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TEORIA GERAL DOS SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA

PARTE II

1. DAS INCAPACIDADES ABSOLUTA E RELATIVA

Para que as pessoas possam exercer a sua capacidade de fato,


precisam apresentar determinadas qualidades, sem as quais não
poderão exercer plenamente tais aptidões. Essa carência de
determinadas qualidades gera a INCAPACIDADE, a qual pode ser
graduada em relativa ou absoluta.

- Incapacidade Absoluta  para todos os atos a pessoa


deverá ser devidamente representada, pois não possui capacidade
de fato para exercê-los.

- Incapacidade Relativa  permite que o sujeito realize


certos atos, devendo, no entanto, ser assistido (curadoria ou
tutela).

IMPORTANTE  Todos os sujeitos, entretanto, possuem


capacidade jurídica ou de direito, apenas a capacidade de exercício
é que sofre restrições.
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1.2. Incapacidade Absoluta

A pessoa não tem a faculdade do exercício pessoal e direto dos


seus direitos. É uma restrição legal ao poder de agir.

“Art. 3. São pessoalmente incapazes de exercer pessoalmente os


atos da vida civil:
I – os menores de 16 anos;
II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para a prática desses atos;

III – os que, mesmo por causa transitória, não puderam exprimir


sua vontade.”

O CC/2002 acabou por excluir os ausentes (ou seja, “aquela pessoa


cuja habitação se ignora ou de cuja existência se dúvida, e cujos
bens ficam ao desamparo”) do rol do art. 3º, ao contrário do que
fazia o CC/1916, tratando do referido instituto de forma autônoma
nos art. 22 a 25.

“Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela


haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador
a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de
qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a
ausência, e nomear-lhe-á curador.
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador,
quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa
exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem
insuficientes.
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Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e


obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for
aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado
judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da
declaração da ausência, será o seu legítimo curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe
aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo
impedimento que os iniba de exercer o cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais
remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha
do curador.”

I – Menores de 16 anos

Os menores de 16 anos detém apenas a capacidade de direito, não


possuindo a capacidade de fato. Assim, não podem exercer os atos
da vida civil por si mesmos, apenas através de seu representante
legal (pai, mãe ou tutor).

IMPORTANTE  qualquer ato praticado por menor de 16 anos é


NULO.

A idade de 16 anos é uma opção legislativa, onde o legislador levou


em consideração a aptidão genética (possibilidade de procriação) e
o desenvolvimento intelectual em tese (com esta idade o indivíduo
estaria apto a reger sua vida).

II – Deficiência Mental
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O CC/1916 trazia a expressão “loucos de todo gênero” para


descrever a ausência de saúde mental do indivíduo para os atos
jurídicos. O CC/2002 vem corrigir a falta de técnica da antiga
expressão, utilizando uma expressão mais genérica.

A expressão “não tiverem o necessário discernimento para a


prática desses atos” refere-se a qualquer distúrbio mental que
possa afetar a vida civil do indivíduo. A incapacidade aqui é
estabelecida em razão do estado mental.

Para se determinar a anomalia mental recorre-se a medicina,


através da psiquiatria. Assim, uma vez reconhecida a anomalia
mental do indivíduo, através de laudo médico, pode ser
considerado incapaz para os atos da vida civil.

O CC/2002 ainda estabelece uma gradação para a falta de


discernimento, no art. 4º, classificando como relativamente
incapazes aqueles que, “por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido”. Desta forma, há casos em que a
deficiência mental autoriza a prática de determinados atos da vida
civil, ensejando uma capacidade limitada ao indivíduo.

III – Incapacidade Transitória


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O exame da incapacidade transitória depende da averiguação da


situação concreta. Todavia o que não pode deixar de ser
considerado é que a regra é a capacidade, a incapacidade é a
exceção.

2.2. Incapacidade Relativa

“Art. 4. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de


os exercer:
I – os maiores de 16 e menores de 18 anos;
II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por
deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV – os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por
legislação especial.
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a
pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.”

I – Maiores de 16 anos e Menores de 18 anos

Adquirem uma SEMICAPACIDADE. São parcialmente incapazes,


então possuem certo discernimento.

Em determinados atos podem agir SEM a presença do Assistente


(Ex.: art. 928, art. 180, firmar recibos de cunho previdenciário). Em
todos os outros casos que não há disposição especial em contrário,
mister a assistência, que pode ser realizada pelos pais ou pelo tutor
(para proporem ações judiciais necessitam de assistência, bem
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como para figurarem como réus devem ser citados juntamente


com seus assistentes).

II e III – Ébrios, Toxicômanos, Deficientes Mentais e Excepcionais


sem desenvolvimento mental completo

Considerados com tal aqueles que não têm o perfeito


conhecimento da realidade e dos fatos, não podendo exercer
autonomamente os atos da vida civil, necessitando, assim, de
assistência.

Como ébrios habituais devem ser entendidos os alcoólatras e como


toxicômanos os viciados em tóxicos. Desta forma, caberá ao juiz,
com o auxílio de perícia médica, aferir o grau de falta de
discernimento para se definir a incapacidade relativa. Pode ser que
a dependência ao vício seja tal que o sujeito não tenha o menor
discernimento para a prática dos atos da vida civil, devendo, então,
ser declarada sua incapacidade absoluta.

Os deficientes mentais e os excepcionais considerados como


relativamente incapazes são aqueles que possuem discernimento
mental reduzido para a prática de determinados atos da vida civil.

Caso o estado de incapacidade cesse, o qual deve ser definido por


perícia médica, deverá ser levantada a interdição, nos moldes do
art. 1186, do CPC.
IV – Pródigos
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O pródigo pode ser conceituado como aquele que gasta


desmedidamente, dissipando seus bens, sua fortuna, de forma
insensata.

O pródigo deve ser declarado como tal para que seus atos não
tenham efeitos, ou seja, sem o devido processo de interdição o
pródigo é capaz para todos os atos. Após declarada sua interdição,
o pródigo fica privado da prática de determinados atos da vida civil,
conforme estabelece o art. 1.782, CC/2002.

“Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador,


emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou
ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de
mera administração.”

- Surdos-Mudos e Deficientes Visuais

No CC/1916 eram declarados como relativamente incapazes os


surdos-mudos que não pudessem exprimir sua vontade. O CC/2002
corrigiu essa impropriedade, sendo considerados como
relativamente incapazes, apenas aqueles, por enfermidade ou
doença mental, não apresentarem o necessário discernimento para
a prática dos atos da vida civil.

Se os surdos-mudos exprimem sua vontade, ainda que em


linguagem própria, não se pode falar em incapacidade. Todavia,
sua atuação fica restrita a atos em que a audição e a fala oral não
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sejam necessárias (não podem servir de testemunhas em


testamentos, em razão de não poderem ouvir as disposições
testamentárias).

O deficiente visual não era (CC/1916), tampouco é (CC/2002)


considerado como incapaz, apenas ficam restritos a prática de
determinados atos, em razão de sua deficiência, como ocorre com
os surdos-mudos.

- Silvícolas

O termo silvícola advém da selva, e é utilizado para diferenciar os


índios que já foram absorvidos pela civilização daqueles que ainda
não possuem experiência necessária para o trato diário da vida
civil, por estarem afastados da civilização.

Desta forma, os índios são considerados relativamente incapazes,


perdurando esta incapacidade até que se adaptem a civilização.

Foi criado o Estatuto do Índio, através da Lei nº 6.001/1973,


colocando o indígena e sua comunidade sob este regime tutelar
enquanto ainda não integradas aos costumes da civilização. Assim,
para praticar os atos da vida civil necessitam de representação, que
se dá através da FUNAI – Fundação Nacional do Índio. Todavia,
pode o silvícola requerer ao Poder Judiciário sua liberação do
regime tutelar da FUNAI, desde que preencha os requisitos
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dispostos no art. 9º do Estatuto do Índio (idade mínima – 21 anos;


conhecimento de língua portuguesa; habilitação para o exercício
de atividade útil; razoável compreensão dos usos e costumes da
comunhão nacional).

A SABER:

TUTELA - Arts. 1728 e segs


Encargo atribuído pelo Juiz a pessoa que seja capaz de gerir a vida
e os bens do menor de 18 anos, pelo impedimento dos pais.

Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:


I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.
Art. 1.729. O direito de nomear tutor compete aos pais, em
conjunto.
Parágrafo único. A nomeação deve constar de testamento ou de
qualquer outro documento autêntico.
Art. 1.730. É nula a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que,
ao tempo de sua morte, não tinha o poder familiar.
Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela
aos parentes consangüíneos do menor, por esta ordem:
I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais
remoto;
II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos
aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais
moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais
apto a exercer a tutela em benefício do menor.
Art. 1.732. O juiz nomeará tutor idôneo e residente no domicílio do
menor:
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I - na falta de tutor testamentário ou legítimo;


II - quando estes forem excluídos ou escusados da tutela;
III - quando removidos por não idôneos o tutor legítimo e o
testamentário.
Art. 1.733. Aos irmãos órfãos dar-se-á um só tutor.
§ 1o No caso de ser nomeado mais de um tutor por disposição
testamentária sem indicação de precedência, entende-se que a
tutela foi cometida ao primeiro, e que os outros lhe sucederão pela
ordem de nomeação, se ocorrer morte, incapacidade, escusa ou
qualquer outro impedimento.
§ 2o Quem institui um menor herdeiro, ou legatário seu, poderá
nomear-lhe curador especial para os bens deixados, ainda que o
beneficiário se encontre sob o poder familiar, ou tutela.
Art. 1.734 - As crianças e os adolescentes cujos pais forem
desconhecidos, falecidos ou que tiverem sido suspensos ou
destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou
serão incluídos em programa de colocação familiar, na forma
prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente. (Redação dada pela Lei n.º 12.010, de
2009)

CURATELA - proteção da pessoa maior de 18 anos de idade.

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:


I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil;
II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir
a sua vontade;
III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em
tóxicos;
IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;
V - os pródigos.
Art. 1.768. A interdição deve ser promovida:
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I - pelos pais ou tutores;


II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente;
III - pelo Ministério Público.
Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição:
I - em caso de doença mental grave;
II - se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas
designadas nos incisos I e II do artigo antecedente;
III - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas no
inciso antecedente.
Art. 1.770. Nos casos em que a interdição for promovida pelo
Ministério Público, o juiz nomeará defensor ao suposto incapaz;
nos demais casos o Ministério Público será o defensor.
Art. 1.771. Antes de pronunciar-se acerca da interdição, o juiz,
assistido por especialistas, examinará pessoalmente o argüido de
incapacidade.
Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem
os incisos III e IV do art. 1.767, o juiz assinará, segundo o estado ou
o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que
poderão circunscrever-se às restrições constantes do art. 1.782.
Art. 1.773. A sentença que declara a interdição produz efeitos
desde logo, embora sujeita a recurso.
Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à
tutela, com as modificações dos artigos seguintes.
Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente
ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito.
§1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai
ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais
apto.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais
remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao
juiz a escolha do curador.
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Art. 1.776. Havendo meio de recuperar o interdito, o curador


promover-lhe-á o tratamento em estabelecimento apropriado.
Art. 1.777. Os interditos referidos nos incisos I, III e IV do art. 1.767
serão recolhidos em estabelecimentos adequados, quando não se
adaptarem ao convívio doméstico.
Art. 1.778. A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens
dos filhos do curatelado, observado o art. 5o.
Seção II
Da Curatela do Nascituro e do Enfermo ou Portador de Deficiência
Física
Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando
grávida a mulher, e não tendo o poder familiar.
Parágrafo único. Se a mulher estiver interdita, seu curador será o
do nascituro.
Art. 1.780. A requerimento do enfermo ou portador de deficiência
física, ou, na impossibilidade de fazê-lo, de qualquer das pessoas a
que se refere o art. 1.768, dar-se-lhe-á curador para cuidar de
todos ou alguns de seus negócios ou bens.
Seção III
Do Exercício da Curatela
Art. 1.781. As regras a respeito do exercício da tutela aplicam-se ao
da curatela, com a restrição do art. 1.772 e as desta Seção.
Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador,
emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou
ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de
mera administração.
Art. 1.783. Quando o curador for o cônjuge e o regime de bens do
casamento for de comunhão universal, não será obrigado à
prestação de contas, salvo determinação judicial.

INTERDIÇÃO
É um direito da pessoa com deficiência para lhe garantir proteção.
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Se dá por meio de processo judicial e se configura em medida


judicial que declara a falta de capacidade da pessoa para prática de
atos da vida civil.
Pode ser total ou parcial, com a conseqüente nomeação de curador
para representar a pessoa interditada.

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