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RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ADMINISTRADORES DE FACTO DAS SOCIEDADES

COMERCIAIS1

Sofia Vale Teresinha Lopes


Mestre em Direito Professora jubilada da FDUAN
Professora da FDUAN Advogada

1.O problema. 2.Os administradores de direito.


2.1.Designação 2.2.Funções. 2.3.Deveres.
2.4.Responsabilidade civil. 3.Os administradores de facto.
3.1.Noção. 3.2.Vinculação da sociedade pelos actos
praticados pelos administradores de facto. 3.3.Extensão dos
deveres e do regime de responsabilidade civil dos
administradores de direito aos administradores de facto.
4.Conclusões

1. O PROBLEMA

A ideia de escrever sobre o regime da responsabilidade civil aplicável aos administradores de facto das
sociedades comerciais surgiu-nos na sequência de um parecer que nos foi solicitado sobre esta matéria,
emitido a pedido do Hight Court of England and Wales, no âmbito de acção de responsabilidade civil aí
intentada contra os administradores de facto de uma sociedade comercial constituída ao abrigo do direito
angolano.

Diga-se, em abono da verdade, que a situação que motivou a emissão do parecer referido não é única,
sendo inúmeros, e cada vez mais frequentes, os casos em que sociedades de direito angolano, por
diversas razões, são geridas por administradores de facto. No nosso país ocorrem com frequência,
situações que serviram de base a esta nossa reflexão. A primeira respeita ao caso em que um cidadão
estrangeiro, que deveria ser nomeado administrador de uma sociedade comercial angolana, protela a sua
nomeação até ter obtido um visto de trabalho (sob pena de ter de deixar Angola e as suas funções na
administração da sociedade para regressar aos seu país de origem e requerer novo visto ordinário),
sendo, neste interregno, nomeado administrador um cidadão angolano ou estrangeiro residente; claro
está que aquele vai influenciar significativamente as decisões que a este cabe tomar, a um ponto tal que

1
Artigo publicado na Revista da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, n.º 10, Luanda,
2009.

1
o administrador nomeado se esvazia da sua autonomia decisória, tornando-se o cidadão estrangeiro um
verdadeiro administrador da sociedade, um administrador de facto. Esta situação é também frequente
quando um cidadão que pretenda administrar uma sociedade esteja impedido de o fazer, em razão de
incompatibilidades legais motivadas por cargos públicos ou outros cargos de administração de
sociedades que ocupe2. A segunda situação, motivada por razões de estratégia empresarial ou pelo facto
de um administrador validamente designado necessitar de passar longas temporadas fora de Angola,
ocorre quando esse administrador validamente designado constitui mandato a favor de terceiro a quem
atribui poderes genéricos para praticar todos os actos inerentes à actividade de gestão da sociedade e à
sua representação, como se de um verdadeiro administrador se tratasse; este mandatário acaba
actuando como um verdadeiro administrador, um administrador de facto.

Quando aqui nos referimos ao administrador, fazemo-lo em sentido amplo, pretendendo não só englobar
os administradores das sociedades anónimas mas também os gerentes das sociedades em nome
colectivo e das sociedades por quotas. Reportamo-nos, assim, aos órgãos de administração de qualquer
um dos tipos de sociedades comerciais previstos na Lei das Sociedades Comerciais, aprovada pela Lei
n.º 1/04, de 13 de Fevereiro (doravante simplesmente designada por “LSC”).

As referências bibliográficas mencionadas ao longo deste artigo reportam-se, por inexistência de doutrina
angolana quanto às matérias aqui tratadas, exclusivamente a autores que escreveram sobre o Código
das Sociedades Comerciais português. A sua pertinência é, porém, bastante, na medida em que a nossa
LSC é fortemente inspirada naquele e em diplomas similares.

2. OS ADMINISTRADORES DE DIREITO

2.1. DESIGNAÇÃO

A designação de administradores pode ser feita directamente no contrato de sociedade (cf. arts. 195º, n.º
1, 281º, n.º 2, 1ª parte, 411º, n.º 1, 1ª parte, todos da LSC), através de eleição da assembleia geral dos
sócios (arts. 191º, n.º 3, al. d), 281º, n.º 2 , 2ª parte, 411º, n.º 1, 1ª parte, todos da LSC) ou, sendo caso
disso, por decisão do tribunal (art. 415º LSC). Deve entender-se que a nomeação de administradores
assim efectuada cumpriu com o preceituado na LSC, estando os administradores nomeados em
condições de, válida e legitimamente, exercerem o cargo para que foram indicados, sendo considerados
administradores de direito.

2Devido à excessiva morosidade na constituição de empresas com sócios não residentes, uma vez que a referida
constituição depende de prévia aprovação de um projecto de investimento privado por parte da ANIP – Agência
Nacional para o Investimento Privado, recorre-se com frequência a residentes, tanto como sócios quanto como
administradores fiduciários.

2
No que respeita à relação jurídica que os administradores estabelecem com a sociedade em virtude do
cargo que ocupam, deve esta ser enquadrada no âmbito do contrato de prestação de serviços (art. 1154º
do Código Civil, doravante simplesmente “CC”) e não no do contrato de trabalho. De facto, esta relação
pressupõe a independência e a autonomia do administrador na tomada de decisões (e,
concomitantemente, a ausência de poder de direcção por parte da sociedade, leia-se, da assembleia
geral, em relação a ele), grande flexibilidade na sua destituição (que poderá ocorrer independentemente
de justa causa3) e possibilidade de as suas funções serem desempenhadas sem que haja lugar ao
pagamento de qualquer remuneração (sendo, por isso, prestadas a título gratuito). Este entendimento sai
confirmado pelo art. 2º, al. g) da Lei Geral do Trabalho (aprovada pela Lei n.º 2/00, de 11 de Fevereiro,
doravante simplesmente designada por “LGT”) que expressamente exclui do seu âmbito de aplicação os
contratos celebrados entre uma sociedade e os seus administradores.

Deste modo, a designação ou eleição do administrador corresponderia a uma proposta contratual (art.
228º ss do CC), dando-se o contrato por concluído aquando da aceitação, expressa ou tácita (art. 391º,
n.º 5 CC), por parte do administrador. Não obstante, é frequente que as partes optem por reduzir a escrito
particular as regras que pautarão a relação que se estabelece entre o administrador e sociedade.

Para ANTÓNIO PEREIRA DE ALMEIDA este contrato de prestação de serviços segue uma modalidade
própria, a de contrato de administração4.

Em virtude do exposto, e tendo em conta o estabelecido na Lei sobre o Regime Jurídico dos Estrangeiros
na República de Angola (Lei n.º 2/07, de 31 de Agosto), cremos não existir fundamento legal para que se
exija a obtenção de um visto de trabalho ao cidadão estrangeiro que pretenda exercer em Angola o cargo
de administrador de uma sociedade comercial, a título não remunerado. Assim, a exigência de exibição
de visto de trabalho como condição sine qua non para que um cidadão estrangeiro possa ser designado
administrador, sem remuneração, no pacto social de uma sociedade, prática que vem sendo seguida pelo
cartório notarial do Guiché Único de Empresa bem como pela Conservatória do Registo Comercial,
afigura-se-nos, para além de extrínseca às competências legalmente atribuídas a estas entidades, contra
legem.

2.2. FUNÇÕES

No ponto 2.1. referimo-nos à administração enquanto órgão das sociedades comerciais, no qual têm
assento os administradores, mas a expressão “administração” pode também reportar-se à actividade que

3Sem prejuízo do, se for caso disso, direito a indemnização a que eventualmente haja lugar.
4ALMEIDA, ANTÓNIO PEREIRA DE, Sociedades Comerciais, 4ª edição, Coimbra Editora, Coimbra, 2006, p. 220.
Veja-se ainda CODEIRO, ANTÓNIO MENEZES, Da Responsabilidade dos Administradores das Sociedades
Comerciais, Lex, 1997, p. 335 ss.

3
através desse órgão é exercida. É neste sentido, funcional, que nos reportamos aqui à noção de
administração.

A administração das sociedades reconduz-se a dois tipos de actividades, as actividades de gestão e as


de representação da sociedade, que, sem prejuízo de, na prática, se apresentarem frequentemente
associadas, não são objecto de uma associação necessária5. Assim, os administradores das sociedades
seriam chamados a desempenhar funções de gestão, de índole interna, atinentes ao funcionamento da
própria sociedade, e funções de representação, de índole externa, que pressupõem a apresentação da
sociedade perante terceiros.

Nas funções de gestão englobam-se as decisões estratégicas da empresa (a elaboração e execução de


um business plan no qual se projecte a posição que a empresa deve atingir no mercado, a médio e longo
prazo), as relativas à organização dos meios produtivos (meios materiais, humanos e financeiros
necessários à prossecução da actividade da empresa), as políticas empresariais (produção, distribuição,
contratação de pessoal e angariação de financiamentos), a distribuição dos lugares de direcção (que
importa a estruturação orgânica da empresa, vertida num regulamento interno, e a selecção de
profissionais especializados para ocuparem os lugares de direcção), o sistema informacional e inter-
orgânico empresarial (que pressupõe o modo de articulação entre as várias empresas que integram a
sociedade, e que podem localizar-se em locais e países diferentes) e todas as decisões necessárias à
sua execução (aqui, há que distinguir entre os actos de direcção em si e os de gestão corrente da
sociedade, reportando-se estes últimos a actos de mero expediente referentes ao funcionamento
quotidiano da sociedade)6. A LSC refere, numa perspectiva mais genérica, que cabe aos gerentes das
sociedades por quotas “praticar todos os actos necessários e convenientes para a realização do objecto
social da sociedade” (cf. art. 282º, 1ª parte LSC) e aos administradores das sociedades anónimas “gerir a
sociedade com autonomia” (art. 425º, n.º 1, al. b) LSC) e “deliberar sobre qualquer assunto que diga
respeito à administração da sociedade” (art. 425º, n.º 2 LSC).

Não obstante a lei atribuir ao órgão de administração a gestão a sociedade, importa aqui referir que, por
um lado, a lei não lhe atribui em exclusivo as tarefas de gestão e, por outro lado, ele está legalmente
autorizado a delegar actividades de gestão em não administradores7.

Na verdade, a nossa lei atribui também competências de gestão da sociedade à assembleia geral, sendo
estas mais abrangentes no caso das sociedades por quotas e mais restritas no caso das sociedades

5 ABREU, J. M: COUTINHO DE, Governação das Sociedades Comerciais, Almedina, Coimbra, 2006, p. 37.
6 Seguimos de perto ABREU, J. M. COUTINHO DE, op. cit., p. 38.
7 Contra, ALMEIDA, A. PEREIRA, op. cit, p. 231 , que considera que a delegação de poderes de administração deve

sempre ser feita noutro administrador da sociedade. No entender deste autor, a própria sociedade pode, isso sim,
constituir mandatários ou procuradores para a prática de certos actos; mas, neste caso, eles não actuam como
representantes pessoais dos administradores, mas da sociedade.

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anónimas (veja-se, a título de exemplo, as competências relativas à aprovação do relatório de gestão e
das contas da sociedade – arts. 272º, n.º 1, al. e), 1ª parte e 396º, n.º 1 LSC -, à aplicação dos resultados
de exercício - arts. 272º, n.º 1, al. e), 2ª parte e 396º, n.º 1, al. b) LSC - e à transformação, cisão e fusão
da sociedade – arts. 272º, n.º 1, al. i) e 403º, n.º 2 LSC).

A LSC prevê ainda a possibilidade de o órgão de administração da sociedade delegar alguns dos seus
poderes de gestão em terceiros, não administradores8 da sociedade. Essa delegação opera-se
correntemente através de uma de três formas9: (i) ordens ou directivas, (ii) procuração para a prática de
certos actos ou categorias de actos e (iii) contrato de gestão. A emissão de (i) ordens ou directivas
verifica-se quando os administradores sentem necessidade de delegar algumas tarefas de gestão em
trabalhadores da sociedade, que, via de regra, ocupam cargos de direcção (director financeiro, de
recursos humanos, do gabinete jurídico, etc.) ou gerem unidades da sociedade que estão fisicamente
afastadas do centro de actividades da sociedade (secções ou sucursais). Por seu lado, a (ii) procuração
para a prática de certos actos ou categorias de actos é emitida quando os membros da administração,
por imperativos vários, não possam estar presentes, quer no dia-a-dia da sociedade durante um certo
período de tempo, quer em negociações contratuais que digam directamente respeito a actividades de
gestão da sociedade. Por último, o (iii) contrato de gestão da sociedade consiste num contrato em que
alguém se compromete, mediante retribuição, a gerir uma sociedade por conta (e, consonante o caso, em
nome) da administração.

Estes contratos de gestão são muito comuns entre nós nas sociedades anónimas, sendo normalmente
celebrados com um dos sócios da sociedade que, em regra, é uma pessoa colectiva estrangeira com
know how específico na área de actuação da sociedade, tendo constituído, ao abrigo do investimento
privado, uma sociedade comercial com sócios nacionais. Através do contrato de gestão, o sócio
estrangeiro procura assegurar que a actividade da sociedade seja conduzida por quem conhece o
negócio e dentro dos padrões internacionais aplicáveis, estando habilitado a tomar as decisões que
conduzirão ao seu melhor posicionamento no mercado, e garantindo, por outro lado, um controlo efectivo
sobre as decisões de gestão da sociedade.

8 Não curamos aqui tratar da delegação de poderes de gestão corrente da sociedade que a lei prevê que seja feita
ou numa comissão executiva ou em administradores delegados (art. 426º LSC) nem da delegação de assuntos
específicos em administradores delegados (art. 426º, n.º 1 LSC), uma vez que estes não são terceiros não
administradores, mas sim órgãos da própria sociedade embora com poderes não originários.
9 Não acompanhamos COUTINHO DE ABREU quando refere como forma de delegação de competências da

administração em terceiros não administradores a delegação em empresas com funções auxiliares (como a limpeza
ou segurança), op. cit., p. 42. Em nosso entender, não estão aqui em causa verdadeiras funções de gestão da
sociedade (sequer de gestão auxiliar), mas sim a mera execução de contratos de prestação de serviços necessários
ao funcionamento da actividade da mesma. A externalização de determinados serviços anteriormente assegurados
pela sociedade e agora contratados a entidades terceiras especializadas (o chamado outsorcing), verifica-se nas
mais variadas áreas (catering, organização de eventos, serviços de motorista e manutenção de viaturas, serviços
jurídicos, etc.).

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Estando cientes de que este tipo de contratos redunda, muitas das vezes, em situações verdadeiramente
abusivas, em que um dos sócios acaba por ter um domínio total sobre a gestão da sociedade, anulando a
actuação do órgão de administração, somos da opinião que a validade deste tipo de contratos deverá
ficar sujeita à aprovação do seu clausulado pela assembleia geral dos sócios. E isto por duas razões. Em
primeiro lugar, porque a lei só prevê a possibilidade de delegação genérica da gestão corrente da
sociedade ou na comissão executiva ou em administradores delegados (art. 426º LSC) no caso das
sociedades anónimas - não prevendo sequer essa possibilidade para as sociedades por quotas, só
podendo um gerente delegar noutro gerente competência para celebrar certos negócios específicos ou
categoria de negócios (arts. 281º, n.º 4 e 284º, n.º 4 LSC) -, pelo que a delegação noutras entidades
carece de autorização dos sócios. Em segundo lugar, porque a lei estabelece um conjunto de matérias
que são insusceptíveis de delegação (arts. 426º, n.º 2 e 425º, n.º 2, al) a a m) LSC) sequer em
administradores delegados, não devendo, por maioria de razão, ser delegadas em entidade terceira. E
não é isto que temos visto suceder na prática. De facto, os contratos de gestão que são frequentemente
celebrados em Angola atribuem ao gestor competências indelegáveis, esvaziando o órgão de
administração das suas competências nucleares. Sem prejuízo das vantagens de ordem económica e
prática que podem ser atribuídas a algumas destas soluções, entendemos que é essencial que o órgão
de administração mantenha, ainda assim, competências concretas de acompanhamento e fiscalização da
actividade de gestão externalizada e de denúncia e resolução do contrato de gestão, não podendo
vincular-se contratualmente a prescindir do exercício de qualquer uma delas (se um administrador pode
ser destituído sem justa causa, parece importante que o contrato possa ser denunciado a qualquer
momento mediante um pré-aviso mínimo, sem dependência de qualquer outro requisito). Mais, nos casos
em que a denúncia ou resolução do contrato de gestão seja remetida para decisão da assembleia dos
sócios, deverão considerar-se nulos os acordos de voto constantes de acordos parassociais que
condicionem a efectividade da denúncia ou resolução ao consentimento de determinado sócio, quando
seja este o sócio com quem a sociedade celebrou o contrato de gestão (uma vez que este exercerá o seu
direito de voto em contrapartida da obtenção de vantagens especiais – art. 19º, n.º 3, al. c) LSC). Indo
mais longe, parece também que deve ainda exigir-se que esse sócio, como parte interessada, não
participe nessa votação (arts. 280º, n.º 2, al. g) e 404º, n.º 6, al. d) LSC).

A delegação de poderes por parte do órgão de administração em terceiros não administradores deverá,
para ser válida, respeitar alguns limites. Em primeiro lugar, não deverá abranger as matérias do art. 425º,
n.º 2, al. a) a m) LSC, previsto para as sociedades anónimas que, em nosso entender, deverá ser
aplicado, por analogia, às sociedades por quotas, por se tratar de matérias que constituem o núcleo
central das competências do órgão de administração. Em segundo lugar, a delegação deverá respeitar a
actos de gestão determinados e não a actos de gestão em geral (“assuntos determinados e específicos”
diz o art. 426º, n.º 1 LSC para as sociedades anónimas e “prática de determinados actos ou categoria de
actos” nos dizeres do art. 281º, n.º 5 LSC para as sociedades por quotas), não podendo abranger a

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gestão corrente da sociedade, sem prejuízo do que ficou dito acima quanto ao contrato de gestão. Em
terceiro lugar, e em estrita conexão com o requisito anterior, a delegação deverá ter duração limitada,
vigorando no máximo enquanto vigorar o mandato da administração (parece-nos de aceitar a caducidade
automática da delegação no termo do mandato da administração, salvo ratificação expressa da nova
administração eleita). Em quarto lugar, a delegação não deve obstar ou impor quaisquer limites a que a
administração retome, a qualquer momento, essas competências e as exerça efectivamente (as
competências da administração delegante e da entidade delegada deverão ser concomitantes).

A observância dos limites acima referidos é essencial para que se respeite o carácter pessoal e a
natureza intransmissível do cargo de administrador, sob pena de a administração passar cheques em
branco a terceiros não administradores para o exercício das funções de gestão que legalmente lhe são
confiadas. Pensamos que essa foi exactamente a intenção do legislador quando estatuiu que “a gerência
é pessoal e intransmissível, não podendo os gerentes fazer-se representar no exercício do seu cargo”
(art. 281º, n.º 4 LSC) e que “é vedado aos administradores fazerem-se representar no exercício do cargo
para que foram designados” (art. 411º, n.º 3 LSC), sem prejuízo da delegação de poderes que podem
efectuar dentro dos limites da lei.

Deste modo, somos da opinião que a atribuição pelos administradores de poderes a mandatários para a
prática de todos os actos necessário e convenientes à gestão da sociedade, formulação correntemente
inserida em procurações celebradas por administradores das sociedades da nossa praça, não deverá ser
aceite, por violar os limites da delegação de poderes de administração impostos por lei. Quanto às
consequências dos actos de gestão praticados ao abrigo de um mandato genérico, remetemos para o
ponto 3.2. desta exposição.

No que concerne às funções de representação, cabe em exclusivo à administração (art. 425º, n.º 1, al. a)
LSC) representar a sociedade perante terceiros, designadamente, credores, fornecedores, clientes e
trabalhadores que com ela se relacionem. A vinculação da sociedade efectua-se quando a administração
pratica actos em nome da sociedade e dentro dos poderes que a lei lhe confere (arts. 283º LSC para as
sociedades por quotas e 428º LSC para as sociedades anónimas)10. Por aplicação do disposto nos arts.
281º, n.º 5 e 411º, n.º 3 LSC deve entender-se que a administração pode delegar poderes de
representação da sociedade em mandatários ou procuradores (não administradores da sociedade) para a
prática de actos concretos e determinados.

É também corrente entre nós que aos mandatários ou procuradores sejam conferidas procurações
através das quais a administração lhes confere, para além de poderes específicos para a prática de

10Para um maior desenvolvimento deste tema, veja-se MARTINS, ALEXANDRE SOVERAL, “Capacidade e
Representação das Sociedades Comerciais” in Problemas de Direito das Sociedades, IDET, Almedina, Coimbra,
2003, p. 471 e ss.

7
certas categorias de actos, poderes genéricos para a práticas dos demais actos que entendam
necessários para representarem a sociedade. Estas procurações – e sem prejuízo do interesse prático
que, frequentemente, possam ter - violam, em nosso entender, os limites plasmados na LSC, na medida
em que delegam nos mandatários ou procuradores poderes de representação genérica da sociedade.

2.3. DEVERES

O exercício das funções de administração comporta para os administradores das sociedades a obrigação
de cumprir um conjunto de deveres que lhes são impostos pela lei, pelo contrato de sociedade, por
deliberação dos sócios, pelo contrato de administração que eventualmente celebrem e, sendo caso disso,
por contratos que celebrem com os sócios da sociedade.

No que respeita aos deveres que impendem sobre os administradores em virtude do contrato de
administração celebrado, no qual se impõem com frequência obrigações de confidencialidade, do número
mínimo de horas diárias em que o administrador deve estar nas instalações da sociedade, do número
máximo de dias de “férias” de que poderá beneficiar, da atribuição de prémios em função do seu
desempenho, a obrigatoriedade da sua observância decorre da necessidade de cumprimento do contrato
a que se vinculou (art. 406º, n.º 1 CC).

O mesmo se diga em relação aos contratos que o administrador celebra com determinados sócios da
sociedade, que, por força dos acordos parassociais celebrados entre si, têm o poder de o designar como
administrador da sociedade. Nestes casos, faz sentido que o sócio queira assegurar que o administrador
por si designado promove a gestão da sociedade de acordo com as linhas estratégicas de gestão por si
definidas, conduzindo a gestão em concreto de acordo com esses parâmetros. Defendemos, por isso,
uma interpretação restritiva do disposto no artigo 19º, n.º 2 da LSC, no sentido de apenas se proibir que
os acordos parassociais imponham condutas concretas à administração11, não nos chocando que o
administrador celebre um contrato com o sócio que tem o poder de o designar ou que subscreva um
acordo parassocial de índole mais geral no qual intervenham vários sócios e através do qual se
comprometa a seguir determinada política financeira ou comercial nele prevista. Isto porque, não nos
parece que obrigações deste conteúdo previstas em acordos parassociais desviem para a colectividade
dos sócios os poderes que por lei cabem à administração.

Os administradores estão também vinculados a actuar em conformidade com o que foi validamente
deliberado pelos sócios da sociedade (e pelo conselho fiscal ou fiscal único, quando exista). Como bem

11 No mesmo sentido, ALMEIDA, A. PEREIRA DE, op. cit., p. 296. Defendendo uma interpretação mais literal do

preceito, TRIGO, MARIA DA GRAÇA, “Acordos Parassociais”, in Problemas de Direito das Sociedades, IDET,
Almedina, Coimbra, 2003, p. 174 e 175. Recusando a possibilidade de os acordos parassociais vincularem os
administradores das sociedades veja-se ABREU, J. M. COUTINHO DE, Responsabilidade Civil dos administradores
das Sociedades, IDET, Almedina, Coimbra, 2007, p. 11, nota de rodapé 11.

8
refere COUTINHO DE ABREU12, neste caso não estão em causa deveres contratuais mas sim deveres
legais ou estatutários, porquanto as competências deliberativas dos sócios resultam ou directamente da
lei ou dos estatutos da sociedade.

E o mesmo se diga em relação a deveres impostos aos administradores pelo contrato de sociedade,
deveres que não decorram das disposições da LSC, como por exemplo o de apresentar à assembleia de
sócios relatórios trimestrais das actividades desenvolvidas. Tudo isto se enquadra na liberdade que aos
sócios assiste de conformar o contrato de sociedade.

A lei, quer a LSC quer outros diplomas legais, impõe aos administradores das sociedades inúmeros
deveres em concreto, que variam consoante o tipo de sociedade. Mas, atendendo a que a administração
é chamada a praticar um sem número de actos cuja tipificação seria virtualmente impossível, há que
identificar quais os deveres que são comuns a qualquer conduta concreta dos administradores, pautando
transversalmente toda a sua actuação. Estamos, assim, perante os chamados deveres gerais dos
administradores que, segundo a doutrina13, se reconduzem a três categorias: dever de cuidado, dever de
lealdade e dever de diligência.

O dever de cuidado (duty of care) consiste no esforço, conhecimento e competências específicas que um
administrador deve empregar no exercício das suas funções, tendo em conta as circunstâncias concretas
em que actua (tipo, objecto e dimensão da sociedade, funções executivas ou não que desempenha, área
do conhecimento que o administrador domina, etc.). Este dever de cuidado, que é aferido em função da
situação concreta, impõe ainda ao administrador que tenha um efectivo conhecimento dos assuntos
sociais, devendo, por um lado, acompanhar e supervisionar a actividade da sociedade (duty to monitor) e,
por outro lado, obter a informação que seja necessária à sua tomada de decisão (process due care).
Assim, para se aferir se um determinado administrador cumpriu o dever de cuidado que sobre si impendia
em relação a uma decisão que tomou, há que aquilatar, por exemplo, da complexidade da decisão, do
grau de risco da decisão e da urgência com que esta deveria ser tomada.

O dever de lealdade (fiduciary duties) impõe ao administrador que actue exclusivamente tendo em conta
o interesse social, afastando possíveis conflitos de interesse. Deste dever de lealdade decorrem, por
exemplo, a obrigação de não concorrer com a sociedade (non competition with the corporation), a
obrigação de não utilizar informação interna ou negócios da sociedade em proveito próprio (non inside
trading) e a obrigação de transparência, mantendo informados os demais administradores, sócios e o
público de factos relevantes de natureza não confidencial (duty of disclosure).

12ABREU, J.M. COUTINHO DE, op. cit., p. 10 e 11.


13Seguimos de perto ABREU, J.M. COUTINHO DE, op. cit., p. 18 e ss e ALMEIDA, A. PEREIRA DE, op. cit. p. 222
e ss.

9
A aferição do cumprimento do dever de lealdade pressupõe a definição de interesse social. Quanto a esta
temática, perfilam-se duas teorias14. A teoria contratualista defende que o interesse da sociedade não é
mais do que o interesse dos sócios enquanto tal, que realizaram as suas entradas e pretendem vê-las
remuneradas, de modo a que lhes seja distribuído o mais elevado lucro possível. Já a teoria
institucionalista advoga que o interesse social deve ser entendido como o interesse da própria sociedade,
como instituição que é, como empresa, devendo atender-se não só aos interesses dos seus sócios, mas
também aos dos trabalhadores.

Uma vez que procuramos a noção de interesse social para efeitos de determinação do dever de lealdade
que impende sobre os administradores, há que chamar à colação o art. 69º LSC que estatui que “os
administradores de uma sociedade devem actuar no interesse desta com a diligência de um gestor
criterioso e sem prejuízo dos interesses dos sócios e dos trabalhadores”. Ora, uma interpretação literal
deste preceito permite-nos concluir que o interesse social visado pelo legislador angolano acolheu a
teoria institucionalista, em detrimento da contratualista, porquanto identifica o interesse social com o
interesse da sociedade-instituição, matizado pelos interesses dos sócios e dos trabalhadores. O mesmo é
dizer que o critério para aferir do cumprimento do dever de lealdade por parte dos administradores deve
assentar no respeito pelo interesse da sociedade-instituição-empresa enquanto tal subjacente às suas
decisões.

Sem prejuízo do já referido, concordamos com COUTINHO DE ABREU15 quando ele advoga, em relação
à lei portuguesa, a inviabilidade de uma concepção unitária do interesse social. Na verdade, também a
LSC angolana não permite uma concepção única de interesse social, porquanto as disposições da LSC
relativas ao consentimento da sociedade para a transmissão das participações sociais, à supressão dos
direitos de preferência dos accionistas em razão do interesse social ou aos impedimentos de voto dos
sócios quando estejam em situação de conflito de interesses com a sociedade revelam uma concepção
de interesse social marcadamente contratualista.

Por último, o dever de diligência (business judgement rule) impõe ao administrador que actue como um
gestor criterioso. Segundo A. PEREIRA DE ALMEIDA16 este critério não se reconduz ao critério do bonus
pater familiae do direito civil, consistindo antes num critério próprio do direito das sociedades que
configura uma maior discricionariedade no exercício das competências de gestão e, por essa razão, é
mais exigente em relação ao administrador. Da nossa parte, preferimos dizer que o critério usado na LSC
é o critério do “bonus pater familiae dos administradores das sociedades” e que, por essa razão, se exige
ao administrador que actue como um administrador médio, medianamente diligente e sagaz, usando das

14 Para um maior desenvolvimento veja-se ABREU, J.M. COUTINHO DE, Curso de Direito Comercial – Vol II – Das
Sociedades, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2008, p. 288 e ss e ALMEIDA, A. PEREIRA DE, op. cit., p. 89 ess.
15 ABREU, J. M. COUTINHO DE, op. cit., p. 291 e ss.
16 ALMEIDA, A. PEREIRA DE, op. cit., p. 223 e 224.

10
competências técnicas que a sua profissão lhe impõe e com respeito pelas normas aplicáveis. É por
referência a esta bitola que se deverá avaliar, por exemplo, se existe justa causa para a destituição ou se
há lugar a responsabilidade civil do administrador.

Não pretendemos com isto sugerir que os tribunais devam aferir do mérito das decisões de gestão
tomadas pelo administrador. De todo. Simplesmente, quando os tribunais são chamados a aferir da
verificação dos pressupostos da responsabilidade civil, eles têm de avaliar se o administrador actuou com
a diligência e cuidado que razoavelmente lhe eram exigidos, tendo em conta o padrão do bonus pater
familiae dos administradores. Caso a sua decisão não possa considerar-se razoável face a este padrão
(reasonable decision making process e duty to a reasonable decision), então o dever de diligência deve
considerar-se violado.

Apesar de só o dever de diligência e o dever de lealdade resultarem expressamente do enunciado do art.


69º LSC, deve entender-se que o dever de cuidado se encontra aí implícito, porquanto ínsito ao conteúdo
nuclear das actividades de gestão de uma sociedade.

2.4. RESPONSABILIDADE CIVIL

A preterição dos deveres legais ou contratuais que impendem sobre os administradores no exercício das
suas funções poderá originar danos à sociedade, aos sócios e a terceiros (credores, trabalhadores,
clientes, fornecedores, etc.)17.

Pelos danos causados a terceiros pelos administradores no exercício das suas funções, responde a
sociedade objectivamente (art. 500º CC), como um comitente responde pelos actos do seu comissário
(contanto que o administrador tenha actuado com culpa, dolosa ou negligente, não tendo conseguido
afastar a presunção prevista no art. 77º, n.º 1 LSC). Nessa medida, qualquer cláusula inserida nos
estatutos de uma sociedade que limite ou exclua a responsabilidade dos administradores deverá ser
considerada nula (art. 79º, n.º 1 LSC).

Sem prejuízo da responsabilidade civil que recai sobre os administradores, e que analisaremos de
seguida com mais detalhe, a nossa lei prevê ainda que os seus comportamentos lesivos possam dar
origem a responsabilidade penal, em casos mais graves, tais como a falta de cobrança de entradas de
capital (art. 498º LSC), a aquisição ilícita de quotas ou acções (art. 499º LSC), a amortização ilícita de
quotas ou acções (arts. 500º, 501º e 502º LSC), a distribuição ilícita de bens da sociedade (art. 503º

17Para maior desenvolvimento deste tema, veja-se CORDEIRO, A. MENEZES DE, Da Responsabilidade dos
Administradores das Sociedades Comerciais, Lex, 1997, e, mais recentemente, RAMOS, MARIA ELISABETE
GOMES, “A responsabilidade de membros da administração”, in Problemas de Direito das Sociedades, IDET,
Almedina, Coimbra, 2003, p. 71 e ss.

11
LSC), o desrespeito pelas regras aplicáveis às assembleias gerais (arts. 504º, 505º, 506º, 507º, 508º,
509º e 510º LSC), entre outras.

Mas a nossa lei estabelece ainda que os administradores respondem civilmente perante a sociedade
pelos danos que a sua actividade lhes causar. Reportando-nos ao que dissemos no ponto 2.1., os
administradores celebram com a sociedade um contrato de prestação de serviços, pelo que os danos que
causem à sociedade no âmbito dessa prestação dão lugar a responsabilidade civil contratual, nos termos
previstos na LSC.

Assim, para que a responsabilidade contratual se efective, é necessário que se verifiquem os seus
pressupostos: (i) facto, (ii) ilicitude, (iii) culpa, (iv) dano e (v) nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Começando pelo (i) facto, este pode consistir numa acção ou omissão do administrador. A (ii) ilicitude
ocorre quando o administrador viola uma disposição da lei, dos estatutos, obrigações constantes da acta
da assembleia geral que o nomeou ou do contrato de administração que tenha celebrado com a
sociedade, obrigações inerentes às funções de administração (tais como a proibição de distribuição
fictícia de dividendos – arts 35º e 343º LSC –, falta de apresentação dos relatórios e contas anuais – art.
70º LSC -, prestação de falsas declarações quanto às entradas dos sócios em caso de aumento de
capital – art. 95º, n.º 3 LSC -, falta de cobrança das entradas de capital nas sociedades por quotas – 224º,
n.º 4 LSC -, inobservância do princípio da intangibilidade do capital social em caso, por exemplo, de
amortização de quotas – 260º LSC -, concorrência ilícita com a sociedade – art. 287º - ou abuso de
informações – art. 449º LSC) ou pratique faltas graves de gestão (não actuando como um gestor diligente
e criterioso actuaria, violando o dever de diligência previsto no art. 69º LSC). A (iii) culpa dos
administradores presume-se (cf. art. 77º, n.º 1, 1ª parte LSC), seguindo-se aqui a regra da
responsabilidade contratual prevista no CC, mas só atinge os administradores que tenham votado
favoravelmente os actos ilícitos constantes de decisões colegiais, e não aqueles que votaram vencidos
(art. 77º, n.º 2 LSC), abarcando ainda os administradores que faltaram ou não se opuseram à deliberação
ilícita (abstendo-se); ainda que o poder para praticar o acto tivesse sido delegado num administrador, os
demais respondem com base em culpa in vigilando (art. 77º, n.º 3 LSC). Sendo vários os administradores
responsáveis, a sua responsabilidade é solidária, havendo lugar a direito de regresso entre eles na
medida das suas culpas (art. 78º LSC). A conduta do administrador tem, ainda, de ter causado à
sociedade (iv) dano, aqui se englobando os danos emergentes e os lucros cessantes. Por último, há que
se verificar (v) um nexo de causalidade entre o facto e o dano, só respondendo o administrador pelos
danos que não se teriam verificado se não fosse a sua conduta ilícita (causalidade adequada).

Mas será que se a actuação do administrador se fundar em parecer do órgão de fiscalização ou em


deliberação da assembleia dos sócios, a sua culpa pode ser excluída? A nossa lei é, quanto à
operatividade de causas de exclusão de culpa, um tanto exigente. O art. 77º, n.º 5 LSC estatui que o facto
de a decisão ter sido influenciada por parecer do órgão de fiscalização não é bastante para excluir a

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culpa do administrador. Já no que respeita à decisão da administração que tenha por base uma
deliberação dos sócios, ela poderá fundamentar a exclusão da responsabilidade do administrador, nos
termos do art. 77º, n.º 4 LSC18. Mas, quanto a este artigo, há que fazer dois reparos. Em primeiro lugar, e
como resulta da interpretação literal do preceito, só as deliberações válidas ou anuláveis da assembleia
geral justificam a exclusão da responsabilidade do administrador (e não assim as feridas de nulidade,
uma vez que a administração não lhes deve obediência). Em segundo lugar, e não obstante o preceito
fazer referência a administradores (das sociedades anónimas) e a gerentes (das demais sociedades),
somos da opinião, acompanhando A. PEREIRA DE ALMEIDA19, que nas sociedades anónimas, em que
as competências de gestão da sociedade radicam quase exclusivamente na administração (cf. art. 425º,
n.º 1, al. b) LSC), a responsabilidade dos administradores só deve ser excluída nos casos em que eles
devessem obediência à deliberação dos sócios, devendo proceder-se a uma interpretação restritiva do
art. 77º, n.º 4 LSC; já nas sociedades por quotas, em que muitas competências de gestão radicam na
assembleia geral (art. 282º LSC) e os gerentes devem proceder em conformidade com as deliberações
dela emanadas, essa causa de exclusão da culpa é válida. Segundo A. PEREIRA DE ALMEIDA20, a
responsabilidade também não deve ser excluída se o acto do administrador tiver sido praticado após a
suspensão ou anulação da deliberação dos sócios.

De modo a efectivar a responsabilidade civil dos administradores pelos danos causados à sociedade, a
lei prevê três tipos de acções sociais21 (assim designadas porque são utilizadas para o ressarcimento dos
danos causados directamente à sociedade), a saber, a acção social uti universi, a acção social uti singuli
e a acção sub-rogatória dos credores sociais. Vejamos, sumariamente, em que condições cada uma
delas pode ser intentada, verificados os pressupostos da responsabilidade civil dos administradores
elencados acima.

A acção social uti universi pressupõe uma deliberação da assembleia geral, que deverá ser aprovada por
maioria simples (art. 80º, n.º 1 LSC), estando impedidos de votar os sócios que sejam também
administradores da sociedade em relação a acções que devam ser propostas contra si (art. 80º, n.º 3
LSC), uma vez que em relação a eles se verifica uma situação de conflito de interesses com a sociedade.
A acção deverá ser intentada no prazo de seis meses a contar da aprovação da deliberação pelos sócios
(art. 80º, n.º 1 LSC). Aprovada a deliberação, devem os demais administradores, no âmbito do exercício
das suas funções de representação da sociedade e em obediência à decisão dos sócios, intentar a
referida acção contra o administrador visado. Poderá dar-se o caso de esses administradores não se

18 O diploma da LSC publicado no Diário da República contém uma grelha no art. 77º, n.º 4, pelo que deve ler-se: “O
parecer favorável ou consentimento do órgão de fiscalização não isentam de responsabilidade os gerentes ou
administradores”.
19 ALMEIDA, A. PEREIRA DE, op. cit., p. 247 e 248.
20 Idem.
21 Seguimos de perto ALMEIDA, A. PEREIRA DE, op. cit., p. 249 e ss. Veja-se ainda ABREU, J.M. COUTINHO DE,

Responsabilidade Civil dos Administradores das Sociedades, p. 59 e ss.

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sentirem muito confortáveis em intentar a acção de responsabilidade civil contra um dos seus pares, pelo
que a lei prevê que possam ser designados representantes especiais para o efeito, quer logo na
deliberação (art. 80º, n.º 1, última parte LSC), quer posteriormente, a requerimento dos sócios que
detenham pelo menos dez por cento do capital social (art. 81º, n.º 1 LSC).

A acção social uti singuli deverá ser utilizada quando a sociedade não accione judicialmente um
administrador, não obstante a verificação dos requisitos da responsabilidade civil. Então, de modo a
ultrapassar esta inércia da sociedade (o que poderá ser muito útil, por exemplo, quando o administrador
em causa for também o sócio que detenha a maioria absoluta dos votos correspondentes ao capital da
sociedade), podem os sócios intentar a acção prevista no art. 82º LSC. Esta acção, que tem carácter
subsidiário face à acção social uti universi, pode ser intentada por sócios que detenham participações
sociais correspondentes a pelo menos dez por cento do capital social. Os sócios aparecem assim como
autores da acção, reclamando judicialmente que a sociedade (e não eles próprios) seja indemnizada
pelos prejuízos que a actuação dos administradores lhe causou; a sociedade será chamada a juízo para
se associar à posição dos autores (art. 82º, n.º 4 LSC).

A acção sub-rogatória dos credores sociais está prevista no art. 83º, n.º 2 LSC, devendo ser utilizada
naqueles casos em que nem os administradores nem os sócios tomam a iniciativa de accionar
judicialmente os administradores que causaram danos à sociedade. Assim, permite-se aos credores
intentarem uma acção sub-rogatória para exigirem dos administradores a indemnização que cabe à
sociedade. Refira-se que esta acção social dos credores é distinta da acção pessoal dos credores
prevista no art. 83º, n.º 1 LSC, que veremos de seguida.

Atentemos agora na responsabilidade dos administradores pelos danos que causem aos credores
sociais, pelo exercício das suas funções de gestão. Uma vez que entre os administradores da sociedade
e os credores não existe qualquer relação contratual, os danos sofridos pelos credores deverão ser
ressarcidos em sede de responsabilidade extracontratual ou aquiliana. Deste modo, a ilicitude da conduta
dos administradores funda-se no desrespeito pelas obrigações legais ou estatutárias que visam a
protecção do interesse dos credores e que cabe aos administradores fazer respeitar no exercício das
suas funções. Esta acção pressupõe que, nos termos do art. 83º, n.º 1 LSC, os credores façam prova de
que os administradores actuaram com culpa e que o património social se tornou insuficiente para a
satisfação dos respectivos créditos, tornando o ónus da prova mais dificultado para os credores. De
acordo com o previsto no art. 83º, n.º 3 LSC, a responsabilidade dos administradores não pode aqui ser
excluída por renúncia, transacção ou porque o facto ilícito por eles praticado assentou numa deliberação
dos sócios.

Por último, os administradores respondem ainda pelos danos que a sua actuação cause aos sócios ou a
terceiros, de acordo com o art. 84º LSC. Também aqui não existe qualquer relação contratual entre os

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administradores e os sócios ou terceiros, pelo que a responsabilidade civil a que a conduta daqueles dá
origem é aquiliana. A ilicitude da conduta dos administradores pode assentar, por exemplo, no facto de
eles não notificarem os sócios para o exercício de um direito de preferência de que sejam titulares (em
caso de venda de quotas ou de acções ou no caso de aumento do capital social) ou recusarem
injustificadamente a prestação de informação ou fornecerem informação falsa que cause prejuízo aos
sócios (art. 507º e 508º LSC). O ónus da prova da culpa dos administradores cabe aos sócios ou
terceiros e os danos causados devem sê-lo directamente na esfera jurídica dos sócios ou terceiros (e não
na da sociedade, afectando os sócios apenas indirectamente). Uma nota no que respeita à norma
remissiva do art. 84º, n.º 2 LSC, na qual acompanhamos A. PEREIRA DE ALMEIDA22, para dizer que a
remissão para o art. 77º, n.º 4 LSC não faz muito sentido, uma vez que sendo esta uma acção pessoal,
não se deve admitir a exclusão da responsabilidade dos administradores pelo simples facto de terem
actuado com base numa deliberação dos sócios, quando as normas destinadas à protecção dos sócios
ou de terceiros tenham carácter imperativo.

Para finalizar, importa ainda referir que a responsabilidade civil dos administradores se extingue através
de prescrição ou de renúncia. A prescrição de cinco anos, a contar ou do termo da conduta dolosa ou da
data da sua revelação ou da data de produção do dano, encontra-se prevista no art. 175º LSC. Por seu
lado, o art. 79º, n.º 5 LSC prevê ainda que a sociedade possa renunciar ou transigir em relação à
indemnização que lhe seja devida pelos administradores, desde que assente em deliberação dos sócios
nesse sentido que tenha sido aprovada por três quartos dos votos correspondentes ao capital social (na
qual estão, obviamente, impedidos de votar os administradores que sejam sócios e contra quem a acção
deva ser instaurada).

3. OS ADMINISTRADORES DE FACTO

3.1. NOÇÃO

COUTINHO DE ABREU23 define administradores de facto como “quem, sem título bastante, exerce,
directa ou indirectamente e de modo autónomo (não subordinadamente) funções próprias de
administrador de direito na sociedade”.

Nesta noção ampla, segundo o autor, seriam abarcados, por um lado, os administradores de facto em
sentido estrito (de facto directors) e, por outro lado, os administradores na sombra (shadow directors). Os
administradores de facto, em sentido estrito, seriam aqueles que se apresentam perante terceiros como
administradores da sociedade, aqui se incluindo os administradores nomeados por deliberação ferida de

22 ALMEIDA, A. PEREIRA, op. cit. , p. 260. Veja-se ainda quanto a esta temática ABREU, J. M. COUTINHO DE e
ELISABETE RAMOS, “Responsabilidade Civil dos Administradores e dos Sócios Controladores” in Miscelâneas n.º
3, IDET, Almedina, Coimbra, 2004.
23 ABREU, J. M. COUTINHO DE, A Responsabilidade Civil dos Administradores das Sociedades, p. 99.

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nulidade, os administradores cujo título caducou por falta de pagamento da caução devida, os que
actuem como administradores ainda antes de se proceder à sua eleição formal e os directores, gerentes
de comércio ou procuradores que actuem como se fossem verdadeiros administradores. Os
administradores na sombra seriam aqueles indivíduos que, apesar de não se apresentarem publicamente
como administradores (em virtude de não poderem exercer o cargo, em razão de qualquer
incompatibilidade que se lhes imponha), têm o poder de dar instruções aos administradores da
sociedade, dirigindo a sua actividade.

Reportando-nos à introdução deste artigo e às situações que indicamos serem frequentes na nossa
praça, poderemos dizer que no caso (i) do cidadão estrangeiro que não quer ou não pode ser nomeado
administrador de uma sociedade até que tenha obtido visto de trabalho, não obstante dar instruções
claras ao administrador de direito validamente nomeado, deverá ser considerado um administrador na
sombra, uma vez que o seu exercício de funções de gestão ocorre de modo indirecto, não aparecendo
ele a actuar como administrador perante terceiros. Já no caso do (ii) procurador a quem são atribuídos
poderes genéricos de gestão corrente da sociedade e da prática de todos os actos necessários a esse
fim, parece-nos que, uma vez que se apresenta perante terceiros como se de um verdadeiro
administrador se tratasse, deve ser classificado como um administrador de facto em sentido estrito.

No que concerne às funções exercidas pelos administradores de facto, diga-se que, em nosso entender,
elas abrangem tanto as funções de gestão como as funções de representação24. No caso indicado em (i)
supra, o administrador na sombra apenas exerce funções de gestão da sociedade, mas já no caso
indicado em (ii) supra o administrador de facto em sentido estrito não só exerce funções de gestão como
também exerce funções de representação. Se não, vejamos. Os arts. 281º, n.º 5 e 411º, n.º 3 LSC
apenas autorizam que a administração delegue poderes de representação da sociedade em mandatários
ou procuradores para a prática de actos concretos ou de certas categorias de actos. Ora, a procuração
através da qual a administração confere poderes de representação genéricos aos procuradores ou
mandatários vai, claramente, para além dos limites impostos por aquelas disposições legais, devendo,
por isso, considerar-se ferida de nulidade na medida em que viola normas legais imperativas. Se assim é,
os actos de representação da sociedade praticados pelo procurador ou mandatário não podem
considerar-se englobados no âmbito desse mandato devendo, ao invés, ser tidos como o exercício de
funções de administração por administradores de facto em sentido estrito.

3.2. VINCULAÇÃO DA SOCIEDADE PELOS ACTOS PRATICADOS PELOS ADMINISTRADORES DE


FACTO

24 Contrariamente, ABREU, J.M. COUTINHO DE, op. cit., p. 99, notas 188 e 189, que entende que os
administradores de facto apenas exercem funções de gestão, actuando como procuradores da sociedade quando
intervêm em representação desta.

16
No que tange aos administradores na sombra, não restam dúvidas de que os actos por eles praticados,
na medida em que o são por intermédio dos administradores de direito, vinculam a sociedade. A questão
coloca-se, assim, em relação aos actos praticados pelos administradores de facto em sentido estrito que,
como vimos, exercem funções de gestão ou de representação da sociedade, actuando directamente
perante terceiros.

E a questão coloca-se: será que os actos praticados por estes falsos administradores, que actuam,
muitas vezes, com base em procurações que lhes atribuem poderes de gestão ou de representação da
sociedade que a lei não consente, vinculam a sociedade?

O art. 283º LSC relativo à vinculação das sociedades por quotas e o art. 428º referente à vinculação das
sociedades anónimas não nos dão uma resposta clara a esta questão. Não obstante, o art. 283º, n.º 2
LSC, à semelhança do art. 428º, n.º 2 LSC, refere que a sociedade pode opor a terceiros as limitações
que resultem do seu objecto social, se provar que o terceiro sabia ou não podia ignorar que o acto
praticado não respeitava essas limitações. Ora, se o objecto social vem configurado nos estatutos da
sociedade e a sociedade pode afastar a vinculação provando que o terceiro o conhecia (ainda que para
tal não baste invocar a publicação dos estatutos no Diário da República, conforme art. 283º, n.º 3 e 428º,
n.º 3 LSC), não será de defender que os limites à delegação de funções de administração e de
representação da sociedade também deveriam ser conhecidos por terceiros uma vez que se encontram
previstos na LSC e afastariam a vinculação da sociedade? Lembremo-nos da velha máxima ignorantia
legis non excusat…

Pensamos que tal argumento não é suficiente. Assim, e de modo a tomarmos posição quanto a este
assunto, há que proceder à ponderação dos interesses em presença. Temos, por um lado, os interesses
do terceiro que acreditou que a procuração apresentada pelo administrador de facto em sentido estrito
(com assinatura reconhecida notarialmente, na maioria dos casos) configurava uma delegação de
poderes válida e era suficiente para vincular a sociedade. Por outro lado, temos o interesse da sociedade
(que aqui seria tomado na acepção contratualista, reconduzindo-se ao interesse dos sócios) que teria ou
não interesse em não se vincular a actos de alguém que não foi validamente eleito para a administração
da sociedade (pode inclusivamente não ter as competências que os sócios entendam ser necessárias ao
desempenho do cargo) e cuja actuação pode não ter sido empreendida com a anuência dos sócios. E,
por último, temos o interesse do Estado que, por um lado, pretende assegurar a observância e o
cumprimento das suas leis e, ao mesmo tempo, com a necessidade de “legalizar” os actos societários
irregulares na medida em que tal seja necessário para proteger os terceiros que negoceiam com a
sociedade.

Atentos os interesses acima descritos e considerando a realidade da nossa prática jurídica, estamos em
crer dever aceitar-se que os actos praticados pelos administradores de facto em sentido estrito vinculam

17
a sociedade. E isto porque a protecção dos interesses de terceiros e do público em geral deve, em nossa
opinião, merecer primazia, só assim se conseguindo a estabilidade social necessária ao desenvolvimento
da nossa sociedade. É que, se assim não fosse, estar-se-ia a abrir caminho para que a administração
procedesse ainda a mais delegações irregulares de poderes de gestão e de representação, por saber
que, a posteriori, poderia prevalecer-se dessas mesmas irregularidades para se desvincular dos actos
praticados pelos administradores de facto em sentido estrito. E não é isso, de todo, o que pretendemos.

3.3. EXTENSÃO DOS DEVERES E DO REGIME DE RESPONSABILIDADE CIVIL DOS


ADMINISTRADORES DE DIREITO AOS ADMINISTRADORES DE FACTO

Vimos acima que os administradores de direito estão sujeitos a um conjunto de deveres no exercício das
suas funções de gestão. Atendendo a que os administradores de facto, aqui entendidos em sentido
amplo, exercem funções de gestão e de representação da sociedade como se de verdadeiros
administradores se tratassem, somos da opinião que a sua actuação, para efeitos da responsabilidade
civil a que possa dar origem, deve ser aferida em relação ao cumprimento desses deveres.

Assim, entendemos que os administradores de facto estão vinculados a cumprir as obrigações que, por
força da lei, do contrato de sociedade ou das deliberações dos sócios, impendem sobre os
administradores de direito. Mais, a sua actuação em geral deve ser pautada pelos deveres de cuidado, de
lealdade e de diligência que acima indicámos.

Estendendo os deveres dos administradores de direito aos administradores de facto, fará todo o sentido
que se estenda também a estes últimos o regime de responsabilidade civil que àqueles é aplicável.
Porém, importa avaliar o tipo de responsabilidade que está aqui em causa.

No que concerne à responsabilidade dos administradores de facto perante a sociedade, importa distinguir
duas situações. Se os administradores de facto em sentido estrito actuarem com base num mandato,
ainda que contenha cláusulas feridas de nulidade por ultrapassarem os limites legais da delegação de
poderes de gestão e de representação, pensamos que não haverá dúvidas de que a sua
responsabilidade é contratual. Já no caso dos administradores de facto em sentido estrito que actuam
sem qualquer mandato ou procuração e no caso dos administradores na sombra, a determinação do tipo
de responsabilidade aqui em causa afigura-se mais complexa. É que, em bom rigor, as disposições dos
arts. 77º, 82º e 83º, n.º 2 LSC pressupõem uma relação contratual (que, no caso dos administradores de
direito resulta, como vimos, do contrato de administração).

18
COUTINHO DE ABREU25 defende, abraçando uma perspectiva funcional, que a simples razão de os
administradores de facto exercerem as mesmas funções que os administradores de direito é suficiente
para se estender o regime da responsabilidade daqueles a estes.

Em nosso entender, valerá mais lançar mão do art. 85º LSC que, sob a epígrafe “responsabilidade de
outras pessoas com funções de administração”, estatui que “as disposições respeitantes à
responsabilidade dos gerentes e administradores aplicam-se a outras pessoas a quem sejam confiadas
funções de administração”26. Uma interpretação literal deste preceito permite, em nossa opinião, concluir
pela aplicação directa do regime jurídico da responsabilidade dos administradores (civil e penal, prevista
na LSC) aos administradores de facto.

COUTINHO DE ABREU afasta a aplicação do art. 85º LSC por considerar que não se pode dizer que os
administradores na sombra e os administradores de facto em sentido estrito sem qualquer título possam
ser considerados “pessoas a quem foram confiadas funções de administração”, pelo que a aplicação
desta disposição só faria sentido em relação aos mandatários ou procuradores a quem tivessem sido
conferidos poderes para além dos limites legais impostos à delegação ou a administradores cujo acto de
nomeação fosse nulo ou tivesse caducado.

Em nosso entender tal argumentação não procede, pelas razões que passamos a expor. Na verdade,
tanto os administradores na sombra como os administradores de facto em sentido estrito, que actuam
sem nomeação (inválida ou caduca) ou procuração, actuam com a anuência dos sócios ou dos
administradores de direito da sociedade, razão pela qual deve entender-se que as funções que
desempenham lhes foram confiadas. È exactamente essa confiança que justifica que um administrador
de direito siga as instruções do administrador na sombra e actue nessa conformidade, não as
contestando porque reconhece aquele como verdadeiro administrador da sociedade; é também essa
confiança que justifica que os sócios aceitem que alguém actue como administrador da sociedade ainda
que não tenha título (por, por exemplo, ser filho de um administrador falecido e ter começado a exercer as
tarefas do pai após a sua morte). Parece-nos que, a não existir essa confiança, plasmada na anuência
dos sócios e/ou administradores da sociedade, não estaríamos perante um administrador de facto mas
perante um usurpador de funções, cuja actuação já poderia ser posta em causa pela sociedade
(designadamente, contestando a sua vinculação aos actos por ele praticados) e passível de outro tipo de
sanções penais, que não as previstas na LSC.

4. CONCLUSÃO

25ABREU, J.M. COUTINHO DE, op. cit., p. 102.


26No mesmo sentido, RAMOS, M. ELIZABETE, Responsabilidade Civil dos Administradores e Directores das
Sociedades Anónimas perante os Credores Sociais, Coimbra Editora, Coimbra, 2002, p. 180 e ss.

19
À guisa de conclusão, e de forma breve, diremos apenas que o actual regime jurídico angolano assegura
a responsabilidade civil (e penal) dos administradores de facto pelos actos que praticam em nome e por
conta da sociedade, na medida em que estende o regime da responsabilidade dos administradores de
direito aos administradores de facto.

A nossa LSC comporta mecanismos jurídicos suficientes que podem ser accionados pelos co-
administradores, sócios e credores da sociedade, permitindo-lhes obter o ressarcimento judicial dos
danos causados pelos administradores de facto.

Devem por isso os administradores de facto ter presente que, ao actuarem como tal, não se eximem do
cumprimento das obrigações legais e estatutárias que impendem sobre os administradores de direito, e
as sociedades estar bem cientes de que os actos praticados pelos administradores de facto as vinculam
em toda a sua plenitude.

20

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