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COACH E COACHEE: COADJUVAÇÃO RECÍPROCA

Autora: RENATA CARLA SIQUEIRA SANTOS


Orientadora: GEORGINA MEIRELLE SERAFIM DA SILVA

RESUMO

O presente artigo objetiva estudar a relação de interdependência entre o coach e o coachee,


com foco voltado para importância do auto-conhecimento por parte do coachee, identificando
qual o papel do profissional coach nessa tarefa. Utilizamos como trabalho de campo, 10 (dez)
sessões de coaching, o coachee em estudo apresentou objetivos voltados para o
desenvolvimento pessoal. Com base no referencial teórico e nas informações apresentadas
pelo coachee, identificamos as melhores técnicas a serem utilizadas no processo coaching
proporcionando o desenvolvimento do auto-conhecimento por parte do coachee, sendo
possível o alcance das metas estipuladas por sessão. Constatamos assim, uma relação de
coadjuvação mútua, onde não há protagonistas no processo executado e com sucesso ao final
de todas as sessões. Observou-se também a importância da construção de uma relação de
confiança gradativa entre os envolvidos na tarefa coaching, viabilizando o desempenho
satisfatório das atividades sugeridas, bem como dos feedbacks necessários a conclusão
positiva do trabalho.

Palavras-chave: coaching, coach, coachee, autoconhecimento, interdependência

ABSTRACT

The present article aims to study the interdependent relationship between coach and coachee,
focusing on the importance of self-knowledge on the part of the coachee and the role of the
professional coach in this task. We used as field work, 10 (ten) coaching sessions, the coachee
under study presented objectives focused on personal development. Based on the theoretical
framework and on the information presented by the coachee, we identified the best techniques
to be used in the coaching process to make possible the development of self-knowledge on the
part of the coachee, which made it possible to reach the goals set in each session. We thus
verified a relationship of mutual support, where there are no protagonists in the process that is
successfully executed at the end of all sessions. We observed the importance of building a
relationship of gradual trust between those involved in the coaching task, enabling the
satisfactory performance of the suggested activities, as well as the feedbacks necessary for the
positive conclusion of the work.

Keywords: coaching, coach, coachee, self-knowledge, interdependence

1
INTRODUÇÃO

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REFERENCIAL TEÓRICO

Sabendo que origem da palavra coach remete a diversas definições, trouxemos para o
contexto do desenvolvimento pessoal, sendo possível identificar uma teoria em comum nessa
diversidade de conceitos, como a ligação com o verbo em inglês coax, que significa persuadir
ou induzir. Nessa perspetiva, do coach como alguém que induz, podemos ter no profissional
coching alguém que inspira e que provoca alguém a conquistar e/ou conseguir algo.

Clutterbuck explica bem essa definição:

"O profissional de coaching atua como um estimulador externo que desperta o


potencial interno de outras pessoas, usando uma combinação de paciência, insight,
perseverança e interesse (às vezes chamado de carisma) para ajudar os receptores do
coaching (coachee) a acessar seus recursos internos e externos, com isso melhorar
seu desempenho. (CLUTTERBUCK, 2008, p.11).

Para facilitar o entendimento do estudo que se segue, destacamos os significados dos


termos aqui utilizados:

■ Coaching: É o processo em si. (veremos mais profundamente no decorrer deste


artigo)
■ Coach: É o profissional que conduz o coaching.
■ Coachee: É o individuo que recebe o coaching, ou seja, é quem estabelece o
objetivo e é auxiliado pelo coach.

O coaching tem sido uma ferramenta bastante utilizada como método de


desenvolvimento de pessoas, buscando auxiliá-las a atingir suas metas em alguns setores da
sua vida. Podemos dizer ainda que: O coaching é uma abordagem comportamental que parte
do princípio que, a partir da definição de uma meta, seja possível, através de técnicas
específicas, identificar vantagens e desvantagens no modo de pensar e agir das pessoas, que as
impede de atingir seus objetivos. Sobre os fatores que podem inferir no trabalho do coach,
Clutterbuck(2008) aponta alguns como: a complexidade da tarefa, os riscos de erros na
realização da tarefa, sua autoconfiança e a capacitação para a tarefa, o nível de maturidade
para a aprendizagem demonstrado pelo coachee (até que ponto ele se mostra capaz de
cogerenciar o processo de coaching).
Sobre definição do que se trata a tarefa coaching, a autora Ane Araújo (1999) no
primeiro capítulo do livro "Coach, um parceiro para o seu sucesso", cita Timothy Gallwey1:
"Coaching é uma relação de parceria, que revela/liberta o potencial das pessoas de
forma a maximizar o desempenho delas. E ajudá-las a aprender ao invés de ensinar algo a
elas.". Na mesma perspectiva afirma Clutterbuck(2008): "Coaching é uma atividade feita com
alguém, e não para alguém."
Nesse contexto, evidencia-se a importância de promover e cooperar para que ao
individuo que busca o auxílio de um profissional coaching, inicie sua jornada de auto-
1
The inner game of tennis, Paperback, 1997.
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conhecimento, uma vez que fica claro que, o que a pessoa que busca essa ajuda precisa não
está externo a ela, mas dentro dela, com sentimento de pertencimento, e que por diversos
motivos não consegue utilizar o que já tem, sendo necessário uma intervenção externa,
nutrindo uma relação de confiança mútua estabelecida entre coachee e coach, para que um
conheça o outro, propiciando que o coach identifique as melhores técnicas para promover o
auto-conhecimento e auto-desenvolvimento do cliente.
Sobre essa relação e o que ela promove e exige dos envolvidos no processo coaching,
desde o início até sua conclusão, citamos a interpretação dada por Ane Araújo:

Coaching é mais do que treinamento, o coach permanece com a pessoa até ela
atingir o resultado. Sua função é lhe dar poder para que ela produza, para que ela
que suas intenções se transformem em ações que, por sua vez, se traduzam em
resultados. Coaching é, essencialmente, empowerment. Dar poder para que o outro
adquira competências, produza mudanças específicas em qualquer área da vida ou
até, e principalmente, transforme a si mesmo. Quando o seu cliente realiza algo que
considera significativo, ele se realiza, torna-se um vencedor. Apoiar alguém a
transformar sua auto-estima em sua força pessoal é a parte fundamental do processo
de coaching. Esse compromisso com a pessoa, acompanhando sua evolução, dando
suporte nos momentos difíceis e estimulando-a a avançar, vai produzindo no coach
uma transformação sutil: ele está sendo útil para alguém. (ARAÚJO, 1999, p.26).

Maristela Prado, Profissional Coaching pela sociedade brasileira de coaching,


apresenta como sendo os três pilares do coaching: crenças, valores e metas, e explica:

Desafias as crenças limitadoras que impedem as mudanças e substituí-las por


crenças racionais positivas, expandindo a prontidão de respostas, apesar de
limitações do ambiente em que está inserido. "somos o que acreditamos "SER".
Sonhar de olhos bem abertos com bases em pontos fortes e oportunidades de
realizações, para definir claramente os resultados que se quer alcançar.
Identificar os valores que possibilitam fazer escolhas e priorizar o que é mais
importante ao reflexionar sobre a visão pessoal de mundo.

No processo coaching dentro desta ótica de estudo, cabe ao coach possibilitar, por
meio de perguntas que levem a reflexões para que o coachee expanda sua capacidade de agir,
transformando crenças anteriormente limitantes em possibilidades reais e alcançáveis,
permitindo que se vá além do que imaginava que podia, viabilizando assim seu
desenvolvimento através do auto-conhecimento, exigindo efetiva participação e dedicação do
coachee em todas as etapas do processo.

É imprescindível destacar que a suma importância de que o coachee esteja bem


psicologicamente, ou seja, não deve apresentar sintomas depressivos, de algum tipo de pânico,
obsessões e etc., o individuo precisar estar bem para que assim, possa colocar em prática as
ações que o conduzirão o alcance de seus objetivos. Assim sendo, é preciso que o coach tenha
um razoável conhecimento e entendimento de psicologia no que diz respeito ao
comportamento humano, podendo assim, identificar possíveis sinais de perigo e dar o

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direcionamento necessário aos seus coachees, direcionando-os a profissionais dessas áreas,
quando presumir necessário, alerta Clutterbuck (2008).

Frisamos aqui, quatro etapas do processo coaching que são estabelecidas por Araújo
(1999), sendo a primeira a mais crítica,que é a construção de uma parceria sólida e consciente.
Uma relação de parceria baseada na confiança mútua e com maturidade para assumir
as responsabilidades estipuladas em comum acordo.
Na etapa seguinte, faz referência ao que o cliente quer realizar, seu objetivo, sua visão
de futuro. Afirma Araújo (1999): "O coach deve estimular o cliente a sonhar, expressar quem
ele é através dos sonhos e manter a integridade consigo mesmo.".
A terceira etapa configura-se na análise da "bagagem de mão", ou seja, o percurso de
realizações de ambos.
É indispensável que coach e coachee se conheçam bem, para que explorem com
eficiência os talentos um do outro. Ainda nesta etapa é muito importante que sejam apontadas
as dificuldades e limitações atuais, definindo o que precisam e desejam mudar.
Por fim, é papel do coach, auxiliar o cliente a identificar e valorizar seus potenciais de
realização. Sendo na quarta e última etapa, desenhado o plano de ação, para estabelecer e
acordar um plano, parte fundamental para que o coach possa acompanhe bem o
desenvolvimento do projeto.

Ou seja, temos:

1. A base: Relacionamento de confiança.


2. Criação de visão de futuro
3. Revisão da "bagagem de mão"
4. Traçar plano de ação

José Roberto Marques (2017), presidente do Instituto Brasileiro de Coach, propõe


alguns elementos para que o processo de coaching atinja os resultados esperados,
complementando o que foi estudado nas quatro etapas vistas anteriormente.
Os elementos são: foco, comprometimento, ação, intenção positiva, evolução contínua,
supervisão e resultados.
Na estrutura básica de uma sessão de coaching começamos com a conexão, onde o
coach oferece um ambiente seguro para Rapport2 e a construção de um relacionamento de
confiança. No segundo momento é deixado claro ao coachee como funcionará o processo
coaching. Dando continuidade, o coach inicia a identificação da situação atual, ou seja,
confirma a meta/objetivo que o coachee pretende atingir e continua para concretizar o tema da

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Rapport é uma palavra de origem francesa (rapporter), que significa “trazer de volta”
ou “criar uma relação”. O conceito de Rapport é originário da psicologia, e é utilizado para
designar a técnica de criar uma ligação de empatia com outra pessoa, para que se comunique
com menos resistência. (disponível em: https://resultadosdigitais.com.br/vendas/rapport)

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sessão, utilizando de ferramentas de coaching que ajudam no processo de já frisado
anteriormente de anteconhecimento e reflexão.
Finalizando, o destaque dica para um dos momentos mais importantes da sessão, onde
é iniciado, no que diz respeito as aprendizagens da sessão,ou seja, é o entendimento do
coachee a respeito do que ele aprendeu e por quais razões, na visão dele, foi válida a sessão.
Neste feedbach, é possível identificar a resposta alcançada pelos estímulos ministrados
de maneira positiva.

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MATERIAL E MÉTODOS

Para elaboração deste artigo correlacionamos o referencial teórico baseado em estudos


feitos em livros, pesquisas online e de orientações por profissionais da área de Coach, com um
estudo de caso, realizado através de 10 (dez) sessões de coaching, objetivando a identificação
das necessidades do coachee para dar início ao trabalho com foco nos objetivos estabelecidos
e expostos nas fichas relatório, conforme anexo 1.

Citamos algumas técnicas que foram utilizadas nutrindo a relação de confiança entre o
coach e o coachee, tais como: Rapport, flow e algumas ferramentas, como a roda da vida e
Shazan que foram fundamentais para entender a real necessidade do coachee.

É válido salientar que a autora desta pesquisa é um profissional Coach e que passou
por processo de coaching, com objetivo de agregar valor a pesquisa e ao seu desenvolvimento
profissional/pessoal.

As sessões de coaching se deram em 10 (dez) sessões, aplicadas semanalmente,


partindo da necessidade apresentada pelo coachee.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em 10 (dez) sessões com aplicação de entrevista semi-estruturada entre a coachee


Luciana Medeiros e a profissional coaching Renata Siqueira foi possível mapear prioridades
tendo em vista a satisfação pessoal da coachee com as cabíveis orientações ministradas pela
coaching.
Luciana aponta que durante o processo coaching foi conduzida a fazer uma releitura
de si, conseguindo assim, identificar a ordem de prioridades de acordo com os objetivos pré-
estabelecidos por ela.
Nas primeiras sessões foram identificados fatores que até então alimentavam o
processo de auto-sabotagem, como por exemplo obstáculos que não existem, podendo assim
serem trabalhados e consequentemente resolvidos. Destacou-se ainda nessa fase, a
importância de estabelecer um planejamento e o acompanhamentos contínuo das etapas do
mesmo, para que caso necessário, fosse redefinido em prol do alcance dos objetivos.
A partir da terceira sessão e com a consolidação da relação de confiança entre coach e
coachee, foi propiciado a Luciana se sentir em um ambiente seguro para assumir alguns
pontos que foram trabalhados em busca da melhoria, como por exemplo a falta de foco.
Com isso, nas etapas subsequentes, onde foram utilizadas as ferramentas e técnicas
adequadas, observou-se melhoria da focagem do desempenho das tarefas e na própria
dedicação da parte de Luciana. Na ocasião, ainda foi constatada a necessidade de controlar a
ansiedade para alcançar as meta definidas no início das sessões.
Já nas sessões finais, por avaliação da profissional Renata Siqueira, foi demonstrado
para Luciana, a importância da execução das tarefas sem atropelar as etapas do processo pela
pressa provinda da ansiedade, o que fez com que essa percepção de Luciana ficasse voltada
para a priorização do seu tempo em favor de si, alimentando a autoconfiança.
Conclui-se após as 10 (dez) sessões que se faz necessário para a coachee administrar
seu tempo através de check list e seu devido acompanhamento, permitindo que a mesma tenha
maior controle e segurança na execução dos seus planejamentos, tanto os feitos durante o
processo coaching quanto dos futuros.
O trabalho do coach ao decorrer de todo o processo dependeu das respostas da coachee
em cada etapa e técnicas/ferramentas utilizadas, à medida que a coachee se dedicava e
participava das etapas e facilitava a modelagem dos próximos passos do processo de forma a
se adequarem ao perfil e necessidades de Luciana.

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CONCLUSÃO

Com o término das 10 (dez) sessões aplicadas e o paralelo estudo sobre a relação de
coadjuvação recíproca entre coach e coachee, bem como estudo do processo coaching sob a
perspectiva e fundamentação de alguns especialistas/autores sobre o tema, ficou claro que as
ferramentas e técnicas utilizadas no processo, tornam-se viáveis e mais eficientes com a
efetiva participação do coachee, confirmando o que foi apontado nos estudos, que o mesmo
possui as respostas e os mecanismos dentro de si para alcançar seus objetivos, dependendo da
dedicação do coach em entender as necessidades, as fragilidades e as potencialidadades do
cliente traçando o melhor planejamento para o alcance dos objetivos estipulados.
A relação de autoconhecimento que se desenvolveu por ambas as partes através,
principalmente, de perguntas impulsionadoras e desafiadoras que promoveram a autoreflexão,
sendo crucial para o desenvolvimento das sessões aplicadas.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARAÚJO, Ane. Coach: um parceiro para o seu sucesso.. São Paulo: Editora Gente, 1999.

CLUTTERBUCK, David. Coaching Eficaz: como orientar sua equipe para potencializar
resultados. Tradução Maria Silvia Mourão Netto. 2 ed. São Paulo: Editora Gente, 2008.
Tradução de: Coaching the team at work.

MARQUES, José Roberto . Apostila de Curso de Formação em Professional & Self


Coaching. . Goiânia: IBC, 2017. (Turma Florianópolis – PSC 23 - 2017, versão 58).

OS TRÊS PILARES do coaching: crenças, valores e metas. Desigual Desenvolvimento


Humano. Disponível em: http://www.desigual.psc.br/?p=394. Acesso em: 6 dez. 2022.

RAPPORT: o que é e como usar essa poderosa arma de persuasão a favor da sua
empresa. Resultados Digitais. Disponível
em: HTTPS://resultadosdigitais.com.br/vendas/rapport/. Acesso em: 7 dez. 2022.

STÉFANO, Rhandy Di. O líder-coach: líderes criando líderes. Rio de Janeiro: Qualitymark
Editora, 2014.

WHITMORE, John. Coaching para Aprimorar o Desempenho: Os princípios da prática do


coaching e da liderança. São Paulo: Clio Editora, 2012.

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ANEXO 1

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