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AO JUIZO DE DIREITO DA 10° VARA CÍVEL DO TERMO JUDICIÁRIO DE

SÃO LUÍS/MA DA COMARCA DA ILHA DE SÃO LUÍS/MA

Autos do processo n° 0816168-85.2023.8.10.0001

URBANILTON GOMES DE SÁ, solteiro, advogado inscrito na OAB/MA sob o n°


26.027, CPF sob o n° 044.119.463-00, endereço eletrônico:
urbanilton.adv@gmail.com, residente e domiciliado na rua da Jacamas, 24 cp 20 cs
41, CEP: 65138-000, Raposa/MA, vem a presença de Vossa Excelência, atuando em
causa própria nos termos do art. 106 do CPC/2015 propor:
CONTESTAÇÃO CÍVEL
Com fulcro no art. 335 e seguintes do CPC que lhe move com base nos fatos e
fundamentos a seguir expostos.

1. DA SÍNTESE DA INICIAL

Busca o autor o Poder Judiciário ação anulatória de negócio jurídico referente a


venda da motocicleta Honda XRE 300, cor preta, ano 2016/2016, placa PSP-2842,
alegando que anunciou a venda na OLX e que fez negociação com Douglas,
apresentando a moto e passando para Urbanilton Gomes de Sá e ao final da transação,
no momento do pagamento, o réu da ação não transferiu o valor diretamente para o
Autor, mas para o terceiro envolvido na negociação o Douglas. Na liminar alegou não
estar mais na posse do veículo.
2. PRELIMINARES DA CONTESTAÇÃO

2.1. Da Litispendência

Verifica-se Litispendência quando se repete ação que já está em curso. A ação


proposta pelo autor que discute a venda da motocicleta Honda XRE 300, cor preta,
ano 2016/2016, placa PSP-2842, alegando que anunciou a venda na OLX e que fez
negociação com Douglas, apresentando a moto e passando para o réu, foi
sentenciada dia 03/03/2023 pela Juíza ALICE PRAZERES RODRIGUES,
titular da 16ª Vara Cível de São Luís, do Termo Judiciário de São Luís da Comarca
da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, processo nº: 0847488-95.2019.8.10.0001
(sentença em anexo). Vejamos trecho da sentença.

“Superadas as questões, tem-se que a parte autora manejou ação com o


objetivo de reintegração de posse no veículo na Honda XRE 300, cor preta,
ano 2016/2016, placa PSP-2842., com o argumento de ser o legítimo
possuidor do bem em questão; enquanto o requerido defendeu que a
operação se deu mediante fraude não evitada pelo requerente.” (grifei)

O Código de Processo Civil no artigo 337, traz hipóteses que incumbe ao réu
alegar, dentre elas a Litispendência no inciso IV. No art. 485, V, o juiz não resolve o
mérito, quando reconhece a existência de litispendência.

Um dos significados do termo “litispendência” - e que interessa à presente


análise - é a existência de dois ou mais processos em trâmite com a mesma ação (teoria
da tríplice identidade - mesmos elementos da ação). Interessante registrar hipótese
na qual o Superior Tribunal de Justiça entende haver litispendência ainda que
não sejam exatamente os mesmos elementos da ação.

Portanto deve haver a extinção do processo sem resolução do mérito, nos


moldes do artigo 485, V do Código de Processo Civil.
2.2. Da indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

Com efeito, o art. 4º, caput e seu §1º, da Lei n º 1060/50 dispõem que o
juridicamente necessitado é aquele que não está em condições de pagar custas do
processo e os honorários de advogado sem prejuízo próprio ou da família,
presumindo-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar tal condição, mediante
simples afirmação na própria petição inicial.

De outro lado, a lei, também, permite a revogação do benefício, quer por


provocação da parte contrária (art. 7º, do mesmo diploma), quer de ofício (art. 8º, da
lei de regência), estabelecendo o enunciado n º 43, da mesma Súmula, que “cabe a
revogação, de ofício e a qualquer tempo, do benefício da gratuidade desde que
fundamentada”.

No contracheque apresentado do mês de fevereiro, o autor ganha valor bruto


de R$ 5.433,32 (cinco mil, quatrocentos e trinta e três e trinta e dois) pagando parcela
de empréstimo no valor de R$ 1.329,41 (mil trezentos e vinte e nove e quarenta e um
centavos). Ainda assim sobra em valor líquido de 2.654,19 (dois mil, seiscentos e
cinquenta e quatro e dezenove centavos) referente ao Cartão Daycoval, este está em
uma única parcela, o que parece não haver mais prestações a serem pagas, acrescendo
assim o valor de 455,83 ao valor líquido de 2.654,19 que totaliza 3.110,02 maior que
o valor de 40% do teto da previdência social para o deferimento da justiça
gratuita.

A Lei n. 13.467/2017 trouxe nova redação ao benefício da justiça gratuita, pelo


critério de recebimento de salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do
limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, o que,
considerando os valores atuais, significa receber salário igual ou inferior a R$ 3.002,99

O Autor recebe o salário muito maior que o valor de 3.002,99; mesmo com os
descontos de empréstimos, ainda assim, excede o limite de 40% do teto da
previdência; portanto não faz jus a Justiça Gratuita.
§ 3º É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais
do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício,
o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos,
àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por
cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência
Social.

3. DO MÉRITO

3.1 Da Litigância de má-fé

Sustenta em sua Petição Inicial que a motocicleta deve ser reintegrada à sua
posse, dando a entender que a motocicleta está na posse do réu, na tentativa de induzir
o magistrado no deferimento da Liminar, argumenta:

“ No mais, se esse douto Juízo não se convencer que o bem deva


retornar liminarmente a possa do autor, requer que seja inserido em
caráter LIMINAR através do sistema online RENAJUD RESTRIÇÃO de
TRANSFERÊNCIA e CIRCULAÇÃO sob a motocicleta HONDA XRE
300, cor preta, ano 16/16, placa PSP-2842, RENAVAM nº 1090657096.”
(grifei)

O autor já sabendo da sentença em seu desfavor, apela da sentença que ocorreu


na 16° Vara Cível, entra com nova ação na 10° Vara Cível, omite a discursão e a
sentença proferida na 16° Vara Cível, sentença esta, que pede a reintegração da
motocicleta ao réu, o autor pede a reintegração do veículo quando ainda está na
sua posse; na tentativa desesperada de induzir o juizo da 10° Vara decidir
contrariamente ao da 16° Vara, e pede em sede de Liminar alegando não estar mais
com o veículo, porém, estava sim com o veículo.

A liminar tem o caráter de urgência para garantir o direito que tem perigo de ser
perdido. O autor deveria dizer que poderia perder a posse do veículo e explicar o real
motivo, que neste caso seria a sentença, explicar que a moto sempre esteve em sua
posse, nunca esteve na posse do réu, porém altera a verdade dos fatos, informando
que a moto está na posse do réu, quando não está; dando a entender que busca a
reintegração da posse da motocicleta através de Liminar, pois sabia da existência da
sentença proferida contra ele, e que em nenhum momento informou V.Exa.

Uma concessão de Liminar para restituir a posse de veículo que está sendo
restituído por decisão de outra Vara, no mínimo causa insegurança jurídica!
Atenta contra a boa-fé processual, Princípio da primazia da decisão de mérito,
Princípios do direito processual, Princípio da eficiência e Princípio da
Efetividade

Como se não bastasse, ainda pede a anulação da transferência, em outras


palavras seria dizer “seja anulada a sentença proferida na 16° Vara Cível por meio
desta liminar que peço na 10° Vara Cível”, vejamos:

“seja ANULADA A TRANSFERÊNCIA DO MOTOCICLETA


marca HONDA XRE 300, cor preta, ano 16/16, placa PSP-2842,
confirmando-se a liminar acima requerida, restituindo a propriedade da
motocicleta ao requerente, com a consequente baixa de eventuais
restrições para venda, licenciamento e circulação.”

O Código de Processo Civil em seu Art. 80, considera litigância de má-fé a


alteração da verdade dos fatos e proceder de modo temerário em qualquer incidente
ou ato do processo.

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do
processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Por que o autor omitiu a sentença proferida na 16° Vara? Por que o autor omitiu
a discussão que ocorreu na 16° Vara? Porque o autor falou que não estava na posse
do veiculo para fundamentar uma Liminar, quando a motocicleta ainda não tinha
saído da sua posse? Desta forma, responde por perdas e danos aquele que litigar de
má-fé, conforme artigo 79 no CPC, sendo devido os honorários advocatícios.
Complementado vem o artigo 81 do CPC:

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de


má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e
inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte
contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários
advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
§ 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá
ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo.

Quando provada a má-fé o juiz condenará o litigante a pagar multa que varia
entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, neste caso é de R$ 11.000 (onze
mil), quando o valor da causa for irrisório, a multa poderá ser fixada em 10 salários
mínimos.

3.2 Do Direito Pleiteado

No caso em tela, o autor, de boafé, realizou a aquisição da motocicleta,


conforme documentos em anexo. Com o pagamento do preço na conta indicada pelo
vendedor e a tradição ocorreu efetivamente a transferência da propriedade móvel, nos
termos do art. 1.226, do CC: Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando
constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.

A alegação do autor de que o Sr. Douglas não repassou o valor depositado pelo
réu não desfaz a compra e venda realizada, foi o próprio vendedor, ora autor quem
aceitou o pagamento na conta do Sr. Douglas, tanto que o autor assinou o DUT em
cartório, documento que dá quitação do pagamento.

A autor alegou em delegacia que receberia R$ 11.000,00 e que o Sr. Douglas


teria lhe apresentado um comprovante de transferência falso, sendo este o motivo da
assinatura do DUT, fato que apenas reforça que o autor pode ter caído em um golpe.
Não se sabe o motivo pelo qual ele receberia R$ 11.000,00, quando o valor da venda
conforme o DUT que ele mesmo assinou era de R$ 8.500,00. Porém se a diferença
foi uma promessa do Douglas para o Réu, isso não traz qualquer responsabilidade
para o Réu que efetivamente pagou o valor do DUT ao sujeito que atuava como
preposto do autor naquele momento.

Não se sabe a relação ou o que ocorreu efetivamente entre o autor e o Sr.


Douglas, relação jurídica que não tem o condão de afastar o direito de propriedade
do réu, que logo merece a restituição da sua propriedade, que até o momento da
presente contestação não fora restituído. Ademais, o réu foi esbulhado do seu bem
com a declaração do fato narrado no Boletim de Ocorrência do dia 09/10/2019,
demonstrando claramente a ocorrência e a continuidade do esbulho praticado pelo
Autor. A partir dessa data caracterizou-se, assim, a impossibilidade do exercício dos
direitos inerentes à posse e à propriedade do autor.

Cabe evidenciar, a esse juízo, que não merece prosperar a ação anulatória de
negócio jurídico, pois como consta em boletim de ocorrência feito pelo réu, a venda
só foi possível porque o autor se identificou como primo do Sr. Douglas; pois no
momento que este chegou no cartório do João Paulo pergunta “você é o primo do
rapaz?” e este confirma cumprimentando-o, motivo pelo qual realizou o negócio
jurídico.
Se o autor foi vítima de um golpe, ou possui qualquer relação jurídica com o Sr.
Douglas na qual entenda que possui algo a reclamar, deveria ajuizar ação contra o Sr.
Douglas, mas jamais poderia por sua mera escolha desfazer a compra e venda com o
Autor que já era negócio jurídico perfeito.

O réu comprova os atos de posse e de propriedade por meio do Documento


Único de Transferência devidamente assinado pelo autor, e pelos relatos colhidos
junto à autoridade policial, que demonstram que o réu comprou a moto e esteva de
posse da mesma quando lhe foi tomada ilegalmente.

Excelência, sendo o réu o legítimo possuidor e proprietário do veículo acosta


jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul para complementar o que
já fora exposto.

AÇÃO POSSESSORIA. SE APOS A ALIENAÇÃO


DE VEICULO AUTOMOTOR CONSTATAR O
ALIENANTE DE QUE RECEBEU, EM TROCA COISA
FURTADA, QUE TEVE DE DEVOLVER, NAO PODE
SE VALER DE PRESTIMOS DE AUTOTIDADE
POLICIAL PARA FAZER RETORNAR O VEICULO
DESAPOSSANDO ADQUIRENTE DE BOA-FE. A
AÇÃO POSSESSORIA PARA REAVER O VEICULO
DEVE SE ENDERECAR CONTRA O DETENTOR,
DESINTERESSANDO SE O ATO FOI PRATICADO
POR AUTORIDADE. SENTENCA CONFIRMADA.
(TJRS, Apelação Cível Nº 24962, Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Alçada do RS, Relator: Décio Antônio Erpen,
Julgado em 06/08/1981)

Desta feita, é o réu o legítimo proprietário da motocicleta e foi esbulhado pelo


autor, este nunca devolveu a moto, mesmo com decisão liminar e sentença em seu
desfavor.
4. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

O requerente informa que não possui condições de pagar as custas e despesas


do processo sem prejuízo próprio ou de sua família, conforme declaração de
hipossuficiência anexa. Diante disso, requer os benefícios da justiça gratuita,
preceituados no artigo 5.º, LXXIV da Constituição Federal e do Art. 98 da Lei
13.105/2015.

5. DA CONCLUSÃO
Ante o exposto vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência requerer:
a) O recebimento da presente contestação em todos os seus pedidos,
concedendo o benefício da Gratuidade da Justiça, pelo fato de não possuir
condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios;

b) Que seja a exordial extinta sem resolução do mérito, nos moldes do


artigo 485, V, CPC;

c) Não sendo acolhidas a preliminar de litispendência, requer a


apreciação do mérito, para declarar improcedente a ação e todos os
pedidos da parte autora, com a consequente extinção do processo, com
resolução de mérito, nos moldes do artigo 487, I, CPC;

d) Que sejam revogados os benefícios da justiça gratuita do autor, caso


não seja o entendimento de V. Ex., que sejam solicitados os contracheques
do mês de abril e maio para melhor convencimento deste juízo, a fim de
revogação da justiça gratuita;

e) Que seja condenado a autor ao pagamento de multa por litigância de


má-fé no valor entre 1 a 9% do valor da causa, caso entenda V. Exa. Ser
irrisório o valor da causa, que seja o valor da multa fixado em até 10
salários mínimos;
f) Requer seja a parte autora condenada por litigância de má fé, a indenizar
o requerido no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais);

g) Requer seja condenada ao pagamento dos honorários advocatícios e de


sucumbência.

h) Reque seja juntada a cópia desta sentença no processo 0847488-


95.2019.8.10.0001, que corre na 16ª Vara Cível de São Luís, do Termo
Judiciário de São Luís da Comarca da Ilha de São Luís, Estado do
Maranhão

Nestes termos, pede deferimento.

São Luís/MA, 04 de maio de 2023

Urbanilton Gomes de Sá
OAB/MA 26.027

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