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Disciplina: Bioquímica

Aula 5: Introdução ao Metabolismo


Apresentação

Nesta aula, compreenderemos como os diversos sistemas se comunicam para promover a regulação do metabolismo e
garantir a manutenção da vida nos seres vivos pluricelulares.

O metabolismo humano é formado por milhares de reações enzimaticamente controladas, dispostas em muitas rotas
metabólicas. Diferenciaremos o catabolismo do anabolismo e veremos exemplos de tipos de rotas metabólicas, que
estudaremos nas próximas aulas. Em seguida, destacaremos como o metabolismo é regulado para obter equilíbrio e
economia de energia.

Uma vez que o organismo humano é bastante complexo e formado por vários sistemas, precisamos entender como as
nossas células se comunicam entre si e com o meio. Estudaremos os mecanismos de transdução do sinal hormonal e
esclareceremos como os sinais químicos e os elétricos regulam as atividades do nosso organismo e nosso metabolismo.

Objetivos

Esclarecer os conceitos de metabolismo, catabolismo e anabolismo;

Descrever os tipos de rotas metabólicas;

Analisar a sinalização celular e sua interferência no controle do metabolismo.


Conceitos
Os organismos vivos são sistemas abertos, ou seja, estão presentes em um meio ambiente específico, mas não são isolados
deste.

Isso significa que os organismos são capazes de trocar energia e matéria com seu meio circundante, independentemente de sua
complexidade, seja ele uma bactéria, que é um ser unicelular, ou um ser humano, que é multicelular.

Nesse caso, esses seres precisam realizar trabalho para se manter vivos e se reproduzir. Isso requer a entrada de energia, que
pode ser obtida de dois modos:

1 2

Organismos fototróficos Organismos quimiotróficos


Luz solar. Exemplo: plantas e cianobactérias; Oxidação de combustíveis químicos. Exemplo: seres humanos.

Os seres humanos precisam obter nutrientes do meio, a partir dos alimentos, para realizar transformações químicas dentro das
células.

Existe, dentro das células, um fluxo de elétrons nas reações de oxido-redução, em que um reagente é oxidado (perde elétrons)
enquanto, simultaneamente, outro reagente é reduzido (ganha elétrons).

Quando consumimos glicose na alimentação, ela vai sendo oxidada até a formação de dióxido de carbono e água, e liberação de
energia na forma de ATP. Nas próximas aulas vamos entender como essas reações ocorrem.

Metabolismo é o somatório de todas as reações químicas de um organismo.

As milhares de reações químicas que ocorrem no organismo dependem de enzimas para catalisá-las, de modo que possam
acontecer em tempo hábil para manutenção da vida.

Nosso organismo estruturou essas reações de forma sequencial: o produto de uma reação se torna o reagente ou substrato da
reação seguinte.

Essa organização é chamada de rota metabólica.


Na figura 1, observamos um desenho artístico do mapa metabólico simplificado e na figura 2, uma analogia entre o mapa
metabólico e um mapa do metrô. Observe que existe um número enorme de vias que se interconectam, mas estudaremos
apenas as rotas mais importantes.


Figura 1 | Fonte: Wikibooks 
Figura 2 | Fonte: Wikibooks

Saiba mais

Metabolismo é:

“O conjunto de processos físicos e de reações que ocorrem em um sistema vivo e resulta na montagem ou quebra de moléculas
complexas. É constituído por reações anabólicas e catabólicas.”  

Nosso metabolismo é dividido em reações anabólicas e catabólicas.  

Reações anabólicas
O anabolismo faz referência às reações de síntese de biomoléculas. Essas rotas transformam moléculas precursoras pequenas
em moléculas maiores e mais complexas.

Podemos dar o exemplo da síntese proteica — partimos dos aminoácidos para a construção dessas macromoléculas.

Esse tipo de reação que consome energia é conhecida como endergônica, sendo termodinamicamente desfavorável. Para que
esse tipo de reação ocorra, as moléculas estão associadas a reações que liberam energia.

No estudo do metabolismo, veremos que a energia utilizada provém da quebra da molécula de adenosina trifosfato (ATP),
conhecido como nossa molécula energética.

Quando o ATP é hidrolisado, quebrado em ADP e fosfato inorgânico, há a liberação de energia que impulsiona as reações de
síntese.

A estrutura do ATP pode ser observada na figura 3. Além do ATP, temos as moléculas adenosina difosfato (ADP) ou monofosfato
(AMP). Observe que ele possui três grupos fosfato e, quando essas ligações são quebradas, há liberação de energia. Como
mostrado na figura 4.

Figura 3 | Fonte: Shutterstock 
Figura 4 | Fonte: Shutterstock

Reações catabólicas
São reações de quebra ou de degradação, em que moléculas maiores e mais complexas são transformadas em moléculas
simples.

Nesses casos, as reações liberam energia para o meio, conhecidas como exergônicas, e essa energia é, normalmente,
armazenada na forma de ATP e de transportadores de elétrons reduzidos como o NADH ou FADH2.

Um exemplo são as rotas que degradam os nutrientes provenientes da alimentação. A glicose no metabolismo será convertida,
através de várias rotas, em CO2 e H2O e liberação de ATP, como veremos nas próximas aulas. São exemplos de rotas catabólicas
glicólise e glicogenólise.
Podemos observar no esquema apresentado anteriormente que a obtenção de energia a partir dos alimentos ocorre em estágios.

Etapa inicial - Digestão


as moléculas maiores, polímeros, são digeridas
em seus componentes menores, monômeros.
Proteínas são quebradas em aminoácidos;
polissacarídeos, como o amido, são quebrados
em acúcares mais simples em moléculas de
glicose (monossacarídeo); lipídeos, como os
triglicerídeos, são convertidos em ácidos graxos
e glicerol. Nesse estágio não há ganho de
energia.

Segundo estágio - Absorção


Após absorção pelas células intestinais e
distribuição para o organismo, as moléculas
menores são convertidas em intermediários
importantes do metabolismo e algum ATP, como
o acetil-CoA, mostrado no esquema.

Último estágio - Oxidação


Há oxidação completa da molécula pelas rotas
metabólicas do ciclo de Krebs e a fosforilação
oxidativa, também chamada cadeia respiratória.
Mais ATP é produzido.

O catabolismo é um processo convergente, as vias catabólicas convergem para poucos produtos finais, diferentemente do
anabolismo que é divergente, ocorre a síntese de muitas biomoléculas diferentes.

Na figura 5, vimos várias vias convergindo para a produção de Acetil-CoA e depois seguindo vias comuns.

As reações anabólicas e catabólicas devem estar organizadas de modo que não ocorram simultaneamente em um mesmo órgão.

Exemplo

Se há abundância de energia após uma refeição, o fígado interrompe o catabolismo da glicose e inicia o processo de anabolismo,
convertendo a glicose em glicogênio, seu polímero de reserva no organismo. Já após um período de jejum, quando há baixa de
energia, iniciamos o catabolismo de glicogênio em glicose e, posteriormente glicose em outros produtos para a obtenção de
energia para as células na forma de ATP.
Veremos adiante que existe um complexo sistema de comunicação celular, que garante essa coordenação das vias metabólicas.

Algumas vias são tanto catabólicas quanto anabólicas.

RESUMO
São funções do nosso metabolismo:

01 Obter energia química, capturando energia solar ou degradando nutrientes;

02 Converter moléculas dos nutrientes em precursores de macromoléculas, que podem ser utilizados pelas nossas células;

03 Sintetizar as macromoléculas necessárias ao organismo;

04 Sintetizar e degradar biomoléculas de acordo com a necessidade celular.


Tipos de vias metabólicas
Muitas reações químicas que ocorrem nas células são reações acopladas. Além disso, muitas vezes, a energia liberada em uma
reação é utilizada para a realização da reação posterior. Observe os principais tipos de vias ou rotas metabólicas.


Vias linerares

Vias lineares
Várias vias são lineares, como a via glicolítica. Nessas vias, existe um substrato inicial e um produto final. Nas etapas
intermediárias, o produto de uma reação é o substrato da seguinte.


Vias cíclicas

Vias cíclicas
O ciclo de Krebs é um exemplo de via cíclica que estudaremos. Nesse tipo de rota, um composto inicial da via é regenerado após
uma série de reações que converte outro componente inicial em um produto. 

Todas as etapas dessas vias são catalisadas por enzimas, que podem estar separadas entre si, formar complexos
multienzimáticos e formar sistemas associados a membranas.

Regulação do metabolismo
A primeira regra básica do metabolismo é que a síntese e a
degradação de determinada molécula não podem ocorrer
simultaneamente na mesma célula ou tecido.

O modo como o organismo encontrou para


controlar essas rotas metabólicas é que elas
devem utilizar enzimas distintas e ocorrer em
compartimentos celulares diferentes. Observe
esquema ao lado.

As várias rotas metabólicas também possuem enzimas marcapasso, conhecidas como enzimas reguladoras. Essas enzimas
podem controlar a velocidade das reações químicas por diversos processos.

 
Como já estudamos, algumas enzimas são reguladas por adição de um grupamento fosfato ou fosforilação e, dependendo da
enzima, ela pode estar ativada ou inibida quando fosforilada.

Exemplo

A enzima glicogênio sintase, envolvida na síntese de glicogênio a partir de glicose, quando está fosforilada fica na sua forma
inativa.

Para que sirva como um sistema regulatório, esse


processo de fosforilação e defosforilação deve ser
reversível. Normalmente, a adição ou retirada dos
grupos fosfato são realizadas por enzimas
diferentes. Observe o esquema ao lado em que a
enzima fica ativa depois de fosforilada.
Outras enzimas são reguladas por efetores
alostéricos, que podem ser positivos ou
negativos. A regulação alostérica ocorre em um
sítio diferente do sítio catalítico, conforme mostra
o esquema acima.

A regulação também pode ocorrer por ativação


gênica. Nesse caso, um ativador gênico aumenta
a síntese de determinada enzima. Observe o
esquema a seguir.

Sinalização celular e controle do metabolismo


Nos organismos pluricelulares, garantir o funcionamento integrado entre os sistemas é muito importante.

Essa comunicação celular é fundamental para o controle do metabolismo, ela pode ser feita por meio de sinais químicos —
moléculas sinalizadoras — ou sinais elétricos.

Esses sinais regulam as atividades celulares e são respostas a estímulos do meio ambiente. É importante que as células sejam
capazes de receber e reagir a sinais vindos da parte externa da membrana plasmática.
A localização do receptor vai depender do tipo de molécula
sinalizadora:

Se a molécula é hidrossolúvel, é importante que o


receptor esteja presente na membrana, uma vez que a
molécula hidrossolúvel não é capaz de atravessar a
membrana celular.

Desse modo, quando a molécula se liga ao receptor, há


uma mudança de conformação e uma amplificação do
sinal para o interior da célula, com uma consequente
resposta celular. Como na figura 5.

Se a molécula sinalizadora é lipossolúvel, o receptor para


essa molécula pode se encontrar na superfície da célula,
como no caso anterior, ou no interior da célula, estando
presente no citoplasma ou mesmo no núcleo celular.


Figura 5 | Fonte: Shutterstock

A lipossolubilidade permite que ela seja capaz de atravessar a


membrana celular através da difusão pelos lipídeos. Como
ocorre com os hormônios esteroides, na figura 6.

Um dos tipos de sinalização é a dependente de contato, neste


caso, as proteínas ligadas à membrana plasmática de uma
célula podem interagir com receptores de uma célula
adjacente.


Figura 6 | Fonte: Shutterstock

A substância sinalizadora não é secretada para o


meio, ela permanece na superfície da célula
sinalizadora, conforme podemos observar acima.
Existem outros tipos de sinalização:

Sinalização parácrina — As moléculas sinalizadoras


(mediadores locais) agem em múltiplas células alvo, próximas
ao local de sua síntese;

Sinalização autócrina — A célula responde a substâncias


liberadas por ela mesma. As moléculas mediadoras podem ser
mediadores locais, como por exemplo, alguns fatores de
crescimento;

Sinalização endócrina — Os sinais são hormônios


transmitidos a diversas localidades do organismo via corrente
sanguínea, para encontrar a célula-alvo.

Esses tipos de sinalização podem ser vistas na figura 7.


Figura 7 | Fonte: Shutterstock

É sempre importante observar que, para receber a informação,


a célula deve possuir o receptor específico para ligação. Caso
contrário, não haverá resposta.

Na figura 8, observamos que uma célula possui


receptor para o hormônio A e não para o hormônio
B, a outra possui apenas para B e não para A, mas
uma terceira é capaz de responder aos dois
hormônios A e B, já que possui receptores
específicos para ambos.


Figura 8 | Fonte: Shutterstock

A molécula transmissora pode ser um


neurotransmissor como a dopamina, assim, ela
age na célula-alvo, que deve estar próxima a ela
em uma junção sináptica, como vemos na figura
9.


Figura 9 | Fonte: Shutterstock
Saiba mais

Assista ao vídeo Neurotransmitter Synapse 3D Animation  <https://www.youtube.com/watch?v=90cj4NX87Yk> . Nele, vemos os


eventos que ocorrem em uma sinapse, em que um impulso elétrico é transformado em impulso químico, o neurotransmissor é
lançado na junção sináptica e se liga a um receptor no neurônio pós-sináptico.

Principais mecanismos moleculares de transdução de sinais

1. Receptores de membrana acoplados a


canais iônicos
São receptores ionotrópicos, que participam da transmissão
rápida que envolve a abertura de proteínas dispostas ao redor
de um canal, uma vez que o ligante se une, ocorre a abertura
desse canal, um evento que acontece em milissegundos.


Exemplo de receptores nicotínicos de acetilcolina

Saiba mais

Assista ao vídeo Neuromuscular Junction (Anatomical Structure)   <https://www.youtube.com/watch?v=CLS84OoHJnQ> . É o


processo que ocorre na junção neuromuscular.

2. Receptores de membrana acoplados a proteínas G


Esse grupo é o dos receptores metabotrópicos. Quando o ligante se une, ocorre a ativação de uma proteína G, que é uma
proteína heterotrimérica de membrana, com três subunidades (αβγ), em que a subunidade alfa possui atividade GTPase.

Existem vários tipos de proteínas G, que interagem com diferentes receptores e controlam diferentes efetores.

Exemplo

Receptores adrenérgicos. Assista ao vídeo Action of epinephrine. <https://www.youtube.com/watch?v=ejq99wLEMTw&t=42s>


3. Receptores enzimáticos – ligados a
quinases
São os receptores de vários hormônios, por exemplo, insulina
(esquema ao lado) e fatores de crescimento, que incorporam a
proteína tirosina quinase em seu domínio intracelular. Estão
envolvidos principalmente em eventos que controlam o
crescimento e a diferenciação celular e atuam indiretamente
ao regular a transcrição gênica.

4. Receptores intracelulares
São os receptores que controlam a transcrição gênica. Os
exemplos de ligantes incluem os hormônios esteroides,
tiroidianos, vitamina D e ácido retinoico.

Esses receptores são proteínas intracelulares, então,


obrigatoriamente, os ligantes devem ser lipossolúveis e
penetrar na célula. Os efeitos são produzidos em
consequência da síntese alterada de proteínas e são os de
início e ação mais lentos.

A figura 10 mostra o receptor de vitamina D.

Video

Assista ao vídeo Types of Drug Receptors <https://www.youtube.com/watch?v=WORIhbaRABg>  , que mostra um resumo dos
quatro tipos de receptores.

Atividade
1. Diferencie catabolismo e anabolismo. Dê exemplos de vias catabólicas e anabólicas.
2. Com relação ao metabolismo, escolha Verdadeiro ou Falso:

a) O metabolismo é regulado por hormônios, e o catabolismo e anabolismo de macromoléculas como glicogênio não ocorrem
simultaneamente.

b) O catabolismo é um processo que gera energia durante seu processo, que é armazenada na forma de ATP.

c) O catabolismo é caracterizado por ser divergente.

d) O anabolismo se refere à degradação de macromoléculas em moléculas simples ricas em energia.

d) Todas as vias metabólicas são lineares e possuem enzimas marcapasso.

3. Explique a digestão e absorção de proteínas. Explique o porquê de a insulina não poder ser administrada por via oral em um
paciente.

Referências
Notas

HARVEY, R.A; FERRIER, D.R. Bioquímica Ilustrada. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.

HORI, J. Bioquímica. Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2015.

NELSON, D.L.; COX, M. Lehninger Princípios de bioquímica. 5.ed. São Paulo: Sarvier, 2011. 

SACKHEIM, G.I.; LEHMAN, D.D. Química e bioquímica para ciências biomédicas. 1.ed. Barueri, SP: Manole, 2001.

STRYER, L., TYMOCZKO, J.; BERG, J. Bioquímica. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

Próxima aula

Carboidratos e estudo de sua estrutura;

Principais funções dos carboidratos;

Metabolismo de carboidratos, vias glicolítica, fermentação, glicogenólise, gliconeogênese e ciclo das pentoses.
Explore mais
Leia o texto O papel dos hormônios leptina e grelina na gênese da obesidade <//www.scielo.br/pdf/rn/v19n1/28802.pdf> ;

Assista às animações:

The Nerve Impulse


<//highered.mheducation.com/sites/0072495855/student_view0/chapter14/animation__the_nerve_impulse.html>

Chemical synapse
<//highered.mheducation.com/sites/0072495855/student_view0/chapter14/animation__chemical_synapse__quiz_1_.html>

Impulso <//men5185.ced.ufsc.br/trabalhos/05_eletrofisiologia/imagem/impulso.gif>

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