no diálogo com o
julgador. Logo, nos casos em que não se segue esse
caminho, afasta-se a pronúncia da prescrição
intercorrente e determina-se o cumprimento do novo
rito. Some-se a isso a necessidade de serem
observadas eventuais causas suspensivas da
prescrição alegadas pelo interessado, como a disposta
no artigo 3º da Lei n. 14.010/2020, previamente
debatida na origem. Agravo provido. (TRT da 23.ª
Região; Processo: 0064100-70.2008.5.23.0081; Data:
26-03-2021; Órgão Julgador: Gab. Des. Paulo
Barrionuevo - 1ª Turma; Relator(a): PAULO ROBERTO
RAMOS BARRIONUEVO) (Destacou-se)

EMENTA
PRESCRIÇÃO BIENAL. AVISO PRÉVIO INDENIZADO. CONTAGEM
DO PRAZO. Considerando que o artigo 3º da Lei
14.010/2020, que dispõe sobre o Regime Jurídico
Emergencial e Transitório das relações de direito
privado no período da pandemia do coronavírus (COVID-
19), estabelece a suspensão dos prazos prescricionais
a partir do início da sua vigência até 30.10.2020, e
ajuizada a ação em 10.08.2020, ou seja, na vigência
da mencionada Lei, não há falar em prescrição total.
(TRT-3, Processo: RO - 0010504-06.2020.5.03.0180,
Redator: Convocada Sabrina de Faria F.Leao, Data de
julgamento: 11/02/2021, Décima Terceira Turma, Data
da publicação: 12/02/2021) - (Destacou-se)
EMENTA
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. LEI Nº 14.010/2020.
SUSPENSÃO DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS. Passados mais
de dois anos desde a entrada em vigor da Lei nº
13.467/17 (11/11/2017), mostrar-se-ia bastante
razoável que se pusesse fim ao processo,
especialmente porque a partir desta data, também
passou a ter vigência a nova redação do art. 878 da
CLT que determina que a execução seja promovida pela
própria parte interessada quando estiver
representada por advogado. Ocorre que, em 10/06/2020,
entrou em vigor a Lei nº 14.010/2020, que dispõe
sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das
relações jurídicas de Direito Privado no período da
pandemia do coronovírus (COVID-19), e que prevê em
seu artigo 3º que "Os prazos prescricionais
consideram-se impedidos ou suspensos, conforme o
caso, a partir da entrada em vigor desta Lei até 30
de outubro de 2020." Dessa forma, os prazos
prescricionais ficaram suspensos do dia 10/06/2020
até 30/10/2020. Não considerada a suspensão pelo
juízo de origem, é de ser dado provimento ao agravo
de petição do exequente. (TRT-3; Processo: AP -
0010314-92.2016.5.03.0112; Órgão Julgador: Nona
Turma; Relator: Rodrigo Ribeiro Bueno;
Disponibilização: 28/01/2021) (Destacou-se)

EMENTA
AGRAVO DE PETIÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.
SUSPENSÃO. LEI 14.010/2020. PROSSEGUIMENTO DA
EXECUÇÃO. A Lei 14.010/2020 suspendeu o curso dos
prazos prescricionais a partir da vigência da
referida norma, até a data de 30/10/2020. Apesar da
decisão que declarou a prescrição ter sido proferida
após a vigência da supracitada lei, tem-se que esta
norma operou a suspensão do prazo prescricional no
seu interregno de vigência, a saber, 12/06/2020 a
30/10/2020 (art. 3º, caput, da Lei 14.010/2020),
restando claro que, ao tempo da propositura do
presente apelo, não havia findado o biênio
prescricional, de modo que deve prosseguir a execução
trabalhista. Agravo provido. (TRT-6,
Processo: Ag - 0001030-43.2015.5.06.0005, Redator:
Carmen Lucia Vieira do Nascimento, Terceira Turma,
Data da publicação: 12/02/2021) – (Destacou-se)

Nessa direção o TRT – 8ª Região uniformizou sua


jurisprudência, conforme precedente vinculante em IAC, julgado por
unanimidade pelo Plenário e publicado em 19.04.2022, in verbis:
"Admite-se a aplicação da Lei nº 14.010/20 ao
Direito do Trabalho, dada a sua natureza
jurídica de direito privado, para aplicar a
suspensão do prazo prescricional no período de
20/03/2020 a 30/10/2020, em atenção aos artigos
1º, parágrafo único, e 3º da referida lei"

Nesse sentido, considerando o ajuizamento da reclamatória,


inicialmente, em 25.04.2023 –, o marco inicial da prescrição
quinquenal recairia em 25.04.2018.

Porém, partindo do pressuposto que a Lei n. 14.010/2020,


suspendeu o prazo prescricional, para todos os fins, pelo interregno
de 20.03.2020 e 30.10.2020, esse período de dias/meses deve ser
acrescentado no interregno anterior a 25.04.2018, de modo que o termo
inicial da prescrição ocorrerá em 03.01.2018, pois corresponde à
data de admissão da Reclamante, sendo este o termo inicial
considerado para liquidação dos cálculos.

Desta feita, faz jus o Reclamante, e desde já se requer,


que o D. Juízo condene a Reclamada ao pagamento das diferenças
salariais, no período imprescrito de 03.01.2018 a 30.04.2023, em
parcelas vencidas, e de 01.05.2023 em diante, até a efetiva
regularização, em parcelas vincendas, tudo acrescido dos reflexos
legais e conforme memorial de cálculos integrante desta exordial.

1.2.5 – DA JUSTIÇA GRATUITA – PROCURAÇÃO COM PODERES PARA


PRESTAR DECLARAÇÃO DE HIPOSUFICIÊNCIA – APRECIAÇÃO NA PRIMEIRA
OPORTUNIDADE – PRECAUÇÃO CONTRA DECISÃO SURPRESA

A Autora requer, por procurador com poderes específicos,


lhe sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita, com
fundamento no art. 5º, LXXIV, da CF/88, art. 790, §3º, da CLT, e
Enunciado de Súmula n. 463 do C. TST, eis que não possui meios
suficientes para custear as despesas da causa sem prejudicar o
sustento próprio e familiar.

Aliás, compulsando as fichas financeiras da Autora (anexo


– Doc. 03), constata-se que esta percebe vencimentos em montante
inferior a 40% do teto estabelecido pela Previdência Social.
Ressalte-se, outrossim, que, na esteira da atual
jurisprudência do C. TST, a comprovação da insuficiência de recursos
como requisito para obtenção de gratuidade de justiça (art. 790,
§4º, CLT) pode ser realizada pela simples declaração proferida por
pessoa natural, à qual se conferirá presunção de veracidade, na forma
do art. 99, §3º, do CPC, entendimento que conspira a favor da
proteção processual ao trabalhador reclamante, que não pode atuar
com ônus mais gravosos que os do litigante civil.

Nesse diapasão, requer-se que seja apreciado o presente


pleito de forma prioritária, na primeira oportunidade em que este
D. Juízo atuar nos autos, com o fito de precaver eventual decisão
surpresa ao longo da lide.

1.2.6 – DA BASE DE CÁLCULOS DOS REFLEXOS EM FGTS

A Autora destaca que os reflexos em FGTS devem ser pagos


tendo como base de cálculo todas as parcelas remuneratórias apuradas,
isto é, tanto a remuneração propriamente dita, quanto seus reflexos
remuneratórios em férias + 1/3 e 13º salário, considerando o previsto
no art. 15 da Lei n. 8.036/90, in verbis:

Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os


empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia
7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a
importância correspondente a 8 (oito) por cento da
remuneração paga ou devida, no mês anterior, a cada
trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de
que tratam os arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação
de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de
julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749,
de 12 de agosto de 1965. (Vide Lei nº 13.189, de
2015)(Destacou-se)

Destarte, os reflexos em FGTS devem ser apurados com base


em todas as parcelas remuneratórias calculadas, da mesma forma como
seria caso o Reclamado tivesse pago no tempo certo em contracheque.
Ex positis, requer-se:

2 – PEDIDO

Por todo o exposto, e por ser medida de lídima justiça,


vem a Autora requerer que V. Exa. se digne em:
a) Preliminarmente, conceder à Reclamante os benefícios
da Justiça Gratuita na primeira oportunidade em que este D. Juízo
atuar nos autos, uma vez que preenchidos os requisitos legais,
conforme os fundamentos;

b) Declarar suspensa a prescrição pelo período abrangido


pelos arts. 1º, parágrafo único e 3º da Lei n. 14.010/20, ou seja,
de 20.03.2020 e 30.10.2020, período esse de dias/meses deve ser
acrescentado no interregno anterior ao limiar do prescricional do
quinquênio, de modo que sejam contemplados todos os períodos
existentes nos cálculos que integram a exordial;

c) Conceder tutela de urgência, para determinar à


Reclamada que forneça todos os equipamentos de proteção individual
(EPI’s) devidos à Obreira, conforme previsão exauriente do PPRA
(anexo – Doc. 06 – parte 1 – pág. 61), devendo os referidos EPI’s
gozarem de Certificado de Aprovação (CA) pelo Ministério do Trabalho
/ Economia, na forma da NR n. 6, bem como serem renovados com a
periodicidade indicada pelo fabricante de cada produto, e sempre
antes do desgaste que vier a diminuir sua eficácia, sob pena de multa
a ser arbitrada por este D. Juízo em valor, sugere-se, não inferior
a R$ 300,00/dia;

d) Ao final, sendo ou não concedida a tutela de urgência,


determinar à Reclamada que forneça todos os equipamentos de proteção
individual (EPI’s) devidos à Obreira, nos termos e sob as mesmas
cominações requeridas no item anterior;

e) Condenar a Reclamada ao pagamento do adicional de


insalubridade em grau máximo, referente às parcelas vencidas, no
período de 03.01.2018 a 30.04.2023, e às parcelas vincendas, a partir
de 01.05.2023, em todos os casos com os devidos reflexos em 13º,
Férias + 1/3 e FGTS;

f) Condenar a Reclamada ao pagamento em dobro dos


domingos e feriados trabalhados, em parcelas vencidas, no período de
03.01.2018 a 30.04.2023, consoante fundamentos e memorial de
cálculos detalhado que é parte integrante desta exordial e cujo
resumo segue colacionado abaixo; e em parcelas vincendas, a partir
de 01.05.2023 (ilíquido) e enquanto perdurar o labor na jornada
indicada, em todos os casos com reflexos em 13º, Férias + 1/3 e FGTS,
tudo consoante memorial de cálculos abaixo e parte integrante desta
exordial para todos os fins:
g) Deferir honorários sucumbenciais na base de 15%
(quinze por cento), em favor de Tuma, Torres & Advogados Associados
S/S, CNPJ 22.251.184/0001-03, considerando as parcelas vencidas e
vincendas, conforme a fundamentação;

h) Considerar todas as parcelas de natureza


remuneratória deferidas como base de cálculo do FGTS, conforme os
fundamentos;

i) Determinar que, por ocasião da execução, toda e


qualquer guia de retirada seja expedida em nome da sociedade de
advogados (Tuma, Torres & Advogados Associados S/S, CNPJ
22.251.184/0001-03).

Protesta a Autora por todos os meios de provas em direito


admitidos, especialmente pelo depoimento pessoal das partes, sob
pena de confissão, juntada de documentos, inquirição de testemunhas,
exames, perícias, vistorias e tantas outras quantas forem
necessárias para prova de tudo quanto aqui afirmado.

Como de praxe, requer-se que o causídico MÁRCIO PINTO


MARTINS TUMA, OAB/PA 12.422, conste obrigatoriamente em toda e
qualquer publicação destinada ao presente processo, ainda que
substabelecidos outros advogados, sob pena de nulidade (art. 272,
§5º do CPC vigente e Enunciado de Súmula n. 427 do TST).

Dá-se à causa o valor de R$ 75.855,414, para efeitos de


custas e enquadramento no rito processual cabível.

Nestes Termos,
Pede deferimento.
Belém/PA, 28 de abril de 2023.

ANA CAROLINA M. DE ALBUQUERQUE OMAR ALEIXO CONDE MARTINS


OAB/PA 26.487 OAB/PA 18.980

MÁRCIO PINTO MARTINS TUMA


OAB/PA 12.422

4 Para fins de arbitramento do valor da causa, considera-se a somatória do total


das parcelas vencidas do Autor (cálculos em anexo = R$ 69.605,81) e o total das
parcelas vincendas das mesmas (consideraram-se doze parcelas do importe do
adicional de insalubridade em grau máximo que ora se requer, nos termos do art.
292, §2º, NCPC, tudo consoante a seguinte fórmula: R$ 520,80 * 12 = R$ 6.249,60).

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