DIFERENÇA ENTRE CONDICIONAMENTO RESPONDENTE E OPERANTE
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MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do
comportamento. Porto Alegre; Artmed, 2007.
Comportamento operante e comportamento respondente (Reflexo). Um
comportamento respondente não depende de suas consequências a seguir para ocorrer ou deixar de ocorrer; já o comportamento operante, sim. Vimos em unidades anteriores o comportamento respondente. Vimos também que alguns estímulos podem eliciar respostas agradáveis e que outros podem eliciar respostas desagradáveis; que alguns estímulos podem eliciar emoções (como medo e raiva) e outros podem eliciar excitação sexual, entre outras respostas. A separação entre comportamento respondente e comportamento operante é meramente didática. Para compreender o comportamento como um todo, é preciso, muitas vezes, entender como se dá a interação entre o respondente e o operante. • Após um acidente, ter medo de dirigir um carro (respondente) • Após um acidente, evitar andar de carro (operante) A junção das duas descrições de comportamentos citadas é um tipo de exemplo de como se dá a interação operante-respondente e de como essa interação pode, às vezes, constituir-se em um problema na vida das pessoas: 1. Antes do acidente, o indivíduo não tinha medo de dirigir carros. 2. Dirigir um carro, portanto, era um estímulo neutro para a resposta de medo. 3. Por que o indivíduo passa a ter medo de dirigir? Em outras palavras, como dirigir um carro passa a ser um estímulo condicionado para a resposta de medo? 4. Através de condicionamento pavloviano: emparelhamento do estímulo neutro para esta resposta - dirigir um carro - com estímulos incondicionados para a resposta de medo: dor, impacto, barulho altos, entre outros, presentes no momento do acidente. 5. Após um acidente, ter medo de dirigir um carro (respondente). 6. O medo (ou todas as sensações que o caracterizam) são estímulos aversivos: sempre que o indivíduo puder, ele irá emitir comportamentos de esquiva (ou fuga) que evitem o contato com os estímulos aversivos; 7. Após um acidente, evitar andar de carro (operante). 8. Não dirigir um carro pode ser um transtorno enorme na vida de alguém. Como perder esse medo? 9. Perder o medo significa que deve haver extinção respondente, ou seja, estímulo condicionado deve perder a função de eliciar a resposta de medo. 10. O que deve acontecer para que haja a extinção respondente? 11 O indivíduo deve ser exposto ao estímulo condicionado para a resposta de medo sem a presença dos estímulos aos quais foi previamente emparelhado, ou seja, o indivíduo deve dirigir o carro de uma forma segura (livre de barulhos, dor, impactos, etc.). 12. Mas a resposta de medo é também um estímulo aversivo, e o indivíduo evitará entrar em contato com estímulos que a elidem, ou seja, evitará dirigir. Neste caso, o que poderia ser feito? No caso deste indivíduo, dirigir um carro é um evento (um estímulo extremamente aversivo), e ele tenderá sempre a se esquivar de tal situação. No entanto, ver fotos de carros, de pessoas dirigindo, imaginar-se dirigindo, entrar em um carro e não dirigir, dirigir em locais desertos e dirigir em baixa velocidade talvez sejam estímulos que gerem menos medo (menos aversivos); portanto, tenham menor probabilidade de evocar um comportamento de esquiva. Logo, poderíamos expor o indivíduo gradualmente a esses estímulos até que ele voltasse a dirigir tranquilamente seu carro. Acabamos de utilizar a técnica conhecida como dessensibilização sistemática. Um outro medo, muito comum na maioria das pessoas, é o de falar em público. Parece lógico concluir que não se trata de um reflexo inato (falar em público -► medo). Se fosse inato, seria bastante complicado perdê-lo. Muito provavelmente, a maioria das pessoas tem medo de falar em público porque passou por situações aversivas ao ter que se expressar verbalmente em público. Como a resposta de medo é também um estímulo bastante aversivo, tendemos a fugir ou a evitar, sempre que podemos, tais situações. Por esse motivo, podemos passar longos anos de nossa vida com medo, pois, sem exposição ao estímulo condicionado (o falar em público) não há extinção desse reflexo aprendido. É fundamental sabermos distinguir o comportamento operante do comportamento respondente, tendo em vista que cada um tem formas diferentes de ser trabalhado. A maneira como cada um é aprendido e, por sua vez, extinto, diferem uma da outra. Mais ainda, além de saber distingui-los, no momento de realizar intervenções, é necessário saber como eles interagem. Só assim é possível fazer análises adequadas dos comportamentos dos indivíduos e, assim, planejar intervenções eficazes.