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“O espaço é a morada dos objetos e o ambiente

é a morada das ações.”


Lino de Macedo
Vamos continuar nossa conversa aprofundando nossas reflexões acerca da
importância da organização de um espaço de forma que seja um ambiente acolhedor e
possa, de fato, favorecer encontros afetivos e cognitivos entre professores, crianças e
famílias. Neste presente documento, vamos nos deter, em especial, aos encontros entre
professor e criança considerando o contexto de avaliação diagnóstica e a transição entre
as duas etapas da Educação Básica.
Acreditamos que o espaço cumpre um papel fundamental e se constitui como um
importante elemento na relação da aprendizagem, não por acaso, ele é considerado um
educador e, também, um revelador de concepções. Nesse sentido, sua organização deve
ir além dos aspectos e restrições espaciais, exigindo um planejamento intencional que
considere, favoreça e legitime as ações da criança, considerando-a como sujeito central
desse processo de construção do conhecimento. É importante ressaltar que esse espaço
ambientado em um contexto educativo seja visto e pensado como um campo de
investigação que, em um processo verdadeiramente interativo, possa dar visibilidade aos
percursos de aprendizagem da criança.
Esses motivos nos levam a postular que essa organização é condição para a
realização da avaliação diagnóstica da criança que se despede da Educação Infantil para
iniciar o primeiro ano do Ensino Fundamental.
Sendo assim, o que entendemos por criar um contexto educativo que seja capaz
de valorizar, promover e nutrir os processos de aprendizagem da criança?
Quando oferecemos folhas com atividades que podem se configurar em
sistematizações nada ou pouco reflexivas, nas quais são esperados um único resultado
aceitável, estamos evidenciando verdadeiramente os saberes da criança, suas teorias
provisórias entendendo, assim, que a aprendizagem se dá de maneira processual e de
forma contínua?
Essas reflexões são necessárias e colaboram na elucidação da concepção que
sustenta nossas ideias sobre Avaliação e transição da criança de uma etapa para outra. É
genuína nossa crença de que o espaço pode favorecer o diálogo entre as diferentes
linguagens e formas expressivas por meio das quais a criança, que é um ser curioso e
ativo, possa estar imerso às diferentes experiências e, aliado ao olhar atento e
investigativo e mediação do professor, possa dar visibilidade ao que já sabe e prefere,
bem como ter oportunidade de construir novos conhecimentos e descobrir outros
interesses.
Neste sentido, sugerimos abaixo algumas possibilidades de organização e
questões importantes que devem ser consideradas ao planejar o espaço:
● Garantir que seja aconchegante, limpo, seguro (incluindo o atendimento aos
protocolos sanitários), organizado de forma que favoreça o envolvimento da criança
em diferentes propostas;
● Garantir acessibilidade à criança e adulto que possa acompanhá-la que tenha
dificuldades em locomoção;
● Selecionar e organizar objetos pensando nas aprendizagens que quer observar ou
promover;
● Considerar as necessidades de crianças que portam alguma deficiência visual,
auditiva ou física;
● Organizar o espaço físico da sala de aula com cantos diversificados. Por exemplo;
pode-se se pensar em um canto de leitura, com livros previamente selecionados,
cantos que promovam o faz de conta (canto da beleza, da pizzaria, mercadinho, etc.),
um canto com materiais como lápis, lápis de cor, gizão, folhas de sulfite em
diferentes formatos e outros tipos de papéis, um outro com jogos de percurso,
memória, cara a cara…;
● Garantir a presença de portadores como tabela numérica e alfabeto sem enfeites ou
desenhos relacionados à quantidade referente à grafia numérica, para que a criança
possa recorrer, se encontrar necessidade.
Algumas propostas e situações que podem favorecer o envolvimento e
participação da criança:
● É importante observar a criança e deixá-la à vontade para decidir por qual canto
gostaria de começar;
● O respeito ao tempo da criança também se configura como fundamental nesse
processo;
● Observar e escutar as vozes, silêncios, expressões, pensamentos e investigações da
criança favorecem o levantamento dos saberes construídos por ela;
● Os jogos apresentam grande potencial para promover a interação e a construção de
pensamento pela criança. Enquanto brinca, ela pode ser incentivada a realizar
contagens na face do dado, quantas casas vai avançar, realizar correspondência com
a quantidade tirada e as casas que serão avançadas;
● O jogo de boliche também pode ser uma situação de aprendizagem interessante, pois
há a necessidade de registrar a quantidade de pinos que foi derrubada, contar quantas
faltam, comparar os pontos com quem está jogando com ela. Nesse caso, é
fundamental que tenha um suporte para que registrem seus pontos. Algumas crianças
farão uso de números e outras poderão usar outras marcas para representar a
quantidade, como bolinhas e risquinhos.
● Pode-se pedir que escreva seu nome na tabela de pontos do jogo, que faça um
desenho de si e escreva seu nome para que seja colocado na porta junto com dos
seus colegas de turma para identificar a sala;
● A criança pode escolher, dentre os livros já selecionados por você, professor, um
livro para que você faça a leitura, depois podem conversar sobre a história, seu
personagem preferido, a parte que mais gostou e o porquê, se quer que leia
novamente algum trecho.
● Pode-se sugerir também, que escreva, à sua maneira, uma lista das suas brincadeiras
preferidas para que façam parte da rotina quando as aulas voltarem presencialmente,
ou escrever os sabores de pizzas, anotar o que será feito no canto da beleza, etc.
quando estiverem brincando nos cantos de faz de conta.

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