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1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 HISTÓRIA DO BACHARELADO NA EDUCAÇÃO

A história do bacharelado no Brasil se constrói em meio a implementação do ensino


superior no pais com a chegada da Família Real em 1808. Foi nesse contexto, que o Brasil
experimentou de maneira radical mudanças para que a sua então capital Rio de Janeiro
recebesse a corte real e assim formasse uma sociedade que pudesse acolher o Império
Português e oferecer profissionais que pudessem ocupar os mais variados cardos junto a corte.
Apesar dessas mudanças, a história remonta que o ensino superior no país ocorreu de
forma tardia em relação aos demais os países latino-americanos, e principalmente ao contexto
europeu. Cabe ressaltar que as primeiras escolas de nível superior criadas na América Latina
são datadas entre os séculos XVI e XVII, enquanto no Brasil as primeiras instituições de
ensino superior (IES) foram instituídas somente no início do século XIX, com a chegada da
corte portuguesa (FERNANDES, 2017).
No contexto de Brasil Colônia pode-se mencionar que alguns cursos de nível
superior foram criados ou implantados entre 1808 e 1822, com o objetivo de suprir a
necessidade da Corte Real, pois se temia os movimentos independentistas. Dentre os cursos
pode-se citar, direito, medicina e engenharia que eram ministrados pelos docentes
universitários que vieram com a Família Real (DAS NEVES SILVA, 2016).
Dessa forma, cabe mencionar que somente em 1827 com o Decreto Imperial de Dom
Pedro I foi que a educação superior foi oficializada no Brasil sendo disseminada em São
Paulo e Olinda. A Lei de 11 de agosto de 1827 criada pela Vossa Majestade Imperial por
meio do Decreto da Assembleia Geral Legislativa sanciona a criação de dois cursos jurídicos
e sociais, um na Cidade de São Paulo, e outro na de Olinda composta da seguinte grade
(Quadro 1).
Quadro 1 – Grade formativa dos cursos jurídicos e sociais Lei de 11 de agosto de 1827
Ano Matérias
1ª Cadeira. Direito natural, público, Análise de Constituição do
1° Ano
Império, Direito das gentes, e diplomacia.
2° Ano 1ª Cadeira. Continuação das matérias do ano antecedente.
2ª Cadeira. Direito público eclesiástico.
3° Ano 1ª Cadeira. Direito pátrio civil.
2ª Cadeira. Direito pátrio criminal com a teoria do processo criminal.
4° Ano 1ª Cadeira. Continuação do direito pátrio civil.
2ª Cadeira. Direito mercantil e marítimo.
5° Ano 1ª Cadeira. Economia política.
2ª Cadeira. Teoria e pratica do processo adoptado pelas leis do Império.
Fonte: BRASIL (1827)
Entretanto, a formação superior se dava distribuída pelos seguintes cursos de acordo
com o quadro 2.
Quadro 2 – Cursos de nível superior (Bacharel) ofertado no Brasil Colônia/Império
Curso Ano
Cirurgia 1808
Cirurgia e Anatomia 1808
Academia Real da Marinha e Real Militar 1810
Escola de Agricultura 1512
Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios 1816
Química 1817
Desenho Industrial 1818
Jurídicos 1819
Juristas, Médicos e Engenheiros 1889
Faculdade de Filosofia 1908
Fonte: FERRREIRA JUNIOR (2010)
Conforme se observa no quadro 2 a implementação desses primeiros cursos marca o
início do ensino superior no Brasil e pode também ser considerado como os primeiros passos
para a implementação ou formação de bacharéis no país criando assim um contexto
universitário na região.
Entretanto, cabe frisar que esses cursos não tinham cunho formativo pedagógico,
pois não visava formar docentes, serviam apenas para a instrução da elite imperial. O ensino
não seguia os modernos moldes europeus como ocorria com a coroa espanhola que já tinham
o intuito de criar universidades em suas colônias pela América do Sul com cerca de 26 a 27
instituições na época, enquanto Portugal se limitava aos colégios reais jesuítas e reservava s
colônia as Universidades Metropolitanas de Coimbra e Évora (FERNANDES, 2017).
Cabe ainda mencionar que no final do Império, existiam no Brasil pouco mais que
seis instituições de nível superior (Juristas, Médicos e Engenheiros). Entretanto, em 1900
pode-se notar um quantitativo de 24 ou mais escolas de formação superior no país com um
crescente de centena de instituições nas décadas seguintes, principalmente no setor privado
por meio das iniciativas da Igreja Católica que as utilizavam para garimpar aqueles que
desejavam seguir a fé por meio da Ordem religiosa.
Esse cenário formativo veio sofrer mudanças somente no período da República
Velha, quando o país passou vislumbrar o ensino a partir dos moldes alemães, franceses e
norte-americano criando suas primeiras universidades voltadas não mais para corte real, mas
para suprir as necessidades básicas de assistência social a população revertendo assim
investimento as universidades (PEREIRA; DA SILVA VITORINI, 2019).
Seguindo essa linha cronológica pode-se ainda observar esse processo do ensino
superior no Brasil da seguinte maneira caracterizado como um aglomerado de instituições
isoladas que não estavam alinhadas ao sistema de ensino superior da época e que se voltava
unicamente para a formação profissionalizante sem linha formativa de investigação cientifica
e laços acadêmicos até o surgimento das primeiras universidades em meados dos anos de
1930. (Quadro 3).
Quadro 3 – Universidades, Faculdades e Instituto de Ensino Superior no Brasil 1930 a 2000
Instituições/Implementos Ano
Universidade de São Paulo (USP) 1934
Universidade do Distrito Federal (UDF) 1935
Universidade do Rio de Janeiro 1935
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) 1940
Dezoito Instituto de Ensino Superior Públicas 1946-1960
Dez Instituto de Ensino Superior 1946-1960
Universidades Federais (públicas e gratuitas) 1960-1965
Reforma Universitária (pós-graduação - stricto sensu mestrado e 1968
doutorado)
Instituições Particulares 1969
Universidades Federais e Estaduais (públicas e gratuitas) 1970-1980
Universidades Privadas 1970-1980
Consolidação de um sistema complexo e diversificado de IES 1980-1990
públicas (federais, estaduais e municipais) e privadas
(confessionais, particulares, comunitárias e filantrópicas)
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 1998
Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede)  2000
Fonte: FERRREIRA JUNIOR (2010)
A partir da criação das primeiras universidades em meados dos anos de 1930 como
mostra o quadro 3 acima, nota-se que o ensino superior no Brasil passar a ter nova conotação,
agora com um cunho voltado para a formação acadêmica e pesquisas, ampliando a formação
acadêmica para um número cada vez maior estudante que buscam formação de nível superior
tanto nas licenciaturas, quanto no bacharelado ofertado pelas instituições criadas nesse
período de 1930 a 1935.
Dentre as legislações que fundamentam o ensino superior e a formação docente cabe
frisar o Decretos 19.851, de 11 de abril de 1931 que estabelece o Estatuto das Universidades
Brasileiras que dispõe sobre a organização do ensino superior instituindo o regime
universitário, eleva para o nível superior a formação de professores secundários. Por esse
decreto o ensino superior deveria ser ministrado na universidade a partir da criação de uma
Faculdade de Educação Ciências e Letras, onde deveriam ser formados os professores
secundários.
Entretanto, cabe ressaltar que entre 1946 e 1960 o ensino superior tanto público,
quanto privado se voltada para formar profissionais para suprir a demanda do surto de
industrialização que o mundo vivenciava com o pós-guerra, levando o governo brasileiro a
iniciar a construção de uma rede de universidades federais, públicas e gratuitas, em meados da
década de 1960 para sustentar o processo de desenvolvimento econômico que o Brasil
passava atingindo cerca de 352 mil estudantes.
Dessa forma, ao Conselho Federal de Educação, criado pela LDB 4.024/61, caberia
uma série de atribuições que estabeleceu, através do Parecer 292/62, os componentes
curriculares para as licenciaturas e o bacharelado instituindo graus distintos, conforme as
disciplinas comuns. De maneira que o licenciado reuni conhecimento das matérias de
conteúdo para formação profissional e de matérias pedagógicas comuns a todos. O Bacharel
reuni as disciplinas dos saberes científicos. Sendo assim, se fosse inicialmente bacharel, a
extensão se faria no âmbito das disciplinas pedagógicas; caso fosse licenciado, no
aprofundamento das disciplinas científicas (GIACOMONI, et al., 2021).
Nessa perspectiva, cabe mencionar que a atuação do docente bacharel ocorre muitas
vezes para resolver o problema da falta de professores. Nos anos 60, para minimizar essa
problemática foi criado a Faculdade de Educação, que passou a assumir a formação
pedagógica dos professores. As universidades federais foram posteriormente adotando essa
solução em sua reestruturação, por meio dos Decretos-leis nº 53/66 e 252/67, que,
posteriormente, também foi incorporada pela Lei da Reforma Universitária 5.540/68
(FERREIRA JUNIOR, 2010).
Mesmo em meio ao período militar que o Brasil vivenciou entre 1964 a 1985, o
ensino superior público no país continuava em expansão para atender os projetos
desenvolvimentistas dos governos militares baseado na internacionalização da economia, no
qual as instituições de ensino passaram a ter uma busca por parte dos setores médios urbanos,
que visavam a obtenção de um diploma de ensino superior.
Nesse período, cabe destacar o movimento estudantil para a realização de pesquisa
no interior das universidades alinhadas às necessidades do desenvolvimento brasileiro. Nesse
sentido cabe mencionar a Reforma Universitária de 1968, que elevou o nível de
especialização dos profissionais por meio dos programas de pós-graduação stricto sensu
(mestrado e doutorado) tendo como direcionamento aumentar o potencial científico
tecnológico nacional e a política de formação de recursos humanos incumbindo as
universidades a função do ensino, da pesquisa e da extensão (DAS NEVES SILVA, 2016).
Essa nova conjuntura das universidades se organizou em departamentos, e instituiu o
regime semestral e o sistema de créditos, estabelecendo assim, uma progressão na carreira
acadêmica dos professores que passaram a ter a obrigatoriedade do título de mestre e de
doutor para atuar no ensino superior e formar os novos profissionais tantos, licenciados
quanto bacharéis.
Assim, como princípio orientador das políticas de ensino superior nas décadas de
1970 e 1980 pode-se mencionar o papel do poder público (Ministério da Educação – MEC) e
o Conselho Federal de Educação (CFE) que passam a reger o ensino conforme as legislações.
Essa estrutura do sistema de ensino superior foi posteriormente formalizada na Constituição
Federal de 1988 conforme o Artigo 206 e normatizada na Lei Nacional de Diretrizes e Bases
de 1996 (FERREIRA JUNIOR, 2010).
Quanto a formação docente dos bacharéis, nota-se que o curso superior do
bacharelado não apresentava uma grade curricular que contemplava esse profissional a
exercer a docência tendo em vista que sua formação era composta pelas disciplinas dos
saberes científicos lhe faltando as disciplinas pedagógicas que lhe habilita a desenvolver a
docência.
Todavia, Monteiro et al.; (2020) aponta que se deve considerar o fato que a formação
docente permeia diversos caminhos que pode ser pelo conhecimento específico ou pela
própria docência, pois a formação dos bacharéis que estão professores apresenta
conhecimentos específicos para determinada prática profissionais que não pode ser ensino por
outro profissional que não detém esse saber.
Dessa forma, os docentes bacharéis mesmo não tendo em sua formação inicial os
conhecimentos educacionais e pedagógicos para o fazer docente, tem buscado na pós-
graduação, mestrado em educação esse complemento visando agregar a sua formação uma
melhor qualificação no desenvolvimento das práticas docentes no Ensino Superior
(FERREIRA JUNIOR, 2010).
Ao considerar a Resolução nº. 12/1983 que aponta que a qualificação docente para o
magistério superior do Sistema Federal de Ensino será realizada por meio de cursos de
especialização e aperfeiçoamento, nota-se que não houve uma prévia preocupação em
regulamentar a formação docente para a educação superior, principalmente no que diz
respeito aos bacharéis que estão docentes. Nesse sentido, a qualificação seria o termo que
habilitaria uma pessoa condições de exercer determinado cargo específico, não sendo
necessário uma formação integral, mas que venha a atender às necessidades formativas
daquele determinado cargo (BARROS; DIAS; CABRAL, 2019).
Cabe ressaltar que existe uma preocupação com relação ao processo formativo e da
prática pedagógica para os professores bacharéis, pois ao considerar que durante sua formação
acadêmica não tem uma aproximação com os conteúdos pedagógicos, posterior os mesmos
sentirão a necessidade de formação continuada para que suas as práticas docentes não sejam
fundamentadas em suas crenças e conhecimentos e sim consolidadas no exercício docente.

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