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Tópicos Avançados em
Ciências Sociais
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Material Teórico
Raça, Etnicidade e Migração
Revisão Textual:
Profª. Sandra Regina F. Moreira
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• Introdução
• Considerações Finais
Leia atentamente o conteúdo desta unidade, que lhe possibilitará conhecer os estudos sobre
raça, etnia e migrações.
Você também encontrará nesta unidade a oportunidade de desenvolver uma reflexão crítica
na Atividade de Aprofundamento.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos
em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto.
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Contextualização
Para iniciar esta Unidade, a partir do poema musicado de Milton Nascimento e Fernando
Brant Sonho Imigrante, reflita sobre a questão da imigração. A letra descreve e estimula uma
reflexão sobre o imaginário criado em torno desse tópico
Pesquise a música na integra e procure ouvir a canção:
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Introdução
Pretende-se aqui apresentar um estudo sobre raça, etnia e imigração e a relação entre
estes três elementos. Consideraremos como centro das análises, a situação dos imigrantes
contemporâneos em cidades globais, com vistas ao dimensionamento de novas tensões sociais
e práticas culturais e dos encontros e desencontros nos processos sociais e políticos decorrentes
da mundialização do capital. Com o alargamento das fronteiras nacionais, novos problemas
foram surgindo e intolerâncias novas apareceram na cena pública.
A ciência antropológica dá conta dos estudos culturais desde a origem do homem até os
aspectos urbanos do mundo contemporâneo. Neste longo percurso de estudo, a antropologia
dialoga com outras áreas e aborda aspectos diversos que aqui não teríamos espaço suficiente
para descrever. Portanto, vamos trabalhar nesta unidade, o aspecto étnico e rácico que
propulsou deslocamentos humanos no espaço e no tempo através dos movimentos migratórios.
Algumas perguntas surgem para buscarmos compreender o fenômeno dos deslocamentos
populacionais. Antes de explorarmos este terreno, vamos buscar cientificamente a origem da
distinção entre os povos.
A origem do pensamento distintivo entre as espécies partiu de uma perspectiva eurocentrista,
como recurso da própria dominação neocolonial e como repertório pretensamente científico
que legitimaria o próprio imperialismo, constituindo-se numa ferramenta para a gestão dos
povos dominados.
Os cientistas europeus se inspiravam na ideia: “Conhecer para melhor dominar”. Pode-se
dizer que esse tenha sido um imperativo fundamental para o desenvolvimento dessa primeira
antropologia, primordialmente rácica, considerando que a cultura europeia de dominação e a
ideia de levar o progresso aos povos primitivos e atrasados foi o cerne do pensamento do fim
do século XVIII até o início do século XX.
Mas, quando surgiu a ideia de distinção entre as raças? É preciso problematizar para
compreender melhor o que aqui propomos.
O conceito de que tipos humanos distintos poderiam ser divididos em raças provém da
Biologia. Especialmente, em 1859, as publicações se baseavam nas teses de Charles Darwin,
cuja célebre obra “Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação
de Raças Favorecidas na Luta pela Vida” ( On the Origin of Species by Means of Natural
Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life ), deu origem ao
darwinismo social e a transferência das ciências naturais para as ciências humanas a teoria
evolucionista das espécies.
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Na obra, desponta a teoria da evolução das espécies a partir da sobrevivência dos mais aptos,
ou seja, daqueles seres vivos cujas características possibilitariam sobreviver às transformações
acontecidas no meio natural, transmitindo seus caracteres, pela hereditariedade, à prole,
perpetuando sua espécie, sobrevivendo a toda e qualquer adversidade que a natureza
proporciona sem controle do homem ou da ciência.
As diferenças biotípicas que foram estudadas no gênero animal possibilitariam distinguir
raças, nesses termos, mais ou menos aptas à própria sobrevivência.
A ideia rácica nasceu, estimulada pelo pensamento darwinista de um universo valorativo,
distinguindo entre mais ou menos aptas as raças tidas, então, como superiores e inferiores.
O impacto que se prosseguiu à publicação das teses de Charles Darwin foi certamente
avassalador, reverberando, significativamente, nas ainda embrionárias ciências humanas,
primordialmente a partir da obra de Herbert Spencer.
Spencer foi o cientista responsável pelo deslocamento do evolucionismo darwinista, com
suas categorias rácicas, da Biologia, ou seja, das Ciências Naturais para as Ciências Humanas
e Sociais, mais especificamente para a Antropologia.
O Spencerianismo ou o Darwinismo Social utilizava não somente as categorias rácicas, mas
o próprio sistema valorativo entre seres mais ou menos aptos (superiores e inferiores), para
separar, explicar e distinguir indivíduos entre si e grupos humanos.
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Os povos, segundo Spencer, deveriam ser escalonados de acordo com suas características
biotípicas, entendendo-se a cultura de forma determinada também por essas características,
entre superiores (povos entendidos como civilizados) e inferiores (povos entendidos como
incivilizados ou bárbaros).
A perspectiva rácica e etnicista do evolucionismo spenceriano, teve o peso do conhecimento,
das metodologias científicas e muitas distorções de suas ideias. Uma das distorções, ainda que
fundamentada em suas teorias, foi a dominação que povos europeus engendraram contra
os “inferiores” africanos e asiáticos, e, no caso dos estadunidenses, contra os povos latino-
americanos. Criou-se um repertório científico respeitável naquele momento que parecia tornar
plausível o inimaginável: a tutela de povos tidos como involuídos por povos autorreferidos
como civilizados.
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A seguir, veremos o tema migração que esta diretamente ligado à questão do deslocamento
de povos de diferentes origens e etnias. Porém, destacaremos, após as autorreferidas
análises antropológicas, os principais problemas enfrentados hoje. O ‘outro’ visto pela ótica
eurocentrista é exposto pelos fenômenos migratórios crescentes da contemporaneidade.
Neste estudo dos movimentos migratórios no mundo contemporâneo, teremos como cenário
inicial uma abordagem comparativa exemplificativa entre dois países com histórico muito forte sobre
tais movimentos. A Itália, que no início do século XX, incentivou a emigração para resolver seus
problemas políticos, econômicos e sociais, principalmente na empobrecida região sul e, que hoje é
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uma importante porta de entrada de imigrantes interessados em desfrutar dos benefícios de uma das
maiores economias do mundo, e também pela possibilidade de acesso a outros países membros da
União Europeia e, o Brasil - país que já foi receptor demilhões de estrangeiros de várias nacionalidades
e que, em muito menor número, continua recebendo imigrantes.
Para delimitar, num primeiro momento, a fim de propiciar um estudo mais detalhado, duas
grandes e importantes cidades – Nápoles e São Paulo – são cenários pertinentes para o estudo
desta pesquisa. Nápoles, com mais de um milhão de habitantes, é a terceira maior cidade
italiana, porta de entrada de milhares de imigrantes provindos dos mais diversos países, não
só da Europa, mas da África, Ásia e América do Sul principalmente e, São Paulo, a maior
cidade brasileira com 11.253.503 de habitantes, segundo dados recentes do IBGE para o ano
de 2014 e a quarta maior cidade do mundo.
Muito já se estudou sobre imigração italiana em São Paulo, por ter sido esta a cidade que
mais recebeu imigrantes italianos em meados do século XX, porém há uma carência de estudos
aprofundados sobre o novo quadro migratório de ambos os países. São Paulo ainda recebe
imigrantes? Quais as nacionalidades dos novos imigrantes que chegam à cidade? Para onde
vão? Por que escolhem a cidade de São Paulo para viver? Como a cidade está estruturada para
receber estes novos imigrantes? Qual o impacto destes estrangeiros na cultura, na sociedade
e na economia da cidade? Estas e outras questões são ponto de partida para esta importante
discussão em ciências humanas e sociais.
Por outro lado, a Itália (assim como grande parte de países europeus, EUA, Canadá,
Austrália e Japão), que tantos laços firmou com o Brasil nestes anos todos, agora vive a
inversão do quadro. Deixou de incentivar a emigração de sua população por ter se desenvolvido
economicamente, para ser um dos destinos mais procurados pelos imigrantes na Europa. A
cidade de Nápoles, com alta densidade demográfica, situada na região da Campânia no Sul
da Itália, enfrenta o problema descompassado da imigração. Criticada pela fraca política de
controle em seu território, possibilita que seja apontada como uma das principais portas de
entrada de estrangeiros ao país e, consequentemente, ao bloco europeu. Tal fato lhe rende
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atenção especial e críticas por parte de outros países da União Europeia, sobre as facilidades
de entrada no território italiano, acarretando diversos problemas diariamente noticiados na
mídia, relatando inclusive, a chegada de barcos clandestinos apinhados de imigrantes que
chegam à península italiana sem controle de entrada devido à ilegalidade da situação.
Imigrantes chegando à Itália – porta de entrada para a União Europeia.
Pelo presente quadro, o século XXI promete ser importante, pela preocupação que as
grandes instituições internacionais, como a UNESCO e a ONU, por exemplo, têm demonstrado
em combater a discriminação e a exploração dos imigrantes, criando novas políticas e medidas
a fim de reduzir o quadro mundial de desigualdade social rumo à preservação e garantia dos
direitos humanos e, principalmente, à valorização da liberdade, democracia e tolerância.
A migração internacional atingiu, sobretudo, a partir dos anos 80, grande importância no
cenário mundial como ponto fundamental no desenvolvimento das relações entre os países e,
em especial, significativa importância na Europa e na América Latina.
O cenário atual é caracterizado pelas transformações econômicas, sociais, políticas,
culturais e ideológicas, pela manifestação crescente de diversos conflitos e, principalmente por
desigualdades regionais acentuadas pela constituição de mercados integrados como NAFTA,
ALCA, UE, MERCOSUL e tantos outros.
As ciências sociais, através de pesquisas, busca elaborar um diagnóstico preliminar a
respeito da migração internacional recente para o Brasil e para a Europa, EUA, Japão etc.,
com os objetivos de reforçar e sistematizar informações e de estabelecer um debate sobre
esses movimentos no contexto da internacionalização que marca a atual etapa das relações
entre nações, povos e sociedades no limiar do século XXI.
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As causas fundamentais da migração devem ser estudadas, sobretudo as que têm a ver com
a falta de oportunidades econômicas e subdesenvolvimento social nos países de origem, de
modo que se possa ir ao encontro da formulação e implantação de estratégias que tenham
como meta um desenvolvimento sustentado e sustentável.
O trabalho inicia-se a partir de uma retrospectiva histórica a respeito das migrações para o
Brasil e para a Europa no século XX, a fim de criar um quadro informativo sobre a composição
destas sociedades, formadas com grande influência, em vários aspectos, pelo elemento
imigrante. Tal objetivo é realizar um levantamento histórico desses dados para um melhor
entendimento da formação social, cultural e política dos dois países.
Num segundo momento, os estudos seguem em busca de dados recentes da entrada de
imigrantes nos países em questão com enfoque para as cidades receptoras deste contingente.
Forma-se um quadro comparativo sobre a questão da imigração no Brasil e no mundo,
destacando as cidades mais vulneráveis ao fenômeno migratório, que possibilite a compreensão
dos motivos que levam à imigração para ambos os países nos dias atuais e quais as consequências
que essa movimentação causa nesses países. Por outro lado, é interessante também traçar uma
perspectiva do perfil destes imigrantes no que diz respeito à causa, ou seja, porque emigrou,
motivação, adaptação, permanência, inserção no contexto social do país de destino etc.
No caso de São Paulo, é sabido que, com a expansão cafeeira no final do século XIX, foi
propiciada a entrada de milhares de imigrantes subvencionados para trabalhar na lavoura com
destino principal às cidades interioranas do Vale do Paraíba, cinturão da produção de café
no país. Porém, muitos imigrantes se fixaram na capital logo ao chegar ao Brasil e outros,
mais tarde, quando findavam o contrato de trabalho nas fazendas, e com a crise cafeeira nos
primeiros anos do século XX, se interessaram pela vida na capital.
A primeira onda da imigração estrangeira para o Brasil pode ser caracterizada pelo período
de 1880 a 1903, etapa que registrou a entrada de 1.850.985 imigrantes europeus (LEVY,
1974). A última década do século XIX marcou o ponto máximo da entrada de estrangeiros no
país. Em 1902 foi promulgado o Decreto Prinetti na Itália, proibindo a imigração gratuita para
o Brasil, devido às más condições que seus emigrantes recebiam em São Paulo, reduzindo, e
muito, a entrada de imigrantes naquele período.
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Entrada de imigrantes no Estado de São Paulo e no Brasil no período de 1827 a 1920 (Quadro elaborado pelo autor).
A segunda onda de imigrantes, de 1904 a 1930, foi marcada pela entrada de 2.142.781
estrangeiros, sendo que no período correspondente à Primeira Guerra Mundial essa entrada foi
bastante reduzida. Pós-1918, a imigração estrangeira teve certo incremento, destacando-se a entrada
de poloneses, russos e romenos. Em 1927, no entanto, termina o subsídio do governo do estado de
São Paulo para a imigração estrangeira, e as entradas se reduzem fortemente.
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Pode surpreender o fato de que a Itália, tradicional país exportador de mão-de-obra (de
1876 a 1976 emigraram quase 30 milhões de pessoas), tenha se tornado nos anos 70 uma
nação que também atrai mão-de-obra estrangeira. Esse movimento em massa para a Itália
revela as mudanças profundas ocorridas nacional e internacionalmente.
A drástica transformação demográfica e social na vida italiana induz a hipotetizar um
cenário onde cada vez mais a mão-de-obra estrangeira pode tornar-se necessária, pelo menos
em alguns setores da economia nacional. Com efeito, o número de anciãos na Itália supera o
de jovens. As previsões falam em 9 milhões de jovens contra 16 milhões de anciãos em 2025,
a menos que a tendência não sofra mudanças radicais (TASSELLO, 1991).
Dada também sua localização geográfica e sua configuração, que dificilmente tornam
possível um controle da costa, a Itália é uma das metas da esperança. Cada ano, na Itália,
os estrangeiros sobem a mais de cem milhões de presença pelos mais variados motivos,
constituindo o turismo um dos setores mais rendosos e o principal deles.
Para se ter uma ideia, segue quadro informativo sobre a presença estrangeira na Itália na
década de 90.
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Considerações Finais
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Material Complementar
Sites:
Uma gota de sangue – história do pensamento racial – E-book:
http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572444446 . 13/02/15.
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Referências
CALDEIRA, Jorge. História do Brasil . São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos – O Breve Século XX (1914-1991) . São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
TASSELO, Graziano. Itália, país de imigração. São Paulo: Revista Travessia nº 11, 1991.
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Anotações
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