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Tópicos Avançados em
Ciências Sociais
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Material Teórico
Raça, Etnicidade e Migração

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior

Revisão Textual:
Profª. Sandra Regina F. Moreira
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Raça, Etnicidade e Migração

• Introdução

• Introdução à Origem do Pensamento Distintivo entre as Espécies

• Movimentos Migratórios – Ontem e Hoje

• Imigração: Temática Fundamental em Ciências Sociais

• Breve panorama histórico da imigração no Brasil com destaque para a


cidade de São Paulo.

• O contexto italiano – utilizado aqui como exemplo comparativo

• Considerações Finais

·· Compreender a sociedade e as diferenças entre os povos e culturas e as


especificidades das sociedades influenciadas pelos movimentos migratórios.

Leia atentamente o conteúdo desta unidade, que lhe possibilitará conhecer os estudos sobre
raça, etnia e migrações.
Você também encontrará nesta unidade a oportunidade de desenvolver uma reflexão crítica
na Atividade de Aprofundamento.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos
em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto.

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

Contextualização

Para iniciar esta Unidade, a partir do poema musicado de Milton Nascimento e Fernando
Brant Sonho Imigrante, reflita sobre a questão da imigração. A letra descreve e estimula uma
reflexão sobre o imaginário criado em torno desse tópico
Pesquise a música na integra e procure ouvir a canção:

Milton Nascimento e Fernando Brant


“Sonho Imigrante”

A terra do sonho é distante O mar de lá é tão lindo


e seu nome é Brasil natureza generosa
plantarei a minha vida que faz nascer sem espinho
debaixo de céu anil. o milagre da rosa.

Minha Itália, Alemanha O frio não é muito frio

Minha Espanha, Portugal nem o calor é muito quente


talvez nunca mais eu veja e falam que quem lá vive é
minha terra natal. maravilha de gente.

Aqui sou povo sofrido


lá eu serei fazendeiro
terei gado, terei sol.

Oriente sua reflexão pelas seguintes questões:

1. De que ponto de vista a música é narrada?


2. Como esta música está relacionada com a história dos imigrantes europeus
que aportaram no Brasil?
3. Analise a letra da música, identificando algumas das dificuldades encontradas
pelos imigrantes em terra estrangeira.

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Introdução

Pretende-se aqui apresentar um estudo sobre raça, etnia e imigração e a relação entre
estes três elementos. Consideraremos como centro das análises, a situação dos imigrantes
contemporâneos em cidades globais, com vistas ao dimensionamento de novas tensões sociais
e práticas culturais e dos encontros e desencontros nos processos sociais e políticos decorrentes
da mundialização do capital. Com o alargamento das fronteiras nacionais, novos problemas
foram surgindo e intolerâncias novas apareceram na cena pública.

Introdução à Origem do Pensamento Distintivo entre as Espécies

A ciência antropológica dá conta dos estudos culturais desde a origem do homem até os
aspectos urbanos do mundo contemporâneo. Neste longo percurso de estudo, a antropologia
dialoga com outras áreas e aborda aspectos diversos que aqui não teríamos espaço suficiente
para descrever. Portanto, vamos trabalhar nesta unidade, o aspecto étnico e rácico que
propulsou deslocamentos humanos no espaço e no tempo através dos movimentos migratórios.
Algumas perguntas surgem para buscarmos compreender o fenômeno dos deslocamentos
populacionais. Antes de explorarmos este terreno, vamos buscar cientificamente a origem da
distinção entre os povos.
A origem do pensamento distintivo entre as espécies partiu de uma perspectiva eurocentrista,
como recurso da própria dominação neocolonial e como repertório pretensamente científico
que legitimaria o próprio imperialismo, constituindo-se numa ferramenta para a gestão dos
povos dominados.
Os cientistas europeus se inspiravam na ideia: “Conhecer para melhor dominar”. Pode-se
dizer que esse tenha sido um imperativo fundamental para o desenvolvimento dessa primeira
antropologia, primordialmente rácica, considerando que a cultura europeia de dominação e a
ideia de levar o progresso aos povos primitivos e atrasados foi o cerne do pensamento do fim
do século XVIII até o início do século XX.

Mas, quando surgiu a ideia de distinção entre as raças? É preciso problematizar para
compreender melhor o que aqui propomos.
O conceito de que tipos humanos distintos poderiam ser divididos em raças provém da
Biologia. Especialmente, em 1859, as publicações se baseavam nas teses de Charles Darwin,
cuja célebre obra “Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação
de Raças Favorecidas na Luta pela Vida” ( On the Origin of Species by Means of Natural
Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life ), deu origem ao
darwinismo social e a transferência das ciências naturais para as ciências humanas a teoria
evolucionista das espécies.

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

Fonte: A Origem das Espécies, Charles Darwin, 1859

Na obra, desponta a teoria da evolução das espécies a partir da sobrevivência dos mais aptos,
ou seja, daqueles seres vivos cujas características possibilitariam sobreviver às transformações
acontecidas no meio natural, transmitindo seus caracteres, pela hereditariedade, à prole,
perpetuando sua espécie, sobrevivendo a toda e qualquer adversidade que a natureza
proporciona sem controle do homem ou da ciência.
As diferenças biotípicas que foram estudadas no gênero animal possibilitariam distinguir
raças, nesses termos, mais ou menos aptas à própria sobrevivência.
A ideia rácica nasceu, estimulada pelo pensamento darwinista de um universo valorativo,
distinguindo entre mais ou menos aptas as raças tidas, então, como superiores e inferiores.
O impacto que se prosseguiu à publicação das teses de Charles Darwin foi certamente
avassalador, reverberando, significativamente, nas ainda embrionárias ciências humanas,
primordialmente a partir da obra de Herbert Spencer.
Spencer foi o cientista responsável pelo deslocamento do evolucionismo darwinista, com
suas categorias rácicas, da Biologia, ou seja, das Ciências Naturais para as Ciências Humanas
e Sociais, mais especificamente para a Antropologia.
O Spencerianismo ou o Darwinismo Social utilizava não somente as categorias rácicas, mas
o próprio sistema valorativo entre seres mais ou menos aptos (superiores e inferiores), para
separar, explicar e distinguir indivíduos entre si e grupos humanos.

Charles Darwin Herbert Spencer

Charles Robert Darwin (1809- Herbert Spencer (1820-1903,


1882, Reino Unido) foi um Reino Unido) foi um filósofo,
representante do liberalismo
naturalista britânico que ficou clássico e um profundo admirador
conhecido por convencer a da obra de Charles Darwin. É dele
comunidade cientSífica da a expressão “sobrevivência do
ocorrência da evolução. Propôs mais apto”. Em sua obra aplicou
uma teoria para explicar como as leis da evolução a todos os
ela se dá por meio da seleção níveis da atividade humana, por
natural e sexual. isto teve suas ideias enormemente
distorcidas rendendo-lhe a alcunha de “Pai do Darwinismo
Social”. Spencer jamais utilizou este termo ou defendeu a
morte de indivíduos “mais fracos”. Foi um notável opositor
de governos militares e autoritários.

Fonte: John Collier (1850–1934) / Wikimedia Commons

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Os povos, segundo Spencer, deveriam ser escalonados de acordo com suas características
biotípicas, entendendo-se a cultura de forma determinada também por essas características,
entre superiores (povos entendidos como civilizados) e inferiores (povos entendidos como
incivilizados ou bárbaros).
A perspectiva rácica e etnicista do evolucionismo spenceriano, teve o peso do conhecimento,
das metodologias científicas e muitas distorções de suas ideias. Uma das distorções, ainda que
fundamentada em suas teorias, foi a dominação que povos europeus engendraram contra
os “inferiores” africanos e asiáticos, e, no caso dos estadunidenses, contra os povos latino-
americanos. Criou-se um repertório científico respeitável naquele momento que parecia tornar
plausível o inimaginável: a tutela de povos tidos como involuídos por povos autorreferidos
como civilizados.

Fonte: Wikimedia Commons

Em termos históricos, o que se verifica é o peso da violência neocolonial exercida em prol


do desenvolvimento econômico e da força política dos países centrais do sistema capitalista
industrial pelo viés do pensamento, da política e da economia positivista. Nesses termos,
podemos citar alguns exemplos: a violência que os ingleses colonizadores empreenderam na
Índia colonizada, bem como na China e nas suas colônias africanas; os franceses, na Argélia;
os alemães, em suas colônias na África; e os estadunidenses, quando engendraram inúmeras
intervenções militares de caráter imperialista na América Latina (como no Panamá, Porto
Rico, Haiti, Filipinas, Honduras, Guatemala, Nicarágua, República Dominicana etc.) Estes
domínios, segundo o discurso antropológico, foram matizados pelas categorias rácicas que aos
países imperialistas pareciam ser legítimas.
Em função da vigência dessas categorias profundamente determinadas por ideologismos
que destacamos, bem como pautadas em convicções grandiloquentes de superioridade, países
europeus, autorreferidos como portadores de sociedades evoluídas, trataram – naturalizando
– a existência de sociedades periféricas tidas como involuídas.
Até que a confusão inicial entre natureza e cultura conduzisse a adequadas distinções, levou
um tempo considerável, ao passo que hoje, voltam as duas dimensões da existência social a
estarem profundamente imbricadas e, mais uma vez, em estado conflitante.
Para que a Antropologia se libertasse dos esquemas explicativos de recorte evolucionista, que
marcaram a constituição das ciências humanas e sociais nesse período formativo, foi necessário
um tempo considerável. No entanto, o étimo do pensamento antropológico, teve sim um caráter
inicial profundamente racista. Tal caráter foi o instrumento que os Estados imperialistas precisavam
para desencadear uma dominação neocolonial contra povos que hoje, diferentemente do passado, a
Antropologia se esforça em compreender, não mais em dominar.

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

A seguir, veremos o tema migração que esta diretamente ligado à questão do deslocamento
de povos de diferentes origens e etnias. Porém, destacaremos, após as autorreferidas
análises antropológicas, os principais problemas enfrentados hoje. O ‘outro’ visto pela ótica
eurocentrista é exposto pelos fenômenos migratórios crescentes da contemporaneidade.

Movimentos Migratórios – Ontem e Hoje

Os movimentos migratórios internacionais no atual mundo globalizado constituem uma


importante questão social, que merece um aprofundado estudo com a finalidade de mapear
de forma quantitativa e também através da pesquisa qualitativa, quais são os imigrantes do
século XXI, seus principais destinos e anseios e, como as políticas internacionais vêm se
moldando a este cenário para reduzir os conflitos causados pelo mosaico cultural que se forma
em algumas regiões do planeta. Essa mescla de indivíduos é realidade, principalmente em
países desenvolvidos, bem como aqueles em desenvolvimento, atraídos pela favorável situação
econômica e melhores condições de vida, propiciando um cenário para manifestações de
intolerância à diversidade.

Essa situação demanda – urgentemente – reformulação de políticas de imigração e de


emigração, bem como ações voltadas à implementação dos direitos humanos dos migrantes,
tópico muito discutido depois dos acontecimentos recentes, como o 11 de setembro nos
Estados Unidos e sua estratégia militar preventiva iniciada com a Guerra do Iraque, os conflitos
do Oriente Médio, as tensões entre comunidades de imigrantes muçulmanos na Europa, entre
outras manifestações das contradições e conflitos que permeiam a vida coletiva neste início de
século, reforçando as dimensões de racismo e xenofobia.

Fonte: iStock/Getty Images

Neste estudo dos movimentos migratórios no mundo contemporâneo, teremos como cenário
inicial uma abordagem comparativa exemplificativa entre dois países com histórico muito forte sobre
tais movimentos. A Itália, que no início do século XX, incentivou a emigração para resolver seus
problemas políticos, econômicos e sociais, principalmente na empobrecida região sul e, que hoje é

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uma importante porta de entrada de imigrantes interessados em desfrutar dos benefícios de uma das
maiores economias do mundo, e também pela possibilidade de acesso a outros países membros da
União Europeia e, o Brasil - país que já foi receptor demilhões de estrangeiros de várias nacionalidades
e que, em muito menor número, continua recebendo imigrantes.

“Nesse desalinhamento os estudos sobre migração ganhariam em


abrangência compreensiva ao se relacionarem a debates sobre
racismo e intolerâncias atuais com relação aos estrangeiros. Cresce
a importância da reflexão sobre os nexos entre ética, direitos
humanos e migrações internacionais, no plano de considerar
alteridades. Há muito que aprender quando outras subalternidades
são também enfocadas, como identidades de gênero, raça, de
classe, de etnicidade e de referências nacionais” (CASTRO, 2001).

Para delimitar, num primeiro momento, a fim de propiciar um estudo mais detalhado, duas
grandes e importantes cidades – Nápoles e São Paulo – são cenários pertinentes para o estudo
desta pesquisa. Nápoles, com mais de um milhão de habitantes, é a terceira maior cidade
italiana, porta de entrada de milhares de imigrantes provindos dos mais diversos países, não
só da Europa, mas da África, Ásia e América do Sul principalmente e, São Paulo, a maior
cidade brasileira com 11.253.503 de habitantes, segundo dados recentes do IBGE para o ano
de 2014 e a quarta maior cidade do mundo.

Migração: deslocamento de indivíduos ou grupos de um lugar para o outro onde


permanecem, por motivos específicos, por algum tempo em lugar que não seja de
sua origem.
Imigração: entrada de estrangeiros em um país que permanecem em cidade,
estado ou região que não sejam de sua origem de nascimento e nacionalidade.
Emigração: saída espontânea ou forçada de um país, por motivos específicos,
provisória ou definitivamente.

Muito já se estudou sobre imigração italiana em São Paulo, por ter sido esta a cidade que
mais recebeu imigrantes italianos em meados do século XX, porém há uma carência de estudos
aprofundados sobre o novo quadro migratório de ambos os países. São Paulo ainda recebe
imigrantes? Quais as nacionalidades dos novos imigrantes que chegam à cidade? Para onde
vão? Por que escolhem a cidade de São Paulo para viver? Como a cidade está estruturada para
receber estes novos imigrantes? Qual o impacto destes estrangeiros na cultura, na sociedade
e na economia da cidade? Estas e outras questões são ponto de partida para esta importante
discussão em ciências humanas e sociais.
Por outro lado, a Itália (assim como grande parte de países europeus, EUA, Canadá,
Austrália e Japão), que tantos laços firmou com o Brasil nestes anos todos, agora vive a
inversão do quadro. Deixou de incentivar a emigração de sua população por ter se desenvolvido
economicamente, para ser um dos destinos mais procurados pelos imigrantes na Europa. A
cidade de Nápoles, com alta densidade demográfica, situada na região da Campânia no Sul
da Itália, enfrenta o problema descompassado da imigração. Criticada pela fraca política de
controle em seu território, possibilita que seja apontada como uma das principais portas de
entrada de estrangeiros ao país e, consequentemente, ao bloco europeu. Tal fato lhe rende

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

atenção especial e críticas por parte de outros países da União Europeia, sobre as facilidades
de entrada no território italiano, acarretando diversos problemas diariamente noticiados na
mídia, relatando inclusive, a chegada de barcos clandestinos apinhados de imigrantes que
chegam à península italiana sem controle de entrada devido à ilegalidade da situação.
Imigrantes chegando à Itália – porta de entrada para a União Europeia.

Fonte: iStock/Getty Images

Pelo presente quadro, o século XXI promete ser importante, pela preocupação que as
grandes instituições internacionais, como a UNESCO e a ONU, por exemplo, têm demonstrado
em combater a discriminação e a exploração dos imigrantes, criando novas políticas e medidas
a fim de reduzir o quadro mundial de desigualdade social rumo à preservação e garantia dos
direitos humanos e, principalmente, à valorização da liberdade, democracia e tolerância.

Imigração: Temática Fundamental em Ciências Sociais

A migração internacional atingiu, sobretudo, a partir dos anos 80, grande importância no
cenário mundial como ponto fundamental no desenvolvimento das relações entre os países e,
em especial, significativa importância na Europa e na América Latina.
O cenário atual é caracterizado pelas transformações econômicas, sociais, políticas,
culturais e ideológicas, pela manifestação crescente de diversos conflitos e, principalmente por
desigualdades regionais acentuadas pela constituição de mercados integrados como NAFTA,
ALCA, UE, MERCOSUL e tantos outros.
As ciências sociais, através de pesquisas, busca elaborar um diagnóstico preliminar a
respeito da migração internacional recente para o Brasil e para a Europa, EUA, Japão etc.,
com os objetivos de reforçar e sistematizar informações e de estabelecer um debate sobre
esses movimentos no contexto da internacionalização que marca a atual etapa das relações
entre nações, povos e sociedades no limiar do século XXI.

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Os movimentos de populações em nível internacional podem beneficiar tanto o país de origem


quanto o país de destino, proporcionando ingressos de recursos econômicos aos primeiros e recursos
humanos aos segundos. Em longo prazo, esses movimentos tendem a facilitar a transferência de
conhecimentos entre as nações e enriquecer as diferentes culturas nacionais.

As causas fundamentais da migração devem ser estudadas, sobretudo as que têm a ver com
a falta de oportunidades econômicas e subdesenvolvimento social nos países de origem, de
modo que se possa ir ao encontro da formulação e implantação de estratégias que tenham
como meta um desenvolvimento sustentado e sustentável.
O trabalho inicia-se a partir de uma retrospectiva histórica a respeito das migrações para o
Brasil e para a Europa no século XX, a fim de criar um quadro informativo sobre a composição
destas sociedades, formadas com grande influência, em vários aspectos, pelo elemento
imigrante. Tal objetivo é realizar um levantamento histórico desses dados para um melhor
entendimento da formação social, cultural e política dos dois países.
Num segundo momento, os estudos seguem em busca de dados recentes da entrada de
imigrantes nos países em questão com enfoque para as cidades receptoras deste contingente.
Forma-se um quadro comparativo sobre a questão da imigração no Brasil e no mundo,
destacando as cidades mais vulneráveis ao fenômeno migratório, que possibilite a compreensão
dos motivos que levam à imigração para ambos os países nos dias atuais e quais as consequências
que essa movimentação causa nesses países. Por outro lado, é interessante também traçar uma
perspectiva do perfil destes imigrantes no que diz respeito à causa, ou seja, porque emigrou,
motivação, adaptação, permanência, inserção no contexto social do país de destino etc.

Breve panorama histórico da imigração no Brasil com destaque


para a cidade de São Paulo.

No caso de São Paulo, é sabido que, com a expansão cafeeira no final do século XIX, foi
propiciada a entrada de milhares de imigrantes subvencionados para trabalhar na lavoura com
destino principal às cidades interioranas do Vale do Paraíba, cinturão da produção de café
no país. Porém, muitos imigrantes se fixaram na capital logo ao chegar ao Brasil e outros,
mais tarde, quando findavam o contrato de trabalho nas fazendas, e com a crise cafeeira nos
primeiros anos do século XX, se interessaram pela vida na capital.
A primeira onda da imigração estrangeira para o Brasil pode ser caracterizada pelo período
de 1880 a 1903, etapa que registrou a entrada de 1.850.985 imigrantes europeus (LEVY,
1974). A última década do século XIX marcou o ponto máximo da entrada de estrangeiros no
país. Em 1902 foi promulgado o Decreto Prinetti na Itália, proibindo a imigração gratuita para
o Brasil, devido às más condições que seus emigrantes recebiam em São Paulo, reduzindo, e
muito, a entrada de imigrantes naquele período.

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

Entrada de imigrantes no Estado de São Paulo e no Brasil no período de 1827 a 1920 (Quadro elaborado pelo autor).

A segunda onda de imigrantes, de 1904 a 1930, foi marcada pela entrada de 2.142.781
estrangeiros, sendo que no período correspondente à Primeira Guerra Mundial essa entrada foi
bastante reduzida. Pós-1918, a imigração estrangeira teve certo incremento, destacando-se a entrada
de poloneses, russos e romenos. Em 1927, no entanto, termina o subsídio do governo do estado de
São Paulo para a imigração estrangeira, e as entradas se reduzem fortemente.

A partir de 1930, embora decrescentes as entradas de imigrantes, verifica-se no período


de 1932 a 1935, a chegada dos imigrantes japoneses, particularmente em São Paulo. A
tendência ao menor dinamismo nessas entradas se estendeu até o final da Segunda Guerra
Mundial, quando se assistiu a uma terceira onda de imigração, embora em volumes inferiores
aos das décadas passadas. A partir de 1953 iniciaram-se as imigrações dirigidas, algumas das
quais eram demandadas principalmente pelo setor industrial. Nessa época predominavam
as imigrações espanholas, gregas etc. Considerando-se o período entre 1872 e 1972, Levy
(1974) aponta que mais de 5 milhões de estrangeiros entraram no país.

Os anos 50 encerraram o período receptor de imigrantes e o período pós-1964 marcou


definitivamente a redução do número de imigrantes chegados ao Brasil. Os poucos latino-
americanos que entraram, remanescentes dos períodos autoritários (argentinos, chilenos e
uruguaios) e, mais algumas entradas dispersas de estrangeiros asiáticos ou de outras origens
não tinham expressão estatística e nem parecem constituir uma questão demográfica.
Esse panorama modificou-se na década de 80: os movimentos migratórios internacionais
passaram a constituir uma questão emergente, avolumando-se, tornando-se visíveis e notórios,
constituindo-se numa das expressões da crise econômico-social e do impacto do processo de
reestruturação produtiva em âmbito mundial. As migrações internacionais, a partir de então,
se dirigem para as chamadas cidades globais e o Brasil passa a ter um número muito maior
de emigrantes para os EUA, Japão e Europa principalmente, não mais cativando o interesse
dos estrangeiros, a não ser dos países fronteiriços como Paraguai e Bolívia, e de refugiados
políticos oriundos do continente africano e asiático com destaque para os nigerianos, chineses
e coreanos que escolheram São Paulo como destino.

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No caso da região metropolitana de São Paulo, apesar da chegada


recente de movimentos internacionais, que trazem características
presentes nas cidades mundiais – em particular a clandestinidade
-, sua inserção nessa hierarquia global parece ser mais difícil;
provavelmente, no entanto, dominará a hierarquia das cidades
latino-americanas” (PATARRA E BAENINGER, 1995).

O contexto italiano – utilizado aqui como exemplo comparativo

Pode surpreender o fato de que a Itália, tradicional país exportador de mão-de-obra (de
1876 a 1976 emigraram quase 30 milhões de pessoas), tenha se tornado nos anos 70 uma
nação que também atrai mão-de-obra estrangeira. Esse movimento em massa para a Itália
revela as mudanças profundas ocorridas nacional e internacionalmente.
A drástica transformação demográfica e social na vida italiana induz a hipotetizar um
cenário onde cada vez mais a mão-de-obra estrangeira pode tornar-se necessária, pelo menos
em alguns setores da economia nacional. Com efeito, o número de anciãos na Itália supera o
de jovens. As previsões falam em 9 milhões de jovens contra 16 milhões de anciãos em 2025,
a menos que a tendência não sofra mudanças radicais (TASSELLO, 1991).

O fenômeno da imigração atual na Itália encontra explicação nos seguintes fatos:

1. Um relacionamento mais intenso entre países com diferentes níveis de crescimento


econômico e cultural;
2. Procura por mão-de-obra para trabalhos não qualificados nos países norte-ocidentais;
3. Política dos “pólos de desenvolvimento industrial” adotada por muitos países em vias de
desenvolvimento. Tais políticas criaram um crescente fenômeno de urbanização, dando
origem a uma crescente expansão da mão-de-obra disponível, concentrada nas periferias das
grandes cidades do assim chamado terceiro mundo. Estes migrantes internos, frente à miséria
e inatividade, preferem aventurar-se ao exterior na esperança de uma saída ocupacional;

4. Situação de instabilidade de muitos governos dos países em vias de desenvolvimento, o


que indiretamente favorece o processo de emigração.

Dada também sua localização geográfica e sua configuração, que dificilmente tornam
possível um controle da costa, a Itália é uma das metas da esperança. Cada ano, na Itália,
os estrangeiros sobem a mais de cem milhões de presença pelos mais variados motivos,
constituindo o turismo um dos setores mais rendosos e o principal deles.
Para se ter uma ideia, segue quadro informativo sobre a presença estrangeira na Itália na
década de 90.

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Considerações Finais

O ponto de partida dos estudos em ciências sociais, considerando as temáticas aqui


discutidas, deve levar em consideração a observação de que a globalização tem desencadeado
duas tendências antagônicas que aproximam as nações problematicamente. Por um lado,
se amplia a regionalização da informação, da tecnologia e dos mercados de bens e serviços,
ao tempo em que o controle governamental sob os imigrantes aumenta e onde sentimentos
xenófobos no âmbito das sociedades nacionais se intensificam.
Durante o século XIX e as primeiras décadas do século XX, muitas das nações latino-
americanas receberam significativos contingentes de populações ultramarinas e formularam
políticas de abertura de fronteiras que, embora com eficácia variável, garantiram aos imigrantes
condições favoráveis para se inserirem nas novas sociedades e gerar nelas mudanças não
apenas demográficas, mas também culturais, sociais, políticas e econômicas. Mas, a partir de
aproximadamente a segunda metade do século XX, as migrações mais expressivas se dão em
âmbito intra-regional.

Entretanto, tais quais os imigrantes do passado, os novos imigrantes estão mudando a


fisionomia dos países receptores de um modo tão imprevisto quanto inevitável.
O principal problema que foi aqui abordado diz respeito ao crescente fluxo migratório no
mundo contemporâneo, que comparado com o passado mudou de rumo. Novos destinos
que, outrora tiveram uma experiência emigratória, hoje atraem altos índices de entrada de
imigrantes. O que aconteceu com o mundo moderno? O que mudou? O que levou alguns
países, que antes, numa situação insustentável promoviam a emigração e hoje sofrem para
controlar suas fronteiras? E na contramão: Por que países, como o Brasil, com programas de
imigração subsidiada no seu histórico, agora prevê leis mais estreitas de controle de entrada e
permanência de estrangeiros e, por outro lado, ainda hoje apresenta números representativos
de emigrantes?
O que se observa, contudo, é uma carência de bibliografia e levantamento de dados a
respeito da imigração hoje. Existem poucos estudos sobre a relação entre a imigração,
identidade e intolerância. Intolerância esta que talvez nem Darwin nem Spencer tivessem
noção da dimensão que alcançaria.

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

Material Complementar

Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, seguem algumas sugestão


de leituras:

Sites:
Uma gota de sangue – história do pensamento racial – E-book:
http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572444446 . 13/02/15.

Raça Pura – E-book:


http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572443722 . 13.02.15.

Desigualdades de gênero, raça e etnia – E-book:


http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582124871 . 13.02.15.

Good Bay Brazil – Emigrantes brasileiros no mundo – E-book:


http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572448130 . 13.02.15.

Todos enriquecerão sua compreensão sobre os aspectos fundamentais do conhecimento


sobre raça, etnia e migrações.

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Referências

CALDEIRA, Jorge. História do Brasil . São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

CANCLINI, Nestor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da


globalização. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1995.
_____. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo (Ensaios Latino-Americanos, 1), 1997.

CASTRO, Mary Garcia. Migrações Internacionais e Políticas – Algumas experiências


internacionais In. Migrações Internacionais – Contribuições para Políticas. Brasília.
CNPD (Comissão Nacional de População e Desenvolvimento), 2001.

FAUSTO, Bóris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.


GIDDENS, Antony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Ed. Unesp, 1991.

HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos – O Breve Século XX (1914-1991) . São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.

IANNI, Octavio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992.

LEVY, M.S.F. O papel da imigração internacional na evolução da população


brasileira (1872 a 1972). Revista de saúde pública. Suplemento. FSP-USP, 1974.
PATARRA, Neide Lopes. Emigração e imigração internacionais no Brasil
contemporâneo. São Paulo: FNUAD, 1995.

TASSELO, Graziano. Itália, país de imigração. São Paulo: Revista Travessia nº 11, 1991.

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Unidade: Raça, Etnicidade e Migração

Anotações

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