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O salário do maçom

Autor: Rui Bandeira - (Blog A Partir da Pedra)

A Maçonaria Operativa, como estrutura de regulação do acesso e prática da


atividade profissional de construtor em pedra, regulava igualmente as formas de
pagamento e os montantes dos salários dos seus associados.

Também na Maçonaria Especulativa os maçons recebem o seu salário.


Simplesmente, como tudo na Maçonaria Especulativa, o salário que o obreiro
recebe é simbólico.

O obreiro trabalha em Loja. Em quê? No seu aperfeiçoamento, na busca dos


conhecimentos, das lições, dos exemplos, das práticas que dele farão uma pessoa
melhor. Nesse trabalho tem de identificar e interpretar símbolos, atribuindo-lhes o
seu significado pessoal, similar ou não ao que os seus Irmãos, ou alguns dos seus
Irmãos, ou um particular Irmão, lhes atribuem. O trabalho do obreiro em Loja
insere-se e une-se ao trabalho que os demais obreiros efetuam, constituindo o
conjunto um acervo de estudos, atividades, interpretações, princípios
desenvolvidos, que tem mais virtualidades como um todo do que a mera soma dos
contributos individuais.

Virtualidades para quem? Para os próprios obreiros. O trabalho maçónico é


eminentemente individual, mas coletivamente efetuado. O seu resultado, inserido
no conjunto dos esforços e nele amalgamado, está à disposição para apropriação
de todos e de cada um. A forma como cada um beneficia é com cada qual. O mesmo
obreiro, em cada momento, pode retirar do trabalho que ele e seus Irmãos efetuam
lições ou consequências diferentes. Hoje poderá ser uma lição moral, amanhã uma
simples lição de vida ou regra de conduta, depois uma ferramenta para uso no seu
dia a dia profissional ou de relação social, por vezes apenas (e tanto é…) uma
simples sensação de Paz, de Segurança, de Conforto, a mera (mas por tantos tão
dificilmente obtida) noção do seu lugar na vida e do significado da sua existência.

Perante a sua Loja, o maçom apresenta para o trabalho a Pedra Bruta que é ele
próprio, o seu Carácter, a sua Personalidade, as suas Características, as suas
Virtudes, os seus Defeitos, as suas Capacidades, as suas Insuficiências, as suas
Potencialidades e o que falta para as transformar em Realidades. Junto de seus
Irmãos, trabalha essa Pedra Bruta. Retira-lhe as asperezas. Melhora a sua forma.
Determina o local onde deve ser colocada. Dá-lhe cor e atavio. A pouco e pouco,
essa Pedra Bruta será cada vez “menos bruta”, ganhará forma mais delineada e
adequada, tornar-se-á mais útil para a função que está destinada a exercer. A
pouco e pouco, tornar-se-á uma Pedra Aparelhada, já com alguma utilidade e
capacidade para se inserir no grande Templo da Criação, Parede da Humanidade.
Mas ainda será, não já áspera, mas rugosa, não já suja, mas baça.

Será ainda necessário alisá-la e poli-la, de forma a que, a seu tempo, a Pedra Bruta
que é o maçom possa vir a ser a muito mais útil e bela Pedra Polida. Mas, ainda
então, de pouca utilidade e valia será se não for inserida no local adequado, pela
forma asada, para exercer a função destinada. Há que conhecer ou definir os
Planos, efetuar e ler o Desenho que nos guie para colocarmos a nossa Pedra, que
foi bruta e que procurámos tão Polida quanto o lográmos que fosse, no lugar
correto, em que será útil e contribuirá para a sustentação, imponência e beleza do
Templo em cuja construção se insere.

Cada maçom, à medida que vai trabalhando, vai aprendendo a trabalhar, à medida
que melhora, vai aprendendo a melhorar, à medida que aprende, vai aprendendo
a aprender. E cada vez mais vê melhor trabalho, mais melhoria, mais larga
aprendizagem. À medida que evolui vai aumentando o benefício que retira do
trabalho que efetua. Não patrimonial, mas pessoal, intrínseco.

Esse benefício é o salário do maçom, a justa remuneração do seu esforço. Não tem
valor de mercado, nem cotação de troca, porque vale muito mais do que uma
mercadoria ou um serviço. Tem o valor supremo da Pessoa Humana, que cresce,
que se educa, que evolui, que se aprofunda, que se realiza, que se enobrece, que
se dignifica. Esse valor vale mais que todo o ouro do Mundo, que todas as riquezas
e mordomias de que usufruem os afortunados do planeta. Porque nada vale mais
do que um Homem digno, de espinha direita, cabeça lúcida, espírito forte. Aos
outros, por mais ricos que sejam, conquistou-os o mundo. Esta conquista o mundo,
ainda que seja pobre e sem poder. O seu mundo. O que interessa.

O salário do maçom é o que ele retira do bolo comum que resulta do seu trabalho,
do seu esforço e dos seus Irmãos. Em conjunto e com o fermento da Fraternidade,
esse bolo cresce muito mais do que se lhe pôs, ao ponto de todos poderem retirar
mais um pouco do que cada um lá pôs e ainda sobra bolo.

Esse salário não se conta, não se mede, não se pesa, não se avalia. Só o próprio o
sente e dele beneficia. Não tem valor facial algum. Tem todo o valor moral e
espiritual.

E, porque à medida que o maçom trabalha, aprende, cresce, melhora, de cada vez
vai conseguindo retirar um pouco mais, de cada vez vai conseguindo aumentar um
pouco seu salário. Imperceptivelmente. Até que um dia os seus Irmãos dão por ela
e… oficializam lhe o aumento de salário! Chamam os maçons aumento de salário à
passagem de grau. Mais não é, do que o reconhecimento dos progressos feitos.

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