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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

QF053
LABORATÓRIO DE QUÍMICA APLICADA

MÓDULO 3 - EXPERIMENTO 1 - ISOTERMAS DE ADSORÇÃO

GRUPO 1
Adrielle Martins de Souza 145091
Aline Cristina Teixeira 145140
Ananda de Sousa Ramos 163982
Bruna Cristina Jorge Machado 104655

CAMPINAS
2020
1. INTRODUÇÃO

Adsorção é a acumulação de uma substância em uma interface. Está relacionado a


tensão superficial das soluções. É um processo de transferência de um ou mais constituintes
de uma fase fluida para superfície de uma fase sólida.[1]
A adsorção é atualmente definida como um fenômeno de superfície no qual uma
concentração finita de moléculas de um fluido, por afinidade, aderem a uma superfície devido a
um não balanceamento das forças.[7]
Adsorvente é o material o qual ocorre a adsorção e o adsorbato é a substância
adsorvida.Os sólidos apresentam a propriedade de reter moléculas em sua superfície e esta
propriedade pode ser bastante acentuada no caso de materiais porosos ou finamente divididos
como o carvão ativado.[1]
Algumas características como a natureza do sólido (sítios ativos e distribuição de poros)
e a natureza do adsorvato (dipolos, forma e tamanho molecular) são determinantes no
equilíbrio.
Conforme a natureza das forças de interação entre as moléculas que estão sendo
adsorvidas e o material adsorvente, podem-se diferenciar dois tipos principais de adsorção: a
adsorção física e adsorção química.[2]
As isotermas de adsorção podem ser representadas por equações simples que
relacionam diretamente o volume adsorvido em função da pressão e/ou concentração do
adsorbato. Cada modelo de isoterma parte de diferente pressuposto que, nem sempre, se
adequa a uma determinada situação. Dessa forma, é importante conhecer acerca da
construção de diferentes modelos de isotermas e de suas limitações.[2]
Langmuir propôs uma teoria para explicar a adsorção sobre uma superfície uniforme,
simples, infinita e não porosa. No modelo de adsorção de Langmuir, a isoterma se aplica a
sistemas onde as forças que atuam na adsorção são similares em natureza àquelas que
envolvem uma combinação química.[3]
No modelo de isoterma de Langmuir são feitas as seguintes hipóteses:
- As moléculas são adsorvidas nos sítios de adsorção, que são pontos na superfície.
- Cada sítio pode acomodar somente uma entidade adsorvida.
- A energia da espécie adsorvida é a mesma em qualquer ponto da superfície e é independente
da presença ou ausência de moléculas adsorvidas na vizinhança, ou seja, a superfície é
completamente uniforme sob o ponto de vista energético.
- A adsorção é localizada e ocorre por colisão de moléculas com sítios disponíveis.[3]

2. OBJETIVOS

Esse experimento tem como objetivo determinar as isotermas de adsorção de timol e


cresol em carvão ativado e analisá-las com o modelo de Langmuir.
3. PARTE EXPERIMENTAL

3.1. Materiais e reagentes

Para a realização desse experimento, foram utilizados os seguintes materiais e


reagentes:

1) 12 tubos de ensaio com tampa.


2) 2 buretas de 25 mL.
3) Solução estoque de Timol à 4,0.10-4 mol/L.
4) Solução estoque de Cresol à 4,0.10-4 mol/L.
5) Carvão ativado.
6) Filtro de seringa.
7) Seringa.
8) Cubetas de quartzo para as medidas espectrofotométricas.
9) Espectrofotômetro UV-VIS Shimadzu.

3.2. Procedimento experimental

Primeiramente, pesar 10 mg de carvão ativado com precisão de ±0,0001 g, em cada um


dos tubos de ensaio. Em seguida, preparar 12 soluções para cada uma das soluções estoque
(cada um dos tubos com volume final de 10 mL) com as seguintes concentrações:

Tabela 1. Concentrações utilizadas tanto para a solução estoque de cresol como para o timol e
os respectivos volumes a serem adicionados em cada tubo de ensaio.

Tanto a adição de água como a de solução estoque devem ser realizadas utilizando a
bureta.
Tampar os tubos e deixá-los em repouso por 30 min, agitando ocasionalmente.
Preparar um tubo com solução à 0,0002 mol/L, sem adicionar o carvão ativado, para a
determinação do coeficiente de absortividade molar (𝜆=270 nm).
Filtrar as soluções em ordem crescente de concentração (possibilitando, assim, a
utilização do mesmo filtro), para remover o carvão, transferindo o sobrenadante para uma
seringa, cuidando para não transferir o sedimento de carvão.
Transferir o conteúdo filtrado para uma cubeta de quartzo para obter a leitura no
espectrofotômetro no comprimento de onda de máxima absorção. Se a absorbância obtida for
maior que 1,5 a solução deve ser diluída e medida novamente.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após realizar as leituras de cada uma das soluções preparadas, obtemos os valores de
absorbância e de absortividade molar, a partir destes dados podemos encontrar a concentração
de equilíbrio, utilizando a lei de Lambert-Beer:

A=𝜺.b.c
Em que:
A: absorbância
𝜺: absortividade molar (1354,5 cm-1.mol-1.L para o timol e 1405 cm-1.mol-1.L para o
cresol)
c: concentração (concentração no equilíbrio Ceq)
b: caminho óptico (1 cm)

O número de mols inicial (ni) é obtido a partir da seguinte relação: a concentração inicial
(Ci) se dá em 1 L de solução (ou 1000mL) e queremos saber quanto há em 10mL. Com isso
temos:
𝐶𝑖.10
𝑛𝑖 = 1000
O número de mols no equilíbrio (neq) é calculado de forma análoga, utilizando os valores
da concentração no equilíbrio (Ceq):
𝐶𝑒𝑞.10
𝑛𝑒𝑞 = 1000

O número de mols adsorvidos por grama de carvão (Nads) é calculado a partir da


diferença entre o número de mols inicial e no equilíbrio dividido pela massa de carvão
adicionada no tubo:
𝑛𝑖−𝑛𝑒𝑞
𝑁𝑎𝑑𝑠 = 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑣ã𝑜

Os resultados obtidos para o cresol e timol estão apresentados nas Tabelas 2 e 3


respectivamente.
Tabela 2. Resultados obtidos para o Cresol.

Tabela 3. Resultados obtidos para o Timol.

A partir dos dados de número de mol adsorvidos por grama de carvão e da


concentração no equilíbrio, podemos plotar um gráfico para ambos os adsorbatos (Figuras 1 e
2). Em cada um desses gráficos é realizado o ajuste não-linear, utilizando a equação de
Langmuir:

𝐾.𝐶𝑒𝑞.𝑁𝑚á𝑥
𝑁𝑎𝑑𝑠 = 1 + 𝐾.𝐶𝑒𝑞

Em que:
K = constante de equilíbrio de adsorção
Nmáx= saturação (monocamada)
Ceq = concentração no equilíbrio
Nads = número de mols adsorvidos por grama de carvão
Figura 1. Isoterma de adsorção do Cresol.

Figura 2. Isoterma de adsorção do Timol

Tabela 4. Parâmetros do ajuste não-linear da isoterma de adsorção para o cresol e para o timol.
Graficamente, Nmáx é dado pelo parâmetro P1 e K é dado pelo parâmetro P2, ambos
obtidos através do ajuste não-linear. A constante de equilíbrio K reflete a afinidade do
adsorbato pela superfície, já a saturação Nmáx está diretamente relacionada com a eficiência em
remoção.
Conhecendo a estrutura química das moléculas, podemos utilizar o método Atomic and
Bond Contributions of van der Waals volume (VABC)[4] para calcular o volume de van der Waals
de cada uma delas através da equação seguinte:

3
𝑉𝑣𝑑𝑤 (Å ) = ∑𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çõ𝑒𝑠 𝑎𝑡ô𝑚𝑖𝑐𝑎𝑠 − 5, 92 𝑁𝐵 − 14, 7 𝑅𝐴 − 3, 8 𝑅𝑁𝑅
Onde:
Σcontribuição atômica = contribuição de cada átomo da molécula para o volume (C = 20,58, H
= 7,24 e O = 14,71 Å3) [4]
NB = número de ligações
RA = número de anéis aromáticos
RNR = número de anéis não aromáticos

Figura 3. Estrutura do 𝜎-cresol (à esq.) e do timol (à. dir.).

Considerando que o cresol (C7H8O) possui 19 ligações e 1 anel aromático e o timol


(C10H14O) possui 28 ligações e também 1 anel aromático, encontramos Vvdw igual a 89,51 e
141,41 Å3, respectivamente. Assumindo que as moléculas dos dois solutos possam ter formato
aproximado a de uma esfera, podemos achar o raio e em seguida a área do soluto (seção
transversal) através das relações:

2
𝑉 = 4/3 . π . 𝑅
2
𝐴𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 = π . 𝑅
Por fim, a área superficial em m2.g-1 do carvão ativado é encontrada por meio da relação
entre a área do soluto (Asoluto), o número de mol máximo adsorvido por grama de carvão (Nmáx) e
o número de Avogrado (NA):
𝐴𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = 𝐴𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 . 𝑁𝑚á𝑥 . 𝑁𝐴

Os resultados encontram-se compilados abaixo:

Tabela 5. Valores de volume, raio e área calculados

Como visto acima, o valor da área superficial do carvão ativo obtido pelo modelo de
isotermas de Langmuir foi na faixa de 200 m2.g-1, sendo 243,066 m2.g-1 para o timol e 218,526
m2.g-1 para o cresol. Em contrapartida pelo método BET (Brunauer, Emmett e Teller), utilizando
o N2 como adsorbato, foi encontrada uma área de 650 m2.g-1. A discrepância entre os valores
pode ser explicada pelos diferentes modos adotados para calcular a àrea superficial. O BET é
considerado uma extensão do modelo de Langmuir e, além das hipóteses de Langmuir,
introduz o conceito de que as moléculas são adsorvidas em multicamadas que não interagem
entre si. Dessa forma, a equação da isoterma para o BET foi desenvolvida para camadas
múltiplas, enquanto a de Langmuir é utilizada considerando uma monocamada.
As pro estrutura, principriedades adsortivas do carvão ativo são atribuídas a alta
porosidade de sua estrutura e a consequente elevada área superficial (que foi observada na
Tabela 6). Outro fator significativo é a natureza dos grupos funcionais que podem estar
presentes na superfície do carvão. A estrutura desse tipo de adsorvente é composta por um
rede de carbono, em que os vértices e bordas podem acomodar uma série de elementos. O
oxigênio é o elemento mais comum de ser encontrado napalmente em grupos funcionais como
carboxila, carbonila e hidroxila.[5]
O grupo dos fenóis, o qual fazem parte o cresol e o timol, possui uma grande afinidade
com o carvão ativado. A interação é dada majoritariamente por dois mecanismos: ligação dos
elétrons π do anel aromático do fenol com os elétron π da rede de carbonos do carvão e a
formação de um complexo doador-receptor do grupo hidroxila do fenol com os grupos
presentes na superfície do adsorvente, principalmente a carbonila.[6]
No entanto, apesar das interações favoráveis, é preciso levar em consideração o fator
estérico relativo ao adsorbato. Como visto no gráfico da Figura 4 abaixo, o timol inicialmente
possui uma taxa de adsorção maior que o cresol, porém ao fim da análise nota-se que o
número máximo de mol de soluto adsorvido foi menor. O timol possui um maior volume de van
der Waals (Tabela 5), decorrente do grupo isopropil a mais que ele possui quando comparado
com o cresol (Figura 3). Consequentemente, as moléculas de timol possuem maior dificuldade
de se alojarem nos poros menores e mais internos do carvão, resultando em uma saturação
(visível pela estagnação de sua curva).
Figura 4. Gráfico comparativo do ajuste não-linear para o Cresol (preto) e Timol (vermelho).

Sabendo que a área superficial ocupada por uma molécula de benzeno é 0,4nm2 e que
a área superficial de uma amostra de carvão é 300m2g-1 , podemos determinar o Nmáx(número
de mol máximo adsorvido por grama de carvão), utilizando a seguinte equação:

𝐴𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = 𝐴𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 . 𝑁𝑚á𝑥 . 𝑁𝐴


300 = 4.10-20 .𝑁𝑚á𝑥 . 6,023.1023
𝑁𝑚á𝑥= 0,0125 mol/g

A massa molar do benzeno é 78,11 g/mol, portanto em 0,0125 mol temos:

1 mol ------78,11 g
0,0125 mol------ X
X=0,976 g de benzeno

O valor de 0,976 g obtido, representa a quantidade em gramas de benzeno que são


adsorvidos por 1g de carvão, para uma massa de 0,1g de carvão temos:

1g de carvão ------- 0,976 g de benzeno


0,1 g de carvão ----- Y
Y = 0,098 g de benzeno

Em 1L de solução à 0,01 mol/L, temos:


1mol de benzeno ------78,11g
0,01mol de benzeno ----- Z
Z= 0,7811 g de benzeno
Com base nos cálculos acima, temos que 0,1 g de carvão ativado podem adsorver
0,0098 g de benzeno, porém na solução em questão há 0,7811g de benzeno, portanto:

0,7811g ------100%
0,098g ------- W
W= 12,54%

Portanto, a máxima porcentagem de benzeno que pode ser removida de 1L de uma


solução 0,01mol/L utilizando 0,1g de carvão é 12,54%.

De forma análoga ao benzeno, encontramos a porcentagem máxima de 4,98% de azul


de metileno que pode ser removida de 1L de uma solução 0,01mol/L utilizando 0,1g de carvão.
Sabendo que massa molar do azul de metileno é 319,85g/mol e a área superficial ocupada
por uma molécula de azul de metileno é 1nm2.
Portanto podemos concluir que a quantidade de azul de metileno removida é menor do
que a de benzeno, considerando as mesmas condições.

5. CONCLUSÃO

Neste experimento podemos verificar a quantidade de cresol e de timol adsorvido em


carvão ativado para cada uma das soluções preparadas. Medimos a absorbância das soluções
preparadas e com os valores obtidos aplicamos o modelo de adsorção mais simples, o modelo
de Langmuir.
A adsorção se mostrou eficaz em ambos os solutos, visto que as propriedades do
carvão ativado o tornam muito vantajoso para remoção seletiva de moléculas e impurezas de
soluções, justificando sua importância na aplicação de processos de limpeza e filtração.
Através da análise das isotermas de adsorção do cresol e do timol, conforme gráfico da
Figura 4, podemos notar a afinidade de fenóis com a rede de carbonos e seus grupos
funcionais, significando que grandes quantidades adsorvidas podem ser obtidas com baixas
concentração de soluto. No entanto, a adsorção é delimitada pelo tamanho da molécula e sua
capacidade de se instalar nos poros do carvão, fazendo com que o timol (molécula maior)
apresente menor número máximo de mol adsorvido que o cresol.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Site da disciplina QFL 0406, Instituto de Química, Universidade de São Paulo - USP,
http://www2.iq.usp.br/docente/hvlinner/adsorcao.pdf

[2] ARAÚJO, W. S. Relação entre adsorção de metais pesados e atributos químicos e físicos
das principais classes de solo do Brasil. Dissertação de Mestrado, UFRR, Seropédica/RJ, 1998

[3] DABROWSKI, A. Adsorption-from theory to practice. Advances in colloid and interface


science, v. 93, p. 135-224, 2001.

[4] Y.H. Zhao et al, J. Org. Chem. 2003, 68, 7368.


(http://pubs.acs.org/doi/pdf/10.1021/jo034808o).

[5] Carvão ativo. Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ.


(https://ufsj.edu.br/dcnat/carvao_ativo.php#:~:text=A%20estrutura%20do%20carv%C3%A3o%2
0ativado,v%C3%A9rtices%20dos%20%C3%A1tomos%20de%20carbono)

[6] Guilarduci, V. V., et al. Adsorção de fenol sobre carvão ativado em meio alcalino. Química
Nova, vol.29, no.6 São Paulo, Nov./Dec. 2006.

[7] GREGG AND SING. Adsorption, Surface Area and Porosity. Academic Press, New York,
1982.

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