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MARIA CLARA MORELLATO – 3º P MEDICINA UVV

CONFERÊNCIA 4 – PATOGÊNESE E FISIOPATOLOGIA DA


INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Conjunto de sinais e sintomas que resultam em qualquer desordem estrutural ou  IC aguda – pode ser desencadeada por rompimento de uma valva (pressão
funcional do coração e que compromete a habilidade do ventrículo em encher e chega muito baixa e pulmão fica cheio de líquido).
ejetar o sangue (dinâmica de enchimento e ejeção fica prejudicada).  IC crônica – febre reumática na infância, hipertensão...
 IC com baixo débito cardíaco – coração não consegue ejetar um volume
Assim, o coração fica incapaz de atender, na maior parte das vezes, as demandas
suficiente para atender as demandas metabólicas do tecido.  absoluto.
metabólicas dos órgãos e tecidos.
 IC com alto débito cardíaco – coração continua não atendendo as
Existe um outro conceito: o coração chega a bombear e atender os órgãos e demandas do tecido, mas os tecidos aumentam muito as demandas
tecidos, mas às custas da elevação das pressões de enchimento. Pressões de metabólicas, e o coração aumenta o débito, mas não consegue aumentar o
enchimento = pressões diastólicas. suficiente (não atinge as necessidades metabólicas do tecido).  relativo.

CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA – avaliação da fração de ejeção


SINTOMAS  IC com fração de ejeção normal (>50%)
Cansaço e fadiga, aparecimento de B3 ou B4, turgência venosa jugular, tendência  IC com fração de ejeção intermediária
a queda da pressão e estertores (líquido no pulmão). Tríade: B3, estertores e  IC com fração de ejeção reduzida (<50%)
turgência – grande possibilidade de o paciente estar com insuficiência cardíaca.
Exemplo de fração de ejeção: ventrículo encheu 120 mL (volume diastólico
final), abriu a valva, ejetou uma fração de sangue, de forma que ficou um volume
CLASSIFICAÇÕES sistólico final (50 mL). Portanto, ele ejetou 70 mL (58% do sangue).
 Disfunção sistólica – ejeção é fraca; coração não consegue gerar um volume OBS: fração de ejeção é o que mais se olha em qualquer exame complementar! É
adequado na aorta para atender as necessidades metabólicas do tecido. um bom parâmetro para diagnosticar uma disfunção de ejeção do coração.
 Disfunção diastólica – coração está enchendo em pressões elevadas. Ele
ainda consegue ejetar o sangue para os tecidos, apesar de ser em condições Exame: ecodopplecardiograma transtorácico.
de pressões elevadas, mas a diástole está prejudicada.
 Disfunção ventricular direita – IC compromete só o VD.
 Disfunção ventricular esquerdo – IC compromete só o VE.
MARIA CLARA MORELLATO – 3º P MEDICINA UVV
ETIOLOGIAS volume que ele receber, e, para isso, ele vai ter que hipertrofiar para realizar
Etiologia tóxica: bebida alcoólica em excesso, cocaína, anfetamina, anabolizante, mais força, para tentar manter um débito adequado.
ferro, cobre cobalto, radiação (câncer), uso de antidepressivo em excesso, uso de • Hipertensão arterial sistêmica
anti-inflamatório em excesso, anestésicos, quimioterápicos, imunomoduladores. • Estenose da pulmonar: funciona igual a estenose aórtica para o ventrículo
direito.
Etiologia inflamatória: doença de chagas, algumas bactérias, vírus, miocardites • Hipertensão arterial pulmonar
autoimunes.
Na estenose aórtica, a tensão dentro do ventrículo aumenta, compensada com um
Etiologia metabólica: alteração da tireoide, diabetes, cortisol. aumento de espessura da cavidade ou de pressão dentro da cavidade para
melhorar a tensão parietal e para não consumir tanto oxigênio  esse
crescimento cavitário leva a um desarranjo do anel valvar mitral e tricúspide, que
PATOGÊNESE
favorece insuficiência das valvas e leva a regurgitação.
Agressão aguda ou crônica  ventrículo perde sua função sistólica ou diastólica
Por exemplo: uma pessoa sedentária consome muito mais oxigênio ao realizar
 diminuição do volume sistólico ejetado (diminuição do débito cardíaco) 
uma atividade física intensa que um atleta realizando essa mesma atividade. A
mecanismos compensatórios  mudança de geometria (ou dilata ou hipertrofia –
hipertrofia cardíaca (fisiológica nesse caso) é uma forma de proteção para não
remodelamento do coração)  mudança da performance do coração  perda de
aumentar muito o consumo de oxigênio.
função.

Insuficiência cardíaca pode ser caracterizada por: AQUI ENTRA LEI DE LAPLACE

 Sobrecarga de pressão TP = PIV * raio / espessura


 Sobrecarga de volume
- TP: tensão parietal – aumenta o consumo de oxigênio e trabalho do miocárdio.
 Alteração da contratilidade (diminui a força de contração)
 Anormalidades/interferência na diástole - Tensão parietal é diretamente relacionada à tensão intraventricular.

1) SOBRECARGA DE PRESSÃO (relacionado a aumento de - Hipertrofia diminui o consumo de oxigênio (diminuição da tensão parietal). Ou
seja, ocorre um remodelamento do coração. O coração hipertrofia para diminuir o
pós carga de VD ou VE)
consumo aumentado de oxigênio (mecanismo compensatório).
• Estenose aórtica: sobrecarga de pressão pode ser desencadeada pelo
estreitamento da válvula aórtica. P. ex, se uma válvula tinha 4 cm² de Ou seja...
abertura e passou a ter menos que 1 cm², a fase de ejeção do ventrículo  Sobrecarga de pressão remodela o coração com a hipertrofia das câmaras
esquerdo terá maior resistência, vai ter que contrair muito mais forte o cardíacas.
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2) SOBRECARGA DE VOLUME (aumento de pré-carga) aumentou o volume diastólico final e também houv ediscreto aumento na pressão
A pré-carga pode ser aumentada principalmente pelas regurgitações valvares  atrial.
insuficiência mitral ou aórtica.
Na fase de ejeção, todo o volume que chegou em excesso à cavidade foi
Insuficiência valvular (aórtica, pulmonar, mitral ou tricúspide)  retorno do esvaziado  mecanismo de Frank-Starling (aumenta o retorno venoso, aumenta a
fluxo pra cavidade cardíaca de onde o sangue deveria sair (fluxo não consegue se tensão na fibra miocárdica, aumenta a força contrátil, aumenta a ejeção
manter unidirecional, ele vai ter regurgitação)  aumenta o sangue na câmera ventricular).
que era pra ter ejetado esse volume  sobrecarga de volume  coração tem que
se virar com esse volume  coração com mais volume em uma cavidade dilata 3) CONTRATILIDADE INTRÍNSECA
(mecanismo compensatório)  aumenta sua capacidade  mas esse volume não Perda da força de contração do coração (diminuição do débito cardíaco). Causas:
pode ficar aí dentro  entra o princípio de Frank-Starling para dar vazão a esse  Infarto agudo do miocárdio
volume  quanto maior o volume, maior o enchimento do coração, maior a  Miocardiopatia
distensão das fibras, maior a força de contração  vai ejetar um maior volume/o  Miocardite
mesmo volume sistólico final para compensar.

MECANISMO DE FRANK-STARLING: aumento do volume diastólico final


 aumento do estiramento da fibra muscular cardíaca  aumento da força
contrátil  aumenta o volume sistólico ejetado. 4) INTERFERÊNCIAS NA FUNÇÃO DIASTÓLICA
Ou seja... (dificuldade do enchimento ventricular)
 Sobrecarga de volume remodela o coração com a dilatação das câmaras  Aumento da frequência cardíaca  diminuição do tempo de diástole 
(aumento do coração). diminuição do volume sistólico (débito cardíaco). Taquicardias muito graves
comprometem a ejeção de sangue, pois o aumento da frequência cardíaca não
Em verde escuro: compensa o débito cardíaco, e o coração acaba não enchendo quase nada de
aumentou o volume de sangue na diástole, consequentemente, bombeia quase nada de sangue na
enchimento. Na fase de sístole.
enchimento, que deveria  Tamponamento cardíaco (aumento do volume de líquido pericárdico – não
terminar em torno de deixa o coração expandir). Normal: até 50 mL – ajuda na dilatação do
120ml, ele recebeu mais coração. Se aumentar muito esse volume de líquido, ocorre o
volume, então teve uma comprometimento da expansão do coração, e este terá dificuldade de
pré-carga aumentada, enchimento.
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 Diminuição da complacência ventricular – o coração perdeu sua capacidade 3) Remodelamento do miocárdio (progressivo):
elástica, que auxilia a dilatação (endurecimento do coração).

À medida que o coração começa a perder força de ejeção ao longo dos anos, vão
sendo ativados mecanismos compensatórios para tentar segurar esse quadro,
tentar manter a fração de ejeção mais elevada para forçar o funcionamento
cardíaco.
DESTRINCHANDO UM POUCO MAIS OS MECANISMOS
Lembrando: tudo começa com a agressão do coração (sobrecarga de pressão,
sobrecarga de volume, diminuição da contratilidade e interferência na diástole) NEURO-HUMORAIS
alterando a função cardíaca, seu volume ejetado e diminuindo a pressão. Para Consequências da ação dos neuro-humorais:
isso, MECANISMOS COMPENSATÓRIOS tentam diminuir essas  Retenção de sódio e água (para reter volume e aumentar o retorno venoso
consequências e tentam melhorar o volume e pressão para manter ou melhorar a para o coração, que está com débito baixo)  leva a edema, turgência
perfusão: jugular, fígado aumentado, edema pulmonar etc.
1) Mecanismo de Frank-Starling: o aumento do volume  aumento do  Aumento da FC.
estiramento da fibra  aumento da força de contração.  Aumento da força de contração miocárdica.
2) Ativação neuro-humoral: liberação de mediadores neuro-humorais com  Vasoconstrição arterial e venosa.
finalidade de melhorar débito cardíaco, FC, PA, melhorar síntese de novos
cardiomiócitos com piora hemodinâmica e estrutural do coração (o prof. Tudo isso perpetua a agressão ao coração  mecanismos paliativos, porém
disse isso, mas eu não entendi). agressores.
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Neuro-hormônios do miocárdio: norepinefrina (SNS), angiotensina II (ordem oxidativo (produção de óxido nítrico), libera aldosterona, ação direta no túbulo
para hipertrofiar cardiomiócitos), aldosterona (aumentar fibrose, colágeno, proximal reabsorvendo sódio, libera vasopressina, proliferação dos vasos
aumentar a matriz intracelular para garantir a função contrátil e relaxamento). sanguíneos, fibrose do coração, aterosclerose, arritmia, trombose  tudo isso em
tentativas de tornar o miócito mais forte, dar suporte de matriz mais forte ao
SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO miocárdio, vasoconstrição para resistência periférica, aumentar atividade
É o primeiro a ser ativado  liberação da norepinefrina. inflamatória... muuuita merda.

O SNS é regulado por barorreceptores que estão no seio carotídeo e no arco Além disso, a aldosterona promove: a hipertrofia do miocárdio, disfunção do
aórtico. Se o coração sofrer uma agressão e diminuir o débito cardíaco  endotélio no barorreceptor (aumenta a excitação simpática do coração), inibe a
diminuição da pressão  não estimula barorreceptor  barorreceptor manda recaptação de norepinefrina nas terminações nervosas livres (não deixa a
uma mensagem ao bulbo  regulação do SNA  aumento da descarga simpática norepinefrina agir e aumenta seu nível circulante – diminui a sensibilidade à
(não houve estimulação adequada do barorreceptor). norepinefrina), aumenta a proteção de radicais livres, diminuição da capacidade
antioxidante, inflama e retém sódio. Isso tudo para reter volume, hipertrofiar o
É um suporte de curto prazo e age sobre o coração aumentando força contrátil,
coração e para melhorar a performance do coração.
FC e velocidade de condução, age sobre o rim para liberação de renina e na
vasculatura periférica para estimular vasoconstrição periférica. SISTEMA ARGININA-VASOPRESSINA
A vasopressina é também liberada caso o volume circulante abaixe em mais de
Com isso, aumenta o retorno venoso, fecha a periferia, não deixa cair a pressão,
20%  retenção de água e vasoconstrição.
aumenta a força contrátil e aumenta a frequência cardíaca. Porém, ao realizar
todas essas atividades, ocorre aumento da demanda de oxigênio. O coração já Principais funções: vasoconstrição (melhora a pressão) e retenção de água (tenta
está agredido e sua demanda de oxigênio é ainda mais aumentada  isso é oferecer volume para o coração para executar o mecanismo de Frank-Starling).
péssimo, né.
Receptores:
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA
Coração começa a parar de funcionar  diminuição do débito cardíaco   Nas células musculares lisas vasculares, receptores 1a.
diminuição da pressão de perfusão na arteríola do rim  não chega sangue no  Nas células dos túbulos coletores renais: 2b.
rim OU diminuição do sódio filtrado na mácula densa OU ativação do SNS 
liberação de renina  conversão de angiotensinogênio proveniente do fígado em Marcador de mal prognóstico: hiponatremia (sódio no sangue está muito baixo
devido à desregulação do sistema arginina-vasopressina).
angiotensina 1  que por sua vez sofre ação da enzima conversora de
angiotensina (ECA)  conversão de angiotensina 1 em angiotensina 2 (vilão!)  Repetindo de novo mais uma vez novamente:
age sobre receptor AT1 (receptor que faz as coisas deletérias do corpo)  sofre Sistema renina-angiotensina-aldosterona e arginina-vasopressina estão fazendo
transformação pela ECA2  vasoconstrição, hipertrofia do coração, vasoconstrição, retendo sódio e água, aumentando a frequência cardíaca e a
vasoconstrição arteriolar, liberação de mais catecolaminas, aumenta o estresse
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contratilidade. Tudo isso aumenta o trabalho do coração, ou seja, aumenta o
consumo de oxigênio no coração, que está agredido, e aumenta o retorno venoso
ao coração.

Para contrabalancear isso, o coração libera citocinas ou peptídeos


vasodilatadores (peptídeos natriuréticos).

 Peptídeo natriurético: o peptídeo natriurético, em resposta à retenção de sódio,


elimina sódio pela urina, promove a vasodilatação, é um antiagregante
plaquetário e inibe a angiotensina 2. Age em receptores NPRA, NPRB E NPRC.
Peptídeo natriurético tipo A e tipo B atuam no átrio e no ventrículo,
respectivamente. O NPRC e o NPRD são receptores periféricos. O PNA é
liberado em uma agressão mais aguda, e o PNB liberado em uma agressão
crônica. A enzima neprilisina atua degradando o peptídeo natriurético.
 Endotelina: vasoconstritora na artéria pulmonar, está relacionada à hipertensão
arterial pulmonar, aumentando a resistência ao fluxo sanguíneo que sai do
ventrículo direito para a artéria pulmonar. Ela também ajuda a estimular a
norepinefrina, angiotensina II e trombina, além de aumentar a atividade
inflamatória.

A insuficiência cardíaca é cada vez mais uma doença inflamatória – ou seja, muitos
mediadores inflamatórios estão agindo sobre o coração. Alguns ficam muito
aumentados, como fator de necrose tumoral, interleucina 6, enquanto a IL 10 fica
diminuída. Esses fatores inflamatórios serão responsáveis pelo catabolismo de
massa muscular  emagrecimento, caquexia.

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