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Manifestações Rítmicas

e Expressivas
Material Teórico
Ritmo na Prática

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Bruno Fischer Dimarch

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Ritmo na Prática

• Introdução;
• Fontes Sonoras;
• Voz e percussão corporal;
• Barbatuques;
• O som das coisas;
• Stomp;
• Ritmo na prática;
• Planejar e movimentar;
• Embatucadores;
• Considerações finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer possibilidades de desenvolvimento de propostas rítmicas;
· Conhecer referenciais contemporâneos de grupos que utilizam o
ritmo de forma expressiva;
· Criar apresentações, projetos, planos de aula, sequências didáticas e
situações de aprendizagem envolvendo o ritmo de forma expressiva.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Ritmo na Prática

Introdução
A complexidade rítmica dos artistas indianos chama atenção tanto na música quanto na
Explor

dança. Eles sabem recitar o ritmo de seus movimentos e instrumentos musicais e são precisos
na marcação rítmica. Um artista indiano dedica sua vida à linguagem artística que escolheu,
o que proporciona grande qualidade ao seu trabalho. Assista ao vídeo de uma apresentação
de Kathak, estilo clássico do norte da Índia, identificando seus aspectos rítmicos:
https://youtu.be/T6C9G_gDkOw

A origem da música perde-se [...] na noite dos tempos. Não há povo


antigo no qual não se encontrem manifestações musicais. [...] Realmente,
não existe linguagem mais instintiva, mais espontânea do que a música.
Creio mesmo que, no homem primitivo, a linguagem musical, em forma
rudimentar, precedeu a linguagem propriamente dita.

E nada há de estranho nessa tendência do homem para a música, porque


esta arte não é uma invenção arbitrária e artificiosa, mas foi sugerida ao
homem pela própria natureza: o homem não fez mais do que apropriar-se,
para fins expressivos e artísticos, de elementos que se encontravam já em
ato no mundo que o circunda e no seu próprio organismo. Com efeito,
tanto ritmo quanto a tonalidade, se elevam sobre bases naturais, físicas.

A base física natural do ritmo é dada pelo fenômeno das oscilações


pendulares. Tudo, na natureza, se realiza em ritmo... E não somente nos
fatos físicos, mas nos próprios organismos vivos, muitos movimentos se
realizam em rítmica regularidade: o coração bate a tempo (...); tendemos
a andar a tempo; o homem que trabalha é elevado a fazer a tempo os
seus movimentos; e pode-se mesmo muito razoavelmente crer que no
desenvolvimento primordial da música tenha influído a necessidade do
homem de acompanhar cantando seus próprios passos ou movimentos de
trabalho, como fazem os peregrinos nas viagens, os fiéis nas processões,
e as pessoas que executam determinados trabalhos como os ferreiros na
bigorna (ALALEONA, 1972, p. 38).

A música rítmica foi a primeira música que nasceu na humanidade; mas


quando ela começou? É difícil precisar quando, onde e como, mas os estudos de
musicólogos apontam para a origem rítmica da música já no ser humano primitivo.
A etnomusicologia, que estuda a música dos diferentes povos, salienta a presença
marcante do ritmo em culturas aborígenes e ancestrais. Podemos observar nas
práticas sagradas dos povos indígenas brasileiros a cadência marcada de seus
movimentos, geralmente acompanhada por chocalhos e/ou cantos.

Na citação acima, Domingos Alaleona destaca a relação entre a música e a


natureza. Contemporaneamente, Murray Shafer (2012) propõe a nós que
voltemos a ouvir a “afinação do mundo”, os sons dos lugares, sua paisagem sonora.

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O músico John Cage isolou o som do ambiente por meio de isolamentos acústicos
e pôde escutar a “orquestra” de seu corpo em funcionamento. São tendências da
música atual se religar à sua origem, aos sons do mundo.

Você já percebeu como o ritmo está presente à sua volta?

Repare no funcionamento de máquinas e nos sons produzidos por animais, por


exemplo. O uso do termo “a tempo” por Alaleona se refere a algo compassado,
que destaca a “regularidade rítmica” na natureza e nas ações humanas.

No contexto da Educação Física, sabemos a importância de se manter o ritmo


para a prática de esportes, exercícios e treinamentos. Em alguns casos, faz-se uso,
inclusive, de música para compassar os movimentos.

É preciso salientar, contudo, que a música não se confunde com os ritmos


naturais. Dizemos, por exemplo, que os pássaros, em seu cantar, fazem música,
contudo essa é uma projeção do ser humano sobre os pássaros. O canto é sua forma
de comunicação e desempenha um papel fundamental para sua sobrevivência.
Se os pássaros que cantam não cantassem como cantam não seriam
aqueles pássaros. Se as formigas não se organizassem como se organizam,
não seriam formigas. Quer dizer: os pássaros não sabem, nem precisam
saber que cantam. Nós sabemos que eles cantam, eles não. Eles são o seu
canto, eles só são (PENNA, 2008, p. 19).

Um bem-te-vi não escolhe cantar como um sabiá, ele não cria seu canto, mas
o faz a partir de sua natureza, daquilo que os seus genes lhe permitem ser. Mesmo
um papagaio não cria música como um ser humano, mas aproxima-se disso por
meio da imitação.

Assim, define Maura Penna (2008, p. 20): “a música – ou melhor, a arte em geral
– é uma atividade essencialmente humana, intencional, de criação de significações”.

Se a música é uma atividade criativa, o que podemos criar com o ritmo?

Fontes sonoras
Em primeiro lugar, exploraremos as diferentes origens das quais pode emergir um
som. Em geral, quando pensamos em música, pensamos na voz e nos instrumentos
musicais como fontes sonoras.

Retome o vídeo que abre esta unidade e procure identificar as fontes sonoras na
apresentação de Kathak. Quais instrumentos musicais estão sendo usados? Quais
sons são produzidos pela dançarina?

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UNIDADE Ritmo na Prática

Figura 1 – Instrumentos musicais indianos.


Fonte: iStock/Getty Images

Podemos identificar dois músicos, um tocando o tabla, que dá sustentação


rítmica ao grupo, e o outro tocando o sitar, responsável pela parte melódica (mas
que traz um forte componente rítmico também). Já a dançarina, utiliza o corpo
como fonte sonora, cantando a composição rítmica antes de dançá-la, criando
som com pisadas que se somam ao som dos ghungroos (guizos acoplados aos
tornozelos) e batendo palmas.

Uma mesma fonte pode fornecer diversos sons diferentes. Perceba os diferentes sons que
Explor

podem ser obtidos através da percussão no tabla, disponível em:


https://youtu.be/BkortK6ilLI

Estudaremos em mais detalhes o corpo como fonte sonora.

Voz e percussão corporal


O corpo é fonte de diversos sons. Além dos sons que fazem parte do seu
funcionamento (como o “ronco” do estômago), pode-se criar sons de modo
intencional. Nosso aparelho fonador nos permite emitir os mais diversos tipos de
som vocal; podemos falar, gritar, sussurrar, chiar, cantar, fazer beatbox e imitar os
mais diversos tipos de som. A voz nos permite uma infinidade de expressões e
há músicos que exploram de modo mais enfáticos suas potencialidades rítmicas –
como é o caso de muitos artistas de rap, em que o ritmo predomina em relação ao
aspecto melódico.

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Figura 2 – As palmas e o sapateado marcam presença na dança flamenca
Fonte: iStock/Getty Images

Outras formas de produzir som são as palmadas. Bater palmas é algo que
encontramos na música das mais diferentes culturas, marcando, acentuando ou
desenvolvendo o ritmo. Batemos palmas nos louvores e adorações, nos aniversários
e em manifestações culturais de diversos povos. Os ciganos, por exemplo,
conhecidos por serem habilidosos artistas, exploram ritmos complexos por meio
das palmas.

Também as pisadas são amplamente usadas na sonoridade do corpo. Podemos


destacar o uso das pisadas no coco do norte e nordeste brasileiro, na chula gaúcha,
no sapateado, na dança irlandesa e na dança indiana. Palmas e pisadas aparecem
unidos na catira e na dança flamenca espanhola.

Além dos pés e das mãos, outras partes do corpo podem ser usadas para criar
sons percutidos. Nos Estados Unidos, desenvolve-se uma dança cheia de percussão
corporal chamada hambone. Acredita-se que ele se desenvolveu como alternativa à
proibição do uso de instrumentos musicais pelos escravos africanos. Mãos, braços,
pernas, peito e outras partes do corpo são percutidas para a criação rítmica.
Do outro lado do mundo, a dança saman da Indonésia também desenvolve um
interessante trabalho rítmico por meio da percussão corporal com seus dançarinos
sentados no chão. Há algumas linhagens ciganas que trazem a percussão corporal
na dança de modo muito vivo e alegre. Por vezes, há duelos entre os dançarinos
que procuram mostrar quem consegue atingir maior grau de técnica e erudição.

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UNIDADE Ritmo na Prática

Preparamos uma curadoria de vídeos sobre a percussão corporal no Brasil e no mundo.


Explor

É importante ter contato com as manifestações rítmicas e expressivas, se não in loco, ao


menos por meio de registros audiovisuais. Sempre que possível procure apreciar ao vivo,
pois a experiência é muito diferente de assistir a um vídeo, por melhor que seja o registro:

Coco
Crianças da ONG Verde Vida dançam coco:
https://youtu.be/Hmwf226Z5TQ
Samba de coco, raízes de Arco Verde
https://youtu.be/GIgtt95_7d4
Chula
Duelo de chula no ENART (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha), 2007:
https://youtu.be/VVrMpS9bC18
Sapateado irlandês
Lord of the Dance:
https://youtu.be/u_jTujiRdi8
Sapateado estadunidense
Trecho do filme Stormy Weather.
https://youtu.be/fNKRm6H-qOU
Trecho do filme Swing Time:
https://youtu.be/mxPgplMujzQ
Catira
Apresentação dos Cateireiros do Araguaia:
https://youtu.be/S09RejvYeUQ
Hambone
Steve McCraven:
https://youtu.be/v8r5wxpa3hg
Steve Hickman
https://youtu.be/m9kaQ3ZKPE0
Saman
Grupo da Indonésia apresenta o Saman em Minho, Portugal:
https://youtu.be/8fTHblviKi8
Dança cigana
Dança cigana em vilarejo na Ucrânia:
https://youtu.be/XJh5rf_bgNU
Dança cigana em salão na Ucrânia:
https://youtu.be/LL4c__IeE5w

Barbatuques
Depois deste passeio pela diversidade de possibilidades e desdobramentos do corpo
como fonte sonora, cabe-nos sublinhar o trabalho tanto artístico quanto educacional
que vem sendo desenvolvido pelo grupo paulista Barbatuques desde 1995.

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Seu nome deriva do sobrenome do fundador do grupo, Fernando Barba. Por meio
de pesquisa, experimentação e criação, o grupo reuniu diversos repertórios musicais
com ênfase na percussão corporal. Conforme descrito em sua página oficial:
[...] o Barbatuques deu origem a diferentes técnicas de percussão corporal,
percussão vocal, sapateado e improvisação musical, desenvolvidas em
suas experiências coletivas e somadas à bagagem individual de seus
integrantes.

Suas apresentações têm conquistado um público cada vez maior também no


exterior, já participaram da trilha sonora de diversos filmes, marcaram presença em
aberturas e encerramentos de Jogos Olímpicos e copas do mundo, participaram de
feiras, eventos, festivais e tocaram junto a grandes nomes da música, como Bobby
McFerrin e Badi Assad.

Além de seu trabalho artístico, o Barbatuques desenvolve uma série de propostas


pedagógicas para escolas e professores, encontrando no corpo uma forma de trabalhar
o desenvolvimento do ritmo, da música e da dança em crianças, jovens e adultos.

Destacamos alguns links nos quais pode-se conhecer o trabalho deste importante grupo de
Explor

música brasileira:

Site oficial
http://barbatuques.com.br/
Copa do Mundo 2010, África do Sul
https://youtu.be/KNNE-UyHhNE
Videoclipe do filme Rio 2
https://youtu.be/MW6sp_AXPI0
Tum-pá, projeto dedicado ao público infantil
https://youtu.be/pGrJUkpswPI
Trabalho com crianças
https://youtu.be/x0S5CzbcOLA

O som das coisas


Além do corpo, o ser humano utiliza diversos materiais e objetos como fonte
sonora. Dentre os primeiros instrumentos musicais de percussão que se tem registro,
identificamos o uso de madeira, ossos e peles de animais para sua confecção.
Diferentes materiais, modos de construção e de tocá-los garantem diferentes sons.
Por toda parte e em todos os tempos, emergem diferentes instrumentos musicais.

A construção de instrumentos musicais vai do artesanal ao industrial, da produção


amadora passando por luthiers e designers. Na história da música ocidental, os

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UNIDADE Ritmo na Prática

luthiers exercem um importante papel, eles constroem instrumentos musicais


explorando materiais, possibilidades acústicas e cuidam também de sua aparência.

Mais adiante, veremos propostas de experiência de luteria na construção de


instrumentos musicais para um conjunto rítmico.

Você Sabia? Importante!

Um instrumento musical pode ser fonte sonora de timbres que vão além dos mais usuais.
Quando pensamos em um piano, por exemplo, logo o associamos ao som produzido
pelo acionamento de suas teclas. Todavia, há ainda outros sons que podem ser obtidos,
percutindo, por exemplo, em sua madeira. A música contemporânea procura ir além do
usual e extrapola o modo de compor músicas e explorar fontes sonoras. Assista ao vídeo
Repente (Multisinfonias) do grupo PianOrquestra para ver um exemplo de exploração
unusual do piano. Disponível em: https://youtu.be/kWsoUdjp35s

Stomp
A fonte sonora para o trabalho rítmico não precisa ser necessariamente um
instrumento musical. Diversos objetos e materiais permitem a exploração de sons
que, usados de forma criativa, possibilitam a criação de composições interessantes.

Um dos mais destacados trabalhos nessa área é realizado pelo grupo Stomp.
Fundado em Brighton, no Reino Unido, no ano de 1991, eles começaram a
explorar objetos do cotidiano para criarem performances musicais. Esqueiros,
vassouras, latas de lixo, panelas, talheres transformaram-se em fonte sonora em
encenações com música, diversão e humor.

O grupo cresceu, participou de programas de TV, campanhas publicitárias,


lançou filmes, participou da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de
Londres em 2012 e agora tem companhias em diversos países do mundo. Premiado
e aclamado, o grupo nos inspira a explorar e ensinar o ritmo de formas inusitadas.

Destacamos alguns nos links nos quais pode-se conhecer o trabalho desse importante
Explor

grupo de música brasileira:

Abertura do show
https://youtu.be/tZ7aYQtIldg
Stomp Out Loud
https://youtu.be/fN5T8y8bCJ4
Stomp e Harlem Globetrotters
https://youtu.be/hqMZ9etBjeE

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Ritmo na prática
Depois de conhecer a história do ritmo e alguns de seus referenciais, é hora de
estudar algumas possibilidades de desenvolver o ritmo como profissional de Educação
Física. Indicaremos propostas e referenciais que poderão ser desenvolvidos em
diferentes contextos educacionais.

Situação de Aprendizagem: Caminhada Rítmica


Um primeiro contato com o ritmo pode ser a partir de algo cotidiano, como a
ação de caminhar. Proponha a formação de uma ou mais colunas (alinhamento
lateral), dependendo do número de alunos e do espaço disponível. Então, oriente
cada coluna a se deslocar à frente, caminhando com o olhar volta ao horizonte,
sem olhar para as laterais. Sugira, como desafio, manter o alinhamento lateral da
coluna durante a caminhada.

Depois de repetir algumas vezes, peça para refazerem o trajeto, mas dessa vez
contando os passos. Mantenha uma pulsação constante e uma contagem de 8
tempos. Peça para sincronizarem cada passo com um tempo: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,
8, 1, 2, 3,... Sustente o desafio de manter o alinhamento lateral.

Na mesma proposta, adicione uma palma no 5º tempo. Ao bater palma, não se


deve interromper a caminhada.

Então, adicione no 8º tempo um pulo com abertura lateral das pernas e no 1º


tempo um pulo com uma perna à frente e outra atrás.

A caminhada ficará, então, na contagem, da seguinte forma:


1. pulo frente/trás;
2. passo;
3. passo;
4. passo;
5. passo e palma;
6. passo;
7. passo;
8. pulo abertura lateral.

A contagem pode ser feita em voz alta pelos alunos enquanto sua coluna caminha. Como
Explor

última etapa, inclua uma música e indique que a contagem será na pulsação da música.
Sugerimos, pelo seu ritmo marcado e andamento moderado, a música Dead Inside, do grupo
Muse. Disponível em: https://youtu.be/I5sJhSNUkwQ.

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UNIDADE Ritmo na Prática

Situação de Aprendizagem: Pulsação


Chamamos de pulso o tempo regular básico das músicas. Ele pode ser regulado
em batidas por minuto (bpm), geralmente por um aparelho chamado metrônomo.
É sobre a contagem regular da música que os ritmos são criados.

Figura 3 - O metrônome realiza um movimento pendular que marca


o tempo regulado pelo número de batidas por minuto
Fonte: iStock/Getty Images

Assim como nosso coração marca o ritmo da vida em nossos corpos, a música
é marcada por uma pulsação. Você já deve ter ouvido em performances ao vivo
de bandas populares um membro da banda fazer uma contagem antes de iniciar a
música. Em geral, essa contagem é feita em 4 tempos. Repare que toda a música
sustentará a pulsação que foi contada no início. Faça o teste: com uma palmada
leve (percutindo com dois dedos nas palmas das mãos), siga a pulsação da contagem
do início da música – você perceberá que a marcação permanecerá constante,
independentemente do ritmo que está se desenvolvendo na música.

Faça uma seleção de músicas de diferentes gêneros, proponha a escuta das


músicas e então a identificação do pulso de cada uma delas. Esse é um treino
importante não apenas para o desenvolvimento do ritmo na música, mas também
na dança. As coreografias são ensaiadas, em geral, contando a pulsação da música
sobre a qual a dança será realizada.

Em outro momento, proponha a criação de uma roda e, sem música, indique


uma pulsação e peça que todos marquem a pulsação pisando no chão variando as
pisadas (pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo, pé direito...). Varie o andamento (as
batidas por minuto) e peça que o novo andamento seja sustentado por todos. Nessa
proposta, peça aos participantes para tomarem o cuidado de não acelerar e nem
desacelerar a pulsação – a tendência é a aceleração, por isso é preciso controle.

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Ainda dentro dessa proposta, você pode propor pequenos ritmos com palmas
enquanto o pulso é sustentado pelos pés.

Nas próximas situações de aprendizagem, o pulso estará sempre presente.

Situação de Aprendizagem: Percussão Corporal


Explore com seus alunos as possibilidades sonoras que o corpo oferece e
identifique suas características – por exemplo: bater palmas com dois dedos produz
um som mais fraco que bater palmas com toda mão; bater palmas com as costas de
uma das mãos produz um som mais agudo que bater palmas em forma de concha;
bater nas coxas produz um som agudo enquanto bater no peito produz um som
grave; batidas nas laterais do rosto e na boca permitem alterar a altura (graves,
médios e agudos) do som.

Explore com seus alunos as possibilidades sonoras que o corpo oferece e


identifique suas características – por exemplo: bater palmas com dois dedos produz
um som mais fraco que bater palmas com toda mão; bater palmas com as costas de
uma das mãos produz um som mais agudo que bater palmas em forma de concha;
bater nas coxas produz um som agudo enquanto bater no peito produz um som
grave; batidas nas laterais do rosto e na boca permitem alterar a altura (graves,
médios e agudos) do som.

Depois, explore a criação de ritmos com os sons descobertos. Você pode


estabelecer paralelos como os sons graves (como o som de batida no feito ou
pisada) como equivalente do surdo ou do bumbo; palmas diversas para o som da
caixa (ou caixa clara); estalos de dedos para o cimbal ou pratos.

Alguns gêneros podem ser explorados com ritmos simplificados em 4 sons de


igual duração, por exemplo:

Rap: peito – estalo – peito – estalo – ...

Rock: peito – estalo – palma – estalo – ...

Samba: peito – estalo – estalo – peito – ...

Não esqueça de manter uma pulsação.

Varie o andamento (velocidade) das sequências para sentir a diferença e tente


encontrar o “gingado” de cada gênero.

Você pode fazer esses e outros ritmos sustentando a pulsação nos pés, como na
situação de aprendizagem anterior.

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UNIDADE Ritmo na Prática

Situação de Aprendizagem: Exploração de timbres


Proponha uma situação de apreciação e mostre vídeos do grupo Stomp. Saliente
o modo como eles pesquisam e exploram sonoridades de materiais e objetos para
a criação de suas performances.

Inspirados no procedimento do grupo, peça aos alunos que formem grupos


para a realização de um processo de criação coletivo. Em primeiro lugar, peça
para listarem o maior número de sentimentos e emoções que lhes ocorrerem. Em
seguida, peça a cada grupo que escolha um ou mais itens da lista – podem ser
complementares como: alegria, satisfação, entusiasmo, euforia ou contrastantes
medo e coragem, paciência e ansiedade etc. O processo de criação será de aliar
a pesquisa e a exploração de sonoridades de materiais e objetos à expressão dos
sentimentos e emoções escolhidos pelo grupo.

Estabeleça um tempo para as criações – sugerimos de 1 a 3 minutos. Disponibilize


tempo para os ensaios. Estimule os grupos a pensar em figurinos, a estabelecer
um roteiro de ações com começo, meio e fim, a pensar na relação com a plateia
(considerando, por exemplo, a frontalidade com ela).

Você pode realizar as apresentações apenas no âmbito da turma ou criar uma


mostra para o dia das apresentações aberta a convidados. Não deixe de conversar
com todos sobre o processo, quais foram os desafios, as surpresas, as soluções
encontradas e curiosidades sobre a criação de suas apresentações. É interessante
também registrar as apresentações em vídeo, tanto para a avaliação dos alunos
quanto para a memória do processo de criação.

Situação de Aprendizagem: Bandinha Rítmica


Uma prática consagrada para o desenvolvimento rítmico em aulas de música é
o uso de uma bandinha rítmica, ou seja, de um conjunto de instrumentos simples
de percussão.

Para as aulas de Educação Física, proponha a construção de uma bandinha


rítmica utilizando diferentes tipos de materiais e com formas diferenciadas. Você
pode criar maracas, ganzás, reco-recos, pandeiros, clavas, triângulos, chocalhos
de platinelas, caxixis, entre outros. Os materiais a serem utilizados são os mais
diversos: garrafas pet, latas e latinhas, parafusos, porcas, conduítes, talheres,
tábuas de cozinha, cabos de vassoura, bexigas, sucatas diversas.

Desafie os alunos a criarem instrumentos inusitados e explorarem sua forma


de apresentação. Para exemplificar, apresentamos aqui um processo de criação
de uma bandinha: o pai estava apaixonado por informática e por toda casa havia
placas de rede, conectores e todo tipo de coisas que se podia usar dentro de um
computador. Como muitas estavam quebradas ou ultrapassadas, o filho as utiliza
para ornamentar os instrumentos ou mesmo para criá-los com as peças. Tudo que
o menino precisou utilizar, que não era do repertório da informática, procurou

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manter ao menos as cores esverdeadas, característica visual que predominava na
parafernália eletrônica. Havia um reco-reco feito na base de uma placa grande e
tocado com uma antena de carro.

Depois de criar as bandinhas, explore a marcação do pulso de algumas músicas


utilizando os instrumentos. Pode-se dividir as partes da música que cada grupo
de instrumentos marcará (introdução, refrão, parte A, parte B etc.). Sem música
de fundo (playback), um grupo de instrumentos pode marcar o pulso enquanto
outros exploram a criação de ritmos sobre ele. Pode-se manter frases rítmicas,
repetindo-as sempre sobre o pulso, enquanto outros criam outros ritmos sobre o
mesmo pulso, somando os diferentes ritmos repetitivos, chamados “ostinato” na
linguagem musical.

As possibilidades são muitas e uma pesquisa sobre o tema pode inspirar diversas
propostas de trabalho com as bandinhas rítmicas.

Planejar e movimentar
Estas são algumas propostas de situações de aprendizagem envolvendo o ritmo.
Ao criar um planejamento, projeto ou sequência didática, é importante estabelecer
conversas para a troca de experiências, para avaliar os percursos de aprendizagem,
evidenciar dificuldades e aspectos que possam ser melhorados e estabelecer novas
propostas a partir do processo criativo de cada um, de cada grupo e de cada turma.
Você poderá incluir novas práticas que fortaleçam o desenvolvimento rítmico. Um
bom exemplo são os jogos tradicionais presentes em músicas como Escravos de
Jó e Bate o Monjolo. O registro é outro elemento que deve estar sempre presente,
não apenas ao final de um percurso, mas durante todo processo.

Durante o percurso de aprendizagem, seja qual for a extensão dele, é igualmente


importante contextualizar a prática e oportunizar momentos de apreciação de
manifestações rítmicas e expressivas diversas. Nesta unidade, trouxemos diversos
referenciais que podem fazer parte dos momentos de contextualização e apreciação.

Planeje as diversas etapas, quais materiais, equipamentos e espaços serão


necessários, o tempo de duração, o número de participantes, as avaliações, as
formas de registro, como será o encerramento, se haverá convidados nas aulas ou
visitas a instituições culturais.

Ao movimentar o percurso de aprendizagem junto à turma, algumas ou muitas


coisas planejadas poderão mudar de rota ou precisar de adaptações durante o
processo. Algumas situações de aprendizagem poderão ser repetidas ou ampliadas.

Ao desenvolver um trabalho envolvendo manifestações rítmicas e expressivas,


não se deve abandonar a dimensão cultural e o conhecimento que as envolvem,
pois, a prática, ainda que ocupe um espaço maior no planejamento, completa-se
com os aspectos teóricos e com a ampliação de repertório.

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UNIDADE Ritmo na Prática

Embatucadores
Encerramos esta unidade com um estudo de caso, o grupo Embatucadores.

Em 2003, o professor Rafael Rip assumiu aulas pela primeira vez em uma
escola estadual. Situada na periferia da Zona Norte da capital paulista, a escola
estava em uma região com pouca oferta de cultura. Rafael pediu espaço à direção
da escola para a criação de um projeto de musicalização para os alunos fora do
horário de aula. Uma sala que estava em desuso foi cedida ao projeto e lá teve
início um processo de exploração rítmica em permanente atividade.

O grupo se desenvolveu e passou a explorar as propostas de grupos de referência


como Barbatuques, passando por Hermeto Pascoal, Blue Man Group e Mayumaná.
Fizeram aulas de sapateado, exploram materiais e criam performances originais
que são apresentadas em escolas, auditórios, teatros e no espaço público.

Muitos alunos já passaram pelo grupo. Alguns se tornaram músicos profissionais,


outros seguiram outros caminhos, mas com uma experiência artística e bagagem
cultural mais profunda que o contexto local poderia oferecer.

Os Embatucadores têm chamado atenção, conquistado espaço na mídia e na


vida cultural da cidade. Chegaram a receber a visita de dois membros do Stomp
quando o grupo passou em turnê pela cidade.

Este é um exemplo de como o desenvolvimento rítmico pode ser significativa


tanto sob o ponto de vista educacional quanto cultural e social.

Para conhecer melhor o trabalho do grupo, acesse:


Explor

Página oficial do grupo:


https://www.embatucadores.com.br/
https://www.facebook.com/Embatucadores/
Vídeo de oficial dos Embatucadores:
https://youtu.be/4fK2bpoixmA
Embatucadores em Como Será, programa da rede Globo apresentado por Sandra Anenberg:
https://globoplay.globo.com/v/5546449/

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Considerações finais
Nesta unidade, adentramos no universo do ritmo, explorando referenciais e situ-
ações de aprendizagem para a Educação Física. O desenvolvimento rítmico é muito
significativo em si mesmo, tanto como componente da formação do sujeito, quanto
por estar presente em diversas manifestações artísticas e esportivas. A dança, seja
ela zumba, forró ou balé, é parceira antiga do ritmo e o desenvolvimento do primei-
ro se dá de forma mais completa se trabalhada com o segundo. O universo marcial
está permeado de ritmo e a presença de músicos no exército foi um elemento que
acompanhou a história das guerras mundiais – atualmente, as bandas marciais
exercem um papel cultural nas forças armadas (e instituições de ensino) e suas ba-
talhas agora são sonoras. Mesmo exercícios e treinamentos que não têm relação
direta com a música acabam se valendo do ritmo para atingir melhores resultados.

Caberá a você, futuro profissional de Educação Física, levar o desenvolvimento


e aprimoramento rítmico aos seus alunos!

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UNIDADE Ritmo na Prática

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Blue Man Group
Conheça o trabalho rítmico e performático do Blue Man Group.
https://www.blueman.com/
Mayumana
Outro grupo que se destaca neste campo é o israelita.
http://www.mayumana.com/
A Música da Gente
Sob uma perspectiva contemporânea, o Prof. Carlos Kater desenvolve um interessante
trabalho de pesquisa sonora, escuta e desenvolvimento musical e criação de instrumentos
inusitados (entre outras propostas) por meio do projeto.
https://www.facebook.com/amusicadagente

 Vídeos
Bate o Monjolo - Livro Brincadeiras Cantadas de Cá e de Lá
Conheça ainda algumas possibilidades de desenvolvimento rítmico por meio da canção
tradicional Bate o Monjolo.
https://www.youtube.com/watch?v=dz6-QI5ActQ

 Filmes
Ritmo Total (Drumline)
2002, dirigido por Charles Stone III.

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Referências
ALALEONA, Domingos. História da Música: desde a antiguidade até os nossos
dias. São Paulo: Ricordi, 1972.

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.

SCHAFER, R. Murray. O ouvido pensante. São Paulo: UNESP, 2008.

SCHAFER, R. A Afinação do mundo. São Paulo: UNESP, 2012.

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