Márcia França, brasileira, solteira, cozinheira, portadora da
Carteira de Trabalho e Previdência Social n. ...,série..., inscrita no CPF n. ..., com endereço na Rua..., n. ..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., vem, por seu advogado, infra-assinado e devidamente constituído, instrumento procuratório anexo (documento 01), com escritório profissional na Rua..., n. ..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., onde recebe intimações e notificações, com base no art. 840, da CLT, ajuizar a presente
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
Qualificação do reclamado (§ 1.º do art. 840 da
CLT) pelo rito ordinário, em face do Restaurante Mariscos S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ n...., estabelecido na Rua..., n. ..., Bairro..., Cidade..., Estado..., CEP..., com fundamento no § 1.º do art. 840 da Consolidação das Leis do Trabalho, pelos motivos de fato e razões de direito a seguir aduzidos:
DOS FATOS
A Reclamante foi admitida pelo Reclamado em 2-4-2013,
para trabalhar como cozinheira, percebendo como última remuneração a importância mensal de R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais).
Durante o lapso laboral o Reclamado não efetuou a
anotação e assinatura da Carteira de Trabalho e Previdência Social da obreira, bem como jamais procedeu aos depósitos fundiários e recolhimentos previdenciários.
Apesar de ter sido contratada para prestar serviços das 08
às 18 horas, com duas horas de intervalo, a Autora sempre trabalhou até as 23 (vinte e três) horas, sem o pagamento das horas extraordinárias e do adicional noturno.
A Requerente foi dispensada sem justa causa em 4-4-
2018, sem que tenha recebido quaisquer valores a título de verbas rescisórias, muito menos o saldo de salário, as férias vencidas e proporcionais, acrescidas do 1/3 constitucional, e o décimo terceiro salário proporcional, além da multa de 40% do FGTS. Tampouco foram fornecidas pela empresa Reclamada as guias para levantamento do FGTS e para a percepção do seguro-desemprego.
A Autora encontra-se desempregada, não tendo condições
de assumir o pagamento das custas, das despesas processuais e dos honorários advocatícios. DOS DIREITOS/FUNDAMENTOS
1. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO
REGIDO PELA CLT A obreira trabalhou para o Reclamado durante o período de 2-4-2013 a 4-4-2018, sem o devido registro do contrato de emprego em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, CTPS, apesar de configurados todos os elementos da relação jurídica, regida pela Consolidação das Leis do Trabalho, especialmente a pessoalidade, subordinação e habitualidade, de conformidade com o caput dos artigos 2º e 3º da CLT.
Neste sentido, impõe-se o reconhecimento do vínculo
jurídico de emprego entre a Autora e o Réu, sob o citado período, com o consequente registro das anotações do contrato na CTPS da Reclamante, devendo ser observada na anotação o tempo alusivo à projeção do aviso prévio proporcional ao tempo de serviço.
Da mesma forma, o Reclamado deverá ser condenado a
pagar à Autora os seguintes títulos:
2. AVISO PRÉVIO INDENIZADO PROPORCIONAL AO
TEMPO DE SERVIÇO
Como a Reclamante foi dispensada sem justa causa, sem
que o empregador lhe tenha concedido o cumprimento do aviso prévio, tem direito ao pagamento da indenização correspondente ao período, de conformidade com o § 1º do art. 487 da CLT, visto que “a falta do aviso prévio por parte do empregador dá ao empregado o direito aos salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a integração desse período no seu tempo de serviço”.
E por ter trabalhado para o Reclamado por cinco anos
completos, a Autora tem direito ao pagamento do aviso prévio proporcional ao tempo de serviço de 42 dias, sendo 30 dias pelo primeiro ano trabalhado, e 12 dias pelos quatro últimos anos trabalhados (4 anos completos x 3 dias = 12 dias), conforme previsto no art. 1.º da Lei n.12.506/2011.
3. SALDO DE SALÁRIO
Como a Reclamante trabalhou até o dia 04 de abril de
2018, faz jus ao direito de receber o pagamento pelo labor prestado nesses dias a título de saldo de salário, devendo a Reclamada ser condenada neste sentido. 4. DÉCIMO SALÁRIO PROPORCIONAL (5/12)
A Reclamante foi dispensada imotivadamente em 4-4-
2018, com o aviso prévio indenizado proporcional ao tempo de serviço, tendo direito ao décimo terceiro salário proporcional (5/12 avos), conforme prescrito no art. 3.º da Lei n. 4.090/1962.
5. FÉRIAS PROPORCIONAIS (1/12) ACRESCIDAS DO
1/3 CONSTITUCIONAL
Como a Autora foi dispensada em 4-4-2018, com a
projeção do aviso prévio indenizado proporcional ao tempo de serviço, tem direito ao pagamento de 1/12 avos a título de férias proporcionais + 1/3 constitucional, tendo em vista que “salvo na hipótese de dispensa do empregado por justa causa, a extinção do contrato de trabalho sujeita o empregador ao pagamento da remuneração das férias proporcionais, ainda que incompleto o período aquisitivo de 12 (doze) meses” (Súmula n. 171 do TST).
6. FÉRIAS VENCIDAS ACRESCIDAS DO 1/3
CONSTITUCIONAL
Da mesma forma, a Autora tem direito ao pagamento das
férias vencidas, em relação ao período aquisitivo de 2-4-2017 a 1.º-4-2018, acrescido do 1/3 constitucional, uma vez que completou o período aquisitivo previsto no caput do art. 130 da CLT.
7. HORAS EXTRAS E REFLEXOS
Inobstante ser sido contratada para trabalhar das 08 às 18
horas, com duas horas de intervalo, a Autora habitualmente trabalhava até as 23 (vinte e três) horas, sem jamais ter recebido o pagamento pelo labor extraordinário, com o acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da hora normal (inciso XVI do art. 7.º da CRFB).
Neste sentido, deverá a empresa ser condenada a
proceder ao pagamento de todas as horas extras prestadas, com os devidos reflexos sobre as seguintes parcelas: aviso prévio (Art. 487,§ 5º, da CLT), saldo de salário, décimo terceiro salários (Súmula 45 do TST), férias vencidas e proporcionais acrescidas do 1/3 constitucional (art. 142, § 5º, da CLT), repouso semanal remunerado (art. 7º, a, da Lei 605/49), além dos depósitos fundiários e dos recolhimentos previdenciários (FGTS + multa de 40% - Artigos 15 e 18 § 1º, da Lei 8.36/90).
8. ADICIONAL NOTURNO
Da mesma forma, em virtude do labor extraordinário
habitual até às 23 (vinte e três) horas, faz jus a Autora ao pagamento do adicional noturno de 20% (vinte por cento) devido a todo trabalhador cuja jornada de trabalho ultrapassar às 22 (vinte e duas) horas (caput e § 2.º do art. 73 da CLT). E, de conformidade com a Orientação Jurisprudencial n. 97 da Subseção de Dissídios Individuais I do TST “o adicional noturno integra a base de cálculo das horas extras prestadas no período noturno”. Assim, o empregador deverá integrar no cálculo das horas extras habituais, consideradas noturnas, o percentual do adicional noturno.
Ademais, o Reclamado deverá pagar também os reflexos
do valor do adicional noturno nas verbas rescisórias e contratuais, como os décimos terceiros salários, as férias vencidas, além dos depósitos fundiários e recolhimentos previdenciários, pois segundo o item I da Súmula n. 60 do TST o adicional noturno integra o salário para todos os efeitos.
9. DEPÓSITOS E SAQUE DO FGTS
Apesar de ser uma obrigação da empresa (art. 15 da Lei n.
8.036/1990), o Reclamado jamais efetuou os recolhimentos do FGTS, devendo ser condenado a proceder aos depósitos fundiários sobre todo o período trabalhado pela Reclamante, ou seja, de 2 de abril de 2013 a 4 de abril de 2018, inclusive sobre as férias, os décimos terceiros salários, as horas extras e as importâncias alusivas ao adicional noturno.
Da mesma forma, deverá ser condenado a entregar à
Autora as guias para saque do saldo da conta vinculada do FGTS, visto que em tal forma de rescisão contratual a empregada faz jus ao saque da importância total depositada, de conformidade com o inciso I do art. 20 da Lei n. 8.036/1990.
11. MULTA DE 40% SOBRE O FGTS
Como a iniciativa do rompimento do vínculo empregatício
foi do Reclamado e a dispensa foi sem justa causa, a Reclamante tem direito ao pagamento da multa de 40% (quarenta por cento) sobre o FGTS, de acordo com o § 1.º do art. 18 da
Lei n. 8.036/1990, a seguir transcrito (ou in verbis):
Art. 18. (...)
§ 1.º Na hipótese de despedida pelo empregador sem justa
causa, depositará este, na conta vinculada do trabalhador no FGTS, importância igual a quarenta por cento do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros.
12. SEGURO-DESEMPREGO
Como já informado anteriormente, a Reclamante foi
dispensada imotivadamente pelo empregador, fazendo jus à percepção do seguro desemprego, conforme previsto no caput do art. 3.º da Lei n. 7.998/90. Nesse sentido, prevê o item II da Súmula 389 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, a seguir transcrito:
Súmula 389. SEGURO-DESEMPREGO. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DIREITO À INDENIZAÇÃO POR NÃO LIBERAÇÃO DE GUIAS (conversão das Orientações Jurisprudenciais 210 e 211 da SBDI-1) — Res. 129/2005, DJ, 20, 22 e 25-4-2005. (...)
II — O não fornecimento pelo empregador da guia
necessária para o recebimento do seguro desemprego dá origem ao direito à indenização (ex-OJ 211 da SBDI-1 — inserida em 8-11-2000). (destacamos)
Assim sendo, requer a Autora seja o Réu condenado a
entregar na audiência inaugural as guias alusivas ao seguro-desemprego, para que a obreira possa gozar de tal benefício, e, no caso de as guias não serem fornecidas pelo Reclamado, requer que o empregador seja responsabilizado pelo pagamento de uma indenização de forma direta, correspondente aos prejuízos advindos de sua injustificada postura (art. 325 do CPC).
13. MULTA DO § 8.º DO ART. 477 E DO ART. 467
DA CLT
É devido o pagamento da importância alusiva à multa do §
8.º do art. 477 da CLT, uma vez que até a presente data a Reclamante não recebeu as verbas rescisórias a que faz jus, incorrendo a Reclamada à citada multa. Devido, também, o pagamento da multa do art. 467 da CLT, caso o Reclamado deixe de pagar os valores das verbas rescisórias incontroversas à data do comparecimento à audiência inaugural na Justiça do Trabalho.
14. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS
O Reclamado deverá ser condenado a pagar os honorários
sucumbenciais, na forma prevista no caput do art. 791-A da CLT, ou seja, de 15%, visto que na fixação do seu valor deverá ser levado em consideração a natureza e importância da presente causa, bem como o intenso trabalho realizado pelo advogado, e o tempo que lhe foi exigido para seu serviço (§ 2º do art. 791-A da CLT).
15. JUSTIÇA GRATUITA
Esclarece a Reclamante que por estar desempregada não
tem condições de demandar sem sacrifício do sustento próprio e de seus familiares, motivo pelo qual pede que lhe sejam concedidos os benefícios da assistência judiciária gratuita, nos termos do § 3.º do art. 790 da CLT, a seguir transcrito: Art. 790. (...) (...) § 3.º É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
§ 4.º O benefício da justiça gratuita será concedido à parte
que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.
Fundamenta, também, o seu pedido de assistência
judiciária gratuita com base no art. 98 do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao direito processual do trabalho, nos termos do art. 769 da CLT e o art. 15 do CPC.
DOS PEDIDOS
Diante de tudo o quanto foi exposto, requer-se:
a) A declaração de reconhecimento do vínculo jurídico
de emprego existente entre as partes, com a consequente anotação do contrato de emprego em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social pelo período compreendido entre 2-4-2013 a 16-5-2018 (com a projeção do aviso prévio proporcional ao tempo de serviço), bem como os registros de praxe.
b) Condenação da ré em horas extras e o adicional
noturno, com os consequentes reflexos, nos valores de R$...
c) Condenação da ré ao pagamento de férias vencidas
acrescidas do 1/3 constitucional, no valor de R$...
d) Condenação da ré ao pagamento de verbas
rescisórias indicadas acima, acrescidas de juros de mora e correção monetária, no valor de R$...
e) Condenação da ré ao pagamento da multa de 40%
(quarenta por cento) do FGTS;
f) Condenação da é ao pagamento da multa prevista no
§ 8.º do art. 477 da CLT, nos valores de R$... e R$..., respectivamente.
g) Requer, ainda, a condenação do Réu ao pagamento
de honorários de sucumbência de 15%, conforme fundamentado acima. i)Requer, igualmente, que o Reclamado seja condenado a fornecer as guias para a percepção do seguro-desemprego e para o saque do saldo da conta vinculada do FGTS, sob pena de pagar uma indenização substitutiva.
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Protesta a Autora por todos os meios de provas em direito
admitidas, especialmente pelo depoimento pessoal do Reclamado, juntada de documentos, inquirição de testemunhas, perícias e tantas outras quantas forem necessárias para provar tudo o quanto aqui foi afirmado.
Protesta, também, pela intimação do Reclamado para
comparecer à audiência para prestar depoimento pessoal, com a expressa cominação de aplicação da confissão, para o caso de não comparecer (item I da Súmula n. 74 do Tribunal Superior do Trabalho) ou se recusar a depor.
Requer, por fim, se digne Vossa Excelência determinar a
notificação do Reclamado para, querendo, contestar a presente reclamação trabalhista, sob pena de revelia, acompanhando-a até seus ulteriores trâmites, quando deverá ser julgada totalmente procedente.
Dá-se à causa o valor de R$... (extenso).
Nesses termos, pede-se deferimento. Local..., data... Advogado OAB/... n. ...