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Teoria Geral dos Recursos

▪ Conceito: a palavra recurso deriva etimologicamente dos termos em latim ‘recursus’


ou ‘recorrere’, sujo significado era ‘novo curso’ ou ‘voltar a correr’. Entretanto, esse
conceito não é muito adequado, pois o processo não volta para os atos iniciais. O
melhor conceito para recurso é aquele que representa a revisão de uma decisão dentro
do próprio processo, ou seja, uma relação jurídica de direito processual originário.
▪ Pressupostos para o Recurso:
I – Pressupostos subjetivos:
A) Interesse em recorrer: este pertence à parte sucumbente, entendendo-
se por parte sucumbente aquele que não obteve no todo ou em parte a pretensão
deduzida em juízo e que pode, por meio de recurso, obter uma situação jurídica mais
vantajosa.
A.1) Possibilidade do réu absolvido recorrer: alguns autores
entendem que o réu absolvido poderia ter interesse em recorrer para tentar mudar a
fundamentação da sentença absolutória a fim de evitar a indenização no juízo civil.
Entretanto, predomina o entendimento de que o réu absolvido não tem interesse em
recorrer, ainda que possa haver indenização no juízo civil, pois neste lhe será garantido,
sob pena de nulidade, o contraditório e a ampla defesa, inclusive de forma mais eficaz.
A.2) Possibilidade do MP recorrer/apelar a favor do réu: alguns
autores entendem que o MP não teria interesse em recorrer a favor do réu, pois o pedido
na denúncia foi de condenação. Entretanto, predomina o entendimento de que o MP
pode ter interesse em recorrer a favor do réu se nas alegações finais ele tiver opinado
pela absolvição. O seu interesse sera fazer prevalecer a sua opinião jurídica.
B) Legitimidade: a legitimidade para recorrer, via de regra, pertence a
quem participou da relação jurídica de direito processual no 1° grau de jurisdição, ou
seja, o MP, o assistente de acusação, o querelante, o réu e o querelado. Entretanto, o Art.
598 do CPP permite que além dos legitimados ordinários, a vítima, seu representante
legal ou sucessores possam interpor recurso nas ações penais públicas quando o MP não
recorrer no prazo legal (Ação penal privada subsidiaria da pública).
B.1) Possibilidade do Advogado recorrer contra a vontade do réu:
alguns autores entendem que, se o réu não desejar recorrer, o seu advogado não poderia
fazê-lo, pois recurso é um ato voluntário (Art. 574 do CPP). Entretanto, predomina o
entendimento de que, havendo divergência entre o réu e seu advogado, deve prevalecer
a vontade da defesa técnica no sentido de interpor o recurso, pois o advogado é a pessoa
com conhecimento técnico-científico que tem condições de saber o que é mais vantajoso
para o acusado.
II – Pressupostos objetivos:
a) Cabimento: para que um ato seja considerado recurso a lei deve,
necessariamente, conferir-lhe essa natureza jurídica.
b) Adequação: as partes devem interpor o recurso adequado para impugnar a
decisão, conforme estabelecido em lei.
Ex.: sentença/decisão de impronuncia – recurso de apelação;
Ex.: rejeição da denúncia ou queixa/decisão de pronuncia – recurso em sentido
estrito.
b.1) Princípio da Unirrecorribilidade: para cada decisão existe um – e
somente um – recurso adequado.
b.2) Princípio da Fungibilidade recursal: o Art. 579 do CPP prevê a
aplicação do princípio da fungibilidade recursal no processo penal, ele estabelece que,
se a parte interpõe o recurso errado, o juiz pode mandar processar pela forma do recurso
adequado, salvo se houver má-fé da parte.

c) Tempestividade: as partes devem interpor o recurso dentro do prazo


estabelecido em lei.
Ex.: Art. 586 do CPP: 5 dias; Art. 593 do CPP: 5 dias; Art. 609 do CPP:
10 dias etc.

Obs.: o prazo para interposição dos recursos é prazo processual: exclui-se o dia de
início e inclui-se o dia do final; corre direto, sem suspensão, mas se o primeiro ou o
último dia coincidir com sábado, domingo ou feriado haverá prorrogação para o
primeiro dia útil subsequente.

d) Inexistência de fatos impeditivos e extintivos: o fato impeditivo é a renúncia,


que ocorre antes da interposição do recurso. Já os fatos extintivos são a desistência e a
deserção, esta sendo a falta de preparo, isto é, falta de pagamento das custas recursais.

e) Regularidade formal: a parte, ao interpor o recurso, deve observar os quesitos


de forma, exigidos por lei.

III – Efeitos dos Recursos:


1) Efeito devolutivo: a matéria impugnada é encaminhada para reexame por outro órgão
jurisdicional. Ex.: recurso de apelação.
2) Efeito iterativo: a matéria impugnada é devolvida para o próprio órgão jurisdicional
que prolatou a decisão. Ex.: embargos de declaração.
3) Efeito misto: a matéria impugnada inicialmente é encaminhada para o órgão que
prolatou a decisão a fim de que ele possa exercer o juízo de retratação, se não for o caso,
em seguida, poderá ser encaminhada para outro órgão. Ex.: recurso em sentido estrito e
agravo de execução.
4) Efeito suspensivo: nos casos de concurso de pessoas, o recurso interposto por 1 dos
agentes, se não tiver por fundamento circunstância de caráter pessoal, terá o seu efeito
estendido para os demais agentes.
5) Efeito extensivo: Nos casos de concurso de pessoas, o recurso interposto por um dos
autores ou partícipes, se não se fundar exclusivamente em circunstância e caráter
pessoal, se extenderá aos demais co-autores e partícipes.

IV – Tantum Devolutum Quantum Apelatum (Devolvido tanto quanto apelado):


trata-se do princípio da adstrição ou congruência em matéria recursal. No processo
penal, via de regra, o tribunal só pode conhecer da matéria alegada pelas partes.
1) Reformatio in pejus: é a reforma de uma decisão que, de alguma forma, agrava a
situação do réu. Havendo recurso de acusação, é possível ocorrer a reformatio in pejus,
em razão do princípio da tantum devolutum quantum apelatum. Se o recurso for
exclusivo da defesa, o tribunal não poderá agravar a situação do réu (Art. 617 do CPP);
2) Reformatio in pejus indireta: havendo anulação da sentença de 1° grau, o juiz, ao
elaborar a nova sentença, não poderá agravar a situação do réu, pois se o fizer, violará,
de forma indireta, o princípio da non reformatio in pejus.
2.1) No tribunal do juri: a doutrina diverge quanto a aplicação do princípio da
non reformatio in pejus indireta do juri:
1° posição: o conselho de sentença está vinculado ao princípio da non
reformatio in pejus indireta, dessa maneira, anulando a 1° sessão plenária, o conselho de
sentença que vier a se formar na segunda sessão plenária não poderia agravar a situação
do réu.
2° posição: a maior parte da doutrina entende que o conselho de sentença
não está vinculado ao princípio da non reformatio in pejus indireta, pois o conselho de
sentença é orientado pelo princípio da soberania dos veredictos (Art. 5°, XXXVIII, c, da
CRFB/1988). Dessa maneira, anulada a primeira sessão plenário o conselho de sentença
que vier a se reformar no 2° sessão plenária podendo manter, melhorar ou agravar a
situação do réu.
Obs.: no tribunal do juri, quem está livre para decidir é o conselho de sentença,
pois o juiz presidente fica vinculado ao princípio non reformatio in pejus indireta. Dessa
maneira, anulada a primeira sessão plenária e vier a manter a situação do réu, não
poderá o juiz presidente agravar ao fazer a dosimetria da pena (Art. 593, III do CPP).
3) Reformatio in mellius: é a reforma de uma decisão para beneficiar a situação do réu.
Havendo recurso de defesa, o tribunal pode melhorar a situação do réu, em razão do
princípio tantum devolutum quantum apelatum.
Havendo recurso exclusivo da acusação a doutrina diverge: alguns autores
entendem que o tribunal não poderia melhorar a situação do réu, em razão do princípio
tantum devolutum quantum apelatum. Entretanto, predomina o entendimento de que
somente a reformatio in pejus possui vedação expressa no Art. 617 do CPP, assim
sendo, pelo princípio do favor rei (In dubio pro reo), é possível ao tribunal melhorar a
situação do réu, mesmo que o recurso seja exclusivamente da acusação.
IV – Juízo de Admissibilidade e de Mérito:
1) Juízo de admissibilidade: neste, verifica-se a presença ou não dos pressupostos
recursais, objetivos e subjetivos. Se os pressupostos não estiverem presentes, o recurso
não será conhecido.
2) Juízo de mérito: conhecido o recurso, o tribunal analisará o mérito do recurso, que
poderá recair sobre um error in judicando ou error in procedendo. Havendo algum
desses erros, o tribunal dará provimento ao recurso; caso contrário, o tribunal negará
provimento ao recurso.

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