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PETIÇÃO INICIAL

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DO TRABALHO DA


COMARCA FELIZ-MG

FULANO DE TAL, brasileiro, solteiro, técnico em manutenção, filho de CICLANA


DE TAL, nascido em 01/10/1989, inscrito no CPF nº 000.000.000-01, CTPS nº
0083987, série 00139/MG, PIS nº 2009999999999, residente e domiciliado na
cidade de Passos/MG, assistido por seus advogados signatários que esta
subscreve, vem, respeitosamente, ante a honrosa presença de Vossa
Excelência, com fulcro no art. 839 da CLT, propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

Em face de COMPANHIA PAPAGAIO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita


no CNPJ sob o nº 12.000.000/0001-01.

DO LOCAL DA CONTRATAÇÃO

Como é possível verificar pelos e-mails anexos, o Reclamante fora contratado


por email, quando residia na cidade de Passos/MG. Assim, resta bem embasada
a distribuição da presente demanda na Comarca de Passos/MG, onde deve
tramitar até o seu trânsito em julgado.

DOS FATOS E FUNDAMENTOS

1) Do Contrato Formal

O Reclamante foi contratado em 06/01/2015 pela Reclamada, para exercer as


funções de técnico em manutenção 1, para executar jornada de 44 horas
semanais, sendo de segunda a sexta-feira das 8h00 até 18h00 com uma hora e
quinze minutos de descanso, para receber como contraprestação a
remuneração de R$ R$ 6.642,80 (seis mil seiscentos e quarenta e dois reais e
oitenta centavos) por mês, sendo 4.428,00 (quatro mil quatrocentos e vinte e oito
reais) de salário, mais 30% de adicional de periculosidade, mais 20% de auxílio
moradia. Foi dispensado sem justo motivo dia 09/02/2017, sendo o aviso prévio
indenizado.

2) Da Equiparação Salarial

O Reclamante fora contratado para exercer as atividades de técnico em


manutenção 1 (junior), porém exercia as atividades de técnico de manutenção
2 (pleno), que na empresa eram exercidas pelos paradigmas Joãozinho,
Jandilson e Niomar. As funções de técnico de manutenção 1 são, basicamente,
auxiliar o técnico de manutenção 2, que por sua vez tem as funções de
manutenção deturbinas, manutenção em equipamentos auxiliares,
comissionamento de equipamentos, elaboração de frente de atividades,
relatórios de atividades desenvolvidas, plantões, elaboração de plano de
trabalho, elaboração de relatórios de falhas, entre outras funções.
Apesar de ter sido contratado como técnico de manutenção 1, o Reclamante
desde o princípio de seu contratado exercia as funções de técnico em
manutenção 2, como é possível verificar pelos mais variados documentos
juntados aos autos, tais como Planejamento Semanal, onde nota-se que o
Reclamante exercia as mesmas funções dos paradigmas, Elaboração de
Instruções de Trabalho – várias de autoria e assinadas pelo Reclamante e alguns
paradigmas. No documento Email da Manutenção Mecânica, verifica-se que o
Reclamante é colocado no mesmo patamar de seus paradigmas elencados. Por
fim, no documento Listas de Manuais e Fluxogramas reforça que o Reclamante
exercias as mesmas funções de todos Paradigmas.
Enquanto o salário do Reclamante como técnico 1 era de R$4.428,00, o salário
de técnico 2 é de aproximadamente R$ 6.000,00. Assim, por ser contratado
como técnico 1 e exercer as atividades e funções de técnico 2, durante todo o
contrato de trabalho, faz o jus o Reclamante ao recebimento da diferença de
salários por todo o contrato de trabalho e seus reflexos nas verbas contratuais
(adicional de periculosidade, auxílio moradia, férias + 1/3, 13º salários, depósitos
fundiários, DSR), bem como os reflexos nas verbas rescisórias (férias
proporcionais + 1/3, 13º salário proporcional, multa de 40% do FGTS, aviso
prévio).
Em tempo, requer seja notificada a Reclamada a apresentar recibo de salário de
um Técnico 2 de seu quadro de trabalhadores, preferencialmente dos
paradigmas elencados. Outrossim, requer a retificação de CTPS do Reclamante
para constar a função de Técnico de Manutenção Pleno ou Técnico 2.

3) DO PERÍODO SOBREAVISO e DSR

O Reclamante da admissão até final do contrato de trabalho em 09/02/2017,


sempre ficava de sobreaviso nas dependências da Reclamada, sem poder se
ausentar nos finais de semana, pelo menos uma vez ao mês, tendo que ficar
sempre a espera de qualquer chamado, pois nessas datas era o único técnico
que ficava na Empresa e poderia solucionar algum problema nas turbinas ou
máquinas.
Quando ficava de sobreaviso o Reclamante perdia seu Descanso Semanal
Remunerado, seu descanso, seu direito ao lazer. Sempre que ficava de
sobreaviso, o Reclamante iniciava o sobreaviso na sexta feira às 17h00min e
encerrava na segunda às 08h00min. Conforme é possível analisar pelos cartões
de pontos, pelas provas testemunhais, e demais documentos, foram várias
vezes que Reclamante além de ficar de sobreaviso era efetivamente chamado a
trabalhar. Pela situação exposta, o Reclamante perdia sua oportunidade de
descanso, visto que sempre estava ligado ao serviço, sem poder descansar.
O período em sobreaviso constitui efetivo trabalho, devendo, portanto, integrar o
salário da Reclamante gerando reflexos no pagamento de 13º salário, férias,
repousos e feriados, gratificação de férias.
Destarte, faz jus em receber 1/3 do salário equivalente ao período em que ficava
em sobreaviso, nos termos do artigo 244, parágrafo 2º da CLT. Desta forma,
requer o pagamento destas horas na razão de um terço sobre a totalidade das
parcelas, consoante a Súmula 229 do TST e do artigo 244, §2º da CLT.
Ademais, requer os devidos reflexos em todas as verbas contratuais (férias +
1/3, 13º salários, DSR e FGTS), bem como reflexos nas verbas rescisórias (aviso
prévio, 13º salário proporcional, férias proporcionais + 1/3). Requer seja utilizada
como base de cálculo maior e real remuneração do Reclamante, considerando
a incorporação das horas extras, horas in itinere e adicional de periculosidade.
Ainda, requer o pagamento de DSR por sua supressão e seus reflexos em todas
as verbas contratuais (férias + 1/3, 13º salários, DSR e FGTS), bem como
reflexos nas verbas rescisórias (aviso prévio, 13º salário proporcional, férias
proporcionais + 1/3).

4) Das Horas In Itinere

O Reclamante toda semana fazia o trajeto de ida e volta da sede da Reclamada


em ônibus fornecido pela Reclamada de forma gratuita, visto que o local de
trabalho era de difícil acesso e não servido por transporte público.
Cada trajeto era feito em aproximadamente 3h (três) horas, sendo que na
segunda feira o Reclamante recebia duas horas extras in itinere, restando sem
pagamento 1 (uma) horas extra referente a ida para a Reclamada sem
pagamento.
Na volta, às sextas-feiras, o Reclamante fazia 2 (duas) horas do trajeto dentro
de sua jornada de trabalho, sendo que sempre a terceira hora do trajeto era feita
fora da jornada de trabalho e nunca fora remunerada como hora extra in intinere.
Assim, totaliza 2 (duas) horas extra in itinere por semana, durante todo o contrato
de trabalho.
Portanto, desde já pleiteia o Reclamante o pagamento de 2 (duas) horas extras
semanais com acréscimo de 100% e seus reflexos em todas as verbas
contratuais (férias + 1/3, 13º salários, DSR e FGTS), bem como reflexos nas
verbas rescisórias (aviso prévio, 13º salário proporcional, férias proporcionais +
1/3).

5) Da Multa do Artigo 467 e 477da CLT

Em razão de tratar-se claramente de verbas incontroversas, requer também seu


pagamento na audiência inaugural, sob pena de ser acrescido de 50% nos
termos do artigo 467 Consolidado.
Outrossim, por não ter havido pagamento de qualquer verba rescisória dentro do
prazo legal, visto que a homologação e pagamento se deram apenas após
21/02/2017 e o afastamento em 09/02/2017, requer a aplicação da multa prevista
no artigo 477, §8ª, da CLT.

6) Dos recolhimentos previdenciários

Requer sejam compelidas as Reclamadas ao recolhimento das contribuições


previdenciárias incidentes sobre as verbas salariais e diferenças salariais não
pagas decorrentes do contrato de trabalho do Reclamante, por ser medida de
direito.

7) Dos honorários advocatícios

Estando o Reclamante assistido por advogado do Sindicato Assistente e


comprovando perceber salário inferior ao dobro do mínimo legal, requer receber
honorários advocatícios no importe de 15%, nos termos da Sumula 219 do TST
e Lei 5.584/70.

8) DOS PEDIDOS

Ante o exposto requer:

1- A notificação da Reclamada no endereço constante do preâmbulo da inicial,


na pessoa de seu representante legal e/ou pessoalmente, para comparecer em
audiência, e, querendo, apresente defesa, sob pena de revelia e confissão ficta;

2- Intimação da Reclamada para apresentar o recibo de salário de um técnico


em manutenção pleno ou técnico em manutenção 2, preferencialmente dos
paradigmas elencados.

3- Pagamento das diferenças salariais entre o salário recebido pelo Reclamante


o e salário de direito (técnico em manutenção 2) por todo contrato de trabalho
.......................................................................................................R$ 39.300,00;
4- Pagamento dos reflexos da diferença salarial nas verbas seus reflexos em
todas as verbas contratuais (férias + 1/3, 13º salários, DSR e FGTS), bem como
reflexos nas verbas rescisórias (aviso prévio, 13º salário proporcional, férias
proporcionais + 1/3) .........................................................................R$ 13.243,87;

5- Alteração do Registro do Reclamante para nele constar sua função de fato –


Técnico Em Manutenção 2; 6- Pagamento de 1/3 da remuneração ao período
em que ficava em sobreaviso, nos termos das Convenções Coletivas em anexo
e do artigo 244, § 2º da CLT
..........................................................................................................R$14.491,63

7- Pagamento dos reflexos do adicional de sobreaviso em todas as verbas


contratuais (férias + 1/3, 13º salários, DSR e FGTS), bem como reflexos nas
verbas rescisórias (aviso prévio, 13º salário proporcional, férias proporcionais +
1/3).............................................................................................. R$ 4.843,54;

8- Pagamento de DSR referente aos finais de semana em que o Reclamante


laborou em sobreaviso................................................................... R$2.897,28;

9- Pagamento de indenização por Danos Morais/Dano Existencial (supressão do


direito ao descanso e lazer).......................................................... R$15.000,00;

10- Pagamento de duas horas extras por semana trabalhada regularmente a


título de horas in itinere, na razão de 100%, com base na remuneração de R$
4.6642,80...................................................................................R$ 5.071,92:

11- Pagamento dos reflexos das horas In Intinere em todas as verbas contratuais
contratuais (férias + 1/3, 13º salários, DSR e FGTS), bem como reflexos nas
verbas rescisórias (aviso prévio, 13º salário proporcional, férias proporcionais +
1/3).......................................................................... R$ 1690,64

12- Pagamento da multa prevista no art.477, §8º da CLT ................. R$ 4428,00;

13- Pagamento da multa prevista no art. 467 da CLT ........................R$ 4428,00;


14- A condenação da Reclamada ao recolhimento das contribuições
previdenciárias ao INSS por todo o período trabalhado;

15- A condenação da Reclamada em honorários advocatícios, no importe de


15% em favor do sindicado de acordo com os consectários legais
.........................................................................................................R$ 15.809,23;

16- Seja a presente ação julgada totalmente procedente;

17- Assistência Judiciária Gratuita, por ser o Reclamante hipossuficiente nos


termos da Lei 1.060/50 e 5.584/70;

18- Provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidas,


inclusive o depoimento pessoal do representante da Reclamada, sob pena de
confissão, notadamente por meio de testemunhas que comparecerão
independentemente de intimação e também através de perícias técnicas e
vistorias.

19- Dá-se à presente causa o valor de R$ 121.204,11.

Nestes termos,
Pede deferimento
SENTENÇA

1) RELATÓRIO
, qualificado nos autos, ajuizou a presente reclamação ALDO ANTUNES
AMORIM trabalhista em face
de COMPANHIA HIDRELETRICA TELES PIRES, alegando, em síntese: foi
admitido em
06/01/2015, para exercer a função de técnico em manutenção 1, com
remuneração mensal média de
R$6.642,80, tendo sido dispensado sem justa causa em 09/02/2017; deve ser
equiparado aos paradigmas
que cita, que desempenhavam as mesmas funções; era obrigado a ficar de
sobreaviso, sem a corresponde
remuneração; realizava o percurso de ida e volta do trabalho em veículo
fornecido pela reclamada,
percurso que era de difícil acesso e não servido por transporte público; sofreu
danos morais, que devem
ser indenizados, faz jus ao pagamento das multas dos arts. 467 e 477 da CLT.
Formulou os pedidos
declinados às fls. 11/13 dos autos, dando à causa o valor de R$121.204,11.
Apresentou documentos,
declaração de pobreza e procuração.
Regularmente notificada, a reclamada compareceu à audiência designada
(termo de fls. 422/423), e,
recusada a primeira proposta conciliatória, apresentou defesa escrita,
acompanhada de documentos. No
mesmo ato, foi afastada a exceção de incompetência arguida pela reclamada.
Em sua defesa (fls. 265/267), a reclamada impugnou todos os pedidos,
requerendo a improcedência deles
e, eventualmente, compensação. Apresentou documentos, carta de preposição,
procuração e
substabelecimento.
Colhidos os depoimentos pessoais das partes no termo de audiência de fls.
435/436 e ouvidas duas
testemunhas por carta precatória (ata, fls. 449/450).
Em audiência de instrução (termo de fls. 452/453), foi ouvida uma testemunha
do autor e, inexistindo
outras provas a produzir, foi encerrada a instrução processual.
Razões finais orais remissivas.
Última proposta conciliatória recusada.

2) FUNDAMENTAÇÃO
- Questão de ordem
Conforme mencionado na ata de audiência da deprecata de fls. 449/450, o
acesso ao teor dos testemunhos
ali colhidos (testemunhas da ré) e não degravados foi possível por meio de
cadastro de servidor desta
Especializada junto ao CNJ ("mídias pje").
- Equiparação Salarial
Alega o reclamante que exerceu as mesmas funções dos paradigmas José
Geraldo Messias Fernandes,
Jandilson Pereira de Oliveira e Niomar Teixeira Giribola, pelo que pretende a
equiparação salarial com
estes e o pagamento de diferenças salariais e reflexos consectários.
A reclamada, por sua vez, nega a identidade de funções.
A Consolidação das Leis do Trabalho de 1943 consagrou o direito à equiparação
salarial em seu art. 461,
segundo o qual "sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado
ao mesmo empregador,
na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo,
nacionalidade ou idade".
No mesmo sentido, a Constituição da República de 1988, Constituição Cidadã,
em seu artigo 7°, incisos
XXX, XXXI e XXXII, dispôs expressamente a respeito da proibição de diferença
de salários, de exercício
de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado
civil.
A equiparação salarial pressupõe um ato de discriminação por parte do
empregador, levando-o a tratar
dois trabalhadores que se encontram em idêntica situação de formas diferentes,
sem que haja qualquer
justificativa para tanto. É instituto que visa assegurar idêntico salário a colegas
que tenham exercido
simultaneamente a mesma função, na mesma localidade e para o mesmo
empregador.
Da análise do caso concreto, verifica-se estarem preenchidos os requisitos para
o reconhecimento da
equiparação salarial, nos termos do art. 461 da CLT e Súmula 06 do TST. Isto é:
a função exercida pelo
autor e o paradigma Jandilson é a mesma; os serviços eram prestados para o
mesmo empregador e na
mesma localidade; a diferença no exercício da função é inferior a dois anos.
Com efeito, a própria testemunha da ré (carta precatória de fls. 449/450), que é
um dos paradigmas
indicados pelo reclamante (sr. Jandilson) e com ingresso posterior ao do
reclamante (abril/2015), foi firme
e convincente ao narrar que a diferenciação entre as funções entre o "técnico de
manutenção I" e o
"técnico de manutenção II" se restringia ao grau de responsabilidade, sem
qualquer diferenciação, no
entanto, da prática das atividades. Ainda, dos demonstrativos de pagamento e
demais documentos que instruíram a defesa não existe nenhum critério que
permita à empresa a diferenciação de remuneração
para o desempenho da mesma função entre eles, notadamente pela ausência
da juntada eventual plano de
cargos e salários.
Noutra vertente, a consonância das informações entre a testemunha do autor
(ata, fl. 452) e a da ré (sr.
Jandilson) autoriza, por razoável, a equiparação com um dos paradigmas
indicados na inicial, qual seja,
este último, cenário que não se observa quanto aos demais paradigmas
indicados Niomar e José Geraldo.
Desse modo, demonstrada a identidade de funções e não tendo a reclamada se
desincumbido do ônus de
provar os fatos extintivos do direito do obreiro (art. 818, II CLT), é forçoso
reconhecer ao reclamante o
direito à equiparação salarial com o paradigma Jandilson Pereira de Oliveira, a
qual deverá observar a
"referência", o salário base deste e do reclamante, conforme demonstrativos de
pagamento colacionados à
defesa e que possam ser juntados em eventual fase de execução, a evolução
salarial, com exclusão de
verbas de caráter personalíssimo, abonos, premiações especiais e remuneração
variável. Os reajustes
salariais concedidos deverão ser observados.
Por conseguinte, procede o pagamento de diferenças por equiparação salarial,
entre o reclamante e o
paradigma Jandilson Pereira de Oliveira, durante o período coincidente de labor,
observadas balizas da
fundamentação, bem como reflexos em aviso prévio, férias + 1/3, 13ºs salários
e FGTS (limite do pedido
do item "4" de 11).
Ainda, deverá a reclamada anotar a CTPS do reclamante, no prazo de dez dias
após ser intimada para
tanto, fazendo constar a função de Técnico de Manutenção 2, sob pena de multa
de R$1.000,00, a ser
revertida em prol do obreiro. Decorrido o prazo sem cumprimento, fica esta
Secretaria autorizada a
proceder à respectiva anotação, sem prejuízo da multa ora fixada.
- Multas dos arts. 467 e 477 da CLT
O pagamento tempestivo do valor rescisório incontroverso (art. 477, § 6º da
CLT), comprovado à fl. 338,
é ato suficiente a barrar a multa do art. 477 da CLT. Da mesma forma, a ausência
de parcelas
incontroversas a serem quitadas por ocasião da primeira audiência obsta o pleito
de multa do art. 467 da
CLT. Desta feita, improcedem os pleitos de pagamento das multas pretendidas.
- Sobreaviso
Argumenta o reclamante que era obrigado a ficar de sobreaviso, pelo que
formula pedido de pagamento
das respectivas horas e reflexos.
Pois bem. Nos termos do art. 244 § 2º da CLT, considera-se de "sobreaviso" o
empregado que permanecer
em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o
serviço.
Ao prestar depoimento pessoal, o preposto da reclamada admitiu que todos os
técnicos em manutenção I
ficavam de plantão em forma de rodízio e que quando o reclamante estava de
plantão não poderia se
ausentar da usina (ata, fl. 436). Passo avante, o relato da testemunha da ré (sr.
Jandilson), que também era
técnico de manutenção 2, revela que o plantão ocorria em um final de semana
por mês (ata, fl. 449,
vídeo/áudio 1, minuto 11:00 ao 12:50), informação que coincide com as planilhas
juntadas aos autos pelo
próprio autor (173/181). Nesse contexto, tenho por não infirmado o testemunho
retromencionado por
nenhuma prova nos autos, inclusive pelas informações prestadas pela
testemunha ouvida a rogo do autor.
Noutro giro, apesar da informação coincidente das testemunhas do autor e da ré
(Jandilson) de que havia
anotação do período de sobreaviso nos cartões de ponto, à exceção dos meses
de novembro de 2016 (fl.
393, verba/código "026") e fevereiro de 2017 (fl. 396, verba/código "026"), os
demonstrativos de
pagamento do reclamante não apresenta destaque para qualquer valor a título
de sobreaviso.
De fato, excetuados os meses acima referidos, sobre os quais não houve
apontamento de quaisquer
diferenças pelo reclamante, no que pertine ao período remanescente do contrato
de trabalho, o cenário que
se apresenta é do que o reclamante recebia horas extras com adicionais de 50%
e 100%, mas este
pagamento era referente às horas efetivamente trabalhadas nas
manutenções/reparos/socorros, estas, sim,
anotadas no registro de ponto e quitadas mensalmente.
Assim sendo, com exceção dos meses de novembro de 2016 e fevereiro de
2017, com base no art. 244, §
2º da CLT, defiro ao reclamante o pagamento das horas de sobreaviso, no
montante de 1/3 (um terço) da
hora normal, considerando-se, para tanto, um plantão mensal com início na
sexta-feira a partir das 18hs
até 08h da segunda-feira. Haverá reflexos em férias + 1/3, 13ºs salários, DSR's,
FGTS e verbas rescisórias
(limite do pleito do item "7", fls. 11/12).
Por derradeiro, considerados os limites da causa de pedir e do pleito feito na
inicial (item "8", fl. 12), não
vinga a pretensão obreira de sobreposição do DSR's e o período de sobreaviso,
vez que a remuneração
deste período encontra regramento legal específico para período que não é de
efetivo labor.
- Horas in itinere
Atendo aos seus limites, é importante destacar que a causa de pedir se ampara
nos deslocamentos
realizados pelo reclamante no início e fim de semana, tendo ele formulado
pedido de pagamento de uma
hora itinere/extra remanescente para a segunda e uma para a sexta-feira.
Ao prestar depoimento pessoal, o reclamante narrou: (...); que nessa época o
depoente não tinha família
em Alta Floresta; que se porventura não necessitasse trabalhar, em finais de
semana, poderia ir para
Alta Floresta nestes dias; que mesmo se não fosse trabalhar em finais de
semana poderia permanecer no
alojamento da reclamada em tais dias (ata, fl. 435). A sua testemunha, por sua
vez, relatou: (...); que às s
extas-feiras, no final do expediente, gastava-se três horas da usina reclamada
até Alta Floresta; que às
segundas-feiras, pela manhã, gastava-se três horas no percurso de Alta Floresta
até a usina, (...) (ata, fl.
452).
Ora, a despeito da remuneração voluntária por parte da empresa, as
circunstâncias do caso em tela,
notadamente a faculdade de permanência no alojamento da própria usina,
autorizam a conclusão de que o
reclamante, em seus eventuais deslocamentos aos finais de semana, não estava
à disposição da empresa,
vez que o tal trajeto tinha como objetivo propiciar ao empregado gozar do
descanso semanal junto aos
seus familiares. Enfim, não se trata de deslocamento para ida e volta diária do
trabalho. Ainda que assim
não fosse, a prova oral dá conta que havia liberação do empregado na sexta-
feira às 15hs (testemunhas da
ré, vídeo/áudio de fl. 649, minutos 6:44 ao 7:02 e 12:52 ao 12:54,
respectivamente), o que, por si só,
coloca em xeque as alegadas diferenças nas horas in itinere quitadas pela
empresa.
Por todo o exposto, julgo improcedente o pedido de pagamento de horas in
itinere e reflexos.
- Danos morais
Formula o obreiro pedido de pagamento de indenização por danos
morais/existenciais, ao argumento de
que lhe foi sonegado o direito ao lazer e descanso.
No caso em exame, o excesso de trabalho detectado encontrou reparação na
via material, inclusive com
reflexos nas demais parcelas salariais. Além disso, o reclamante não produziu
qualquer prova nos autos a
demonstrar o alegado abalo psicológico por ele experimentado. Note-se que as
testemunhas ouvidas nos
autos sequer abordam o tema.
Não se descura de que qualquer ato ilícito há de ser indenizado, nos exatos
termos do artigo 5º, V e X, da
CF e artigo 186, do CCB, para que se alcance o direito à indenização, mister a
prova do ato lesivo seguido
de um dano comprovadamente amargado, ou seja, para que reste configurado
o dever de indenizar, é
mister que esteja também demonstrado em toda a sua magnitude o dano sofrido
na ordem íntima do
obreiro, o que, somente se verificado, conduziria à reparação por danos morais.
Por conseguinte, julgo improcedente o pedido de reparação a título de danos
morais/existenciais.
- Juros e Correção Monetária, Encargos Sociais e Fiscais
As verbas resultantes da sentença serão apuradas em liquidação, observada a
época própria e autorizados
os descontos legais.
Os juros de mora deverão incidir a partir da data do ajuizamento da ação,
observado o disposto no
Decreto-Lei 2.322/87, na Lei 8.177/91 e nas Súmulas 200 e 307 do TST, no que
couber.
Todos os valores serão atualizados monetariamente até a data do respectivo
pagamento (Súmula 15,
TRT). Observe-se a Súmula 381 do TST - atualização a partir do 1º dia útil
subsequente ao mês vencido.
Os valores devidos a título de FGTS deverão ser corrigidos pelos mesmos
índices aplicáveis aos débitos
trabalhistas (OJ 302 da SDI-I do c. TST).
Em vista do art. 114, inciso VIII, da CR/88, a Justiça do Trabalho é competente
para executar, de ofício,
as contribuições sociais previstas no art. 195, incisos I, "a", e II, e seus
acréscimos legais, decorrentes das
sentenças que proferir. Portanto, as contribuições sociais, cotas patronal e
obreira, incidentes sobre as
parcelas de natureza salarial objeto da condenação deverão ser comprovadas
nos autos pela reclamada em
até oito dias após o passado em julgado da sentença, bem como a retenção do
imposto de renda, sob pena
de execução dos primeiros e expedição de ofício em relação ao último, nos
termos da lei. Observe-se, no
que couber, também a Súmula 368, TST.
Autorizam-se as deduções previdenciárias e fiscais a cargo da parte
trabalhadora, por imposição legal, no
último caso conforme art. 46 da Lei 8541/92.
Com a edição da Medida Provisória nº 449, de 04 de dezembro de 2008,
convertida na Lei nº 11.941, de
27 de maio de 2009, que alterou o art. 43 da Lei nº 8.212/91, o fato gerador da
contribuição social passou
a ser a data da prestação de serviços pelo empregado. Assim sendo, as
contribuições sociais incidentes
sobre o crédito trabalhista reconhecido em Juízo ficam sujeitas aos juros de mora
equivalentes à taxa
referencial SELIC (Inteligência dos arts. 22 e 34 da Lei nº. 8.212/91).
Não se aplicará multa pelo atraso no pagamento das contribuições no período
anterior à liquidação da
sentença, por força do contido no art. 43, § 3º, da Lei 8.212/91.
Já o imposto de renda deverá ser apurado pelo regime progressivo (mês a mês),
com arrimo no art. 12-A
da Lei 7.713/88, inserido pela MP 497/10, e na orientação que se extrai da
Instrução Normativa 1.127,
editada em 08/02/2011 pelo Ministério da Fazenda, e do Ato Declaratório
01/2009 da Procuradoria Geral
da Fazenda Nacional - PGFN, que dispõe que o imposto de renda deverá ser
apurado, mensalmente, sobre
os valores mensais auferidos e consideradas as tabelas e alíquotas das épocas
próprias.
Não haverá incidência do encargo tributário nos juros de mora.
- Justiça Gratuita
Tendo em conta o cenário de desemprego atual sem qualquer prova em
contrário, concedo ao autor os
benefícios da justiça gratuita, na forma do art. 790, § 3º da CLT.
- Compensação
Inexistem parcelas deferidas e quitada a igual título e passíveis de
compensação, pleito das reclamadas
que indefiro.
- Honorários Advocatícios
Proposta a presente ação após a vigência da Reforma Trabalhista (Lei nº
13.467/17), a sucumbência
recíproca, presente a multipolaridade de vitórias relevantes, impõe a cada
litigante arcar com os
honorários do advogado adverso, de maneira que a parte ré responde pelo
importe equivalente a 5%
(cinco por cento) sobre o valor do crédito obreiro bruto (art. 791-V da CLT c/c OJ
348, SDI-I, do c. TST),
como se apurar em liquidação, e, no avesso, o vértice autor assume o valor
correspondente a 5% (cinco
por cento) da diferença entre o valor atualizado atribuído à causa e aquele acima
aquinhoado,
excluindo-se, daí, o valor atribuído a honorários sucumbenciais, vez que aqui
foram fixados em patamar
diverso e não compõem crédito obreiro.
A exigibilidade dos honorários sucumbenciais em face da parte reclamante
beneficiária de justiça gratuita
fica condicionada às hipóteses descritas no § 4º do art. 791-A.
3) DISPOSITIVO
Isso posto, na ação proposta por ALDO ANTUNES AMORIM em face de
COMPANHIA
HIDRELETRICA TELES PIRES, julgo PROCEDENTES, EM PARTE, os pedidos
formulados, tudo
conforme fundamentação supra que integra este dispositivo independentemente
de transcrição, para
condenar a reclamada nas seguintes obrigações:
anotar a CTPS do reclamante, no prazo de dez dias após ser intimada para tanto,
fazendo constar a função de Técnico de Manutenção 2, sob pena de multa de
R$1.000,00, a ser revertida em prol do obreiro. Decorrido o prazo sem
cumprimento,
fica esta Secretaria autorizada a proceder à respectiva anotação, sem prejuízo
da multa
ora fixada;
pagar diferenças a título de equiparação salarial, entre o reclamante e o
paradigma
Jandilson Pereira de Oliveira, durante o período coincidente de labor,
observadas
balizas da fundamentação, bem como reflexos em aviso prévio, férias + 1/3, 13ºs
salários e FGTS (limite do pedido do item "4" de 11);
pagar horas de sobreaviso, no montante de 1/3 (um terço) da hora normal,
considerando-se, para tanto, um plantão mensal com início na sexta-feira a partir
das
18hs até 08h da segunda-feira. Haverá reflexos em férias + 1/3, 13ºs salários,
DSR's,
FGTS e verbas rescisórias (limite do pleito do item "7", fls. 11/12).
Juros e correção monetária, recolhimentos previdenciários e fiscais, benefícios
da gratuidade e honorários
advocatícios, consoante fundamentação.
Adverte-se às partes que embargos declaratórios não se prestam à revisão de
fatos e provas, nem à
impugnação da justiça da decisão, cabendo sua interposição nos estreitos limites
previstos nos artigos
1022 do NCPC e 897-A da CLT. A interposição de embargos declaratórios
meramente protelatórios
ensejará a aplicação de multa, nos termos do art. 1026, §§ 2º e 3º, do NCPC. E
será considerado ato
protelatório a interposição de embargos pré-questionadores, ante o caráter
devolutivo do Recurso
Ordinário.
Custas, pela reclamada, no importe de R$500,00, calculadas sobre
R$25.000,00, valor que arbitro à
condenação.
Intimem-se as partes.
Nada mais havendo, encerra-se.

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