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SUMÁRIO
1. OBJETIVOS ..................................................................................................................................................4
2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................................4
3. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ...........................................................................................................5
4. ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS E RESPONSABILIDADES ............................................................................5
5. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E METABÓLICO ................................................................................6
6. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS .................................................................................................................6
6.1. Necessidade energética .....................................................................................................................8
6.2. Macronutrientes.................................................................................................................................8
6.2.1. Carboidrato.................................................................................................................................8
6.2.2. Açúcares .....................................................................................................................................8
6.2.3. Índice glicêmico ..........................................................................................................................9
6.2.4. Contagem de carboidratos .........................................................................................................9
6.2.5. Fibras ..........................................................................................................................................9
6.2.6. Proteínas...................................................................................................................................10
6.2.7. Lipídios......................................................................................................................................11
6.3. Micronutrientes................................................................................................................................11
6.3.1. Vitaminas e Minerais ................................................................................................................11
6.4. Edulcorantes .....................................................................................................................................12
6.5. Bebidas alcoólicas.............................................................................................................................13
6.6. Tabagismo ........................................................................................................................................14
6.7. Comportamento alimentar ..............................................................................................................14
6.8. Educação Nutricional........................................................................................................................15
6.9. Situações especiais ...........................................................................................................................16
6.9.1. Terapia Nutricional Enteral ......................................................................................................16
6.9.2. Suplementos orais especializados ............................................................................................17
6.9.3. Envelhecimento ........................................................................................................................17
6.10. Doenças agudas ............................................................................................................................18
6.10.1. Hiperglicemia............................................................................................................................18
6.10.2. Cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar ................................................18
6.10.3. Hipoglicemia .............................................................................................................................19
6.10.4. Terapia com glicocorticoide .....................................................................................................20
6.11. Doenças crônicas ..........................................................................................................................20
6.11.1. Hipertensão arterial .................................................................................................................20
6.11.2. Dislipidemias.............................................................................................................................20
6.11.3. Doença Renal Crônica e Terapia Renal Substitutiva.................................................................20
6.11.4. Sobrepeso/Obesidade ..............................................................................................................20
7. INTERVENÇÃO ..........................................................................................................................................21
8. ACOMPANHAMENTO ...............................................................................................................................21
9. FLUXOGRAMA ..........................................................................................................................................22
10. ALTA......................................................................................................................................................22
11. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................22
12. HISTÓRICO DE ELABORAÇÃO/REVISÃO ................................................................................................24
SIGLAS E CONCEITOS
ADA - American Diabetes Association
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CAD - Cetoacidose Diabética
DASH - Dietary Approaches to Stop Hypertension
DCV - Doença Cardiovascular
DLP - Dislipidemia
DM - Diabetes Mellitus
DM1 - Diabetes Mellitus tipo 1
DM2 - Diabetes Mellitus tipo 2
EHH - Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar
FDA - Food and Drug Administration
HC-UFTM - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
IDA - Ingestão Diária Aceitável
IG - Índice Glicêmico
IOM - Institute of Medicine
PRT - Protocolo
SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes
TNE - Terapia Nutricional Enteral
UNUT - Unidade de Nutrição Clínica
UPLAG – Unidade de Planejamento, Gestão de Riscos e Controles Internos
VET - Valor Energético Total
1. OBJETIVOS
a. Orientar alimentação variada e equilibrada, para atender as necessidades nutricionais;
b. Fornecer alimentação nutricionalmente adequada para atender as demandas metabólicas
durante internação;
c. Promover um estilo de vida adequado e incentivar mudanças necessárias no
comportamento alimentar, que contribuam para melhorar os desfechos clínicos, o estado de saúde
e a qualidade de vida;
d. Controlar o peso corporal;
e. Auxiliar na manutenção da glicemia dentro dos valores recomendados para pacientes
hospitalizados (críticos e não críticos): entre 140 e 180 mg/dL, sendo que pode ser recomendado
um controle mais rigoroso (entre 110 e 140 mg/dL), caso não exista risco de hipoglicemia;
f. Utilizar as recomendações nutricionais para as doenças associadas ao Diabetes Mellitus
(DM), como hipertensão arterial, doença cardiovascular (DCV), dislipidemia (DLP) e nefropatia;
g. Estimular o autogerenciamento para os cuidados com a alimentação, controle da glicemia e
das complicações do DM.
2. JUSTIFICATIVA
O DM é uma doença metabólica que cursa com aumento dos valores de glicemia
plasmática devido à ausência, deficiência e/ou resistência à ação do hormônio sintetizado pelas
células beta pancreáticas, a insulina, que está envolvida no metabolismo dos carboidratos, proteínas
e lipídeos. No DM tipo 1, a hiperglicemia é resultado da deficiência na secreção de insulina, que
progride para ausência absoluta deste hormônio. No DM tipo 2, a hiperglicemia ocorre tanto por
resistência à ação da insulina como por deficiência na secreção deste hormônio (BORGES et al.,
2011).
O diabetes está associado a maiores taxas de hospitalizações, maior utilização dos
serviços de saúde, bem como maior incidência de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares,
cegueira, insuficiência renal e amputações não traumáticas de membros inferiores. Representa uma
importante carga tanto nos custos diretos para o sistema de saúde e para a sociedade como nos
custos indiretos atribuíveis à mortalidade prematura e a incapacitações temporárias e permanentes
decorrentes de suas complicações (SBD, 2019).
A incapacidade do organismo de utilizar a glicose como fonte energética preferencial, por
ausência da insulina, leva a catabolismo orgânico intenso, com quebra de proteínas e de
gorduras para utilização como fonte energética. Esta alteração metabólica cursa
frequentemente com perda de peso e comprometimento do estado nutricional e, pode
culminar em quadro de hiperglicemia grave, cetose e coma. Já a resistência dos tecidos
periféricos à ação da insulina provoca estado de hiperinsulinismo, aumento do glucagon
com estímulo à proteólise e à lipólise, tendo como consequência, também, a
hiperglicemia. Entretanto, a cetose raramente é encontrada e o estado nutricional está
mantido ou na faixa de sobrepeso e obesidade (BORGES et al., 2011).
Segundo Borges et al. (2011), a falta de controle clínico do paciente com DM pode levar
ao aumento das necessidades de calorias e proteínas induzido pelo catabolismo. Além disso,
6. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS
a. A abordagem do manejo nutricional não deve ser somente prescritiva, mas também
apresentar caráter mais subjetivo, de olhar comportamental, colocando o indivíduo no centro do
cuidado. Esse enfoque considera a disposição e a prontidão do paciente para mudar, possibilitando,
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6.2. Macronutrientes
6.2.1. Carboidrato
a. Utilizar planos de refeições com carboidratos, embora elevem a glicemia pós-prandial de
forma mais acentuada do que as proteínas e lipídeos, devem fazer parte da composição
nutricional de qualquer que seja a terapia nutricional instituída, pois facilitam a combinação
da dose de insulina prandial com a quantidade de carboidratos consumidos (BORGES et al.,
2011; ADA, 2020).
b. A redução de carboidratos não deve ser tão acentuada a ponto de promover aumento no
consumo de ácidos graxos saturados, já sabidamente relacionados ao aumento da prevalência
de DCV nessa população (SBD, 2019).
c. Quantidades inferiores a 130g/dia não é recomendada, pois o carboidrato é uma
importante fonte de substrato energético para o cérebro e para outros processos metabólicos
(SBD, 2019).
d. As evidências atuais sugerem que o tipo de carboidrato independente da proporção tem
grande relevância. O carboidrato é o nutriente que exerce maior influência na variabilidade
glicêmica pós-prandial, quando consumidos na forma de açúcares ou amido, apresentam
respostas diferentes daqueles consumidos prioritariamente com fibras, compostos bioativos,
vitaminas, minerais e baixo teor de gorduras, cuja resposta pode ser mais lenta e menos
exacerbada (SBD, 2019).
e. É importante incluir cereais integrais como parte da alimentação diária (SBD, 2019).
6.2.2. Açúcares
Segundo a SBD (2019):
a. A sacarose pode ser inserida no contexto de uma alimentação saudável, não
ultrapassando 5% do VET diário. No entanto, se adicionada à refeição, deve ser substituindo
outras fontes de carboidratos e compensada com doses adicionais de insulina. Sacarose e
alimentos contendo sacarose não são proibidos para indivíduos com diabetes, uma vez que
não aumentam a glicemia mais do que outros carboidratos, quando ingeridos em quantidades
equivalentes.
b. Vale ressaltar que o consumo de preparações que contenham sacarose por indivíduos
com sobrepeso e obesidade podem ter altas concentrações calóricas.
c. A preferência por alimentos in natura, e minimamente processados, e a moderação no
consumo de alimentos processados, especialmente bebidas açucaradas e ultraprocessados
devem ser orientadas. Estes alimentos são responsáveis por inúmeros problemas de saúde,
como obesidade, excesso de peso e cáries.
6.2.5. Fibras
De acordo com a SBD (2019):
a. As fibras consumidas atuam de maneira diversa no controle do diabetes. As solúveis
auxiliam no retardo do esvaziamento gástrico, contribuindo positivamente para o controle
glicêmico pós-prandial e dos lipídeos séricos (redução do colesterol da lipoproteína de baixa
densidade (LDL-c) e do colesterol total), enquanto as insolúveis agem contribuindo para a
saciedade e para o controle de peso. Sendo que, ambas atuam na preservação da saúde
intestinal.
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6.2.6. Proteínas
a. Recomendado ingestão proteica usual para aqueles com diabetes e função renal
preservada: 1 a 1,5 g/kg de peso corporal/dia, representando de 15 a 20% da ingestão total
de energia (SBD, 2019).
b. Alguns estudos sugerem o aumento da ingestão usual de proteínas para 1,5 a 2 g/kg de
peso corporal/dia, ou 20 a 30% da ingesta total de energia, durante o processo de redução de
peso em pacientes com sobrepeso e obesos com DM2 e função renal preservada (SBD, 2019).
c. Vale ressaltar que a prescrição de proteína deve ser individualizada, considerando-se o
diagnóstico nutricional, as necessidades e o controle glicêmico (SBD, 2019).
d. Fontes de carboidratos ricos em proteínas não devem ser consideradas para tratar ou
prevenir hipoglicemia. Em indivíduos com DM2, a proteína ingerida parece aumentar a
insulina sem aumentar as concentrações plasmáticas de glicose (SBD, 2019).
e. Para pacientes com doença renal (albuminúria e/ou taxa de filtração glomerular
reduzida), a proteína dietética deve ser mantida na dose diária recomendada de 0,8 g/kg de
peso corporal/dia. Diminuir a quantidade de proteína dietética abaixo da dose diária
recomendada não é indicado, pois não altera as medidas glicêmicas, as medidas de risco
cardiovascular nem o curso da taxa de filtração glomerular (SBD, 2019).
f.Monitorar o estado nutricional de maneira contínua para a prevenção de desnutrição, ao
usar uma dieta baixa em proteínas (SBD, 2019).
g. A quantidade e a qualidade da proteína devem ser adequadas para atender as
necessidades de aminoácidos essenciais (SBD, 2019).
h. Após o início de terapia renal substitutiva, as recomendações nutricionais devem ser
reajustadas, pela perda de nutrientes durante o procedimento, principalmente a proteica
(SBD, 2019).
6.2.7. Lipídios
a. A qualidade pode ser mais importante do que a quantidade de gordura da dieta. No
entanto, recomenda-se a retirada de ácidos graxos trans, a inclusão de alimentos fontes de
ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados e o controle no consumo de ácidos graxos
saturados, priorizando o consumo de carnes magras, leite desnatado e consumo mínimo de
carnes processadas. O consumo de ácidos graxos saturados se associa a maior mortalidade
entre indivíduos com diabetes e os ácidos graxos trans possui forte associação a DCV e seu
impacto sobre a mortalidade cardiovascular (SBD, 2019).
b. A recomendação quanto a quantidade de gorduras na dieta (de 20 a 35% das calorias)
deve considerar as condições clínicas, o perfil lipídico e a presença de fatores de risco
cardiometabólico (SBD, 2019).
c. A dieta do Mediterrâneo e a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), as
quais tem, respectivamente, aumento da razão entre ácidos graxos monoinsaturados e
saturados e menor percentual de lipídios totais, são aquelas que melhor representam as
características do tipo de alimentação aconselhada atualmente (SBD, 2019). As
recomendações podem ser vistas no Protocolo de Terapia Nutricional para Pacientes com
Hipertensão Arterial da UNUT, link nas referências.
6.3. Micronutrientes
d. Suplementos à base de ervas não são recomendados a indivíduos com diabetes, não
são padronizados, variam em quantidade de ingredientes ativos e podem apresentar
interações medicamentosas.
e. A suplementação de vitaminas e minerais não é indicada para o controle do diabetes
por falta de evidências científicas. Ela precisa ser individualizada, conforme a deficiência
identificada.
f.Realizar uma minuciosa anamnese clínica com o objetivo de diagnosticar possíveis
alterações, visto que estas tendem a ser comuns em indivíduos com diabetes, devido a perdas
excessivas na urina, diminuição da capacidade intestinal de absorção e baixa ingestão
dietética.
g. Em alguns grupos, como idosos, gestantes ou lactentes, vegetarianos restritos,
aqueles em restrição calórica ou de carboidratos, a suplementação de multivitamínicos pode
ser necessária. Outras exceções são feitas ao folato, para a prevenção de doenças congênitas,
e ao cálcio, para a prevenção de doença óssea.
h. No caso de uso prolongado de metformina, verificar deficiência de ácido fólico e
vitamina B1.
i. Avaliar deficiência de vitamina B12, uma das prováveis causas da neuropatia diabética,
também evidente em indivíduos com diabetes e relacionada com o mau controle glicêmico e
complicações microvasculares.
j. Atenção à dosagem de vitamina D, pois sua deficiência está relacionada ao mau controle
glicêmico, sendo necessário suplementação. A vitamina D dentro da faixa de normalidade
demonstra efeitos positivos de sensibilidade à insulina e a sua secreção, bem como a
diminuição do estado inflamatório.
k. Em relação aos minerais, é necessária maior atenção ao zinco e magnésio para
prescrição de suplementação, quando houver deficiência. O zinco parece regular a função das
ilhotas pancreáticas e promover a homeostase glicêmica, enquanto a concentração circulante
de magnésio está inversamente associada à incidência de doenças crônicas, hipertensão e
DM2.
6.4. Edulcorantes
Os edulcorantes, comumente chamados de adoçantes, não são essenciais ao
tratamento do diabetes, mas podem favorecer o convívio social e a flexibilidade do plano
alimentar. Para indivíduos que costumam usar produtos adocicados, os adoçantes não nutritivos
ou não calóricos tem o potencial de reduzir o consumo de calorias e carboidratos, por meio da
substituição do açúcar quando consumidos com moderação (SBD, 2019).
Recomendações (SBD, 2019):
a. Orientar uso dos edulcorantes com aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), no Brasil: sorbitol, manitol, isomaltitol, maltitol, sacarina, ciclamato, aspartame, estévia,
acessulfame-K, sucralose, neotame, taumatina, lactitol, xilitol e eritritol.
b. Os adoçantes naturais, como os poliálcoois (sorbitol, xilitol, eritritol etc.), não possuem
quantidade máxima sugerida, porém deve-se ter moderação no consumo, pois podem favorecer
flatulência e diarreia.
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6.6. Tabagismo
O tabagismo é fator de risco bem estabelecido para desenvolvimento de DM2. Pessoas
com diabetes fumantes tem maior mortalidade geral e por doenças cardiovasculares do que
aqueles que não fumam. Sendo que, o abandono do tabagismo leva a ganhos ponderais
significativos e, em longo prazo, cursa com melhor controle do diabetes (SBD, 2019).
por via subcutânea antes de cada alimentação. A cobertura corretiva de insulina deve ser
adicionada conforme necessário antes de cada alimentação (ADA, 2020).
h. Segundo a SBD (2019), em casos de gastroparesia, optar por:
Dietas isosmolares, que são esvaziadas mais facilmente do estômago do que as hipo ou
hiperosmolares.
Fórmulas de alta densidade calórica, devido à redução do volume ofertado.
Fórmulas com menores quantidades de fibras para atenuar os sintomas da gastroparesia.
Administração por sonda pós-pilórica, com cautela, pois, além da gastroparesia, os
pacientes com diabetes podem apresentar dismotilidade intestinal, o que aumenta o risco
de diarreia.
Progressão baixa e lenta da taxa de infusão (20 mL/hora), com aumento de 10 a 20 mL a
cada 12 horas.
A gastroparesia é frequente em pessoas com diabetes e ocorre por degeneração das
células nervosas do plexo mioentérico, determinando hipomotilidade antral, hipotonia
gástrica, contrações tônicas intensas no piloro e ausência de esvaziamento gástrico. Essa
dismotilidade resulta em sintomas como dor epigástrica, distensão abdominal, náuseas e
vômitos pós-prandiais. Os sintomas da gastroparesia aumentam o risco de hipoglicemia,
principalmente em pacientes que utilizam insulina, além de aumentarem o risco nutricional
por déficit calórico e proteico (SBD, 2019).
6.9.3. Envelhecimento
Atenção especial deve ser dada aos idosos, devido a alterações fisiológicas que ocorrem
com o envelhecimento e que contribuem para o desequilíbrio energético-proteico, podendo
ser ainda mais agravado com um mau controle glicêmico. A resistência à insulina está
associada à sarcopenia, que eleva o risco de quedas e fraturas, eventos cardiovasculares e
fragilidade. Os idosos também tendem a maior risco de hipoglicemia, com agravamento do
declínio cognitivo e aumento de eventos cardiovasculares (SBD,2019).
6.10.1. Hiperglicemia
A hiperglicemia em pacientes hospitalizados é definida como níveis de glicose no sangue
>140 mg/ dL. Os níveis de glicose no sangue persistentemente acima desse nível devem levar
a alterações na dieta ou nos medicamentos que causam hiperglicemia (ADA, 2020).
a. Assegurar a ingestão adequada de líquidos e calorias. A hiperglicemia leva a perdas
urinárias de água e eletrólitos (sódio, potássio, cloreto), e à inapetência (comum entre os
pacientes internados), que pode, equivocadamente, retardar a introdução da terapia
nutricional (SBD, 2019).
b. Seguir as recomendações de caloria e proteína: 25 a 35 kcal/kg/dia, observando a
resposta metabólica para que a glicemia não aumente ainda mais e 1 a 1,5g/kg de peso
atual/dia, sendo esse o limite superior fornecido aos pacientes em estado de maior estresse
metabólico (SBD, 2019).
c. Carboidratos: recomenda-se a ingestão de 45 a 50g a cada 3 a 4 horas para evitar
cetoacidose e, no mínimo, 200g/dia, adequado a cada caso específico (SBD, 2019).
d. Quando há necessidade de dietas especiais, como alteração na consistência por via
oral ou uso da via de acesso enteral, deve-se ajustar os macronutrientes, para viabilizar o
controle metabólico e atender às necessidades clínicas e nutricionais (SBD, 2019).
e. No caso dos pacientes em nutrição enteral, deve-se evitar a hiperalimentação,
através do uso de fórmulas para DM com menor proporção de carboidratos (33 a 40%) e maior
conteúdo de ácidos graxos e fibras (SBD, 2019).
f.Para os pacientes que apresentam difícil controle da glicemia recomenda-se a utilização de
contagem de carboidratos, onde a relação de uma unidade de insulina ultrarrápida ou rápida
é calculada para cada 10 a 25 g de carboidrato. Em pacientes com maior resistência insulínica,
como obesos, indivíduos com hepatopatia grave ou aqueles em uso de corticosteroides, faz-
se o cálculo com 10 g; em indivíduos magros, com hiperglicemia leve e naqueles que nunca
utilizaram insulina, opta-se pelo patamar superior (SBD, 2019).
6.10.3. Hipoglicemia
Segundo a American Diabetes Association (ADA, 2020), a hipoglicemia em pacientes
hospitalizados é categorizada pela concentração de glicose no sangue e correlatos clínicos,
sendo que os níveis 2 e 3 requerem correção imediata:
Hipoglicemia nível 1: concentração de glicose de 54 a 70 mg/dL.
Hipoglicemia nível 2: concentração de glicose no sangue < 54 mg/dL, que normalmente é
o limite para sintomas neuroglicopênicos (dificuldade de concentração, confusão mental,
alteração na visão, tonturas), sendo necessária ação mais imediata.
Hipoglicemia nível 3: evento grave caracterizado por estados mentais e/ou físicos
alterados, sendo indicado intervenção médica.
Recomendações da SBD (2019):
a. Orientar o reconhecimento dos sintomas, que podem variar de leves a moderados
(tremor, palpitação e fome) a graves (mudanças de comportamento, confusão mental,
convulsões e coma), especialmente naqueles pacientes com DM1 de longa data.
b. Orientar os pacientes ou responsáveis sobre a prevenção da hipoglicemia, sobre o
reconhecimento de situações que aumentam o risco, como jejum para exames ou
procedimentos, durante ou após exercícios intensos, atraso nas refeições e à noite.
c. A hipoglicemia nível 1 (leve) pode ser facilmente tratada, inclusive pelo próprio
paciente ou responsável, com 15g de carboidrato (monossacarídeo), que equivale a 150 mL
de suco/refrigerante comum ou 1 colher de sopa de açúcar.
A elevação da glicemia é esperada após 15 minutos.
Vale ressaltar que alimentos que contenham gordura retardam a resposta glicêmica
aguda.
Se a próxima refeição não acontecer dentro do período de 1 hora, orientar a realização
de um lanche imediatamente após o episódio da hipoglicemia.
Recomenda-se evitar o sobretratamento, para que não ocorra episódio de hiperglicemia
rebote.
d. No caso de hipoglicemia nível 2, se o paciente estiver consciente, oferecer 30g de
carboidratos (mel ou açúcar). Se estiver inconsciente, evitar qualquer tipo de líquido, devido
ao risco de aspiração. Nesses casos, ou na ineficiência da deglutição, a melhor alternativa é a
aplicação de glucagon (deve ser aconselhado ao paciente tê-lo em casa);
O paciente ou responsável devem ser instruídos sobre o uso do glucagon, local onde foi
guardado, validade quando e como administrá-lo. Não sendo necessário ser profissional de
saúde para administrar o glucagon com segurança.
6.11.2. Dislipidemias
Segundo a SBD (2019), o perfil lipídico de indivíduos com diabetes é caracterizado pela
elevação da concentração plasmática de triglicérides e redução do colesterol HDL. Quanto ao
colesterol LDL, não se observa elevação no plasma em comparação a indivíduos sem diabetes,
porém, no diabetes, formam-se partículas pequenas e densas, as quais são mais aterogênicas.
A terapia nutricional deverá seguir as recomendações mais atuais das diretrizes
nacionais e internacionais de dislipidemias.
6.11.4. Sobrepeso/Obesidade
Na população com diabetes, o uso intensivo de terapia insulínica e a supervalorização
das metas glicêmicas tem resultado em aumento das taxas de hipoglicemia grave e
contribuído para a predisposição ao ganho de peso (SBD,2019).
Reduzir a ingestão de calorias e modificar o estilo de vida podem beneficiar adultos com
sobrepeso ou obesos com DM e aqueles em risco de desenvolver diabetes. Foi demonstrado
que a redução moderada de peso, definida como a redução sustentada de 5 a 7% do peso
corporal inicial, melhora o controle glicêmico e ameniza a necessidade de medicamentos que
diminuem a glicose, sendo a perda de peso sustentada de ≥ 7% a ideal (SBD, 2019).
No caso da obesidade, seguir as recomendações do Protocolo de Terapia Nutricional
para Pacientes com Obesidade da UNUT, link nas referências.
7. INTERVENÇÃO
O nutricionista deve se nortear pelos objetivos e recomendações estabelecidos neste
protocolo e, com base neles, definir estratégias e intervenções, ou seja, a conduta, onde será
descrita a terapia nutricional para o paciente com DM.
“As condutas nutricionais devem avaliar o impacto da intervenção no progresso da
saúde do paciente, observar variações de necessidades nutricionais e personalizar a orientação,
conforme o estilo de vida individual” (ASBRAN, 2014).
A abordagem nutricional individualizada requer mudanças no estilo de vida e objetivos
que possam resultar em intervenções dietéticas complexas. Para essa individualização, é necessário
conhecer alguns aspectos relacionados ao contexto da produção e do consumo dos alimentos, como
cultura, regionalidade, composição de nutrientes e preparo de refeições. Esse cenário justifica a
recomendação do nutricionista como profissional habilitado para implementar intervenções e
educação nutricional para indivíduos com diabetes. Paralelamente esse profissional deve esclarecer
os membros da equipe sobre os princípios da terapia nutricional, a fim de obter seu apoio nas
implementações e desmistificar concepções (SBD, 2019).
Os guias de sociedades científicas internacionais enfatizam que o alcance das metas de
tratamento propostas requer esforço da equipe de saúde, e do indivíduo com diabetes ativamente
envolvido no processo (SBD, 2019).
Os programas de intervenção relacionados com a mudança do estilo de vida devem ser
intensivos e ter acompanhamento frequente para diminuir significativamente o peso corporal e
melhorar os indicadores clínicos (SBD, 2019).
8. ACOMPANHAMENTO
O acompanhamento de nutrição tem o objetivo de avaliar a resposta à intervenção que
aconteceu de acordo com o diagnóstico de nutrição e redefinir novos diagnósticos e
objetivos. Para tanto, deverá determinar o progresso, rever o estado nutricional e realizar
comparação sistematizada com a avaliação inicial, as metas propostas e os padrões de
referência de nutrientes. A frequência do acompanhamento deve ser estimada segundo
o diagnóstico e o objetivo da intervenção de nutrição (ASBRAN, 2014).
9. FLUXOGRAMA
Triagem
Avaliação nutricional e
metabólica
Diagnóstico de DM
Intervenção de nutrição/
TERAPIA NUTRICIONAL
Interação com a equipe
multiprofissional
Acompanhamento
Orientação de alta
Encaminhamento
ambulatorial, se necessário
Fonte: Arquivos da UNC (2021).
10. ALTA
Deve haver um plano de alta estruturado individualizado para o paciente com diabetes,
a fim de reduzir o tempo de internação e as taxas de readmissão e aumentar a sua satisfação. O
planejamento da alta deve começar na admissão e ser atualizado conforme evolução do paciente
(ADA, 2020).
Recomenda-se que a definição, reconhecimento, tratamento e prevenção de
hiperglicemia e hipoglicemia, e as informações sobre como fazer escolhas alimentares saudáveis
em casa e encaminhamento ambulatorial ao nutricionista para orientar a individualização do plano
alimentar, se necessário, sejam abordados antes da alta hospitalar (ADA, 2020).
11. REFERÊNCIAS
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION (ADA). Diabetes Care in the Hospital: Standards of Medical Care
in Diabetes - 2020. Diabetes Care. v. 43, p. 193-202, jan. 2020. Suplemento 1.
BORGES, V. C. et al. Projeto Diretrizes. Terapia Nutricional no Diabetes Mellitus. Associação Médica
Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2011.
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