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COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR

INSTITUTO DE RADIOPROTEÇÃO E DOSIMETRIA


CENTRO REGIONAL DE ENSINO E TREINAMENTO PROF. LUIZ TAUHATA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” EM PROTEÇÃO RADIOLÓGICA


E SEGURANÇA DE FONTES RADIOATIVAS

MÓDULO: 8. EXPOSIÇÕES MÉDICAS

TÍTULO: 8.8. VISITA TÉCNICA AO DEPARTAMENTO DE MEDICINA NUCLEAR

AUTOR (es): Lidia Vasconcellos de Sá, Jorge Wagner Esteves, Michel Carneiro.

INTRODUÇÃO

Local: Departamento de Radiologia do Instituto Nacional do Câncer (INCA):


demonstração de procedimentos e especificações das informações a serem
registradas.

Um hospital que utiliza técnicas radiológicas, tanto para diagnóstico


como para a terapia, tem uma série de departamentos bem definidos, e especialistas
em áreas específicas. O hospital tem um ambulatório, onde um paciente é inicialmente
examinado por um especialista e então é encaminhado ao departamento específico,
por exemplo, medicina nuclear, dependendo da ação a ser tomada. Nesta visita
técnica, os detalhes desse departamento, procedimentos realizados e precauções de
segurança tomadas, relacionadas ao paciente e aos trabalhadores, serão discutidos.

Objetivo

O objetivo desta visita é entender o funcionamento de um departamento de


medicina nuclear de um hospital, em relação aos procedimentos, os sistemas
utilizados e precauções de segurança.

MEDICINA NUCLEAR

Materiais

Calibrador de dose de radioisótopos, medidor de área, dosímetro pessoal,


monitores de contaminação, gamacâmara.

Procedimento

Medicina Nuclear é o ramo da medicina clínica, onde fontes não seladas de


radioisótopos são manipuladas para diferentes diagnósticos e aplicações terapêuticas.
A Medicina Nuclear pode detectar uma grande variedade de distúrbios e/ou doenças e
é efetivamente utilizada para o tratamento em condições benignas e malignas.

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Aplicações da Medicina Nuclear em Diagnóstico

Aplicações de imagem

Na geração de imagens de órgãos e suas funções para fins de diagnóstico, o


campo da medicina nuclear tem utilizado, principalmente, um radionuclídeo, 99mTc,
devido às suas excelentes propriedades químicas e nucleares. Este radionuclídeo,
marcado em diversos fármacos, é usado para obter imagens de uma grande variedade
de órgãos e sistemas.

Agentes para fígado e hepatobilares

Existem duas classes principais de radiofármacos utilizados para estudar a função


do fígado. Função do Retículo Endotelial e Função do Sistema Hepatobiliar.

Função do Retículo Endotelial: 99mTc-enxofre coloidal continua a ser o radiofármaco


de escolha. Cerca de 100-190 MBq (3-5 mCi) de atividade são usados por paciente.
Este agente é retido no fígado por um período prolongado de tempo, permitindo a
avaliação da morfologia funcional do fígado.
99m
Função Hepatobiliar: Tc-marcando derivados do ácido iminodiacético (IDA) são
atualmente os agentes utilizados. Entre eles Tc-Mebrofenin é o mais comumente
usado. Estes agentes são ativamente eliminados do sangue pelos hepatócitos e
excretados na bile, permitindo uma avaliação do trato hepatobiliar e sua função.
Aproximadamente, 100-190 MBq (3-5 mCi) de atividade é injetado para o estudo.

Agentes para imagens ósseas

Lesões ósseas destrutivas são produzidas por uma variedade de condições


patológicas, incluindo o câncer, distúrbios metabólicos e infecções.
99m
Tc-metileno-difosfonato (99mTc-MDP) é o radiofármaco mais comumente usado
para imagem de lesão óssea. Aproximadamente 550-740MBq (15-20 mCi) é utilizado
por paciente.

Agentes para pulmão

Radiofármacos com Tecnécio-99m são utilizados para estudar duas importantes


funções do pulmão, perfusão e ventilação. Para a imagem de perfusão, radiofármacos
particulados marcados com 99mTc-serum albumina humana desnaturada, microesferas
e macroagregados de albumina (MAA) são utilizados. Cerca de 100-190 MBq (3-5
mCi) por paciente é usado. Para estudos de ventilação, radiofármacos marcados com
Tecnécio, como 99mTc-DTPA, 99mTc-enxofre-colóide, são nebulizados e o paciente
inala os aerossóis gerados. O nebulizador normalmente contém 740-1.110 MBq (20-30
mCi) de atividade.

Agentes Renais

Radiofármacos contendo 99mTc para estudos renais podem ser de dois tipos, isto
é, agentes para imagem estática, para estudos morfológicos, e agentes para imagem
dinâmica, para estudos funcionais. Os agentes para imagens dinâmicas incluem os de
filtração glomerular e os de tubulação renal. Radiofármacos como 99mTc-GHA e 99mTc-

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(III)DMSA são utilizados para geração de imagens estáticas. Em imagens dinâmicas,


por exemplo, estudos de filtração glomerular, 99mTc-DTPA é comumente utilizado e
como agente de função tubular renal o 99mTc-MAG3, 99mTc-CE, 99mTc-DMDTPA, etc,
são usados.

Agentes Cardíacos

Os estudos de cardiologia são divididos em três categorias, isto é:


· Imagens de perfusão miocárdica - marcador de fluxo sangüíneo - imagem de
viabilidade.
· Determinação quantitativa da função cardíaca - agente para quantidade de sangue.
· Imagem de Infarto

Perfusão miocárdica: Este estudo ajuda a avaliar o fluxo sanguíneo no miocárdio,


que é essencial na detecção de doenças da artéria coronária. Tálio (201Tl) é
amplamente utilizado para esta finalidade. Radiofármacos marcados com 99mTc como o
99m
Tc-Sestamibi (Cardiolite), 99mTc-Tetrofosmin (Myoview) e 99mTc-Teboroxime
(Cardiotec) também são utilizados.

Quantidade de sangue: Este estudo fornece informações sobre a ação de


bombeamento cardíaco com aplicação de técnica apropriada, conhecida como MUGA
(estudo da aquisição por gatilho – multigated acquisition study). 99mTc-células
vermelhas (99mTc-RBC) é o agente de escolha.
99m
Imagem de Infarto: Tc-pirofosfato (PYP) é usado para geração de imagens de
infarto do miocárdio.

Imagens do cérebro: 99mTc-pertecnetato e compostos marcados, tais como 99mTc-


DTPA, 99mTc-GHA, são utilizados há algum tempo para imagiologia cerebral, isto é,
para imagem do rompimento da barreira hematoencefálica. Estes compostos são
absorvidos pela parte anormal do cérebro, tais como tumor ou infarto. Para os estudos
de perfusão cerebral, radiofármacos como o 99mTc-HMPAO, 99mTc-L,L-ECD são
utilizados.

Imagem de Infecção/Inflamação:
99m
Tc-marcando WBC, IgG e peptídeos quimiotáticos são utilizados para imagem
de infecção e inflamação.

Imagem da tiróide

Os radiofármacos como 123I, 131I e 99mTc-pertecnetato são utilizados para imagem da


tireóide.

Aplicações terapêuticas da Medicina Nuclear

No caso do uso terapêutico da medicina nuclear, o objetivo básico é


entregar uma dose máxima de radiação para o tecido-alvo, tendo cuidado para que
as dose para os tecidos não-alvo sejam mantidas segundo o princípio ALARA.

Existem vários tipos de procedimentos de tratamento na nuclear medicina onde


radionuclídeos emissores beta e beta-gama são utilizados. Alguns dos procedimentos

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terapêuticos em medicina nuclear, juntamente com radionuclídeos específicos e vias


de administração, estão listados na Tabela 1. O iodo radioativo é um isótopo que é
captado pela glândula tireóide e, portanto, pode ser usado no tratamento de algum tipo
de câncer de tireóide. É administrado ao paciente o 131I na forma oral (cápsulas ou
solução) ou por via intravenosa.

O 131I, sob a forma de iodeto de sódio (NaI), é usado para o tratamento do câncer
de tiróide e tireotoxicose e, sob a forma de MIBG, é usado para tratamento de tumores
neurais. Para o tratamento de pacientes com dores de metástases ósseas, os isótopos
32
P, 89Sr, 153Sm e 186Re estão sendo usados. Para tratamento de dor nas articulações
devido à artrite, é realizada sinovectomia por radiação utilizando 90Y.

Tabela - 1: Procedimentos terapêuticos com radionuclídeos mais comuns em medicina nuclear

Radionuclídeo T½ Energia (MeV) Aplicações Dose e modo de


(dias) EMÁX. EMÉDIA administração
.Tireotoxicose 0,1-1GBq, oral
131
I 8,0 0,60,... 0,162 .Câncer de tireóide 1-20GBq,oral
.Tumor neural 10 GBq, iv
32 200MBq, iv ou
P 14 1,71 0,695 .Policitemia vera
oral
89
Sr 50 1,46 0,580 .Metástase óssea 150 MBq, iv
90 .Derrame, maligno 5 MBq, ic
Y 2,7 2,27 0,935
.Radiosinovite 250 MBq, ia
153 18,5-74 MBq/kg
Sm 1,9 0,71,.. 0,229 .Metástase óssea
peso corporal, i.v
186 .Metástase óssea
Re 3,8 1,07,... 0,362 150 MBq, ia
.Radiosinovite
169
Er 9,5 0,34 .Radiosinovite 150 MBq, ia

Aspectos de segurança em aplicações de Medicina Nuclear

O risco envolvido na administração de material radioativo em procedimentos de


medicina nuclear é ponderado em relação às vantagens, em termos de saúde e bem
estar do paciente. Mantendo esse conceito, a ICRP-73 recomendou níveis de
referência de diagnóstico para pacientes em procedimentos de medicina nuclear.
Estes níveis são recomendações quanto à quantidade de radionuclídeo administrada
ao paciente para uma determinada investigação. São aplicáveis apenas para
exposições médicas e não para exposição ocupacional e de público. Portanto, esses
níveis não são utilizados para fins regulamentares ou comerciais, não têm ligação com
os limites de dose ou restrições.

Em geral, são feitas tentativas para determinar se um procedimento em particular


foi adequadamente otimizado e medidas são executadas para que o nível de radiação
clinicamente necessário não seja excedido. Procedimentos são introduzidos para
reduzir exposições injustificadas. Tais exposições podem ser minimizadas pela prática
com regularidade dos procedimentos descritos a seguir:

§ A atividade deve ser medida antes da administração do radiofármaco ao paciente a


fim de garantir que apenas a quantidade necessária de radionuclídeos seja
administrada.

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§ O paciente deve ser devidamente identificado.

§ Em caso de administração oral, a atividade deve ser administrada para o paciente


com o estômago vazio para que seja rapidamente absorvida e distribuída, reduzindo
assim a exposição no estômago.

§ Métodos de redução da dose, como a hidratação freqüente, agentes bloqueadores


da tireóide, etc, quando adequados, devem ser adotados.

§ Mães que estejam amamentando devem ser orientadas a retirar o leite


frequentemente, de forma a minimizar a exposição da mama.

§ Mães em amamentação devem evitar amamentar a criança por um intervalo de


tempo sugerido pelo médico nuclear.

Relato após Visita

Um hospital com práticas de diagnóstico e tratamento de várias


doenças que utilize radiação possui medicina nuclear, radioterapia e radiologia como
os três principais departamentos. Cada departamento utiliza equipamentos especiais e
uma série de fontes de radiação que podem ser abertas (não seladas) ou fechadas
(seladas) em gabinetes blindados. As equipes responsáveis pelos diversos
procedimentos e acompanhamento após os mesmos e, também, a enfermagem, é
bem qualificada e está ciente dos perigos da radiação, tanto para o paciente quanto
para si mesmo. Mesmo assim, os trabalhadores devem ser treinados em
equipamentos mais novos e nos seus procedimentos, a intervalos regulares. O
hospital, invariavelmente, tem um SPR ou um físico médico para auxiliar os médicos
na busca de informações referentes aos procedimentos como: duração da exposição,
dose a ser administrada, fracionamento, etc. O hospital deve sempre ter um plano bem
definido para lidar com situações de emergência, relacionadas com a máquina, o
paciente ou com os membros da equipe.

Resultados

A familiaridade com os diferentes departamentos de um hospital e o conhecimento


dos vários procedimentos realizados com radiações para fins de diagnóstico e terapia
foi alcançado.

Perguntas

1. Que procedimentos são realizados no departamento de medicina nuclear de


um hospital?
2. Quais radionuclídeos são mais comumente utilizados no diagnóstico nuclear
medicina e por quê?

Referências:

1. IAEA, International Basic Safety Standards, BSS-115, Vienna, 1996.


2. ICRP, Summary of the current ICRP principles for protection of patient in diagnostic
radiology. A report by committee 3 of the ICRP, 1982.

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3. ICRP, Publication No. 103 (2007).


4. N. Ramamoorthy and P. Saraswathy, Radionuclides in medicine and research, in
radiation safety for unsealed sources, Himalaya Publishing House(1999)
5. ICRP, Summary of the current ICRP principles for protection of patient in nuclear
medicine (1993).
6. A.F.G. Rocha, J.C.Harbert, Textbook of nuclear medicine-basic science, (1978).
7. M.M.Rehani, Jaypee, In diagnostic imaging: Quality assurance, Medical Publisher,
New Delhi, pp. 268 (1995).

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