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PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS DUMONT

Estado de Minas Gerais


“Terra do Pai da Aviação”

EXCELENTISSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA 1.ª VARA CÍVEL


DA COMARCA DE SANTOS DUMONT, ESTADO DE MINAS GERAIS.

Autos n.º 5002128-92.2020.8.13.0607

Nos Autos da AÇÃO ORDINÁRIA em epígrafe, em curso


perante este Douto Juízo e Secretaria, vem os signatários in fine assinados, com
o devido respeito e acatamento, à presença deste Notável Julgador, a fim de
requerer a juntada de ALEGAÇÕES FINAIS do MUNICÍPIO DE SANTOS
DUMONT, na Ação que lhe foi proposta por LUCIANA CRISTINA XAVIER DE
ABREU, mediante incluso MEMORIAL.

Deferimento.
Santos Dumont, 09 de Outubro de 2023.

Dr. Francisco de Assis Belgo


Procurador Jurídico

Eliana Bastos da Silva Ferreira


OAB – MG 110.017

Thayná Martins Toledo


OAB-MG 189.380

Natália de Almeida Vitorelli


OAB/MG 143.393
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS DUMONT
Estado de Minas Gerais
“Terra do Pai da Aviação”

MEMORIAL

ALEGAÇÕES FINAIS

Pelo Réu
Município de Santos Dumont.

DOUTA JULGADORA:

I – A ESPÉCIE.

Cuida-se de Ação onde a Autora pretende o recebimento de


adicional insalubre sob alegação de contato habitual e permanente com pessoas
portadoras de doenças infectocontagiosas, postulando valores em atraso e a
incorporação da parcela aos vencimentos da autora.

Contudo o único destino possível para a presente ação é o


decreto de sua total improcedência. Inclusive existe Jurisprudência recente
do Tribunal Superior do Trabalho reconhecendo que a função de ACS não
figura no rol das atividades sujeitas à insalubridade, conforme a
regulação por parte do Ministério do Trabalho.

Em sede de alegações finais diz o Município:

II – A AUSENCIA DE COMPROVAÇÃO TÉCNICA SEGURA.

O exame atento dos autos revela que o destino da ação é sua


improcedência, pois pretendendo a autora o recebimento de adicional insalubre
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seria necessário à prova conclusiva de que havia o contato habitual e


permanente com pessoas portadoras de doenças infectocontagiosas, o que não
ocorre com a acionante.

Embora tenha sido produzida uma prova pericial, o Município,


respeitosamente, considera a mesma insuficiente para caracterizar o labor em
condições insalubres, mormente quanto não conseguiu o Sr. Expert comprovar a
atuação em ações de saúde e muito menos com portadores de doenças que
podem ser transmitidas.

Sabe-se que o agente comunitário de saúde funciona como um


servidor de apoio, auxiliando no monitoramento à distância e registro dos
pacientes, sem qualquer contato direto com estes, considerando que a obrigação
deste contato, evidentemente é dos profissionais que integram as equipes de
enfermagem.

Não consta das atribuições dos agentes qualquer responsabilidade


em ter relação direta com pacientes portadores de patologias simples e muito
menos de pessoas com doenças transmissíveis, condição sine qua non para
pensar numa insalubridade.

É de conhecimento público que o Agente apenas acompanha o


médico e os profissionais técnicos da equipe de estratégia da família, não
realizando, mesmo de forma auxiliar, qualquer atividade minimamente ligada a
um procedimento de atendimento médico.

E o trabalho pericial não apresenta qualquer comprovação neste


sentido, baseando suas conclusões em referências vagas e imprecisas, fornecidas
em sua quase totalidade pela própria autora, evidentemente, parte interessada
direta com o desfecho positivo da perícia.

III – AS FUNÇÕES DE AGENTE NÃO GERAM


INSALUBRIDADE.

Consta dos autos que a Autora teve suas funções ligadas a


atuação como agente comunitário de saúde. E nestas funções desempenhava
atividades diversas, com visitas domiciliares em residências, trabalho de apoio e
conscientização, não tendo obrigatoriamente contato com pessoas
doentes. Muito pelo contrário, pois na maioria das visitas o contato era com
pessoas sadias e somente de forma eventual ocorria o trabalho com doentes. De
todo modo, doentes comuns, sem serem portadores de doenças infecto-
contagiosas. Tais doenças ou quadros desta ordem eram inerentes a
outras pessoas da equipe.
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Logo a função da autora não era insalubre, pois não mantinha


contato habitual e permanente com pessoas portadoras de doenças que
pudessem trazer contágio.

A própria narrativa das funções descritas na exordial


demonstram que o exercício é inerente a funções de atendimento
simples, em locais abertos, sem qualquer risco a saúde. Não é verdade que
a autora trabalhasse em campanhas de vacinação e muito menos que não
dispunha de EPI-S. O Município Réu sempre forneceu EPI-s, desde os aventais e
uniformes até os demais itens.

Nunca houve risco a saúde. Nunca houve risco potencial de dano


a saúde. Não havia qualquer freqüência ou mesmo habitualidade no contato com
pessoas doentes. Tratava-se de mera atividade eventual. Não há sequer
enquadramento das funções da autora com quaisquer daquelas
arroladas nas respectivas NRs.

As Normas Regulamentadoras que estabelecem as funções


insalubres ligada saúde estabelece serem insalubres em grau médio, in verbis,
os trabalhos e operações 'em contato PERMANENTE com pacientes, animais ou
com material infecto contagiante, em hospitais, serviços de emergência,
enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos
destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal que
tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso
desses pacientes, não previamente esterilizados); hospitais, ambulatórios, postos
de vacinação e outros estabelecimentos destinados ao atendimento e tratamento
de animais (aplica-se apenas ao pessoal que tenha contato com tais animais);
contato em laboratórios, com animais destinados ao preparo de soro, vacinas e
outros produtos; laboratórios de análise clínica e histopatologia.

Nenhuma destas funções foi desenvolvida pela autora. Logo a


função não é insalubre. Existe remansosa Jurisprudência dos Tribunais
consignando que a função de Agente Comunitário de Saúde não é insalubre.
Vejamos:

Acórdão - Processo 0010166-23.2011.5.04.0761 (RO)


Redator: RICARDO TAVARES GEHLING
Data: 24/05/2012 Origem: Vara do Trabalho de
Triunfo

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.


ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AGENTE COMUNITÁRIO
DE SAÚDE. DESCABIMENTO. Hipótese em que é de ser
rejeitado o incidente de uniformização de jurisprudência,
por se tratar de dissenso jurisprudencial de matéria fática, e
não de interpretação do direito, pressuposto este
indispensável para o acolhimento da medida, com fulcro no
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art. 476 do CPC. AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE.


ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. Não tendo sido
comprovado contato habitual com pacientes ou
material infecto-contagiantes, não é devido o
adicional de insalubridade em grau médio. Aplicação
do Anexo 14 da NR 15 da Portaria n° 3.214/78.
(...)Acórdão - Processo 0010166-23.2011.5.04.0761 (RO),
Redator: RICARDO TAVARES GEHLING, Data: 24/05/2012
Origem: Vara do Trabalho de Triunfo, disponível no sítio do
Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul.

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE EM GRAU MÁXIMO -


AGENTE ADMINISTRATIVO DE SAÚDE. O exercício de
atividades burocráticas em Posto de Saúde, sem contato
direto e permanente com pessoas portadoras de moléstias
infecciosas, não geram direito ao empregado de receber o
adicional de insalubridade. Atividades não previstas pela
Portaria 3.214/78, Anexo 14 da NR15. (...)Acórdão -
Processo 0000206-76.2012.5.04.0771 (RO), Redator:
MARIA CRISTINA SCHAAN FERREIRA, Data: 19/09/2012
Origem: 1ª Vara do Trabalho de Lajeado, disponível no sítio
do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul.

A discriminação dos agentes considerados nocivos à saúde bem


como os limites de tolerância mencionados estão previstos nos anexos da Norma
Regulamentadora NR-15, aprovada pela Portaria 3.214/78, com alterações
posteriores. Normalmente nas funções mais agudas ligadas a Saúde a
insalubridade só é devida no caso de contato com portadores de doenças infecto-
contagiosas. E nos autos inexistiu qualquer comprovação de que este contato
ocorria.

Neste norte não há qualquer elemento seguro nos autos que


aponte para a atividade da autora com exposição a agentes insalubres e muito
menos contato permanente com pessoas portadoras de doenças infecto-
contagiosas.

É preciso pontuar que para o direito ao adicional insalubre


faz-se necessário à comprovação inequívoca de trabalho com contatos
habituais e permanentes com agentes que podem trazer danos a saúde,
o que não ocorre com o reclamante. E decisão do Tribunal Regional do
Trabalho da 3.ª Região (Belo Horizonte) reforça esta conclusão:

“Processo 00901-2009-108-03-00-0 RO
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“Terra do Pai da Aviação”

Data de Publicação 24/05/2010 DEJT Página: 18,


Órgão Julgador Oitava Turma, Relator Márcio Ribeiro do
Valle, Revisor Paulo Roberto Sifuentes Costa

EMENTA:

INSALUBRIDADE. AUSÊNCIA DE CONTATO


PERMANENTE COM MATERIAL INFECTO-CONTAGIANTE. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. Nos termos do anexo 14 da NR-15 da
portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho, são consideradas
atividades insalubres, em grau médio, trabalhos e operação
em contato permanente com pacientes, animais ou com
material infecto-contagiante, em laboratórios de análise
clínica e histopatologia, aplicando-se, a referida norma,
unicamente, ao pessoal técnico.
Desse modo, não é o simples trabalho em área da
saúde que enseja o direito ao adicional de insalubridade. É
preciso, para tal, que o trabalho se desenvolva em contato
permanente com pacientes, animais ou com material infecto-
contagiante. Se, no caso em exame, as operações habituais
da Autora não envolviam contato permanente, nem
intermitente, com pacientes, animais ou material infecto-
contagiante, já que as lâminas que ela analisava diariamente
continham material inerte, isto é, incapaz de gerar contato e
contágio com agente biológico vivo, as atividades por ela
exercidas não se enquadram em todas as exigências do texto
normativo para a caracterização da insalubridade por agentes
biológicos, sendo indevido, portanto, o adicional postulado.”

Importante consignar que ainda que autora tivesse contatos com


pessoas doentes (o que não ocorreu) isto se implementou de forma bastante
reduzida e sem qualquer habitualidade ou freqüência o que afasta qualquer
alegação de direito a insalubridade.

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. Hipótese em que a


prova não permite concluir pela existência de contato
habitual ou intermitente com agente insalubre, capaz
de assegurar ao reclamante o direito ao respectivo
adicional. ACÓRDÃO 0001945-19.2010.5.04.0201 RO Fl. 1,
DESEMBARGADOR RICARDO HOFMEISTER DE ALMEIDA
MARTINS COSTA, Órgão Julgador: 11ª Turma, Recorrente:
BRASLOG LOGÍSTICA LTDA. - Adv. Paulo Roberto Rech,
Recorrido: MARCO ANTÔNIO DA SILVA MACHADO - Adv.
Lidomar Giuliani Cantarelli, Origem: 1ª Vara do Trabalho de
Canoas. – grifamos.
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Colocando termos finais ao assunto, recentemente, o


Tribunal Superior do Trabalho (TST) reafirmou sua própria
jurisprudência no sentido de que as atividades dos agentes comunitários
de saúde, por não se assemelharem àquelas desenvolvidas em hospitais
ou outros estabelecimentos de saúde, não se encontram inseridas no
Anexo 14 da NR-15 da Portaria 3.214/72 do Ministério do Trabalho e,
portanto, não rendem ensejo ao pagamento do adicional de
insalubridade.

Ementa:

AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO


PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017.
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AGENTE COMUNITÁRIO DE
SAÚDE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO ANEXO 14 DA NR 15
DA PORTARIA 3.214/78 DO MTE. TRANSCENDÊNCIA
POLÍTICA RECONHECIDA.
Agravo a que se dá provimento para examinar o
recurso de revista. Agravo provido. RECURSO DE REVISTA.
ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.467/2017. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AGENTE
COMUNITÁRIO DE SAÚDE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO
ANEXO 14 DA NR 15 DA PORTARIA 3.214/78 DO MTE.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA.
A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de
que as atividades dos agentes comunitários de saúde, por
não se assemelharem àquelas desenvolvidas em hospitais ou
outros estabelecimentos de saúde, não se encontram
inseridas no Anexo 14 da NR-15 da Portaria 3.214/72 do
Ministério do Trabalho e, portanto, não rendem ensejo ao
pagamento do adicional de insalubridade.
Precedentes. A vigência da Lei n.º 13.342/2016, que
alterou a Lei nº 11.350/2006, com acréscimo do § 3º ao seu
artigo 9º-A, em nada modifica o entendimento fixado, uma
vez que tal alteração legislativa não afastou a necessidade
de constatação de labor em condições insalubres, acima dos
limites de tolerância, e previsão em norma regulamentadora
de determinada atividade como sendo insalubre, nos termos
em que preceitua a Súmula 448, I, do TST. No caso, o TRT,
ao deferir o pagamento do adicional de insalubridade a
agente comunitário de saúde, em que pese tal atividade não
se encontrar inserida no Anexo 14 da NR-15 da Portaria
3.214/72 do MTE, contrariou o entendimento pacificado
nesta Corte, por meio da Súmula nº 448. Recurso de revista
conhecido e provido. (Ag-RR-21788-98.2017.5.04.0661, 5ª
Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT de
10/06/2022).
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IV – REQUERIMENTOS FINAIS:

Requer o Município Réu o decreto de total improcedência


da presente ação, nos moldes da contestação ofertada e das demais
manifestações durante o curso da ação e também diante da total ausência de
prova que evidenciasse o exercício em condições insalubres, postulando a
improcedência e a condenação da autora nas cominações processuais de praxe e
estilo.

P. Deferimento.
Santos Dumont, 09 de Outubro de 2023.

Dr. Francisco de Assis Belgo


Procurador Jurídico

Eliana Bastos da Silva Ferreira


OAB – MG 110.017

Thayná Martins Toledo


OAB-MG 189.380

Natália de Almeida Vitorelli


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