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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO GONÇALO/RJ


Processo nº __
Carlos, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, através de
seu advogado e procurador, vem, mui respeitosamente à Douta Presença de Vossa
Excelência, dentro do quinquídio legal, interpor RECURSO DE APELAÇÃO,
com fulcro no Art. 593, inciso I do Código de Processo Penal, data vênia,
requerendo que o recurso seja recebido e que os autos sejam encaminhados ao E.
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro onde pretende oferecer as
respectivas razões recursais, conforme lhe confere o art. 600, parágrafo quarto da
Lei Penal Adjetiva, por não se conformar com a r. sentença condenatória. Em
anexo, seguem as razões recursais.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, 20 de outubro de 2021
Advogado
OAB

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO


Apelante: Carlos
Apelado: Ministério Público
Autos nº:
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
Colenda Câmara;
Em que pese o zelo do magistrado “a quo”, este não deu ao caso a solução
adequada, senão vejamos:
DOS FATOS
O apelante, primário e de bons antecedentes, fora denunciado como incurso
nas sanções penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas vezes, e art. 303,
do mesmo diploma legal, ambos em concurso material, isto posto, como dispõe a
denúncia, na data de 08 de julho de 2019 teria o apelante, na direção de veículo
automotor, com imprudência em razão do excesso de velocidade, colidiu com um
veículo em que estavam Júlio e Mario, este na época com 9 anos, causando lesões
que resultaram com a morte de ambos. Pode se ler ainda da inicial de que, em
decorrência da mesma colisão, ficou lesionado Pedro, que passava pelo local com
sua bicicleta e foi atingido pelo veículo em alta velocidade, este, que, após
atendimento médico em hospital público, se retirou do local, sem ser notado,
razão pela qual foi elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no
boletim de atendimento médico. Pedro nunca compareceu em sede policial para
narrar o ocorrido e nem ao Instituto Médico Legal. No curso da instrução, foram
ouvidas testemunhas presenciais, não sendo Pedro localizado. Durante o
interrogatório o apelante negou estar em excesso de velocidade, esclarecendo que
perdeu o controle do carro em razão de um buraco existente na pista. Foi acostado
exame pericial realizado nos automóveis e no local, concluindo que, realmente,
não houve excesso de velocidade por parte do apelante, e que havia o buraco
mencionado na pista. O exame pericial, todavia, apontou que possivelmente
haveria imperícia do apelante na condução do automóvel, o que poderia ter
contribuído para o resultado. O juiz a quo julgou totalmente procedente a
pretensão punitiva do Estado e, apesar de afastar o excesso de velocidade,
afirmou ser necessária a condenação do apelante em razão da imperícia. No
momento da dosimetria, fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo
legal, e, com relação à vítima Mário, na segunda fase, reconheceu a agravante
prevista no art. 61, II, alínea h do CP, pelo fato de ser criança, aumentando a pena
base em 3 meses. Ficando a pena acomodada em 04 anos e 09 meses de detenção.
Não houve substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos
em razão do quantum final, nos termos do art. 44, I, do CP, sendo fixado o regime
inicial fechado de cumprimento de pena, com fundamento na gravidade em
concreto da conduta.
DO DIREITO
No caso em tela, é cediço ao apelante o que diz respeito à extinção da punibilidade
no que tange ao crime de lesão corporal praticada na direção de veículo
automotor, que teria como vítima Pedro, tendo em vista que não houve
representação por parte da vítima, condição essa indispensável para o
oferecimento da denúncia por parte do Ministério Público. Como se não bastasse
tal situação, tomando-se por base o paradigma, ter-se-ia um crime de lesão
corporal na direção de veículo automotor, em que, em regra, a ação é pública
condicionada à representação, transformada, por expressa disposição de lei, art.
291, §1º da Lei 9.503/97, (CTB), em ação penal pública incondicionada. O art.
88 da Lei 9.099/95 determina que nos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas a ação penal dependerá de representação da vítima, o que, foi
excepcionado pelo legislador no que tange aos delitos de trânsito. Conta do
enunciado que Pedro nunca compareceu na delegacia e nem em juízo, não
havendo qualquer circunstância a indicar que ele tinha interesse em ver o autor
do fato responsabilizado criminalmente. Dessa forma, passados mais de 06 (seis)
meses da identificação da autoria, houve decadência, nos termos do art. 38 do
CPP: “Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,
decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo
de seis meses, contado do dia em que vier, a saber, quem é o autor do crime [...]”,
o que funciona como causa de extinção da punibilidade, conforme art. 107, IV do
CP: “Extingue-se a punibilidade: [...] IV – pela prescrição, decadência ou
perempção”.
No que diz respeito ao crime de homicídio culposo praticado na direção de
veículo automotor, cabe ressaltar o direito de absolvição do apelante, tendo em
vista que a própria sentença reconhece que não houve imprudência por parte do
réu em razão do excesso de velocidade, assim como a perícia acostada ao
procedimento. Não havendo prova da conduta imputada na denúncia, restaria a
absolvição, nos termos do art. 386, VII do CPP. da vítima, o que, foi
excepcionado pelo legislador no que tange aos delitos de trânsito. Conta do
enunciado que Pedro nunca compareceu na delegacia e nem em juízo, não
havendo qualquer circunstância a indicar que ele tinha interesse em ver o autor
do fato responsabilizado criminalmente. Dessa forma, passados mais de 06 (seis)
meses da identificação da autoria, houve decadência, nos termos do art. 38 do
CPP: “Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,
decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo
de seis meses, contado do dia em que vier, a saber, quem é o autor do crime [...]”,
o que funciona como causa de extinção da punibilidade, conforme art. 107, IV do
CP: “Extingue-se a punibilidade: [...] IV – pela prescrição, decadência ou
perempção”.
No que diz respeito ao crime de homicídio culposo praticado na direção de
veículo automotor, cabe ressaltar o direito de absolvição do apelante, tendo em
vista que a própria sentença reconhece que não houve imprudência por parte do
réu em razão do excesso de velocidade, assim como a perícia acostada ao
procedimento. Não havendo prova da conduta imputada na denúncia, restaria a
absolvição, nos termos do art. 386, VII do CPP.
Cabe mencionar que não poderia o magistrado ter condenado com fundamento
de que houve imperícia na direção do veículo, tendo em vista que tal conduta não
foi narrada na denúncia, violando o princípio da correlação, o qual representa uma
das mais relevantes garantias do direito de defesa, visto que assegura a não
condenação do acusado por fatos não descritos na peça acusatória, sendo certo
que o Ministério Público não aditou a inicial acusatória em momento adequado.
Desta senda, não sendo comprovado o fato imputado na denúncia, a absolvição é
medida que se impõe.
No que tange ao processo de dosimetria da pena, primeiro cabe explanar sobre o
afastamento do agravante conforme art. 61, inciso II, alínea h do CP. Tendo em
vista que tal agravante somente pode ser aplicado aos crimes dolosos. Quis a lei
punir mais severamente aquele que, dolosamente, pratica crime contra criança.
Na hipótese de crime culposo, não há que se falar em agravante, sob pena de
adotarmos a responsabilidade penal objetiva.
Em relação ao concurso material de crimes, conforme a denúncia, teria ocorrido
o concurso, já que com uma única conduta o agente teria causado mais de um
resultado. Assim, aplica-se a regra do art. 70 do CP, ou seja, as penas cabíveis ou,
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, em detrimento
do artigo 69 do CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
prática dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as
penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação
cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquele”,
devendo haver exasperação da pena mais grave e não soma das penas aplicadas.
Sem prejuízo, ainda que haja o entendimento de que deva ser mantida a
condenação, não poderia ser aplicado o regime inicial fechado. Desta forma,
cumpre requerer o afastamento do regime mais severo, seja aplicando-se o regime
aberto ou semiaberto, pois o art. 33, caput do CP: “A pena de reclusão deve ser
cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”, não
admitindo, em nenhuma hipótese, que seja aplicado regime inicial fechado ao
crime punido unicamente com pena de detenção, como ocorre nos crimes
culposos da Lei 9.503/97. Cabe, ainda, o pedido de substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos, independentemente do quantum de pena
aplicada, já que o limite do art. 44, inciso I, do Código Penal aplica-se apenas aos
crimes dolosos: “As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não
superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça
à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo”.
DOS PEDIDOS
Por tudo que dos autos consta, requer a reforma da r. sentença condenatória, sendo
imprescindível a imposição da absolvição ao caso em tela, alicerçado no art. 386,
inciso VII do CPP.

Por estas razões, requer o conhecimento e provimento do presente Recurso de


Apelação.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, 20 de outubro de 2021
Advogado
OAB

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