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6º ano (EF06HI07) Identificar aspectos e formas de registro das sociedades antigas


na África, no Oriente Médio e nas Américas, distinguindo alguns significados presentes
na cultura material e na tradição oral dessas sociedades.
A AGRICULTURA FENÍCIA E SEUS PRODUTOS

A Fenícia era, inicialmente, ocupada por povos


semíticos, os cananeus. Foi no terceiro e no segundo
milênios a.C. que eles se organizaram em pequenas
cidades-estados que mantinham estreitas relações
políticas e culturais com grandes potências como a
Síria, a Mesopotâmia e o Egito. No século XII a.C., o
equilíbrio político do Oriente Próximo foi perturbado
pela progressiva deterioração da organização
socioeconômica e pela migração de populações de
origens diversas, os povos do mar. A terra de Canaã
foi fragmentada e dividida em estados nacionais,
entre os quais a “nação” fenícia.

A civilização fenícia, portanto, mergulha suas


raízes no vasto mundo cultural do Oriente Próximo: dele, herda aspectos
significativos, recupera e transforma alguns de seus elementos, mas,
fundamentalmente, perpetua sua tradição, inclusive no curso do primeiro milênio,
que trouxe tantas inovações. Muito provavelmente, isso ocorreu também com a
alimentação. Infelizmente, temos pouquíssimas informações diretas a esse
respeito. As fontes literárias sírias, assírias, egípcias, hebraicas e gregas trazem
informações muito incompletas, uma vez que descrevem, sobretudo, cerimônias
rituais ou banquetes reais. Embora essas refeições sejam excepcionais, dão,
entretanto, uma ideia do que poderia ter sido o repertório alimentar dos habitantes
dessa região.

Os fenícios ocupavam uma estreita faixa de terra entre o mar e as cadeias de


montanhas do Líbano e Antilíbano, onde as áreas cultiváveis eram férteis, mas
pouco extensas.
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Os cereais

[...]

Em Ugarit, cidade da Síria destruída pelos povos do mar e dos quais a


Fenícia é a mais próxima herdeira cultural, consomem-se muitos cereais,
principalmente espelta, trigo ( Triticum monococcum) e cevada.

[...] Apesar da fertilidade de seu solo, a Fenícia não era capaz de suprir
suas próprias necessidades, devido à grande densidade demográfica e à falta de
terras disponíveis para as culturas agrícolas extensivas.

Os cereais são consumidos sob forma de cozidos — como em todo o


Oriente Próximo desde a pré-história —, de pães e de bolachas de trigo de vários
tipos. A difusão desses alimentos nas regiões vizinhas à Fenícia, em particular em
Ugarit, é comprovada por uma abundante terminologia relativa aos diversos
“cozidos de cereais e de pães”, e os herdeiros dos fenícios no Ocidente — ou
seja, os cartagineses — ainda comem, na era romana, cozidos de farinha, pão e
bolos de trigo de tradição oriental. [...]

Os legumes

Esta alimentação à base de cereais era complementada por


leguminosas como ervilhas verdes, lentilhas, grão-de-bico ou favas, das quais os
fenícios consumiam várias partes (vagens, grãos e folhas) quando não as
transformavam em farinha.

A esse respeito, podemos obter informações sobre a Fenícia a partir de


fontes escritas que se referem a outras partes da região sírio-palestina,
principalmente os textos econômicos de Ugarit e a Bíblia. Com efeito, vários
registros de distribuição de rações alimentares de Ugarit mencionam lentilhas.

A Fenícia parece ter sido uma grande consumidora de legumes. Os


textos de Ugarit mencionam, com efeito, hortas e pomares, enquanto a Bíblia faz
referência a hortas bem cuidadas na Palestina. Além disso, devido às
características geomorfológicas da costa sírio-palestina, e em particular da
Fenícia, a cultura de frutas, legumes e arbustos devia ser fácil. [...]
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O óleo

Desde o terceiro milênio, [...] descobriram-se em Ugarit, nos


sedimentos correspondentes ao início da idade do bronze, vestígios de
instalações que serviam para produção de óleo, assim como inúmeros
fragmentos de grandes jarros destinados ao armazenamento do precioso
líquido.

Segundo a Bíblia, o rei Salomão enviava óleo a Hirão I, rei de Tiro, em


troca de materiais e de artesãos para a construção do templo. [...]

As frutas

A cultura de árvores frutíferas era muito difundida; tâmaras, figos,


maçãs, romãs, marmelos, amêndoas, pistaches, cidras e lótus são
mencionados nos textos assírios e babilônicos, na Bíblia e, mais tardiamente,
nos textos de autores clássicos.

A difusão da romã é comprovada por muitas fontes literárias e por


escavações arqueológicas. Devido à abundância dos grãos, ela era um
símbolo da fertilidade [...]. Foram encontrados grãos de figos carbonizados em
Jericó e Gezer e os textos reais de Ugarit já mencionam um bolo preparado
com figos secos. [...] o [...] figo fenício, ainda no período helenístico, era
bastante conhecido no Egito. Muito doce, fresco ou seco, substituía, na
alimentação dos pobres, os produtos adoçantes mais caros, como o mel.

A tâmara é uma das frutas mais consumidas em todas as camadas da


população. Nem é preciso enumerar todas as regiões em que se cultiva a
palmeira a partir do quarto milênio, pois essa árvore é encontrada em todo o
Oriente Próximo mediterrâneo da Antiguidade. A abundância de fontes
iconográficas e literárias reflete, além do valor simbólico que lhe é próprio, a
importância dessa fruta. Atenas, aliás, importava tâmaras da Fenícia no século
V a.C.

A uva e o vinho
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A uva era consumida fresca, seca ou em forma de bebida. As uvas


secas serviam como ingredientes para os bolos doces desde o segundo
milênio, como mostram os textos reais de Ugarit. Quanto ao vinho, os anais
egípcios falam do “vinho que corria como água nos lagares” em Oullaza, e as
tábuas de Alalakh e de Ugarit sugerem que, no II milênio, a vinicultura já era
muito desenvolvida.

Desde o terceiro milênio existiam lagares de uva em Ugarit; os textos


administrativos dos séculos XIV e XIII a.C. falam de grandes vinhas cultivadas
em terraços que garantiam aos depósitos reais uma abundante provisão de
vinho. Mas esta bebida alcoólica não se destinava apenas às mesas da corte.
Os mesmos textos mencionam, também, os nomes dos recipientes de
cerâmica utilizados para a conservação e o consumo do vinho, como “jarros
para vinho” e “taças para beber”. Em torno dos vinhedos, encontravam-se,
além disso, domas, vasos de decantação e, às vezes, pequenas torres de
vigilância. [...]

O comércio

Os fenícios tiveram um papel decisivo nas trocas desses produtos com


os outros países mediterrâneos, comércio determinante para a economia de
seu país. Muitos documentos comprovam a vitalidade dessas relações. [...]A
descoberta, em Tiro, de ânforas de transporte de modelo palestino comprova
esse tipo de trocas.

Homero relata que os navegadores fenícios trocavam suas mercadorias


por gêneros alimentícios, e uma tábua cuneiforme de Nínive, do século VI a.C.,
menciona um carregamento de trigo e cevada entregue por dois fenícios a um
assírio. [...] Vasos preciosos do mesmo tipo, encontrados em Almunecar, na
Espanha, com inscrições hieroglíficas revelam que eles continham vinho, sem
dúvida de uma qualidade muito apreciada, destinado à mesa da corte. Papiros
aramaicos descobertos na região do Nilo provam que Sidon exportava seu
vinho para o Egito na época do Império Persa. [...]
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O consumo de cerveja e outras bebidas obtidas pela fermentação de


cereais não era muito difundido; contudo, sua existência é comprovada por
fontes escritas e pela descoberta na Fenícia de vasos equipados com filtros.

A carne

A carne consumida provinha da criação de bois, carneiros e


animais domésticos, assim como da caça. Esta, certamente, tinha
apenas um papel complementar no que se refere à parcela de carne
consumida na alimentação: a Bíblia raramente faz alusão a ela [...].

Ainda que a criação de carneiros, cabras e bois fosse muito


comum na Fenícia, onde as regiões montanhosas oferecem extensas
pastagens, o consumo da carne desses animais devia ser limitado e
ocasional e reservado sobretudo à mesa real e às cerimônias do culto. O
profeta Ezequiel (Ez 27, 17) menciona que a Fenícia importava da Arábia
cordeiros, carneiros e bodes. Homero relata que os fenícios tinham
relações comerciais com a Líbia, que ele descreve como uma terra rica
em gado e, portanto, em carne, leite e queijos.

A pesca

Desde a mais remota Antiguidade, a pesca constituiu uma outra


atividade fundamental para a subsistência da comunidade fenícia e para
suas exportações. A pesca aos cetáceos, por exemplo, é comprovada
por uma inscrição assíria que cita um nakhiru (uma baleia ou um
golfinho?) entre os tributos oferecidos ao rei Assurnasirpal II pelos reis da
costa fenícia. [...]

A extração do sal era complementar à indústria de produtos da


pesca. Segundo os textos reais de Ugarit, não havia outros produtos
conservantes além do sal. Provavelmente, existiam também salinas nas
cidades fenícias.
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FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História da Alimentação. São Paulo:


Estação Liberdade, 1998. P.92-99.
https://youtu.be/BNGzJqaf440

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