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Introdução Objetivos Referencial


Teórico

04 05
Resultados e Considerações
Discussões Finais e Conclusão
01
Introdução
“Os modelos atômicos nos livros
didáticos são, em geral,
apresentados como ampliações
do átomo, ou seja, como os
cientistas “conseguiam vê-lo” e
não como uma teoria científica.”
(PIRES, 2001)
Introdução
● Grande influência do livro didático sobre a prática
docente.

● Visão ingênua:
O conteúdo do livro didático é correto, verdadeiro
e supostamente imutável.
Os cientistas trabalham de forma individual.
Competição pelo melhor modelo.

● Ciência é construída por diversos personagens.

● Trabalho colaborativo da comunidade científica.

● Thomson, Rutherford e Bohr trabalharam


conjuntamente no laboratório de Cavendish
(MELZER; AIRES, 2015).
Descompasso entre perspectivas educacionais para o livro didático
e as pesquisas na área de educação e ensino

● Modelos são abandonados em detrimento de outros “melhores”?

● Professor desconsidera a adequação dos materiais em relação à abordagem


histórica, aos documentos norteadores da educação e a proposta
metodológica da obra.

● Considerar aspectos da história da ciência → Discussão sobre fazer científico

● Formação deficitária e a falta de oportunidade dada pela escola para prover


momentos de discussão e de formação
Escolha do livro didático

● Escolas não costumam Considerar:


oferecer formação e ● Qualidade de conteúdo.
momentos de discussões ● Estruturação do conhecimento.
sobre critérios de escolha. ● Proposta de coleção.
● Votação simples. ● Possibilidades de trabalho com
o material de acordo com a
realidade de cada escola.
Os livros de química evoluíram com o tempo?

● Quais foram as principais mudanças


promovidas pelos documentos
normativos da educação nacional e
pela história da ciência na abordagem
histórica dos modelos atômicos nos
livros didáticos de Química no período
de 1929 até 2018?

*
Objetivos

Documentos História da Ciência


Normativos da
Educação

Aspectos Históricos dos


Modelos Atômicos nos
Livros Didáticos de
Química
Referencial Teórico
O Livro Didático

1929 Década de 1960 1997


● Criação do Instituto ● Preocupação com o ● PNLD passa a figurar a
Nacional do Livro (INL); aluno; estrutura executiva do
● Início da edição e ● Adaptação da Fundo Nacional de
produção dos manuais linguagem e conteúdo Desenvolvimento da
Educação (FNDE).
escolares. às faixas etárias.
● Uso exclusivo do
professor;
O Livro Didático
Atualmente
● Guia do Livro Didático: ● Determina “a maneira e ● Legitimação da visão
síntese da avaliação a sequência da de mundo dos autores;
pedagógica das apresentação de ● Postura passiva do
coleções distribuídas qualquer tema”; professor;
pelo MEC. ● É adotado como o ● Propagação de
● Escolha consciente —> único material, por concepções incorretas
papel central no comodismo e falta de e sem sintonia com a
processo de ensino e incentivo. realidade de
aprendizagem. estudantes.
● Avaliar criticamente;
O Livro Didático
Atualmente
● Visão simplista de que ● Teia de relações complexas:
o conteúdo está Políticas governamentais;
atualizado com as Interesses de editoras;
pesquisas e saberes do Transposição didática dos
campo da ciência e fatos científicos;
educação. Diretrizes curriculares;
Interesses comerciais;
● Isso exige um diálogo pouco
comum no Brasil, entre a
pesquisa educacional, os
professores, os autores e
editoras. O que parece
prevalecer é uma disputa
entre os autores de livro
didático e os pesquisadores,
pois enquanto os autores
escrevem para atender,
muitas vezes, necessidades
editoriais, os pesquisadores
buscam encontrar os
desvios conceituais
(GUIMARÃES, 2009, p.95).
Conteúdo de Estrutura Atômica
⅓ dos trabalhos sobre química e história da ciência

Construção histórica Papel central na História da Ciência


consolidada compreensão de e Humanização do
● Modelo quântico é outros conteúdos Ensino
recente —> lapso de Química
temporal de 70 anos. ● Participação ativa do
Ampla disponibilidade estudante;
● ● Ligações Químicas;
bibliográfica nas áreas de ● Formação humana;
● Transformações Químicas;
história da ciência e ● Preocupações com
● Compreensão incorreta —>
ensino inserção social e com
Concepções Alternativas
os processos de
construção da ciência.
Estratégias de Humanização do Ensino
de Química
História da Ciência
● Análise crítica da ciência. ● Compreensão do livro
● Parâmetros para escolha e didático como artefato
utilização do livro didático cultural
● Compreender fatores que ● Objeto em constante
influenciaram a produção didática construção
e sua transposição para os ● Relação do conteúdo com a
materiais. atualidade do conhecimento
científico.
A História da Ciência e os Modelos
Atômicos
Supressão de dados Desenvolvimento
importantes Histórico
● Relações entre ● Linear
pesquisadores e a ● Descontextualizado
comunidade científica, além ● Cientista é solitário
de influências que ● Contribui para visões
permeiam o trabalho dos estereotipadas, míticas e
cientistas lendárias
O Modelo Atômico de John Dalton
Origens (por quê?)
● Diversas versões ● Estudos com Eteno, ● Formação em
● Escassez de material sobre Metano, Óxido de Matemática;
sua vida (registros Nitrogênio → Lei das ● 1808: “Um novo
queimados na 2° Guerra proporções múltiplas sistema de filosofia
Mundial). —> Teoria Atômica química.”
● Jeremias Benjamin Richter: ● Trabalho com gases
Estequiometria ● Composição da
Proporções Constantes atmosfera
Titulação
Modelo de Dalton
Caracteristícas Influências Adaptações
● Esfera maciça ● Claude Berthollet ● Inicialmente —> modelos
● Pesos atômicos diferentes. ● Thomas Thomson alinhados com a ideia
● Indivisibilidade ● Willian Henry mecanicista de Newton.
● Indestrutibilidade ● Características
● “Criar ou destruir uma corpusculares → leis de
partícula de hidrogênio seria afinidade química e
o mesmo que tentar interações entre átomos.
introduzir ou destruir um ● Átomo envolto por um
planeta do sistema solar” fluído elástico (calórico) →
(DALTON, 1808, p. 212 atração/repulsão
● Interações →
névoa
● Dalton não
considerava o
átomo como
uma simples
esfera maciça e
indivisível →
isso não
explicava o
comportamento
dos gases que
ele estudava.
O modelo atômico de Joseph John Thomson

● A partir de estudos com raios catódicos,


Thomson propôs a relação massa-carga em
1897 “On the cathode rays”;

● Em 1904, Thomson sintetiza o modelo da


imagem ao lado:
○ Esfera de eletrificação positiva uniforme;
○ Corpúsculos negativamente eletrificados;
Modelo de Thomson x Modelo de Rayleigh

● Partículas negativas fluidas na ● Cargas negativas podendo


esfera e as positivas, fixas; variar até o infinito;
● Não estabelece relação de ● Cargas negativas equilibradas
equilíbrio entre os corpúsculos na esfera positiva;
positivos e negativos; ● Distanciamento entre as cargas
promove o equilíbrio;
Modelo de James Hopwood Jeans
● James Jeans buscou explicar a estabilidade
das cargas negativas no modelo de
Thomson;

● Tais proposições foram usada por Thomson;

● Pelo método experimental, os corpúsculos


são substituídos por agulhas magnetizadas
fixadas em discos de cortiça e flutuando em
água (ilustração ao lado):
Modelo de Hantaro Nagaoka
● Nagakoa propôs uma adaptação dos
cálculos de Maxwell dos anéis de
Saturno para a escala atômica;

● Núcleo grande e carregado, envolto por


corpúsculos que giravam na mesma
velocidade;

● O modelo não explicava a relação de


estabilidade dos corpúsculos e das
cargas subatômicas que manteriam a
estrutura coesa;
O modelo atômico de Ernest Rutherford
● Rutherford realizava experimentos que consistiam no bombardeamento de lâminas
de diversos materiais com partículas radioativas;

● Experimentos com Royds utilizavam partículas beta;

● Experimentos com Geiger e Marsden utilizavam partículas alfa e lâminas de ouro,


conforme imagem ao lado:
O modelo atômico de Ernest Rutherford
Num artigo de Geiger (1910), mostra-se o aparato à esquerda, que foi aperfeiçoado três
anos depois (1910) em um novo artigo, conforme figura à direita:
O modelo atômico de Ernest Rutherford

● Rutherford verificou a inconsistência no


modelo de Thomson;

● Em 1911, Rutherford propõe que os


átomos seriam “compostos por um núcleo
pequeno e denso, com localização central
e carga positiva, cercado por uma carga
negativa igual, mas uniformemente
distribuída;

● O cientista também previu a relação entre


de tamanho entre o núcleo e a eletrosfera;
O modelo atômico de Niels Bohr (1913)
● Discussões acerca do funcionamento
da eletrosfera atômica;

● Núcleo central, pequeno e positivo - ao


redor, elétrons realizando órbitas
circulares;

● Paradigma da mecânica clássica: os


elétrons em movimento em torno do
núcleo;

● Os espectros de emissão: transições


eletrônicas de níveis mais externos
para níveis mais internos do átomo;
O modelo atômico da Mecânica Quântica
● Bohr admite que suas órbitas circulares dos
elétrons eram apenas aproximações;
“Mas, porém, todavia,
● Sommerfeld: entretanto…”
- estabilidade da estrutura eletrônica:
propôs as órbitas elípticas para o átomo
de Bohr;

- Tratamento matemático e relativístico:


números quânticos l e m - unidos ao
número quântico n, descreviam o
comportamento eletrônico + Princípio da
exclusão de Pauli -> explicitar modelos
para todos os átomos.
O modelo atômico da Mecânica Quântica
● O modelo de Bohr esbarrava em questões
Recorte histórico
que não podiam ser descritas pela física
clássica - distanciamento entre referencial ● O modelo da mecânica quântica ganhou
observável e referencial científico; mais adeptos entre os norte-americanos
que na própria Europa. (Rocha, 2006);
● Schrödinger:
- Comportamento do elétron: expresso pela ● Ascensão dos Nacional-Socialistas (1933):
função de onda, como uma probabilidade de cientistas migraram para outros países -
se encontrar o elétron numa região, num Einstein e Bohr nos EUA.
dado momento;
● Perseguição aos cientistas que praticavam
● Goudsmit/Uhlenbeck: uma “física judia” (adeptos da física
- Número quântico interno. Este número se quântica) vs “física ariana”;
relacionava com o giro do elétron em torno
de si mesmo, daí surgia o nome spin.
O modelo atômico da Mecânica Quântica
Recorte histórico

● Projeto Manhattan + cientistas alemães


descontentes com o governo (retardar o
projeto atômico alemão);

● Derrota da Alemanha - visão


norte-americana de ciência se impôs
internacionalmente (Guerra Fria);

● Marcou uma ruptura definitiva com a visão


europeia de ciência (preocupada com
questões filosóficas) e a prevalência de uma
ciência “pragmática e instrumentalista”;
Modelos atômicos - Linha do tempo
Os modelos atômicos sob a ótica da
investigação científica
● Construção da ciência: propósito muito maior que uma simples competição!

● Cientistas trabalham segundo programas de pesquisa científica:


Núcleo firme + cinturão protetor + heurística

● O progresso da ciência se deve à degeneração e surgimento de novos programas (Lakatos,


1970);

● Movimentos de falseamento (elementos de refutação) vs cientistas que procuram mantê-la


coerente;

● O cientista não abandona sua teoria apenas porque ela foi falseada, mas reorganiza e
amplia, abandonando-a apenas quando ela apresenta sinais de degeneração.
Elementos dos programas de pesquisa científica - Modelos atômicos
Incorporação dos programas de pesquisa -
modelos atômicos nos LDs de Química
● Os acontecimentos da história da ciência passam também sob o crivo da normatização dos
sistemas de ensino;

● Leis, normas e publicações oficiais no âmbito educacional impulsionam mudanças no livro


didático:
- ratificando certos consensos na comunidade acadêmica;
- influenciando as obras com as visões de mundo e orientações político-partidárias dos
governos em curso;

● Ao propor programas, diretrizes e critérios de qualidade, o Estado filtra as obras mais


alinhadas e acaba por influenciar na aceitação destas por professores e instituições.
Os documentos educacionais e a
abordagem histórica da Ciência
● Mudanças nas legislações educacionais e documentos normativos;

● Interposição do Estado na validação dos conteúdos nos livros didáticos;

● Periodização da legislação educacional, segundo Saviani (2004):


a. 1890 ~ 1931 - criação das escolas primárias;
b. 1931 ~ 1961 - regulamentação pelo Ministério da Educação e Saúde Pública;
c. 1961 ~ 2001 - alinhamento da rede pública de educação, em diferentes esferas;

● Ênfase às mudanças do segundo período e seus impactos na abordagem histórica da ciência


nos materiais didáticos.
As primeiras reformas educacionais
● Ministério da Educação e Saúde Pública;

● Estruturação do nível secundário - Reforma Francisco Campos:


○ Implantação da disciplina de Química;

● Evitar discussões sobre a natureza da Ciência e fazer menção a grandes figuras;


○ Forte influência do positivismo;

● Portaria 966/1951 - história da ciência (apenas como fragmentos);

● LDB em 1961 - maior autonomia dos estados para divulgar propostas curriculares.
Os acordos MEC-USAID
● Tradução de materiais estadunidenses;

● Expansão da visão norte-americana de ensino de ciências;


○ Estudante como cientista em formação;
○ Tecnicismo

● Lei 5692/1971 - alteração no funcionamento do 1º e 2º graus;


○ Adaptação de obras didáticas, reduzindo conceitos e simplificando conteúdos;

● Intervenção do governo militar - homogeneização dos livros didáticos de Química;


As propostas educacionais no processo de
redemocratização
● História da Ciência retorna às propostas curriculares;
○ Desvinculada da visão positivista;

● Proposta curricular do Estado de SP;

● Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) - 1985;

● Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) - Ciência como construção humana.


PNLD e os Guias do Livro Didático de Química
● Campanhas de 2008, 2012, 2015 e 2018;

● 2008:
○ Critério 31 - Criação de condições para aprendizagem de ciências, particularmente da
Química, como processo de produção cultural do conhecimento, valorizando a história
e a filosofia das ciências.
○ Critério 32 - Tratamento da história da ciência integrado à construção dos conceitos
desenvolvidos, evitando resumí-la a biografias de cientistas ou a descobertas isoladas.
● 2012:
○ Há uma discussão mais profunda sobre o objetivo desses temas;
● 2015:
○ A história da ciência ganha destaque junto de uma contextualização;
PNLD e os Guias do Livro Didático de Química
● 2015:
○ É preciso lembrar que as teorias científicas são construídas no âmbito de disputas
entre grupos e na relação das demandas sociais configuradas por diferentes
momentos históricos. Assim, poder-se-ia perguntar: por que os modelos atômicos mais
estudados na Química escolar são oriundos do trabalho de pesquisadores membros de
uma mesma comunidade científica? Ou ainda, em outro exemplo, o que dizer da
produção em torno da Química no período pós-guerra na Europa? E, no Brasil, como a
Química se estabeleceu no decorrer de sua história?
● 2018:
○ a história da Química é outra maneira de auxiliar na melhor compreensão da natureza
da ciência, da relação dos cientistas com a produção do conhecimento químico, das
influências políticas para o desenvolvimento da Química e para o entendimento da
construção coletiva da ciência e de sua provisoriedade.
Até a próxima…
METODOLOGIAS
Caracterização da Pesquisa

● A pesquisa abrangeu diversos tipos de documentos: literatura científica, leis,


documentos oficiais e livros didáticos.
● Foram utilizadas abordagens e técnicas de análise específicas para cada tipo de
documento.
● A pesquisa foi qualitativa, combinando elementos de pesquisa bibliográfica e
documental.
● O objetivo principal foi estudar os modelos atômicos e analisar as mudanças nos
documentos educacionais em relação à história da ciência.
A pesquisa bibliográfica
● Utilizamos a técnica de revisão sistemática proposta por Barcelos para a pesquisa
bibliográfica.
● A revisão sistemática busca estabelecer um panorama preciso do conhecimento
relacionado a uma temática.
● As etapas envolvem seleção da base de dados, definição das expressões de busca,
determinação de critérios de qualidade e extração/consolidação dos dados.
● A pesquisa bibliográfica é essencial e considerada uma etapa prévia em qualquer
pesquisa.
● Fizemos uso da pesquisa bibliográfica para o levantamento histórico dos modelos
atômicos, tanto antes como durante a pesquisa.
● A intertextualidade dos documentos contribuiu para enriquecer a pesquisa bibliográfica
realizada durante o trabalho.
A pesquisa documental
● A pesquisa documental utiliza o método de análise documental proposto por Pimentel
(2001).
● O método de análise documental consiste em quatro etapas: encontrar as fontes e
documentos relevantes, realizar uma primeira organização do material coletado, fazer
uma segunda organização com base em temas e categorias emergentes, e tratar os
dados organizados por meio da análise de conteúdo.
● O trabalho de categorização deve estar alinhado aos propósitos da pesquisa e ser
coerente e plausível.
● A pesquisa documental busca encontrar, organizar e analisar os dados para produzir
interpretações e estabelecer relações com as informações obtidas na pesquisa.
Unidades de análise de Bardin
● A proposta de Pimentel na pesquisa documental se baseia nas técnicas de análise de
conteúdo de Bardin.
● Bardin propõe três etapas: pré-análise, exploração e tratamento de resultados.
● As técnicas de categorização e tratamento de dados de Bardin são amplamente
utilizadas em pesquisas qualitativas.
● As unidades de análise podem ser de registro (partes menores do conteúdo, como
palavras e ideias) ou de contexto (classificações mais abrangentes que exigem
interpretação).
● Na pesquisa em questão, serão utilizadas ambas as unidades de análise para analisar os
dados.
Percurso metodológico: pesquisa bibliográfica
● O levantamento bibliográfico inicial forneceu um panorama abrangente sobre a
utilização dos livros didáticos como fonte documental em pesquisas de história da
ciência.
● O período de pesquisa escolhido foi de 1929 a 2018 devido à disponibilidade de dados
relevantes.
● A metodologia dos Programas de Investigação Científica de Imre Lakatos foi adotada
como parâmetro para avaliar os aspectos temporais da inserção dos eventos da história
dos modelos atômicos nos materiais didáticos.
● A pesquisa bibliográfica sobre a história dos modelos atômicos seguiu o protocolo
proposto por Barcelos (2014) e utilizou o Google Acadêmico para buscar artigos
relevantes.
● A seleção da base de dados e definição das expressões de busca foram feitas com base
no levantamento bibliográfico inicial e outras referências citadas.
Percurso metodológico: pesquisa bibliográfica
● Os critérios de qualidade priorizaram produções mais abrangentes, detalhadas
historicamente e recentes.
● Os materiais coletados foram organizados por meio de fichamentos e
temáticas/expressões de interesse destacadas.
● Para o panorama educacional, foram utilizados artigos e proposta de periodização da
legislação educacional por Saviani (2004).
● Os documentos oficiais foram buscados nos portais do Governo Federal, JusBrasil e
Ministério da Educação.
● Os materiais foram fichados e pontos relevantes em relação à história da ciência no
ensino de Química foram destacados.
● Foi criada uma linha do tempo para os principais pontos de influência da legislação
educacional no período estudado.
Percurso metodológico: pesquisa documental

● A pesquisa documental sobre os livros didáticos de 1929 a 2018 foi resumida em um


quadro no Apêndice A.
● Foram seguidas as etapas propostas por Pimentel (2001) para essa pesquisa.
● Os livros foram obtidos na Biblioteca do Livro Didático da Universidade de São Paulo
(BLDUSP), que possui um acervo de cerca de 12 mil volumes.
● Foram selecionados 102 livros de Química da BLDUSP e mais 6 exemplares da edição
do PNLD de 2018.
● A coleta de dados foi feita por meio de registro fotográfico devido às restrições de
empréstimo.
● No total, foram selecionados 108 livros, indicados no Quadro 3 para referência
posterior.
Percurso metodológico: pesquisa documental
● Foram registradas fotografias de todos os capítulos e exemplares disponíveis na
BLDUSP.
● O material foi organizado em um quadro com informações bibliográficas, modelos
atômicos citados, abordagem histórica e comentários gerais.
● Uma segunda organização foi feita usando a técnica de categorização de Bardin (1977)
para identificar os modelos atômicos mais citados em cada década e o viés
historiográfico predominante.
● Os resultados foram apresentados no Capítulo 3, com um quadro de características dos
materiais didáticos por década.
● Foi criado um quadro de influências relacionando modelos atômicos, eventos históricos
e abordagem nos documentos normativos.
● No capítulo final, discute-se a contribuição da pesquisa para o ensino de Química,
abordando a postura do professor e possibilidades de implementação da abordagem
histórica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os modelos atômicos predominantes e sua
abordagem nos livros didáticos analisados
● Década de 1930:
○ Predomina o modelo de Dalton;
○ Nem todos os livros fazem sequer referência aos modelos atômicos;

“O átomo foi considerado por muito tempo como indivisível. Esta certeza está seriamente
abalada. É hoje geralmente aceito que os átomos podem ser modificados e divididos, resultando a
mudança de um tipo de átomo em outro. É a ideia de materia una, isto é, que todas as substâncias
têm por base uma unica especie de materia. As tentativas feitas para a transmutação do mercúrio
em ouro foram baseadas nesta ideia.” (Chimica Theorica e Prática, A. Valente do Couto, 1931)

● Outros modelos atômicos de forma vaga.


Os modelos atômicos predominantes e sua
abordagem nos livros didáticos analisados
● Menções ao modelos de Bohr somente a partir de 1936;

● Modelo predominante ao longo de 1940-50, porém em tom de incerteza;

● A estruturação dos modelos de Rutherford e Bohr se consolidam na década de 1950;

“Muito embora a palavra átomo signifique indivisível, somos conduzidos atualmente, graças
sobretudo aos trabalhos de Rutherford (Sir Ernest Rutherford, Inglaterra, 1871-1937), a
admití-lo como constituído de um núcleo central, eletrizado positivamente, em torno do qual
gravitam corpúsculos menores, os eléctrons planetários, carregados de eletricidade
negativa. A soma das cargas elétricas negativas dos eléctrons planetários é igual, em valor
absoluto, à carga positiva do núcleo, razão pela qual o átomo se nos apresenta
eletricamente neutro.” (Química - Primeira série - Curso Colegial, Costa & Pasquale, 1953)
Os modelos atômicos predominantes e sua
abordagem nos livros didáticos analisados
● Década de 1960:
○ Chemical Bond Approach e Chem Study;
○ Descrição de experimentos históricos para ilustrar o contexto de proposição dos
modelos atômicos;
○ Padronização;
○ Modelo da mecânica quântica (~40 anos mais tarde).

● Década de 1980:
○ O modelo quântico se estabelece como predominante e mais atual;
○ Livros mais atraentes ao leitor;
○ Uso de analogias e animismo para explicar conceitos.
(Fundamentos de Química,
Ricardo Feltre, 1980)
Os modelos atômicos predominantes e sua
abordagem nos livros didáticos analisados
● Década de 1990:
○ Uniformização dos modelos atômicos trabalhados em todos os livros analisados;
○ Surgiu nessa década uma ênfase nas questões cotidianas dos alunos;
○ O modelo da mecânica quântica não foi apresentado em todos os livros didáticos;
○ Movido para apêndices e removidos de tópico, como nas obras 1995-C, 1995-D,
1996-A e 1999-C entre outras.
Os modelos atômicos predominantes e sua
abordagem nos livros didáticos analisados
● Décadas de 2000 e 2010:
○ Ideias para o átomo e o modelo de Dalton num capítulo introdutório e os demais no
capítulo de estrutura atômica;
○ Discussão sobre os cientistas envolvidos, os experimentos realizados e a relação
destes com as características dos modelos;
○ Facilmente relacionados com questões do cotidiano.
1936-A

1949-A

1958-A 1968-B
1978-A

1987-B

1997-A 2010-C
A incorporação dos modelos históricos
aos materiais didáticos
Lapso temporal - Modelo de Bohr
● Modelo de Bohr ● Bohr → adaptar seu ● Empecilhos:
(1913) modelo aos Aceitação pela
● Citação em livro espectros atômicos comunidade científica
didático em 1936 . ● Proposta, que a Multiplicidade de
princípio divergia de outros modelos (Jeans,
resultados Nagaoka, Rayleigh)
experimentais. ● Transposição didática
A incorporação dos modelos históricos
aos materiais didáticos
Lapso temporal - Modelo Quântico
● Modelo Quântico (1925) ● Influência norte-americana →
● Citação em livro didático em progresso da mecânica
1964. quântica (2° Guerra Mundial)
● Produção didática brasileira a —> sem essa influência, lapso
partir de traduções do acordo poderia ser maior.
MEC-USAID.
Viés Historiográfico dos Textos Didáticos
Viés Positivista
(1930-1940)
● Ênfase no
método científico;
Viés Historiográfico dos Textos Didáticos
Viés Positivista
(1930-1940)
● Exaltação da
figura do
cientista.

● A imagem da
ciência como
infalível.
Viés Historiográfico dos Textos Didáticos
Viés Positivista
(1930-1940)
● A visão da ciência
pela própria
ciência
Viés Historiográfico dos Textos Didáticos
Tendência à
Humanização (a
partir de 1960)
● Construção do conhecimento
(considerar contribuções
anteriores)
● Questionamentos e
Aperfeiçoamentos;
● Desconstrução do cientista
solitário.
Viés Historiográfico dos Textos Didáticos

Kuhniano
(1980-1990)
● Abertura democrática.
● Revolução científica.
● Crise envolvendo modelos
anteriores → experimento
como ponto de ruptura entre
um modelo e outro.
Viés Historiográfico dos Textos Didáticos

Década de 2000
● Guia do PNLD;
● Autores adaptam materiais
● Incorporação da história da
ciência.

● Viés positivista permanece;


● História da ciência - boxes à
parte.
Principais Mudanças nas Produções de
Livros Didáticos
Década de 1970
● Ilutrações ganham clareza
Principais
Mudanças nas
Produções de
Livros Didáticos
Década de 1980
● Linguagem dialogada e
simplificada.
● Predomínio de esquemas e
ilustrações.
Principais
Mudanças nas
Produções de
Livros Didáticos
Década de 1990
● Modelo de Dalton é usado
como referência para
diferenciar substâncias puras,
compostas e misturas.
● A atividade científica
● Constituição da Matéria
Principais Mudanças nas Produções de
Livros Didáticos

Década de 1990
● Melhoria gráfica;
● Inserção de conteúdo histórico;
● “Química do cotidiano”
CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO
O livro didático e o nosso papel como
professores de Química
● Atuação do professor: ativa e crítica:
- “[...] articulando a realidade imposta com defesa de um ensino humanizado e
adaptado à realidade do professor.”

● Escolha do livro didático:


- articulada à realidade de sua escola;
- sua visão de educação em ciências;
- também suas metodologias de ensino;

● Os LDs devem abordar a Química como uma ciência “produzida por pessoas com
corpos, situadas no tempo, no espaço, na cultura e na sociedade e que se
empenham por credibilidade e autoridade” (Shapin, 2013, iii).
O livro didático e o nosso papel como
professores de Química
● Desafio - desvincular da visão positivista de ciência:
- cientista como gênio, figura incomum na sociedade (imagem do alquimista);
- a imagem de ciência e de cientista vista nos LDs não desperta o interesse do
aluno -> trabalho para “poucos”;

● Trazer novas perspectivas:


- desenvolvimento da ciência se deve a pessoas com papéis diversos na sociedade;
- o conteúdo dos livros didáticos deve trazer informações atualizadas;

● LDs ignoram partículas subatômicas descobertas após a proposição do modelo da


mecânica quântica:
- justificativa: não se relacionarem com o cotidiano do aluno… válida?
- Contra-argumentação: numa sociedade da informação, na qual o estudante tem
contato com notícias de todo o mundo de forma muito rápida.
O livro didático e o nosso papel como
professores de Química
● Conhecer o que há de “mais novo” na ciência pode contribuir para que o
estudante se sinta motivado a aprender Química.

● Também faz parte da “Química do cotidiano” -> relação desses conceitos com
a realidade (mídia, eventos, etc.): notícia sobre o funcionamento de um
acelerador de partículas;

● A abordagem de modernas teorias em ciência faz parte da formação dos


estudantes - cidadão capaz de opinar nas diversas temáticas nas quais a
ciência impacta a sociedade;
O livro didático e o nosso papel como
professores de Química
● Diretrizes propostas:
- atuação em fóruns de discussão que proporcionam um diálogo com
governos/entidades que promovem as políticas públicas para o livro didático;

- acompanhamento da produção acadêmica em ensino de Ciências e na área


de Química;

- Não utilização do livro didático como o único material na elaboração de


suas aulas: ainda são poucas as estratégias que se apropriam da história da
ciência como agente significante no ensino de Química;

- Uso de experimentos históricos montados fisicamente ou simulados em


computador e a pesquisa biográfica + busca por materiais de cunho histórico;
Conclusão
● Os LDs sofreram diversas mudanças no conteúdo e na abordagem histórica
dos modelos atômicos - aceleradores: documentos normativos e propostas
curriculares do governo;

● Uniformização dos conteúdos presentes nos livros didáticos + incorporação da


visão norte-americana da ciência/abordagem dos modelos atômicos;

● A abordagem histórica deixa de ser unicamente positivista - um pouco mais


humanizada, mas com predominância do positivismo ;

● Incorporação fragmentada de informações históricas - caixas de texto à parte


do texto didático, sem ligação com o conteúdo trabalhado;
Conclusão
● Décadas após a proposição de um modelo, alguns autores de LDs ainda não traziam
esse conhecimento de forma consolidada:
- Não é “defasagem” ou “desatualização” do material;
- Só após a consolidação do cinturão protetor e da adesão da comunidade
científica em torno no novo modelo é que passaram a ser incorporados aos LDs;

● Deve haver preocupação maior com a legislação educacional -> legisladores em


sintonia com as pesquisas em ensino de ciências;

● Professor ter um papel mais ativo no acompanhamento das políticas para o LD -


atualizado sobre propostas de inserção da história da ciência no ensino de Química;

● Visão de ciência europeizada nos LDs - A revisão feita da história dos modelos
atômicos se concentrou na Europa e nos Estados Unidos pós 2ª G.M. - estímulo a
busca pela história da ciência africana, asiática que não é contemplada nos
materiais.
OBRIGADO!

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