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À

REPARTIÇÃO DE AUDITORIA E
DISCIPLINA MILITAR DO HOSPITAL
MILITAR PRINCINPAL /INSTITUTO
SUPERIOR EM LUANDA.

=LUANDA=

Processo N° 090C/RADM/HP-IS/023

Instrutora: Elma André

NOTA DE CONTESTAÇÃO

Madelena Manuel Valente, nascida aos 15/03, solteira, residente no


bairro Neves Bendinha, Kilamba Kiaxi, província de Luanda,
funcionária do Hospital Militar Principal/ Instituto Superior desde
1992 até a presente data, ocupa a função de Técnica de Radiologia, com
passe n°1153, código 1281.

Vem nestes termos e nos melhores de Direito apresentar a sua


DEFESA:

Em face do Processo disciplinar movida pele entidade em epígrafe,


dizendo e requerendo o que segue.

Dos Factos.

Trata-se de uma acção disciplinar, na qual narra o Autor que a


presumível infractora fez uso inadequado da máquina utilizada para a
realização de Raio X, afecta a área de Urgência, tendo causado a avaria
do detector afecto ao mesmo.
Ocorre que, diferentemente do que foi narrado na Nota de Acusação, a
máquina já encontrava-se com problemas técnicos, somente abria de
um dos lados, era alvo de várias reclamações por partes de todos os
funcionários que lidam quotidianamente com a mesma. Outrossim, a
máquina em causa foi desenvolvida para manter-se fixa (estar num
lugar fixo) ao ser manipulada, sendo interdita para movimentações, o
que não ocorria por ordem dos superiores hierárquicos, provocando a
deterioração da mesma.

Por outra, a paciente que ora recebia os devidos cuidados durante a


execução do trabalho encontrava-se em estado de agitação pelo que, a
especialista ao tirar a ampola para colocar debaixo da mesa, esta
destrancou-se e embateu contra a máquina devido o estado emocional
da paciente.

Importa ter presente que, os fundamentos elencados no Processo,


dessa forma, não demonstram matéria probatória suficiente que
verifique a conduta ilícita da presumível infractora, tendo para tanto a
confirmação de tal facto através de testemunhos de seus colegas,
secundado as dificuldades operacionais apresentadas pela máquina.

Insta salientar que, há época do facto que resulta o presente Processo


não havia um manual de procedimentos actualizados a ser seguidos,
nem o Hospital Militar Principal/IS forneceu qualquer formação aos
trabalhadores para o manuseio da referida máquina, de salientar,
moderna e de tecnologia de ponta.

Não corresponde a verdade o aludido no articulado n° 1 da Nota de


Acusação ao dizer que arguida utilizou a máquina de forma
inadequada, dos 31 anos que arguida trabalha como Técnica de
Radiologia nunca foi responsabilizada por uso inadequado dos meios
de trabalho, sempre soube velar pelo Dever de Parcimónia.

Ademais, arguida tem dado maior de si para garantir um resultado


eficiente e eficaz aos pacientes, bem como no alcance dos fins
prosseguido por esta unidade hospitalar. É injusta a acusação que pesa
sobre si, visto que, foi um acidente de trabalho. Não houve qualquer
iniciativa ou intenção da presumível infractora em destruir ou
danificar o detetor de Raio X.

A Arguida no momento que recebeu a Nota de Acusação, não lhe foi


entregue o processo completo para melhor elaborar a sua defesa
relativamente aos factos que pesam sobre si, a não ser a Nota de
Acusação que não tem fundamento bastante para tal.

O articulado n° 3 da Nota de Acusatória expressa uma linguagem


imprópria e intimidatória e que em certa medida fragiliza o direito da
arguida de se auto defender.

DA TEMPESTIVIDADE

Nos termos do Art. 126 d) da Lei de Bases da Função Pública,


considerando que a intimação para responder a presente acção
ocorreu em 24/07/22023 , conforme a Nota de Acusação, tem-se por
tempestiva a presente contestação, devendo ser acolhida.

DO DIREITO

Nos termos do 67.° n° 2 da CRA, tal como o artigo 11.º da Declaração


Universal dos Direitos Humanos consagram o princípio da presunção
de inocência, acautelando-se que a presunção de inocência subsiste ao
longo do processo até trânsito em julgado da sentença condenatória.
Igualmente, é de capital importância no plano jurídico-processual, o
princípio in dubio pro reu, porquanto, como esclarece Vasco A. Grandão
Ramos, “Sempre que a prova produzida seja insuficiente e não conduza à
formação de um juízo de certeza sobre a existência da infracção ou de
que foi o arguido que a cometeu, deve ser absolvido. Na dúvida, decide-se
a favor do réu”. In Direito Processual Penal – Noções Fundamentais,
Colecção Faculdade de Direito – U.A.N, 6ª edição, 2011, pág. 98.

Sob amparo do Lei de Bases da Função Pública (LBFP) para análise da


imputabilidade no caso em questão, estabelecendo e definindo a
infracção disciplinar dos funcionários da Função Pública, dispõe sobre
quem por ele deva responder, fixando as medidas disciplinares
cabíveis.

De acordo art. 8.° da lei base da função pública, no exercício das


funções, os funcionários gozam dos direitos, liberdades e garantias
previstos na Constituição e na lei.

Alude o art. 9.° Desempenho efectivo das funções ou tarefas próprias


da sua respectiva carreira e de acordo com a evolução alcançada na sua
carreira profissional.

Al.j) do mesmo art. respeito da sua intimidade, imagem e dignidade no


trabalho.

Al.k) Ser tratado com respeito, consideração e urbanidade pelos


superior hierárquicos .

Nos Autos, alega-se que a arguida fez uso inadequado da máquina


utilizada para a realização de Raio X, afecta a área de Urgência, tendo
causado a avaria do detector afecto ao mesmo, o que se presume
incorrer numa infracção disciplinar, passível de uma sansão disciplinar
de Redução tempória salarial, nos termos da al. C), do Art. 123 da
LBFP, por violação da al. g) do Art. 7 do mesmo diploma legal.

A Nota de Acusação aponta como circunstância atenuante, prevista na


alínea d), do n. 2, do artigo 127, da LBFP, motivo suficiente para afastar
peremptoriamente a circunstância agravante, prevista na alínea e), do
n. 4, do mesmo artigo, uma vez que inexiste dolo, não há razão para se
alegar que a funcionária em causa, agiu para produzir um resultado
prejudicial ao serviço público, ao interesse geral ou a terceiros.

Por conseguinte, a LBFP estabelece que, sempre que um Processo


Disciplinar seja determinada uma das circunstâncias atenuantes deve
ser aplicada ao infractor a medida disciplinar imediatamente inferior
de acordo o n. 2 do Art. 127, no caso em apreciação seria a
Admoestação registada.

Segundo a teoria da culpabilidade, não há sanção se não houver


culpa. A funcionária é acusada de utilizar de forma inadequada a
máquina utilizada para a realização de Raio X, quando não há provas
de qualquer conduta dolosa ou culposa neste sentido. Ao contrário,
sempre zelou pelo bom andamento das tarefas e responsabilidade no
manuseio das máquinas sob seu domínio no desempenho das suas
funções, conforme destacam os depoimentos de seus colegas de
serviço. Observa-se que não se configura qualquer conduta indevida da
acusada.

Luiz Regis Prado (in Curso de Direito Penal brasileiro, RT, 2001), sobre
o Princípio da Culpabilidade, nos ensina que “a culpabilidade deve ser
entendida como fundamento e limite de toda pena. Esse princípio
diz respeito ao caráter inviolável do respeito à dignidade do ser
humano.” O conteúdo do princípio é a ideia de que não é possível
atribuir a alguém a responsabilidade por uma acção ou omissão, sem
que esse alguém tenha actuado com dolo ou culpa, o que não restou
configurado no presente caso.

Para que se configure uma conduta como ilícita e, consequentemente,


sancionar a funcionária é preciso identificar com clareza a intenção na
obtenção do resultado, o que inexiste no caso em questão.

CONCLUSÕES

A arguida trabalha como Técnica de Radiologia desde 1992 até adata


presente isto é, a 31 anos, durante o qual granjeou experiência e
profissionalismo, fruto do trabalho que sempre realizou com
dedicação, zelo e respeito a coisa pública.

Outrossim, a arguida é uma pessoa séria e acima de tudo responsável,


o facto imputado a ela, no presente processo, reputamos como uma
ofensa ao seu brio e profissionalismo.

O Autor argumenta tratar-se de responsabilidade da arguida os danos


relatados, quando na verdade trata-se de um facto ocorrido
exclusivamente por causa de uma paciente que encontrava-se
emocionalmente instável, e que a arguida ao tirar a ampola para
colocar debaixo da mesa, esta destrancou-se e embateu contra a
máquina.

Portanto, manifesta-se improcedente a sanção ventilada no Processo


por não se tratar de responsabilidade da arguida a ocorrência dos
prejuízos.

Com base em tudo que foi acima explanado, por não restar
comprovada qualquer conduta ilícita praticada pela arguida, vem a
V.Ex. com mui douto suprimento da V. Ex. Requer que seja levada em
consideração os factos supracitados para melhor realização da justiça
que é o valor fundamental de uma Nação.

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