Você está na página 1de 89

Direito EMPRESARIAL

- OAB 1º Fase - Exame XXXIII


Prof. EZIO VEIGA
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Sumário
1. Empresa
2. Empresário
3. Estabelecimento empresarial
3.1. Natureza jurídica do estabelecimento empresarial
3.2. Contrato de trespasse
3.3. Sucessão empresarial
3.4. Clausula de não concordância
3.5. Clientela e aviamento
4. Nome empresarial
4.1. Espécies de nome empresarial
4.2. O nome empresarial das sociedades
4.3. Princípios sobre a formação do nome empresarial
5. Registro e escrituração
5.1. Registro
5.2. Atos de registro
5.3. A publicidade dos atos de registro
5.4. Escrituração do empresário
6. Direito de propriedade industrial
6.1. Bens tutelados
6.2. Requisitos para patente e registro
7. Títulos de crédito
7.1. Características e princípios
7.2. Endosso, Aval e Protesto
7.3. Ações Cambiárias
7.4. Títulos de crédito em espécie
8. Sociedades não personificadas
9. Sociedades simples
10. Títulos societários
11. Sociedade Anônima
12. Tipos societários menores
13. Operações societárias
14. Aspectos gerais da falência e da recuperação de empresa
14.1 Disposições comuns aos dois institutos
14.2 Recuperação judicial
14.3. Recuperação extrajudicial
14.4. Falência

2
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nosso Professor:
Professor Ezio Veiga

Especialista Pós-Graduado em Direito Empresarial, graduado em Direito


pela Universidade São Francisco - SP, possui Extensão Universitária em
Advocacia Empresarial, é Advogado e Consultor Jurídico Especialista em
Direito Empresarial e do Consumidor, com especialização também em
Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública, Técnico do
Observatório Social das Relações de Consumo do PROCON-SP.
Atualmente Professor na Universidade Estácio de Sá, lecionando Direito
Civil, Direito Processual Civil e Empresarial, leciona também Direito
Empresarial e do Consumidor na Rede de Ensino LFG no curso
preparatório para Ordem dos Advogados do Brasil e Concursos Públicos,
onde também coordena o curso de 2ª Fase Empresarial para o Exame de
Ordem.
Professor convidado da Universidade de Guarulhos (UNG), curso
PROORDEM, CPJUR - Centro Preparatório Jurídico, Metha Cursos, além
de Professor na Pós-Graduação da Escola Superior de Advocacia ESA/SP
- Núcleo São José dos Campos, orientador da Pós-Graduação da Rede
LFG, Anhanguera-UNIDERP e UNOPAR.
Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Empresarial e
do Consumidor, atuando principalmente nos seguintes temas: Direito
Societário, Falências e Recuperações, Propriedade Intelectual, Arbitragem
e Mediação Empresarial entre outros, autor pela Editora Saraiva e GEN-
Método.
Professor colaborador do cursinho preparatório de 1ª fase do exame da
OAB do Instituto Educacional Pratica na Pratica.

3
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
1. A Empresa

Entende-se por empresa a atividade econômica exercida


profissionalmente pelo empresário por meio da articulação dos fatores para a
produção ou circulação de bens ou de serviços.

São três as espécies de empresas, quais sejam: atividade primária, que


consiste na extração direta de produtos da natureza; a secundária, que decorre
da manipulação dos produtos extraídos da natureza (indústria) e a terciária,
que é a prestação de serviços e o comércio.

Assim sendo, a empresa não se confunde com o empresário, com as


sociedades ou com o estabelecimento comercial. A empresa não detém
personalidade jurídica e, portanto, não é sujeito de direitos. São sujeitos de
direitos os empresários e as pessoas jurídicas regularmente constituídas.

2. Empresário

Empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica


organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Referido
conceito pode ser extraído do artigo 966 do CC/02, o qual permite observar a
existência de quatro elementos caracterizadores:

1. Profissionalmente: é necessário exercer de forma profissional a


atividade econômica, ou seja, deve fazer daquela profissão sua
atividade habitual.

2. Atividade econômica: a atividade empresarial se caracteriza pela


busca do lucro, ou seja, tem que estar presente o intuito da onerosidade.

4
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
3. Organizada: deve haver organização da mão de obra e dos meios
(tecnologia, insumos etc.) utilizados para a atividade comercial. Fabio
Ulhoa entende que a falta da característica “organização” impede a
atividade de ser considerar como empresarial. Contudo, o doutrinador,
ao acolher uma posição tão fechada, acaba por excluir diversas
atividades que surgiram atualmente, tais como os microempresários,
que desempenham todas as funções sem a ajuda de colaboradores, e
também os empresários virtuais, que atuam fazendo intermediações de
venda por meio da internet.

4. Produção ou circulação de bens ou de serviços: é extraído da teoria


da empresa, em que qualquer atividade econômica poderá ser
considerada como atividade mercantil, devendo se submeter ao regime
jurídico empresarial. A palavra circulação traz a noção de que os bens
devem ser destinados a outra pessoa, não podendo ser considerados
como ato de empresa o fornecimento de bens e serviços para consumo
próprio.

Além disso, podemos dizer que existem duas subespécies de empresário,


sendo elas: empresário individual (pessoa física) e a sociedade empresária
(pessoa jurídica).

Uma sociedade empresária se difere do empresário individual no tocante ao


patrimônio. Ela possui patrimônio próprio, que não se comunica com o
patrimônio dos sócios. Na sociedade empresária, a responsabilidade dos
sócios é subsidiaria ou limitada, conforme o contrato social que a constituiu. Já
o empresário individual se compromete de forma direta e ilimitada com todo o
seu patrimônio.

5
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
3. Estabelecimento Empresarial

Devemos compreender estabelecimento empresarial como uma


definição complexa, que envolve várias nuances afetas ao exercício da
atividade empresarial. Para facilitar a compreensão desse conceito técnico
jurídico, primeiramente devemos afastar noção equivocada que de que se trata
apenas do local onde o empresário exerce suas atividades. Superando essa
visão equivocada, avancemos para a compreensão desse importante instituto
do direito empresarial.

Estabelecimento empresarial deve ser compreendido como todo o


complexo de bens materiais, formado por materiais e imateriais que compõem
a estrutura que o empresário necessita para exercer a sua atividade
empresarial. Conforme se extrai do artigo 1.142 do CC/02, “Considera-se
estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. Ainda sobre o
conceito de estabelecimento comercial, o STJ assim dispôs:

3. O "estabelecimento comercial" é composto por patrimônio


material e imaterial, constituindo exemplos do primeiro os bens
corpóreos essenciais à exploração comercial, como mobiliários,
utensílios e automóveis, e, do segundo, os bens e direitos
industriais, como patente, nome empresarial, marca registrada,
desenho industrial e o ponto. (REsp. 633,179/MT, Rel.Min.Luis
Felipe Salomão, quarta Turma, j.02/12/2010, DJe 01/02/2011).

Assim, o ponto físico onde o empresário desenvolve suas atividades é


apenas um dos elementos que formam o conceito de estabelecimento
empresarial, sendo os bens materiais tudo aquilo que for tangível, tais como
equipamentos, máquinas, imóveis, móveis, automóveis, etc. Por outro lado, são
bens imateriais aquilo que for intangível, tal como o nome empresarial, a
marca, as patentes de invenção, o ponto comercial, entre outros.

Desta forma, a noção de estabelecimento não se confunde com a noção


de empresa e nem com a noção de empresário.

6
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Contudo, apesar de não se confundirem são conceitos que se interligam


e se relacionam, sendo o estabelecimento o complexo de bens que são
utilizados pelo empresário no desempenho de suas atividades econômicas, ou
seja, é a representação patrimonial da empresa ou a estrutura organizacional
por meio do qual o empresário atua. Devemos salientar que não podemos
confundir ainda o patrimônio particular do empresário como o estabelecimento
empresarial. Com isso, é necessário que o bem sempre guarde uma ligação
com o exercício da atividade fim do empresário.

Essa confusão pode ocorrer mais facilmente quando se trata de um


empresário individual, uma vez que todo o patrimônio daquele empresário
compõe o patrimônio da empresa. Entretanto, só será considerado como
estabelecimento empresarial aqueles bens que realmente estejam destinados
ao desenvolvimento das atividades econômicas da empresa.

Um exemplo é uma caminhonete 4X4 de propriedade do empresário


individual. Essa caminhonete compõem o patrimônio da empresa. Contudo, se
o empresário individual a utiliza apenas para deslocamentos sem ligação direta
com as atividades fins da empresa, ela não fará parte do estabelecimento
empresarial. Por outro lado, se a empresa desenvolve atividades de geologia
em ambientes de difícil aceso que necessita dessa caminhonete 4X4, o veículo
passa a ser considerado como elemento constituinte do estabelecimento
empresarial. A percepção de quais bens que fazem parte do elemento
empresarial vai depender de uma análise casual da sua interligação com as
atividades da empresa.

Então, o conjunto de bens organizados para o exercício da empresa são


considerados como estabelecimento. Esses bens se apresentam como um
todo organizado, conexo e articulado para gerar lucro. É a organização
sincronizada desses bens com o intuito de mercancia que irão possibilitar a
diferenciação dos bens que constituem de dos que não constituem o
estabelecimento empresarial.

7
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
3.1 Natureza Jurídica do Estabelecimento Empresarial

A doutrina brasileira majoritária adota a teoria da universalidade dos


fatos como a mais acertada para elucidar o que é estabelecimento empresarial.
Referida teoria aponta que os elementos que compõem o estabelecimento
empresarial formam uma coisa unitária em razão da destinação que recebe
pelo empresário, não sendo essa destinação oriunda da lei.

Neste sentido, o CC/02 vem reforçar essa posição, quando define


estabelecimento como o complexo de bens organizado pelo empresário para o
exercício de sua atividade econômica. Nota-se que o CC/02 não estipula em lei
como se dará essa organização dos bens, mas ele deixa para a vontade do
empresário. Podemos concluir, assim, que é a vontade do empresário que dá
origem ao estabelecimento empresarial.

3.2. Contrato de Trespasse

Apesar do estabelecimento empresarial não compreender relações


obrigacionais, o CC/02 tratou sobre os efeitos obrigacionais das negociações
que o envolvem. Em seu artigo 1.143, o CC/02 estipula que “Pode o
estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos,
translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza”. O
referido dispositivo legal prevê a possibilidade de negociar a universalidade do
estabelecimento, através do contrato de trespasse, que se configura como um
negócio jurídico oneroso de transferência de propriedade do estabelecimento
empresarial.

O trespasse exige que ocorra o registro do contrato na Junta Comercial


e posterior publicação na imprensa oficial para ter validade perante terceiros,
conforme o artigo 1.144 do CC/02:

O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou


arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto
a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do
empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público
de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

8
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
O empresário que pretende negociar o estabelecimento empresarial
deve manter patrimônio suficiente para quitar todas as suas dívidas ou, caso
não possua patrimônio suficiente, será necessário obter o consentimento dos
credores. Esta proteção aos credores está no artigo 1.145, o qual traz que

Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o


seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento
depende do pagamento de todos os credores, ou do
consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta
dias a partir de sua notificação.

Essa regra de proteção aos credores é muito importante, podendo gerar


efeitos inclusive na falência, conforme previsto na Lei 11.101/05, que trata
sobre as regras falimentares e trata o trespasse irregular como causa
ensejadora para falência.

3.3. Sucessão Empresarial

Uma regra importante no trespasse é como se dá a responsabilidade


sobre as dívidas do estabelecimento empresarial que fora negociado. O artigo
1.146 prevê que

O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento


dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente
contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente
obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos
vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do
vencimento.

Percebemos que, quando cumprido os requisitos previstos nos artigos


1.144 e 1.145 do CC/02, ainda assim, o adquirente será responsável pelas
dívidas contraídas pelo alienante, desde que elas tenham sido regularmente
contabilizadas. Desta forma, o adquirente, durante as tratativas negociais, deve
realizar as chamadas due diligence – atos de investigação sobre situação
econômica do alienante e do estabelecimento empresarial. Será por meio delas
que o adquirente saberá por quais dívidas irá se responsabilizar. Com isso, ele
só se responsabilizará pelo pagamento das dívidas devidamente escrituradas
nos livros próprios.

9
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Porém, mesmo que o adquirente se torne o responsável pelas dívidas, o
alienante responderá solidariamente pelo prazo de 1 ano. A contagem do prazo
ocorre de forma distinta para dívidas vencidas e para as dívidas vincendas,
conforme descrito a seguir:

 Dívida vencida: prazo de 1 ano a partir da publicação do contrato de


trespasse.
 Dívida vincenda: prazo de 1 ano a partir do dia de seu vencimento.

Essa sistemática só se aplica para obrigações de natureza empresarial,


decorrentes do exercício da empresa, como as obtidas perante fornecedores
ou decorrentes de empréstimos bancários. Todavia, essa regra não se aplica
para dívidas de natureza fiscal ou trabalhista, uma vez que elas possuem
regramentos próprios.

Outra observação relevante advém da leitura do Enunciado nº 233 do


Conselho da Justiça Federal (CJF), o qual estipula que os efeitos obrigacionais
previstos no artigo 1.146 do CC/02 só se aplicam quando “o conjunto de bens
transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento
empresarial”. Essa regra facilita a identificação de quando não há o trespasse,
estabelecendo um critério objetivo para essa definição.

Por fim, cabe ressaltar a regra prevista na Lei de falências (11.101/05)


que prevê uma novidade sobre a alienação do estabelecimento em processo
de falência ou recuperação judicial.

O artigo 141, inciso II e o artigo 60, isentam o adquirente de


responsabilidade por dívidas ou ônus, inclusive de natureza trabalhista ou
tributária. São condições que tornam a aquisição mais interessante e se mostra
em consonância com o princípio da preservação da empresa.

3.4. Cláusula da Não Concorrência

No contrato de trespasse, existe a cláusula de não concorrência. Ela tem


previsão no artigo 1.147 do CC/02, que traz que “Não havendo autorização
expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao

10
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
adquirente, nos cinco anos subsequentes à transferência”. Essa cláusula
também é conhecida como cláusula de não restabelecimento ou cláusula de
interdição da concorrência, que deriva do entendimento de que ainda que não
haja cláusula expressa, o alienante do estabelecimento empresarial se obriga
tacitamente a não fazer concorrência com o adquirente.

Assim, aquele que adquire um estabelecimento empresarial tem a


expectativa de manter a clientela já existente do negócio. Vetar a possibilidade
de o alienante restabelecer um negócio similar ao que foi vendido é claramente
uma busca de preservação do princípio da boa-fé objetiva nas relações
negociais. Esse era o entendimento da jurisprudência e da doutrina brasileira,
que veio a ser consolidado com a edição do CC/02.

O parágrafo único do artigo 1.147 prevê que nos casos de arrendamento


ou usufruto do estabelecimento, o impedimento se manterá pelo prazo que
durar o contrato. Podemos dizer que esse impedimento legal buscar garantir o
gozo pleno da fruição do estabelecimento e principalmente da clientela.

Sobre o âmbito territorial da aplicação do impedimento, esse deve ser


feito conforme as situações fáticas que envolve o negócio. Cabendo uma
análise geográfica do caso concreto.

Uma segunda observação final é que as regras do artigo 1.147 são


aplicáveis em caso de omissão do contrato. Contudo, é possível que as partes
estipulem prazos diferentes dos 5 anos previsto na lei.

3.5. Clientela e Aviamento

Podemos considerar como clientela todo aquele agrupamento de


pessoas (físicas ou jurídicas) que mantém relações negociais com a empresa.
A clientela seria uma manifestação externa do potencial do aviamento da
empresa. Ela também recebe proteção do ordenamento jurídico, em
decorrência do direito de concorrência e de livre iniciativa.

Aviamento, por sua vez, designa a aptidão que o estabelecimento


empresarial tem para gerar lucros. Ele não deve ser confundido com a
clientela, porém, eles possuem relação direta. O aviamento é elemento

11
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
fundante do cálculo do valor do estabelecimento, por meio do qual se
estabelece qual o potencial que a empresa possui para gerar lucros,
impactando em valores por vezes bem superiores ao valor patrimonial líquido
que o estabelecimento empresarial possui.

O STJ, reconhecendo a importância do aviamento, decidiu que até


empresa inativa deve considerá-lo em sua avaliação. Assim, pode-se ler que

1. A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de


incluir na indenização de empresa expropriada o valor do fundo
de comércio. 2. O fundo de comércio é considerado patrimônio
incorpóreo, sendo composto de bens como nome comercial,
ponto comercial e aviamento, entendendo-se como tal a
aptidão que tem a empresa de produzir lucros. 3. A empresa
que esteja temporariamente paralisada ou com problemas
fiscais, tal como intervenção estatal, não está despida do seu
patrimônio incorpóreo, o qual oscila de valor, a depender do
estágio de sua credibilidade no mercado. Situação
devidamente sopesada pelo Tribunal de origem que adotou o
arbitramento feito pelo perito, estimando o fundo de comércio
em 1/3 (um terço) do patrimônio líquido ajustado a 31/05/1985.
(Resp. 704.726/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, 2º Turma, j.
15.02.2005, DJ 06.03.2006 p. 329).

Clientela e aviamento são um atributo (ou qualidade) do estabelecimento


empresarial, contudo, apesar de possuírem valoração monetária, não são
considerados como elementos constituintes dele.

4. Nome Empresarial

Os empresários (empresário individual ou sociedade empresária)


possuem um nome que os identifica nas relações jurídicas que estabelecem no
exercício da atividade empresarial. Assim como as pessoas físicas possuem
um nome civil, os empresários possuem um nome empresarial, que se
configura como um direito personalíssimo.

O STJ entende que o nome empresarial é tão relevante, que o fato de


sua troca é ensejador de outorga de nova procuração aos advogados. Sobre
isso, lê-se que:

12
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

1. A procuração outorgada ao advogado da empresa agravante


é peça essencial para o conhecimento do agravo de
instrumento. 2. Na hipótese de ocorrer modificação na
denominação social da empresa, faz-se mister a apresentação
da procuração da empresa com a nova denominação social,
sob pena de não conhecimento do recurso. Precedentes. 3.
Agravo regimental a que se nega o provimento. (STJ, AgRg no
Ag 544213-BA, Rel. Min. Luiz Fux, 1º Turma, DJ 09.03.2004)

Isso porque o nome empresarial possui duas funções. A primeira de


caráter objetivo visa assegurar a reputação, o renome, a fama, entre outras
características do empresário. A segunda função é a de caráter subjetiva, que
individualiza e identifica o sujeito de direitos exercente da atividade
empresarial. Contudo, não podemos confundir o nome empresarial com alguns
elementos identificadores do empresário, como o nome fantasia (título do
estabelecimento ou insígnia), a marca, os sinais de propaganda e o nome de
domínio.

Assim, essas são noções que precisam ficar claras. Nome fantasia é o
termo que identifica o título do estabelecimento.

Geralmente está presente no layout, em panfletos e uniformes dos


empregados. Podemos de forma excessivamente simplista, para facilitar a
compreensão, compará-lo com o apelido que a pessoa física possui. Desta
forma, assim como há pessoas que possuem apelidos que os identificam junto
de amigos e familiares, ou seja, em situações informais, mas que, nas relações
formais, identificam-se com o nome civil que foram registradas, ele se dá com a
identificação do estabelecimento.

O ordenamento jurídico empresarial não traz proteção específica para o


nome fantasia, devendo ser utilizado o artigo 186 do CC/02 e os artigos 191,
194 e 195 da Lei nº. 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial) em situações de
seu uso indevido.

13
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Já a marca pode ser considerada como os sinais capazes de identificar


produtos ou serviços de um empresário. Esta encontra proteção jurídica na Lei
nº. 9.279/96 (Lei de propriedades industriais), no artigo 122, que prevê que
“São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais”.

Em relação aos sinais de propaganda, estes são os que não se


destinam especificamente a identificar serviços e produtos do empresário, mas
são capazes de chamar atenção do consumidor. Não existe uma legislação
específica sobre sinais de propaganda, existindo apenas uma proteção de
âmbito penal, prevista no artigo 195, inciso IV da Lei da Propriedade Industrial.
A regulação dos sinais de propaganda está a cargo do CONAR (Conselho
Nacional de Auto-regulamentação publicitária).

Nome de domínio é o nome do site, ou seja, é o endereço eletrônico que


os empresários possuem na internet. Em razão do desenvolvimento do
comércio eletrônico, o endereço do site do empresário passou a ser muito
utilizado em negociações de bem e serviços.

Fica claro que o nome fantasia, a marca, os sinais de propaganda e o


nome de domínio são coisas diferentes que exercem funções distintas e estão
voltadas para o exercício das atividades do empresário.

4.1 Espécies de Nome Empresarial

Conforme disposto no artigo 1.155 do CC/02, são espécies de nome


empresarial a firma ou razão social e a denominação social. Segundo este,
“Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de
conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa”.

Firma ou razão social é uma espécie de nome empresarial que pode ser
social, quando é formada pelo nome dos sócios, ou individual, quando é
formada pelo nome único do empresário, quando se tratar de um empresário
individual.

14
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

O núcleo estruturante da firma é o nome do (s) sócio (s). Já o nome da


atividade empresarial desenvolvida é faculdade de constar, conforme previsto
no artigo 1.156 do CC/02. A firma é privativa de empresários individuais. Ela é
usada em regra pelos sócios individuais e em sociedades com sócios de
responsabilidade ilimitada, como as sociedades em nome coletivo, sociedade
em comandita simples e sociedade em comandita por ações.

Denominação é a outra espécie de nome empresarial, que


necessariamente será social. De forma facultativa, a denominação poderá
utilizar qualquer expressão linguística e, de forma obrigatória, a indicação da
atividade empresarial desenvolvida, conforme previsto nos artigos 1.158, § 2º,
1.160 e 1.161 do CC/02. A denominação é utilização privativa de sociedades
de capital. Em regra, são sociedades em que os sócios respondem de forma
limitada como na sociedade anônima e a sociedade ilimitada.

Devemos nos atentar para o fato de que a sociedade em comandita por


ações pode ser constituída na forma de firma e, por sua vez, a sociedade
limitada também pode usar firma ou razão social, conforme previsto nos artigos
2º e 3º da IN/DREI 104/2007.

Outro ponto relevante que auxilia nessa diferenciação é que a firma


possui a função de assinatura da sociedade empresária e também a função de
identificar como sujeito de direito o exercente da atividade empresarial. A
denominação tem a função única de servir apenas como elemento identificador
da sociedade empresária, não possuindo a função de assinatura.

4.2. O Nome Empresarial das Sociedades

O nome empresarial será estruturado conforme o tipo societário da


sociedade empresária. Vejamos a seguir como ocorre a formulação do nome
de acordo com a constituição social.

Na sociedade limitada pode acontecer a adoção de firma ou


denominação, seguido da expressão limitada ou a abreviatura.

15
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Se usar a denominação social, necessariamente deverá constar o objeto


da empresa, podendo constar o nome de um ou mais sócios, conforme previsto
no artigo 1.158, § 1º e 2º do CC/02. Já nas sociedades anônimas deverá
operar sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas
expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou
abreviadamente, nos termos do artigo 1.160 do CC/02.

Na eventualidade de não constar os termos acima ou suas respectivas


abreviações, acarretará a responsabilidade solidária e ilimitada dos
administradores que empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

As sociedades em que os sócios possuem responsabilidade ilimitada, tal


como a sociedade em nome coletivo, constituirão seu nome sob firma. Nele
constará apenas os nomes dos sócios podendo aparecer o nome de apenas
um deles seguindo da expressão “e companhia” ou de sua abreviatura “e cia”,
previsto no artigo 1.157 do CC/02.

A sociedade em comandita por ações pode usar firma ou denominação


do objeto social, acrescentada do termo “comandita por ações”, conforme
artigo 1.161 do CC/02.

Vale ressaltar que a sociedade em conta de participação não possui


personalidade jurídica própria e, por esse motivo, ela não pode adotar firma e
nem denominação, como estabelecido no artigo 1.162 do CC/02.

Deve se atentar que as sociedades empresárias ou empresários


individuais que se estabelecerem como Empresa de Pequeno Porte ou
Microempresa deverão adotar na terminação do nome empresarial o EPP ou
ME.

16
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

4.3 Princípios Sobre a Formação do Nome Empresarial

A lei 8.934/94, que trata sobre o registro público de empresas mercantis,


em seu artigo 34, traz os princípios da veracidade e da novidade como
norteadores do nome empresarial. Nesta, afirma-se que “O nome empresarial
obedecerá aos princípios da veracidade e da novidade”.

Pelo princípio da veracidade, podemos extrair que o nome empresarial


não poderá se utilizar de informações falsas. Como o nome designa e identifica
o empresário, ele deverá trazer apenas informações verdadeiras, sob risco de
induzir ao erro aqueles que negociam com o empresário.

Além disso, o princípio da novidade impede que sejam registrados


nomes iguais, ou seja, é proibido que faça o registro de nome empresarial igual
com outro já registrado. Nem mesmo nomes muito parecidos podem ser
registrados. Conforme o caput e o parágrafo único do artigo 1.163 do CC/02:

Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de


qualquer outro já inscrito no mesmo registro.

Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de


outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o
distinga.

A Junta Comercial em que o empresário ou sociedade comercial


solicitou o arquivamento do ato constitutivo detém a competência para fazer
essa verificação junto aos seus assentamentos.

Devemos atentar que a proteção ao nome empresarial tem validade


apenas no Estado em que a Junta Comercial atua, podendo existir empresas
com registro de nomes idênticos em Estados diferentes, conforme estabelecido
no artigo 1.166 do CC/02 e do artigo 11 da IN/DREI 104/2007.

17
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nessa direção, o STJ ao analisar o tema, entendeu que

NOME COMERCIAL. PROTEÇÃO NO ÂMBITO DO ESTADO


EM QUE REGISTRADO. IMPOSSIBILIDADE DE ALEGAÇÃO
COMO PROTEÇÃO A MARCA, ENQUANTO NÃO
REGISTRADA NO INPI. REGISTRO NO INPI,
SUPERVENIENTE, QUE NÃO PODE SER OBJETO DE
CONSIDERAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
CONCORRÊNCIA DESLEAL. INADMISSIBILIDADE DE
JULGAMENTO DIANTE DE PETIÇÃO INICIAL
CIRCUNSCRITA À PROTEÇÃO DE NOME E DE MARCA.
JULGAMENTO "EXTRA-PETITA" NÃO CONFIGURADO.
RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I. Os artigos 61 do
Decreto nº 1800/96 e 1.166 do Código Civil de 2002,
revogaram o Decreto nº 75.572/75 no que tange à extensão
territorial conferida à proteção do nome empresarial. Agora "A
proteção legal da denominação de sociedades empresárias,
consistente na proibição de registro de nomes iguais ou
análogos a outros anteriormente inscritos, restringe-se ao
território do Estado em que localizada a Junta Comercial
encarregada do arquivamento dos atos constitutivos da pessoa
jurídica" (EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 653.609/RJ, Rel.
Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, DJ
27/06/2005).

Assim, a doutrina entendia que o prazo a prescricional para ajuizar ação


protetiva ao nome empresarial era de 10 anos. Entretanto, com a edição do
CC/02 esse entendimento ficou ultrapassado, uma vez que o artigo 1.167
estabeleceu que a ação pode ser impetrada a qualquer tempo para anular
nome empresarial que viole lei ou contrato.

5. Registro e Escrituração

5.1 Registro

O registro é a obrigação que todos os empresários possuem de se


inscreverem na Junta Comercial. Essa obrigação decorre do artigo 967 do
CC/02, que prescreve que “É obrigatória a inscrição do empresário no Registro
Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua
atividade”.

18
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Vale ressaltar que existe entendimento de que, apesar da
obrigatoriedade do registro, esse não é exigência para caracterizar o
empresário e sua submissão ao regime jurídico empresarial, devendo se
atentar ao Enunciado nº. 199 do Conselho da Justiça Federal (CJF), que traz
que “A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador
de sua regularidade, e não de sua caracterização”. Contudo, a sua não
regularização impedirá que o empresário tenha acesso a recuperação judicial,
conforme previsto no artigo 48 da Lei nº. 11.101/05.

Diferentemente, os exercentes de atividade rural estão dispensados de


registrarem na Junta Comercial. Neste caso, o registro será facultativo, como
se extrai do artigo 971, observado a seguir:

O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal


profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o
art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro
Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em
que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os
efeitos, ao empresário sujeito a registro.

Além disso, o estatuto da OAB (Lei nº. 8.906/94), em seu artigo 1º, § 2º,
estabelece que os atos de registro de empresários individuais ou de
sociedades empresárias precisam ser visados por um advogado.

No Código Civil, o registro de empresas é tratado do artigo 1.150 até o


1.154, entretanto, existe legislação especial sobre o assunto. A Lei nº 8.934/94
trata especificamente sobre o Registro Público das Empresas Mercantis e em
seu artigo 1º, dispõe sobre as finalidades do registro da empresa:

O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins,


observado o disposto nesta Lei, será exercido em todo o
território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais,
estaduais e distrital, com as seguintes finalidades

I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e


eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos
a registro na forma desta lei;

19
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em
funcionamento no País e manter atualizadas as informações
pertinentes;

III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio,


bem como ao seu cancelamento.

Por sua vez, no artigo 3º, a lei trata sobre o sistema que regula o registro
de empresas no Brasil, sendo este o Sistema Nacional de Registro de
Empresas Mercantis (SINREM), que é composto pelo Departamento Nacional
de Registro Empresarial e Integração (DREI) e pelas Juntas Comercias.

As Juntas Comerciais detêm a competência para administração e


execução dos atos de registro. Possuem atuação local integrada ao respectivo
Estado, conforme artigo 5º da Lei nº. 8.934/94. Elas se vinculam
administrativamente aos Estados, mas se subordinam às diretrizes e normas
editadas pelo DREI, que é o órgão central do SINREM, que, por sua vez, está
vinculado à administração federal. Por esse motivo, a doutrina destaca que as
Juntas Comerciais possuem uma estrutura sui generes, visto que elas
possuem subordinação hierárquica híbrida. Conforme artigo 6º da Lei do
Registro Público das Empresas Mercantis, o qual estabelece que “As juntas
comerciais se subordinam, administrativamente, ao governo do respectivo ente
federativo e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro Empresarial
e Integração, nos termos desta Lei”.

Em razão dessa estrutura de subordinação híbrida, o STJ entende que


existe uma divisão de competência sobre as ações judiciais em que a Junta
Comercial se apresente como parte.

Será de competência de a justiça estadual julgar as demandas que


envolva matéria administrativa, e será de competência da Justiça Federal as
demandas que envolva matéria técnica, que se relacionem com o registro da
empresa, em razão de envolver interesse do DREI.

20
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

5.2 Atos de Registro

Cabem as Juntas Comerciais executarem os atos de registro dos


empresários individuais, das sociedades empresariais de seus auxiliares. Os
atos de registro estão previstos no artigo 32 da Lei nº. 8.934/94, sendo elas:
matrícula, arquivamento e autenticação.

Por matrícula se compreende o ato de registro praticado pela Junta


Comercial para os auxiliares do comércio, quais sejam: leiloeiros, tradutores
públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-
gerais.

Arquivamento se relaciona diretamente com os atos constitutivos da


sociedade empresária ou do empresário individual. Um detalhe interessante
ocorre quando o arquivamento envolve cooperativas. O artigo 32 da Lei nº.
8.934/94 prevê que as cooperativas devem ser registradas na Junta Comercial,
assim como o artigo 18 da Lei nº. 5.764/71. Contudo, o artigo 982, parágrafo
único do CC/02, estabelece que as cooperativas são sociedades simples. O
artigo 1.150 do CC/02 estabelece que as sociedades simples devem ser
registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Entretanto, na prática, tem
se aplicado o entendimento de que, apesar de serem sociedades simples, as
cooperativas devem ser registradas na Junta Comercial, seguindo o que
estabelece o Enunciado nº. 69 do Conselho da Justiça Federal (CJF), segundo
o qual “As sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição
nas juntas comerciais”.

Assim, de forma geral, a autenticação pode ser considerada como um


ato de registro de natureza extrínseca, que se dá perante os instrumentos de
escrituração contábil do empresário.

O artigo 1.154 estabelece que o ato que necessita de registro para ter
validade não poderá ser oposto a terceiros antes do cumprimento das
formalidades, salvo se provado que este o conhecia.

21
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Essa regra vem reforçar que as Juntas Comerciais detêm a função de


tornar público os atos dos empresários e das sociedades empresárias, para dar
conhecimento aos terceiros e estes, assim, poderem ser opostos.

5.3 A Publicidade dos Atos de Registro

As Juntas Comerciais são órgãos públicos que possuem a função de dar


publicidade aos atos relativos aos empresários e às sociedades empresárias,
uma vez que os atos assentados na Junta Comercial são públicos. Qualquer
pessoa pode ter acesso sem precisar mostrar justificativa do interesse, já que
não haverá sigilo. Porém, a obtenção de certidões se dará mediante o
pagamento do preço. Neste sentido, conforme artigo 29 da Lei nº. 8.934/94,
“Qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, poderá consultar os
assentamentos existentes nas juntas comerciais e obter certidões, mediante
pagamento do preço devido”.

5.4 Escrituração do Empresário

Uma outra obrigação a que estão submetidos o empresário individual ou


a sociedade empresária é a escrituração. O artigo 1.179 do CC/02 estipula que

O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir


um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na
escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com
a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.

Cabe aos empresários manter um sistema de escrituração contábil


periódico, devendo fazer anualmente o balanço financeiro patrimonial e o
balanço financeiro econômico. A lei sobre falência considera crime a
escrituração irregular em caso de falência do empresário.

Conforme previsto nos artigos 178 e 180 da Lei nº. 11.101/05, essa
penalidade ao empresário demonstra a relevância da escrituração. O Código
Penal em seu artigo 297, § 2º equipara os livros contábeis aos documentos
públicos, e a falsificação da escritura comercial é considerada crime. Isso
demonstra a importância dos livros comerciais.

22
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
No texto da lei, é usado o termo livro, entretanto, os instrumentos de
escrituração são mais amplos e, além dos livros, englobam o conjunto de fichas
ou folhas soltas, o conjunto de folhas contínuas e as microfichas extraídas a
partir de microfilmagem por computador.

O contabilista, devidamente habilitado, é o profissional responsável pela


escrituração dos livros. Contudo, se não existir profissional habilitado no local,
a atividade poderá ser desempenhada por pessoa sem formação em
contabilidade, conforme se observa no 1.182 do CC/02.

O livro Diário é o único obrigatório e comum a todo e qualquer


empresário. Ele poderá ser substituído por fichas se o empresário utilizar a
escrituração mecanizada ou eletrônica. O livro Balancetes Diário e Balanços
pode substituir o livro Diário se o empresário utilizar o sistema de fichas de
lançamento.

Por outro lado, não são obrigatórios os livros Caixas, que farão o
controle de entrada e saída financeiro, o Estoque, o livro Razão – que controla
o movimento das mercadorias –, o Borrador – que serve como um rascunho do
Diário – e o livro Conta Corrente – que faz o controle das contas de clientes e
fornecedores.

No cotidiano do empresário, outros livros são utilizados, porém, derivam


de exigência de legislações previdenciária, trabalhista e fiscal. Esses livros,
mesmo sendo obrigatórios por lei, não possuem caráter empresarial, por não
terem origem na legislação empresarial.

Existem algumas atividades empresariais que são submetidas a regras


especiais e, por isso, têm a obrigação de manter livros específicos. Um
exemplo é o livro de Registro de Duplicatas, que é exigido do empresário que
emite duplicatas mercantis. Outra situação semelhante ocorre com as
sociedades anônimas, que, em razão da Lei nº. 6.404/76, têm que manter a
escrituração de livros específicos, tais como o livro de Registro de
Transferência de Ações Nominativas, entre outros. Existe algumas profissões
que também têm exigências manter livros específicos, como ocorre com os
leiloeiros e os donos de armazéns gerais.

23
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
6. Direito de Propriedade Industrial

A proteção ao direito de propriedade industrial é assegurada pelo Estado


por meio do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O INPI é uma
autarquia federal que tem a incumbência de examinar os requisitos necessários
à concessão de patentes de invenções e de modelos de utilidade, além do
registro de desenho industrial e registro de marca.

O detentor de uma patente, de um registro de desenho industrial ou de um


registro de marca detém o direito exclusivo de exploração desde o momento
em que ocorre o ato concessivo pelo INPI.

O titular de um bem patenteado ou de um desenho industrial que for


registrado precisará autorizar qualquer exploração do produto, já que este
estará protegido. O empresário que tem uma marca registrada tem assegurado
que a concorrência não poderá utilizar a sua marca, nem mesmo criar outra
similar.

Veremos que o direito à propriedade industrial é um complexo de princípios


e regramentos que asseguram proteção jurídica aos bens imateriais que
compõem o estabelecimento empresarial.

6.1. Bens Tutelados

Conforme expomos em nosso trabalho, o empresário, seja individual ou


sociedade empresária, em sua atividade econômica, precisa organizar o seu
estabelecimento empresarial. Este engloba todo o complexo de bens materiais
e imateriais, o que inclui também as marcas, invenções, desenhos industriais e
modelos de utilidade.

Esses bens imateriais são de extrema importância para o sistema


capitalista. A garantia de proteção desses bens funciona como o propulsor que
estimula os empresários a investir em novas descobertas. Esse sub-ramo do
Direito Empresarial é chamado de Direito de Propriedade Industrial.

24
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

O direito de propriedade industrial e o direito de proteção ao autor são


espécies do gênero direito de propriedade intelectual. Ambas as espécies têm
em comum o fato de protegerem bens imateriais. Entretanto, devemos
esclarecer que possuem diferenças, uma vez que, o direito de propriedade
industrial garante proteção à técnica e o direito autoral, por sua vez, dá
proteção à obra em si.

Em nosso trabalho, focaremos no Direito de Propriedade Industrial,


considerando, assim, os bens protegidos por patentes e por registro.

I – Patentes

O criador de uma invenção ou de um modelo de utilidade, a fim de


assegurar a propriedade e exploração destas, irá se utilizar do registro de
patente. Este registro se dá por meio de uma carta-patente que confere um
título protetivo ao inventor.

O artigo 42 da Lei nº. 9.279/96, prevê que “A patente confere ao seu


titular o direito de impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar,
colocar à venda, vender ou importar com estes propósitos”. Assim, aquele que
faz uso indevido de um produto patenteado comete um ato ilícito, passível de
sanção na esfera penal, bem como autoriza ao proprietário da patente requerer
judicialmente a cessação do uso, além de perdas e danos do autor do ilícito.

São passíveis de patente as invenções e os modelos de utilidade, sendo:

a) Invenção: é considerado como invenção aquilo que é projetado como


algo desconhecido. Em outras palavras, será tida como invenção o
objeto que detém originalidade em virtude da ação inventiva de um ser
humano. O artigo 8º da Lei nº. 9.279/96, ao tratar sobre a invenção,
estabelece que “É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial”.

25
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Conforme se percebe, o legislador não se aprofundou em descrever o
que seria invenção, talvez por se tratar de um conceito bem difundido e
consensual.

b) Modelo de utilidade: afigura-se quando é desenvolvido um incremento


em um produto que já existe, ou em seu processo de fabricação.
Referido conceito está consignado no artigo 9º da Lei nº. 9.279/96, que
dispõe:

É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso


prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que
apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo,
que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua
fabricação.

Infere-se, assim, que o modelo de utilidade é uma nova concepção para


um produto já existente, gerando melhores resultados em seu uso ou em seu
processo de fabricação. Assim, o que se dá é o acréscimo de uma nova função
àquilo que já existe. Por essas razões, o modelo de utilidade também é
conhecido como “mini-invenção” ou “pequena invenção”, pois proporciona uma
nova função a um produto já inventado ou simplifica/otimiza o processo de
fabricação. Apesar dos termos diminutivos, o modelo de utilidade não é inferior
à invenção e os dois gozam da mesma proteção jurídica. Além disso, tais
proteções são autônomas uma em relação à outra.

Desta forma, a patente confere ao inventor a utilização do seu invento de


forma exclusiva, porém, a exclusividade tem duração determinada, como
veremos mais à frente.

II – Registro

a) Marca
Consoante positivado no art. 122 da Lei nº. 9.279/96, marca consiste
nos sinais distintivos visualmente perceptíveis não proibidos por lei, ou
seja, é uma representação simbólica de determinada entidade.

26
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
São funções da marca fazer com que o produto ou o serviço se
diferenciem de outro no mercado, além de proteger o empresário do uso
indevido de terceiros, bem como os consumidores, ao proporcionar a
correta identificação do produto/serviço que está adquirindo, sua origem
e qualidade.
Nesse sentido, o mesmo artigo 122 da Lei nº. 9.279/96 entabula que
“São suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos
visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais”.
Vale ressaltar que não se deve confundir marca com o nome
empresarial, já que a marca é um termo designativo que faz
identificação de determinados serviços e produtos ofertados pelo
empresário. Por sua vez, o nome empresarial identifica o sujeito de
direitos (empresário ou sociedade empresária) em exercício da atividade
empresarial.

Importante atentar que como mencionado, o registro da marca se faz


perante o INPI, gozando de proteção em âmbito nacional. Noutro giro, o
registro do nome empresarial é realizado na Junta Comercial, sendo o
âmbito de proteção atrelado ao Estado em que foi realizado o registro.

b) Desenho Industrial

O desenho industrial se encarrega das formas dos objetos, está


relacionado com a estética/aparência do produto. Como exemplo,
vislumbra-se o automóvel, cujo boa parte de seu valor está atribuída a
sua estética (design). É a essa aparência/forma, que a legislação
assegura proteção. Tem como função distinguir o objeto de outros da
mesma espécie, além de conferir mais harmonia as suas formas. O
artigo 95 da Lei nº. 9.279/96 estabelece que

27
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental


de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que
possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado
visual novo e original na sua configuração externa e que possa
servir de tipo de fabricação industrial.

Mapa Mental

Invenção
(produto original)

Por Patente
Modelo de utilidade
(incremento a um
produto já existente)
Bens Protegidos
Marcas
(identificação de
serviços e produtos)
Por Registro
Desenhos
Industriais
(forma dos objetos)

6.2 Requisitos para Patente e Registro

Para ser concedida patente às invenções e aos modelos de utilidade, é


necessário que se observem alguns requisitos, sendo eles:

a) Novidade: de modo geral, a criação não pode ser conhecida dos


previamente pelas pessoas que detém conhecimento técnico na
respectiva área, ou seja, não pode ser conhecida pelos experts.

28
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Porém, não basta apenas que o modelo de utilidade ou a invenção
sejam originais, é preciso também que sejam desconhecidos pela
comunidade científica, isto é, que se tratem de uma novidade. Sobre
isso, o artigo 11 da Lei nº. 9.279/96 prevê que “A invenção e o modelo
de utilidade são considerados novos quando não compreendidos no
estado da técnica”.

b) Atividade Inventiva: é necessário que a invenção ou o modelo de


utilidade proporcione um avanço, ou seja, que gere progresso sob a
concepção técnica da área. Assim, a invenção não pode ser
considerada como um mero desdobramento óbvio do estado da técnica,
sem que haja um efeito inovador ou inesperado. O artigo 13 da Lei nº.
9.279/96 traz que “A invenção é dotada de atividade inventiva sempre
que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou
óbvia do estado da técnica”. No tocante ao modelo de utilidade, não
pode ser considerado pelos experts da área como uma maneira simples
de aplicação da técnica. O artigo 14 da Lei nº. 9.279/96, elucida bem a
questão: “O modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que,
para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar
do estado da técnica”.

c) Aplicação Industrial: a invenção ou modelo de utilidade devem ser


exequíveis, ou seja, devem ser dotados de capacidade de fabricação e
utilização. É o que está previsto no artigo 15 da Lei nº. 9.279/96: “O
modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que, para um
técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do estado
da técnica”.

d) Não Impedimento: a invenção ou o modelo de utilidade não podem ser

contrários à lei, ou seja, não poderá haver impedimento legal à sua


produção ou utilização. O artigo 18 da Lei nº. 9.279/96, prevê que:

29
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Não são patenteáveis:

I – o que for contrário à moral, aos bons costumes e à


segurança, à ordem e à saúde públicas;

II – as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos


de qualquer espécie, bem como a modificação de suas
propriedades físico-químicas e os respectivos processos de
obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação
do núcleo atômico; e

III – o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microrganismos


transgênicos que atendam aos três requisitos de
patenteabilidade – novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial – previstos no art. 8º e que não sejam mera
descoberta.

Em relação ao desenho industrial, assim como no caso das patentes, o


procedimento também será feito perante o INPI, mas, para tanto, deverá
atender aos seguintes requisitos:

a) Novidade: o desenho industrial terá que ser inédito, não pode existir no
estado da técnica. O desenhista deverá trazer ineditismo em seu
trabalho, deve ser algo desconhecido pelos técnicos que atuam naquela
área. No mesmo sentido, dispõe o artigo 96 da Lei nº. 9.279/96: “O
desenho industrial é considerado novo quando não compreendido no
estado da técnica”.

b) Originalidade: é necessário que o desenho industrial apresente uma


estrutura própria nunca vista em outros objetos. A originalidade tem um
conceito muito próximo do conceito da novidade. Contudo, para
diferenciá-los devemos sempre lembrar que a novidade está ligada à
técnica, enquanto que a originalidade está ligada à estética do produto.
Vejamos o que está previsto no artigo 97 da Lei nº. 9.276/96: “O
desenho industrial é considerado original quando dele resulte uma
configuração visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores”.

30
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

c) Desimpedimento: o desenho não poderá estar em desacordo com a lei.


O artigo 100 da Lei nº. 9.276/96 apresenta a seguinte previsão:

Não é registrável como desenho industrial:

I - o que for contrário à moral e aos bons costumes ou


que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra
liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e
sentimentos dignos de respeito e veneração;

II - a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou,


ainda, aquela determinada essencialmente por considerações
técnicas ou funcionais.

Por sua vez, no que pertine ao registro da marca junto ao INPI, é


necessário atender aos seguintes requisitos:

a) Novidade Relativa: não é preciso que a expressão linguística ou signo


seja uma novidade absoluta; basta que seja utilizado pela primeira vez
na identificação de produtos ou serviços. Assim, a marca recebe
proteção apenas para o segmento comercial desenvolvido pelo
empresário.

b) Não colidência com marca notória: o Brasil é signatário da Convenção


de Paris e, por esse motivo, mesmo que uma marca notoriamente
conhecida não esteja registrada no INPI, ela receberá proteção do
direito industrial brasileiro. Essa previsão está positivada no artigo 126
da Lei nº. 9.276/96, que prevê:

A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade


nos termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris
para Proteção da Propriedade Industrial, goza de proteção
especial, independentemente de estar previamente depositada
ou registrada no Brasil.

31
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

c) Não impedimento: a legislação apresenta restrições que impossibilitam


que a marca seja registrada. Tais impedimentos estão listados no artigo
124 da Lei nº. 9.276/96, quais sejam:

I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo


e monumento oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou
internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou
imitação;

II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando


revestidos de suficiente forma distintiva;

III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal


contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra
ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de
consciência, crença, culto religioso ou idéia e sentimento
dignos de respeito e veneração;

IV - designação ou sigla de entidade ou órgão público,


quando não requerido o registro pela própria entidade ou órgão
público;

V - reprodução ou imitação de elemento característico ou


diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa
de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com
estes sinais distintivos;

VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar


ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o
produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado
comumente para designar uma característica do produto ou
serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor,
qualidade e época de produção ou de prestação do serviço,
salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

VII - sinal ou expressão empregada apenas como meio de


propaganda;

VIII - cores e suas denominações, salvo se dispostas ou


combinadas de modo peculiar e distintivo;

IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de


causar confusão ou sinal que possa falsamente induzir
indicação geográfica;

32
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem,
procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou
serviço a que a marca se destina;

XI - reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente


adotada para garantia de padrão de qualquer gênero ou
natureza;

XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido


registrado como marca coletiva ou de certificação por terceiro,
observado o disposto no art. 154;

XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo,


artístico, cultural, social, político, econômico ou técnico, oficial
ou oficialmente reconhecido, bem como a imitação suscetível
de criar confusão, salvo quando autorizados pela autoridade
competente ou entidade promotora do evento;

XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e


cédula da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios, dos Municípios, ou de país;

XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou


patronímico e imagem de terceiros, salvo com consentimento
do titular, herdeiros ou sucessores;

XVI - pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos,


nome artístico singular ou coletivo, salvo com consentimento
do titular, herdeiros ou sucessores;

XVII - obra literária, artística ou científica, assim como os


títulos que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam
suscetíveis de causar confusão ou associação, salvo com
consentimento do autor ou titular;

XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na


arte, que tenha relação com o produto ou serviço a distinguir;

XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda


que com acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir
ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim,
suscetível de causar confusão ou associação com marca
alheia;

XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo


produto ou serviço, salvo quando, no caso de marcas de
mesma natureza, se revestirem de suficiente forma distintiva;

33
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou
de acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser
dissociada de efeito técnico;

XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho


industrial de terceiro; e

XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte,


marca que o requerente evidentemente não poderia
desconhecer em razão de sua atividade, cujo titular seja
sediado ou domiciliado em território nacional ou em país com o
qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure reciprocidade
de tratamento, se a marca se destinar a distinguir produto ou
serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar
confusão ou associação com aquela marca alheia.

Desta forma, caso a marca esteja em desconformidade com a


legislação, por conter alguma das restrições acima, o pedido de registro será
negado pelo INPI.

34
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mapa Mental

Requisitos para Concessão

Patente Registro

Desenho
Novidade Marca
Industrial

Atividade Novidade
Novidade
Inventiva Relativa

Aplicação
Originalidade Não Colidência
Industrial

Não Não
Desimpedimento
Impedimento Impedimento

35
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mapa Mental

36
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
7. Títulos de Crédito

O Direito Cambial, ou Direito Cambiário, é um sub-ramo do Direito


Empresarial que disciplina o regime jurídico dos títulos de crédito. Estes, por
sua vez, são extremamente relevantes para viabilizar a circulação de riquezas
oriundas das atividades mercantes. Isto quer dizer, em outros termos, que os
títulos de crédito são ferramentas para fazer o capital circular.

Assim, eles nasceram para atender ao dinamismo que as atividades


comerciais exigem. Isso porque o crédito, representado pelos títulos de crédito,
torna o capital mais produtivo e útil, sendo extremamente importante para a
história da economia mundial, uma vez que, eles são os responsáveis por
facilitarem o giro da roda da economia.

Em relação aos regulamentos referentes aos títulos de crédito, em razão do


caráter cosmopolita do direito comercial, vários destes são estabelecidos por
tratados e acordos internacionais. Podemos citar como relevantes fatos
históricos que resultaram em acordos internacionais sobre títulos de crédito a
Conferência de Haia de 1912, que aprovou o Regulamento uniforme relativo à
letra de câmbio e à nota promissória; a Convenção de Genebra de 1930, na
qual foi aprovada a Lei Uniforme das Cambiais, que tratava sobre as letras de
câmbio e as notas promissórias, e a de 1931, em que foi aprovada a Lei
Uniforme do Cheque.

Em relação aos títulos de crédito, o Código Civil traz que as regras gerais
não serão aplicáveis quando houver lei específica em sentido contrário,
conforme previsto no artigo 903, como pode ser observado: “Salvo disposição
diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste
código”. Faz-se, assim, a recepção pelo CC/02 das regras previstas em
tratados e acordos internacionais e também das demais legislações esparsas
existentes no Brasil sobre o Direito Cambiário.

A doutrina brasileira adota o conceito de Césare Vivante sobre os títulos de


crédito.

37
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
O doutrinador italiano define título de crédito como um documento
necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, que esteja nele
contido. Esse conceito também foi acolhido pelo CC/02, como se vê no artigo
887, que assim dispõe: “O título de crédito, documento necessário ao exercício
do direito literal e autônomo nele contido, somente reproduz efeito quando
preencha os requisitos da lei”.

7.1. Características e Princípios

A partir do conceito de Vivante, podemos destacar as principais


caraterísticas e princípios dos títulos de crédito. Em relação às características,
podemos dizer que possuem necessariamente natureza comercial, pois são
ferramentas de apoio às atividades de mercancia, além de serem documentos
formais que para sua validade, é necessário que se observem requisitos
previstos na respectiva lei cambiária que o regulamenta. Além disso, são
considerados como bens móveis – vide artigos 82 a 84 do CC/02 – e também
títulos de apresentação.

Podemos apontar ainda outras características dos títulos de créditos,


como o fato de serem considerados títulos executivos extrajudiciais por se
tratarem de obrigações líquidas e certas, cuja exigibilidade é imediata, por não
necessitarem de processo de conhecimento. Esses títulos de crédito também
são considerados como título de resgate, uma vez que, a sua emissão gera a
presunção de que tal título será pago em dinheiro no futuro e que, após a
quitação, será devolvido pelo devedor. Ressalte-se, ainda, que os títulos de
crédito são considerados obrigações quesíveis (quérable), em razão de ser
incumbência do credor procurar o devedor para receber aquilo que lhe é
devido.

Além disso, os títulos de crédito têm natureza pro solvendo, em virtude


de não significarem novação no tocante à relação jurídica que deu origem.
Assim, a relação jurídica não se extingue com a mera entrega do título. A
obrigação só será satisfeita quando o título for devidamente quitado.

38
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por fim, podemos destacar como característica do título a circulação,
pois o crédito contido nele pode ser negociado e, desta forma, ser repassado
para outras pessoas.

Mapa Mental - Características

Características
• Natureza Comercial
• Caráter Formal do Documento
• Caráter de Bem Imóvel
• Caráter de título de apresentação
• Natureza pro solvendo
• Circulação
Em relação aos princípios dos títulos de crédito, abordaremos três:
cartularidade, literalidade e autonomia.

O princípio da cartularidade resulta de a previsão do título de crédito


ser o documento necessário ao exercício do direito nele contido. Desta forma, o
direito de crédito previsto na cártula não pode se materializar sem ela, ou seja,
tal direito não se efetiva sem a apresentação do documento. Com isso, não
ocorre a transferência do crédito sem a tradição do título.

O princípio da literalidade deriva de a necessidade do título de crédito


ser o documento para o exercício do direito literal nele contido. Apenas os atos
que estão presentes no próprio título geram efeitos jurídicos sobre ele e/ou ao
seu portador. Desta forma, somente o que está descrito no corpo do título
poderá ser exigido.

O terceiro princípio de que trataremos é o da autonomia. Este é


considerado o princípio mais importante dos títulos de crédito. Isso porque ele
é a estrutura que garante viabilidade ao regime jurídico cambial, ao desvincular
o título do negócio original, possibilitando a circulação livre do título.

39
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Assim, é o princípio da autonomia que assegura ao direito lançado no


título de crédito não se submeter ao destino do negócio anterior, ou seja, ele
está imune aos defeitos e vícios que porventura venham a existir nas
negociações antecedentes.

Mapa Mental – Princípios

Porte do
Cartularidade
Documento

Direito Literal
Princípios Literalidade contido no
documento

Circulação Livre
Autonomia
do Título

7.2 Endosso, Aval e Protesto

O regime jurídico cambial se encarrega dos regulamentos e princípios


aplicáveis aos títulos de crédito. Assim, iremos abordar alguns dos atos
cambiários mais importantes, como o endosso, o aval e o protesto.

Endosso é um dos atos cambiários, por meio do qual o endossante


(credor do título) faz a transmissão de seus direitos ao endossatário
(adquirente dos direitos do título). Em regra, os títulos de crédito típicos (letra
de câmbio, nota de promissória, cheque, duplicata etc.) podem ser colocados
em circulação por mero endosso, sem exigência de nenhum outro ato, pois
eles contêm implicitamente a cláusula “à ordem”.

40
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
O endosso poderá ser feito de duas formas. O endosso em branco, que
se afigura quando não se identifica o endossatário (beneficiário). Assim, ocorre
no momento em que apenas o endossante assina o verso do título sem fazer a
identificação do endossatário, bastando apenas a mera tradição do título. Por
sua vez, o endosso em preto é aquele em que se faz a identificação expressa
do endossatário, ou seja, daquele a quem se está transferindo o título de
crédito. Excepcionalmente, o título poderá conter a cláusula “não à ordem”, que
deverá constar de forma expressa, apresentando como consequência que a
sua transferência seja feita por meio de cessão civil de crédito.

Além disso, há ainda o endosso impróprio, que é a modalidade em que


ocorre a transferência do título, mas não do crédito. Apesar de não transferir o
crédito, legitima a posse sobre o título, autorizando o exercício dos direitos
expressos na cártula. O endosso impróprio tem duas modalidades: a) endosso-
mandato; b) endosso-caução.

O endosso-mandato tem previsão no artigo 18 da Lei Uniforme e no


artigo 917 do CC/02. Ele também é chamado de endosso-procuração e se dá
quando o endossante concede poderes ao endossatário para atuar como seu
representante, podendo exercer todos os direitos previstos no título.

Já o endosso-caução está previsto no artigo 19 da Lei Uniforme e no


artigo 918 do CC/02. É também conhecido como endosso-garantia ou endosso-
pignoratício. Por meio dele o endossante faz a transferência do título como
uma forma de garantir uma dívida. O endosso-caução vem acompanhado das
expressões “valor em penhor”, “valor em garantia”, ou outro termo que
caracterize uma caução.

Há ainda o endosso póstumo ou tardio, que está previsto na Lei


Uniforme, em seu artigo 20. Configura-se a partir de uma situação tardia, pois
ocorre após o vencimento do título, vejamos:

41
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que


o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto
por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo
fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de
uma cessão ordinária de créditos.

Consigne que o endosso póstumo não produz os efeitos normais do


endosso, sendo apenas uma mera cessão civil de crédito. Isso significa que a
pessoa a qual transferiu o título não responderá pelo pagamento, como em
regra ocorre no endosso, mas só pela existência do título.

Mapa Mental

Endosso

Póstumo ou
Á Ordem Não à ordem Impróprio
tardio

Exigência de endosso-mandato
após o
Em branco cessão civil de / endosso-
vencimento
crédito procuração

endosso-caução
"valor em
Em preto Cessão Civil
penhor"/ valor em
garantia

Aval, outro instituto do regime jurídico do direito cambiário, previsto no


artigo 30 da Lei Uniforme e no artigo 897 do CC/02, é o ato pelo qual o avalista
assume a responsabilidade pelo pagamento do título de crédito.

42
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Deste modo, o avalista se equipara ao avalizado em termos de garantia


ao cumprimento da obrigação, responsabilizando-se de forma solidária.

O aval se dá no anverso (parte de atrás) do título e se concretiza com a


simples assinatura do avalista. Contudo, também poder ser dado no verso
(frente) do título de crédito, porém, neste caso, deverá ser acompanhado da
expressão que o caracteriza como tal.

O aval tem algumas semelhanças com a fiança, contudo, não se pode


confundi-los. Enquanto o primeiro segue as regras do regime jurídico cambial,
a segunda é um instituto do direito civil. Além disso, o aval é uma obrigação
autônoma em relação ao negócio principal que ensejou o título de crédito,
enquanto a fiança não goza de autonomia. Por ser uma obrigação acessória,
ela segue o mesmo destino da obrigação principal.

Outra distinção entre aval e a fiança é quanto ao benefício de ordem. Em


relação à fiança, o fiador só é acionado se o devedor principal já tiver sido
acionado. Já no aval, por sua vez, isso não acontece, já que, neste caso, o
avalista pode ser acionado juntamente com o avalizado.

Em relação à outorga, ambos se aproximam. Isso porque tanto o aval


quanto a fiança exigem a outorga uxória, ou seja, a necessidade da
autorização do cônjuge, como previsto no inciso III do artigo 1.647 do CC/02,
em que se lê: “Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: III -
prestar fiança ou aval”.

Sobre essa questão, o STJ tem entendimento consolidado, no sentido


de declarar a nulidade do aval que foi prestado sem o expresso consentimento
do cônjuge:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO


CIVIL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA
DE AVAL. OUTORGA UXÓRIA. NECESSIDADE. AGRAVO
DESPROVIDO. 1. Necessária a vênia conjugal para a
prestação de aval por pessoa casada, por força do artigo 1647,
III, do Código Civil. 2. Precedentes específicos desta Corte. 3.

43
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Agravo regimental desprovido (ArRg no REsp. 1.109.667/PB,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3º Turma, j. 07.06.2011,
DJe 10.06.2011).

No tocante ao protesto, outro instituto do regime jurídico cambial também


muito importante, está disciplinado nos artigos 44 e 46 da LUG (Lei Uniforme
de Genebra) e constitui-se no ato de formalização de um fato que tenha
ocorrido com o título. Ele atesta uma ocorrência na relação cambial, seja a
falta de aceite do título, o inadimplemento ou a ausência de devolução do título.
É necessário para comprovar o não pagamento da obrigação contida no título e
para a responsabilização dos coobrigados, pois garante o direito de regresso
contra os devedores indiretos. Desta forma, o protesto pode se dar:

a) Pela falta de aceite do título;


b) Pela falta de devolução do título;
c) Pela falta de pagamento.

Conforme previsto no artigo 202, inciso III do CC/02, o protesto interrompe a


prescrição, porém, deve ser feito dentro do prazo e na forma prevista na lei.

7.3 Ações Cambiárias

Os títulos de crédito possuem força executiva, sendo todos eles aptos a


instruírem processo de execução. O artigo 784 do CPC/15 prevê, em seu inciso
I, os títulos de crédito que possuem natureza executiva extrajudicial, confiram-
se: “São títulos executivos extrajudiciais: I – a letra de câmbio, a nota
promissória, a duplicata, a debênture e o cheque”. Assim, esses são títulos de
crédito que não precisam ser protestados para serem executados, exceto
quando houver alguma situação que não configure a presença de todos os
requisitos formais, como é o caso da duplicata sem aceite. No entanto, há de
se ressaltar que também não incidirão os efeitos do protesto.

44
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Na execução de título de crédito, a petição inicial deverá ser
acompanhada do título original, não sendo aceita a cópia, ainda que
autenticada. Tal exigência decorre do princípio da circularidade.

O credor pode executar qualquer devedor cambial, desde que


observadas as regras específicas do Direito Cambiário. Para o exercício do
direito de execução direta, o credor deve observar os prazos prescricionais.
Vejamos, como exemplo, as regras sobre a letra de câmbio.

Conforme o artigo 70 da Lei Uniforme, a prescrição da letra de câmbio


ocorre no

a) Prazo de 3 anos, marco temporal contado do vencimento para executar


o crédito contra o devedor principal e seus avalistas;
b) Prazo de 1 ano, marco temporal contado desde o protesto ou do
vencimento para “cláusula sem despesa” para cobrar os coobrigados
(sacador, endossantes e avalistas);
c) Prazo de 6 meses, marco temporal contado da data do pagamento ou
do ajuizamento da ação cambial para que um dos devedores possa
exigir o pagamento dos coobrigados.

A prescrição extingue o direito do devedor de executar o título extrajudicial,


contudo, não extingue a obrigação que deu origem ao título. Depois que
ocorrer a prescrição, o credor ainda poderá demandar contra o devedor por
meio de uma ação de conhecimento, e o título de crédito servirá como
elemento comprobatório da existência da relação jurídica ensejadora daquele
documento. Contudo, aqueles que venham a se tornar devedores em razão da
relação cambial sofrerão os efeitos da prescrição do direito cambiário e não
poderão ser acionados na ação de conhecimento, como é caso do avalista.

45
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
7.4 Títulos de Crédito em Espécie

Os títulos de crédito são chamados de títulos de crédito próprio ou


típicos, em razão de possuírem legislação própria e são: a) letra de câmbio, b)
nota promissória, c) cheque e d) duplicata.

A letra de câmbio é o título de crédito considerado como mais antigo.


Surgiu na idade média na Itália, em razão de, naquela época, as cidades
(burgos) gozarem de certa autonomia, inclusive em relação às moedas. Assim,
para facilitar a circulação do crédito entre cidades que possuíam moedas
diferentes, os comerciantes criaram as letras de câmbio.

Sempre que um comerciante negociava em feiras em diferentes burgos,


recebia a moeda local. Então, em cada localidade, trocava a moeda por uma
letra de cambio, a qual era expedida por um banqueiro. Assim, de posse dessa
letra de câmbio, o comerciante se apresentava perante o banqueiro de outra
cidade e fazia a troca pela moeda dessa nova cidade.

Contemporaneamente, a letra de câmbio é emitida por uma pessoa para


que um outro a aceite e pague; desta forma, essa relação exige a presença da
boa-fé. Além disso, por ser um título de crédito que se apresenta como uma
ordem de pagamento, a letra de câmbio gera três situações distintas:

a) Sacador: aquele que emite a ordem;


b) Sacado: aquele a quem a ordem é destinada;
c) Tomador: aquele que é o beneficiário da ordem.

Vale destacar ainda que essas posições podem ser ocupadas pela mesma
pessoa ou por pessoas diferentes.

A letra de câmbio, ao ser emitida, deverá preencher requisitos essências


que estão previstos no artigo 1º e 2º da Lei Uniforme:

a) Conter a expressão letra de câmbio;


b) Uma ordem incondicional para pagamento de quantia determinada;
c) Nome do sacado;
46
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
d) Nome do tomador;
e) Assinatura do sacador;
f) Data do saque;
g) Lugar do pagamento;
h) Lugar do saque.

Após a emissão da letra de câmbio, ocorrerá a entrega ao tomador, que irá


levá-la ao sacado para emitir o seu aceite, tornando-se o obrigado principal. O
aceite se dá no próprio título, por meio do uso da expressão “aceito” ou
“aceitamos” e a assinatura do sacado.

Com a emissão da letra de câmbio, o sacado não tem obrigação cambial.


Isso porque, somente após o aceite, é que será gerado, para o sacado, a
obrigação cambial, sendo este o ato jurídico que torna o sacado como devedor
principal da letra de câmbio.

Apesar de ser facultativo, o aceite na letra de câmbio é irretratável. O


sacado pode se recusar a emitir o aceite e não precisa justificar a sua decisão.
Deste modo, a recusa ao aceite pelo sacado gera para o sacador a obrigação
do pronto pagamento e, com isso, a antecipação do vencimento da letra de
câmbio. Por outro lado, o sacado poderá também emitir o aceite apenas de
forma parcial, assumindo, desta forma, apenas a obrigação nos termos do seu
aceite.

A letra de câmbio gera para o sacador o risco de vencimento antecipado em


caso de recusa de aceite ou aceite parcial pelo sacado. Para evitar essa
antecipação, o sacador poderá inserir a “cláusula não aceitável” e, por meio
dela, o tomador só poderá procurar o sacado na data do vencimento. Se o
sacado recusar o aceite, não ocorrerá vencimento antecipado, uma vez que,
àquela já é a data do vencimento.

Ocorrendo o aceite da letra de câmbio que fora emitida, passará a ser


exigível nessas quatro situações:

47
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
a) Letra com dia certo: o sacador estabelece antecipadamente a data de
vencimento, que constará no título desde a sua emissão.
b) Letra à vista: o vencimento ocorre no dia que for apresentado o título ao
sacado.
c) Letra a certo termo de vista: o vencimento ocorre posteriormente a
uma data preestabelecida a contar do aceite do sacado no título.
d) Letra a certo termo de data: o vencimento ocorre posteriormente a
uma data preestabelecida, contudo, não será da data do aceite, mas,
sim, da data da emissão da letra de câmbio.

A letra a certo termo de vista deverá ser apresentada pelo tomador ao


sacado para aceite no prazo estabelecido. Se não houver prazo, considera-se
o período de um ano para ser apresentada, a partir de um ano da emissão do
título.

A letra à vista não exige que o tomador a leve para o sacado emitir seu
aceite. Basta que a sua apresentação ocorra diretamente no momento do
pagamento, que deverá ser de um ano a contar da emissão do título.

Já a nota promissória é uma promessa de pagamento. Neste título se


vislumbra as figuras do sacador ou promitente – aquele que faz a promessa
de pagamento a alguém ao emiti-la – e do tomador – aquele a quem foi
prometido o pagamento com a emissão da nota.

A nota promissória se assemelha à letra de câmbio e também deve


atender aos requisitos legais, previstos no artigo 75 da Lei Uniforme:

a) Ter a expressão nota promissória (cláusula cambiária);


b) Promessa incondicional de pagamento de quantia determinada;
c) Nome do tomador;
d) Data do saque;
e) Assinatura do subscritor;
f) Local do saque ou a menção de um local junto ao nome do subscritor.

48
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
O regime jurídico da nota promissória é o mesmo da letra de câmbio.
Contudo, vimos que a letra de câmbio é uma ordem de pagamento, enquanto a
nota promissória é uma promessa de pagamento e, por isso, não se aplica a
esta as regras sobre o aceite. Na nota promissória, o sacador (ou subscritor) é
o devedor principal e o prazo de prescrição da nota promissória em relação ao
subscritor é de três anos, conforme se depreende do artigo da 70 da Lei
Uniforme.

No tocante ao cheque, é uma ordem de pagamento à vista emitida pelo


emitente contra o banco que ele mantém fundos. Ele é confeccionado pelo
banco específico, seguindo os padrões estabelecidos pelo Banco Central e, por
isso, é um título de modelo vinculado. No Brasil, a Lei nº. 7.357/85 e a Lei
Uniforme do Cheque (Decreto 57.595/66) tratam sobre o cheque.

A Lei Uniforme do Cheque traz, em seu atrigo 1º, os requisitos essenciais


do cheque:

a) Conter a expressão cheque;


b) A ordem incondicional de pagamento de quantia determinada;
c) O nome da instituição financeira que deve pagar (nome do sacado);
d) A data e o nome do lugar onde deva ocorrer o pagamento;
e) O local de emissão do cheque;
f) A assinatura do emitente (sacador).

Como já mencionado, o cheque é uma ordem de pagamento à vista. Assim,


a data de saque deve corresponder com a data em que o cheque foi emitido.
Apesar disso, popularizou -se no Brasil o “cheque pré-datado”, que é o cheque
emitido para ser pago em uma data futura. Sobre o assunto, o STJ editou o
enunciado da súmula nº. 370, que traz: “Caracteriza dano moral a
apresentação antecipada de cheque pré-datado”.

Provando o emitente do cheque que o tomador desrespeitou prazo


previamente combinado, o STJ já decidiu no sentido de caber indenização por
danos morais pelo fato do tomador ter agido de má-fé.

49
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Desta forma, a conduta de apresentação antecipada de cheque “pré-


datado” é ensejadora de responsabilidade civil por ter havido quebra de acordo,
não podendo o tomador de má-fé se utilizar de a previsão legal do cheque ser
um título de pagamento à vista.

Civil. Recurso especial. Cheque pré-datado. Apresentação


antes do prazo. Compensação por danos morais. – Não ataca
o fundamento do acórdão o recurso especial que discute
apenas a natureza jurídica do título cambial emitido e
desconsidera o posicionamento do acórdão a respeito da
existência de má-fé na conduta de um dos contratantes. – A
apresentação do cheque pré-datado antes do prazo estipulado
gera o dever de indenizar, presente, como no caso, a
devolução do título por ausência de provisão de fundos.
Recurso especial não conhecido (STJ, REsp 707.272/PB, Rel.
Min. Nancy Andrighi, DJ 21.03.2005, p.382).

Ainda sobre o cheque, chama-se de cheque cruzado a modalidade que


consiste em traçar dois riscos paralelos no anverso do cheque, traços estes
que têm por função trazer segurança ao portador. O cheque cruzado só pode
ser pago pela instituição financeira mediante o depósito em conta, não
podendo ser pago diretamente na boca do caixa.

Além disso, o cheque cruzado pode ser classificado em cheque cruzado


em preto, que é quando, entre os dois traços, é mencionado o nome de um
banco. Tal formalidade significa que o cheque só poderá ser pago pelo banco
mencionado ou à pessoa indicada. Por sua vez, o cheque cruzado em branco,
que é a forma mais comum no mercado, gera apenas a necessidade de o
cheque ser pago mediante depósito em uma conta existente naquele banco.

O cheque visado, outra modalidade que difere das anteriores, é


caracterizado pela previsão que o banco faz da existência de fundos para o seu
pagamento no verso do título. Com isso, o banco garante que o cheque tem
fundos e se obriga a reservar durante o período de apresentação a quantia
constante no título.

50
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Já o cheque administrativo tem uma função primordial nas relações
comerciais ao trazer confiança e segurança nas transações que envolva
valores elevados. Ele é emitido pelo banco contra ele mesmo para ser
liquidado nas suas agências.

Outra possibilidade para a qual o cheque pode ser utilizado é para


crédito em conta do tomador. Nesta situação, é colocado no anverso do
cheque a ser creditado em conta a expressão “para ser creditado em conta”, ou
o número da conta a ser creditado.

O prazo de apresentação do cheque não se confunde com o prazo de


prescrição. O prazo de apresentação se assimila ao prazo de protesto dos
outros títulos. Quando o cheque for da mesma praça, o prazo será de 30 dias
para apresentação; já quando for de praça diferente, o prazo dobra e passa a
ser de 60 dias. A observância do prazo de apresentação será importante para
assegurar ao portador o direito de executar os codevedores do título. O marco
de contagem do prazo será a data de emissão do cheque.

Assim, o cheque é título executivo extrajudicial. Em caso de não


pagamento, o portador poderá mover ação de execução contra o sacador e
contra eventuais codevedores. O artigo 59 da Lei Uniforme do Cheque prevê o
prazo prescricional de 6 meses a ser contado a partir do fim da data de
apresentação, que será de 30 ou 60 dias, conforme a praça de emissão.

Importante trazer à tona que o cheque é um título de crédito não


causal. Isso significa que não está atrelado ao negócio jurídico que amparou
sua emissão. Assim, caso um terceiro de boa-fé receba o cheque, o emitente
não poderá negar o pagamento sob o fundamento de que o negócio que o
consubstanciou não foi concretizado. Corroborando o discorrido, segue
acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça sobre a questão:

COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. COMPRA E VENDA


IMOBILIÁRIA. CHEQUES DE PAGAMENTO. ENDOSSO A
TERCEIRO DE BOA-FÉ. NEGÓCIO SUBJACENTE.
AUTONOMIA DA CÁRTULA. RECONHECIMENTO EM
ACÓRDÃO DO STJ. POSTERIOR RESCISÃO DO NEGÓCIO
IMOBILIÁRIO. AÇÃO MOVIDA EXCLUSIVAMENTE CONTRA
O VENDEDOR. SENTENÇA PASSADA EM JULGADO QUE

51
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
DECRETOU O DESFAZIMENTO DO CONTRATO E A
NULIDADE DOS CHEQUES. INOPONIBILIDADE CONTRA O
PORTADOR DOS TÍTULOS DE CRÉDITO. PARTE
ESTRANHA À AÇÃO DE RESCISÃO. EMBARGOS. À
ARREMATAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. CPC, ART. 746.

I. Reconhecido pelo STJ, em julgamento de embargos à


execução, que os cheques endossados a terceiro de boa-fé,
constituíam títulos autônomos em relação ao compromisso de
compra e venda em que era comprador o emitente das
cártulas, impossível opor-se à cobrança, que prosseguiu então,
embargos à arrematação calcados em sentença proferida
posteriormente à penhora, em ação de rescisão do aludido
contrato.

II. Errônea aplicação do art. 746 do CPC, eis que a decisão


singular que desfez o compromisso e declarou nulos os
cheques emitidos pelo comprador-executado, por que movida
exclusivamente contra o vendedor, não tem efeito contra o
exequente, portador dos cheques, que não integrou a lide.

III. Recurso especial conhecido e provido, para julgar


improcedentes os embargos à arrematação, ressalvado o
direito de regresso do recorrido contra o vendedor do imóvel,
que endossou os cheques recebidos ao terceiro de boa-fé.

(REsp 50.607/MT, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta


Turma, julgado em 04/11/1999, DJ 06/12/1999, p. 93).

A duplicata, outro título bastante difundido no mercado, é um título de


crédito brasileiro. Nasceu para auxiliar as atividades do fisco. Em razão do
pouco uso da letra de câmbio no país, a duplicata se tornou muito comum nas
relações comerciais em território nacional. Essa é considerada um título de
crédito causal, em razão da sua emissão ter a função de documentar certas
relações jurídicas previstas em lei. A Duplicata é regulamentada pela lei
5.474/68 e pelo Decreto-lei 436/69.

A duplicata mais comum é a duplicata mercantil, que representa uma


compra e venda mercantil. Sobre a duplicata mercantil, o STJ entendeu que
não pode ser emitida em contratos de leasing, como se lê a seguir:

52
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

LEASING. Duplicatas. Protesto. O negócio de leasing não


admite a emissão de duplicata, ainda que avençada, razão pela
qual não pode tal título ser levado a protesto. Recurso
conhecido em parte e, nessa parte, provido para deferir a
liminar de sustação ou cancelamento das duplicatas enviadas a
cartório. (REsp. 202.068-SP, Rel. Min. Ruy Rosado, j.
11.05.1999, informativo 18/1999).

A duplicata é um título de modelo vinculado. A sua emissão deve se


atentar aos padrões estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional. Além
disso, o artigo 2º da lei das duplicatas (Lei nº. 5.474/68) permite extrair as
seguintes características essências:

a) Conter a expressão “duplicata” e a cláusula à ordem;


b) Data de emissão;
c) Os números da duplicata e o número da fatura correspondente;
d) Data do vencimento ou a declaração de ser para pagamento à vista;
e) Nome e domicílio do sacador (vendedor);
f) Nome e domicílio do sacado (comprador);
g) A importância a ser paga de forma extensa e também em algarismos;
h) Local (praça) do pagamento;
i) Local para o aceite do sacado (comprador);
j) Assinatura do emitente (sacador).

Desta forma, a duplicata sempre será emitida com data certa para
pagamento, não admitindo a sua emissão para pagamento a certo termo da
vista ou a certo termo da data. Assim, ela é emitida como uma ordem de
pagamento e seu aceite é obrigatório. Contudo, poderá haver recusa do
sacado, porém, ela deverá ser justificada, conforme previsto no artigo 8º da Lei
das Duplicatas:

53
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo


de:

I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não


expedidas ou não entregues por sua conta e risco;

II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade


das mercadorias, devidamente comprovados;

III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

Entretanto, ela é um título de crédito emitido pelo próprio sacador


(vendedor), que deverá ser enviada para o sacado (comprador) emitir seu
aceite e devolvê-la. Desta forma, o aceite pode ser expresso ou presumido.
Considera-se presumido o aceite quando o sacado recebe as mercadorias
enviadas pelo credor, sem fazer recusa formal, bastando que o vendedor faça
a merca comprovação do recebimento das mercadorias para sujeitar o
comprador às obrigações prevista na duplicata. Já o aceite expresso, como o
próprio nome diz, é realizado pelo comprador no local indicado na duplicata.

54
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mapa Mental

Ordem de
pagamento
Letra de Câmbio
Aceite
Títulos em Espécie

Promessa de
Pagamento
Nota Promissória
Ausência de Aceite

Ordem de
pagamento à vista
Cheque
Ausência de Aceite

Ordem de
pagamento
Duplicata
Aceite

55
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
8. Sociedades Não Personificadas

As sociedades não personificadas são o gênero das quais são espécies


a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação. Com elas,
busca-se conferir segurança jurídica às relações negociais estabelecidas. Já as
sociedades personificadas são a sociedade simples pura, as sociedades
limitadas, as sociedades anônimas, as sociedades em nome coletivo, as
sociedades em comandita simples, as sociedades por ações e as sociedades
cooperativas.

Essas últimas sociedades citadas possuem regras sobre o seu


funcionamento. Por outro lado, houve a necessidade de o legislador também
apresentar regras para disciplinar a atuação das sociedades que não possuem
registro, as sociedades em comum, também chamadas sociedades de fato ou
irregulares.

A sociedade em comum é aquela sociedade que ainda não foi registrada


no órgão competente. Nesse sentido, o artigo 986 do CC/02 estabelece que:

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-


á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto
neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele
forem compatíveis, as normas da sociedade simples.

É importante ressaltar que a doutrina aponta diferenças entre sociedade de


fato, sociedade em comum e sociedade irregular, sendo estas:

a) Sociedade de fato: é a sociedade que não tem contrato escrito, mas


que já exerce suas atividades e o seus sócios não tomam nenhuma
atitude para regularizar a situação.
b) Sociedade em comum: aquela cuja formação do contrato está em
andamento e, portanto, já foram tomadas medidas para sua
regularização, estando os atos preparatórios em andamento.

56
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
c) Sociedade irregular: aquela que já tem o contrato escrito e registrado,
porém, apresenta alguma irregularidade posterior ao registro que precisa
ser sanada.

Apesar da diferença feita pela doutrina, a jurisprudência entende que


podem ser aplicados, por analogia às sociedades de fato e às sociedades
irregulares, os regramentos sobre sociedade em comum previstos nos artigos
986 ao 990 do CC/02. Vejamos o enunciado 383 do CJF:

A falta de registro do contrato social (irregularidade originária -


art. 998) ou de alteração contratual versando sobre matéria
referida no art. 997 (irregularidade superveniente - art. 999,
parágrafo único) conduz à aplicação das regras da sociedade
em comum (art. 986).

A outra sociedade não personificada é a sociedade em conta de


participação. Em razão de suas especificidades e pouca presença na economia
brasileira, trataremos dela no tópico sobre os Tipos Societários Menores.

Mapa Mental

Sociedade de Exercício sem


fato contrato

Sociedades não- Sociedade em Contrato em


personalizadas comum andamento

Sociedade Contrato com


irregular irregularidades

57
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
9. Sociedades Simples

É a sociedade que desenvolve atividades econômicas não empresariais,


por exemplo, a sociedade que desenvolve atividades por profissionais
intelectuais, como engenheiros, arquiteto, médicos, etc., ou a sociedade que
desenvolve atividade econômica rural e que não possui registro na junta
comercial.

A sociedade simples pode se organizar de diversas formas. Sobre isso,


o artigo 983 do CC/02 traz que:

A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos


tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples
pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e,
não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.

Desta forma, percebemos que existe um modelo básico para o


funcionamento das sociedades simples, porém, a sua constituição pode utilizar
requisitos presentes em outros tipos societários. Ela será constituída por meio
de um contrato escrito e tem sua constituição e dissolução previsto no CC/02.

O artigo 997 do CC/02 apresenta as cláusulas que deverão estar


previstas no contrato social das sociedades simples:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,


particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas
partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos


sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente,


podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis
de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de


realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição


consista em serviços;

58
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da
sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas


obrigações sociais. (BRASIL, 2002).

A sociedade simples responde com os seus próprios bens pelas


obrigações que contrair. Contudo, não havendo bens suficientes para quitar a
obrigação, os sócios responderão com seu patrimônio ilimitadamente,
observando entre eles a proporção do capital, salvo havendo cláusula de
solidariedade.

Ressalte-se que a responsabilidade dos sócios é subsidiária, pois


somente após esgotado os bens da sociedade que poderão ser acionados.
Consignem-se, ainda, que de acordo com o enunciado 479 do CJF, “Na
sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC/2002), a responsabilidade
dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de omissão, será ilimitada
e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002”.

Nas sociedades simples, são permitidas modificações no contrato social,


porém, algumas alterações dependem de quórum qualificado, como é caso da
alteração sobre a divisão dos lucros que necessita de aprovação unânime.

10. Títulos Societários

A sociedade limitada é o tipo societário mais comum no Brasil. Uma


explicação para esse fenômeno está nas características dessa sociedade que
atende aos interesses dos pequenos e médios empreendedores. A liberdade
dada aos sócios ao firmar o vínculo contratual, ou seja, no momento de
elaborar o contrato social, é o que a deixa ainda mais atrativa.

Na sociedade limitada os sócios podem definir a maioria das questões


por meio do contrato social, ao contrário da sociedade anônima, na qual os
sócios têm que cumprir o previsto em lei e não detém liberdade para inovar em
seu ato constitutivo.

59
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Atualmente, o Código Civil de 2002 disciplina as regras sobre as
sociedades limitadas. São 36 artigos – do arts. 1.052 a 1.087 – os quais
regulamentam especificamente o assunto e mais 42 – arts. 997 a 1.038 – de
aplicação subsidiária.

Um fato interessante é que o artigo 1.053 do CC/02 autoriza que seja


estipulado no contrato social que a sociedade limitada será regida de forma
supletiva pela lei da sociedade anônima.

Já o artigo 1.054 do CC/02 estabelece que a sociedade limitada


mencionará no contrato social o que está previsto no artigo 997, além da firma
social, se houver. O contrato deverá ser escrito e registrado na Junta Comercial
se for uma sociedade empresária ou no Cartório de Registro de Civil de
Pessoas Jurídicas, se for uma sociedade limitada simples (que não tem como
objetivo o exercício de empresa).

Em regra, os sócios não irão responder com os seus bens pessoais


pelas obrigações contraídas pela empresa, em razão da autonomia patrimonial
da sociedade. Somente nas hipóteses de desconsideração da personalidade
jurídica é que o patrimônio dos sócios poderá ser acionado.

Assim, além do aspecto da contratualidade, outra característica que atrai


o interesse dos empreendedores para esse tipo societário é a limitação da
responsabilidade dos sócios, pois estes têm redução do risco de seu
patrimônio individual.

Entretanto, se o capital social não estiver integralizado, o sócio


responderá com seus bens pessoais até o limite do valor faltante, podendo ser
executado qualquer dos cotistas, inclusive aquele que já integralizou a sua
parte do capital social.

Ressalte-se que o contrato social poderá sofrer alterações, e todas as


deliberações devem se atentar ao estabelecido no artigo 1.076 do CC/02:

60
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Ressalvado o disposto no art. 1.061, as deliberações dos


sócios serão tomadas:

I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do


capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art.
1.071;

II - pelos votos correspondentes a mais de metade do capital


social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIII do art.
1.071;

III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos


previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais
elevada.

Quando as modificações forem realizadas no contrato social, estas


devem ser averbadas no local em que foi feito o registro, seja Junta Comercial
ou Cartório do Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

Outra questão que merece atenção é o affectio societatis, que é o que


liga os sócios. A sua ausência é motivo para extinguir a sociedade. Contudo,
pode acontecer do affectio societatis se extinguir apenas em relação a um dos
sócios. Dessa forma, a sociedade continuará a existir sem ele. Neste caso, o
que poderá ocorrer é a dissolução parcial da sociedade, em apreço ao princípio
da preservação da empresa. Frise-se que também poderá haver a exclusão
extrajudicial de determinado sócio por justa causa, conforme previsto no artigo
1.085 do CC/02:

Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a


maioria dos sócios, representativa de mais da metade do
capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em
risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de
inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante
alteração do contrato social, desde que prevista neste a
exclusão por justa causa.

61
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Porém, para isso, a falta cometida pelo sócio deve ser de intensa
gravidade. Caso contrário, corre-se o risco de não conseguir configurar motivo
para exclusão da sociedade. Todo o processo deve seguir procedimento
rigoroso, havendo a obrigatoriedade de o sócio ser cientificado sobre a reunião
ou assembleia que irá deliberar sobre sua exclusão.

11. Sociedade Anônima

No Brasil, a sociedade anônima é o tipo societário mais interessante para


os grandes empreendedores. Ela é regida pela Lei nº 6.404/76 (Lei das S/A),
que, desde sua entrada em vigor, sofreu poucas alterações. Assim, a
sociedade anônima possui quatro características principais:

a) Natureza capitalista;
b) Essência empresarial;
c) Identificação exclusiva por denominação;
d) Responsabilidade limitada dos sócios.

Além disso, a sociedade anônima será classificada como fechada ou


aberta. Essa variação se dará conforme a existência ou não de autorização de
negociação dos seus valores mobiliários na bolsa de valores, autorização essa
fornecida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Sobre isso, a lei da
S/A, que trata sobre o tema, preceitua:

Art. 4o Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou


fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão
estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores
mobiliários.

§ 1o Somente os valores mobiliários de emissão de


companhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários
podem ser negociados no mercado de valores mobiliários.

§ 2o Nenhuma distribuição pública de valores mobiliários


será efetivada no mercado sem prévio registro na Comissão de
Valores Mobiliários. (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)

62
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
§ 3o A Comissão de Valores Mobiliários poderá classificar
as companhias abertas em categorias, segundo as espécies e
classes dos valores mobiliários por ela emitidos negociados no
mercado, e especificará as normas sobre companhias abertas
aplicáveis a cada categoria.

§ 4o O registro de companhia aberta para negociação de


ações no mercado somente poderá ser cancelado se a
companhia emissora de ações, o acionista controlador ou a
sociedade que a controle, direta ou indiretamente, formular
oferta pública para adquirir a totalidade das ações em
circulação no mercado, por preço justo, ao menos igual ao
valor de avaliação da companhia, apurado com base nos
critérios, adotados de forma isolada ou combinada, de
patrimônio líquido contábil, de patrimônio líquido avaliado a
preço de mercado, de fluxo de caixa descontado, de
comparação por múltiplos, de cotação das ações no mercado
de valores mobiliários, ou com base em outro critério aceito
pela Comissão de Valores Mobiliários, assegurada a revisão do
valor da oferta, em conformidade com o disposto no art. 4o-A.

§ 5o Terminado o prazo da oferta pública fixado na


regulamentação expedida pela Comissão de Valores
Mobiliários, se remanescerem em circulação menos de 5%
(cinco por cento) do total das ações emitidas pela companhia, a
assembleia-geral poderá deliberar o resgate dessas ações pelo
valor da oferta de que trata o § 4o, desde que deposite em
estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores
Mobiliários, à disposição dos seus titulares, o valor de resgate,
não se aplicando, nesse caso, o disposto no § 6o do art. 44.

§ 6o O acionista controlador ou a sociedade controladora


que adquirir ações da companhia aberta sob seu controle que
elevem sua participação, direta ou indireta, em determinada
espécie e classe de ações à porcentagem que, segundo
normas gerais expedidas pela Comissão de Valores
Mobiliários, impeça a liquidez de mercado das ações
remanescentes, será obrigado a fazer oferta pública, por preço
determinado nos termos do § 4o, para aquisição da totalidade
das ações remanescentes no mercado.

Desta forma, a sociedade anônima é uma sociedade institucional, que


não é constituída por um contrato social, mas sim por um estatuto social. A sua
constituição deve seguir uma série de requisitos formais previstos em lei, os
quais são divididos em requisitos preliminares e requisitos complementares.

63
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Os requisitos preliminares estão previstos no artigo 80 da LSA:

Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento


dos seguintes requisitos preliminares:

I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas


as ações em que se divide o capital social fixado no estatuto;

II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no


mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em
dinheiro;

III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro


estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores
Mobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro.

Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às


companhias para as quais a lei exige realização inicial de parte
maior do capital social.

Cumprido todos os requisitos preliminares, dá-se início à segunda fase,


que são das formalidades complementares da constituição da sociedade
anônima. Basicamente será o procedimento de registro na Junta Comercial e
outros órgãos administrativos e operacionais.

Toda companhia deverá ter seus atos constitutivos arquivados e


publicados na Junta Comercial (art. 94 da LSA). Quando ela for constituída por
escritura pública, possível somente em companhia fechada, será necessário
somente o arquivamento da certidão expedida pelo cartório.

Quando ocorrer assembleia de fundação da sociedade anônima, é


preciso se atentar ao previsto no artigo 95 da LSA:

Se a companhia houver sido constituída por deliberação em


assembleia-geral, deverão ser arquivados no registro do
comércio do lugar da sede:

64
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
I - um exemplar do estatuto social, assinado por todos os
subscritores (artigo 88, § 1º) ou, se a subscrição houver sido
pública, os originais do estatuto e do prospecto, assinados
pelos fundadores, bem como do jornal em que tiverem sido
publicados;

II - a relação completa, autenticada pelos fundadores ou


pelo presidente da assembleia, dos subscritores do capital
social, com a qualificação, número das ações e o total da
entrada de cada subscritor (artigo 85);

III - o recibo do depósito a que se refere o número III do


artigo 80;

IV - duplicata das atas das assembleias realizadas para a


avaliação de bens quando for o caso (artigo 8º);

V - duplicata da ata da assembleia-geral dos subscritores


que houver deliberado a constituição da companhia (artigo 87).

Em geral, as sociedades anônimas desempenham atividades


econômicas de grande porte, portanto, o seu capital será feito por meio de
aportes consideráveis. Neste sentido, o artigo 5º, da LSA, estabelece que:

O estatuto da companhia fixará o valor do capital social,


expresso em moeda nacional.

Parágrafo único. A expressão monetária do valor do


capital social realizado será corrigida anualmente (BRASIL,
1976).

Desta forma, o capital social poderá ser modificado, desde que


observado o previsto na LSA e no estatuto social da companhia.

12. Tipos Societários Menores

A doutrina classifica os tipos societários que têm uma menor presença


no Brasil como tipos societários menores. Essa classificação tem o intuito de
facilitar o estudo e não tem implicação na jurisprudência ou na lei. São três os
tipos societários menores:

65
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
1. Sociedade em Nome Coletivo (N/S): na sociedade em nome coletivo,
todos os sócios terão responsabilidade ilimitada pelas obrigações
assumidas pela sociedade. Assim, ela necessariamente será formada por
sócios que sejam pessoas físicas, não podendo ser constituída por
pessoas jurídicas.
Qualquer dos sócios poderá figurar como administrador da Sociedade
em Nome Coletivo, podendo até ter o nome utilizado na composição do
nome empresarial. Em caso de falecimento de um dos sócios, será feita
a liquidação das cotas do sócio falecido, salvo se houver alguma
disposição em contrário no contrato social.

O Código Civil de 2002 a disciplina entre os artigos 1.039 e 1.044.

2. Sociedade em Comandita Simples (C/S): a sociedade em comandita


simples terá sócios chamados de comanditados e sócios chamados de
comanditários. Estes terão responsabilidade ilimitada. Somente eles
poderão exercer administração da sociedade e deverão ser pessoas
físicas. Além disso, a sociedade poderá utilizar o nome de um ou de
alguns dos sócios comanditados.
Já os sócios comanditários responderão de forma limitada pelas
obrigações contraídas pela sociedade. Eles podem ser pessoas físicas
ou jurídicas e não poderão executar atos de gestão e nem ter seu nome
usado na composição do nome empresarial da sociedade. A não
observância dessas restrições poderá transformar o sócio comanditário
em sócio comanditado e levar às consequências derivadas dessa
condição, tais como serem considerados como administradores e terem
responsabilidade ilimitada pelas obrigações contraídas da sociedade.

A sucessão na sociedade comandita simples também tem regras


diferentes para o sócio comanditado e para o sócio comanditário. Em
regra, a morte de sócio comanditado dá início à dissolução parcial da
sociedade, salvo disposição em contrário no contrato social ou acordo
entre os sócios, conforme previsto no artigo 1.028 do CC/02:

66
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota,
salvo:

I - se o contrato dispuser diferentemente;

II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da


sociedade;

III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição


do sócio falecido.

Já em relação ao sócio comanditário, a sucessão segue as regras


previstas no artigo 1050 do CC/02: “No caso de morte de sócio comanditário, a
sociedade, salvo disposição do contrato, continuará com os seus sucessores,
que designarão quem os represente”. Além disso, nessas circunstâncias, a
natureza da sociedade poderá variar como de pessoa ou de capital, ou seja, a
sucessão da sociedade poderá seguir rumos diferentes.

Diante do que foi exposto, fica claro que, entre os comanditados, em


regra, há uma relação pessoal; já entre os comanditários, há uma relação de
capital, salvo estipulação em contrário dos sócios.

A Sociedade em Comandita Simples é regulamentada pelos artigos


1.045 a 1.051 do CC/02.

3. Sociedade em Conta de Participação (C/P): trata-se de um tipo


societário diferente, pois independe de registro para a sua existência e
pode ser comprovado por qualquer meio de probatório. Possui
características próprias que a diferem de todos os outros tipos societários
utilizados. Está regulamentada no CC/02, precisamente nos artigos 991 a
996.

Ela não possui personalidade jurídica, logo, não poderá assumir em seu
nome obrigações contratuais com terceiros. Com isso, um dos sócios
detém posição ostensiva e o outro atua em situação oculta (sócio
participante). São os sócios ostensivos que se apresentam nas relações

67
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
comerciais. Por isso são eles, em conjunto ou individualmente, que
assumem, de forma pessoal, as obrigações do empreendimento.

Desta forma, os sócios ostensivos assumem, de forma pessoal, as


obrigações para o desenvolvimento do empreendimento e, por isso,
respondem de forma ilimitada, não havendo situação subsidiária ou
limitada. Já os sócios participantes, por sua vez, só se responsabilizam
perante aos sócios ostensivos e podem ter responsabilidade limitada ou
ilimitada, conforme o previsto no contrato entabulado entres eles.

A sociedade não adotará nome empresarial em razão de ser uma


sociedade despersonalizada e não terá personalidade jurídica. Além de
despersonalizada ela é secreta; dessa forma, devemos entender o significado
da expressão secreta. Por secreto, tem o sentido da dispensa do registro, no
órgão competente, do contrato que a originou. Ainda que os credores tenham
conhecimento da existência da sociedade em conta de participação, não
haverá o descumprimento da característica de secreto, uma vez que o sentido
da expressão é de que o contrato não será registrado na Junta Comercial.

Desta forma, eventuais credores e demais sujeitos empresariais poderão


ter ciência da relação estabelecida entres os sócios ostensivos e os sócios
participantes, que, mesmo assim, não haverá modificação das
responsabilidades dos sócios. A lei não determina que o contrato seja
registrado na Junta Comercial ou no Registro Civil das pessoas Jurídicas.
Contudo, para garantir mais segurança na relação estabelecidas entre os
sócios, não existe impedimento que o contrato constitutivo da Sociedade em
Conta de Participação seja arquivado no Cartório de Registro de Títulos e
Documentos.

68
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mapa Mental

Tipos
Societários
Menores

Sociedade em Sociedade em
Sociedade em
Comandita Conta de
Nome Coletivo
Simples Participação

Sociedade
Sócios pessoas Sócios Sócios secreta - sem
físicas Comanditados Comanditários personalidade
jurídica

Resposabilidade Obrigações
ilimitada limitadas

13. Operações Societárias

É comum ocorrer operações societárias entre as sociedades


econômicas. Nessas transações as sociedades relacionam-se entre si e
ocorrem transformações, incorporações, fusões e cisões. Existem regramentos
sobre esse assunto na Lei da Sociedade Anônima e no Código Civil de 2002.
Essas operações são muito comuns e geram consequências jurídicas
relevantes no direito societário. Neste sentido, o enunciado 70 do CJF prevê
que:

As disposições sobre incorporação, fusão e cisão previstas no


Código Civil não se aplicam às sociedades anônimas. As
disposições da Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria aplicam-se,
por analogia, às demais sociedades naquilo em que o Código
Civil for omisso.

69
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Como é rotineira a participação de S/A nesses tipos de operações, o


mais comum é a aplicação da Lei das Sociedades Anônimas. Em seguida,
iremos abordar as principais operações, que consistem na transformação,
incorporação, fusão e cisão.

a) Transformação: é a mudança do tipo societário da sociedade. Tanto a


LSA, quanto o CC/02 tratam sobre o assunto. Nesse sentido, o artigo
220 da LSA traz que “A transformação é a operação pela qual a
sociedade passa, independentemente de dissolução e liquidação, de um
tipo para outro”. Na mesma direção, o artigo 1.113 do CC/02 apresenta
que “O ato de transformação independe de dissolução ou liquidação da
sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e
inscrição próprios do tipo em que vai converter-se”. Registre-se que
poderá ocorrer a transformação entre sociedade anônima e sociedade
limitada, ou entre quaisquer outros tipos societários.

Em regra geral, a transformação se sujeita à aprovação unânime dos


sócios. Entretanto, existe a possibilidade do contrato ou estatuto que deu
origem à sociedade autorizar a operação. Neste caso, por questão lógica, será
necessário a maioria. Quando a transformação ocorrer com a aprovação da
maioria, é permitido que o sócio dissidente se retire da sociedade. Tal processo
deve seguir o prescrito no artigo 221 da LSA, que se lê a seguir:

A transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou


acionistas, salvo se prevista no estatuto ou no contrato social,
caso em que o sócio dissidente terá o direito de retirar-se da
sociedade.

Parágrafo único. Os sócios podem renunciar, no contrato


social, ao direito de retirada no caso de transformação em
companhia.

70
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Também encontramos essa previsão no artigo 1.114 do CC/02:

A transformação depende do consentimento de todos os


sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o
dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no
silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art.
1.031.

Conforme se observa, a transformação é uma operação permitida,


porém, devem ser observados os direitos dos sócios e dos credores.

b) Incorporação: ocorre a extinção da sociedade incorporada, e esta será


sucedida em seus direitos e obrigações pela incorporadora. Vejam-se o
previsto no artigo 227 da LSA:

Art. 227. A incorporação é a operação pela qual uma ou mais


sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em
todos os direitos e obrigações.

§ 1º A assembleia-geral da companhia incorporadora, se


aprovar o protocolo da operação, deverá autorizar o aumento
de capital a ser subscrito e realizado pela incorporada
mediante versão do seu patrimônio líquido, e nomear os peritos
que o avaliarão.

§ 2º A sociedade que houver de ser incorporada, se


aprovar o protocolo da operação, autorizará seus
administradores a praticarem os atos necessários à
incorporação, inclusive a subscrição do aumento de capital da
incorporadora.

§ 3º Aprovados pela assembleia-geral da incorporadora o


laudo de avaliação e a incorporação, extingue-se a
incorporada, competindo à primeira promover o arquivamento e
a publicação dos atos da incorporação.

Também tem previsão semelhante no artigo 1.116 do CC/02, que assim


dispõe:

71
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são
absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e
obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida
para os respectivos tipos.

Aprovada a incorporação, deverá a incorporadora proceder à extinção


da sociedade incorporada e ao registro no órgão competente.

c) Fusão: consiste na junção de duas sociedades, a qual resulta em uma


nova, dando fim às duas sociedades originárias. Tem previsão no artigo
228 da LSA:

Art. 228. A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais


sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em
todos os direitos e obrigações.

§ 1º A assembleia-geral de cada companhia, se aprovar o


protocolo de fusão, deverá nomear os peritos que avaliarão os
patrimônios líquidos das demais sociedades.

§ 2º Apresentados os laudos, os administradores


convocarão os sócios ou acionistas das sociedades para uma
assembleia-geral, que deles tomará conhecimento e resolverá
sobre a constituição definitiva da nova sociedade, vedado aos
sócios ou acionistas votar o laudo de avaliação do patrimônio
líquido da sociedade de que fazem parte.

§ 3º Constituída a nova companhia, incumbirá aos


primeiros administradores promover o arquivamento e a
publicação dos atos da fusão. (BRASIL, 1976).

A fusão também tem previsão no artigo 1.119 do CC/02. Este traz que “A
fusão determina a extinção das sociedades que se unem, para formar
sociedade nova, a qual sucederá nos direitos e obrigações das extintas”.

Conforme vimos, na incorporação, não ocorre o surgimento de uma nova


empresa. Contudo, na fusão, a união das duas sociedades resulta na criação
de uma nova sociedade.

72
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
d) Cisão: é a transferência do patrimônio de uma sociedade para outra.
Assim, ocorrendo a transferência de todos os bens, ocorre a extinção da
sociedade cindida. Já quando ocorre a transferência parcial dos bens,
não ocorrerá a extinção da sociedade que cedeu parcialmente seus
bens. O artigo 229 da LSA estabelece que:

A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas


do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas
para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia
cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou
dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que


absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a
esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no
caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem
parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a
esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos
direitos e obrigações não relacionados.

§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em


sociedade nova, a operação será deliberada pela assembleia-
geral da companhia à vista de justificação que incluirá as
informações de que tratam os números do artigo 224; a
assembleia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a
parcela do patrimônio a ser transferida, e funcionará como
assembleia de constituição da nova companhia.

§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em


sociedade já existente obedecerá às disposições sobre
incorporação (artigo 227).

§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida,


caberá aos administradores das sociedades que tiverem
absorvido parcelas do seu patrimônio promover o arquivamento
e publicação dos atos da operação; na cisão com versão
parcial do patrimônio, esse dever caberá aos administradores
da companhia cindida e da que absorver parcela do seu
patrimônio.

§ 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da


companhia cindida serão atribuídas a seus titulares, em
substituição às extintas, na proporção das que possuíam; a
atribuição em proporção diferente requer aprovação de todos
os titulares, inclusive das ações sem direito a voto.

73
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Essas operações geram impactos na sociedade e podem afetar
positivamente ou negativamente a economia. O Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (CADE) é o órgão governamental criado para coibir abusos
nesses tipos de operações, tais como dominação de mercado, dentre outras.
Trata-se de uma autarquia federal, que, entre as suas competências,
regulamenta as operações societárias. A atuação do CADE está prevista na Lei
nº. 12.569/2011, na qual se lê:

Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na


operação os atos de concentração econômica em que,
cumulativamente:

I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha


registrado, no último balanço, faturamento bruto anual ou
volume de negócios total no País, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos
milhões de reais); e

II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha


registrado, no último balanço, faturamento bruto anual ou
volume de negócios total no País, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de
reais).

Acrescente-se, por oportuno, que o CADE atua como um órgão estatal


antitruste. Desta forma, esse órgão busca assegurar que a operação entre as
sociedades não resulte em prejuízo à livre concorrência, atuando para evitar
que surjam cartéis, monopólios, duopólios, oligopólios etc.

74
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

14. Aspectos Gerais da Falência e da Recuperação de Empresa

Os institutos da falência e da recuperação judicial e extrajudicial


surgiram para estabelecer uma alternativa à regra geral de execução, uma vez
que quando a sociedade empresária está insolvente ou caminha para tal
situação, ao se proceder com a execução judicial, poderá se beneficiar apenas
alguns credores em detrimento de outros, ante a ausência de bens suficientes
para satisfazer as todas as obrigações.

Decretada a falência, promove-se o afastamento do empresário da


gestão da sociedade e se estabelece uma alternativa para proteger os credores
do devedor insolvente. Essa medida visa proteger a manutenção da atividade
econômica, conforme previsto no artigo 75 da LRE, que traz: “A falência, ao
promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e
otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive
os intangíveis, da empresa”. Por meio dessa execução especial, reúne-se
todos os credores que seguirão de forma conjunta essa execução alternativa
contra o devedor.

Essa execução contra o devedor insolvente proporciona aos credores


tratamento isonômico, pois visa que não sejam proferidas decisões
contraditórias sobre o patrimônio do devedor em execuções individuais.

A legislação falimentar, prevista na Lei nº.11.101/05, lista algumas


prerrogativas para o empresário que se tornar insolvente, que decorrem da
proteção à função social da empresa. Assim, o procedimento previsto em
referida lei só será aplicado ao devedor insolvente que se caracterizar como
empresário e às sociedades empresárias. Para os demais casos, serão
aplicadas as regras previstas em outros diplomas legais, tais como o CC/02,
CPC, dentre outros.

A Lei de Falência e Recuperação, além de tratar do procedimento


falimentar, abarca também os procedimentos de recuperação judicial e
extrajudicial, todos considerados institutos típicos do Direito Empresarial.

75
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Tal situação pode ser observada no artigo 1º da Lei nº.11.101/05, onde


se lê: “Esta lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a
falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor”.

Assim, o procedimento de recuperação se divide em duas espécies,


a judicial e a extrajudicial. Ambas buscam têm como finalidade o
restabelecimento do empresário ou da sociedade empresária em crise que se
tornou insolvente São vários os fatores que geram crise financeira de um
empresário, como a perda de clientes, redução do faturamento,
desaquecimento da economia, mudanças de políticas públicas, mudança da
política econômica etc. Desta forma, ambos os procedimentos ajudam o
empresário a sair da situação caótica em que se encontra.

É importante ressaltar que a recuperação judicial substituiu o antigo


instituto da concordata. O empresário pode pedir a sua recuperação antes da
situação se agravar, contudo, só será concedido àquele que demonstrar a
possibilidade e viabilidade de se recuperar.

Outro ponto que merece destaque na Lei nº. 11.101/05 foi o surgimento
da recuperação extrajudicial, subvertendo totalmente o antigo entendimento
existente sobre o assunto. O artigo 2, inciso III, do Decreto-lei 7.661/45, previa
a possibilidade de penalizar o comerciante que reunisse os seus credores para
fazer uma proposta de renegociar as dívidas, ato esse que era considerado
como ensejador do pedido de falência.

De forma moderna e louvável, o legislador criou a possibilidade de os


credores e o devedor criarem solução para superar a crise financeira. Por
conseguinte, podemos concluir que essa é uma situação em que o próprio
mercado tem a oportunidade de decidir o caminho a seguir para manter a
empresa funcionando, o que está previsto no artigo 161 da Lei nº.11.101/05: “O
devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e
negociar com credores plano de recuperação extrajudicial”. Além disso, prezou
o legislador pela preservação da empresa, ao instituir tal possibilidade.

76
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
A seguir iremos estudar outros detalhes sobre o procedimento
falimentar, bem como acerca da recuperação judicial e extrajudicial.

Mapa Mental

Afastamento
do Empresário

Manutenção
Falência da atividade
econômica

Reunião dos
credores

Judicial
Recuperação
Solução entre
Extrajudicial
credores e devedor

14.1 Disposições Comuns aos Dois Institutos

De forma geral, não é cabível a responsabilização do devedor pelas


despesas que os credores tiveram para habilitar os seus créditos perante a
falência ou a recuperação judicial.

77
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Além disso, a decretação da falência ou o deferimento da recuperação
judicial é ato ensejador da suspensão da prescrição e também das ações e
execuções que existirem contra o devedor.

Os institutos da falência e da recuperação judicial são institutos coirmãos


no direito falimentar. Por essa razão, o legislador tratou sobre eles de forma
conjunta no Capítulo II da Lei nº. 11.101/05, nos artigos 5º ao 46. A seguir,
destacaremos de forma breve os principais pontos.

Em relação a isso, pode-se verificar, entre os artigos 7º e 20 da LRE, o


momento de verificação dos créditos:

a) Recuperação judicial: ocorre antes da decisão sobre o deferimento da


recuperação judicial;
b) Falência: ocorre posteriormente ao momento de reconhecimento da
quebra, ou seja, dá-se na segunda fase do processo.

Nestes dois momentos – na recuperação judicial e na falência –, a atuação


da figura do administrador judicial se dá de forma diferente:

a) Recuperação judicial: o administrador atua amplamente de forma


fiscalizatória;
b) Falência: o administrador exerce funções de atos de execução,
buscando gerar ativos para efetuar o pagamento de credores.

Já o comitê de credores recebe tratamento isonômico ao tratar sobre


algumas das atribuições previstas para a recuperação judicial e a falência,
conforme previsto no artigo 27, inciso I, da Lei nº.11.101/05:

O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de


outras previstas nesta Lei:

I – na recuperação judicial e na falência:

78
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do
administrador judicial;

b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento


da lei;

c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou


prejuízo aos interesses dos credores;

d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos


interessados;

e) requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de


credores;

f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;

Contudo, no inciso II, estão previstas as atribuições que são


concernentes apenas à recuperação judicial:

II – na recuperação judicial:

a) fiscalizar a administração das atividades do devedor,


apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua situação;

b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;

c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o


afastamento do devedor nas hipóteses previstas nesta Lei, a
alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus
reais e outras garantias, bem como atos de endividamento
necessários à continuação da atividade empresarial durante o
período que antecede a aprovação do plano de recuperação
judicial.

Assim, podemos considerar o comitê de credores como o órgão


colegiado eleito em assembleia geral de credores, composto por três
membros titulares e três suplentes, podendo atuar de forma reduzida com
apenas dois membros. Esse comitê terá a função de representar as classes
dos titulares dos créditos.

79
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
A assembleia geral dos credores, por sua vez, é composta pela
totalidade de credores. A sua convocação pode se dar por 25% dos credores
de determinada classe, pelo juiz ou pelo administrador judicial.

As atribuições da assembleia geral de credores no processo de


falência, e na recuperação judicial, estão dispostas no artigo 35 da Lei nº.
11.101/05. Esta traz que:

Art. 35. A assembleia-geral de credores terá por atribuições


deliberar sobre:

I – na recuperação judicial:

a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação


judicial apresentado pelo devedor;

b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus


membros e sua substituição;

c) (VETADO)

d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4º do


art. 52 desta Lei;

e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do


devedor;

f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos


credores;

II – na falência:

a) (VETADO)

b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus


membros e sua substituição;

c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na


forma do art. 145 desta Lei;

d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos


credores.

80
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esses foram alguns dos pontos que aproximam e também distinguem o
instituto da falência e o instituto da recuperação judicial. Nos próximos tópicos,
trataremos das peculiaridades de cada instituto.

14.2 Recuperação Judicial

O pedido de recuperação judicial será feito antes do empresário ser


declarado falido, conforme previsto no artigo 48, I da LRE:

Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no


momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há
mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por


sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí
decorrentes;

Entretanto, é possível que o pedido de recuperação judicial seja feito de


forma incidental, dentro de um processo de falência. Neste caso, deverá ser
feito no prazo da contestação, consoante se infere do artigo 95 da LRE:
“Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação
judicial”.

Ao fazer o pedido de recuperação judicial, o devedor apresentará seu


plano de recuperação para os credores. Caso haja objeção, será convocada
assembleia geral, a fim de que os credores deliberem sobre o plano
apresentado pelo devedor.

O pedido será feito pelo devedor no domicílio do seu principal


estabelecimento e deverá conter os requisitos materiais contidos no artigo 48
da LRE:

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no


momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há
mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente:

81
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí
decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de


recuperação judicial;

III – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de


recuperação judicial com base no plano especial de que trata a
Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou


sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes
previstos nesta Lei.

§ 1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo


cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou
sócio remanescente. (Renumerado pela Lei nº 12.873, de
2013)

§ 2º Tratando-se de exercício de atividade rural por pessoa


jurídica, admite-se a comprovação do prazo estabelecido no
caput deste artigo por meio da Declaração de Informações
Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica – DIPJ que tenha sido
entregue tempestivamente. (Incluído pela Lei nº 12.873, de
2013)

Deferido pelo juiz o pedido de recuperação judicial, o devedor terá 60


dias para apresentar o plano de recuperação judicial, sob pena de, em caso de
descumprimento do prazo, ser decretada a falência do devedor.

Com isso, o objetivo da recuperação judicial é o restabelecimento das


atividades econômicas do empresário. Cumpridas as obrigações previstas no
plano de recuperação, o juiz decretará o fim da recuperação judicial, conforme
previsto na LRE:

Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo previsto


no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por sentença o
encerramento da recuperação judicial e determinará:

I – o pagamento do saldo de honorários ao administrador


judicial, somente podendo efetuar a quitação dessas
obrigações mediante prestação de contas, no prazo de 30
(trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do
caput deste artigo;

82
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
II – a apuração do saldo das custas judiciais a serem
recolhidas;

III – a apresentação de relatório circunstanciado do


administrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias,
versando sobre a execução do plano de recuperação pelo
devedor;

IV – a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do


administrador judicial;

V – a comunicação ao Registro Público de Empresas para as


providências cabíveis.

Contudo, se o devedor não cumprir com o estipulado no plano de


recuperação judicial, haverá a convolação em falência, nos termos do artigo 61,
da LRE:

Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o


devedor permanecerá em recuperação judicial até que se
cumpram todas as obrigações previstas no plano que se
vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da
recuperação judicial.

§ 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o


descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano
acarretará a convolação da recuperação em falência, nos
termos do art. 73 desta Lei.

§ 2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos


seus direitos e garantias nas condições originalmente
contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e
ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da
recuperação judicial.

Mapa Mental

83
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Recuperação
Judicial

Plano de Assembleia Pedido no


recuperação de credores domicílio

14.3 Recuperação Extrajudicial

A LRE inovou ao trazer a recuperação extrajudicial, possibilidade por


meio da qual é possível que o empresário entre em acordo com os credores.
Entretanto, certos requisitos precisam ser preenchidos, conforme se depreende
no artigo 161, da Lei nº.11.101/05. Este traz que:

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48


desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de
recuperação extrajudicial.

§ 1º Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de


créditos de natureza tributária, derivados da legislação do
trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como
àqueles previstos nos arts. 49, § 3º , e 86, inciso II do caput,
desta Lei.

§ 2º O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado


de dívidas nem tratamento desfavorável aos credores que a ele
não estejam sujeitos.

§ 3º O devedor não poderá requerer a homologação de plano


extrajudicial, se estiver pendente pedido de recuperação
judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou
homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há
menos de 2 (dois) anos.

84
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
§ 4º O pedido de homologação do plano de recuperação
extrajudicial não acarretará suspensão de direitos, ações ou
execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de
falência pelos credores não sujeitos ao plano de recuperação
extrajudicial.

§ 5º Após a distribuição do pedido de homologação, os


credores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a
anuência expressa dos demais signatários.

§ 6º A sentença de homologação do plano de recuperação


extrajudicial constituirá título executivo judicial, nos termos do
art. 584, inciso III do caput, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de
1973 - Código de Processo Civil.

Com isso, preenchidos os requisitos, o devedor irá apresentar o plano de


recuperação aos credores, o qual posteriormente levará à homologação do juiz.
No plano de recuperação extrajudicial, somente estarão sujeitos os seguintes
credores:

a) Credores com garantia real;


b) Credores com privilégio especial;
c) Credores com privilégio geral;
d) Credores quirografários;
e) Credores subordinados.

Diante disso, vale ressaltar que o plano de recuperação extrajudicial, em


regra, não produz efeitos pretéritos, conforme disposto no artigo 165 da LRE:

Art. 165. O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos


após sua homologação judicial.

§ 1º É lícito, contudo, que o plano estabeleça a produção de


efeitos anteriores à homologação, desde que exclusivamente
em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento
dos credores signatários.

§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, caso o plano seja


posteriormente rejeitado pelo juiz, devolve-se aos credores
signatários o direito de exigir seus créditos nas condições
originais, deduzidos os valores efetivamente pagos.

85
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mapa Mental

Recuperação Extrajudicial
• Plano de Recuperação
• Assembleia de Credores

14.4 Falência

A falência possui três pressupostos para a instauração do processo


especial de execução concursal. Eles são:

a) Pressuposto material subjetivo: devedor empresário;


b) Pressuposto material objetivo: insolvência do devedor;
c) Pressuposto formal: sentença declaratória da falência.

Estando configurada algumas das situações previstas no artigo 94 da LRE,


dar-se-á início ao processo de falência:

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento,


obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta)
salários-mínimos na data do pedido de falência;

86
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do
prazo legal;

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte


de plano de recuperação judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança


mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o


objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio
simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a
terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o


consentimento de todos os credores e sem ficar com bens
suficientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com


o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para
prejudicar credor;

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída


anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados
suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com


recursos suficientes para pagar os credores, abandona
estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local
de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

A análise dos pressupostos acima ocorre em uma fase pré-falimentar, na


qual o juiz analisará os requisitos e decidirá se decreta ou não a falência. Com
isso, a declaração de falência do empresário tem efeitos constitutivos. Por meio
dela, o devedor é constituído em estado de falência, dando início ao
procedimento diferenciado de execução dos bens.

Neste caso, o devedor que teve a falência decretada sofrerá também a


sua inabilitação empresarial, conforme previsto no artigo 102 da LRE. Este traz
que “O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a
partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas
obrigações, respeitado o disposto no § 1º do art. 181 desta Lei”.

87
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Esse impedimento se estende até que seja dada uma sentença


prevendo a extinção de suas obrigações.

O processo falimentar será conduzido pelo administrador judicial, a quem


caberá dar o bom andamento ao processo falimentar. Nesta situação, a
atividade do administrador pode ser dividida em:

a) Arrecadação dos bens do devedor;


b) Verificação e habilitação dos créditos.

Mapa Mental

Falência
- Devedor empresário
- Insolvência do devedor
- Sentença declaratória de
falência

88
Rua Mario, nº 46, no bairro de Gopoúva, Cidade de Guarulhos, São Paulo – CEP : 07092-030 Fones:
(11) 98914-6161 e (11) 99647-2037 – e-mail : praticanapratica@gmail.com
----------------------------------------------------------------------------------------------------------

AGRADECIMENTOS:

Gostaríamos de agradecer em nome de nossa equipe pela escolha do

curso preparatório da 1ª fase do exame da OAB do INSTITUTO

EDUCACIONAL PRÁTICA na PRÁTICA – Profª Cristiane Barrio Novo.

Esperamos ter contribuído para o seu aprimoramento!

Até breve!

INSTITUTO EDUCACIONAL PRÁTICA na PRÁTICA

Equipes administrativa, pedagógica e de marketing

Coordenação – Profª Msª Cristiane Barrio Novo

Nos sigam nas redes sócias:

Insta - @praticanapratica

Face – Instituto Pratica na Pratica

Insta - profacristianebarrionovo

89

Você também pode gostar